Acessibilidade / Reportar erro

Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil: Cephaloziaceae

Flora of the cangas of Serra dos Carajás, Pará, Brazil: Cephaloziaceae

Resumo

Este estudo representa um tratamento para Cephaloziaceae registrada nas áreas de canga na Serra dos Carajás, no estado do Pará, incluindo a descrição detalhada, ilustração e comentários morfológicos sobre a espécie Odontoschisma variabile, única registrada na área de estudo.

Palavras-chave:
Brioflora; FLONA Carajás; hepáticas; taxonomia

Abstract

This study represents a treatment for Cephaloziaceae recorded in the areas of cangas in Serra dos Carajás, Pará state, including a detailed description, illustration and morphologic comment on the species Odontoschisma variabile, the only one recorded in the study area.

Key words:
Bryoflora; FLONA Carajás; liverworts; taxonomy

Cephaloziaceae

Cephaloziaceae Mig. é representada por seis gêneros e 82 espécies no globo (Söderström et al. 2016Söderström L, Hagborg A, von Konrat M, Bartholomew-Began S, Bell D, Briscoe L, Brown E, Cargill DC, Costa DP, Crandall-Stotler BJ, Cooper ED, Dauphin G, Engel JJ, Feldberg K, Glenny D, Gradstein SR, He X- L, Heinrichs J, Hentschel J, Ilkiu-Borges AL, Katagiri T, Konstantinova NA, Larraín J, Long DG, Nebel M, Pócs M, Puche F, Reiner-Drehwald E, Renner MAM, Sass-Gyarmati A, Schäfer-Verwimp A, Moragues JGS, Stotler RE, Sukkharak P, Thiers BM, Uribe J, Váňa J, Villarreal JC, Wigginton M, Zhang L & Zhu R-L (2016) World Checklist of hornworts and liverworts. Phytokeys 59: 1-828.). No Brasil, está representada por cinco gêneros (considerando as espécies citadas de Anomoclada Spruce, como sinônimos de Odontoschisma) e nove espécies (Costa & Peralta 2015). Essa família reúne plantas com filídios inseridos lateralmente (não se estendendo para a linha média dorsal do caulídio), com células grandes de parede finas, rizóides dispersos e a seta geralmente com 12 fileiras de células (8 fileiras externas e 4 internas) (Gradstein et al. 2001Gradstein SR, Churchill SP & Salazar-Allen N (2001) Guide to the Bryophytes of tropical America. Memoirs of the New York Botanical Garden 86: 1-577.). Nas áreas de canga da Serra dos Carajás, foi registrada uma espécie do gênero Odontoschisma (Dumort.) Dumort.

1. Odontoschisma (Dumort.) Dumort.

Gênero tropical-holártico, representado por 21 espécies (Söderström et al. 2016Söderström L, Hagborg A, von Konrat M, Bartholomew-Began S, Bell D, Briscoe L, Brown E, Cargill DC, Costa DP, Crandall-Stotler BJ, Cooper ED, Dauphin G, Engel JJ, Feldberg K, Glenny D, Gradstein SR, He X- L, Heinrichs J, Hentschel J, Ilkiu-Borges AL, Katagiri T, Konstantinova NA, Larraín J, Long DG, Nebel M, Pócs M, Puche F, Reiner-Drehwald E, Renner MAM, Sass-Gyarmati A, Schäfer-Verwimp A, Moragues JGS, Stotler RE, Sukkharak P, Thiers BM, Uribe J, Váňa J, Villarreal JC, Wigginton M, Zhang L & Zhu R-L (2016) World Checklist of hornworts and liverworts. Phytokeys 59: 1-828.). No Brasil ocorrem cinco espécies (Costa & Peralta 2015Costa DP & Peralta DF (2015) Bryophytes diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1063-1071.). O gênero é separado de outros membros de Cephaloziaceae por apresentar estolões ventrais, caulídio sem hialoderme, presença frequente de trigônios, oleocorpos grandes e camada de células anteridiais não estratificada (Gradstein & Ilkiu-Borges 2015Gradstein SR & Ilkiu-Borges AL (2015) A taxonomic revision of the genus Odontoschisma (Marchantiophyta, Cephaloziaceae). Nova Hedwigia 99: 15-100.).

1.1. Odontoschisma variabile (Lindenb. et Gottsche) Trevis., Mem. RealeIst. Lombardo Sci. (Ser. 3), C. Sci. Mat. 4(13): 419, 1877.

Sphagnoecetis variabilis Lindenb. & Gottsche, In: Gottsche et al., Syn. Hepat.: 688. 1847.Fig. 1a-e

Figura 1
a-e. Odontoschisma variabile – a. hábito; b. células medianas do filídio; c. células da margem do filídio; d. hábito; e. filídios.
Figure 1
a-e. Odontoschisma variabile – a. habit; b. median leaf cells; c. marginal leaf cells; d. habit, e. leaves.

Plantas verde pálidas, com 1-1,8(-2) mm de largura. Ramos folhosos predominantemente ventral intercalares, estolões às vezes com folhas rudimentares. Filídios inteiros a curto-bífidos, distantes a imbricados, assimétricos, ovalados a ovalado-oblongos, 0,6-0,7 × 0,3-0,6 mm, ápice truncado a retuso (a curto-bífido com lobos arredondados), margem frequentemente encurvada, fracamente bordeada por uma fileira de células subquadradas. Células medianas do filídios hexagonal-diamétricas, (18-)25-38 µm de diâmetro, trigônios grandes, inflados, cutícula papilosa.

Material selecionado: Canaã dos Carajás, S11C, 6° 22'58,2"S, 50° 23' 08,3"W, 29.IV.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3489 (MG).

Odontoschisma variabile se caracteriza pelos filídios ovalados a ovalado-oblongos de ápice geralmente truncado à retuso, borda fracamente diferenciada por células subquadradas e trigônios grandes, dando ao lúmen das células um formato estrelado. Essa espécie está morfologicamente relacionada a O. denudatum (Nees) Dumort., que também ocorre na Amazônia brasileira. Entretanto O. variabile se diferencia pelos filídios assimétricos, mais longos que largos e planos com margens encurvadas (ou recurvadas a raramente planas, de acordo com Gradstein & Ilkiu-Borges 2015). Em O. denudatum, os filídios são simétricos, mais largos que longos e côncavos.

Segundo Gradstein & Ilkiu-Borges (2015)Gradstein SR & Ilkiu-Borges AL (2015) A taxonomic revision of the genus Odontoschisma (Marchantiophyta, Cephaloziaceae). Nova Hedwigia 99: 15-100., essa espécie ocorre sobre madeira apodrecida, bases de árvores, rochas e em falésias, no solo úmido, tanto em florestas, quanto em vegetação aberta. Na canga da Serra dos Carajás essa espécie foi encontrada sobre tronco vivo e sobre rocha de ferro em curso d'água temporário de drenagem (natural).

Neotropical (comum) e africana (rara). No Brasil: AM, BA, MG, PA, RJ, RO e SP. Serra dos Carajás: Serra Sul: S11C.

  • Lista de exsicatas
    Ilkiu-Borges AL 3489 (1.1), 3493 (1.1).
  • Editor de área: Dr. Alexandre Salino

Agradecimentos

Agradecemos ao Museu Paraense Emílio Goeldi e Instituto Tecnológico Vale, a infraestrutura e demais apoios fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho, assim como à Dra. Ana Maria Giulietti Harley e ao Dr. Pedro Lage Viana, coordenadores do projeto conveniado MPEG/ITV/FADESP (01205.000250/2014-10) e ao projeto aprovado pelo CNPq (processo 455505/2014-4), o financiamento; ao ICMBio, em especial ao biólogo Frederico Drumond Martins, a licença de coleta concedida e suporte nos trabalhos de campo; ao CNPq, a bolsa de Iniciação Científica concedida ao segundo autor e a Bolsa de Produtividade em Pesquisa concedida à primeira autora.

Referências

  • Costa DP & Peralta DF (2015) Bryophytes diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1063-1071.
  • Gradstein SR, Churchill SP & Salazar-Allen N (2001) Guide to the Bryophytes of tropical America. Memoirs of the New York Botanical Garden 86: 1-577.
  • Gradstein SR & Ilkiu-Borges AL (2015) A taxonomic revision of the genus Odontoschisma (Marchantiophyta, Cephaloziaceae). Nova Hedwigia 99: 15-100.
  • Söderström L, Hagborg A, von Konrat M, Bartholomew-Began S, Bell D, Briscoe L, Brown E, Cargill DC, Costa DP, Crandall-Stotler BJ, Cooper ED, Dauphin G, Engel JJ, Feldberg K, Glenny D, Gradstein SR, He X- L, Heinrichs J, Hentschel J, Ilkiu-Borges AL, Katagiri T, Konstantinova NA, Larraín J, Long DG, Nebel M, Pócs M, Puche F, Reiner-Drehwald E, Renner MAM, Sass-Gyarmati A, Schäfer-Verwimp A, Moragues JGS, Stotler RE, Sukkharak P, Thiers BM, Uribe J, Váňa J, Villarreal JC, Wigginton M, Zhang L & Zhu R-L (2016) World Checklist of hornworts and liverworts. Phytokeys 59: 1-828.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2017

Histórico

  • Recebido
    03 Abr 2017
  • Aceito
    26 Jun 2017
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rua Pacheco Leão, 915 - Jardim Botânico, 22460-030 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21)3204-2148, Fax: (55 21) 3204-2071 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: rodriguesia@jbrj.gov.br