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Quanto é efetivo o abate de cães para o controle do calazar zoonótico? uma avaliação crítica da ciência, política e ética por trás desta política de saúde pública

INTRODUÇÃO: O calazar zoonótico, uma doença fatal causada por protozoários do gênero Leishmania, é considerada fora de controle, particularmente no Brasil, onde se urbaniza e a letalidade aumenta. Apesar de ser uma medida muito controversa, o governo brasileiro abate cães soropositivos regularmente para controlar a doença. Assim, diante da falha do controle, foi efetuada uma análise crítica das ações para o controle do reservatório canino. MÉTODOS: Em uma revisão da literatura, foi feita uma abordagem histórica focalizada principalmente na comparação das bem sucedidas tentativas chinesas e soviéticas de controlar a doença. Também foi efetuada uma análise dos principais estudos acerca do papel de cães como fatores de risco para humanos e dos principais ensaios de intervenção acerca da eliminação destes animais. A reação política do Brasil a uma revisão sistemática recentemente publicada que concluiu pela ineficácia do programa de eliminação de cães e os seus efeitos nas políticas públicas são revisadas. RESULTADOS: Não foram encontradas evidências firmes do risco conferido por cães para os seres humanos. Além disto, foi confirmada a falta de apoio científico à política de eliminação de cães. Foi notada uma tendência para distorção dos dados científicos para o suporte da política de eliminação dos animais. CONCLUSÕES: Uma vez que não existem evidências de que o abate de cães diminui a transmissão de leishmaniose visceral, este programa deve ser abandonado como estratégia de controle. São levantadas as implicações éticas acerca da distorção da ciência e sobre a eliminação de animais na ausência de mínima ou nenhuma evidência científica.

Calazar; Leishmaniose visceral; Controle; Cães; China; Brasil


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