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INVISIBILIDADE EPIDEMIOLÓGICA CARACTERIZA A SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL

Os povos indígenas no Brasil constituem minorias vivendo em situações de exclusão, marginalidade e discriminação que aumentam sua vulnerabilidade para os agravos à saúde. Por ocasião da chegada dos portugueses e espanhóis na América do Sul, os Guaranis constituíam um conjunto de povos de mesma origem, falantes de um mesmo idioma com variações dialetais entre diferentes grupos e mantinham uma forma de ser que preservava a memória de antigas tradições. Praticavam uma agricultura muito produtiva, que incluía milho, mandioca, batatas, amendoim, cará, abóboras, ananás e outros cultivos. Ao longo dos séculos tiveram suas terras espoliadas e, atualmente, sobrevivem em uma região amplamente explorada pela agroindústria moderna, sem espaço para seguirem reproduzindo práticas culturais em suas comunidades. São coagidos a viver em reservas superpovoadas, sem saneamento básico e em habitações precárias. A falta de terras e o esgotamento das existentes têm levado os Guaranis a buscarem seu sustento no trabalho assalariado, seja em subempregos em áreas urbanas, seja em fazendas e usinas de produção de açúcar e álcool. Essa situação reflete-se diretamente nos indicadores de morbimortalidade Guarani, que são duas a três vezes mais altos do que os registrados em nível nacional. A fome, a desnutrição, os riscos ocupacionais, o acesso precário a serviços de saúde e a violência social estão entre os principais determinantes de seu quadro sanitário.

Nesse contexto, é extremamente oportuno o artigo “Infecção respiratória aguda em crianças indígenas Guarani - Brasil”,11. Souza PG, Cardoso AM, Sant’Anna CC, March MFBP. Acute lower respiratory infection in Guarani children - Brazil. Rev Paul Pediatr. 2018;36:123-31. nesta edição da Revista Paulista de Pediatria. O estudo vem contribuir para a diminuição da invisibilidade epidemiológica que tem caracterizado a saúde dos povos indígenas no Brasil, em decorrência da dificuldade de se obter informações confiáveis nas bases oficiais de dados sobre saúde. Revela também que, embora com acesso ampliado a serviços de saúde após a criação do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena do SUS, formado por uma rede de Distritos Sanitários Especiais Indígenas com atribuição de oferecer benefícios de atenção primária à sua saúde, esses lugares têm sido insuficientes para garantir boas condições de saúde a seus usuários, sendo necessárias políticas intersetoriais em especial fundiárias, capazes de minimizar esse quadro. Gerar conhecimento a respeito de suas condições de saúde e sua interlocução com os serviços de saúde é importantíssimo para avaliação das políticas públicas destinadas a estes povos e para subsidiar as necessárias intervenções com vistas à promoção da equidade em saúde entre indígenas e não indígenas em nosso país.

REFERÊNCIA

  • 1
    Souza PG, Cardoso AM, Sant’Anna CC, March MFBP. Acute lower respiratory infection in Guarani children - Brazil. Rev Paul Pediatr. 2018;36:123-31.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2018

Histórico

  • Recebido
    30 Out 2017
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