Open-access O primeiro Curso Aberto, On-line e Massivo (Mooc) sobre Covid-19 e iniquidades no Brasil: potências da saúde coletiva no enfrentamento da infodemia e das fake news

The first Massive Open Online Course (Mooc) on Covid-19 and iniquities in Brazil: potential contribution of collective health against infodemia and fake news

RESUMO

A pandemia do novo coronavírus emergiu em momento de avanço do neoliberalismo, com o agravamento das desigualdades sociais, os poucos investimentos para a ciência, a expansão do negacionismo científico e a intensa produção de informações falsas (fake news). Os Cursos On-line Abertos e Massivos (Mooc) têm sido utilizados como estratégia para a difusão científica e o enfrentamento da infodemia, pois ampliam o acesso à informação e atingem um maior público. O objetivo do artigo foi apresentar a idealização, a concepção e o desenvolvimento do primeiro Mooc no campo da saúde coletiva sobre a Covid- 19 e iniquidades em saúde. Trata-se de um estudo descritivo sobre a ferramenta de ensino a distância. Durante os 12 meses de oferta, foram registradas 5.721 inscrições e 3.433 cursistas concluintes, com uma taxa de conclusão de 60%. O Mooc atuou de modo exitoso em um front de batalha de desentendimento, da infodemia e do embaralhamento de mentiras. Além disso, consolidou uma avaliação positiva de insti- tuições, que passam por grave crise de confiança. Destaca-se a propriedade de difusão científica massiva e combate às fake news sobre a Covid-19 do primeiro curso Mooc do gênero no País.

PALAVRAS-CHAVE
Covid-19; Iniquidade em saúde; Educação à distância; E-learning; Saúde pública

ABSTRACT

The new Coronavirus pandemic emerged at a time when neoliberalism was advancing, with the worsening of social inequalities, the few investments for science, an expansion of scientific negativism, and an intense production of fake news. The Massive Open Online Courses (Mooc) have been used as a strategy for scientific dissemination and facing infodemia, as they expand access to information and reach a larger audience. The objective of the article is to present the conception and the development of the first Mooc in Brazil discussing Covid-19 and health inequities. During the first twelve months the course had 5,721 enroll- ments and 3,433 graduating students. The completion rate was 60%. Based on the results it is believed that this Mooc acted successfully in the battle front of infodemia, wrong news and fake news. It highlights the property of this Mooc in the approach of knowledge diffusion about Covid-19 and consolidates as the first of its kind in the country.

KEYWORDS
Covid-19; Health status disparities; Education; distance; E-learning; Public health

Introdução

A pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) emergiu em momento de agravamento das desigualdades sociais, aumento do conhecimento e expansão do negacionismo científico1. O início da pandemia acompanhou um dos momentos de parcos investimentos para a ciência no País, em um panorama do avanço do neoliberalismo, do obscurantismo, com desprezo à produção científica, - em especial, a desqualificação e o alijamento das ciências sociais e humanas, intensa produção de informações falsas (fake news) e erradas (wrong news), além das constantes intimidações promovidas a pesquisadores(as) e a instituições de pesquisa2-4.

Em nota publicada pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), em 22 de abril de 2020, foi evidenciado o papel das ciências sociais e humanas no necessário e imprescindível diálogo interdisciplinar em um esforço de examinar o conjunto de situações sociais (históricas e atuais) e suas dinâmicas. Considerou-se que a exclusão traria graves consequências para a adequada compreensão da pandemia, levando a análises parciais, incompletas, e até mesmo inadequadas, e que fomentariam o Estado a formular ações e políticas que não fossem capazes de atenuar ou mesmo combater o avanço e a disseminação da pandemia e de suas consequências na sociedade5.

A saúde coletiva foi prontamente convocada a dar respostas sobre a Covid-19 e a interagir no complexo curso da desinformação e da necropolítica6-9. A articulação de aspectos das ciências sociais, da epidemiologia e das políticas e planejamento em saúde, potências unívocas do campo, tornou-se ainda mais urgente para o enfrentamento desse cenário.

No primeiro semestre de 2020, o editorial da revista ‘Saúde em Debate’, intitulado ‘Na pandemia da Covid-19, o Brasil enxerga o SUS’10, demonstra que o legado da Reforma Sanitária é indispensável para a intervenção e a superação desse momento. Os saberes acumulados da saúde coletiva, além disso, reiteram, pandemia, a necessidade de conhecimentos translacionais, articulados com as especificidades históricas, políticas e econômicas do País, sobretudo considerando as vulnerabilidades oriundas dos marcadores de gênero, classe e raça/etnia11-13.

Para conter a disseminação do vírus, foi preciso adotar uma série de medidas não farmacológicas e com comprovação científica para enfrentar o colapso do Sistema Único de Saúde (SUS), como o distanciamento social, a redução das atividades comerciais não essenciais, a restrição de circulação de pessoas e o fechamento de escolas e universidades14,15. Além disso, recomendações preventivas comprovadamente eficazes, como o uso de máscaras faciais e da higienização das mãos com álcool em gel, passaram a fazer parte do cotidiano16,17.

Contudo, a desinformação amplificou-se no curso da pandemia no Brasil, particularmente, alimentada por uma lacuna de comunicação oficial do governo federal, o consumo e a propagação de notícias falaciosas e o descrédito nas ciências18. A articulação com o conceito de infodemia, em referência ao volume demasiado de informações, rumores e desinformação que se propagam pelas redes sociais e diferentes mídias, tornou-se indispensável19-21. Da mesma forma, fez-se urgente produzir significantes, dado o sequestro da terminologia científica na disputa de narrativas que geram tomadas de decisão, em uma disputa retórica sobre anticiência, fake ciência, pseudociência, ciência22.

Como apontado por Caetano et al.23(235)

[...] foi necessário trabalhar simultaneamente nas formas de circulação do conhecimento, no diálogo com a sociedade, bem como nas estratégias para fortalecer o reconhecimento social das ciências, sobretudo, perante a outra disseminação que a saúde pública viveu na pandemia: a distribuição massiva de notícias falsas.

Nesse aspecto, os Cursos On-line Abertos e Massivos (Massive Open Online Courses - Mooc - https://lumina.ufrgs.br/course/view.php?id=105) têm sido utilizados como estratégia potente para a comunicação, a difusão científica e o combate à infodemia na saúde coletiva24. Os Mooc ampliam o acesso à informação de modo autônomo, permitindo que a educação em saúde atinja um público maior e mais variado25. Por meio do pensamento crítico, eles produzem sentidos na coletividade em prol de uma sociedade mais justa, equânime, solidária, bem como atendem à urgência de dialogar com a sociedade sobre ciência e saúde, não apenas para tirar as dúvidas e esclarecê-la, mas para engajá-la como corresponsável pelas ações de enfrentamento da pandemia.

Dessa forma, o objetivo do artigo é apresentar a idealização, a concepção e o desenvolvimento do primeiro Mooc no campo da saúde coletiva sobre a pandemia da Covid-19 e iniquidades em saúde.

Material e métodos

Trata-se de um estudo descritivo sobre a ferramenta de ensino a distância. O Mooc teve sua concepção, seu desenvolvimento e sua coordenação realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Departamento de Saúde Coletiva, com suporte da Secretaria de Educação a Distância (Sead/UFRGS) e do Napead, com participação de cientistas da Abrasco, de universidades públicas e entidades científicas brasileiras, no período de fevereiro a março de 2020.

A oferta educacional foi intitulada ‘Coronavírus e Iniquidades em saúde: saúde coletiva e pensamento crítico em tempos de pandemia’. Em seu texto de apresentação (quadro 1) o curso traz de forma contundente os objetivos e a justificativa de tal formação.

Quadro 1
Objetivos e justificativas apresentados no texto de apresentação do Mooc Coronavírus e Iniquidades em saúde

O curso teve carga horária de 30 horas, nível de ensino considerado intermediário e acesso aberto e gratuito a público de todas as faixas etárias; e foi organizado em três módulos, como demonstra o quadro 2.

Quadro 2
Conteúdo dos módulos do Mooc Coronavírus e Iniquidades em saúde

A composição, a partir desses três módulos temáticos, seguiu a organização conforme descrito no quadro 3.

Quadro 3
Conteúdo programático do Mooc Coronavírus e Iniquidades em saúde

A produção contou com dois processos distintos com vistas a atender ao objetivo de evitar a infodemia e, também, de promover a acessibilidade de recursos didáticos. O primeiro módulo, sobre o coronavírus e o papel da ciência crítica, em conjunto com o último módulo, com uma perspectiva sobre as respostas públicas à pandemia, tiveram seus conteúdos organizados pelo(a) idealizador(a) do Mooc. Para contribuir com a difusão científica, optou-se pelo formato prioritário de podcasts inéditos e produzidos a partir de um roteiro de gravação. Esses módulos também contaram com a curadoria de artigos científicos, materiais audiovisuais como aulas e palestras de direitos autorais livres.

O módulo intermediário, ‘Coronavírus e produção científica crítica ante a pandemia da Covid-19’, teve seu desenvolvimento a partir de conteúdos selecionados por pesquisadores(as) do campo da saúde coletiva. Os(as) convidados(as) atuaram ativamente na curadoria de textos e outros materiais.

O lançamento do curso Mooc ocorreu em março de 2020. Para o início do acesso, era necessário o preenchimento de um cadastro com perfil socioeconômico e do instrumento de pré-teste. Esse passo era obrigatório para a visualização dos conteúdos. Ao final do curso, para obtenção do certificado, fez-se a aplicação de um pós-teste. Os instrumentos foram concebidos pelo(a) idealizador(a) e eram compostos por perguntas e pela escala Likert de cinco pontos para as respostas, além da opção ‘não sei’. Adicionalmente, foi aberto um fórum para postagens de cunho qualitativo e livre expressão de cursistas. Os resultados estão contextualizados à avaliação do curso e atendem aos princípios éticos de pesquisa.

Resultados e discussão

Como parte de ações iniciais e prioritárias para o enfrentamento da pandemia da Covid-19, a Organização Mundial da Saúde (OMS) organizou, em 13 diferentes idiomas, o primeiro Mooc sobre o tema26. Na ocasião de seu lançamento, em março de 2020, mais de 230 mil inscrições foram realizadas. A análise dos dados destacou a propriedade de alcance do Mooc para grupos variados, promovendo um amplo acesso ao conhecimento além de taxa de conclusão entre 38% e 50%, considerada elevada para cursos dessa natureza27.

A Plataforma Lumina da UFRGS tem um dos maiores e mais vastos catálogos de Mooc no País, que são certificados e ofertados de modo gratuito. Foi identificada uma lacuna de curso propenso ao debate acerca da Covid-19, a condição de iniquidade e o negacionismo científico. Nesse sentido, a produção, a divulgação científica e o combate às fakes news, a partir de ferramentas de ensino-aprendizagem adaptadas ao contexto pandêmico, passaram a ser convocatórias ainda mais urgentes para a saúde coletiva.

Durante os 12 meses de oferta, foram registradas 5.721 inscrições e 3.433 cursistas que finalizaram a formação, com uma taxa de conclusão de 60%. A elevada relação entre ingressantes e concluintes demonstrou o bom êxito do Mooc como estratégia de comunicação científica bem como uma resposta efetiva de interesse do público.

A literatura tem registrado que, a despeito de um comportamento de consideráveis inscrições iniciais, a manutenção da interação com os conteúdos e a retenção no Mooc passam a ser desafios, motivos pelos quais as taxas médias de conclusão oscilam entre 10% e 20%28-30. Ainda que a taxa de conclusão de Mooc sobre outros temas da saúde coletiva ofertados na Plataforma Lumina da UFRGS superem a taxa de 20%, o curso ‘Coronavírus e Iniquidades em saúde’ apresentou resultados semelhantes aos encontrados pela OMS.

A tabela 1 aponta a caracterização dos(as) participantes do Mooc no período. As pessoas se autodeclaram como 75,21% do sexo feminino e 24,67% do sexo masculino. No que tange à identidade de gênero, 53,94% são mulher cis; 18,63%, homens trans; 0,33%, mulheres trans e travestis; 0,16%, homens trans; 1,56%, pessoas não binárias; e 25,38% preferiram não se autodeclarar. A raça/cor branca perfez 57,30% de participantes; a negra (pretos e pardos), 41,08%; a amarela, 1,36%; e a indígena, 0,26%. Predominam pessoas da zona urbana (92,52%), faixa etária até 34 anos de idade (total de 72,33%) e com a escolaridade até o ensino superior incompleto (total de 62,84%). A região Sudeste concentrou 33,82% de cursistas; a Sul, 31,88%; a Nordeste, 20,77%; a Centro-Oeste, 9,11%; e a Norte, 4,42%.

Tabela 1
Caracterização dos(as) participantes do Mooc Coronavírus e Iniquidades em saúde de março de 2020 a março de 2021

Compreender o perfil apresentado pela procura a esse curso - mulher, branca, cis-heteronormativa, urbana, jovem, estudante de nível superior, das regiões mais desenvolvidas do País - ainda permanece em aberto, mas permite levantar algumas questões sobre suas motivações e até mesmo sobre as limitações dessa formação em atingir esse perfil: Seria esse um perfil associado a uma maior sensibilidade ao tema e a sua abordagem? Estaria esse perfil atrelado às profissões da área da saúde, e, portanto, afeitas ao cuidado e à atenção em saúde? O que faz com que esse perfil se identifique mais com esse processo formativo: Autonomia? Disciplina? Privilégio? (são as mais privilegiadas socialmente e, por isso, são as que mais têm acesso a esse tipo de formação?); por outro lado, é possível também levantar outras questões, em outros termos: Quais as potencialidades em atingir esse público? Qual seu papel transformador na sociedade, já que as informações buscadas nesse curso permitem compreender melhor a sociedade e suas iniquidades em saúde?; também o interesse demonstrado por um percentual expressivo de mulheres negras nos levanta questões sobre a busca de um conhecimento engajado e implicado com a luta por uma sociedade mais equânime.

O motivo de interesse da maioria dos(as) cursistas foi a importância para os estudos (55,34%), seguido pela importância para o trabalho (30,26%) e curiosidade geral (14,40%). Isso indica que a maior parte da procura ocorreu para o atendimento de uma demanda ou finalidade mais específica. Com relação à chegada até o curso, verificou-se que a indicação de pessoa a pessoa foi a principal (40,92%), seguida dos que souberam pelo site do Napead/UFRGS (22,77%), por meio de pesquisas na internet (21,05%) e pelas redes sociais (15,26%).

Na tabela 2, apresentam-se as respostas do pré-teste e pós-teste de 3.433 concluintes. A análise estatística demonstrou significância entre as diferenças do pré e pós-teste, exceto da primeira questão. Destarte, cabe destacar que o prejuízo da falta de conhecimento e as fakes news foram considerados como muito importante para 67,2% dos(as) cursistas no início do percurso formativo e subiu para 73,8% na sua conclusão.

Tabela 2
Análise de cursistas em questões elaboradas no pré e pós-teste com uso da escala Likert para preenchimento

Neste momento histórico, em que há uma grande disponibilidade de conteúdo, as informações falsas circulam ainda mais rapidamente. Há, atualmente, primazia para a desinformação, uma ameaça para a saúde pública31. O impacto causado é grave, a exemplo dos discursos e grupos antivacina32-35. Não bastassem serem muito atuantes os grupos em redes sociais mal-intencionados e que recebem financiamento, a insuficiência de divulgação baseada no conhecimento científico por parte do governo federal também tem contribuído para esse cenário. Durante o período de oferta do curso, informações sem comprovação científica receberam respaldo e foram divulgadas pelo próprio Ministério da Saúde, como o uso do ‘kit para tratamento preventivo’.

A partir dos resultados da tabela 2, acredita-se que o Mooc atuou de modo exitoso em um front de batalha de desentendimento, da infodemia e do embaralhamento de mentiras. Além disso, consolidou uma avaliação positiva de instituições, que também passam por grave crise de confiança neste momento da pós-verdade36. Nas perguntas direcionadas sobre o papel da universidade na produção do conhecimento científico, o papel da universidade na organização do ensino a distância e o papel do SUS durante a pandemia, as alternativas foram consideradas muito importantes pela maioria de cursistas, com porcentagem em aclive ao final da formação. Em momento de descrédito, a atual proposta de curso Mooc demonstrou a urgência e o reconhecimento da relevância do campo da saúde coletiva, afinal, 82,8% avaliaram como muito importante.

A difusão científica e o consumo de conteúdos no curso foram potentes motores para uma mudança de percepção sobre si e atuação na pandemia: por um lado, diminuiu de modo consistente a porcentagem de cursistas que, no início, consideraram seu papel na sociedade como nada importante, pouco importante ou indiferente/neutro; por outro, aumentou de 57% para 72,7% a avaliação como muito importante no momento da conclusão.

Ao considerar o contexto do Brasil no Sul global, que convive com as mazelas da colonização e do patriarcado, urge o papel de uma ciência comprometida com a justiça social. A produção na saúde coletiva, durante este período, denunciou e demonstrou os impactos na condição da Covid-19 a partir do racismo estrutural, das desigualdades, da xenofobia e da discriminação por classe, gênero e orientação sexual37-42.

As pesquisas denúncias no País enfrentam um período, com o atual governo, de hostilidade e de intimidações para cientistas43. Todavia, apoiado pela universidade pública, não se recuou nesse Mooc em enfatizar a discussão bem-sucedida das iniquidades e a pandemia.

O conjunto de materiais do curso e os resultados da tabela 2 são uma pujante demonstração do quanto a pandemia passa a ser mais bem abordada na articulação de construtos das ciências sociais e humanas, da leitura de dados e indicadores apontados a partir da epidemiologia, além de competentes práticas de políticas e planejamento em saúde44. Tão complexo quanto a Covid-19 em si, é preciso compreender e enfrentar a ignorância nesse fenômeno45.

Em lacunas de canais oficiais e seguros de conteúdo científico, os indivíduos tornam-se experts de si mesmo, produzindo, propagando e amplificando o alcance das fake news. Contudo, à luz da compreensão que o conhecimento pode levar ao autoconhecimento46, os resultados da tabela 3 trazem perspectivas possíveis de esperançar. Ao final do processo de aprendizagem, as porcentagens para muito ou excelente conhecimento, somadas, foram de, aproximadamente, 80% para as questões sobre a produção científica, o SUS e os conceitos de equidade e iniquidade em saúde.

Tabela 3
Análise de cursistas sobre autoconhecimento no pré e pós-teste com uso da escala Likert para preenchimento

Algumas limitações precisam ser consideradas. Embora o cuidado e a atenção com a acessibilidade e a inclusão tenham guiado a concepção e a execução do curso, há situações a serem superadas. Os mais recentes dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)47 apontam que o índice de pessoas sem acesso à internet é de 20% nas áreas urbanas e de, aproximadamente, 53,5% em áreas rurais. Nesse sentido, o perfil de cursistas ratifica a necessidade de aperfeiçoar a disponibilidade e o envolvimento, principalmente, às pessoas em situações de maiores vulnerabilidades.

A curadoria e produção de materiais, processo fulcral do curso, finda em um processo de seleção que necessita de contínua revisão e atualização, o que exige tempo, haja vista a velocidade da produção científica. Outrossim, é imprescindível uma política de investimento público no ensino a distância aliado ao ensino presencial, no acesso universal à internet e nas tecnologias de ensino remoto, que demonstraram ser indispensáveis durante esta pandemia.

As propriedades dos cursos Mooc de difusão científica massiva e combate às fake news sobre a Covid-19, embora percebidas aqui como inegavelmente potentes, podem não resultar em mudanças de comportamentos e ações concretas no cotidiano, o que reitera a necessidade de ampliar a rede de saberes e conhecimentos implicados da saúde coletiva. O fórum interativo de comunicação do curso, no qual cursistas puderam expressar a sua opinião de modo aberto e público, entretanto, desde a sua oferta, tem trazido ânimo e reiterado a aposta na ciência sensível. O espaço acumula centenas de mensagens, de todo o País, com menção à satisfação da experiência, à ampliação dos pontos de vista, à inovação e à possibilidade de novas ou refeitas compreensões sobre a pandemia.

Considerações finais

O percurso do Mooc sobre Covid-19 e iniquidades em saúde demonstrou potências no papel da comunicação e divulgação científica com trocas de informações e conhecimentos como respostas à sociedade sobre a complexidade da pandemia. Por um lado, se não foi possível dimensionar o alcance nas mudanças de comportamento e na ressignificação do cotidiano a partir dos conteúdos propostos, por outro, pôde-se evidenciar que, para uma situação complexa, precisamos ter respostas complexas. A relevância do curso no processo de ensino e aprendizagem a distância foi comprovada pela alta adesão de cursistas no período, a elevada taxa de conclusão e resultados avaliativos oriundos de questões-chave na pandemia.

A experiência brasileira reforça a relevância de cursos on-line massivos e abertos. Por meio do pensamento crítico, eles produzem sentidos na coletividade em prol de uma sociedade mais justa, equânime, solidária, assim como atendem à urgência de dialogar com a sociedade sobre ciência e saúde, não apenas para tirar as dúvidas e esclarecê-la, mas para engajá-la como corresponsável pelas ações de enfrentamento da pandemia. Outrossim, o Mooc foi ferramenta para o enfrentamento da infodemia e das fake news, apoiando e promovendo a produção científica no campo da saúde coletiva.

  • Suporte financeiro: não houve

Referências

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Abr 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    13 Abr 2021
  • Aceito
    25 Jan 2022
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