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Medicalização da vida nas práticas vinculadas à estratégia saúde da família *1 *1 O presente artigo faz parte da tese de doutoramento da primeira autora (Filardi, 2019), que investigou o uso de medicamentos psicotrópicos e de abordagens não farmacológicas para superação de dificuldades da vida cotidiana que geram sofrimento psíquico, mas que são referidas pela literatura médica especializada como transtornos mentais comuns, não classificáveis em um diagnóstico psiquiátrico estrito. A tese foi desenvolvida em duas etapas. No primeiro momento foi investigada a experiência dos pacientes com o uso de psicotrópicos. Neste artigo, apresentamos os resultados da segunda etapa da pesquisa cujo propósito foi realizar uma análise exploratória das práticas clínicas dos médicos da saúde da família nos cuidados primários, no manejo do uso de psicotrópicos — em especial, benzodiazepínicos e antidepressivos — e/ou de abordagens não farmacológicas, para a superação de problemas psicossociais por seus pacientes.

Medicalization of life in practices linked to the family health strategy

La médicalisation de la vie dans les pratiques liées à la stratégie santé de la famille

Medicalización de la vida en prácticas vinculadas a la estrategia de salud de la familia

A inclusão dos cuidados em Saúde Mental na Atenção Primária tem ocorrido em diversos países, incluindo o Brasil, para suprir a existência de uma lacuna assistencial. A integração dos serviços é apontada como necessária, mas ao mesmo tempo um grande desafio. O objetivo deste estudo foi realizar a análise exploratória das práticas discursivas sobre o uso dos medicamentos psicotrópicos e das abordagens não farmacológicas para superação de eventos negativos da vida. As entrevistas realizadas com médicos que trabalham na saúde da família, sobre a prática clínica nos cuidados primários em saúde mental, compuseram o corpus da pesquisa. Os dados foram tratados a partir dos pressupostos da análise do discurso. As descrições analíticas foram construídas a partir dos enunciados identificados na formação discursiva da medicalização da vida. Os resultados da análise evidenciaram o pluralismo terapêutico dos psicotrópicos e seus efeitos, com o uso menos frequente das abordagens não farmacológicas; a prescrição exclui tramas sociais mais amplas, captura a potência da vida modulando os comportamentos individuais e coletivos, para que a convivência seja assegurada e legitimada, para garantir o pretenso bem comum.

Palavras-chave:
Medicamentos; psicotrópicos; análise do discurso


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