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Dos imaginários sobre a iniciação sexual: intersecções de gênero, raça/cor e sexualidade entre jovens de camadas populares em Belém, Pará

The imaginary about sexual initiation: intersections of gender, race/color and sexuality between young people of the lower classes in the city of Belém (Pará), Brazil

Los imaginarios sobre la iniciación sexual: intersecciones de género, raza/color y sexualidade entre los jóvenes de las clases bajas en la ciudad de Belém (Pará), Brazil

Resumo

Este texto propõe uma exposição sobre o “roteiro sexual” de mulheres e homens jovens (heterossexuais e homossexuais) residentes em regiões “centrais” e “periféricas” da capital paraense, tendo como base material oriundo do projeto “‘Para entrar no mundo que não é meu’: a iniciação sexual a partir de entrevistas com as(os) jovens pobres e de camadas médias de Belém do Pará”. Neste sentido, concentramos nossas incursões na Casa do Estudante Universitário do Pará (CEUP), localizada no bairro de classe média/média alta Batista Campos, e no bairro Guamá - “periferia” de Belém. Enfatizamos, assim, o importante papel das famílias de origem na reprodução de práticas de conduta social e sexual, além das distintas maneiras de as(os) entrevistadas(os) agenciarem suas iniciações sexuais a partir de convenções e imaginários acionados na interseção com gênero, sexualidade e raça/cor.

Palavras-chave:
iniciação sexual; jovens; camadas populares; Belém; interseccionalidades

Abstract:

This paper proposes an analysis, based on interviews conducted in the project “‘To enter into a world that is not mine’: sexual initiation in interviews with poor young people and middle classes in the city of Belém (Pará), Brazil”. It analyzed the “sexual scripts” of young women and men (heterosexual and homosexual), residing in “central” and “peripheric” areas in Belém, the capital of Pará, Brazil. Our locus of research was the institution Casa do Estudante Universitário do Pará (CEUP), with locations in a middle class/upper middle class neighborhood, and in the Guamá suburb, a “periphery” of Belém. We emphasize the significant role of families of origin in the reproduction of social and sexual conduct, and the different ways interviewees manage sexual initiation according to beliefs and imaginaries situated at the intersection of gender, sexuality and race/color.

Key words:
sexual initiation; young people; lower classes; Belém; intersectionalities

Resumen

Este texto propone una exposición, desde las entrevistas realizadas en el proyecto “‘Para entrar en el mundo que no es el mío’: la iniciación sexual desde las entrevistas con los jóvenes pobres y de las clases medias de Belém do Pará”, sobre lo “guión sexual” de las mujeres y los hombres jóvenes (heterosexuales y homosexuales) residentes en regiones “centrales” y “periféricas” de la capital del estado de Pará. En este sentido, centramos nuestras incursiones en la Casa del Estudiante Universitario de Pará (CEUP), ubicada en el barrio de clase media/media alta Batista Campos, y el barrio “periférico” Guamá. Por tanto, tenemos especialmente en cuenta el importante papel de las familias de origen en la reproducción de las prácticas de comportamiento social y sexual, y las diferentes formas de las(los) entrevistadas(os) agenciarem sus iniciaciones sexuales desde las convenciones y los imaginarios desencadenados en la intersección con el género, la sexualidad y la raza/color.

Palabras clave:
iniciación sexual; jóvenes; clases bajas; Belém; interseccionalidades

Introdução: da entrada em campo

Este texto propõe uma exposição, tendo como base as entrevistas realizadas no projeto “‘Para entrar no mundo que não é meu’: a iniciação sexual a partir de entrevistas com as(os) jovens pobres e de camadas médias de Belém do Pará”, coordenado pela Profa. Dra. Mônica Conrado, sobre o “roteiro sexual”1 1 “Roteiro sexual” foi o termo que inspirou o problema da pesquisa. Porém, nos limitava a pensar de que forma as(os) jovens aderiam a novos comportamentos sexuais, que podem incluir ou não o uso de tecnologias informacionais (como chats e blogs) ou brinquedos eróticos (como vibradores, algemas, próteses penianas), além de filmes e sites especializados em pornografia; a ideia de “roteiro sexual” advém do livro Sexual conduct: The social of sources of human sexuality, organizado por John Gagnon e William Simon (1973). de homens e mulheres jovens (heterossexuais e homossexuais) residentes em regiões “centrais” e “periféricas”2 2 Utilizamos “centro”, “periferia” e suas derivações entre aspas por dois motivos: I. esta é uma etnografia que atravessa lugares e espaços citadinos distintos e por isso compreende a não reificação do uso destes termos; II. por se tratar de dinâmicas de (des)centralidade, as noções de “centro” e “periferia” são contextuais e temporais (Frúgoli Jr., 2000; Facchini, 2008; Simões et al., 2010; Feltran, 2011; França, 2012; Puccinelli, 2013, 2015; Rocha, 2013; Reis, 2014a, 2015b). da capital paraense. Neste sentido, concentramos nossas incursões na Casa do Estudante Universitário do Pará (CEUP), localizada no bairro de classe média/média alta Batista Campos, e no bairro Guamá - “periferia” de Belém. É importante enfatizar que este é um texto cuja demanda central diz respeito ao tema iniciação sexual e de que forma os marcadores de gênero, sexualidade e cor/raça interferem, ou não, nas análises que serão apresentadas.

Escolhemos os lócus de pesquisa mencionados principalmente pelo nosso vínculo de moradia: Milton, enquanto morador do Guamá, optou por fazer entrevistas com homens moradores do Guamá, e Ramon, residente da CEUP, escolheu entrevistar mulheres e homens, homossexuais e heterossexuais, moradoras(es) da CEUP. Trata-se, portanto, de um texto que pretende cruzar espaços, lugares e pessoas a partir de uma perspectiva relacional.

No que se refere ao escrutínio das entrevistas, notamos que existiu na maioria das falas uma espécie de jogo entre tranquilidade e medo/nervosismo na descrição da “primeira vez”. Grande parte das(os) entrevistadas(os) nos relatou tais acontecimentos como se estivessem em uma mesa de bar, ora escolhendo palavras mais rebuscadas - até pela nossa posição neste jogo, como pesquisadores - ora pedindo permissão para falar de forma menos elaborada (palavras do cotidiano).

Nossa posição nessa relação de poder entre “nós” (pesquisadores) e “elas(eles)” - entrevistadas(os) - nunca foi desconsiderada. Estávamos atentos de maneira recorrente às formas de desigualdade que essa relação poderia comportar. Antes e depois das entrevistas, perguntávamos se algo as(os) tinha constrangido e se queriam cancelar as entrevistas. Talvez por isso, durante as conversas pré-entrevista principalmente, nós tenhamos conseguido acessar relatos tão reveladores.3 3 A perspectiva trazida pela antropologia reflexiva nos permite explorar os limites e as tensões estabelecidos em campo. Os textos de Roberto Cardoso de Oliveira, presentes em O trabalho do antropólogo (2006), servem para revisitarmos tanto as etapas que precedem o próprio trabalho de campo quanto os momentos posteriores, como a fase da escrita, por exemplo. Porém, cabe destacar o trabalho reflexivo e importante de James Clifford (2011) que, através da perspectiva “nativo/pesquisador”, consegue pontuar a experiência etnográfica como um campo de disputa de autoridade e legitimidade.

O roteiro de entrevista obedeceu ao tema da pesquisa, ou seja, as perguntas tiveram como ênfase a produção de sujeitos, mulheres e homens, a partir de suas trajetórias sexuais (“roteiros sexuais”) ou de como elas(eles) entendiam as categorias de gênero, cor/raça, sexualidade e juventude, começando pela memória de suas iniciações sexuais e como estas moldaram suas experiências no presente e suas perspectivas para o futuro.

Sendo assim, entrevistamos um total de 11 pessoas - sete homens (dentre os quais três declaradamente homossexuais) e quatro mulheres heterossexuais. Deste total, sete eram moradoras(es) da CEUP e os outros quatro (Marcos, Ronaldo, Roberto e Ricardo4 4 Por uma questão ética, todos os nomes das(os) interlocutoras(es) são fictícios. ) residentes no bairro Guamá. O critério obedecido para seleção, como já foi dito, foi a nossa rede de conhecidas(os). No entanto, os relatos que serão apresentados são apenas das(os) mulheres e homens que permitiram que as entrevistas fossem gravadas, critério que não excluía candidatas(os) desejosas(os) de participar da pesquisa, mas que se mostrou fundamental para os parâmetros éticos do nosso trabalho, uma vez que todas(os) assinaram termo de consentimento livre e esclarecido de que suas identidades seriam preservadas e de que as análises serviriam apenas para fins acadêmico-científicos.

A seguir nos deteremos sobremaneira na temática central deste artigo, a iniciação sexual, refletindo sobre seus sentidos e efeitos a partir da articulação com as entrevistas. Em um primeiro momento, abordaremos os processos de criação familiar e depois adentraremos na análise sobre as iniciações sexuais.

Criação familiar

A criação familiar opera como um dos componentes fundamentais no entendimento sobre os processos de socialização pelos quais passaram as(os) interlocutoras(es) da pesquisa. Essa criação familiar vai tomando forma, num primeiro momento, no protagonismo do pai e da mãe sobre as(os) filhas(os) e, em um segundo momento, a partir dos ensinamentos do pai e da mãe na atuação cotidiana das(os) filhas(os). Por menor que seja o grau de escolaridade dos pais e das mães da maioria das(os) entrevistadas/os e o diálogo a respeito do tema iniciação sexual, as(os) filhas(os) fazem questão de lembrar o que devem ou não fazer em função do ensinamento passado. Este posicionamento se trata, especificamente, dos assuntos abordados: estudo, puberdade, gravidez e/ou prevenção de doenças sexualmente transmissíveis - DST. Por exemplo:

Pietro: A minha mãe sempre sentou e conversou comigo e com o meu irmão. O meu pai não foi aquela pessoa de chegar e conversar, ele só dizia: “Olha, se tu fores manter relação, coloca a camisinha e vai em frente”, enquanto a mãe se preocupava em repassar aos filhos os riscos relacionados às DSTs.

(Trecho da entrevista com Pietro, 22 anos)

Amanda: Meus pais me educaram da seguinte forma: “Olha, eu quero que vocês estudem, se formem, porque o estudo é o namorado de vocês, e o marido de vocês é o trabalho... Negócio de filho e namorado isso é pra depois, vocês vão ver que isso vem com o tempo”

Pesquisador: Quais seriam as conversas marcantes?

Amanda: O ponto mais marcante foi quando eu menstruei pela primeira vez. Foi muito constrangedor pra mim, devido à mamãe não ter sido criada por pai e mãe, ter sido pela casa de terceiros, ter se virado sozinha, ela não é uma pessoa vaidosa, ela não é comunicativa. Ela falava muito pouco, coisas do tipo: “Olha, a vida é assim...”. E ainda falava na sacanagem e na ironia: “Olha, o igarapé está quase pra escorrer...” [indicando que a menstruação estava prestes a chegar]. No dia em que fiquei menstruada eu me escondi, eu pensei que eu tava grávida e que tava perdendo o filho. Contei pra mamãe, mas não queria que ela contasse para o papai. O pai conversou e disse que era normal. A menstruação veio quando eu tinha 9 anos.

(Trecho da entrevista com Amanda, 32 anos)

Não obstante o pai e a mãe pouco conversarem sobre sexo/sexualidade/iniciação sexual, nos relatos a mãe aparece como agente preocupado com os estudos, com a puberdade, a sexualidade, independente do grau de instrução (Rieth, 2002RIETH, Flávia. 2002. “A iniciação sexual na juventude de mulheres e homens”. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre. Jun. 2002. Nº 17, p. 77-91.). No caso das jovens universitárias entrevistadas, diferente do observado por Gonçalves e Knauth (2006GONÇALVES, Helen & KNAUTH, Daniela. 2006. “Aproveitar a vida, juventude e gravidez”. Revista de Antropologia da USP, São Paulo. Jul./dez. 2006. Vol. 49, n. 2, p. 625-643.), a gravidez não foi o ponto determinante para ingresso no mundo adulto.5 5 Gonçalves e Knauth observam que: “Se visualizarmos que o prolongamento da juventude está atrelado somente aos estudos e à inserção procrastinada no mercado de trabalho, de fato, nesse universo não há condições de prolongamento de a fase juvenil ocorrer. A gravidez seria uma das formas de ingresso feminino no mundo adulto, de maior liberdade, de ruptura com a própria adolescência, dependente e controlada socialmente” (p. 634). Para as mulheres entrevistadas, sair do interior e mudar para a capital em busca de melhores condições de vida e de qualificação profissional foram as causas de ingresso no mundo adulto. Como elas pretendiam seguir uma carreira profissional e/ou acadêmica, ter filho não era prioridade.

Helen Gonçalves e Daniela Knauth (2006GONÇALVES, Helen & KNAUTH, Daniela. 2006. “Aproveitar a vida, juventude e gravidez”. Revista de Antropologia da USP, São Paulo. Jul./dez. 2006. Vol. 49, n. 2, p. 625-643., p. 635) destacam que o fato de suas interlocutoras estarem grávidas as aproximava da família de origem, “dando continuidade aos ensinamentos sobre os cuidados com a criança, com o companheiro (ou o ex-companheiro) e com a vida social”; em relação às mulheres que entrevistamos, o fato de não quererem ter filhos, pelo menos não durante a graduação, e o de terem mudado para a capital foram indicativos de maior distanciamento da família de origem.

Levando em consideração tal distanciamento e a possibilidade da constituição de novas relações, não obstante todas(os) as(os) entrevistadas(os) terem em mente que deviam “manter a imagem” e “zelar pela reputação”, elas(eles) sentiam a necessidade de borrar as fronteiras entre casa e rua, ou entre o que “é da cidade” e o que “é do interior”, ou “do centro” e “da periferia”.

Como forma de suprir as necessidades de maior conhecimento sobre o mundo à sua volta no que se refere principalmente a questões da intimidade (masturbação, menstruação, iniciação sexual), muitas(os) acabaram aprendendo várias coisas a esse respeito no espaço fora da casa do pai e da mãe, especialmente quando no que diz respeito à iniciação sexual, em que é preciso sair de um espaço mais formal e adentrar num ambiente micro/íntimo. Sair do âmbito familiar é quase uma premissa fundamental para um maior aprendizado sobre o corpo, sobre a sexualidade (Heilborn, 1999HEILBORN, Maria Luiza. 1999. “Construção de si, gênero e sexualidade”. In: HEILBORN, Maria Luiza (org.). Sexualidade: o olhar das ciências sociais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. p. 41-58., 2006HEILBORN, Maria Luiza. 2006. “Entre as tramas da sexualidade brasileira”. Estudos Feministas, Florianópolis. Vol. 14, n. 1, p. 43-59.; Bozon & Heilborn, 1996BOZON, Michel & HEILBORN, Maria Luiza. 1996. “As carícias e as palavras. Iniciação sexual no Rio de Janeiro e em Paris”. Terrain, Paris. Set. 2012. Nº 27, p. 37-58.). Vale ressaltar que o fato de terem vindo de famílias de classe social mais baixa não significa necessariamente que haja conexão direta com o desconhecimento total da mãe e do pai sobre sexo, sexualidade, iniciação sexual, gravidez, puberdade.

Nesse sentido, lembramos as entrevistas de Diana e Pietro. Quando Diana foi questionada sobre a existência de padrões de conduta familiar em sua casa, ela contou que a mãe e o pai não falavam qual a maneira de se comportar; isto era representado e facilitado à compreensão dos demais irmãos por meio das atitudes do pai e da mãe, principalmente pela família evangélica do pai de Diana, enquanto os demais membros da família eram “meio termo”: algumas(uns) católicas(os) e outras(os) evangélicas(os). Diana afirmou ser católica não praticante. A despeito de o pai de Diana ser “rígido demais”, ela comentou que, ainda assim, os seus irmãos não seguiam à risca determinadas obrigações, quais sejam: de não furar a orelha (para os meninos), de não cortar o cabelo (para as meninas).

Concernente ao diálogo travado com Pietro, notamos como a lógica de conduta familiar estabelecida interferiu significativamente na sua postura sobre bebidas, escolha de namoradas e reputação. Pietro comentou que na cidade onde nasceu (São Miguel do Guamá, município do interior do Pará) havia uma preocupação exacerbada com a questão da reputação, principalmente porque se tratava de uma “cidade pequena onde todo mundo se conhecia”. Esta questão era uma espécie de “dispositivo corporal”,6 6 Utilizamos este termo na tentativa de fazer uma analogia com a unidade do dispositivo de sexualidade e poder descrito por Michel Foucault (2007 [1988]). indicando como a pessoa deveria se comportar. A fala da mãe de Pietro é sintomática: “Ah! Eu não quero te ver bebendo porque, se alguém vir você bebendo, vai ser mau para a família e tudo mais”. O direcionamento da mãe, segundo Pietro, foi fundamental na elaboração de seus discursos e na escolha de suas namoradas: “Ah! Não sai com essa menina porque ela é puta”. Nesses casos, o cuidado com a reputação chega a ser "perigoso", principalmente quando coadunado com o seguinte ditado popular: “Diga-me com quem andas que te direi quem és”.

A criação familiar, neste sentido, é fator importante no comportamento de praticamente todas(os) as(os) jovens entrevistadas(os), tanto para romper com lógicas maniqueístas que são ensinadas e reproduzidas dentro de casa quanto para que sejam legitimadas determinadas práticas. É, de fato, uma linha tênue entre o que assimilar e o que confrontar, e de que modo esse jogo, discursivo e performático, age nos variados processos de iniciação sexual.

Práticas, dizeres e imaginários: das iniciações sexuais

Na construção de um “roteiro sexual” (Gagnon & Simon, 1973GAGNON, John & SIMON, William. 1973. Sexual conduct: The social sources of human sexuality. Chicago: Aldine Books. 316 p.) para os relatos sobre iniciação sexual que serão expostos, aspectos como aprendizado, aperfeiçoamento, preparação, ensinamento e experimentação foram de extrema relevância durante as entrevistas. Tais percepções aguçaram a intimidade das(os) entrevistadas(os) até o momento da efetivação do ato sexual (leia-se: “primeira vez”). Vale lembrar que a maioria das(os) entrevistadas(os) planejou sua “primeira vez”, o que não se refere somente à escolha da(o) parceira(o), mas também ao que aconteceria e como. É importante evidenciar que

[...] a iniciação sexual não se dá de forma homogênea entre homens e mulheres, grupos sociais ou gerações, considera-se que um conjunto de elementos complexos é determinante na tomada de decisão de iniciar a vida sexual ou adiá-la para um contexto ou momento considerado mais adequado (Borges, 2007BORGES, Ana Luiza Vilela. 2007. “Pressão social do grupo por pares na iniciação sexual de adolescentes”. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo. Nº 41 (Esp.), p. 782-786., p. 783).

Vejamos alguns relatos:

Pesquisador: O que passou na sua cabeça na sua primeira vez?

Samanta: Não havia amor e sim tesão e foi apenas uma vez. Eu só queria perder mesmo! Não via o hímen como um troféu. A maioria dos homens corre de mulher virgem. Na realidade atual, apenas os machistas querem manter essa postura. A maioria corre de “cabaço” [mulher virgem], porque mulher assim impregna.

Pesquisador: E como foi?

Samanta: A minha foi ruim, eu senti muita dor, talvez por não ter perdido o “cabaço” com o uso de camisinha, até porque eu tomava anticoncepcional e ia ao ginecologista. Eu confiava no cara porque nós mantínhamos uma relação de confiança e de cuidado. Naquela época não tinha amor pra atrapalhar, era só sexo mesmo! Eu não me senti usada porque eu aceitei tudo que ele fez. Foi como passar da adolescência, da vida que tinha recatada. Isso aconteceu quando eu já morava há dois anos longe de casa.

(Trecho da entrevista com Samanta, 28 anos)

Pesquisador: Como foi a sua primeira vez?

Júlio: A minha primeira vez eu fiz sexo com um homem. Eu tinha aproximadamente 13 ou 14 anos, eu não me recordo exatamente. Foi um rapaz mais velho que eu, na época ele já tinha bem mais que 20 anos, era bem mais experiente. Estávamos em uma festa, bem próximo de casa, e ele me convidou pra gente sair, a gente se afastou um pouco da festa e lá a gente ficou, foi o meu primeiro contato sexual com ele. Na época eu ainda não me assumia gay, ainda não me achava gay, então era uma relação: “Eu me acho hétero e vou lá fazer sexo com o gay”. Principalmente na minha “condição ativa” naquela época, achando que ele era o gay e era passivo e pronto, sem nenhuma relação de afeto ou coisa parecida. No momento eu gostei, eu não vou negar, foi bom. Mas depois, quando eu não consegui ficar na festa, eu fui pra casa que ficava próximo e eu senti algo muito estranho, depois eu me arrependi, me senti uma pessoa suja, foi uma sensação estranha...

(Trecho da entrevista com Júlio, 25 anos)

Pesquisador: O que passou na sua cabeça na sua primeira vez?

Ricardo: Bom, na hora eu tava muito nervoso. Eu tinha muito desejo, tinha muita vontade de sentir o prazer, saber como era, se era bom. Eu tinha muita vontade e curiosidade, mas também eu tava muito nervoso, na hora eu não conseguia me controlar muito e foi uma coisa assim muito rápida.

(Trecho da entrevista com Ricardo, 25 anos)

Tais relatos indicam que o aspecto representacional dessas iniciações sexuais não se dá de modo sistemático ou linear.7 7 Na maior parte desses casos, “a primeira relação sexual é vista como um rito de passagem, que implica a perda de uma condição sexual para a aquisição de outra” (Altmann, 2007, p. 342). Não havia como prever aquele momento, pelo menos não de modo planejado. Essas distinções e percepções também aconteceram entre dois entrevistados homossexuais, Tales e Júlio, enquanto o primeiro representou sua “primeira vez” segundo a noção de “afloramento dos hormônios”, o segundo, apesar de ter gostado de sua “primeira vez”, não nega o fato de ter se “arrependido”, de ter sentido repulsa por aquela situação.

Sobre este aspecto, questões que trataram de masturbação, fantasias/brincadeiras sexuais, prazer, de cunho mais intimista, mostraram-se significativas para uma maior compreensão das práticas sexuais das(os) entrevistadas(os):

Pesquisador: Qual(quais) o(s) tipo(s) de fantasias/brincadeiras sexuais que você curte?

Diana: Adoro sexo oral, acho um dos melhores. Chego a ser rude sobre brincadeiras sexuais.

Pesquisador: Você já usou algum tipo de acessório de sex shop?

Diana: Não curto acessórios de sex shop porque nunca fui em um e não sei exatamente as utilidades que esses objetos têm. Eu ganhei um dado [com poses sexuais] no meu aniversário, mas nunca usei.

Pesquisador: Você se masturba? Se sim, com que frequência?

Diana: Eu nunca me masturbei, meu maior prazer é assistir filmes pornô.

Pesquisador: O que te dá mais prazer durante o sexo?

Diana: O que dá mais prazer e que me excita é o cheiro de cerveja do homem, quando ele fica afoito, me deixa doida.

(Trecho da entrevista com Diana, 27 anos)

Pesquisador: Qual(quais) o(s) tipo(s) de fantasias/brincadeiras sexuais que você curte?

Tales: Em quatro paredes vale tudo, eu topo tudo. Sobre as brincadeiras sexuais, eu não parei pra pensar nesse assunto.

Pesquisador: Você já usou algum tipo de acessório de sex shop?

Tales: Eu nunca usei acessórios de sex shop, mas tenho vontade.

Pesquisador: Você se masturba? Se sim, com que frequência?

Tales: Me masturbo com frequência, principalmente quando o meu namorado está viajando.

Pesquisador: O que te dá mais prazer durante o sexo?

Tales: O que me dá mais prazer é o carinho. Não curto fazer sexo oral no primeiro encontro, pois tenho medo de pegar alguma doença sexualmente transmissível.

(Trecho da entrevista com Tales, 25 anos)

A sexualidade enquanto dispositivo alocado no campo do privado apareceu nas entrevistas de forma assertiva e se distinguindo, mesmo que indiretamente, de práticas mais corriqueiras do cotidiano de algumas(uns) mulheres e homens entrevistadas(os), a exemplo da masturbação. Tal aspecto reafirma uma lógica estabelecida na família de origem, na qual meninos são estimulados a tocar seus corpos quando necessário, enquanto as meninas devem preservar o corpo e só “usá-lo” no “momento certo”.

Assim, indicar que tais iniciações sexuais fazem parte de um processo de início da vida adulta é coerente. Contudo, devemos levar em conta que, em alguns casos, foi preciso mais que uma “primeira vez” para se garantirem maturidade e experiência sexual. Essa passagem para a vida adulta pode se tornar mais elaborada quando há maior experimentação da sexualidade na adolescência. Não cabe mostrarmos que se trata de uma escala hierárquica que vai da(o) mais experiente a(o) menos experiente, mas apenas compreendermos como se deu o processo de elaboração de tais “roteiros sexuais”. Concernente a este argumento, podemos interpelar “roteiros sexuais” a partir de fatos marcantes em cada um, no sentido de balizá-los numa perspectiva que expressa sensações/sentidos/preparações, para que assim seja possível o entendimento a respeito de maiores ou menores experimentações, relacionando-as mais ao agenciamento - ao modo como se produzem diferenças (Brah, 2006BRAH, Avtar. 2006. “Diferenças, diversidade e diferenciação”. Cadernos Pagu, Campinas, SP. Nº 26, p. 329-376.) - do que à prática sexual em si.

A articulação da agência/negociação em torno da marcação do aspecto importante para a “primeira vez” é significante ao lançarmos o olhar sobre a especificidade ou a semelhança entre as narrativas. Alocando esta análise em uma “estética dos sentidos” (Das, 2011DAS, Veena. 2011. “O ato de testemunhar: violência, gênero e subjetividade”. Cadernos Pagu , Campinas, SP. Jul./dez. 2011. Nº 37, p. 9-41.), considerando aspectos ditos e não ditos, principalmente após o ato sexual, percebemos que sensações de frustração, felicidade e expectativa, por exemplo, estão ligadas ao próprio processo de desenvolvimento do flerte, das preliminares, do ato sexual e do pós-ato sexual. O que queremos dizer é que a reciprocidade em torno do carinho, da gentileza ou da não verbalização após o ato sexual também se trata de um processo de construção, que não é tributário apenas do discurso das(os) entrevistadas(os), mas das sensações e dos sentidos que extrapolam as práticas discursivas.

Um olhar sobre convenções e rupturas: breve debate sobre gênero e sexualidade

Nesta seção traremos à baila um breve debate sobre gênero e sexualidade com vistas a dar base ao que já foi exposto. Não será preciso aprofundar a trajetória dos estudos de gênero, uma vez que essa revisão já foi feita com muita competência por pesquisadoras como Adriana Piscitelli (2009PISCITELLI, Adriana. 2009. “Gênero: a história de um conceito”. In: ALMEIDA, Heloísa Buarque de & SZWAKO, José E. (orgs.). Diferenças, Igualdade. São Paulo: Berlendis & Vertecchia. p. 116-148.), Linda Nicholson (2000NICHOLSON, Linda. 2000. “Interpretando o gênero”. Estudos Feministas , Florianópolis. Vol. 8, n. 2, p. 8-41.) e Donna Haraway (1995HARAWAY, Donna. 1995. “Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial”. Cadernos Pagu , Campinas, SP. Vol. 5, p. 07-41.) em textos seminais, nem o cruzamento de alguns marcadores sociais da diferença, como classe, cor/raça, sexualidade, como nos textos de Patricia Collins (1990COLLINS, Patricia H. 1990. “Black feminist thought in the matrix of domination”. In: COLLINS, Patricia H. Black feminist thought: knowledge, consciousness, and the politics of empowerment. Boston: Unwin Hyman. p. 221-238.), Floya Anthias (1998ANTHIAS, Floya. 1998. “Rethinking social divisions: some notes toward a theoretical framework”. The Sociological Review, United Kingdom. August 1998. Vol. 46, p. 505-535. ), Avtar Brah (2006BRAH, Avtar. 2006. “Diferenças, diversidade e diferenciação”. Cadernos Pagu, Campinas, SP. Nº 26, p. 329-376.) e Judith Butler (2003BUTLER, Judith. 2003. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 236 p.) - aqui pontuados pela visão construcionista,8 8 Ver Joan Scott (1990) e Carole Vance (1995). como algo criado na dinâmica social.

Entendemos também, refletindo sobre as dimensões de gênero, que estas se dão numa constante e não menos importante relação com o sexo, pois a primeira informação que temos sobre essa dimensão social (a do gênero) se estabelece a partir do olhar sobre a natureza ou o que convencionamos chamar de sexo.9 9 As perspectivas do debate entre natureza/cultura e sexo/gênero e sobre raça e etnicidade estão presentes nos trabalhos de Margareth Mead (1971), Sherry Ortner (1979), Michele Rosaldo (1979), Joan Scott (1990), Verena Stolcke (1991), Gayle Rubin e Judith Butler (2003), Donna Haraway (2004) e Ângela Figueiredo (2008). Portanto, as reflexões da filósofa Judith Butler (2003BUTLER, Judith. 2003. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 236 p.) são úteis para compreendermos de que forma os espaços sociais e a dinâmica cultural são informados pela heteronormatividade, que é responsável pela forma de ser e agir em sociedade. E mais, evoca uma forma de ser e agir corretamente na sociedade para homens e mulheres, assim como cria espaços sociais legítimos para estes dois gêneros, separando-os ontologicamente.

É também necessário refletir que a própria ciência cria discursos sobre os gêneros e as sexualidades. Donna Haraway (1995HARAWAY, Donna. 1995. “Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial”. Cadernos Pagu , Campinas, SP. Vol. 5, p. 07-41.) e Sandra Harding (2003HARDING, Sandra. 2003. “Ciência e tecnologia no mundo pós-colonial e multicultural: Questões de gênero”. Labrys, Estudos Feministas, Rio de Janeiro. Jan./jul. 2003. Nº 3. Disponível em: <Disponível em: http://www.labrys.net.br/labrys3/ web/bras/sandra1.htm > [Acesso em 13.10.2015].
http://www.labrys.net.br/labrys3/ web/br...
) mostram como os saberes localizados e o mundo da ciência e tecnologia, ou o campo científico, numa apropriação de Bourdieu, criam e reproduzem discursos que quando não dizem respeito a somente uma categoria de mulheres - as brancas, as estadunidenses, as europeias, as acadêmicas, as de classe média - acabam pondo de lado outras - as negras, as indígenas, as do “Sul” - ou apenas não contabilizando suas participações nos espaços de tomada de decisão e de constituição de saberes, como a academia ou a política.

No que diz respeito ao homem (heterossexual), ele só é considerado como tal quando apresenta a linearidade necessária para ser “homem de verdade” ou “macho mesmo”, ou seja, ter nascido com um pênis, comportar-se como homem e gostar de mulher.10 10 Peter Fry (1982) aponta essa construção de “macho” no modelo brasileiro, que é referido a partir do papel ativo (daquele que penetra, ou “come”) na relação sexual entre homens, por exemplo. Richard Parker (1991) apresenta um panorama parecido quando relata a “vida sexual” dos brasileiros em meados da década de 1990. Miguel Vale de Almeida (1995), ao falar do Alentejo, em Portugal, identifica uma construção social semelhante à experimentada no Brasil, onde homens e mulheres, a partir de uma dinâmica binária, são separados(as) e obrigados(as) a vivenciar espaços, sentimentos, emoções e profissões distintos exatamente pelas posições de gênero que ocupam. Butler (2003BUTLER, Judith. 2003. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 236 p.) aponta vários ruídos no campo da prática, da vida vivida, isto é, quando homens não gostam de mulheres, quando não querem se comportar como os outros homens, quando não querem se vestir como os outros homens, quando não gostam de futebol - este último componente bastante representativo na configuração do ser homem na sociedade brasileira.

Acrescentamos em relação às entrevistas realizadas que uma mesma pessoa pode fazer surgirem pelo menos duas possibilidades de roteiros sexuais: uma que se apresenta no espaço público, ajudando a construir uma identidade sociossexual aceitável, e outra que é construída no espaço privado, entre quatro paredes, ajudando a desorganizar as considerações acerca de uma única forma de ser heterossexual, por exemplo.

Ronaldo (30 anos), ao falar sobre o seu primeiro parceiro, explora a proposta de que ele, mesmo sendo heterossexual, mantém uma (dupla?) identidade sexual.

Eu acho que ele gostou mesmo de mim. Lógico, tem aquele ditado “jamais um homem vai se apaixonar por um outro homem”, né?! Mas agora ele tem mulher, tem a escolha dele, não briguei mais com ele. Aí, umas vezes, quando eu me encontro com ele assim, o que tem de rolar, rola. Aí, até a família dele soube também. Depois já me chamava de tia tudinho. Ele aceitava numa boa. Depois que a família dele soube também. Aí, a gente ficou curtindo até uns 19 anos. Ele é mais velho do que eu, eu tenho 30 e ele tem 32 agora.

(Trecho da entrevista com Ronaldo, 30 anos)

Este é um exemplo de como podemos perceber as fronteiras das identidades sociossexuais, e mais, quais pessoas habitam essa fronteira. Com exceção de Tales, Júlio e Ronaldo, que se autoidentificam como gays, alguns entrevistados, na dicotomia estabelecida e referendada entre o “mundo” heterossexual e o homossexual, apontaram que não manteriam relações com pessoas do mesmo sexo ou praticariam quaisquer atos (sexuais ou não) que pusessem suas masculinidades à prova, de acordo com as assertivas: “Eu não iria pra cama com uma pessoa do mesmo sexo!” (Ricardo, 25 anos); “Não curto fazer? Ai, fio-terra...” (Marcos, 28 anos); e “Não curto qualquer coisa que possa ferir a minha masculinidade, como o fio-terra”11 11 Sobre uma interpretação dos discursos e das práticas da masculinidade, ver Miguel Vale de Almeida (1995). Concernente à noção de papéis sexuais rígidos, ver Peter Fry e Edward MacRae (1991) e Richard Parker (1991). Por fim, a respeito da categoria “feminilidade” como expressão de estigma, ver Michel Misse (1981). (Pietro, 22 anos).

Assim, é notório que a heterossexualidade se dá em contraste e em oposição à homossexualidade, ou com atitudes que indicariam uma possível “condição homossexual” - como o ato de deixar sua bunda ser tocada,12 12 Em ensaio republicado em 2010, DaMatta adverte para os perigos representados pelo toque das nádegas presente numa brincadeira de seus tempos de “rapazinho” no interior mineiro, na década de 1950, e de como a representação do toque (e sua evitação) é para ele o molde e a socialização de um modelo de masculinidade. seja por mulher, seja (“pior ainda”) por outro homem. Então, toda e qualquer atitude ou possível pensamento sobre um envolvimento afetivo-sexual com outro homem é rechaçada(o). Esta é uma das formas como a heteronormatividade age sobre mentalidades e práticas.

É nesta conclusão que Michel Foucault (2007FOUCAULT, Michel. 2007 [1988]. História da Sexualidade 1: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal. 152 p. [1988]) se assenta, pois a modernidade teria trazido para o Ocidente, a partir da dimensão da construção da subjetividade, que os indivíduos deveriam ser pensados também a partir de sua sexualidade. Saber quem ou o que é objeto de desejo evidenciaria os traços da personalidade individual e colocaria o sujeito em níveis distintos de normalidade. E assim se estabeleceu uma dicotomia entre relações consideradas saudáveis ou normais e relações consideradas pervertidas ou anormais - heterossexualidade e homossexualidade, respectivamente.13 13 Considerações sobre esta passagem podem ser vistas também na entrevista de Foucault (2001) “Não ao sexo-rei”, presente na coletânea Microfísica do Poder.

A próxima sessão estará pautada no desejo erótico, ou no objeto do desejo, articulado ao marcador de cor/raça. Refletiremos sobre os vários discursos que interpelam os perfis desejáveis em torno das relações sexuais e, sobretudo, sobre o papel da branquitude14 14 É importante considerar como o debate sobre branquitude/branquidade/branqueamento no Brasil tem ganhado um considerável espaço nos estudos raciais, porém ainda em menor proporção se comparado aos estudos sobre negritudes e indígenas; estes muitas vezes ligados apenas aos debates sobre etnicidade. A urgência nessas análises é enxergar como o modelo branco brasileiro estabeleceu normas, prescrições e regulou a vida de populações não brancas no país a partir, por exemplo, do uso da cordialidade e de demais instrumentos de regulação. Para situar melhor o debate, ver: Sovik (2004), Cardoso (2010) e Schucman (2012). nesse contexto.

Não ter preferência de cor... Mas ter cor de preferência

Esta seção não tem a pretensão de explorar os caminhos e as trajetórias das discussões sobre a questão racial no Brasil. Sabendo que muito já foi dito - e muito ainda há por dizer - esta parte evidencia de que forma as questões raciais, como relações vividas e praticadas, informam e prescrevem os discursos sobre o desejo, ou sobre o objeto do desejo.15 15 Esta discussão ainda é pouco explorada nos estudos raciais brasileiros: a articulação entre raça e desejo. Embora tenha sido apontada como campo interessante de articulação entre discurso e prática, nós ainda carecemos de análises sociológicas mais articuladas sobre esta relação social e o modo como ela se estabelece atualmente. No entanto, uma breve exposição do que aqui consideramos como branquitude desejável servirá ao intento de mostrar como ainda sofremos os ecos do mito da democracia racial e de que forma ela se mostra tão eficaz na produção de sujeitos desejáveis.

Durante as entrevistas, e nas nossas conversas sobre as entrevistas, a questão racial apareceu sempre de forma transversal: fosse para saber como as(os) entrevistadas(os) se autoclassificavam em termos de cor/raciais, fosse para identificar a cor/raça das(os) primeiras(os) parceiras(os), ou de que forma elas(eles) consideravam essa escolha, assim como para identificar a percepção delas(eles) sobre questões raciais no universo microscópico das relações sexuais.

Nos últimos anos, o debate sobre a branquitude assumiu um destaque notável nas discussões raciais brasileiras. Por um lado, porque a academia, aos poucos, vem trazendo à baila a necessidade de se estudarem os discursos hegemônicos e, neste caso, compreender o que é ser branca(o) no Brasil, por outro lado, na trajetória dos estudos raciais no Brasil, a ênfase dada às questões da mulher negra e do homem negro não permitiu avançar no debate por ter criado uma dicotomia muito grande, por vezes tornando este debate exótico e criando subculturas negras no país da mestiçagem exaltada (Sovik, 2004SOVIK, Liv. 2004. “Aqui ninguém é branco: hegemonia branca no Brasil”. In: WARE, Vron. Branquidade: identidade branca e multiculturalismo. Rio de Janeiro: Garamond. p. 363-386.; Guimarães, 1999GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. 1999. Racismo e Antirracismo no Brasil. São Paulo: Ed. 34. 238 p., 2008; Pinho, 2008PINHO, Osmundo. 2008. “Introdução. A Antropologia no espelho da raça”. In: SANSONE, Lívio & PINHO, Osmundo (orgs.). Raça: novas perspectivas antropológicas . Salvador: Associação Brasileira de Antropologia /Edufba. p. 9-23.; Schwarcz, 1993SCHWARCZ, Lilia. 1993 O espetáculo das raças. Cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras. 268 p., 1998SCHWARCZ, Lilia. 1998. “Nem preto, nem branco muito pelo contrário: raça, cor e identidade na intimidade brasileira”. In: SCHWARCZ, Lilia (org.). História da vida privada IV. São Paulo: Companhia das Letras . p. 45-63., 2009SCHWARCZ, Lilia. 2009. “Racismo ‘à brasileira’”. In: ALMEIDA, Heloísa Buarque de & SZWAKO, José (orgs.). Diferenças, igualdade. São Paulo: Berlendis & Vertecchia . p. 70-115.; Paixão & Carvano, 2008PAIXÃO, Marcelo & CARVANO, Luiz. 2008. “Censo e Demografia. A variável cor ou raça no interior dos sistemas censitários brasileiros”. In: SANSONE, Lívio & PINHO, Osmundo (orgs.). Raça: novas perspectivas antropológicas . Salvador: Associação Brasileira de Antropologia /Edufba. p. 25-61.).

Nesse contexto, é preciso considerar que ser branca(o) ou ter fenótipos que se aproximem desse marcador e ter na branquitude uma resposta aos problemas sociais e raciais são aspectos que têm sido apresentados ao longo da história brasileira como a única alternativa para um “país que não se leva a sério” (Schwarcz, 2009SCHWARCZ, Lilia. 2009. “Racismo ‘à brasileira’”. In: ALMEIDA, Heloísa Buarque de & SZWAKO, José (orgs.). Diferenças, igualdade. São Paulo: Berlendis & Vertecchia . p. 70-115.; Miskolci, 2012MISKOLCI, Richard. 2012. O desejo da nação: masculinidade e branquitude no Brasil de fins do XIX. São Paulo: Annablume. 208 p.). Feijoada e samba, por exemplo, aparecem na história como elementos da cultura afro-brasileira que foram alçados ao patamar de símbolos nacionais e esvaziados de seus sentidos originais - como símbolos de resistência e ressignificação - criando e possibilitando a percepção de que as culturas branca, negra e indígena se integram no espaço e no tempo e que por isso não deveríamos importar para o nosso sistema racial os modelos raciais americanos, que na nossa visão seriam mais discriminatórios (Schwarcz, 2009SCHWARCZ, Lilia. 2009. “Racismo ‘à brasileira’”. In: ALMEIDA, Heloísa Buarque de & SZWAKO, José (orgs.). Diferenças, igualdade. São Paulo: Berlendis & Vertecchia . p. 70-115.; Guimarães, 2008GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. 2008. “Cor e Raça. Raça, cor e outros conceitos analíticos”. In: SANSONE, Lívio & PINHO, Osmundo (orgs.). Raça: novas perspectivas antropológicas. Salvador: Associação Brasileira de Antropologia /Edufba. p. 63-82.).

Na hibridação, na mistura mítica destas três raças (naquilo que costumamos chamar de mestiçagem), apareceria o brasileiro (DaMatta, 1987DAMATTA, Roberto. 1987. Digressão: “A fábula das três raças, ou o problema do racismo à brasileira”. In: DAMATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à Antropologia Social. Rio de Janeiro: Rocco. p. 58-85.), povo cujos hábitos e costumes seriam representados em esfera internacional a partir de uma convivência pacífica e cordial entre raças distintas. E é esse o efeito que o mito da democracia racial causa em nós, brasileiras(os): que nossas relações com pessoas de diferentes matizes de cor/raciais se dão cordialmente e que somos um povo isento de preconceito racial, mascarando o racismo que se apresenta de variadas formas e tipos, impossibilitando, por exemplo, o sucesso escolar ou a ascensão funcional de trabalhadoras(es) negras(os) a partir de uma chave que enxerga na branquitude (através de tentativas de embranquecimento) a resposta para ser mais aceita(o), mais benquista(o), mais amada(o), criando assim entrepostos raciais como a(o) parda(o), a(o) mulata(o) e a(o) morena(o) - este último termo sendo constantemente evocado na autoclassificação paraense16 16 Ver Ribeiro (2012). - que aproximariam essas pessoas do polo mais claro (branca(o) e as afastariam do polo mais escuro (negra(o): (Schwarcz, 2009SCHWARCZ, Lilia. 2009. “Racismo ‘à brasileira’”. In: ALMEIDA, Heloísa Buarque de & SZWAKO, José (orgs.). Diferenças, igualdade. São Paulo: Berlendis & Vertecchia . p. 70-115., 2011SCHWARCZ, Lilia. 2011. Parte 5 - “Cultura”. In: COSTA e SILVA, Alberto (coord.). História do Brasil Nação: 1808-2010. Vol. 1: Crise Colonial e Independência 1808-1830. Madri: Fundación Mapfre ; Rio de Janeiro: Objetiva . p. 205-247., 2012SCHWARCZ, Lilia. 2012. Parte 1 - “População e Sociedade”. In: SCHWARCZ, Lilia (coord.). História do Brasil Nação: 1808-2010. Vol. 3: A Abertura para o Mundo 1889-1930. Madri: Fundación Mapfre ; Rio de Janeiro: Objetiva . p. 35-83.; Miskolci, 2012MISKOLCI, Richard. 2012. O desejo da nação: masculinidade e branquitude no Brasil de fins do XIX. São Paulo: Annablume. 208 p.; Costa e Silva, 2011COSTA E SILVA, Alberto. 2011. Parte 1 - “População e Sociedade”. In: COSTA E SILVA, Alberto (coord.). História do Brasil Nação: 1808-2010. Vol. 1: Crise Colonial e Independência 1808-1830. Madri: Fundación Mapfre ; Rio de Janeiro: Objetiva . p. 35-73.; Carvalho, 2012CARVALHO, José Murilo de. 2012. Parte 2 - “A vida política”. In: CARVALHO, José Murilo de (coord.). História do Brasil Nação: 1808-2010. Vol. 2: A Construção Nacional 1830-1889 . Madri: Fundación Mapfre ; Rio de Janeiro: Objetiva . p. 83-129.; Bosi, 2012BOSI, Alfredo. 2012. Parte 5 - “Cultura”. In: CARVALHO, José Murilo de (coord.). História do Brasil Nação: 1808-2010. Vol. 2: A Construção Nacional 1830-1889. Madri: Fundación Mapfre; Rio de Janeiro: Objetiva. p. 225-279.; DaMatta, 1987DAMATTA, Roberto. 1987. Digressão: “A fábula das três raças, ou o problema do racismo à brasileira”. In: DAMATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à Antropologia Social. Rio de Janeiro: Rocco. p. 58-85.; Skidmore, 1976SKIDMORE, Thomas. 1976. Preto no branco. Raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra . 400 p.).

A partir da chave do desejo erótico é possível compreender nosso argumento acima. Ainda que as(os) entrevistadas(os) tenham dito que não faziam diferença no que diz respeito à cor/raça de suas(seus) parceiras(os), uma das primeiras lembranças era em relação à cor/raça:

Pesquisador: E retornando à sua primeira vez. Como ela era?

Roberto: Ela era branca, tinha os olhos meio claros assim, ela era um pouco mais alta do que eu, pouca coisa mais alta do que eu...

(Trecho da entrevista com Roberto, 16 anos)

Pesquisador: Retomando a sua primeira vez. Como ela era?

Ricado: Ela era loura, mais ou menos da minha altura. Não! Da tua altura mais... ou menos assim. Acho que 1,70m, por aí... Loura, bonita...

(Trecho da entrevista com Ricardo, 25 anos)

Talvez estes trechos sejam interessantes para pensarmos como o ideal de parceira(o), aliado ao ideal de beleza, ainda é condição intrinsecamente ligada à cor branca, ou de que forma a branquitude continua a carregar as idealizações postas nos idos do século XIX, através do racismo científico, que traria a beleza a reboque da racionalidade e da inteligência, uma vez que as(os) interlocutoras(es) acima são pardas(os) e negras(os), de acordo com suas autodeterminações, e ressaltaram a cor/raça de suas(seus) parceiras(os) como dado importante para entendermos as dinâmicas raciais na capital paraense.17 17 Para algumas considerações sobre como operam as categorias cor e raça em Belém, ver Ribeiro (2012).

A conquista de uma(um) parceira(o) de outra cor/raça seria também uma forma de mostrar presteza na arte da conquista ou evidenciar o quanto se é desejável, em função de sua condição racial, para outras raças,18 18 Moutinho (2006) apresenta algumas das possibilidades de negociação de afetos e prazeres a partir da cor na etnografia realizada com homens cariocas. num duplo processo que envolve, mais uma vez, o mito da democracia racial e o racismo: como quando pensamos na forma galante e simpática do negro - por vezes embrutecido - ou nas proporções dos genitais e no desejo exacerbado por sexo, ligando a(o) negra(o) ao instinto, à natureza.

Outros discursos são apresentados pelas(os) entrevistadas(os), como a ideia de complementaridade que a cor branca lhes traria:

Pesquisador: Você acha que a cor do seu parceiro foi importante pra sua escolha na primeira vez?

Ronaldo: Pra mim foi, que até hoje eu adoro branco [risos]

Pesquisador: Qual a cor dos parceiros, geralmente?

Ronaldo: É mais branco. Sem preconceitos!

Pesquisador: Você acha que a cor dos seus parceiros influencia nas escolhas dos seus relacionamentos atuais?

Ronaldo: Pra mim, sim!

Pesquisador: Por quê?

Ronaldo: Porque eu não gosto muito assim de moreno. Porque eu já sou uma pessoa morena. Eu acho que não ia dar rock entre [mim] e ele. Agora uma pessoa branquinha comigo era melhor ainda, faz mais meu jeito.

(Trecho da entrevista com Ronaldo, 30 anos).

A fala acima evidencia de que forma a cor/raça branca ainda predomina no imaginário como aquela que é legítima ou de preferência para a manutenção de relações ou relacionamentos sérios - como o namoro e o casamento - com mulheres e homens que se comportem segundo os padrões estabelecidos social e culturalmente para esses gêneros. Tal como argumenta Osmundo Pinho (2007PINHO, Osmundo. 2007. “A ‘fiel’, a ‘amante’ e o ‘jovem macho sedutor’: sujeitos de gênero na periferia racializada”. Revista Saúde e Sociedade, São Paulo. Vol. 16, n. 2, p. 133-145., p. 135), quando são evidenciadas as interseções entre diversos marcadores, devemos considerar

[...] as categorias de raça e gênero, ou a raça e o gênero vividos praticamente pela atuação dos sujeitos, como categorias pragmáticas de reprodução de relações de poder de dominação e não como objetos estáveis. As estruturas práticas e as categorias sociais - simbólicas por definição - são o modelo para a reprodução de padrões estruturais de desigualdade. Vividas individualmente no nível da experiência, estruturas de raça e gênero, na verdade, produzem literalmente os agentes como indivíduos racializados ou de gênero, ou interseccionalmente racializados e de gênero - e os seus corpos como corpos gendered e racializados. Essas estruturas são tanto materiais, ancoradas no mundo material e sobredeterminadas, como simbólicas.

Desta forma, as considerações acerca da escolha de parceiras(os) sexuais devem ser observadas nas falas anteriores como mais um exemplo da eficácia do mito da democracia racial, quando permite visualizar que a beleza é um aspecto relevante na escolha - e também outros atributos físicos, como cor da pele, cor dos cabelos, forma do corpo. Porém, essa circunstância se relaciona de forma inexorável à condição racial do objeto do desejo, ao menos nos casos aqui observados.

“Foi bom pra você?”: reflexões finais

Nosso percurso entre “centros” e “periferias” de Belém evidenciou práticas e dizeres sobre iniciação sexual que de algum modo se cruzaram ao longo da pesquisa. O ponto de vista relacional que conectou tais lugares nos fez perceber, por exemplo, que convenções sexuais a respeito do imediatismo da “primeira vez” para homens e de uma elaboração minuciosa sobre a “primeira vez” para mulheres (lógicas de explicação recorrentes tanto no “centro” quanto na “periferia” por parte das(os) entrevistadas(os)) esbarram menos em uma uniformidade cultural/estrutural de algo que esteja vinculado ao “centro” ou à “periferia”, e mais em uma explicação que é refletida quase sempre através da criação familiar, ou seja, a partir do que cada uma(um) aprendeu durante o convívio com a família de origem.

Não obstante esta família de origem nem sempre se valer de um conhecimento técnico para tratar de temas como sexualidade e iniciação sexual com as(os) filhas(os), principalmente nos casos das(os) jovens que saíram do interior do Pará e foram morar em Belém, na CEUP, e “acabaram descobrindo a vida sexual”, ainda assim são os primeiros ensinamentos nessas famílias - exigências quanto ao que seja certo e ao que seja errado - que iluminaram tais descobertas sexuais.

Nas entrevistas com homens moradores do Guamá, a menção à “primeira vez” teve algo de prático, de imediato, mesmo quando já havia uma relação com a(o) primeira(o) parceira(o) - como no caso de Ronaldo, Marcos e Roberto - à exceção de Ricardo, que teve sua primeira vez com uma garota de programa. A este respeito, lembramos o texto de Maria Luiza Heilborn (1998HEILBORN, Maria Luiza. 1998. “A primeira vez nunca se esquece: trajetórias sexuais masculinas”. Revista Estudos Feministas. Vol. 6, n. 2, p. 394-405. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ,.), quando ela diferencia a forma como homens e mulheres experimentam e criam imaginários sobre as(os) primeiras(os) parceiras(os): as mulheres sonhando com o príncipe encantado, e os homens não estabelecendo critérios para isso. E é aí que essas pesquisas se aproximam: informando um tipo de imaginário que separa homens e mulheres na idealização do objeto do desejo.

Osmundo Pinho (2007PINHO, Osmundo. 2007. “A ‘fiel’, a ‘amante’ e o ‘jovem macho sedutor’: sujeitos de gênero na periferia racializada”. Revista Saúde e Sociedade, São Paulo. Vol. 16, n. 2, p. 133-145., 2008), por outro lado, cruza raça, gênero e sexualidade e nos ajuda a pensar sobre como nós, homens - heterossexuais, homossexuais, bissexuais - ainda somos informados pela lógica da atividade do que “come” - seja quem for - e do desejo, independente do que aconteça, de ter suas necessidades realizadas - ênfase na prática sexual. Por isso, determinados homens no Rio de Janeiro, em Belém e nas demais capitais não percebem tão claramente as assimetrias de gênero e continuam reproduzindo o papel de macho dominador.

Ratificamos, então, que a relevância desta pesquisa se deu por mostrarmos de que formas as(os) jovens de camadas médias e populares vivenciam suas sexualidades nesta cidade ainda pouco conhecida, e muitas vezes exotizada, mesmo nos discursos acadêmicos, que é a cidade de Belém (PA). Diferentemente de outras cidades brasileiras, em Belém é possível observar inúmeros paradoxos: o mais candente talvez seja a eterna relação entre o moderno e o tradicional; ou talvez a mais exemplar, e fruto de muitos trabalhos: a relação entre os mundos urbano e rural; ou, como preferimos dizer, os mundos da cidade e o do ribeirinho, numa eterna polarização e interseção que faz da cidade de Belém algo particular diante de outras cidades do país.

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  • 1
    “Roteiro sexual” foi o termo que inspirou o problema da pesquisa. Porém, nos limitava a pensar de que forma as(os) jovens aderiam a novos comportamentos sexuais, que podem incluir ou não o uso de tecnologias informacionais (como chats e blogs) ou brinquedos eróticos (como vibradores, algemas, próteses penianas), além de filmes e sites especializados em pornografia; a ideia de “roteiro sexual” advém do livro Sexual conduct: The social of sources of human sexuality, organizado por John Gagnon e William Simon (1973).
  • 2
    Utilizamos “centro”, “periferia” e suas derivações entre aspas por dois motivos: I. esta é uma etnografia que atravessa lugares e espaços citadinos distintos e por isso compreende a não reificação do uso destes termos; II. por se tratar de dinâmicas de (des)centralidade, as noções de “centro” e “periferia” são contextuais e temporais (Frúgoli Jr., 2000FRÚGOLI JÚNIOR, Heitor. 2000. Centralidade em São Paulo: trajetórias, conflitos e negociações na metrópole. São Paulo: Cortez/Editora da Universidade de São Paulo. 254 p.; Facchini, 2008FACCHINI, Regina. 2008. Entre umas e outras: mulheres, (homo)sexualidades e diferenças na cidade de São Paulo. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Unicamp, SP.; Simões et al., 2010SIMÕES, Júlio Assis et al. 2010. “Jeitos de corpo: cor/raça, gênero, sexualidade e sociabilidade juvenil no centro de São Paulo”. Cadernos Pagu , Campinas, SP. Nº 35, p. 37-78.; Feltran, 2011FELTRAN, Gabriel de Santis. 2011. Fronteiras de tensão: política e violências nas periferias de São Paulo. São Paulo: Editora Unesp/CEM/Cebrap. 376 p.; França, 2012FRANÇA, Isadora Lins. 2012. Consumindo lugares, consumindo nos lugares: homossexualidade, consumo e subjetividades na cidade de São Paulo. Rio de Janeiro: EdUERJ. 282 p.; Puccinelli, 2013PUCCINELLI, Bruno. 2015. “Rua declinada no masculino: sexualidades, mercado imobiliário e masculinidades no Centro de São Paulo (Brasil)”. Revista Punto Género, Chile. Nº 6, p. 113-126., 2015PUCCINELLI, Bruno. 2013. Se essa rua fosse minha: sexualidade e apropriação do espaço na “rua gay” de São Paulo. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Universidade Federal de São Paulo, Guarulhos, SP.; Rocha, 2013ROCHA, Ane Talita da S. 2013. Construindo desejos e diferenças: uma etnografia da cena indie rock paulistana. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade de São Paulo.; Reis, 2014aREIS, Ramon. 2014a. “Entre Fluxos e Contrafluxos, ‘Periferias’ e ‘Centros’: descentralizando sociabilidades homossexuais na cidade de São Paulo”. Gênero na Amazônia, Belém. Nº 6, p. 63-90., 2015bREIS, Ramon. 2015b. “Sobre espaços e sociabilidades homossexuais entre Belém e São Paulo”. In: CANCELA, Cristina Donza; MOUTINHO, Laura & SIMÕES, Júlio Assis (orgs.). Raça, etnicidade, sexualidade e gênero: em perspectiva comparada. São Paulo: Terceiro Nome. p. 61-85.).
  • 3
    A perspectiva trazida pela antropologia reflexiva nos permite explorar os limites e as tensões estabelecidos em campo. Os textos de Roberto Cardoso de Oliveira, presentes em O trabalho do antropólogo (2006OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. 2006. O trabalho do antropólogo. Brasília: Paralelo; São Paulo: Editora Unesp . 222 p.), servem para revisitarmos tanto as etapas que precedem o próprio trabalho de campo quanto os momentos posteriores, como a fase da escrita, por exemplo. Porém, cabe destacar o trabalho reflexivo e importante de James Clifford (2011CLIFFORD, James. 2011. “Sobre a autoridade etnográfica”. In: CLIFFORD, James. A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX. Rio de Janeiro: Editora UFRJ. p. 17-58.) que, através da perspectiva “nativo/pesquisador”, consegue pontuar a experiência etnográfica como um campo de disputa de autoridade e legitimidade.
  • 4
    Por uma questão ética, todos os nomes das(os) interlocutoras(es) são fictícios.
  • 5
    Gonçalves e Knauth observam que: “Se visualizarmos que o prolongamento da juventude está atrelado somente aos estudos e à inserção procrastinada no mercado de trabalho, de fato, nesse universo não há condições de prolongamento de a fase juvenil ocorrer. A gravidez seria uma das formas de ingresso feminino no mundo adulto, de maior liberdade, de ruptura com a própria adolescência, dependente e controlada socialmente” (p. 634).
  • 6
    Utilizamos este termo na tentativa de fazer uma analogia com a unidade do dispositivo de sexualidade e poder descrito por Michel Foucault (2007 [1988]).
  • 7
    Na maior parte desses casos, “a primeira relação sexual é vista como um rito de passagem, que implica a perda de uma condição sexual para a aquisição de outra” (Altmann, 2007, p. 342ALTMANN, Helena. 2007. “Educação sexual e primeira relação sexual: entre expectativas e prescrições”. Estudos Feministas, Florianópolis. Maio-ago. 2007. Nº 15 (2), p. 333-356, ).
  • 8
    Ver Joan Scott (1990SCOTT, Joan. 1990. “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. Revista Educação e Realidade, Porto Alegre. Vol. 15, n. 2, p. 5-22.) e Carole Vance (1995VANCE, Carole. 1995. “A Antropologia redescobre a sexualidade: um comentário teórico”. Physis - Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro. Vol. 5, n. 1, p. 7-32.).
  • 9
    As perspectivas do debate entre natureza/cultura e sexo/gênero e sobre raça e etnicidade estão presentes nos trabalhos de Margareth Mead (1971MEAD, Margaret. 1971. Macho e fêmea: um estudo dos sexos num mundo em transformação. Petrópolis: Vozes. 318 p.), Sherry Ortner (1979ORTNER, Sherry . 1979. “Está a mulher para o homem assim como o sexo para a cultura?”. In: ROSALDO, Michelle & LAMPHERE, Loise (orgs.). A mulher, a cultura e a sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra. p. 95-120.), Michele Rosaldo (1979ROSALDO, Michelle. 1979. “A mulher, a cultura e a sociedade: uma revisão teórica”. In: ROSALDO, Michelle & LAMPHERE, Loise (orgs.). A mulher, a cultura e a sociedade . Rio de Janeiro: Paz e Terra . p. 185-204.), Joan Scott (1990SCOTT, Joan. 1990. “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. Revista Educação e Realidade, Porto Alegre. Vol. 15, n. 2, p. 5-22.), Verena Stolcke (1991STOLCKE, Verena. 1991. “Sexo está para gênero assim como raça para etnicidade?”. Estudos Afro-Asiáticos, Rio de Janeiro. Nº 20, p. 101-119.), Gayle Rubin e Judith Butler (2003RUBIN, Gayle & BUTLER, Judith. 2003. “Tráfico sexual: entrevista”. Cadernos Pagu , Campinas, SP. Nº 21, p. 157-209.), Donna Haraway (2004HARAWAY, Donna. 2004. “‘Gênero’ para um dicionário marxista: a política sexual da palavra”. Cadernos Pagu , Campinas, SP. Vol. 22, p. 201-246.) e Ângela Figueiredo (2008FIGUEIREDO, Ângela. 2008. “Dialogando com os estudos de gênero e raça no Brasil”. In: SANSONE, Lívio & PINHO, Osmundo (orgs.). Raça; novas perspectivas antropológicas. Salvador: Associação Brasileira de Antropologia/ Edufba. p. 237-255.).
  • 10
    Peter Fry (1982FRY, Peter. 1982. “Da hierarquia à igualdade: a construção histórica da homossexualidade no Brasil”. In: FRY, Peter. Para inglês ver: identidade e política na cultura brasileira. Rio de Janeiro: Zahar. p. 87-115.) aponta essa construção de “macho” no modelo brasileiro, que é referido a partir do papel ativo (daquele que penetra, ou “come”) na relação sexual entre homens, por exemplo. Richard Parker (1991PARKER, Richard. 1991. Corpos, prazeres e paixões - A cultura sexual no Brasil contemporâneo. São Paulo: Editora Best Seller. 295 p.) apresenta um panorama parecido quando relata a “vida sexual” dos brasileiros em meados da década de 1990. Miguel Vale de Almeida (1995VALE DE ALMEIDA, Miguel. 1995. Senhores de si: uma interpretação antropológica da masculinidade. Lisboa: Fim de Século. 264 p.), ao falar do Alentejo, em Portugal, identifica uma construção social semelhante à experimentada no Brasil, onde homens e mulheres, a partir de uma dinâmica binária, são separados(as) e obrigados(as) a vivenciar espaços, sentimentos, emoções e profissões distintos exatamente pelas posições de gênero que ocupam.
  • 11
    Sobre uma interpretação dos discursos e das práticas da masculinidade, ver Miguel Vale de Almeida (1995VALE DE ALMEIDA, Miguel. 1995. Senhores de si: uma interpretação antropológica da masculinidade. Lisboa: Fim de Século. 264 p.). Concernente à noção de papéis sexuais rígidos, ver Peter Fry e Edward MacRae (1991FRY, Peter & MACRAE, Edward. 1991. O que é homossexualidade? São Paulo: Brasiliense. 125 p.) e Richard Parker (1991). Por fim, a respeito da categoria “feminilidade” como expressão de estigma, ver Michel Misse (1981MISSE, Michel. 1981. O estigma do passivo sexual: um símbolo de estigma no discurso cotidiano. Rio de Janeiro: Achiamé. 72 p.).
  • 12
    Em ensaio republicado em 2010DAMATTA, Roberto. 2010. “Tem pente aí? Reflexões sobre a identidade masculina”. Enfoques - Revista Eletrônica dos alunos do PPGSA/IFCS/UFRJ. Vol. 9, n. 1, p. 134-151., DaMatta adverte para os perigos representados pelo toque das nádegas presente numa brincadeira de seus tempos de “rapazinho” no interior mineiro, na década de 1950, e de como a representação do toque (e sua evitação) é para ele o molde e a socialização de um modelo de masculinidade.
  • 13
    Considerações sobre esta passagem podem ser vistas também na entrevista de Foucault (2001FOUCAULT, Michel. 2001. “Não ao sexo-rei”. In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal . p. 229-248.) “Não ao sexo-rei”, presente na coletânea Microfísica do Poder.
  • 14
    É importante considerar como o debate sobre branquitude/branquidade/branqueamento no Brasil tem ganhado um considerável espaço nos estudos raciais, porém ainda em menor proporção se comparado aos estudos sobre negritudes e indígenas; estes muitas vezes ligados apenas aos debates sobre etnicidade. A urgência nessas análises é enxergar como o modelo branco brasileiro estabeleceu normas, prescrições e regulou a vida de populações não brancas no país a partir, por exemplo, do uso da cordialidade e de demais instrumentos de regulação. Para situar melhor o debate, ver: Sovik (2004), Cardoso (2010CARDOSO, Lourenço. 2010. “Branquitude acrítica e crítica: a supremacia racial e o branco antirracista”. Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales. Vol. 8, n. 1, p. 607-630.) e Schucman (2012SCHUCMAN, Lia. 2012. Entre o “encardido”, o “branco” e o “branquíssimo”: raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade de São Paulo.).
  • 15
    Esta discussão ainda é pouco explorada nos estudos raciais brasileiros: a articulação entre raça e desejo. Embora tenha sido apontada como campo interessante de articulação entre discurso e prática, nós ainda carecemos de análises sociológicas mais articuladas sobre esta relação social e o modo como ela se estabelece atualmente.
  • 16
    Ver Ribeiro (2012RIBEIRO, Alan Augusto. 2012. “Sobre uma ‘pedagogia da morenidade’: gênero e mestiçagem entre estudantes de duas escolas de Belém do Pará”. Veras - Revista Acadêmica de Educação. Vol. 2, n. 1, p. 114-129.).
  • 17
    Para algumas considerações sobre como operam as categorias cor e raça em Belém, ver Ribeiro (2012).
  • 18
    Moutinho (2006MOUTINHO, Laura. 2006. “Negociando com a adversidade: reflexões sobre ‘raça’, (homos)sexualidade e desigualdade social no Rio de Janeiro”. Estudos Feministas , Florianópolis. Vol. 14, n. 1, p. 103-116.) apresenta algumas das possibilidades de negociação de afetos e prazeres a partir da cor na etnografia realizada com homens cariocas.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2017

Histórico

  • Recebido
    11 Dez 2015
  • Aceito
    07 Fev 2017
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