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A função fóbica como elemento originário do pensamento: uma leitura do brincar em Hans

Phobic function as an element originating from thought: a reading of play in Hans

A fonction phobique comme élément issu de la pensée: une lecture du jeu dans le cas Hans

La función fóbica como elemento original del pensamiento: una lectura del juego en Hans

Resumos

O artigo busca identificar a função fóbica como elemento originário do pensamento e do processo de simbolização a partir da leitura do brincar no caso Hans. O trabalho retoma a história da fobia na nosografia psicanalítica e analisa seus desdobramentos no âmbito da antropologia, da cultura e da educação que marcaram os ensaios freudianos posteriores ao caso Hans e reposicionaram a fobia, para além de uma entidade nosológica, como uma função estruturante do processo de simbolização.

Palavras-chave:
Função fóbica; simbolização; brincar


The article discusses the phobic function as an element originating from thought and the symbolization process by presenting a reading of play in the Hans case. It resumes the history of phobia in psychoanalytic nosography and analyzes its developments within anthropology, culture, and education that marked the Freudian essays after the Hans case and repositioned the phobia as a structuring function of symbolization, beyond the nosological entity.

Keywords
Phobic function; symbolization; play


L’article traite de la fonction phobique comme un élément issu de la pensée et du processus de symbolisation en présentant une lecture du jeu dans le cas de Hans. L’article reprend l’histoire de la phobie dans la nosographie psychanalytique et analyse ses développements au sein de l’anthropologie, de la culture et de l’éducation qui ont marqué les essais freudiens après le cas de Hans et repositionné la phobie comme une fonction structurante de la symbolisation, au-delà de l’entité nosologique.

Mots-clés
Fonction phobique; symbolisation; jeu


Este artículo busca identificar la función fóbica como elemento proveniente del pensamiento y del proceso de simbolización a partir de la lectura del juego en el caso Hans. Se retoma la historia de la fobia en la nosografía psicoanalítica y se analiza sus desarrollos en el ámbito de la Antropología, la cultura y la educación, que marcaron los ensayos freudianos tras el caso Hans y reposicionaron la fobia como función estructurante del proceso de simbolización más allá de la entidad nosológica.

Palabras clave
Función fóbica; simbolización; juego


A fobia na nosografia psicanalítica: uma teoria sobre a capacidade de pensar as coisas dificeis

Os sintomas são uma maneira de pensar a respeito de coisas difíceis, pensar com o som desligado. Talvez uma das razões pelas quais Freud se sentia tão intrigado com as fobias [...] fosse o fato de que a delimitação de uma fobia constituía o modelo para a delimitação de uma teoria. Uma fobia, como teoria psicanalítica, é uma teoria sobre o local onde se encontram as coisas turbulentas. E essas teorias, como seu paradigma fóbico, se organizam em torno de uma fantasia do impossível, do inaceitável, em sua forma mais extremada. (Phillips, 1993, p. 41)

Um menininho brinca de banheiro em um cômodo escuro da casa. Ao ser surpreendido pelo pai com o pênis nas mãos, ele responde: estou fazendo xixi. A brincadeira, cena de abertura do texto “A análise da fobia de um menino de cinco anos” (Freud, 1909/1996eFreud, S. (1996e). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 10, pp. 15-131). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1909).), foi descrita pelo pai nas cartas-relato do acompanhamento que fazia do próprio filho sob a supervisão de Freud. Ao que parece, esse foi um dos primeiros relatos clínicos de brincadeiras publicados, o primeiro recorte da ação de brincar destacado um fenômeno a ser inscrito na racionalidade médica. A fronteira entre os fenômenos normais e patológicos, que mereciam ser considerados como fatos clínicos, havia sido borrada desde A interpretação dos Sonhos (Freud, 1900/2019Freud, S. (2019). A interpretação dos sonhos. In Sigmund Freud Obras Completas (P. C. de Souza, Trad., Vol. 4). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1900).), em que Freud partiu de um fenômeno normal para descrever processos psíquicos que seriam semelhantes à formação dos sintomas da neurose. Como um efeito dessa forma epistemológica incipiente e a partir do mesmo gesto teórico, o brincar surge como fenômeno a ser observado e decifrado. Não causa espanto que daí em diante ele venha a fazer parte das considerações de qualquer clínico que se coloque diante de uma criança.

A “Análise da fobia de um menino de cinco anos” (Freud, 1909/1996cFreud, S. (1996c). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Imago. .) tornou-se uma referência da psicanálise na medida em que, a partir da observação clínica do menino, que ficou conhecido por pequeno Hans, Freud corrobora grande parte das suas teorias sobre a sexualidade infantil que haviam sido recentemente publicadas em “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (Freud, 1905/2016bFreud, S. (2016b). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In Sigmund Freud Obras Completas (P. C. de Souza, Trad., Vol.6, pp.13-172). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1905).) e desenvolve uma compreensão acerca da vida mental infantil, ao mesmo tempo que retoma uma importante discussão nosográfica da fobia. O material clínico referente ao caso foi utilizado ainda na proposição das teorias sexuais infantis ilustrada nos textos “O esclarecimento sexual das crianças” (Freud, 1907/2015aFreud, S. (2015a). O esclarecimento sexual das crianças. In Sigmund Freud Obras Completas (P. C. de Souza, Trad., Vol. 8, pp. 314-324). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1907).) e “Sobre as teorias sexuais da criança” (Freud, 1908/1996dFreud, S. (1996d). Sobre as teorias sexuais da criança. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 9, pp. 189-204). Imago. (Trabalho original publicado em 1908).). Trata-se, portanto, de uma grande síntese que reúne a interpretação dos sonhos e a teoria da sexualidade infantil na ilustração de um caso clínico. As questões levantadas pelo caso e seus desdobramentos foram exaustivamente retomadas pelos psicanalistas pós-freudianos. O interesse que o caso suscita, neste esforço de compreensão conceitual da função fóbica e sua relação com o brincar, repousa sobre a observação de que Hans, sobretudo, brinca. E o próprio fato de que sua brincadeira não seja objeto das preocupações diretas de Freud, diluindo-se entre sonhos e as associações, já nos diz de um lugar impreciso do brincar no pensamento do autor ao mesmo tempo que compõe o campo empírico-fenomenológico a partir do qual Freud elabora suas teorias.

A construção do objeto fóbico está articulada ao processo de simbolização como forma correspondente ao brincar. Trata-se de processos psíquicos que se inscrevem em uma racionalidade lúdica na medida em que envolvem, necessariamente, a participação, por meio da projeção, de um objeto externo em uma relação concreta com o psiquismo. Essas relações fundamentam a forma embrionária do que se constituirá, posteriormente, a teoria do brincar em Klein como também do objeto transicional em Winnicott, guardadas as devidas diferenças.

Por racionalidade lúdica tratamos o esforço de compreensão dos fenô- menos psíquicos a partir de uma coordenada do espaço e da materialidade em comparação com a racionalidade onírica coordenada pelo tempo e pela figurabilidade. Em resumo, o percurso teórico dedicado ao trabalho do sonho, como transformação da matéria psíquica, passa pelo deslocamento das intensidades psíquicas, pela reprodução predominante de traços mnésicos visuais e acústicos, por meio da consideração pela figurabilidade ou representatividade e a condensação, como operações lógicas formais que se assemelham à linguagem. Trata-se, por fim, de uma lógica que abarca as diferentes formações do inconsciente como acontece com alguns sintomas, os chistes e o ato falho.

O apoio do sentido na matéria - tal como entendemos que acontece na formação do objeto fóbico, do objeto fetiche e também do brincar - é realizado de diferentes modos dentro da teorização freudiana. A psicanálise, sob o paradigma do sonho, apresenta uma concepção de homem fundamentalmente marcado pela necessidade de prazer e pela capacidade de falar, de representar, de se articular em relação ao discurso e à narratividade. A materialidade da experiência ficou, no entanto, presumida por meio do rastreamento da noção de objeto e seus diferentes estatutos, do papel do corpo em sua relação concreta com o psiquismo e também pelo papel do setting, como disposição do tempo e do espaço e da presença psicossomática do analista.

O espaço e a materialidade ganharam força na teoria psicanalítica con- temporânea a partir de onde o brincar emerge como um modelo para o método psicanalítico assumindo a importância teórica, técnica e clínica complementar ao sonho desde Freud. A expansão das coordenadas do sonho - tempo e figurabilidade - para as coordenadas do brincar - espaço e materialidade - é o que estamos denominando como uma razão lúdica. A aproximação da formação do objeto fóbico com a racionalidade lúdica deve-se então ao fato de que se trata de uma relação exemplar da articulação entre o objeto externo, real, concreto e as formações psíquicas, tal como acontece no brincar.

A noção de projeção em Freud aparece tanto em seu aspecto defensivo patológico quanto em uma relação estruturante, normal e necessária por ser determinante da atividade perceptiva. Brusset (2013)Brusset, B. (2013). Au delà de la nevrose: vers une troisiéme topique. Dunod. identifica como a teoria da projeção em Freud abre grandes perspectivas: a projeção e o pensamento anímico, a projeção na origem do sonho e da transferência, a projeção paranoica, a alucinação e o delírio. O fato é que a teoria da projeção apresenta uma subversão tópica fundamental para a compreensão da teoria do espaço no desenvolvimento da psicanálise no sentido em que questiona a dicotomia entre o dentro e o fora.

A fobia, no contexto da história da psicanálise, configura-se ora como uma psiconeurose de defesa, como uma entidade clínica derivada da ação do recalque, ora ao lado das neuroses de angústia, como uma descarga direta que não havia sido submetida ao trabalho psíquico. “Neuropsicoses de defesa” (Freud, 1894/1996aFreud, S. (1996a). As neuropsicoses de defesa. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 3, pp. 51-72). Imago. (Trabalho original publicado em 1894).) e “Obsessões e fobias” (Freud, 1895/1996bFreud, S. (1996b). Obsessões e fobias. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 3, pp. 79-86). Imago. (Trabalho original publicado em 1895).) são dois importantes trabalhos em que abordam essa discussão.

No primeiro deles, a fobia aparece descrita ao lado da histeria de conversão e da neurose obsessiva, como nosografias derivadas da ação do recalque que guardam em comum o deslocamento da soma de excitação para a inervação somática, no caso da histeria de conversão, no caso da neurose obsessiva para uma outra representação; já no caso da fobia, deslocariam para um objeto externo.

A hipótese freudiana consiste em atribuir a todas as psiconeuroses a transposição do afeto e em discriminá-las a partir do seu destino somático ou representacional no campo das ideias e dos atos ou na forma de um objeto externo. A “pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da psicanálise” (Freud, 1914/1996fFreud, S. (1996f). A história do movimento psicanalítico. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. (Vol. XI). Imago. (Trabalho original publicado em 1914), p. 26), a teoria do recalcamento e a ideia de defesa seriam pela primeira vez mencionada pelo autor.

Já em “Obsessões e fobias” (1895/1996bFreud, S. (1996b). Obsessões e fobias. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 3, pp. 79-86). Imago. (Trabalho original publicado em 1895).), Freud estabelece uma nova distinção entre as fobias e as obsessões especificando, inicialmente, a diferença em torno da emoção que seria sempre de angústia e medo no que se refere à fobia. Ele diferencia aqui dois grupos, conforme a natureza do objeto: 1) fobia comum - medo exagerado de coisas que todos detestam ou temem em alguma medida, tais como a noite, a solidão, a morte, as doenças, os perigos em geral, as cobras; 2) fobias contingentes, medo de condições especiais (por exemplo, a agorafobia) e as outras fobias de locomoção.

Freud também coloca a fobia ao lado das neuroses de angústia cujo principal sintoma seria o estado emocional, sem a operação de um trabalho psíquico:

As fobias, portanto, fazem parte da neurose de angústia e são quase sempre acompanhadas por outros sintomas do mesmo grupo. Tanto quanto posso perceber, também a neurose de angústia tem uma origem sexual, mas não se prende a representações extraídas da vida sexual; para dizê-lo com propriedade, não tem qualquer mecanismo psíquico. (Freud, 1895/2016aFreud, S. (2016a). Estudos sobre a histeria (L. Barreto, Trad., Vol. 2). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1895)., p. 85)

Com isso, Freud subdivide o grupo das fobias entre as que ele denomina como traumáticas, que estão ligadas aos sintomas da histeria e estariam remetidas à sexualidade infantil, e aquelas que estariam ligadas à neurose de angústia.

O tema fora retomado apenas quinze anos depois com a análise do pequeno Hans quando Freud a renomeou como histeria de angústia e, posteriormente, em “Totem e tabu” (1912/2012Freud, S. (2012). Totem e tabu. In Sigmund Freud Obras Completas (P. C. de Souza, Trad.; Vol. 11, pp. 13-244). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1912).) e “Inibições, sintoma e angústia” (1926/1996gFreud, S. (1996g). Inibições, sintoma e angústia. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. (Vol. XX). Imago. (Trabalho original publicado em 1926).) quando, curiosamente, surgem duas outras menções diretas ao brincar.

O caso Hans foi conduzido pelo próprio pai do menino sob a supervisão de Freud, o qual recebia seus relatos e chegou a encontrá-lo apenas uma vez. O relato começa por volta dos três anos, quando o menino dirige toda sua atenção ao pênis. A investigação, como reforça Freud, não se limitava a uma pesquisa teórica, mas também ao desejo constante de tocá-lo e de se masturbar.

Às voltas com o que Freud denominou como sendo o grande acon-tecimento da vida do menino, a chegada de sua irmã, surge o primeiro relato de sonho em que Hans se encontrava com uma amiguinha das férias na casa de praia. O sonho reconhecido pelo pai como uma realização do desejo de retornar para lá, foi sucedido pelo que o pai denominou como uma elaboração em fantasia das reminiscências vividas das férias na praia: Hans brinca com as amigas imaginariamente como se fossem suas filhas. Hans continua sua pesquisa teorizando sobre universalidade do pênis e criando uma segunda brincadeira em que faz de um armário um banheiro.

O início da fobia foi marcado pela presença de um sonho angustiante em que a mãe havia ido embora. Freud vai chamar atenção para os fatos que precedem os sintomas fóbicos, dando especial atenção à intensificação dos sentimentos ternos em relação à mãe e a suas tentativas de sedução quando pede para ela tocar em seu pênis. Para Freud, foi esse apego que se transformou em angústia ainda sem um objeto específico que pudesse representá-la. Hans dizia para a babá apenas que na rua sentia falta de sua mãe e não queria ficar longe dela. A angústia conectou-se a um objeto externo durante um passeio quando Hans passa a ter medo de que um cavalo possa mordê-lo na rua.

Os elementos para a escolha do cavalo como objeto fóbico, segundo Freud, devem-se a duas questões: o apreço do menino por cavalos em função dos seus grandes “pipis” e à comparação com sua mãe que, também sendo grande, deveria ter um grande pipi. Freud supõe nesse momento que o cavalo seria um substituto da mãe - hipótese que será posteriormente rechaçada.

De posse desses elementos, Freud propõe uma primeira interpretação ao pai. Pede que ele diga para Hans que os cavalos são bobagens e que na verdade o menino gostava muito de sua mãe e queria que ela o levasse para a sua cama. Além disso, Freud orienta o pai a esclarecer para o menino sobre o fato de que as mulheres não possuem pênis. Essas elaborações diminuíram temporariamente os sintomas que reapareceram durante um adoecimento. Apesar da afirmação do pai de que cavalos não mordem, o menino retoma uma conversa onde escutou do pai de uma amiga: “se você apontar o dedo para ele, ele morde” (Freud, 1909/1996eFreud, S. (1996e). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 10, pp. 15-131). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1909)., p. 32). Diante dessa lembrança, o pai de Hans interpreta - parece-me que você não quer dizer um cavalo, mas um pipi, onde ninguém deve pôr a mão.

Em seguida, Hans constrói a fantasia de que em seu quarto havia uma girafa grande e outra amarrotada. Na cena, a girafa grande grita quando ele leva a amarrotada para longe e depois ele se senta em cima dela. A aglutinação desses elementos de hostilidade, autoridade, medo e culpa reforçou a convicção de que o cavalo seria um substituto do pai o qual o menino temia em razão da intensidade dos seus desejos incestuosos e dos sentimentos hostis que eram dirigidos ao pai em razão desse afeto. Nessa direção, em seu primeiro e único encontro com Hans, Freud, associando o preto ao redor da boca com o bigode do pai, interpreta que ele tinha medo do pai porque gostava muito da sua mãe e que acreditava que seu pai estava chateado com ele por isso, mas que não era verdade e não era preciso ter medo.

Hans conta ao pai que tinha medo especificamente dos cavalos que têm alguma coisa na boca, das carroças de mudanças e de ônibus, porque uma vez presenciou um cavalo cair do ônibus. Freud vai interpretar essa cena como um fator precipitante da fobia ao ver o cavalo cair e supor sua morte. Hans percebeu um desejo de que seu pai caísse morto daquele mesmo modo. A interpretação soluciona a correspondência fóbica estabelecida entre medo de cavalo e medo-ódio do pai.

A consequência da interpretação freudiana produz de modo imediato a transformação da fobia em uma brincadeira de cavalo: o menino performa o trote, o relincho, coloca uma focinheira de mentira e morde o pai. Essa brincadeira que se desenvolve numa fantasia de desejo, ao mesmo tempo representa uma identificação ao pai: agora ele era o cavalo. Como efeito dessa identificação e o desmonte da organização fóbica, Hans passa a desobedecer o pai na medida em que não precisa mais temê-lo.

O embaraço dos pais em esclarecer sobre a origem dos bebês foi a mola propulsora para outra importante brincadeira: Hans passa a brincar com uma boneca que chamou de Grete e enfia uma faquinha pela abertura em que ficava as pernas e as afasta para fazer a faquinha cair. Apontando entre as pernas da boneca, ele diz à babá: “olhe, aqui está o faz pipi” (Freud, 1909/1996eFreud, S. (1996e). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 10, pp. 15-131). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1909)., p. 80).

Freud interpreta como sendo a tomada para si da direção da análise com um movimento ousado, pois os pais hesitaram em dar as explicações de que ele necessitava. Para Freud a brincadeira cumpriu a função de um ato sintomático como se o menino dissesse: vejam, é assim que imagino um nascimento.

Hans passou a centrar seu interesse em torno do tema da excreção que mantinha uma conexão simbólica com o assunto do cavalo: a carroça carregada expressava o corpo cheio de fezes que, assim como sai do portão, sai do corpo e, na sua fantasia, sai também o bebê. O caso segue em torno da investigação minuciosa do pai estabelecendo essas relações. Em sua conversa com o pai, Hans afirma: “[...] tenho medo de carruagens, de carroças com bagagem, mas só quando estão carregadas, não quando estão vazias. Quando é um cavalo e está todo carregado, aí tenho medo, e quando são dois cavalos e estão carregados eu não tenho medo” (Freud, 1909/1996eFreud, S. (1996e). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 10, pp. 15-131). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1909)., p. 86).

A conversa se desenrola associada ao enigma da origem dos bebês estabelecendo uma relação simbólica entre carroça carregada e mamãe grávida ao que Hans termina por dizer, fortemente induzido pelas perguntas do pai, que gostaria de se casar e ter filhos com a mãe.

Ao dormir, surge uma nova brincadeira em que Hans diz ao pai que vai conversar toda a noite com Grete e seus filhos que estão na cama com ele. Agora Hans era a mãe, o pai e a carroça carregada e passa a brincar de carregar e descarregar caixas de bagagem se interessando também na brincadeira com um veículo de brinquedo com essas caixas. O medo, como observa o pai, desapareceu quase totalmente quando Hans encontra uma solução edípica também em brincadeira. Diz ao pai que antes era a mãe, agora era o pai. Ao ser interrogado sobre quem seria a mãe dessas crianças, Hans não vacila: a mamãe! A resolução edípica da brincadeira é compreendida por Freud como um destino mais elegante do amor incestuoso com o surgimento, ao mesmo tempo, da identificação:

De manhã eu fui ao banheiro com todos os meus filhos. Primeiro eu fiz Lumpf e depois pipi, e eles ficaram olhando. Depois coloquei eles no vaso e eles fizeram pipi e lumpf e eu limpei o traseiro deles com papel. Sabe por quê? Porque eu gosto muito de crianças, então quero fazer tudo para elas, levar ao banheiro, limpar o bumbum, tudo isso que se faz com as crianças. (Freud, 1909/1996eFreud, S. (1996e). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 10, pp. 15-131). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1909)., p. 91)

A identificação ao pai surge novamente na fantasia em que Hans tem seu bumbum e pipi trocados por um bombeiro. A interpretação do pai vai no sentido de que o bombeiro havia dado ao menino um faz-pipi e bumbum maiores, como os do pai, ao que Hans retruca e um bigode e cabelos no peito também.

Freud vai examinar o caso em três direções: 1) do ponto de vista em que se sustenta as afirmações dos “Três ensaios...”; no que ela contribui para a compreensão sobre a fobia; 2) como a neurose da infância, alguns esclarecimentos da vida psíquica infantil; e 3) crítica à educação das crianças.

Freud atribui aos pais de Hans a virtude de o menino poder fazer suas investigações com tranquilidade, sem noção dos conflitos que estavam sendo representados e pelo fato de poder comunicá-los abertamente. Nesse sentido, para Freud a educação de Hans, um menino alegre e sincero na concepção dos pais, não havia sucumbido aos erros educacionais como de costume. Na análise do caso vai combater tanto a crítica a uma suposta anormalidade de Hans como ao uso da sugestão como método de intervenção realizado pelo pai. Em mais de uma defesa confessadamente parcial de Hans, Freud o caracteriza como um menino fisicamente bem formado, alegre, amável e intelectualmente ativo.

O caso Hans ilustra a questão de uma formação simbólica muito particular e ambígua que ficará representada em torno da discussão nosográfica da fobia e seu pertencimento ou não, ao campo das neuroses, ora como histeria de angústia, ora como neurose de angústia. É certo que o caso pode ser compreendido sob a perspectiva da questão fóbico-patológica, mas gostaríamos de insistir em um ponto de vista da constituição de um objeto fóbico como um modelo estrutural do pensamento. O objeto fóbico, neurose paradigmática da infância, é uma formação curiosa na medida em que ela rompe com o modelo de formação do símbolo tal como a psicanálise, até então, compreendia. Trata-se de um objeto-símbolo que é externo e interno ao mesmo tempo, guardando relações concretas com o psiquismo do menino, que se apresenta mediado pela percepção e diante do qual a angústia é disparada. Difere-se da figurabilidade imposta ao sonho pela sua natureza concreta e materialidade que emprestam forma à angústia distorcendo de maneira singular o objeto e sua função.

Além disso, outra questão importante a ser desdobrada em relação à formação do objeto fóbico diz respeito à qualidade do afeto que fica transposto. Ao contrário da histeria, cujo afeto preponderante é o sexual, a fobia, aproximando-se mais da neurose obsessiva, relaciona-se aos afetos hostis representados por medo e ódio em um momento em que, para Freud, a pulsão de morte ainda não estava teoricamente colocada. Soma-se a estas particularidades o fato de que a fobia, diferentemente das classes nosológicas da neurose, manifesta-se quase que invariavelmente nas crianças constituindo-se uma experiência estruturante do desenvolvimento emocional infantil.

A retomada do caso Hans sob a perspectiva do brincar tem por objetivo aproximar a especificidade da formação simbólica que ocorre na fobia e aquela que se constitui pelo brincar na medida em que as duas situações implicam a relação entre o sujeito e o objeto. A apropriação simbólica de alguns elementos da realidade e a transformação afetiva que decorre dela, tal como um trabalho de sonho acordado, são alguns dos aspectos que possibilitam essa aproximação. Abordaremos essas questões sob esses dois aspectos que caminham juntos na construção do caso: a brincadeira em Hans e o processo de simbolização da fobia.

A brincadeira de um objeto só: ambivalência e constituição do objeto fóbico

Na análise do brincar em Hans, é interessante observar como estão in- discriminadas as expressões de sonho, fantasia e brincadeira, estando todas compreendidas dentro do paradigma do sonho: o sonho como realização de desejo. Dessa forma os componentes do sonho estão presentes no trabalho de simbolização da fobia e da mesma maneira no trabalho do brincar onde é possível observar todos os seus elementos: deslocamento, condensação, figurabilidade e incluímos, como é próprio do trabalho do brincar, a materialidade e a disfuncionalização do objeto.

Partiremos para a análise das quatro cenas de brincadeiras que aparecem no relato como um esforço didático que visa demonstrar como a eleição do objeto fóbico e do brinquedo passam pelo mesmo gesto de simbolização, mantendo um equilíbrio entre a cura da fobia e a intensificação das brincadeiras, de modo que Hans se cura à medida que brinca e, inversamente, teme o cavalo quando não é possível brincar.

Como um Édipo encenado - representando o campo das preocupações e investigações do pequeno Hans em brincadeira - o menino coloca imaginariamente as amigas mais velhas que ele na condição de filhas, e diz ao pai que, assim como a irmã, elas também haviam chegado pela cegonha, brincando de cuidar como a mãe se ocupa da irmãzinha. As amigas de Hans, figurando as filhas, o concebem no lugar do pai, que é o mesmo que ser marido da mãe.

Hans, sob o olhar aterrorizado da babá, faz cair uma faquinha do ventre da boneca como um bebê, burlando a censura e comunicando uma verdade que havia sido recusada pelos pais: bebês não chegam pela cegonha. Acordado, Hans vence a censura por vias que, embora se aproximem do trabalho do sonho, não são idênticas a ele e não cumprem a mesma função. Hans encena um carregamento de carros estabelecendo uma equivalência simbólica entre os conteúdos do interior do corpo da mãe e os objetos que o compõem: bebê ou excrementos.

Na sequência do relato, a interpretação da equação edipiana produz uma importante transformação afetiva quando Freud afirma que, ao ver o cavalo cair, Hans imaginou que seu pai também poderia morrer. Trata-se de uma intervenção que liquida o temor ao cavalo e Hans passa agora a brincar de ser um deles: Hans relincha, trota e morde o pai como um cavalo. Poder ser o temido cavalo é restaurar a cadeia simbólica congelada pelo excesso de angústia convertida em fobia. O brincar, nessas condições, passa a ter uma função nele mesmo de instituir o campo da simbolização, promovendo uma outra forma e uso da relação de Hans com o objeto. Brincar, nesse caso, é tão relevante quanto o conteúdo que o anima porque promove, da fobia à brincadeira, uma reversão do afeto e abre o caminho para a cadeia associativa. Em sua aparição pré-figurativa a ansiedade encontra na materialidade do objeto não só as condições para se representar como também para instituir algo da apresentação do objeto, fora do seu valor discursivo e referente, como uma relação concreta com o psiquismo que potencializa o processo de simbolização.

As brincadeiras relatadas em Hans permanecem diluídas entre as fan- tasias, sintomas e sonhos sendo compreendidas pela matriz da interpretação dos sonhos, sem que se destaque as especificidades dessa formação do inconsciente. Convém notar também que o que será formalizado em 1920, com a observação da brincadeira de Ernest, neto de Freud, já está presente em Hans: o brincar apresenta ativamente o que foi vivido passivamente, a criança passa a transformar as experiências em brincadeira.

Em linhas gerais podemos observar também em Hans o fato de que, quando não é possível brincar, por um excesso de angústia, a formação do objeto fóbico cumpre uma função apaziguadora de continência para esta angústia que, muito embora traga restrições ao repertório de vida do menino, soluciona um problema que naquele momento não poderia ser resolvido de outra maneira. E, do mesmo modo, ao brincar, ele liquida o excesso de angústia pelo trabalho de representação. O brincar assume, nesse sentido, diversas funções na economia libidinal de Hans: função terapêutica, teorizante e de comunicação.

A função fóbica como estrutura originária do pensamento

O interesse pela fobia de Hans reaparece em um contexto diferente, relacionado aos textos da cultura ou psicologia dos povos, como era denominada essa área de interesse por Freud. Em “Totem e tabu” (1912/2012Freud, S. (2012). Totem e tabu. In Sigmund Freud Obras Completas (P. C. de Souza, Trad.; Vol. 11, pp. 13-244). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1912).), em que Freud tenta compreender o significado original do totemismo a partir dos seus traços infantis e a partir do que reaparece no desenvolvimento das crianças, será retomado o caso Hans e algumas notas sobre a brincadeira em dois momentos diferentes dos quatro capítulos que compõem o ensaio.

O horror ao incesto é extensivamente trabalhado no primeiro dos ensaios a partir dos textos antropológicos como traço civilizatório permanente entre diferentes povos. Para Freud, do ponto de vista psicanalítico, esse elemento estrutural básico é o mesmo que está presente na vida psíquica individual do neurótico como o complexo nuclear da neurose:

A psicanálise nos ensinou que a primeira escolha amorosa do menino é incestuosa, concerne aos objetos proibidos, à mãe e à irmã, e também nos deu a conhecer as vias pelas quais ele se liberta, ao crescer, da atração do incesto. Já o neurótico representa para nós um quê de infantilismo psíquico, ele não conseguiu libertar-se das condições infantis da psicossexualidade ou reverteu a elas (inibição no desenvolvimento e regressão). (Freud, 1912/2012Freud, S. (2012). Totem e tabu. In Sigmund Freud Obras Completas (P. C. de Souza, Trad.; Vol. 11, pp. 13-244). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1912)., p. 35)

No segundo ensaio, “Tabu e a ambivalência dos sentimentos”, Freud chama a atenção para o fato de que o tabu, “temor sagrado”, não deriva de proibições morais ou religiosas prescindindo de qualquer fundamentação que o justifique para aqueles que não estão sob o seu domínio. Trata-se de restrições a que se submetem determinados povos que em sua maioria interferem na capacidade de fruição, à liberdade de movimento e comunicação.

A partir dessas considerações, seguindo o propósito da metodologia freudiana do estudo da psicologia dos povos de reconhecimento da filogênese para a compreensão da ontogênese, Freud vai afirmar que a vida psíquica individual também é composta por formações como o tabu. Refere-se às proibições individuais dos neuróticos obsessivos que estão igualmente desprovidas de motivação e que, assim como o tabu, incidem sobre o medo do toque e, em um sentido mais amplo, o medo de entrar em contato como o délire de toucher.

A atitude ambivalente seria a marca principal da formação do tabu. Remete-se aos desejos de toque e contato com os próprios genitais da pri- meira infância como a mola propulsora do barramento de onde se formaria uma fixação psíquica e o permanente conflito entre proibição e satisfação pulsional. Freud ressalta o fato de que na raiz da proibição há, normalmente, um “impulso mau” ou “desejo de morte” em relação às pessoas amadas:

Este é reprimido mediante uma proibição e está ligada a uma determinada ação que representa a ação hostil contra a pessoa amada, mediante deslocamento; a execução desse ato é ameaçada com pena de morte. Mas o processo vai adiante, o desejo original de que a pessoa morra é substituído pelo medo de que morra. (Freud, 1912/2012Freud, S. (2012). Totem e tabu. In Sigmund Freud Obras Completas (P. C. de Souza, Trad.; Vol. 11, pp. 13-244). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1912)., p. 118)

Freud destaca, dessa forma, duas correntes afetivas que estariam na base do processo de proibição presente no tabu e na neurose obsessiva: uma que seria derivada das forças propriamente sexuais e outra que não deriva do seu significado sexual, mas de uma corrente ligada à hostilidade e agressividade que fica convertida em um comportamento cerimonioso e de medo. O totem ou o objeto fóbico guardam a singularidade do que Freud havia descoberto com os filólogos sobre a raiz das expressões de contradição em que os pares de opostos eram apresentados em uma única palavra “juntarseparar”, por exemplo. A anulação da contradição por aglutinação é uma condição curiosa dessas formações que é correspondente ao totem e objeto fóbico. Ambos condensam o “medo-desejo”, “amor-ódio”.

O terceiro e o quarto ensaios abordam de maneira mais direta as questões que envolvem o caso Hans em articulação à brincadeira e à formação do objeto fóbico. Em “Animismo, magia e onipotência dos pensamentos”, Freud vai aproximar as práticas de feitiço e magia como estratégias e técnicas que derivam do animismo e que estariam também nos marcos do desenvolvimento psíquico infantil.1 1 Freud cita como procedimento mágico mais difundido para afetar o inimigo a atribuição de alguma imagem ao inimigo mesmo que ela não traga nenhuma correspondência real. A crença consiste em atribuir os efeitos dos castigos dados à imagem à pessoa real: referindo-se uma parte do corpo da imagem, a pessoa real ficaria doente no mesmo lugar (corrente hostil) (1912/2012, p. 127). Destacando outro tipo de magia que não guardaria qualquer semelhança real, mas apenas uma relação de contiguidade Freud retoma a noção de Frazer de magia contagiosa. O desejo ocupa um papel preponderante na compreensão das razões que impulsionam ao uso da magia. Freud vai defender a ideia de que tudo que o homem primitivo realiza por meio mágico deve acontecer porque ele deseja. Referindo-se à criança ele defende a hipótese de que, por se tratar de uma condição com capacidade motora reduzida, a criança satisfaz seus desejos de forma alucinatória produzindo a satisfação por meio da excitação dos órgãos sensoriais (Freud, 1912/2012Freud, S. (2012). Totem e tabu. In Sigmund Freud Obras Completas (P. C. de Souza, Trad.; Vol. 11, pp. 13-244). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1912)., p. 134).

Nesse sentido ele vai comparar o desejo satisfeito à brincadeira das crianças como o lugar da técnica puramente sensorial e satisfação ao que ele afirma:

Se a brincadeira e a representação imitativa bastam para a criança e o primi- tivo, isso não é sina de modéstia tal como a entendemos, ou de resignação graças ao reconhecimento de sua real importância, mas a compreensível consequência do preponderante valor de seu desejo, da vontade dele dependente e dos caminhos que ele tomou. (p. 134)

A supervalorização dos atos psíquicos e a onipotência dos pensamen- tos em relação à realidade, expressas nas formas animistas de comunidade humana, serão algumas das chaves de leitura para sua influência na vida emocional do neurótico e seu embate com a realidade.

Para além da neurose obsessiva, na qual a onipotência dos pensamentos sobrevive em um comportamento quase supersticioso, Freud vai chamar a atenção para um âmbito em que essa onipotência foi conservada na cultura: o estado da arte. Segundo ele, “unicamente na arte sucede que um homem consumido por desejos realize algo semelhante à satisfação deles, e que essa atividade lúdica provoque - graças à ilusão artística - efeitos emocionais como se fosse algo real” (Freud, 1912/2012Freud, S. (2012). Totem e tabu. In Sigmund Freud Obras Completas (P. C. de Souza, Trad.; Vol. 11, pp. 13-244). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1912)., p. 142).

A brincadeira pode ser reconhecida como remanescente do pensamento anímico, em que está presente a supervalorização dos atos psíquicos em detrimento da realidade. É interessante observar como Freud atribui ao brincar o mesmo lugar de importância que a arte como formas sobreviventes na cultura da onipotência dos pensamentos. No último dos ensaios, “Retorno ao totemismo na infância”, Freud vai retomar algumas questões do caso Hans partindo da percepção irrefutável de que o totemismo constitui uma fase regular de todas as culturas e deve ser encontrado, por consequência, nas linhas gerais do desenvolvimento emocional infantil.

A eleição do animal totêmico diante do qual se deve temer, reverenciar, prantear em caso de morte, e de quem se espera ao mesmo tempo proteção dos membros do clã, é marcada pela experiência - descrita por Frazer e retomada por Freud - de um respeito supersticioso pautado na crença de que entre ele e a classe há uma relação íntima e especial. Segundo ele,

[...] o vínculo entre o homem e o totem é mutuamente benéfico, o totem o protege e ele mostra sua consideração pelo totem de diversas maneiras [...]à diferença de um fetiche, um totem nunca é um indivíduo isolado, mas uma classe de animais ou de plantas, mais raramente uma classe de objetos naturais inanimados, muito raramente uma classe de objetos artificiais. (Freud, 1912/2012Freud, S. (2012). Totem e tabu. In Sigmund Freud Obras Completas (P. C. de Souza, Trad.; Vol. 11, pp. 13-244). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1912)., p. 160)

De posse desses elementos, Freud parte para a questão da zoofobia das crianças como uma das doenças neuróticas mais frequentes dessa idade. Apesar de reconhecer que as zoofobias infantis não tinham sido objeto de uma investigação psicanalítica cautelosa, e embora reticente quanto à generalização do sentido desta enfermidade, Freud não se esquiva de afirmar que, quando se tratou do caso de meninos, o medo concernia ao pai tendo sido apenas deslocado para o animal, reafirmando de maneira sintética algumas das teses centrais do caso Hans para esclarecer a questão do totemismo na infância:

O que aprendemos de novo na análise do pequeno Hans é o fato - valioso para o totemismo - de que em tais condições a criança desloca, do pai para o animal uma parte dos seus sentimentos. A análise mostra as vias de associação pelas quais se dá esse deslocamento, tanto as de conteúdo significativo como as causais e também permite perceber seus motivos. O ódio que vem da rivalidade pela mãe não é capaz de difundir-se sem entraves na psique do garoto, tem de lutar com o afeto e a admiração que sempre existiam pela mesma pessoa, o menino se acha em uma atitude emocional dúplice - ambivalente - perante o pai, e procura alívio, nesse conflito ambivalente, deslocando seus sentimentos hostis e angustiados para um sucedâneo do pai. Mas o deslocamento não pode solucionar o conflito de modo a criar uma pura separação entre os sentimentos ternos e hostis. O conflito prossegue no objeto do deslocamento, a ambivalência passa para este. É inegável que o pequeno Hans tem não apenas medo dos cavalos, mas também demonstra respeito e interesse por eles. Quando diminuiu seu medo, ele se identifica com o animal temido, dá pinotes como um cavalo e morde seu pai. (Freud, 1912/2012Freud, S. (2012). Totem e tabu. In Sigmund Freud Obras Completas (P. C. de Souza, Trad.; Vol. 11, pp. 13-244). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1912)., p. 199)

O retorno do totemismo na infância refere-se então às formas de fobias que estariam tão presentes no desenvolvimento emocional infantil como o terror noturno, conforme identifica Freud a partir do trabalho de M. Wullf.

Em “Totem e tabu”, a formação do objeto fóbico é compreendida como um processo quase invariável do desenvolvimento infantil. O caso Hans é apresentado como exemplar do que seria o retorno ao totemismo na infância em linhas gerais, o reconhecimento de que se trata de uma forma estrutural do desenvolvimento da criança e seu processo de formação de símbolos. A fobia passa a ocupar um lugar ambíguo na teoria freudiana que a inscreve, ora em uma formação patológica, ora em um processo de estruturação normal do desenvolvimento das crianças que toma a forma de um terror diurno.

Tanto a fobia como as obsessões seriam manifestações psíquicas que correspondem às experiências de lidar com o ódio e a agressividade que, no plano da história da civilização, era realizado pelo totemismo. Convém considerar, no entanto, como a fobia cria símbolos que ligam o mal-estar a um significante compartilhado, ao passo que as obsessões e ritualizações infantis são idiossincráticas.

A apresentação do caso Hans ao lado dos fenômenos da cultura, pas- sando pelas considerações a respeito do lugar da arte e da brincadeira, reitera a hipótese de que a fobia, como trabalho psíquico de eleição de um objeto externo, passa a ser compreendida como um fenômeno universal de atribuição de sentido e estruturação psíquica, tal como o brincar e o processo de simbolização que dele decorre, diferenciando-se do brincar em função do afeto que fica deslocado - ódio e agressividade - e da saturação do processo de simbolização, como uma brincadeira de um objeto só.

Essa problemática tem efeito sobre o percurso e a extensão do conceito de projeção, que caminha lado a lado das investigações sobre o objeto fóbico, como o mecanismo primitivo de expulsão do que é mau e identificação ao ego com o que é bom, movimento que marca, ao mesmo tempo, a diferenciação topográfica dentro e fora.

A ideia da projeção havia sido explorada no texto sobre “As novas psiconeuroses de defesa” (Freud, 1894/1996aFreud, S. (1996a). As neuropsicoses de defesa. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 3, pp. 51-72). Imago. (Trabalho original publicado em 1894).), articulada como um mecanismo primitivo específico da paranoia, ideia que aparece novamente no caso Schreber (Freud, 1911/1969Freud, S. (1969). Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de nparanoia (Dementia paranoides). In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 129, pp. 15-89). Imago. (Trabalho original publicado em 1911).). Em a “A psicopatologia da vida cotidiana” (1901/2015bFreud, S. (2015b). A psicopatologia da vida cotidiana. Companhia das Letras, 2015. (Trabalho original publicado em 1901).), ao colocá-la ao lado da superstição, da mitologia e do animismo, a projeção passa a ser pensada como um mecanismo normal.

No caso do animismo, segundo Laplanche e Pontalis (2001)Laplanche, J., & Pontalis, J.-B. (2001). Vocabulário da psicanálise. Martins Fontes., a maior contribuição de Freud deve-se ao fato de que para ele as características que são atribuídas ao outro têm seu princípio e fim no desconhecido, em que os “demônios” e as “almas do outro mundo” (p. 376) encarnariam os maus desejos inconscientes.

O mecanismo de projeção, como uma inclinação do aparelho psíquico a tratar como provenientes do exterior as intensidades desagradáveis, seria o motor da constituição do objeto fóbico, diferenciando-se do seu uso na paranóia pelo fato de que, nessas condições, o afeto permanece inalterado - projeta o mau, reconhece fora o mau - enquanto, na fobia, projeta- se o ódio e a agressividade provenientes de uma frustração, e ela passa a ser reconhecida como medo.

A projeção em um sentido mais amplo passa a ter duas acepções que se articulam: a primeira em que se trata de um modo de desconhecer algo de si, e a segunda em que se trata de um mecanismo de expulsão daquilo que não se quer ser. Não querer conhecer e não querer ser seriam as duas razões que mobilizaram essa defesa do eu. Ressaltamos ainda como a projeção coloca em movimento a ideia de espaço, por se tratar de um deslocamento em direção à realidade e diante da qual precisa ser realizada a suposição de um recipiente que a contenha.

A cena fóbica, tal como Freud a compreende até aqui, é pensada como uma cena incestuosa em que a criança, no caso Hans, nada quer saber ou ser a respeito do seu próprio desejo e necessita que ele seja saturado, escondido em um objeto que o represente, à custa do congelamento do processo de simbolização e, por consequência, da própria brincadeira. A tragédia para o fóbico, nesse caso, está no fato de que seu desejo, que foi experimentado como uma representação intolerável, precisou ser escondido como um segredo, e pode, como nos relembra Phillips (1993/1996)Phillips, A. (1996). Beijo, cócegas e tédio. O inexplorado da vida à luz da psicanálise. Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1993). “ser reconhecido pelo terror, mas nunca compreendido” (p. 33).

Quando não se pode mais encenar o Édipo pela brincadeira, Hans esconde, como um segredo, a cena incestuosa no cavalo. Como quem esquece o lugar do próprio esconderijo, diante do cavalo, ele reconhece, pelo terror, que ali está depositado algo importante. Como um cidadão de Tróia que, em plena luz do dia, vê escapar do cavalo um soldado, reconhece-o, mas não compreende.

O estudo da fobia e sua relação com o brincar abre a possibilidade de se compreender a função fóbica em sua generalidade como um processo psíquico estrutural e, ao mesmo tempo, como uma entidade nosológica distinta das demais. Como vimos, o lugar e o modo de estruturação do recalcamento na fobia são incertos na obra freudiana. O elogio à fobia como uma estrutura originária do pensamento, a partir do uso da projeção, foi destacado por Birraux (1997)Birraux, (1997). L’eloge à la phobie. PUF. a partir da identificação de alguns aspectos positivos da função fóbica. Para a autora, os aspectos primitivos organizadores do eu-prazer e eu-realidade, tão caros ao funcionamento fóbico, possibilitam ao mesmo tempo o reconhecimento da alteridade. O elogio à fobia está em justamente promover, frente aos limites do recalcamento, uma funcionalidade projetiva. Ao lado do mal-estar que provoca, está uma “expressão do sujeito de encontrar representações para a sua vida pulsional perigosa e ameaçadora e que, sem isso, só se expressa em ato e na destrutividade” (p. 59). Esse otimismo em relação à função fóbica como uma tentativa de elaboração de um conflito interno, esforço em significar essa ameaça interna, testemunha, ao mesmo tempo, “um desejo de continuidade e existência que lhe escapa, no acesso aos recursos e as imagens que alimentam sua capacidade de pensar” (p. 59).

Denis (2006)Dennis, P. (2006). Les phobies. PUF. alerta para o fato, entretanto, de que a fobia, apesar de ser um modo de manter o sentimento de continuidade, é precária e provisória e ressalta ainda que os objetos que ela investe são pouco favoráveis ao desenvolvimento do pensamento. Segundo o autor, rebatendo o elogio, o investimento fóbico faz suplência à precariedade do jogo representacional e ainda reforça o fato de que a atribuição de um objeto mau-fobogênico e outro bom (contrafóbico) reforça a dificuldade da elaboração dos sentimentos ambivalentes comuns nas relações interpessoais.

A nosso ver, as duas características estão presentes na função fóbica: a redução da capacidade de elaboração da ambivalência e da cadeia representacional na saturação da brincadeira de um objeto só e o esforço em inserir uma representação diante do conflito interno, que seria uma espécie de protopensamento, a caminho dos processos de simbolização favorecidos pelo suporte material do objeto.

O esclarecimento sexual das crianças: conhecimento e liberdade de pensar como método contrafóbico

Em “O esclarecimento sexual das crianças” (1907/2015aFreud, S. (2015a). O esclarecimento sexual das crianças. In Sigmund Freud Obras Completas (P. C. de Souza, Trad., Vol. 8, pp. 314-324). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1907).), Freud desdobra o que seria um dos destinos inevitáveis dos efeitos do tratamento de Hans e das teorias da sexualidade infantil: a relação entre a sexualidade infantil e educação. O texto-resposta à carta de dr. Fürst, médico reconhecidamente aberto às teorias freudianas, aparece primeiramente publicado na revista Soziale Medizin und Hygiene e marca definitivamente um lugar para a psicanálise no pensamento e na preocupação com a educação das crianças:

Pois o que se pretende ao recusar às crianças - ou aos jovens, digamos - tais esclarecimentos sobre a vida sexual humana? Teme-se despertar prematuramente o seu interesse por essas coisas, antes que surja nelas de forma espontânea? Espera-se, com esse ocultamento, reter o instinto sexual até o momento em que ele possa tomar apenas o caminho que lhe é aberto pela ordem social burguesa? [...] ou se pretende seriamente que depois venham a julgar tudo relativo ao sexo algo inferior e abominável, de que os pais e os educadores queriam mantê-los afastados tanto quanto possível? (p. 315)

Freud defende o esclarecimento aberto à sexualidade infantil a partir, em primeiro lugar, do reconhecimento da presença da sexualidade como condição primária da existência do bebê, em seu modelo ontológico, que pressupõe a necessidade de prazer como especificidade da natureza humana. Além disso, ele destaca a relação entre a curiosidade sexual e o desenvolvimento intelectual, que será um tema amplamente explorado por Melanie Klein. Parte em defesa de Hans como não sendo um garoto necessariamente sensual ou com qualquer disposição patológica e atribui à liberdade que os pais concedem à condição de pensamento do pequeno investigador a pacificação ausente de culpa que colore suas pesquisas.

A necessidade de saber que assume a forma de uma pulsão epistemofílica em Freud parte do enigma da chegada dos bebês e será reconhecida como uma condição necessária para o desenvolvimento ou a inibição intelectual da criança.

A novidade que se afirma, a partir do caso Hans, é a formalização da liberdade de pensamento como promoção da saúde e do desenvolvimento mental infantil - a mesma que já vinha sendo garantida às neuroses adultas desde a publicação dos “Estudos sobre a histeria” (Freud, 1895/2016aFreud, S. (2016a). Estudos sobre a histeria (L. Barreto, Trad., Vol. 2). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1895).). Freud faz coincidir o conhecimento com a saúde mental, colocando-o, especialmente no caso da fobia, como método contrafóbico.

Freud vai identificar o trabalho da interpretação como o método principal de acesso ao inconsciente, não importando se tratava-se de um sonho, de um sintoma, uma brincadeira, um chiste ou um ato falho. Referendado ao paradigma do sonho, ele atribui um sentido terapêutico único a todas as formações do inconsciente: tornar consciente o inconsciente e não conferir especial atenção diretamente ao brincar como método:

Não é o sucesso terapêutico que buscamos em primeiro lugar; queremos, isto sim, pôr o paciente em condição de apreender conscientemente seus desejos inconscientes. E obtemos isso apresentando à sua consciência, com nossas palavras, o complexo inconsciente, a partir dos indícios que ele nos traz e com a ajuda de nossa arte interpretativa. (Freud, 1909/1996eFreud, S. (1996e). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 10, pp. 15-131). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1909)., p. 255)

Como efeito do tratamento psicanalítico em Hans, pautados pelo pri- meiro paradigma de cura do tratamento psicanalítico, torna-se consciente o que está inconsciente, a partir do método da interpretação do conteúdo recalcado que tem como efeito a garantia para a criança do direito à liberdade do pensamento e a autorização de suas percepções.

Freud admite que a criança, em função do seu desenvolvimento intelectual, requer uma ajuda particularmente intensiva e rebate o problema da sugestão alegando como Hans aplica as teorias sexuais infantis ao seu material sem que fosse estimulado a fazê-lo. Para Hans, a via para o tema do nascimento passa pelo complexo da excreção: como Freud não alertou o pai, as teorias de Hans tornaram-se um bom testemunho da autenticidade e autonomia do trabalho mental de Hans.

Em nota acrescentada em 1922, relata, com satisfação, a visita que re- cebeu do Pequeno Hans, em que foi possível desmentir as previsões que surgiram na época da análise. Nos estudos biográficos que seguiram, soube-se que Hans (Herbert Graf) construiu uma brilhante carreira como cenografista de ópera, profissão que foi por ele mesmo inventada.

No artigo “En passant par Hans, la trajectoire de Herbert: panorama sur la phobie” (2009Bédère, S. (2009). En passant par Hans, la trajectoire de Herbert: panorama sur la phobie [1]. Figures de la psychanalyse, 18(2), 133-151. https://doi.org/10.3917/fp.018.0133.
https://doi.org/10.3917/fp.018.0133...
), Serge Bédère retoma o caso sob a perspectiva da biografia de Hebert e a partir dos escritos do seu pai Max Graf. As considerações biográficas acentuam, ao final, o destino criativo exitoso de Hans no desenvolvimento de sua profissão. Ao contrário de se fixar em um sintoma a ser curado, Hans foi atravessado por uma notória atividade criativa ao longo da vida.2 2 Segundo Roudinesco e Plon (1997), Hebert foi diretor titular da Metropolitan Opera de Nova York, realizou mais de sessenta produções em Verona, Milão, Veneza e Florença, assumiu a Ópera de Zurique e o Grande Théatre de Genebra, até a sua morte, em 1973.

Conclusão

A fobia ocupou diferentes lugares na história da nosografia psicanalítica firmando-se como uma entidade nosológica independente das demais a partir da análise do pequeno Hans. O estudo das brincadeiras que ao lado dos sonhos, sintomas e associações livres do menino compõem o caso, abre uma perspeciva de leitura da função fóbica não só como uma modalidade de defesa, mas também como um elemento estruturante e originário do pensamento, responsável pelo processo de simbolização.

A análise da fobia do pequeno Hans trouxe importantes desdobramentos para o estudo antropológico de “Totem e tabu” (1912/2012Freud, S. (2012). Totem e tabu. In Sigmund Freud Obras Completas (P. C. de Souza, Trad.; Vol. 11, pp. 13-244). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1912).), como também para o direcionamento de uma ação indissociavelmente terapêutica e pedagógica em que a liberdade de pensar e a condição de aprender vigoram como método contrafóbico, premissa que marcará de maneira decisiva o desenvolvimento teórico e clínico da psicanálise acerca do problema da inibição intelectual. Esses desdobramentos reposicionam a fobia como uma função estruturante, parte originária da capacidade para pensar e alojar as coisas difíceis.

É possivel extrair uma importante correspondência entre a formação do objeto fóbico e a atividade de brincar inscrevendo esse fenômeno dentro do campo mais abrangente da racionalidade lúdica marcada pela coordenada do espaço e da materialidade. O estudo da formação do objeto fóbico, diz respeito não só às formações defensivas-patológicas como também podem estar relacionados à condição inaugural apresentacional, que inscrevem a significação psíquica, mais do que representam o que já foi significado, favorecendo o processo de simbolização.

  • Financiamento/Funding: Este trabalho não recebeu apoio. / This work received no funding.
  • 1
    Freud cita como procedimento mágico mais difundido para afetar o inimigo a atribuição de alguma imagem ao inimigo mesmo que ela não traga nenhuma correspondência real. A crença consiste em atribuir os efeitos dos castigos dados à imagem à pessoa real: referindo-se uma parte do corpo da imagem, a pessoa real ficaria doente no mesmo lugar (corrente hostil) (1912/2012Freud, S. (2012). Totem e tabu. In Sigmund Freud Obras Completas (P. C. de Souza, Trad.; Vol. 11, pp. 13-244). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1912)., p. 127). Destacando outro tipo de magia que não guardaria qualquer semelhança real, mas apenas uma relação de contiguidade Freud retoma a noção de Frazer de magia contagiosa.
  • 2
    Segundo Roudinesco e Plon (1997)Roudinesco, E., & Plon, M. (1997). Dictionnaire de la psychanalyse. Fayard., Hebert foi diretor titular da Metropolitan Opera de Nova York, realizou mais de sessenta produções em Verona, Milão, Veneza e Florença, assumiu a Ópera de Zurique e o Grande Théatre de Genebra, até a sua morte, em 1973.

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Editor/Editor: Prof. Dr. Nelson da Silva Jr.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Mar 2023
  • Data do Fascículo
    Dez 2022

Histórico

  • Recebido
    23 Jan 2022
  • Revisado
    22 Jun 2022
  • Aceito
    30 Set 2022
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