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RESUMOS DE LIVROS/BOOK REVIEWS

Hilda Paulina Pino Zuñiga

Departamento de Nutrição - FSP/USP

Applied nutritional principles in health and disease, edited by Geoffrey H. Bourne. Basel, Karger, 1987. 301 p. (World review of nutrition and dietetics, 53)

A obra reúne cinco temas não relacionados entre si, sendo três deles bastante específicos da área de nutrição. Entretanto, o tema de abertura extrapola os limites desta área, uma vez que os assuntos nele abordados são de interesse da ciência de um modo geral e das ciências da saúde em particular. Discutem-se, neste tópico, aspectos relacionados com as implicações éticas, políticas e ideológicas da nutrição como ciência aplicada. Partindo de considerações filosóficas a respeito da ciência, defende-se, em última instância, um papel ativo do cientista no despertar da consciência das massas em torno das causas estruturais que determinam a doença e a fome. A juízo do autor, tal atitude propiciaria condições para a população se transformar em agente de mudanças em seu próprio benefício.

No segundo capítulo discutem-se os complexos mecanismos determinantes da biodisponibilidade de nutrientes, de tóxicos e de resíduos de contaminantes naturais. Entre os fatores que determinam as variações da biodisponibilidade estão: a composição intrínseca do alimento, a quantidade ingerida, as condições de processamento e armazenamento e a existência de substâncias competitivas. O assunto é amplamente discutido pelos exemplos. O autor conclui que a biodisponibilidade dos nutrientes deveria ser considerada na elaboração das tábuas de composição de alimentos e nas recomendações nutricionais. Questiona-se, por outro lado, a excessiva atenção dada aos resíduos tendo em vista que estes não têm mostrado biodisponibilidade suficiente para serem considerados perniciosos.

O terceiro tópico, embora pouco sistemático, é uma revisão extensa, detalhada e amplamente referenciada do conhecimento atual a respeito dos fatores nutricionais e não nutricionais que podem influenciar o crescimento. Apresentam-se evidências referentes à importância que a restrição energética – primária ou secundária a infecções – adquire nos países subdesenvolvidos. Insuficiência proteica e carências específicas (Zinco e Vitamina D), são apontadas como responsáveis menores por alterações do crescimento. Além do crescimento discutem-se, neste capítulo, evidências referentes a outras alterações decorrentes da má-nutrição, como a obesidade, o retardo da maturação e do desenvolvimento mental.

O quarto artigo expõe as bases bioquímicas da termogénese que ocorre nas mirocondrias do tecido adiposo marrom, um dos mecanismos fisiológicos de adaptação calórica dos mamíferos. A possibilidade deste mecanismo ter repercussões favoráveis na prevenção da obesidade é amplamente discutida e referenciada, julgando-se finalmente improvável que seja este um fator importante para o controle de peso no adulto humano.

O volume encerra com uma interessante discussão da evolução do tratamento recomendado pela medicina oficial, face à diarréia aguda, ao longo dos últimos 50 anos. Sumariamente expoem-se as bases científicas que determinam as mudanças havidas, enfatizando-se o valor da Terapia de Rehidratação Oral (TRO), atualmente recomendada e a importância da manutenção da dieta durante a doença. Assumindo-se que estas condutas positivas serão melhor transmitidas na medida que sejam conhecidas as práticas tradicionais da população, analisam-se exaustivamente estas práticas a partir de informações referentes a 74 países.

Tendo em vista a escassa inter relação dos temas abordados é difícil que o volume resulte, na íntegra, de interesse para um perfil profissional determinado. No entanto o tratamento aprofundado de cada tema e a abrangência das revisões bibliográficas que os acompanham, torna esta coletânea em referência importante para a atualização do conhecimento em relação a estes tópicos específicos.

Fernando Lefèvre

Departamento de Prática de Saúde Pública - FSP/USP

Beyond illness: discovering the experience of health, by Larry Dossey. Boulder, Shambhala, 1984. 207 p.

Trata-se de um trabalho em que se busca olhar com novos olhos a velha questão da saúde e da doença. O autor deste novo olhar é um médico e aquilo de mais imediato para o qual está olhando, o objeto direto da sua mirada, são seus pacientes e as histórias de vida deles como doentes. Como resultado desta mirada emerge uma reflexão apaixonada, ou seja que não se esconde atrás dos fatos biológicos (na linha de Augusto Conte e seguidores) ou de seu funcionamento concebido em termos de fisiologia ou fisiopatologia da máquina-homem. Não se esconder do extra-biológico significa, para o médico, "encarar" aquelas coisas que ele costuma evitar. Estas coisas, segundo o autor, possuem todas o atributo de não-coisas, expressam a saúde como "não-coisa", como experiência.

"...muitas pessoas preferem caçar a persona da saúde em detrimento da saúde real, preferindo os símbolos de saúde à própria experiência da saúde. Melhor, talvez, aceitar os ditames médicos relativos à saúde do que nós mesmos dela nos apropriarmos no seu fluir imediato. Melhor persistir na farsa que significa adquirir saúde-como-um-objeto do que dar conta da transformação que se requer para viver a saúde como uma experiência. Melhor jogar o jogo segundo as regras da Blue Cross/Blue-Shield do que seguir as outras regras, necessárias para o crescimento e evolução espiritual. Melhor comer a dieta que a comida.

Até o momento, é claro, em que se descobre que nos estágios afetivos mais altos não sentimos absolutamente nada – nem saúde, nem não-saúde – só vacuidade, sentimento de nada. É que nos desencaminhamos na procura do nosso peso ideal (...) de bons resultados nos testes de stress. Em algum ponto as luzes se apagam. E descobrimos a ingenuidade e o descaminho que significam procurar a saúde-como-um-objeto em detrimento da saúde como experiência. Descobrimos que nos comportamos como se saúde fosse algo que se possa possuir.

Mas não é isso. Não podemos possuir saúde ou doença.

..Saúde como experiência leva-nos a admitir que, de fato, não existe uma coisa chamada saúde e menos ainda uma coisa chamada sanidade.

Existe um sentido próprio do conceito de saúde em que esta não pode ser atingida, adquirida, promovida ou desenvolvida. Não é o resultado de intervenções médicas ativas, nem de medicamentos, nem de cirurgias. Não é o produto das mais vigorosas medidas preventivas. Nos é tão estranha esta idéia, fere tanto a nossa visão usual da saúde, que podemos mais propriamente chamá-la de : "não-saúde".

(...)

"Não-saúde" não busca nada simplesmente porque não existe nada "lá fora" para se buscar – nem longevidade, nem ausência de dor ou sofrimento, nem ausência de doença, enfermidade e morte. Inclui, portanto, tudo, porque é a base que dá sentido a todos os nossos referenciais e padrões de saúde. É a origem dos opostos, incluindo elementos contrastantes como pressão alta e pressão normal, ataques cardíacos e funcionamento normal do coração, até mesmo nascimento e morte (...) É sensibilidade universal. É o silêncio do todo indiferenciado" (págs. 5,6,7.).

Visão mística da Saúde? Reação nostálgica diante de um mundo e de um ser humano radicalmente "taylorizado", que esqueceu-se de ser, como diria Fernando Pessoa, na Divisão Social (e Celular) do Trabalho, do Seu Mundo, do Seu Ser de Homem?

O marxista diria que o que o autor chama de "silêncio do todo indiferenciado" e o que chama de "origem dos opostos" é a dialética que estava "virada de cabeça para baixo" e que Marx botou "de cabeça para cima". Que o "silêncio do todo indiferenciado" não é a origem dos opostos mas, ao contrário, o seu fim (nunca atingido, é certo), na perspectiva da história (o grande mito marxista); e que neste fim não se encontra um "silêncio indiferenciado do todo" mas o próprio homem. Lembremo-nos da "boutade" marxista: "ser radical é tomar as coisas pela raiz. Ora, para o homem a raiz é o próprio homem". Mas, a despeito disto, uma reflexão na linha da empreendida pelo autor e a visão marxista da saúde são muito mais aparentadas entre si do que estas duas visões e o materialismo tacanho de corte positivista, ao qual ambos se opõem.

Com efeito, as duas visões tem como alvo principal de suas críticas a saúde identificada com as mercadorias, os serviços, as intervenções, os estados orgânicos, enfim, com a saúde reificada, tão característica das culturas contemporâneas, sejam elas de base capitalista ou reflitam elas este triste "socialismo real", tão desencontrado da utopia marxista de base humanista.

O livro que se comenta não é, como já se disse no início, um desfilar simplesmente especulativo (e portanto narcisista já que espéculo é espelho e o espelho só reflete a imagem do próprio autor) mas uma verdadeira pesquisa qualitativa, pontilhada de histórias de vida e depoimentos, indicando que a matéria prima com que o autor tece seu discurso é um Outro (o Paciente, diferente dele, Médico, mas visto por Ele como tão poderoso e verdadeiro quanto) ou a carne e a consciência do homem comum.

Em síntese, leitura de eleição para sanitaristas, neófitos ou não, e sobretudo médicos, dispostos a compartilhar o prazer de um texto, como diria Roland Barthes, de um colega (atípico?), "de quebra", americano (do norte).

Evelin Naked de Castro Sá

Departamento de Prática de Saúde Pública – FSP/USP

La comunidad economica europea. Las profesiones sanitarias, por José Mateu Istúriz. Madrid, Ministerio de Sanidad y Consumo, 1985. 71 p.

O livro é escrito por um advogado do Estado, do Ministério de Sanidade e Consumo da Espanha, analisando as disposições legais dos países integrantes da Comunidade Econômica Européia pertinentes às profissões sanitárias, as quais iniciam o processo de "Una Europa de todas las profesiones y trabajadores".

Pretendendo falar das profissões sanitárias: Enfermagem, Veterinária, Odontologia, Parteiras, deixando para mais tarde os profissionais de Farmácia, o livro trata, de fato, mais dos médicos, inclusive os dos hospitais públicos, e um pouco dos profissionais de Odontologia. São expostos os requisitos recíprocos para a livre prestação de serviços e ao direito de entrada e residência nos países signatários.

Dentre outros pontos, o autor aborda, como exemplo, que a diretiva dos médicos leva em consideração 11 especialidades existentes em 10 países membros e 36 especialidades existentes em dois ou mais países membros, para o que as regras básicas de reconhecimento são: a) os critérios de formação devem ser os mais exigentes possíveis; b) o reconhecimento mútuo de diplomas é o procedimento final de uma diretiva prévia de coordenação; c) as normas deverão, simultaneamente, respeitar os regimes nacionais de ensino e abordar as garantias necessárias, suficientes e controláveis para que a liberdade de circulação se efetue de uma maneira ordenada, e os critérios não devem ser demasiado minuciosos nem vagos.

O livro está estruturado em 3 capítulos, precedidos de apresentação e introdução (nestas duas há uma descrição dos objetivos do livro). O primeiro capítulo "Gênese da Integração Européia" compreende: antecedentes, evolução e desenvolvimento das comunidades européias: a união aduaneira, a união econômica e monetária, os objetivos da comunidade européia e as liberdades comunitárias; a aproximação das políticas dos estados membros, as políticas comuns e as políticas coordenadas.

O Capítulo II trata da livre circulação de pessoas, as profissões sanitárias e o exame particular das profissões médicas. Engloba os assuntos: o que é a livre circulação de pessoas, as profissões liberais, os médicos e os dentistas.

O Capítulo III traz o repertório das disposições legislativas e acordos sobre as profissões sanitárias.

É um livro pequeno, com cerca de 70 páginas.

Sua utilidade maior, além de pioneiro entre nós, é para os interessados em direito sanitário, visto que entra na análise dos dispositivos legais recíprocos entre Estados para a utilização de força de trabalho em saúde.

É de se considerar, porém, que nada se pode achar, no livro, quanto às reais condições de vida e de trabalho dos profissionais de saúde que tenham migrado no território europeu.

Oswaldo Paulo Forattini

Departamento de Epidemiologia - FSP/USP

Handbook of community health, by Murray Grant. 4th ed. Philadelphia, Lea & Febiger, 1987. 277 p.

Este é um manual que objetiva, em 21 capítulos gerais, fornecer os conhecimentos básicos da saúde pública, por ele rotulada de "saúde comunitária". É bastante sintético e, mediante conceitos curtos e precisos alcança seus objetivos. Inicia com fundamentos de epidemiologia e genética, estatística vital, e princípios de prevenção de doenças transmissíveis e crônicas. Aborda a seguir, aspectos de geriatria, sociologia médica, fatores ambientais e nutrição. Alguns capítulos mais específicos são dedicados à saúde odontológica, mental, ocupacional e problemas de acidentes e desastres. Passa então a tratar da assistência médica, a ela dedicando três capítulos, e concluindo com outros tantos para os recursos humanos e organização dos serviços de saúde. Trata-se pois de texto essencialmente prático. No entanto, há que se reparar que ele se destina precipuamente à população do hemisfério norte, deixando de lado aspectos que seriam de elevado interesse para nossa realidade. Não obstante, sua utilidade permanece, em especial para o aprendizado de conceitos básicos.

Aracy Witt de Pinho Spinola

Departamento de Prática de Saúde Pública - FSP/USP

Health surveys in practice and in potential: a critical review of their scope and methods, by Ann Cartwright. London, King Edward's Hospital Fund, 1983. 227 p.

A autora pretende nessa revisão fazer um sumário das maneiras pelas quais as pesquisas têm contribuído, ou poderiam contribuir, futuramente, para o entendimento da saúde e do cuidado com a saúde.

No campo da saúde, as pesquisas podem auxiliar na identificação ou descrição e na medida ou análise de assuntos diversos como:

– saúde e doença

– a natureza da doença

– necessidades para tipos diferentes de cuidado

– fatores associados ao uso de serviços

– os efeitos do cuidado

– a aceitação do cuidado

– a organização do cuidado.

Nessa revisão, esses tópicos são examinados.

Nos capítulos iniciais, os métodos são discutidos em detalhes e nos capítulos seguintes são descritos somente os métodos inovadores ou não usuais, ou então aspectos metodológicos ainda não considerados. Foram incluídas, especialmente, as pesquisas que procuram inovar tanto no assunto quanto nos métodos.

A autora examina, inicialmente, medidas gerais de saúde e doença, que possibilitam comparações no tempo e que avaliam o efeito de mudanças nos serviços, ou nas circunstâncias e que podem estar associadas à prevalência da doença-saúde. Tais medidas permitem comparar, também, as necessidades de diferentes áreas geográficas ou de pessoas em grupos sociais diversos. Elas contribuem efetivamente para o planejamento de serviços e para a alocação apropriada de recursos.

A seguir é examinada uma série de estudos que visam identificar um fator relacionado à doença. Também é feita uma revisão das pesquisas que procuram identificar a síndrome de uma doença. São examinados ainda, os estudos que se baseiam em registros de nascimentos e esclarecem a história natural da doença, sua prevalência e sua distribuição.

O capítulo seguinte trata das pesquisas sobre as necessidades de determinados grupos, como por exemplo: os deficientes e os incapacitados, os doentes terminais, etc.

A seguir são examinadas pesquisas que avaliam o uso dos serviços e que respondem às perguntas: Os serviços atendem à necessidade? Por que pessoas que necessitam não usam os serviços? Quem usa os serviços e por que?

Os efeitos e os efeitos colaterais do cuidado médico constituem o capítulo seguinte da revisão. As pesquisas sobre esse assunto seguem três caminhos específicos:

1. estudos comparativos de diferentes tipos de cuidados;

2. comparações entre indivíduos aos quais é dispensada uma forma específica de cuidado e aqueles que não recebem nenhum cuidado;

3. estudos do seguimiento de pacientes que tem sido cuidados de maneiras específicas.

A receptividade dos serviços constitui o tema de outro capítulo. Os conceitos que envolvem a receptividade dos serviços incluem desde a concordância – modo pelo qual o paciente sente o tratamento prescrito pelo médico – até a satisfação com os serviços existentes e, mais ainda, a consideração de até que ponto os serviços são planejados de um modo que leva em consideração a experiência e as preferências do paciente. Também é considerada a suscetibilidade: geográfica, temporal, social e psicológica.

O capítulo oitavo, trata da organização do serviço de saúde. As pesquisas sobre esse tópico concentram-se, especialmente, em três categorias:

– pesquisas internacionais comparativas que consideram a maneira pela qual os sistemas organizacionais funcionam na prática;

– pesquisas relacionadas com a variação no cuidado à saúde e com os fatores organizacionais associados a essas variações;

– pesquisas sob a perspectiva de profissionais de saúde, abordando suas experiências e pontos de vista.

No penúltimo capítulo, a autora discute os vários esquemas metodológicos e os exemplifica a partir dos estudos vistos anteriormente.

A questão ética constitui o último tópico abordado pelo livro. Para a autora, em uma pesquisa há seis itens que envolvem considerações éticas:

– a decisão de realizar a pesquisa;

– a amostragem;

– a coleta de dados;

– o conteúdo do questionário;

– o processamento dos dados;

– a apresentação dos resultados.

Cada um desses seis itens é analisado, pela autora, sob o prisma ético.

Consideramos ser obra de consulta recomendada a pessoas que iniciam atividades de pesquisa em saúde, pelo fato de fazer referência a métodos e técnicas de pesquisa usuais, testadas e comentadas, aplicadas em mais de 50 estudos realizados. Salientamos o fato de serem abordados criticamente série de questões metodológicas que refletem preocupações teóricas e práticas de modo evolutivo.

Evelin Naked de Castro Sá

Departamento de Prática de Saúde Pública - FSP/USP

Introdução às ciências sociais, organizado por Nelson Carvalho Marcellino. 2.° ed. Campinas, Papirus, 1988. 130 p.

Nelson C. Marcellino organizou o presente livro com o objetivo de servir como "base para o encaminhamento de discussões, em sala de aula, e referencial para a busca de posteriores aprofundamentos em bibliografias específicas".

O livro engloba 15 estudos escritos por diferentes autores e tem apresentação do próprio organizador. Nesta, é enfatizado que os autores escrevem para estudantes, produzindo escritos curtos e em torno de 9 a 12 páginas, ligados à realidade brasileira, porém, numa perspectiva histórica e visando a uma iniciação ao assunto de cada tópico. Pelos títulos dos tópicos é possível ter idéia da rica heterogeneidade da coleção: "Ciência, coisa boa...", "As ciências sociais e o processo histórico", "Sociologia e sociedade", "A antropologia social", "Política e cotidiano: as mil e uma faces do poder", "Economia política", "O direito e as normas sociais", "Psicologia social e o comportamento social", "A história como ciência humana", "A geografia humana e o espaço social", "Metodologia das ciências sociais", "Departamentalização e unidade das ciências sociais", "O Brasil e a sociedade de classes", "Subdesenvolvimento e cultura" e "A automação e as ciências humanas".

Alguns dos artigos são bem simples – quase introdutórios mesmo, e aparecem inclusive posições contraditórias entre os autores. Isso, é claro, pode ser explorado didaticamente, desde que o docente possa ter suficiente isenção científica...

O artigo sobre metodologia começa bem, explicando o que vem a ser método, mas, logo após, passa a analisar outros aspectos, o que seria ótimo se houvesse mais espaço. Assim, a meu ver, fica diminuído o espaço próprio para estender mais o conhecimento introdutório à metodologia.

O capítulo sobre "Ciência – coisa boa..." é um primor!

As bibliografias citadas no fim de cada trabalho, auxiliam bastante o aprofundamento dos temas.

Glacilda Telles de Menezes Stewien

Departamento de Prática de Saúde Pública - FSP/USP

Organization of school health programs, by Kerry J. Redican et al. New York, Macmillan Publ., 1986. 500 p.

Este livro descreve os fundamentos para implantação de um programa de Educação em Saúde na Escola. Detalha as dimensões do programa quanto ao ambiente, ensino e serviços. Em relação à dimensão ambiente inclui desde a planta física, iluminação, ventilação e cantina até o clima emocional da escola. A dimensão serviços de saúde enfatiza a observação do aluno pelo professor, controle de doenças transmissíveis, segurança e cuidados de emergência e crianças negligenciadas. Na dimensão ensino os temas abordados são padrões instrucionais em saúde, planejamento de currículo e tipo de currículos em saúde. Define as funções da equipe de saúde escolar enfatizando o papel do professor, do diretor, dos pais e da comunidade através de seus representantes. Introduz no programa a dimensão vocação como condição para o estudo do indivíduo como ser total. Apresenta também formas e critérios de avaliação de recursos audiovisuais.

Trata-se de um valioso instrumento de referência para orientar os profissionais que trabalham no campo da educação em saúde na escola.

Oswaldo Paulo Forattini

Departamento de Epidemiologia - FSP/USP

Outline of genetic epidemiology, by Newton E. Morton. Basel, S. Karger, 1982. 247 p.

Os conhecimentos de genética têm-se revestido do aspecto de fatores cada vez mais importantes nos estudos epidemiológicos sobre as características das pessoas. Nesse sentido, estão se revelando, cada vez mais, altamente interessantes e úteis. Este é um livro que, procurando afastar os espantalhos da matemática, apresenta visão geral para o estudante de epidemiologia.

A obra é apresentada em 11 capítulos e um apêndice. Aqueles se encontram subordinados a temas de interesse amplo, incluindo a parte inicial em que se expõem os conceitos fundamentais da genética. Sugerem-se tópicos, dedicados ao "pedigree", à associação, à estrutura populacional, à freqüência, aptidão e mutação, à citogenética, e aos riscos genéticos e vigilância. No apêndice supracitado estão incluídas noções sobre metodologia estatística.

O livro dá ênfase às feições relacionadas com as doenças, focalizando-as sob os pontos de vista da etologia e da antropometria. Os assuntos são apresentados em linguagem simples e, sem dúvida, alcançam o objetivo colimado que é, como o autor expressa, o de explanar teorias simples, competindo com realidades complexas e, muitas vezes, levando a melhor.

Evelin Naked de Castro Sá

Departamento de Prática de Saúde Pública - FSP/USP

Psychiatric services for underserved rural populations, edited by L. Ralph Jones and Richard R. Parlour. New York, Brunner/Mazel Publ., 1985. 303 p.

Todos os capítulos do presente livro têm utilidade didática e para os serviços de saúde, seja para ilustrar os problemas de saúde mental sob enfoque das Ciências Sociais, complementar às políticas de desospitalização, ou atendimento a grupos específicos de pacientes, seja para aspectos organizativos e de administração de serviços de saúde mental e rurais.

O livro engloba 19 artigos escritos por vários autores, editados pelos professores H. Ralph Jones e Richard R. Parlour, os quais também colaboram em alguns trabalhos. Os artigos estão reunidos segundo assunto em cinco partes: aspectos conceituais; considerações profissionais; medidas forenses (legais); intervenções em crises e populações especiais (grupos de população).

Na primeira parte, a abertura é feita por um trabalho muito interessante – Uma perspectiva sociológica –, seguido por outro envolvendo também considerações próprias das Ciências Sociais, mais especificamente, antropológicas, e denominado "Crenças e Práticas de 'Folk'". A seguir, dois outros trabalhos são apresentados com princípios gerais desejáveis para os serviços de prevenção e tratamento psiquiátricos.

A segunda parte – Considerações Profissionais – aborda a administração de um centro de saúde mental rural, a ligação entre a saúde e a saúde mental, o papel do clínico geral rural na Psiquiatria, o técnico em serviço social no consultório do médico de família e o papel da enfermagem.

A terceira parte – Aspectos Forenses (legais) – traz dois artigos sobre a psiquiatria forense rural e os profissionais de saúde mental frente à justiça rural.

A quarta parte reúne 5 trabalhos relativos à intervenção psicofarmacológica para o médico de assistência primária, serviços psiquiátricos de emergência, reconhecimento e manejo da violência, desordens mentais orgânicas e administração em situações de desastre.

Finalmente, a quinta parte – populações especiais –, traz artigos sobre crianças, retardados mentais e os doentes mentais crônicos. Este último artigo retoma alguns aspectos presentes em outros, porque são obrigatórios no planejamento de qualquer serviço, tais como programas comunitários rurais de apoio; tratamento dos doentes mentais crônicos em locais rurais de assistência primária, diagnósticos gerais e diferenciais, atendimento das emergências, atendimento medicamentoso, planejamento de adaptação funcional e reabilitação, tratamento individual e com a família dos pacientes. Contém também uma abordagem muito importante sobre a exaustão e o stress dos profissionais que cuidam dos doentes mentais crônicos.

O grupamento interno dos artigos no livro é um pouco restrito, pois se o leitor for levado à consulta pelo título da parte, pode deixar de apreciar os conteúdos similares e ou complementares de outros trabalhos que se acham sob rótulo de outra parte. O caso, já comentado, do artigo sobre os doentes mentais crônicos, se repete em outros trabalhos como, por exemplo, os que tratam do centro comunitário de saúde mental, enfermagem, etc.

Esses pequenos senões podem ser contornados com o auxílio do índice remissivo por assuntos.

Todos os artigos trazem referências bibliográficas específicas para os respectivos assuntos.

O livro por estar escrito em inglês, representa uma limitação para a consulta dos alunos do Curso de Especialização em Saúde Pública onde nem todos têm capacidade de ler esse idioma. Assim, cabe aos docentes num esforço adicional de tradução de capítulos que sejam de utilidade didática para suas áreas.

A utilização de capítulos deste livro cabe também às administrações municipais, que ora assumem mais e mais os serviços locais de saúde. Para tanto, os responsáveis pela área de saúde municipais deveriam poder ter acesso à obra.

Antonio Carlos Rossin

Departamento de Saúde Ambiental - FSP/USP

Small community water supplies: techonology of small water supply systems in developing countries, edited by E.H. Hofkes et al. Enlarged ed. The Hague, International Reference Centre for Community Water Supply; Chichester, John Wiley & Sons, 1983, 442 p.

Trata-se de um manual produzido por reconhecidos professores de Engenharia Sanitária, ou sejam: Prof. J.M. de Azevedo Netto (Brasil), Prof. L. Huisman (Holanda), Dr. B.B. Suindaresan (Índia) e Dr. J.N. Lanoix (OMS -Genebra) e editado pelo Sr. E.H. Hopkes (IRC, Holanda). Está dividido em 19 capítulos onde são tratados de uma maneira simples e didática os principais aspectos da Engenharia Sanitária relacionados com o abastecimento de água para pequenas comunidades. Este manual fornece informações e serve de guia àqueles que têm alguns conhecimentos técnicos em Engenharia Civil, Saúde Pública ou Irrigações, não sendo necessário nenhum treinamento prévio ou experiência em abastecimento de água. Também é indicado para engenheiros ou inspetores em Saúde Pública responsáveis pelo projeto ou pela manutenção de pequenos sistemas de abastecimento de água. Apesar de sua simplicidade, quando se trata de aspectos teóricos, este livro apresenta no fim de cada capítulo uma lista de referências bibliográficas onde os assuntos são tratados com maior profundidade. O editor solicita os comentários dos leitores no sentido de melhorar as próximas edições deste manual. Os assuntos todos são: Planejamento e Gerenciamento, Qualidade e Quantidade de Água, Fontes de Água de Chuvas, Fontes, Água Subterrânea, Captação de Água Superficial, Recarga Artificial de Aquífero, Bombeamento, Tratamento de Água, Aeração, Coagulação e Floculação, Sedimentação, Filtração Lenta, Filtração Rápida, Desinfecção, Recalque e Distribuição de Água.

Oswaldo Paulo Forattini

Departamento de Epidemiologia - FSP/USP

Sociobiology and the human dimension, by Georg Breuer. Cambridge, Cambridge University Press, 1982. 286 p.

Sociobiologia constitui ainda tema de intermináveis polêmicas, desde seu lançamento como ciência por Wilson em 1975. Talvez isso se deva, como diz Midgley no prefácio deste livro, à surpreendente circunstância de ser difícil discutir a evolução humana serenamente e sem rancor. O autor tenta colocar o assunto além das controvérsias, expondo a teoria de maneira simples e atraente, para o público não especialista. Procurando dar às críticas de ordem moral, política e psicológica suas justas medidas, o livro reduz a termo os conceitos sociobiológicos de que, a fatores hereditários se poderia atribuir o significado do comportamento humano.

O livro compreende, essencialmente, quatro partes. Na primeira procura lançar questões sobre a evolução desse comportamento, em termos de evolução social. Na segunda, tenta verificar a possibilidade de extrapolar para o homem o que se observa nos animais. A terceira trata do comportamento sexual, e a quarta, dedica-se a responder à questão da sociobiologia, se é ou não uma ciência reacionária. Na verdade, a possibilidade de total isenção genética na causalidade do comportamento do homem é difícil de argumentar. Nesse caso, a vida humana somente poderia ser objeto de estudo pelas ciências sociais. Todavia as evidências parecem apontar para algum meio-termo, como as apontadas por Lorenz e outros, montando certo paralelismo entre os comportamentos humano e animal. De qualquer maneira, a questão continua em aberto, propiciando freqüentes posições radicais. O livro é de leitura agradável e, qualquer que seja a posição do leitor, certamente agradará.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Nov 2004
  • Data do Fascículo
    Ago 1989
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