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Afetividade pessoa-ambiente nas hortas comunitárias: promoção da saúde e da sustentabilidade

People-environmental affectiveness in community gardens: health and sustainability promotion

RESUMO

As hortas comunitárias inspiradas em modelos agroecológicos já são tendências nas cidades que buscam estimular ambientes positivos. Entre as possíveis estratégias, permitem integrar políticas que visam à erradicação da fome, a garantia de qualidade alimentar e o aumento da economia familiar. O presente estudo objetiva analisar os significados simbólicos e afetivos dos usuários diante de suas atividades nas hortas comunitárias urbanas. Foram 40 entrevistados com idade média entre 45 e 80 anos, por meio do Instrumento Gerador de Mapas Afetivos. A pesquisa foi realizada in loco e os participantes foram convidados a desenhar a horta e responder à entrevista. As imagens produzidas foram analisadas a partir de suas estruturas, sentimentos e sentidos. Constatou-se que as vivências nesses ambientes foram mediadas por sentimentos de agradabilidade, pertencimento e restauração. Entre os sentidos atribuídos, destacaram-se a conexão com a natureza e a interação social. Conclui-se que tais dimensões presentes nas hortas estudadas podem contribuir para a promoção da saúde, da sustentabilidade e a preservação ambiental.

PALAVRAS-CHAVES
Agroecologia; Promoção da saúde; Psicologia ambiental; Saúde ambiental; Agricultura urbana

ABSTRACT

Community gardens inspired by agroecological models are trends in cities that seek to stimulate positive environments. Among the possible strategies, they allow us to integrate policies that aim to eradicate eradicate hunger, guarantee food quality and increase the family economy. This study aims to analyze the symbolic and emotional meanings of users during their activities in urban community gardens. There were 40 interviewees with average age between 45 and 80 years old, through the Affective Map Generator Instrument. The research was carried out on site and the participants were invited to develop the information and respond to the interview. The images produced are analyzed from their structures, feelings and senses. It is confirmed that experiences in these environments are mediated by feelings of pleasantness, belonging and restoration. Among the senses attributed, the connection with nature and social interaction stand out. It is concluded that these dimensions present in the studied gardens can contribute to the promotion of health, sustainability and environmental preservation.

KEYWORDS
Agroecology; Health promotion; Environmental psychology; Environmental health; Urban agriculture

Introdução

As práticas agrícolas ecológicas urbanas são tendências nas cidades que buscam estimular territórios saudáveis e sustentáveis, por meio da integração de políticas que visam a erradicação da fome, a garantia de qualidade alimentar, o aumento da economia familiar e a sustentabilidade ambiental11 Nova P, Pinto E, Chaves B, et al. Urban organic community gardening to promote environmental sustainability practices and increase fruit, vegetables and organic food consumption. Gac. San. 2020 [acesso em 2023 set 13]; 34(1):4-9. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.gaceta.2018.09.001.
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. As hortas comunitárias configuram-se propostas comuns em centros urbanos, dentre os vários espaços que podem ser promotores da saúde. Geralmente sua implementação e manutenção são de responsabilidade do poder público, com o apoio técnico e logístico das instituições da sociedade civil e de ensino superior11 Nova P, Pinto E, Chaves B, et al. Urban organic community gardening to promote environmental sustainability practices and increase fruit, vegetables and organic food consumption. Gac. San. 2020 [acesso em 2023 set 13]; 34(1):4-9. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.gaceta.2018.09.001.
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, 22 Estrada Martinez ME, Escobar Salazar DC. Development of family gardens by Guabeños older adults from El Oro province, Ecuador. Coop. Desar. 2020 [acesso em 2023 set 15]; 8(2):349-61. Disponível em: http://scielo.sld.cu/scielo.php?pid=S2310-340X2020000200349&script=sci_arttext&tlng=en.
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Tais espaços, ao serem incrementados nas cidades, beneficiam a regulação climática e a biodiversidade33 Lucena TC, Figueroa MEV, Oliveira JCA. Educação ambiental, sustentabilidade e saúde na criação de uma horta escolar: Melhorando a qualidade de vida e fortalecendo o conhecimento. Rev. bras. educ. saúde. 2015 [acesso em 2023 set 13]; 5(1):1-9. Disponível em: https://www.gvaa.com.br/revista/index.php/REBES/article/view/2756.
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. Entre os métodos de manejo, considera-se qu a prática agroecológica é uma das mais benéficas e sustentáveis, principalmente ao fomentar o ciclo de vida, a conservação do solo, a agrobiodiversidade e a preservação dos recursos naturais. Em níveis estruturais, tendem a integrar as vivências sociogeográficas da cidade e podem garantir a congruência de políticas sistêmicas nos bairros. Como tecnologia social, viabilizam saúde à comunidade e contribuem diretamente na (re)construção de cidades para as pessoas, incentivando os aspectos produtivos, criativos e solidários33 Lucena TC, Figueroa MEV, Oliveira JCA. Educação ambiental, sustentabilidade e saúde na criação de uma horta escolar: Melhorando a qualidade de vida e fortalecendo o conhecimento. Rev. bras. educ. saúde. 2015 [acesso em 2023 set 13]; 5(1):1-9. Disponível em: https://www.gvaa.com.br/revista/index.php/REBES/article/view/2756.
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, 44 Costa CAG, Souza JTA, Pereira DD. Horta escolar: alternativa para promover educação ambiental e desenvolvimento sustentável no Cariri Paraibano. Polêm. 2015 [acesso em 2023 out 17]; 15(3):1-9. Disponível em: https://doi.org/10.12957/polemica.2015.19350.
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É possível destacar três temas principais em estudos sobre hortas comunitárias: (1) o desenvolvimento da educação ambiental; (2) o empoderamento social; e (3) a contracultura55 Quevedo TC, Oliveira AS, Gayeski LM, et al. Produção agroecológica integrada por meio do Projeto Rondon: oficina de horta comunitária, composteira e construção de cisterna. Conhec. Online. 2015 [acesso em 2023 out 22]; 7(2):94-99. Disponível em https://doi.org/10.25112/rco.v2i0.303.
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. O primeiro, por meio da educação ambiental transversalmente presente em disciplinas escolares ou acadêmicas, se propõe a estimular o contato com a natureza, a estimulação de afetos, a preservação ambiental, a alimentação saudável e o aprendizado cognitivo em diferentes disciplinas, com ênfase na vivência, por meio de metodologias ativas e horizontais. O segundo abrange a autonomia econômica das comunidades e a energia criativa no trabalho, e destina-se a impulsionar a liberdade, a coletividade e a emancipação. O terceiro é comumente representado pelas organizações da sociedade civil e movimentos de contracultura. Suas principais atuações envolvem o ativismo ambiental na busca de fortalecer os princípios agroecológicos e/ou da permacultura na agricultura urbana, com o intuito de subverter o modelo econômico vigente por uma nova perspectiva que envolve o avanço político democrático e a responsabilidade socioambiental. Desta forma, as práticas agrícolas urbanas visam fortalecer experiências e romper com paradigmas antropocêntricos hegemonicamente presentes na sociedade11 Nova P, Pinto E, Chaves B, et al. Urban organic community gardening to promote environmental sustainability practices and increase fruit, vegetables and organic food consumption. Gac. San. 2020 [acesso em 2023 set 13]; 34(1):4-9. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.gaceta.2018.09.001.
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, 22 Estrada Martinez ME, Escobar Salazar DC. Development of family gardens by Guabeños older adults from El Oro province, Ecuador. Coop. Desar. 2020 [acesso em 2023 set 15]; 8(2):349-61. Disponível em: http://scielo.sld.cu/scielo.php?pid=S2310-340X2020000200349&script=sci_arttext&tlng=en.
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Nota-se uma lacuna dentre as temáticas estudadas, no que se refere ao campo das transições pessoas-nos-ambientes, e considera-se a psicologia ambiental como um campo que estabelece pessoa e ambiente como sujeitos ativos e que interagem entre si dialeticamente. Dessa maneira, esse campo da psicologia contribui para compreender como o humano percebe, sente e atua no espaço em que está situado66 Higuchi MIG, Kuhnen A, Pato C. Psicologia ambiental em contextos urbanos. Florianópolis: Edições do bosque; 2019..

Na psicologia ambiental, a propriedade do ambiente favorecer a manifestação de afetos foi motivo das primeiras investigações. Entre elas, os estudos de Stephen e Rachel Kaplan77 Kaplan R, Kaplan S. The experience of nature: A psychological perspective. New York: Cambridge University Press; 1989., que buscavam as variáveis com potencial de minimizar os níveis estressores e eliciar sensações prazerosas, o que foi denominado de ambientes restauradores, dada a possibilidade de proporcionar a experiência de restauração psicológica e da atenção.

A vivência afetiva, tanto positiva, quanto negativa, necessariamente envolve respostas e, como resultado, a afetividade é uma variável significativa para condutas de cuidado ambiental88 Corral-Verdugo V. Ambientes positivos: ideando entornos sostenibles para el bienestar humano y la calidad ambiental. Mexico DF: Pearson Educacion; 2014.. Esse atributo foi sistematizado e ilustrado no modelo teórico dos ambientes positivos, no qual se demonstrou a associação entre as experiências afetivas positivas, presentes na percepção de qualidade de vida e bem-estar, com as respostas pró-sociais e pró-ambientais.

O entorno e suas particularidades podem facilitar ou dificultar a manifestação de variáveis que envolvem tais atitudes. Entre elas, é possível destacar o altruísmo, a solidariedade, o respeito, a equidade, a preservação e a restauração ambiental, o suporte social e as normas coletivas. Ambientes positivos fornecem recursos materiais e sociais fundamentais que permitem vivenciar bem-estar físico e mental910 Corral-Verdugo V, Frias-Armenta M, Corral-Frías NS, et al. A Modern Framework of Wellbeing from the Perspective of Positive Environments. In: Kemp AH, Edwards DJ, editores. Broad. Sc. Wellb. Sci. Cham: Palgrave Macmillan; 2022. [acesso em 2023 set 13]. Disponível em https://doi.org/10.1007/978-3-031-18329-4_7.
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Dessa maneira, a clareza dos afetos presentes nas hortas pode viabilizar estratégias que integram fatores de proteção às pessoas e ao entorno, além de estimular a participação cidadã em prol do meio ambiente. O estreitamento entre a percepção e os afetos foi descrito por Kuhnen1010 Kuhnen A. Percepção ambiental. . In: Elali GA, Cavalcante S, editores. Temas Básicos em Psicologia Ambiental. Petrópolis: Vozes; 2011. p. 250-66. ao designar o conceito de percepção ambiental. Descreve que os aspectos da realidade não estão apenas subordinados aos sentidos, mas medeiam vivências e favorecem a construção da subjetividade. Para tanto, volta-se ao tema das representações presentes nestas experiências, assim como o questionamento de como tornar os afetos presentes em um contexto particular passíveis de análise.

Uma das principais estratégias para a síntese cognitiva das relações com o entorno possui base teórica da arquitetura e do urbanismo. As imagens da cidade foram sistematizadas e incorporadas no instrumento dos mapas cognitivos, idealizados pelo urbanista Kevin Lynch1111 Lynch K. A imagem da cidade. São Paulo: Editora Martins Fontes; 1982.. Nos mapas busca-se a manifestação das diferentes estruturas e elementos contidos na percepção dos ambientes pelas pessoas. Na psicologia ambiental, os mapas cognitivos inspiraram Bomfim1212 Bomfim ZAC. Cidade e Afetividade: estima e construção dos mapas afetivos de Barcelona e São Paulo. Fortaleza: Edições UFC; 2010. para a criação dos mapas afetivos, que visam contribuir para a análise das cidades, por meio dos desenhos e dos afetos que se aglutinam nos diferentes símbolos e signos da vida urbana. A autora demonstrou que as simbolizações presentes na construção de metáforas possibilitam a análise da expressão da subjetividade. Cabe ressaltar que embora se busque a propriedade do coletivo, os temas apresentados pelas pessoas podem revelar singularidades, demonstrando o caráter individual das experiências humanas diante de um contexto socioambiental1313 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Catálogo de publicações de agropecuária. Rio de Janeiro: IBGE; 2021..

Diante o exposto, o presente estudo visa analisar os significados simbólicos e afetivos dos usuários diante de suas atividades nas hortas comunitárias urbanas. O estudo foi realizado junto ao Programa Hortas Comunitárias, implantado em conjunto pelas Secretarias Municipais de Saúde, Meio Ambiente e Serviços Públicos, do Município de Maringá, em 2000, que levou à construção das hortas em locais estratégicos para substituir terrenos baldios com índices altos de resíduos sólidos dispostos de maneira irregular. Desse modo, a Secretaria de Saúde sustenta a interdisciplinaridade e a intersetorialidade em prol de um espaço que possibilite aos cidadãos uma atividade econômica, alimentação saudável e bem-estar, inspirada em princípios da agroecologia.

Material e métodos

Trata-se de um estudo exploratório e descritivo, de caráter qualitativo. O estudo foi realizado em três hortas comunitárias localizadas na cidade de Maringá do Estado do Paraná, no Sul do Brasil. A cidade foi fundada em 1947 e inspirada nas cidades-jardins da arquitetura moderna. Segundo o IBGE1414 Marostica LMF. Gestão Ambiental Municipal Sustentável. Maringá: Clichetec; 2010. (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no censo de 2021, a cidade possui aproximadamente 436.472 mil habitantes e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,808, ocupando o 21º no ranking nacional.

A cidade enfrenta rápida expansão populacional e, consequentemente, problemas ambientais como o aumento da quantidade e a disposição inapropriada dos resíduos sólidos; os impactos do uso inadequado do solo; a contaminação dos lençóis freáticos, além dos aspectos da injustiça social, como a vulnerabilidade social e a pobreza. Para mitigar e prevenir os impactos ambientais sob uma perspectiva holística, a cidade iniciou diversas ações em comum com as políticas ambientais nacionais para o desenvolvimento socioambiental, visando a promoção da qualidade de vida e a preservação do meio ambiente. Entre elas, foi instituído o Programa Hortas Comunitárias1515 Mariano EF, Milani RG. A promoção da saúde dos usuários das horas comunitárias numa cidade do interior do Paraná. In: Anais do 5º Encontro Internacional de Produção Científica; 2017 [acesso em 2023 out 24]; Maringá. Paraná: Universidade Cesumar; 2017. p. 1-12. Disponível em: https://proceedings.science/proceedings/96/_papers/80382/download/abstract_file1.
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O cultivo nas hortas comunitárias possibilita a criação de espaços promotores da saúde e a participação social, pois viabiliza o plantio e a comercialização de produtos sem agrotóxicos, promovendo o acesso e a garantia a alimentos saudáveis1616 Egli V, Oliver M, Tautolo E. The development of a model of community garden benefits to wellbeing. Prev. med. rep. 2016 [acesso em 2023 set 26]; 1(3): 348-352. Disponível em: https://doi:10.1016/j.pmedr.2016.04.005.
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. Para este estudo, buscou-se três hortas (figura 1), que embora tivessem tempos de uso distinto, uma recém implementada e as outras duas mais antigas, apresentaram semelhanças nas variáveis socioeconômicas e também no processo de construção, em que os usuários participaram ativamente na recuperação do local, antes espaços abandonados e depósitos irregulares de resíduos sólidos.

Figura 1
Mapeamento das hortas comunitárias investigadas. Município de Maringá, Paraná

A pesquisa foi realizada in loco com o objetivo de abranger a dinâmica natural do ambiente investigado. O tempo de investigação durou seis meses, no ano de 2017, com influência etnográfica, uma vez que houve a intenção de compreender os comportamentos e crenças das pessoas com base no seu próprio cotidiano. Por inspiração etnográfica, buscou-se seguir a proposição de apreender as maneiras de viver do grupo de pessoas com uma unidade social dentro das hortas comunitárias1717 Zamith-Cruz J, Lopes A, Carvalho ML. Educação para a autonomia em Lares de Infância e Juventude. Rev. Pesq. Qual. 2016 [acesso em 2023 set 26]; 1(1):439-47. Disponível em: https://editora.sepq.org.br/index.php/rpq/article/view/58.
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Contou-se com a participação de 40 usuários, representando 40% da população das três hortas (n=100), de ambos os gêneros e selecionados aleatoriamente. Sobre a seleção dos participantes, os critérios de inclusão foram: pessoas maiores de idade, com canteiros para o cultivo, independente do tempo de horta e de participação no Programa. Os mesmos foram escolhidos de forma randômica, conforme voluntariedade e disponibilidade no território. Foram considerados os seguintes critérios de exclusão: pessoas da mesma família ou que compartilhavam o mesmo espaço de trabalho na horta não foram convidadas a participar, assim como as pessoas que expressaram sentimentos de coerção (por convite do presidente da horta, ou que demonstraram não estar à vontade, mas na presença do mesmo, vieram conversar sobre a pesquisa). Ainda sobre a seleção dos participantes é importante ressaltar que todas as pessoas presentes no território poderiam participar da investigação com igualdade de acesso e esclarecimento sobre a pesquisa.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos (CEP) sob o parecer 1.953.029, conforme Resolução nº 466/2012. Os participantes foram informados sobre o objetivo da pesquisa, a garantia do sigilo em relação aos dados pessoais e a liberdade de resposta, solicitando-se a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para manter o caráter sigiloso, todos os nomes divulgados são fictícios. Esta pesquisa não ocasionou comprometimento ao meio ambiente e buscou-se minimizar a quantidade de papéis, resíduos e possíveis rejeitos.

Inicialmente, a aproximação dos territórios investigados aconteceu com inspiração na etnografia. A leitura das vivências relatadas fora precedida pela inserção do pesquisador com o cotidiano das pessoas e buscou-se a observação participante da relação pessoa-ambiente com base na rotina e nas vivências compartilhadas1818 Branco BHM, Bennemann RM, Grossi-Milani R. Intervenções em Promoção da Saúde. Maringá: Editora Clube de Autores; 2020.. Esse cuidado facilitou a leitura e interpretação dos dados obtidos durante a entrevista, uma vez que a forma do cuidado, a expressão e a interação das pessoas com a horta investigada foram temas de interesse desta pesquisa.

Para este fim, o pesquisador vivenciou o dia-a-dia dessas pessoas por um período de aproximadamente duas a três semanas (de acordo com os horários e disposições de cada local). Desde o abrir dos portões até o fechar, a observação permitiu melhor compreensão dos dados obtidos nas entrevistas, uma vez que trouxe o contato com as interações entre os usuários das hortas e a comunidade. Esse evento trouxe experiências sobre a gestão da horta, chegada das sementes, plantio, cuidado, colheita e comercialização.

Foi aplicado um questionário socioeconômico e em seguida a adaptação do Instrumento Gerador de Mapas Afetivos (IGMA)1212 Bomfim ZAC. Cidade e Afetividade: estima e construção dos mapas afetivos de Barcelona e São Paulo. Fortaleza: Edições UFC; 2010.. Este instrumento tem por finalidade tornar os afetos passíveis de análise e compreensão, por meio da produção de imagens que correspondem à horta comunitária. Segundo Bomfim1212 Bomfim ZAC. Cidade e Afetividade: estima e construção dos mapas afetivos de Barcelona e São Paulo. Fortaleza: Edições UFC; 2010., é possível conhecer a cidade através do afeto, que atua como um elemento mediador na relação entre indivíduos. Quando o indivíduo interage na cidade, ele forma uma totalidade com ela, na qual o mundo, o espaço construído e a subjetividade se combinam em uma unidade pulsante.

O questionário semiestruturado de Bomfim1212 Bomfim ZAC. Cidade e Afetividade: estima e construção dos mapas afetivos de Barcelona e São Paulo. Fortaleza: Edições UFC; 2010. possibilita que os participantes expressem seus afetos em relação ao ambiente. A metodologia de captura desses afetos emprega recursos visuais, como metáforas e desenhos, como componentes fundamentais na elaboração e compreensão dos chamados mapas afetivos. Estes mapas são criados com base no preenchimento do Instrumento Gerador de Mapas Afetivos. As imagens que surgem nos mapas afetivos representam sentimentos de pertencimento, agradabilidade, destruição e insegurança resultantes da interação entre o indivíduo e o meio ambiente.

Assim, nesta pesquisa, os participantes foram orientados a elaborar, livremente, um desenho que representasse a horta comunitária em um papel A4. Posteriormente, foram convidados a responder um inquérito que possui como temas: uma metáfora sobre o desenho, os sentimentos, os sentidos atribuídos ao contexto representado. Os resultados destes elementos representam a imagem pertinente ao desenho, ou um tema central eminente nas respostas das pessoas.

Após um estudo piloto, com o intuito de facilitar a coleta de dados e a adequação frente à realidade socioambiental investigada, foram realizadas as adaptações do instrumento. Entre as alterações, buscou-se substituir a instrução sobre a elaboração da metáfora para o convite de criar uma frase que sintetize a experiência das hortas. A justificativa para a mudança foi pautada na dificuldade dos participantes em compreenderem e revelarem os temas, possivelmente devido à idade ou escolaridade. Vale ressaltar que alguns participantes responderam à pesquisa sem desenhar a horta comunitária, uma vez que o ato de desenhar, muitas vezes, foi comentado como uma atividade difícil. Contudo elaboraram a frase e descreveram os demais atributos de análise.

Os dados obtidos permitiram a catalogação das unidades de acordo com o tipo de desenho (cognitivo ou metafórico), com os sentimentos e com os sentidos atribuídos ao desenho ou à frase. A compreensão e interpretação ocorreram com base na análise de conteúdo de Bardin1919 Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2009., que busca a categorização e a sistematização de elementos presentes nas unidades de texto para revelar as representações, as crenças e as intenções de comportamento. É importante destacar que algumas respostas foram enquadradas em mais de uma categoria, visando manter a organicidade dos dados. Optou-se por excluir o atributo qualidade da análise, uma vez que vários participantes relataram dificuldades de interpretar o comando sugerido. Quanto à amostra, apenas um entrevistado foi excluído da pesquisa, por apresentar respostas vagas ou superficiais.

O software MAQXDA-12 foi usado como ferramenta de apoio para análise dos conteúdos, uma vez que possibilita análises qualitativas de diferentes categorias, como entrevistas, comumente utilizadas em ciências sociais2020 Batistoni SS. Gerontologia Ambiental: panorama de suas contribuições para a atuação do gerontólogo. Rev. bras. geriatr. gerontol. 2014 [acesso em 2023 out 16];17(3):647-57. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1809-9823.2014.13088.
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Resultados e discussão

Com a sistematização dos resultados foi possível identificar o perfil socioeconômico dos usuários das hortas comunitárias investigadas (tabela 1). Os dados referentes à faixa salarial dos participantes mostram que 77,5% possuem entre um e 2 dois salários mínimos como renda familiar, enquanto a outra parte da amostra possui de dois a quatro salários mínimos (22,5%). Sobre a ocupação, 65% dos entrevistados estão aposentados, 20% atuam como autônomos e 15% possuem trabalho com registro. No que diz respeito à variável sexo, identificou-se uma homogeneidade de homens e mulheres (50%). Quanto à idade, prevaleceram as pessoas de idade avançada, com mais de 60 anos (55,5%), e de meia idade, entre 45 e 60 anos (42,5%). Todos participantes da pesquisa atuam nas hortas diariamente ou semanalmente e 97,5% dos participantes já haviam morado no campo antes de habitar a área urbana.

Tabela 1
Frequência (f) e percentual (%) das características sociodemográficas dos participantes

A amostra predominantemente de pessoas de idade avançada e meia idade sinaliza singularidades, uma vez que, na dialética socioambiental, a percepção, a afetividade, a temporalidade, a memória, a aprendizagem são frequentemente (re)configurados, principalmente pelo acúmulo de aprendizado e pelas transformações inerentes às questões fisiológicas que acontecem nos diferentes períodos da vida.

Na metade da vida, diversas construções e padrões psicológicos foram organizados e os dilemas sobre o viver voltam-se à própria subjetividade. Nessa fase é comum a presença de fatores estressantes do trabalho, depressão e ansiedade. O processo de envelhecimento remete a diversas mudanças significativas na vida do indivíduo, diferentes atividades laborais, troca de papéis e funções desempenhadas que requerem do sujeito adaptação2121 Egli V, Altmann H, Kohler C, et al. The development of a model of community garden benefits to well-being. Prev. med. rep. 2016 [acesso em 2023 set 16]; 3:348-352. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.pmedr.2016.04.005.
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. A transição para a aposentadoria, que remete à faixa de idade investigada, envolve uma adaptação psicológica e social, especialmente pelas transições e pelas representações do envelhecer. A autoeficácia e a autonomia são as principais variáveis que podem auxiliar nessa transição, assim como uma rede social positiva, laços familiares integrados e políticas que compreendam as pessoas em suas diversidades e multiplicidades22 Estrada Martinez ME, Escobar Salazar DC. Development of family gardens by Guabeños older adults from El Oro province, Ecuador. Coop. Desar. 2020 [acesso em 2023 set 15]; 8(2):349-61. Disponível em: http://scielo.sld.cu/scielo.php?pid=S2310-340X2020000200349&script=sci_arttext&tlng=en.
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, 2222 Bauman Z. Comunidade. Rio de Janeiro: Zahar; 2003..

Na velhice, outro público predominante na pesquisa, as transições espaciais e ambientais também são diferenciadas, porquanto duas variáveis são fundamentais nesse processo: o pertencimento e a funcionalidade. O primeiro diz respeito às apropriações do campo de experiência das pessoas e envolve avaliações cognitivas, emocionais e representações mentais, comumente apresentadas nos instrumentos dos mapas afetivos que serão ilustrados adiante; já a segunda é considerada o campo dos comportamentos e aqui está a potencialidade para o comportamento pró-ambiental e pró-social perante o uso ativo do espaço2323 Bauman Z. Confiança e medo na cidade. Rio de Janeiro: Zahar; 2009..

A partir destas considerações iniciais sobre o perfil do público das hortas e o ciclo da vida, será que os participantes possuem a percepção destas variáveis e como eles associam suas vivências cotidianas com tais transições? As respostas para estas questões ocorreram por intermédio do Instrumento Gerador de Mapas Afetivos1212 Bomfim ZAC. Cidade e Afetividade: estima e construção dos mapas afetivos de Barcelona e São Paulo. Fortaleza: Edições UFC; 2010.. A funcionalidade das representações mentais do contexto socioespacial e as dimensões afetivas revelaram constructos que estão presentes no dia-a-dia dessas pessoas e denotam potencialidades em virtude de uma compreensão holística das diferentes faces da apropriação do lugar, seja nas dimensões simbólicas, funcionais ou identitárias.

Constatou-se na análise dos mapas afetivos as imagens presentes nas hortas comunitárias, categorizadas em três imagens principais que agrupam os atributos sentimento e sentido: agradabilidade, restauração e pertencimento. A imagem mais apresentada pelos usuários das hortas foi a agradabilidade, moldada por sentimentos de alegria, prazer, contentamento, lembranças, altruísmo, tranquilidade e paz; em seguida, destacou-se o tema restauração, exemplificado nos sentimentos de ‘passar o tempo’, funcionalidade e esquecer problemas e/ou dores; e a terceira abordou o pertencimento, atributo que abrange o participar, o fazer parte e o partilhar de um ambiente comum.

Destacou-se na imagem de agradabilidade a presença do sentido de conexão com a natureza (n=13), seguida do pertencimento e interações sociais (n=6); da distração e ocupação (n=5); da saúde e bem-estar (n=4); do altruísmo e da pró-sociabilidade (n=3); da alimentação saudável (n=2); por fim, a espiritualidade e a beleza foram mencionadas uma vez cada. Na imagem de restauração o sentido mais presente é a interação social (n=4); depois o cultivo e o trabalho (n=5); e a conexão com a natureza (n=2). No que diz respeito à imagem de pertencimento, os dois sentidos principais foram a participação e o compartilhamento, cada um com uma resposta atribuída.

Foi possível reconhecer, entre as imagens, uma variedade de sentimentos e sentidos presentes no uso das hortas. Essa multiplicidade de temas possui afinidade com a pesquisa de Egli, Melody e Tautolo1616 Egli V, Oliver M, Tautolo E. The development of a model of community garden benefits to wellbeing. Prev. med. rep. 2016 [acesso em 2023 set 26]; 1(3): 348-352. Disponível em: https://doi:10.1016/j.pmedr.2016.04.005.
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, em que foram identificadas 22 especificidades sobre as hortas comunitárias. Alguns temas, como a alimentação saudável, as interações sociais e a conexão com a natureza foram comuns entre as pesquisas e demonstram como os espaços das hortas podem integrar políticas e projetos interdisciplinares no contexto urbano, onde os encontros entre vivências individuais e coletivas são favorecidos2424 Rosa DCCB, Roazzi A, Higuchi MIG. Perfil de Afinidade Ecológica: Um estudo sobre os indicadores da postura perante a natureza. Psico. 2015 [acesso em 2023 set 16]; 46(1):139-49. Disponível em: https://doi.org/10.15448/1980-8623.2015.1.17415.
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. Tais tendências estão na contramão dos espaços fechados, dos muros e das muralhas, físicas ou psicológicas, que tendem a segregar e não incluir os habitantes das cidades contemporâneas2525 Uren HV, Dzidic PL, Bispo B. Exploring social and cultural norms to promote ecologically sensitive residential garden design. Land. urb. plan. 2015 [acesso em 2023 set 16]; 137:76-84. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.landurbplan.2014.12.008.
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.

Entre encontrar-se e desencontrar-se nas cidades existe um espaço de transição e é nos lugares que se faz a experiência existir. Neles os desejos se desenvolvem e possuem a potencialidade de serem atendidos ou não2626 Costa CGA, Garcia MT, Ribeiro SM, et al. Hortas comunitárias como atividade promotora de saúde: uma experiência em Unidades Básicas de Saúde. Ciênc. saúde coletiva. 2015 [acesso em 2023 set 16]; 20(10):3099-3110. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-812320152010.00352015.
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. Tal realidade, entre o privado e o coletivo, foi possível observar nas hortas comunitárias estudadas, em que as proporções qualitativas e as atribuições de significados e sentidos de seus participantes possibilitou as sistematizações de um coletivo com seus atributos individuais, de histórias e vivências singulares inerentes a cada entrevistado, tornando-se impossível dissociar as representações sociais para apreender as dinâmicas ambientais das pessoas1313 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Catálogo de publicações de agropecuária. Rio de Janeiro: IBGE; 2021.. Dessa maneira, os sentidos atribuídos às imagens foram apresentados com diversas palavras ou imagens, mas com denotações similares, planos de fundo comuns que viabilizam a extração dos conteúdos em categorias.

Na primeira imagem, agradabilidade, a conexão com a natureza foi o tema mais relatado pelos participantes e pode ser exemplificada na seguinte colocação “Chego cedo... Sinto o cheiro da horta e vem tudo na minha mente, gosto demais e me sinto bem” (Entrevistada Luna, 77 anos). A qualidade humana de experienciar afetivamente o ambiente, qualificar a natureza e experimentar seus sentidos é resultado do processo evolutivo, uma vez que tais interações possibilitaram o desenvolvimento da espécie, culminando em pessoas capazes de responder positivamente à natureza2727 Evans A, Bancos K, Jennings R, et al. Increasing access to healthful foods: A qualitative study with residents of low-income communities. Int. j. behav. nutr. phys. act. 2015 [acesso em 2023 out 21]; 12(1):1-12. Disponível em: https://doi.org/10.1186/1479-5868-12-S1-S5.
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. Percebe-se, na fala de Luna, o caráter metafórico entre sentir o cheiro da horta e as coisas que surgem na sua mente, a funcionalidade de acordar cedo e estar disposto em experimentar essa conexão.

Nas idas e vindas das hortas, percebeu-se frequentemente respostas comportamentais de conexão com a natureza, entre elas o sentir, cheirar, tocar a terra e vestir-se apropriadamente para o contato, tendências ritualísticas que demonstram respeito ao espaço de cultivo. Assim se refere um participante: “converso com as plantas e pergunto o que elas querem” (Entrevistado Cauã, 56 anos). Nota-se que o vínculo e os afetos presentes nesses contextos tendem a direcionar ações em que as pessoas buscam afetar positivamente o seu entorno, ouvir qual é a necessidade e agir em seu favor.

Na figura 2, o entrevistado fala do trabalho e a dimensão funcional da horta “nunca mais comprei verdura e ajuda a ocupar o tempo vazio” (Entrevistada Araci, 66 anos). Exemplificando a segunda imagem, distração e restauração. Os caminhos são representados e possibilitam a reflexão sobre a transição presentes nestes lugares, uma vez que o usuário comentou sobre a restauração, a ocupação da mente e a funcionalidade financeira. Entendendo essas perspectivas percebe-se que a apropriação do espaço é renovada a cada cultivo e depende de fatores extrínsecos e intrínsecos2828 Dias EG, Duarte YAO, Morgani MH, et al. As atividades avançadas de vida diária como componente da avaliação funcional do idoso. Rev. ter. ocup. 2014 [acesso em 2023 out 22]; 25(3):225-32. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v25i3p225-232.
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Figura 2
Mapa afetivo e inquérito da entrevistada Araci, 66 anos

A qualidade de minimizar o sentimento de vazio pela ocupação e trabalho na horta proporciona o desenvolvimento de habilidades pessoais que culminam na autonomia e empoderamento2929 Lynch K. A Imagem da Cidade. São Paulo: Martins Fontes; 2010.,3030 Pocinho R, Castro J, Santos G, et al. Redes de Amigos e Vizinhança como Fator de Proteção Social para Pessoas Idosas Isoladas: Estudo Piloto em Aldeias Concelho da Guarda. Polêm. 2015 [acesso em 2023 out 21]; 15(3):11-24. Disponível em: https://doi.org/10.12957/polemica.2015.19358.
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. A literatura aponta que as hortas comunitárias produzem espaços promotores da saúde, salientando como pontos fortes a alimentação saudável, a possibilidade de renda financeira, interações sociais e também a melhora na saúde física e mental1616 Egli V, Oliver M, Tautolo E. The development of a model of community garden benefits to wellbeing. Prev. med. rep. 2016 [acesso em 2023 set 26]; 1(3): 348-352. Disponível em: https://doi:10.1016/j.pmedr.2016.04.005.
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. Tais tarefas indicam a funcionalidade das pessoas e as falas abaixo representam a dimensão social, física, produtiva e de lazer presentes nas hortas3131 Krasny ME, Silva P, Barr C, et al. Civic ecology practices: insights from practice theory. Ecol. Soc. 2015 [acesso em 2023 out 15]; 20(2):12. Disponível em: https://doi.org/10.5751/ES-07345-200212.
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.

Você encontra os amigos, ajuda, e é ajudado, conversa. (Entrevistada Iracema, 64 anos).

Foi bom para minha saúde, eu não conseguia andar bem e agora faço caminhada, até emagreci. (Entrevistada Iara, 73 anos).

Você tira alimento e tem pessoas que até tira seu salarinho. Se ficar cuidando certinho você vende, é uma forma de renda, eu vendo também, mas é mais para o meu uso e pra minha família. (Entrevistado Tupã, 56 anos).

A distração e a restauração foram contempladas nas respostas dos usuários e permitem a reflexão sobre a potencialidade destes espaços serem considerados ambientes facilitadores da restauração psicológica, ou seja, são entornos que permitem a diminuição do estresse cotidiano por meio dos fatores de escape, extensão, fascinação e compatibilidade77 Kaplan R, Kaplan S. The experience of nature: A psychological perspective. New York: Cambridge University Press; 1989.. O primeiro, refere-se à sensação de fuga e ao distanciamento de locais estressores “A horta é um refúgio dos problemas” (Entrevistada Iracema); a extensão envolve o elo afetivo, mediado pelo pertencimento, já abordado neste estudo; a fascinação expõe a pessoa ao uso da atenção de forma involuntária, permitindo o descanso “Venho regar e as vezes esqueço do tempo, este aqui é meu pezinho de pimenta, eu esqueço de ir embora” (Entrevistada Iraci, 53 anos); a compatibilidade expressa a garantia de satisfação frente ao uso espacial, que também foi apresentado neste estudo.

O pertencimento e a interação social podem ser identificados na produção do entrevistado Avaré, o qual evidenciou que o ato de transitar pela horta permite não apenas a movimentação e a atividade física, mas facilita o convívio e o diálogo com os outros, sejam clientes, colegas ou o próprio ambiente3232 Bastos A, Farias C, Amorim I, et al. Gerontologia Social, demências e prestação de serviços: Contributos para a prática baseada-na-evidência. Act. Gerontol. 2013; 1:1-12..

A inserção social é uma qualidade que garante a dimensão do pertencimento, como relatado pelo entrevistado Avaré “se não fosse aqui, ninguém me conhecia”. Ser conhecido e (re)conhecido enquanto sujeito é um direito humano e sua interação social possibilita a segurança e o acolhimento na participação ativa de suas vivências. De acordo com Mariano e Milani1515 Mariano EF, Milani RG. A promoção da saúde dos usuários das horas comunitárias numa cidade do interior do Paraná. In: Anais do 5º Encontro Internacional de Produção Científica; 2017 [acesso em 2023 out 24]; Maringá. Paraná: Universidade Cesumar; 2017. p. 1-12. Disponível em: https://proceedings.science/proceedings/96/_papers/80382/download/abstract_file1.
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, a participação social em hortas comunitárias possibilita aos indivíduos se sentirem especiais e únicos, trazendo novos significados para o trabalho, saúde e novas formas de subjetivação.

A rede social para as pessoas idosas é importante e, dessa forma, as hortas são fundamentais, pois permitem a relação de vizinhança e amizades que agem como um fator de proteção para a população22 Estrada Martinez ME, Escobar Salazar DC. Development of family gardens by Guabeños older adults from El Oro province, Ecuador. Coop. Desar. 2020 [acesso em 2023 set 15]; 8(2):349-61. Disponível em: http://scielo.sld.cu/scielo.php?pid=S2310-340X2020000200349&script=sci_arttext&tlng=en.
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, 3333 León-Cedeño AA, Ortolan MLM, Sei MB. O papel da convivência na atenção em saúde mental: uma experiência. Sau. Transf. Soc. 2017 [acesso em 2023 out 21]; 8(1):129-37. Disponível em: https://incubadora.periodicos.ufsc.br/index.php/saudeetransformacao/article/view/4103.
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. Essa rede de vínculos afetivos também influencia condutas ambientalmente responsáveis e pode ser considerada nas ações do poder público em diferentes temas que envolvem saúde e meio ambiente, tais como a minimização dos vetores de doenças, a correta separação e disposição de resíduos sólidos e a incrementação de práticas agroecológicas3434 Elali GA, Medeiros STF. Apego ao Lugar: Vínculo com o lugar - Place attachment. In: Elali GA, Cavalcante S, editores. Temas básicos em Psicologia Ambiental. São Paulo: Vozes; 2011. p. 53-61..

Sentir-se integrado na comunidade em que habitam e participar das interações sociais presentes nos espaços dos bairros, seja na horta, ou nas praças, é fundamental para a promoção da saúde, principalmente nestes contextos em que 50% dos sujeitos moram sozinhos ou com uma pessoa ao lado. Trocar receitas de alimentos, dicas de plantio e cuidados com a saúde revelam aspectos que enaltecem a experiência solidária nas hortas. Deve-se estimular rodas de conversa e a valoração da cultura popular2929 Lynch K. A Imagem da Cidade. São Paulo: Martins Fontes; 2010., como apresentou Izaltino de 65 anos:

A minha saúde melhorou bastante, a hortaliça que nós utiliza, aqui da horta, né, não tem agrotóxico. É nós mesmo que cuida para evita de usar qualquer coisa que prejudique a saúde e ajuda bastante. A gente sente no dia-a-dia, né, a saúde já melhorou também, por que distrai, aqui, a convivência com o pessoal também. É sempre batendo papo e tal, enfim se informando sobre as coisas. Eu por exemplo, não frequento muito bares ou qualquer coisa que tem mais gente para bater papo e na horta tem pessoas e a gente tá trocando ideias, a gente fica envolvido com as plantinhas, isso é uma higiene mental.

Bastos e colaboradores3232 Bastos A, Farias C, Amorim I, et al. Gerontologia Social, demências e prestação de serviços: Contributos para a prática baseada-na-evidência. Act. Gerontol. 2013; 1:1-12. afirmam que o peso estrutural do processo de envelhecimento provocou o interesse de muitos pesquisadores e levou ao surgimento da gerontologia social, área destinada à criação de tecnologias e possibilidades de incrementar o envelhecimento ativo. Nessa perspectiva se inserem os estudos sobre cuidado ambiental, termo de origem inglesa green care, que envolve uma modalidade de tecnologia social voltada a promover processos de saúde na relação com os espaços verdes. Esse cuidado pode ser identificado neste estudo a partir da percepção do espaço verde como forma de promover a saúde mental, conforme evidenciou a fala de Aparecida (68 anos):

A verdura e o verde dão tranquilidade, não há nada melhor, do que quando você está nervoso e entra na lavoura cedo, ver as folhas, conversar com as plantas, como está bonito. Conversar com o pé de couve tira toda atenção ruim. Tira neurótica da cabeça das pessoas. Hoje penso tudo diferente, minha mente sabia como trabalhar nela, para quem compreende é melhor, mas quem não compreende, só pensa em dinheiro.

A atenção em saúde mental é um campo complexo e interdisciplinar que envolve estratégias de diferentes campos do saber. Sabe-se que para alcançar a plenitude humana e ambiental é necessário superar o viver e o existir, em virtude do conviver e do coexistir. Infelizmente a psicologia ainda pouco se debruça sobre as experiências comunitárias como promotoras da saúde mental3636 Freeman C, Dickinson K, Porter S, et al. “My garden is an expression of me”: Exploring householders relationships with their gardens. Jour. Envir. Psyc. 2012 [acesso em 2023 out 15]; 32(2):135-43. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jenvp.2012.01.005.
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Outro fator associado ao pertencimento e à possibilidade de preservação ambiental é a memória afetiva com o campo; “Quando era pequena vi minha mãe na horta, ela falou e eu vi o cuidar das plantas, lembrança” (Entrevistada Irani, 54 anos). As lembranças são atreladas à dimensão simbólica presente no apego ao lugar e representam elementos de apropriação que podem ser úteis para a garantia da continuidade dos programas e a proteção de um ambiente público e de uso comum3737 Hale J, Knapp C, Bardwell, et al. Connecting food environments and health through the relational nature of aesthetics: Gaining insight through the community gardening experience. Soc. sci. med. 2011 [acesso em 2023 out 22]; 72:1853-63. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2011.03.044.
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Como contraponto, a dinâmica comunitária e o uso coletivo deste espaço sugere também a presença de narrativa de insatisfação, que pode ser evidenciada em duas falas, a primeira de Iara de 63 anos: “É difícil, por que cada um é cada um né”, sugerindo a ausência de vínculos e a segunda na narrativa de Kayke (51 anos): “As pessoas têm que compartilhar, a horta não é só venda, não existe o freguês, é comunidade, a horta é uma comunidade”, em que argumenta sobre a prevalência de interesses individuais em detrimento da coletividade. Apesar de revelar sentimentos de descontentamento, quando compreendidas e refletidas na comunidade, podem contribuir para seu desenvolvimento, todavia, as mesmas diferenças, também revelam as disparidades nestes espaços.

A premissa ética sustenta que quando tais contrastes são superados, fortificam-se as multiplicidades e permitem a alteridade, a convivência e o progresso mútuo3838 Albertin RM, Augusto DC, Mubai BA, et al. Hortas urbanas de Maringá (PR): estudo socioeconômico dos produtores e perceptivo dos transeuntes. Bol. Geog. 2016 [acesso em 2023 set 13]; 34(2):98-115. Disponível em: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/BolGeogr/article/view/23600.
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. Esse evento pode ser encontrado na entrevista de Iracema (67 anos).

Estar na horta é muito importante, além de fazer um trabalho, é bom para o corpo e para a mente, você faz amizades, as vezes tem pegas, mas o normal, isso que faz bem, se fosse tudo certinho a vida fica sem graça.

Tais implicações também refletem em aspectos claramente objetivos, como na própria produção das plantas. Segundo Freeman e colaboradores3636 Freeman C, Dickinson K, Porter S, et al. “My garden is an expression of me”: Exploring householders relationships with their gardens. Jour. Envir. Psyc. 2012 [acesso em 2023 out 15]; 32(2):135-43. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jenvp.2012.01.005.
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, as identidades dos indivíduos refletem na maneira como eles lidam com o cultivo e para que a produção e as diferentes experiências nas hortas aconteçam de forma harmônica, se faz fundamental o engajamento e a superação das divergências entre os usuários11 Nova P, Pinto E, Chaves B, et al. Urban organic community gardening to promote environmental sustainability practices and increase fruit, vegetables and organic food consumption. Gac. San. 2020 [acesso em 2023 set 13]; 34(1):4-9. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.gaceta.2018.09.001.
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, 22 Estrada Martinez ME, Escobar Salazar DC. Development of family gardens by Guabeños older adults from El Oro province, Ecuador. Coop. Desar. 2020 [acesso em 2023 set 15]; 8(2):349-61. Disponível em: http://scielo.sld.cu/scielo.php?pid=S2310-340X2020000200349&script=sci_arttext&tlng=en.
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, 3737 Hale J, Knapp C, Bardwell, et al. Connecting food environments and health through the relational nature of aesthetics: Gaining insight through the community gardening experience. Soc. sci. med. 2011 [acesso em 2023 out 22]; 72:1853-63. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2011.03.044.
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Considerando os aspectos culturais e regionais das hortas comunitárias, é crucial destacar que as práticas e significados atribuídos a esses espaços podem divergir consideravelmente em distintas localidades. No município em questão, onde foi realizado o estudo, as atividades relacionadas às hortas urbanas na cidade de Maringá contam com a atuação do poder público e das instituições de ensino superior para fornecer assistência técnica3838 Albertin RM, Augusto DC, Mubai BA, et al. Hortas urbanas de Maringá (PR): estudo socioeconômico dos produtores e perceptivo dos transeuntes. Bol. Geog. 2016 [acesso em 2023 set 13]; 34(2):98-115. Disponível em: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/BolGeogr/article/view/23600.
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. Isso caracteriza essas hortas como políticas públicas e não simplesmente como políticas de governo, o que pode explicar os aspectos positivos observados nas hortas da cidade do estudo. Todavia, os autores destacam desafios significativos que enfrentam no decorrer do processo de produção na horta, incluindo o tamanho limitado da área cultivada, ausência de estufa, solo de qualidade inferior, falta de experiência em agricultura, restrições de tempo, questões relacionadas à comercialização, bem como a escassez de informações, assistência técnica e insumos.

Um resultado semelhante foi encontrado no estudo de Anacleto e Silva3939 Anacleto A, Silva FM. Hortas comunitárias urbanas e periurbanas no estado do Paraná: breve panorama sobre as implicações ambientais, sociais e econômicas. Dial. Poss. 2023 [acesso em 2023 set 13]; 22:1-24. Disponível em https://revista.grupofaveni.com.br/index.php/dialogospossiveis/article/view/1520.
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, que apontou os potenciais desafios associados a esse tipo de iniciativa, tais como a falta de apoio governamental, a ausência de organização coletiva, infraestrutura de produção precária, roubos da produção, custos elevados dos insumos de produção, baixos preços de comercialização, concorrência desleal entre produtores, falta de capacitação e dificuldades na obtenção de adubos orgânicos. Em resumo, embora as hortas comunitárias proporcionem benefícios significativos em relação à segurança alimentar, qualidade de vida e geração de renda para comunidades urbanas, elas também enfrentam uma série de desafios que necessitam ser superados para assegurar sua sustentabilidade.

Outro fator importante a ser considerado foi a experiência do pesquisador durante a coleta de dados. A imersão do pesquisador nos contextos investigados representou um fator facilitador, uma vez que foram encontradas resistências inicialmente, fato compreensível, principalmente frente às territorialidades presentes nesses espaços. Nesta pesquisa foram necessários meses de idas e vindas frequentes no cenário, facilitando o vínculo e permitindo contato com as vivências do dia-a-dia das hortas. Um dos participantes, antes de responder à pesquisa dissertou “Veja, o que você vê eu vejo, o que você sente, eu sinto, observe os senhores plantando, conversando com as plantas [...]”. Outro aspecto relevante refere-se ao instrumento e à necessidade de adaptá-lo ao público investigado, muitas vezes os termos e as perguntas precisavam ser remodeladas de acordo com a conversa e a aproximação inicial, inclusive a adaptação da metáfora para frase, para poesia e demais expressões que pudessem garantir o surgimento de imagens simbólicas.

Por fim, algumas limitações referentes ao desenho metodológico precisam ser consideradas ao interpretar este estudo. Por exemplo, o número restrito de participantes, o que é característico do método qualitativo, fazendo com que as conclusões apresentadas se apliquem somente à realidade das três hortas estudadas e não permitam generalizações. É válido destacar, dentre os cuidados metodológicos tomados, a inclusão de hortas representativas de diferentes regiões da cidade, mas semelhantes quanto às variáveis socioeconômicas e processo de construção, que envolveu a participação ativa dos usuários na recuperação das áreas de produção, antes abandonadas e utilizadas como depósitos irregulares de resíduos.

Considerações finais

O presente estudo possibilitou uma abordagem diferenciada nas investigações sobre as hortas comunitárias e a afetividade pessoa-ambiente, com ênfase nas vivências dos usuários que tendem a promover a conservação e a proteção ambiental. O uso dos mapas afetivos desempenha um papel relevante na promoção da saúde e do bem-estar das pessoas. Ao permitir a expressão dos afetos e sentidos, esses mapas auxiliam na identificação e compreensão das experiências emocionais e sensoriais das pessoas em relação ao ambiente. No contexto da promoção da saúde, essa ferramenta ajuda a identificar e criar ambientes que promovam experiências emocionais e sensoriais positivas, o que, por sua vez, pode ter impactos positivos na saúde física e mental das pessoas.

Entre os principais resultados, foi constatada a percepção de um ambiente agradável que possibilita a conexão com a natureza, assim como a interatividade e o encontro entre pessoas, vizinhos que até então não se conheciam. Conexões e encontros são temas pertinentes para a educação ambiental e revelam a potencialidade dos sujeitos atuarem na comunidade e no espaço que frequentam como agentes. O papel das hortas na promoção da restauração, ou seja, de um ambiente com potencial restaurativo, é um tema que necessita de mais atenção e novas pesquisas.

Conclui-se que os afetos produzidos pelos usuários na experiência com as hortas comunitárias contribuem para a formação das representações do entorno, além de impactar na percepção da saúde física e mental. Entre os diferentes atributos, a preservação ambiental é um tema incipiente e é fortalecido pelas representações investigadas, porém é importante fortalecer e incentivar as intervenções de educação e sensibilização ambiental, para que os participantes sejam autores e protagonistas em prol do meio ambiente, potencializando a capacidade de gerar ações, modificar e construir realidades.

  • Suporte financeiro: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (Capes) – Código de Financiamento 001; Instituto Cesumar de Ciência, Tecnologia e Inovação (Iceti) e Programa de incentivo à pesquisa docente do Centro universitário Cidade Verde (uniCV)

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Editora responsável: Jamilli Silva Santos

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Maio 2024
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2024

Histórico

  • Recebido
    15 Jun 2023
  • Aceito
    25 Out 2023
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