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A subjetividade como reflexividade e pluralidade: notas sobre a centralidade do sujeito nos processos sociais

Subjectivity as reflexivity and plurality: notes on the centrality of the subject in social processes

Resumo

Este ensaio maneja o referencial teórico que fundamenta uma concepção do sujeito como agente reflexivo e plural. Nossa intenção é apresentar alguns autores e correntes que têm contribuído para a formulação e compreensão da pluralidade e reflexividade do sujeito. A partir de uma discussão bibliográfica, tomaremos aspectos das pesquisas de vários autores como evidência de que - quaisquer que sejam as linhas teóricas dos autores citados - vários estudiosos têm apontado para a reflexividade e pluralidade constitutivas do ator social. Concluímos que (a) das pluralidades múltiplas presentes na sociedade contemporânea, pode-se derivar a pluralidade dos processos de subjetivação atinentes aos sujeitos sociais; e que (b) diversos autores apontam para a centralidade desse sujeito reflexivo nos processos sociais nos quais ele se insere.

Palavras-chave
Sujeito; Subjetividade; Reflexividade; Pluralidade; Socialização

Abstract

This essay deals with the theoretical framework that underlies a conception of the subject as a plural and reflexive agent. Our intention is to present some authors and strands that have contributed to the formulation and understanding of the plurality and reflexivity of the subject. Based on a critical review of literature, we discuss aspects presented in various researches as evidence that - whatever the theoretical strands of referred authors - several scholars have pointed to the reflexivity and plurality as constitutive of social actors. We finally argue that (a) the multiple pluralities present in contemporary society allow to imply the plurality of subjectivation processes concerning to social subjects; (b) several authors point out the centrality of this reflexive subject in the social processes in which he is inserted.

Keywords
Subject; Subjectivity; Reflexivity; Plurality; Socialization

Introdução

Qual é a relação entre o “homo sociologicus” e o “psychological man”? (Dahrendorf, 1969, p. 56)

Este ensaio teórico maneja textos de diversos autores, que nos permitem formular uma concepção do sujeito como agente reflexivo e plural. Nossa intenção é apresentar como tais autores e suas pesquisas têm contribuído para uma formulação e compreensão da pluralidade (em termos de constituição identitária) e reflexividade (em termos de procedimentos cognitivos) do sujeito, embora muitos deles não tenham chegado a uma formulação explícita (ou intencional) desse quadro. Objetivamos mostrar que há uma progressiva compreensão, na teoria social, de que o sujeito consiste num ator reflexivo dotado de uma pluralidade constitutiva de si. E que tais evidências apontam para uma centralidade do sujeito no cerne dos processos sociais nos quais se insere.

O esforço cognitivo de articular autores, inclusive com diferentes abordagens teóricas, busca extrair evidências (presentes nas elaborações teóricas e empíricas desses autores) para a formulação da noção de um sujeito reflexivo, pluralmente constituído. Neste diálogo, não nos preocuparemos em informar a tradição teórica dos autores mencionados, fundamentados na proposta de Berthelot (2005BERTHELOT, Jean-Michel. Sociologia, história e epistemologia. Rio Grande do Sul/Lisboa: Editora Unijuí/CEOS, 2005.) de analisar como as posições das diversas correntes sociológicas são colocadas em prática na pesquisa:

[...] o que é que nos garante, quando apresentamos uma análise, que não dizemos uma coisa qualquer? Haverá, na diversidade de abordagens e metodologias, um certo número de grandes opções lógicas e teóricas? Se sim, como exprimir e clarificar o trabalho de análise e de pensamento que elas comandam? [...] [Devemos procurar] [...] responder a estas questões [...] não através da análise dos discursos, mas através da análise das práticas [...]. Mais precisamente: o modo como as correntes sociológicas tematizam e justificam as suas posições é uma coisa; o modo como as põem em prática, no tratamento dos objetos é outra. Tal diferença, proclamada ou exibida, para se demarcar, revela-se, na prova dos fatos, secundária ou puramente terminológica. (Berthelot, 2005BERTHELOT, Jean-Michel. Sociologia, história e epistemologia. Rio Grande do Sul/Lisboa: Editora Unijuí/CEOS, 2005., p.14-15).

Assim, embora estejamos cientes de que é recomendável, quase sempre, que cada declaração de um autor seja interpretada a partir da linha teórica à qual ele está filiado (ao menos em sua própria percepção), é possível tomar excertos de seus textos como evidência de que, às vezes, traindo a linha teórica à qual o autor se afilia (Berthelot, 2005BERTHELOT, Jean-Michel. Sociologia, história e epistemologia. Rio Grande do Sul/Lisboa: Editora Unijuí/CEOS, 2005.), o que a sua pesquisa informa pode estar além das conclusões que o mesmo formula de maneira explícita. Portanto, outros pesquisadores podem ampliar as formulações originais de um autor para além do escopo que ele mesmo adotou (Billig, 1987BILLIG, Michael. Arguing and Thinking: A Rhetorical Approach to Social Psychology. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.; Geertz, 2002GEERTZ, Clifford. Obras e vidas: o antropólogo como autor. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2002.).

As noções de subjetividade(s)

A “subjetividade” tem sido compreendida como atividade sobre si mesmo, assunção de si perante o mundo, agência pessoal, a capacidade de fazer ser para si aquilo que não é, autorreferência, autofinalidade, autointeresse e pessoalidade, ipseidade (cf. Touraine, 1996TOURAINE, Alain. O retorno do actor. Lisboa: Instituto Piaget, 1996.; Gonzáles Rey, 2005GONZÁLES REY, Fernando. Pesquisa qualitativa e subjetividade. São Paulo: Pioneira Thomson, 2005.; Castoriadis, 2007CASTORIADIS, Cornélius. Sujeito e verdade no mundo social histórico. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2007.). Como escreve Martuccelli (2007, p.25MARTUCCELLI, Danilo. Cambio de rumbo. La sociedad a escala del individuo. Santiago de Chile: LOM, 2007.), “pela subjetivação o indivíduo se converte em ator para fabricar-se como sujeito.”. Os termos “subjetividade”, “self”, “personalidade” e “identidade” têm sido utilizados de modo intercambiável por vários autores clássicos (Mead, 1968MEAD, George. H. Espíritu, persona y sociedad: desde el punto de vista del conductismo social. 1ª edición, Buenos Aires, Editorial Paidós, 1968.; James, 1968JAMES, Willian. The self. In: GORDON, Chad; GERGEN, Kenneth J. The self in social interaction. (Volume I-Classic of contemporary perspectives). New York/London/Sydney/ Toronto: John Wiley& Sons Inc., 1968. p. 41-49.) e contemporâneos (Ricoeur, 2002RICOEUR, Paul. O único e o singular. São Paulo/Belém: Editora UNESP/ Editora UEPA, 2002.; Martuccelli, 2007FABRI, Marcelo. Entre unidade e pluralidade: Husserl e o sujeito racionalmente motivado. In: BATTISTI, César Augusto. (Org.). Às voltas com a questão do sujeito: posições e perspectivas. Cascavel, PR/Ijuí, RS: Editora da Unioeste/Editora UNIJUÍ, 2010. p. 269-283.; Giddens, 2009GIDDENS, Anthony. Consciência, self e encontros sociais. In: GIDDENS, A. A constituição da sociedade. São Paulo: Editora Martins Fontes , 2009. p. 47-128).

O termo “identidade” é dotado de uma carga teórica polivalente (Brubaker; Cooper, 2000BRUBAKER, Roger; COOPER, Frederick. Beyond Identity. Theory & Society. n. 29, p. 01-47, 2000., p. 39), uma vez que a concepção de “identidade” pode ser tomada tanto em sentido amplo - como afinidades (cognitivas ou emotivas), afiliações comunitárias, formas de pertencimento, experiências grupais e representativas, conexões, laços e vínculos, o que se “compartilha com” ou se “diferencia de” (Brubaker; Cooper, 2000BRUBAKER, Roger; COOPER, Frederick. Beyond Identity. Theory & Society. n. 29, p. 01-47, 2000.; Hall, 2005HALL, Stuart. A identidade cultural da pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2005.) - quanto no sentido restrito de autocompreensão tácita (Brubaker; Cooper, 2000BRUBAKER, Roger; COOPER, Frederick. Beyond Identity. Theory & Society. n. 29, p. 01-47, 2000.) e autoidentificação explícita (Erikson, 1972ERIKSON, Erik. H. Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.; Dubar, 2005DUBAR, Claude. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. São Paulo: Martins Fontes, 2005.; Burke; Stets, 2009BURKE, Peter J.; STETS, Jan E. Identity Theory. New York: Oxford University Press, 2009.). Desse modo, a construção identitária é ipseidade, uma emergência relacionada à interação com o outro, num jogo especular movimentado por identificações, processos de subjetivação sempre abertos, não havendo uma identidade fixa, embora exista uma estabilidade fundamental do sujeito consciente: o seu centro de monitoramento reflexivo denominado “consciência” (Searle, 1983SEARLE, John. R. Intentionality: An essay in the philosophy of mind. Cambridge: Cambridge University Press , 1983.; Fabri, 2010FABRI, Marcelo. Entre unidade e pluralidade: Husserl e o sujeito racionalmente motivado. In: BATTISTI, César Augusto. (Org.). Às voltas com a questão do sujeito: posições e perspectivas. Cascavel, PR/Ijuí, RS: Editora da Unioeste/Editora UNIJUÍ, 2010. p. 269-283.) ou self (Mead, 1968MEAD, George. H. Espíritu, persona y sociedad: desde el punto de vista del conductismo social. 1ª edición, Buenos Aires, Editorial Paidós, 1968.; James, 1968JAMES, Willian. The self. In: GORDON, Chad; GERGEN, Kenneth J. The self in social interaction. (Volume I-Classic of contemporary perspectives). New York/London/Sydney/ Toronto: John Wiley& Sons Inc., 1968. p. 41-49.).

No sentido amplo, a noção de “identidade” considera os diacríticos da identidade ampla (etnicidade, cor, raça, nação, gênero, orientação sexual etc.). No sentido restrito, essa noção diz respeito às identificações subjetivas dos indivíduos, como se percebem, como se assumem, com quais grupos ou culturas se identificam. Neste último sentido, a “identidade” pode ser concebida como “subjetividade”, no sentido sociopsicológico de “construção do si” (Gonzáles Rey, 2005GONZÁLES REY, Fernando. Pesquisa qualitativa e subjetividade. São Paulo: Pioneira Thomson, 2005.; Giddens, 2002GIDDENS, Anthony. Identidade e modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor , 2002.; Ricoeur, 2002RICOEUR, Paul. O único e o singular. São Paulo/Belém: Editora UNESP/ Editora UEPA, 2002.), “formação de si” (Strauss, 1999STRAUSS, Anselm. L. Espelhos e máscaras: a busca da identidade. São Paulo: Edusp, 1999.; Kauffman, 2004KAUFMANN, Jean-Claude. L’invention de soi: une théorie de l’identité. Paris: Armand Colin/SEJER, 2004.), assunção do “para-si” (Martuccelli, 2007MARTUCCELLI, Danilo. Cambio de rumbo. La sociedad a escala del individuo. Santiago de Chile: LOM, 2007.), tomada de consciência do “si” face aos outros (Barth, 1967BARTH, Fredrik. On the Study of Social Change. American Anthropologist. v. 69, n. 06, p. 661-669, 1967.; Castoriadis, 2007CASTORIADIS, Cornélius. Sujeito e verdade no mundo social histórico. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2007.). Ou, como acentua Giménez (1992GIMÉNEZ, Gilberto. La identidad social o el retorno del sujeto em sociología. Versión. n. 02; abril, p. 183-205, 1992.), “A identidade [particular] é o ‘auto’, o ‘si-mesmo’ ou a subjetividade [pessoal], […] a autogestão […].” (Idem, p. 188). Certamente, existem identidades assumidas e imputadas (Barth, 1967BARTH, Fredrik. On the Study of Social Change. American Anthropologist. v. 69, n. 06, p. 661-669, 1967.; 2000BARTH, Fredrik. O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro: Editora Contra-Capa, 2000.; Burke; Stets, 2009BURKE, Peter J.; STETS, Jan E. Identity Theory. New York: Oxford University Press, 2009.).

A identidade é marcada por: (a) certa permanência através do tempo dos pressupostos genéticos fundamentais da identidade (etnicidade, cor, raça, gênero etc.), (b) variações acidentais (interferências socioculturais e relacionais) e (c) adaptações constantes ao entorno ecológico (cf. Giménez, 1992GIMÉNEZ, Gilberto. La identidad social o el retorno del sujeto em sociología. Versión. n. 02; abril, p. 183-205, 1992., p.192). A “subjetividade” é, muitas vezes, relacionada por autores contemporâneos à personalidade, conceito muito explorado pelos autores clássicos tais como Mead (1968MEAD, George. H. Espíritu, persona y sociedad: desde el punto de vista del conductismo social. 1ª edición, Buenos Aires, Editorial Paidós, 1968.) e James (1968JAMES, Willian. The self. In: GORDON, Chad; GERGEN, Kenneth J. The self in social interaction. (Volume I-Classic of contemporary perspectives). New York/London/Sydney/ Toronto: John Wiley& Sons Inc., 1968. p. 41-49.). Contemporaneamente, no entanto, a noção de “personalidade” está mais estreitamente relacionada à dimensão biológica e ao “temperamento” das pessoas (Gonzáles Rey, 2002GONZÁLES REY, Fernando. La subjetividad: su significación para la ciencia psicológica. In: FURTADO, Odayr; GONZÁLES REY, Fernando. (Org.). Por uma epistemologia da subjetividade: um debate entre a teoria sócio-histórica e a teoria das representações sociais. São Paulo: Editora Casa do Psicólogo, 2002. p.17-42.; Kaplan; Sadock; Sadock, 2007KAPLAN, Harold I.; SADOCK, Benjamin J.; SADOCK, Virgínia A. Compêndio de psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica. 9ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas , 2007.), ao passo que “identidade” e “subjetividade” - ou self (Mead, 1968MEAD, George. H. Espíritu, persona y sociedad: desde el punto de vista del conductismo social. 1ª edición, Buenos Aires, Editorial Paidós, 1968.; James, 1968JAMES, Willian. The self. In: GORDON, Chad; GERGEN, Kenneth J. The self in social interaction. (Volume I-Classic of contemporary perspectives). New York/London/Sydney/ Toronto: John Wiley& Sons Inc., 1968. p. 41-49.; Taylor, 1997TAYLOR, Charles. As fontes do self: a construção da identidade moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1997.) - relacionam-se aos fundamentos socioculturais dos sujeitos (Dubar, 2005DUBAR, Claude. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. São Paulo: Martins Fontes, 2005.; Burke; Stets, 2009BURKE, Peter J.; STETS, Jan E. Identity Theory. New York: Oxford University Press, 2009.; Lima; Neto; Aragon, 2009LIMA, Elizabeth Araújo; NETO, João Leite Ferreira; ARAGON, Luís Eduardo. Subjetividade contemporânea: desafios teóricos e metodológicos. Porto Alegre: Sulina, 2009.).

Concebemos, neste texto, a “reflexividade” como “especularidade” (Dupuy, 1992DUPUY, Jean-Pierre. Introduction aux sciences sociales. Logique des phénomènes collectifs. Paris: Ellipses, 1992.), isto é, como “o ato mental pelo qual um espírito humano se coloca no lugar de um outro” (idem, p. 90DUPUY, Jean-Pierre. Introduction aux sciences sociales. Logique des phénomènes collectifs. Paris: Ellipses, 1992.) ou pelo qual o ator reprisa situações passadas ou antecipa situações futuras com vistas a eliminar as falhas em situações passadas e se precaver de possíveis obstáculos à sua atuação em situações futuras (Dewey, 1959DEWEY, John. Como pensamos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959.; Barth, 1967BARTH, Fredrik. On the Study of Social Change. American Anthropologist. v. 69, n. 06, p. 661-669, 1967.; Bandura, 2008BANDURA, Albert. O sistema do self no determinismo recíproco. In: BANDURA, Albert; Roberta G.; POLYDORO, Soely A. J. (orgs.) Teoria social cognitiva . Porto Alegre: Editora Artmed , 2008. p. 43-68.). Desse modo, a reflexividade, ou especularidade, é uma das capacidades relacionadas à aprendizagem (Argyris; Schön, 1978ARGYRIS, Chris; SCHÖN, Donald. A. Organizational Learning: a theory of action perspective. Massachussets: Addison-Wesley, 1978. , 1996ARGYRIS, Chris; SCHÖN, Donald A. Organizational Learning II: theory, method and practice. Massachusetts: Reading Addison-Wesley. 1996.; Argyris, 2000 ARGYRIS, Chris. Ensinando pessoas inteligentes a aprender. In: ARGYRIS, Chris. Gestão do conhecimento. Rio de Janeiro: HBR, Campus, 2000 [1991]. p. 82-107[1991]; Bandura, 2008AZZI, Roberta Gurgel; POLYDORO, Soely A. J. Auto-regulação: aspectos introdutórios. In: BANDURA, Albert; AZZI, Roberta Gurgel; POLYDORO, Soely A. J. Teoria social cognitiva. Porto Alegre: Editora Artmed, p. 149-164, 2008.).

Certamente, podemos aceitar com Dupuy (1992DUPUY, Jean-Pierre. Introduction aux sciences sociales. Logique des phénomènes collectifs. Paris: Ellipses, 1992.) que “Toda especularidade [é] finita [e] marca um certo grau de opacidade, um certo déficit de reflexividade.” (Idem, p. 90). A despeito disso, o homem como “animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu” (Geertz, 1978GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1978., p. 4) é dotado de uma reflexividade inscrita - como “dimensão oculta” (Hall, 1986HALL, Edward. T. A dimensão oculta. Lisboa: Editora Relógio D’Água , 1986.), “sensorial” (Hayek, 2004HAYEK, Friedrich. El orden sensorial: los fundamentos de la psicología teórica. Madrid: Union editorial S.A., 2004 [1952]. ) ou “semiótica” (Rogoff, 1995ROGOFF, Barbara. Observing Sociocultural Activity on Three Planes: Participatory Appropriation, Guided Participation, and Apprenticeship. In: WERTSH, James V.; RÍO, Pablo del; ALVAREZ, Amélia. (Org.). Sociocultural studies of mind . Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1995. p. 139-163.) - no seu próprio corpo, na linguagem (Bronckart, 1995BRONCKART, Jean-Paul. Theories of action, speech, natural language, and discourse. In: WERTSH, James V.; RÍO, Pablo del; ALVAREZ, Amélia. (Org.). Sociocultural studies of mind. Cambridge, UK: Cambridge Universtity Press, 1995. p. 75-91.; Bakhtin, 2003BAKHTIN, Mikhail. A estética da criação verbal. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2003., 2010BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.) e na gestualidade que existe como “linguagem silenciosa” (Hall, 1959HALL, Edward. T. The silent language. New York: Doubleday & Company, Inc., 1959.) e que comunica e realiza “atos de significação” (Bruner, 1997BRUNER, Jerome. Atos de significação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.).

Tal reflexividade incorporada, como dimensão oculta e linguagem silenciosa - na e pela qual o homem age, assenhoreando-se da realidade por meio da execução de atos cada vez mais aperfeiçoados, a partir de processos individuais e coletivos de tentativa-erro (Dewey, 1959DEWEY, John. Como pensamos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959.; Argyris; Schön, 1978ARGYRIS, Chris; SCHÖN, Donald. A. Organizational Learning: a theory of action perspective. Massachussets: Addison-Wesley, 1978. , 1996ARGYRIS, Chris; SCHÖN, Donald A. Organizational Learning II: theory, method and practice. Massachusetts: Reading Addison-Wesley. 1996.) - demarca a capacidade do sujeito de assumir-se enquanto ator com alguma “margem de manobra” (Elster, 2010ELSTER, Jon. La explicación del comportamiento social: más tuercas y tornillos para los científicos sociales. Barcelona: Editora Gedisa, 2010. ; 2013).

Tal “espaço de possibilidades ainda a realizar” (Vygotsky, [1925] 2003VYGOTSKY, Lev Semenovich. Conscience, inconscient, emotions. Paris: La Dispute, [1925] 2003.)1 1 Vygotsky ([1925] 2003, p. 76) postula que “o homem está, a cada minuto, repleto de possibilidades não realizadas.”. Nesse sentido, temos possibilidades que podem ser [ou terem sido] frustradas, mas, também, temos possibilidades ainda a realizar, contempladas de maneira projetiva. Para o sujeito, uma possibilidade que ele não consegue realizar não demarca apenas a frustração, mas também a insistência (Frankl, 1989; Dupuy, 1992; Searle, 1983). , mesmo que limitado, torna-lhe possível contornar os obstáculos que a realidade opõe aos seus projetos e desejos (Bandura, 2008BANDURA, Albert. O sistema do self no determinismo recíproco. In: BANDURA, Albert; Roberta G.; POLYDORO, Soely A. J. (orgs.) Teoria social cognitiva . Porto Alegre: Editora Artmed , 2008. p. 43-68.); assim como assumir-se como sujeito responsável (Bakhtin, 2010BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.), face às decisões e posturas que deve tomar para si a fim de levar a cabo o projeto coletivo de vida social reflexiva (Giddens et al., 1997GIDDENS, Anthony.; BECK, Ulrich; LASH, Scott. A modernização reflexiva. São Paulo: UNESP, 1997.) e o projeto pessoal de “construção de si” (Giddens, 2002GIDDENS, Anthony. Identidade e modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor , 2002.; Kaufmann, 2001KAUFMANN, Jean-Claude. Ego, Pour une sociologie de l’individu. Paris, Nathan/VUEF, 2001., 2004KAUFMANN, Jean-Claude. L’invention de soi: une théorie de l’identité. Paris: Armand Colin/SEJER, 2004.).

A ipseidade (Ricoeur, 2002RICOEUR, Paul. O único e o singular. São Paulo/Belém: Editora UNESP/ Editora UEPA, 2002.) é a marca da realização subjetiva do ator. Ao pôr em curso a sua identidade pessoal nos cenários múltiplos em que atua, o sujeito pluraliza os seus modos de ser (Lahire, 2002LAHIRE, Bernard. Homem plural: os determinantes da ação. Petrópolis, RJ: Editora Vozes , 2002.; Rose, 2011ROSE, Nikolas. Inventando nossos selfs: psicologia, poder e subjetividade. Petrópolis, RJ: Editora Vozes , 2011.; Lopes, 2012LOPES, João Teixeira. Subjetividade plural no mundo contemporâneo. Cronos. UFRN, Natal, v.13, n. 1, p. 81-88, jan./jun., 2012.), adquire novas e várias identificações (Burke; Stets, 2009BURKE, Peter J.; STETS, Jan E. Identity Theory. New York: Oxford University Press, 2009.) e realiza identidades diversas (Brubaker; Cooper, 2000BRUBAKER, Roger; COOPER, Frederick. Beyond Identity. Theory & Society. n. 29, p. 01-47, 2000.; Deschamps; Moliner, 2009DESCHAMPS, Jean-Claude; MOLINER, Pascal. A identidade em psicologia social. Petrópolis, RJ: Editora Vozes , 2009.), atuando, assim, como representante dos seus próprios interesses2 2 Dubet (2010, p. 86) apresenta os jogos da experiência social “a partir de uma concepção estratégica da ação”. Dentro desse quadro, postula que “o ator é orientado pelos seus interesses, pela percepção que tem deles e pelas regras da organização [da experiência]. É uma estratégia que se situa num espaço do jogo que ele não escolhe, mas que pode modificar ao jogar. Daqui resulta uma racionalidade limitada em relação aos objetos pretendidos e às oportunidades que se oferecem ao indivíduo. A racionalidade do estratega é limitada, porque os atores não conhecem todas as condições do jogo [social] e não podem antecipar todas as consequências das suas decisões na ordem do sistema. No entanto, cada um dispõe de um poder que depende da sua capacidade de negociação; o outro não é unicamente um obstáculo, ele é também um recurso da estratégia, o que explica a ambivalência emocional das relações feitas de alianças e de rivalidade, pois que outrem é, alternadamente, aliado e rival.” (Dubet, 2010, p. 86). (Fabri, 2010FABRI, Marcelo. Entre unidade e pluralidade: Husserl e o sujeito racionalmente motivado. In: BATTISTI, César Augusto. (Org.). Às voltas com a questão do sujeito: posições e perspectivas. Cascavel, PR/Ijuí, RS: Editora da Unioeste/Editora UNIJUÍ, 2010. p. 269-283.; Goffman, 2011GOFFMAN, E. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis, RJ: Editora Vozes , 2011.) e como agente comprometido com as lealdades conflitantes (Van Velsen, 2010VAN VELSEN, Jaap. A análise situacional e o método de estudo de caso. In: FELDMAN-BIANCO, Bela. (Org.). Antropologia das sociedades contemporâneas: métodos. São Paulo: Editora UNESP , 2010. p. 437-468.) que incorpora no decurso de sua vida. Assim, o ator reitera as investidas para apropriar-se criativamente (Rogoff, 1995ROGOFF, Barbara. Observing Sociocultural Activity on Three Planes: Participatory Appropriation, Guided Participation, and Apprenticeship. In: WERTSH, James V.; RÍO, Pablo del; ALVAREZ, Amélia. (Org.). Sociocultural studies of mind . Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1995. p. 139-163.) dos espaços e domínios nos quais percebe que é chamado a agir (Parsons; Bales; Shils, 1970PARSONS, Talcott; BALES, Robert F.; SHILS, Edward A. Apuntes sobre la teoría de la acción. Buenos Aires: Amorrortu Editores, 1970.) e a construir valores, normas e expectativas coletivas (Parsons; Shills; Olds, 1968PARSONS, Talcott; SHILLS, Edward A.; OLDS, James. Los valores, los motivos y los sistemas de acción. In: PARSONS, Talcott; SHILLS, Edward A. (Org.). Hacia una teoria general de la acción. Buenos Aires: Editorial Kapelusz, 1968. p. 67-311.; Kastrup, 1999KASTRUP, Virgínia. A invenção de si e do mundo: uma introdução do tempo e do coletivo no estudo da cognição. Campinas, SP: Editora Papirus, 1999.).

Processos de socialização e subjetividade

A sociologia das socializações, contemporaneamente, sinaliza para o fato de que, em razão da emergência de novos modelos de socialização, os atores sociais convivem “simultânea e sucessivamente em contextos sociais diferenciados” (Lahire, 2002LAHIRE, Bernard. Homem plural: os determinantes da ação. Petrópolis, RJ: Editora Vozes , 2002., p. 33) e que, por aderirem difusamente a diversos grupos a partir dos quais imergem em diferentes tipos de socialização, são dotados de propensões subjetivas, patrimônios individuais e identidades “variadas, diferentes e, às vezes, contraditórias” (idem, p. 36LAHIRE, Bernard. Homem plural: os determinantes da ação. Petrópolis, RJ: Editora Vozes , 2002.). Desse fato, segue, por um lado, a postulação de que “o ator [é] plural [e] [...] produto da experiência - amiúde precoce - de socialização em contextos sociais múltiplos e heterogêneos” (Lahire, 2002LAHIRE, Bernard. Homem plural: os determinantes da ação. Petrópolis, RJ: Editora Vozes , 2002., p. 36).

Autores já clássicos, como Berger e Luckmann ([1966] 2005)BERGER, Peter L.; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2005 [1966]., derivam a constituição psíquica dos sujeitos dos processos sociais de socialização e contribuem para uma teoria da sociogênese do psiquismo, nos seguintes termos:

O organismo humano [...] está ainda desenvolvendo-se biologicamente quando já se acha em relação com seu ambiente. Em outras palavras, o processo de tornar-se homem efetua-se na correlação com o ambiente. Desde o nascimento, o desenvolvimento orgânico do homem, e na verdade uma grande parte do seu ser biológico enquanto tal, está submetido a uma contínua interferência socialmente determinada (Berger; Luckmann, 2005BERGER, Peter L.; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2005 [1966]., p. 71).

A descrição supra aponta para a dimensão social da constituição subjetiva e informa o peso que a subjetividade recebe do ambiente sociocultural em que o sujeito se desenvolve (Piaget, 1973PIAGET, Jean. Estudos sociológicos. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária, 1973.; Searle, 1998SEARLE, John. R. Mind, Language and Society: Philosophy in the real world. New York: Basic Books, 1998.). Desde o nascimento, a criança interage numa cultura - compreendida tanto como ambiente de atuações intersubjetivas, quanto por entorno que sofre a influência de artefatos materiais e simbólicos - que age sobre a sua mente. O habitus - na trajetória histórica deste conceito que se inicia com Aristóteles, passando por Mauss e Elias até chegar em Bourdieu (Kaufmann, 2001KAUFMANN, Jean-Claude. Ego, Pour une sociologie de l’individu. Paris, Nathan/VUEF, 2001.) - demarca estruturas sociais incorporadas nos gestos e na mente (consciente e inconsciente) do sujeito. Desse modo, é evidente que, em primeiro lugar, “estruturas sociais incorporadas” não são obtidas somente numa esfera de atuação, num único espaço de socialização (cf. Lahire; 2002LAHIRE, Bernard. Homem plural: os determinantes da ação. Petrópolis, RJ: Editora Vozes , 2002., 2004LAHIRE, Bernard. Retratos sociológicos: disposições e variações individuais. Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 2004., 2006LAHIRE, Bernard. A cultura dos indivíduos. Porto Alegre: Editora Artes Médicas , 2006.; Dubar, 2005DUBAR, Claude. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. São Paulo: Martins Fontes, 2005.).

Lahire (2002LAHIRE, Bernard. Homem plural: os determinantes da ação. Petrópolis, RJ: Editora Vozes , 2002., p. 23) nos fala sobre “a multiplicidade de nossos sistemas de hábitos incorporados ligados aos diferentes domínios de existência e universos sociais que atravessamos”. Em segundo lugar, se “todo corpo (individual) mergulhado numa pluralidade de mundos sociais está sujeito a princípios de socialização heterogêneos e, às vezes, contraditórios que incorpora” (Lahire, 2002LAHIRE, Bernard. Homem plural: os determinantes da ação. Petrópolis, RJ: Editora Vozes , 2002., p. 31), então, no processo em que “os atores saltam a cada instante de uma interação a outra, de um domínio de existência a outro” (idem, p.33LAHIRE, Bernard. Homem plural: os determinantes da ação. Petrópolis, RJ: Editora Vozes , 2002.) há transferência de habilidades e competências de um domínio para outros (cf. Argyris; Schön, 1978ARGYRIS, Chris; SCHÖN, Donald. A. Organizational Learning: a theory of action perspective. Massachussets: Addison-Wesley, 1978. , 1996ARGYRIS, Chris; SCHÖN, Donald A. Organizational Learning II: theory, method and practice. Massachusetts: Reading Addison-Wesley. 1996.; Argyris, [1991] 2000ARGYRIS, Chris. Ensinando pessoas inteligentes a aprender. In: ARGYRIS, Chris. Gestão do conhecimento. Rio de Janeiro: HBR, Campus, 2000 [1991]. p. 82-107; Bandura, 2008BANDURA, Albert. O sistema do self no determinismo recíproco. In: BANDURA, Albert; Roberta G.; POLYDORO, Soely A. J. (orgs.) Teoria social cognitiva . Porto Alegre: Editora Artmed , 2008. p. 43-68.).

Inkeles e Smith (1981INKELES, Alex; SMITH, David Horton. Tornando-se moderno. Brasília: Editora UNB, 1981., p.135) elaboram a sua “teoria dos efeitos educacionais”, formulando que “a educação [...] [é] [...] um fator de modernização” da vida social. Eles têm o cuidado de informar que “esses processos de aprendizagem não são exclusivos da escola e ocorrem em outras organizações formais ou não formais, tais como a família e os companheiros de brincadeira” (Inkeles; Smith, 1981INKELES, Alex; SMITH, David Horton. Tornando-se moderno. Brasília: Editora UNB, 1981., p. 136).

Assim, temos um sujeito atuando como gestor dos seus interesses de aprendizado, selecionando ativamente aquilo que lhe interessa (Dewey, 1959DEWEY, John. Como pensamos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959.; Bandura,2008BANDURA, Albert. O sistema do self no determinismo recíproco. In: BANDURA, Albert; Roberta G.; POLYDORO, Soely A. J. (orgs.) Teoria social cognitiva . Porto Alegre: Editora Artmed , 2008. p. 43-68.), construindo - de acordo com suas capacidades - seus saberes e a si mesmo (Kaufman, 2004KAUFMANN, Jean-Claude. L’invention de soi: une théorie de l’identité. Paris: Armand Colin/SEJER, 2004.). Então, Inkeles e Smith (1981INKELES, Alex; SMITH, David Horton. Tornando-se moderno. Brasília: Editora UNB, 1981.) afirmam:

[...] consideremos a aquisição de um sentido de eficiência, que é um dos elementos centrais do perfil de um homem moderno. Na aquisição desse sentimento, a generalização desempenha um papel importante. A generalização ocorre quando um indivíduo tem uma experiência tão satisfatória em um determinado relacionamento ou desempenho, que é levado a acreditar que pode atingir sucesso comparável em outros contextos. Tendo adquirido maestria em uma ou mais capacitações, passa a acreditar na sua capacidade geral de adquirir outras mais; tendo resolvido um problema, pode vir a ter confiança em sua habilidade de resolver outros mais. [....] Cada uma dessas capacidades [adquiridas] abre novas oportunidades para um comportamento de maior competência. [...] Por extensão e difusão, ou aquilo que chamamos de generalização, [o sujeito] também chegará a um maior sentido de eficiência pessoal (Inkeles; Smith, 1981INKELES, Alex; SMITH, David Horton. Tornando-se moderno. Brasília: Editora UNB, 1981., p. 137, grifo original).

Bandura (2008BANDURA, Albert. O sistema do self no determinismo recíproco. In: BANDURA, Albert; Roberta G.; POLYDORO, Soely A. J. (orgs.) Teoria social cognitiva . Porto Alegre: Editora Artmed , 2008. p. 43-68.) denomina tal generalização de senso de “autoeficácia” e Rogoff (1995ROGOFF, Barbara. Observing Sociocultural Activity on Three Planes: Participatory Appropriation, Guided Participation, and Apprenticeship. In: WERTSH, James V.; RÍO, Pablo del; ALVAREZ, Amélia. (Org.). Sociocultural studies of mind . Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1995. p. 139-163.) a chama de “apropriação participativa”. Tal transferência de hábitos implica a “circulação de [...] esquemas cognitivos” (Maldonato, 2006MALDONATO, Mauro. A mente plural: biologia, evolução e cultura. São Paulo: Editora Unimarco, 2006., p. 11), entre as esferas de atuação, realizada pelo sujeito, e, promove a reflexividade (Argyris; Schön, 1978ARGYRIS, Chris; SCHÖN, Donald. A. Organizational Learning: a theory of action perspective. Massachussets: Addison-Wesley, 1978. , 1996ARGYRIS, Chris; SCHÖN, Donald A. Organizational Learning II: theory, method and practice. Massachusetts: Reading Addison-Wesley. 1996.; Giddens, 2009GIDDENS, Anthony. Consciência, self e encontros sociais. In: GIDDENS, A. A constituição da sociedade. São Paulo: Editora Martins Fontes , 2009. p. 47-128). A capacidade de aprendizagem com a qual os sujeitos são dotados requer uma plasticidade adaptativa (Schön, 2000SCHÖN, Donald A. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Editora Artes Médicas , 2000.), uma aplicação criativa de “conhecimentos tácitos” (Polanyi, 2009POLANYI, Michael. The tacit dimension. Chicago: The University of Chicago Press, 2009.) aos novos ambientes em que o sujeito se insere, bem como a transferências de “competências intelectuais” (Pinker, 1989PINKER, Steven. Learn ability and cognition. Cambridge, MA: MIT Press, 1989.), de “esquemas de interpretação e reflexão” (Dewey, 1959DEWEY, John. Como pensamos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959.) e de “esquemas práticos de ação” (Garfinkel, [1967] 1984GARFINKEL, Harold. Studies in ethnomethodology. Cambridge England: Polity Press, 1984 [1967].) de um domínio ao outro, de um a outro campo de realização das atividades e dos engajamentos psíquicos e sociais com os quais o ator se acha comprometido. Por isso, Rogoff (1995ROGOFF, Barbara. Observing Sociocultural Activity on Three Planes: Participatory Appropriation, Guided Participation, and Apprenticeship. In: WERTSH, James V.; RÍO, Pablo del; ALVAREZ, Amélia. (Org.). Sociocultural studies of mind . Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1995. p. 139-163.) compreende que a “apropriação participativa” é, ao mesmo tempo, um processo social e uma atividade individual e individualizante.

“Todo self é um self social” (Mead, [1925] 1991MEAD, George. H. La génesis del self y el control social. Revista Internacional de Ciências Sociais (REIS). n.55, p.165-186, 1991 [1925]., p. 185). O que significa - em Mead (1968MEAD, George. H. Espíritu, persona y sociedad: desde el punto de vista del conductismo social. 1ª edición, Buenos Aires, Editorial Paidós, 1968.), em James (1968JAMES, Willian. The self. In: GORDON, Chad; GERGEN, Kenneth J. The self in social interaction. (Volume I-Classic of contemporary perspectives). New York/London/Sydney/ Toronto: John Wiley& Sons Inc., 1968. p. 41-49.), em Dewey (1959DEWEY, John. Como pensamos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959.), em Piaget (1973PIAGET, Jean. Estudos sociológicos. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária, 1973.) e em Vygotsky (1987) - que a consciência ou o self é plural, já em sua constituição (cf. Smolka et al., 1995SMOLKA, Ana Luiza B.; DE GOES, Maria Cecília R.; PINO, Angel. The Constitution of the Subject: a Persistent Question. In: WERTSH, James V.; RÍO, Pablo del; ALVAREZ, Amélia. (Org.). Sociocultural studies of mind. Cambridge, UK: Cambridge Universtity Press, 1995, p. 187-214.). Um dos mecanismos da diferenciação individual - e da decorrente pluralidade subjetiva dos sujeitos - é a socialização parcial (nunca total ou absoluta) que os sujeitos vivenciam nos diversos espaços da vida cotidiana. Assim é preciso considerar que:

[...] as explicações da sociogênese [do psiquismo] devem dar conta de exemplos de ‘relatividade social máxima’ [da sociedade em relação ao indivíduo], bem como de ‘independência aparentemente total’ do sujeito em relação ao mundo social. Essas possibilidades são abrangidas por um modelo bidirecional de transmissão da cultura, uma vez que os modelos unidirecionais supõem uma fixação quanto ao que está para ser transmitido e uma passividade do destinatário da transmissão (Smolka et al., 1995SMOLKA, Ana Luiza B.; DE GOES, Maria Cecília R.; PINO, Angel. The Constitution of the Subject: a Persistent Question. In: WERTSH, James V.; RÍO, Pablo del; ALVAREZ, Amélia. (Org.). Sociocultural studies of mind. Cambridge, UK: Cambridge Universtity Press, 1995, p. 187-214., p. 188).

Dubet (2010DUBET, François. Sociología de la experiencia. Madrid: Editorial Complutense/CIS, 2010.), por seu turno, formaliza que:

Contra as imagens demasiado claras que opõem a cultura todo poderosa à razão autônoma, convém antes sublinhar que existe na experiência social alguma coisa de inacabado e de opaco, porque não há adequação absoluta da subjetividade do ator à objetividade do sistema [social] (Dubet, 2010DUBET, François. Sociología de la experiencia. Madrid: Editorial Complutense/CIS, 2010., p.96).

Com efeito, a metáfora das “linhas de fuga” proposta por Deleuze e Guatarri (1996DELEUZE, Gilles.; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. (Vol. III). Rio de Janeiro: Editora 34, 1996.) e Deleuze (2000DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Lisboa: Editora Relógio D’Água, 2000.) torna-se esclarecedora das relações entre a subjetividade e os sistemas socioculturais doméstico e global nos quais ela se constitui.

A subjetividade como reflexividade

Bandura (2008BANDURA, Albert. O sistema do self no determinismo recíproco. In: BANDURA, Albert; Roberta G.; POLYDORO, Soely A. J. (orgs.) Teoria social cognitiva . Porto Alegre: Editora Artmed , 2008. p. 43-68.) encaminha-nos para uma compreensão de que as atividades situadas em que os humanos se encontram - embora em grande parte das vezes sejam realizadas sob a influência biomecânica dos hábitos de pensamento ou de comportamento, isto é, nem sempre racionalizadas e refletidas - são, invariavelmente, realizadas por agentes capazes tanto de uma apropriação remissiva dos seus atos já realizados3 3 Por meio da reflexão autoexaminadora ou da reflexão provocada, seja pelas consequências negativas de uma ação passada, seja pela confrontação cruzada com o ponto de vista de outrem. , quanto de uma apropriação projetiva dos atos ainda a realizar, fazendo uso das experiências para se antecipar aos eventos.

Toda uma tradição da filosofia ocidental antiga e da ciência moderna tem incutido, na cultura universal dos povos, a noção de que a racionalidade é tanto uma técnica quanto uma arte, ambas cultiváveis e de que a autorreflexão é o primeiro passo para a aquisição de uma maior racionalidade pessoal; tal como a educação e ciência são os passos fundamentais para a racionalidade coletiva.

Em sua abordagem da questão, Bandura (2008BANDURA, Albert. O sistema do self no determinismo recíproco. In: BANDURA, Albert; Roberta G.; POLYDORO, Soely A. J. (orgs.) Teoria social cognitiva . Porto Alegre: Editora Artmed , 2008. p. 43-68.) deixa-nos a par do fato de que a subjetividade dos agentes é tanto dotada de um senso de autoeficácia (uma crença no poder da ação pessoal para modificar as situações e contornar eventos que fugiram ao controle imediato), quanto da capacidade de mobilização de competências cognitivas e habilidades aprendidas pela experiência. Como nos informa: “entre os mecanismos da agência pessoal, nenhum é mais central ou penetrante do que as crenças pessoais em sua capacidade de exercer uma medida de controle sobre o próprio funcionamento e os eventos ambientais [...]” (Bandura, 2008BANDURA, Albert. O sistema do self no determinismo recíproco. In: BANDURA, Albert; Roberta G.; POLYDORO, Soely A. J. (orgs.) Teoria social cognitiva . Porto Alegre: Editora Artmed , 2008. p. 43-68., p. 78). Deste modo, “as crenças de eficácia são a base da agência humana” (ibid.BANDURA, Albert. O sistema do self no determinismo recíproco. In: BANDURA, Albert; Roberta G.; POLYDORO, Soely A. J. (orgs.) Teoria social cognitiva . Porto Alegre: Editora Artmed , 2008. p. 43-68.).

Frankl (1989FRANKL, Viktor E. Um sentido para a vida. Aparecida: Editora Santuário, 1989.) manifesta, a seu modo, um ponto de vista semelhante sobre a reflexividade humana, a competência subjetiva que os homens têm de interpretar os desafios que seu ambiente lhes impõe e responder por meio de soluções refletidas e criativas, que consistem na superação do desafio inicial e na elevação contínua do seu padrão de existência (natural e social). Tal capacidade é por ele denominada de “autotranscendência” (Frankl, 1989FRANKL, Viktor E. Um sentido para a vida. Aparecida: Editora Santuário, 1989., p. 29).

Tal autotranscendência - ou bootstrapping, como denomina Dupuy (1992DUPUY, Jean-Pierre. Introduction aux sciences sociales. Logique des phénomènes collectifs. Paris: Ellipses, 1992., p. 89) - demarca a capacidade que os sujeitos têm de superar as limitações fundamentais que sobre eles “pesam”4 4 Barth (1967, p. 663) formula: “Aquilo que as pessoas querem obter, os fins variados que perseguem, fornecem a orientação para sua conduta. Por outro lado, as restrições técnicas e ecológicas condenam alguns tipos de conduta ao fracasso e recompensam outros, enquanto a presença de outros atores impõe restrições estratégicas e oportunidades que modificam as escolhas favoráveis que as pessoas podem fazer.”. . Pelo que, apoiando-se nas conquistas coletivas (cultura, técnica etc.), os atores são capazes de elaborar objetivos que - embora não descartando os “cuidados de si” ou os anseios relacionados à sua “pessoa” (Mauss, [1938] 2003aMAUSS, Marcel. Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a de "eu". In: MAUSS, M. Sociologia e antropologia. São Paulo: Editora Cosac & Naify, p. 367-398, 2003a [1938].) - estão tanto para além de si mesmos (suplantado o horizonte de existência pessoal e encaminhando-se para as eras geracionais à sua frente), quanto para além de sua situação sociocultural específica (suplantando o horizonte de sua existência sociocultural localizada).

Como é sabido, os artefatos culturais, as técnicas, as ferramentas e os inventos são difundidos (ou imitados) transculturalmente (cf. Mauss, [1934] 2003bMAUSS, Marcel. As técnicas do corpo. In: MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia . São Paulo: Editora Cosac & Naify , 2003b [1934]. p.401-422.). Mesmo nos termos das teorias sociais mais holísticas, uma perspectiva como a de que “os agentes deixam-se puxar por um ponto de referência em direção ao futuro que eles mesmos projetaram para fora de si” (Dupuy, 1992DUPUY, Jean-Pierre. Introduction aux sciences sociales. Logique des phénomènes collectifs. Paris: Ellipses, 1992., p. 89) não pode ser negada. Do mesmo modo, mesmo as teorias que defendem um sujeito incapaz e prostrado ante às estruturas sociais portam-se como afirmando que “a teoria põe em cena um certo desconhecimento dos agentes. Façamo-los aceder ao conhecimento da teoria, dotemo-los de conhecimento do seu próprio desconhecimento” (ibid.DUPUY, Jean-Pierre. Introduction aux sciences sociales. Logique des phénomènes collectifs. Paris: Ellipses, 1992.).

Como apontam Garfinkel ([1967] 1984GARFINKEL, Harold. Studies in ethnomethodology. Cambridge England: Polity Press, 1984 [1967].), Giddens et al. (1997GIDDENS, Anthony.; BECK, Ulrich; LASH, Scott. A modernização reflexiva. São Paulo: UNESP, 1997.), Bandura (2008BANDURA, Albert. O sistema do self no determinismo recíproco. In: BANDURA, Albert; Roberta G.; POLYDORO, Soely A. J. (orgs.) Teoria social cognitiva . Porto Alegre: Editora Artmed , 2008. p. 43-68.) e Argyris e Schön (1978ARGYRIS, Chris; SCHÖN, Donald. A. Organizational Learning: a theory of action perspective. Massachussets: Addison-Wesley, 1978. , 1996)ARGYRIS, Chris; SCHÖN, Donald A. Organizational Learning II: theory, method and practice. Massachusetts: Reading Addison-Wesley. 1996., o fato de termos diversas ciências e especialidades científicas concebidas como autoridades do conhecimento objetivo no mundo social moderno revela o quanto acreditamos que o conhecimento objetivo acarreta maior racionalidade, reflexividade um direcionamento da intencionalidade individual e coletiva Há, portanto, um suposto de racionalidade societal na existência das ciências e das disciplinas científicas.

Desde o nascimento da modernidade e, com esta, da ciência moderna, a coletividade ocidental aposta que a ciência é o meio fundamental para sanar a nossa ignorância e que, por ela, é possível contornar a desinformação que nos ameaça enquanto espécie. Coletivamente, acreditamos que a informação e o conhecimento são os meios pelos quais nos assenhoreamos tanto dos fenômenos naturais quanto dos sociais.

A ciência - desbravadora, que é, de novos e cada vez mais especializados espaços onde o conhecimento objetivo é possível - consiste num dos inventos coletivos fundamentais, por meio dos quais desenvolvemos a nossa capacidade de aprendizagem e adestramos as nossas capacidades reflexivas, dominando (de maneira progressiva) processos complexos que exigem de nós amplos conhecimentos das “leis” naturais e de fenômenos sociais, ampliando os espaços de domínio de nossa racionalidade cientificamente informada.

Nem todos os homens são, por certo, cientistas, mas todos os homens são seres pensantes, reflexivos (Dewey, 1959DEWEY, John. Como pensamos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959.; Castoriadis, 2007CASTORIADIS, Cornélius. Sujeito e verdade no mundo social histórico. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2007.; Bandura, 2008BANDURA, Albert. O sistema do self no determinismo recíproco. In: BANDURA, Albert; Roberta G.; POLYDORO, Soely A. J. (orgs.) Teoria social cognitiva . Porto Alegre: Editora Artmed , 2008. p. 43-68.), capazes de “testar” suas ações por meio da experiência. O “teste” de hipóteses para ação e das possibilidades de ação é “o fator central de todo o ato de pensar reflexivo [...]” (Dewey, 1959DEWEY, John. Como pensamos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959., p. 20). De igual modo, o ato de justificarmos as nossas ações com base nas crenças que temos (Garfinkel, [1967] 1984GARFINKEL, Harold. Studies in ethnomethodology. Cambridge England: Polity Press, 1984 [1967].) é revelador do fato de que todo homem é um intelectual (Dubet, 2010DUBET, François. Sociología de la experiencia. Madrid: Editorial Complutense/CIS, 2010.) e de que o “trabalho reflexivo” é uma atitude constante e fundamental, pela qual as pessoas justificam seus atos, para si mesmas e para os outros (Mead, 1968MEAD, George. H. Espíritu, persona y sociedad: desde el punto de vista del conductismo social. 1ª edición, Buenos Aires, Editorial Paidós, 1968.; James, 1968JAMES, Willian. The self. In: GORDON, Chad; GERGEN, Kenneth J. The self in social interaction. (Volume I-Classic of contemporary perspectives). New York/London/Sydney/ Toronto: John Wiley& Sons Inc., 1968. p. 41-49.).

Papéis sociais e pluralidade subjetiva

Dahrendorf (1969DAHRENDORF, Ralf. Homo sociologicus. Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro, 1969., p. 44), em seu ensaio teórico sobre o Homo sociologicus, observa que, embora se possa afirmar que as “formas de comportamento são impostas [pela sociedade] ao ator, o mesmo precisa aprendê-las para poder desempenhá-las”. Amparado na metáfora do pensamento filosófico clássico e de Shakespeare sobre o mundo da vida como um “teatro”, Dahrendorf (1969DAHRENDORF, Ralf. Homo sociologicus. Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro, 1969., p. 44) propõe que “o ator pode aprender e desempenhar uma multiplicidade de papéis”; situação que provocaria no sujeito uma capacidade de transferência de desempenho de uma esfera de atuação a outra, bem como uma entonação expressiva particular ou estilo pessoal - aos moldes de Bakhtin (2003BAKHTIN, Mikhail. A estética da criação verbal. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2003.) - nos papéis por ele desempenhados. É deste modo, também, que Goffman (2011GOFFMAN, E. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis, RJ: Editora Vozes , 2011.) nos apresenta o ator representando o seu “eu” nos cenários sociais. Billig (1987BILLIG, Michael. Arguing and Thinking: A Rhetorical Approach to Social Psychology. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.) observa:

A metáfora teatral está compreendida em um conjunto de termos teóricos que são normalmente usados pelos cientistas sociais e que implicam que a vida social se parece como uma representação teatral. Entre esses termos o mais importante é o de papel [role]. [...] A vida cotidiana é considerada como a encenação de um drama em que os atores desempenham habilmente seus papéis. Os atores precisam aprender a se apresentar para que o público perceba os gestos necessários. (Billig, 1987BILLIG, Michael. Arguing and Thinking: A Rhetorical Approach to Social Psychology. Cambridge: Cambridge University Press, 1987., p. 59, grifo acrescido).

Em síntese, a metáfora do teatro, em Dahrendorf (1969DAHRENDORF, Ralf. Homo sociologicus. Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro, 1969.), em Billig (1987BILLIG, Michael. Arguing and Thinking: A Rhetorical Approach to Social Psychology. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.) e em Goffman (2011GOFFMAN, E. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis, RJ: Editora Vozes , 2011.), aponta para a capacidade que o ator tem de encenar, representar papéis sociais, de dar uma entonação expressiva particular (Bakhtin, 2003BAKHTIN, Mikhail. A estética da criação verbal. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2003.)5 5 “[...] apenas o contato entre a significação linguística e a realidade concreta, apenas o contato entre a língua e a realidade - que se dá no enunciado - provoca o lampejo da expressividade [do sujeito].” (Bakhtin, 2003, p. 311). às regras impessoais que recebe da coletividade - como a linguagem (Bakhtin), a ordem (regras tácitas) da interação (Goffman) ou o sistema de posições sociais (Dahrendorf) -, bem como de “tomar uma posição (Dahrendorf, 1969DAHRENDORF, Ralf. Homo sociologicus. Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro, 1969., p. 48) em relação a elas. Aponta-se, assim, para a performatividade do ator social.

Dahrendorf (1969DAHRENDORF, Ralf. Homo sociologicus. Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro, 1969.) aponta que o indivíduo assume os comportamentos sociais esperados, o conjunto de expectativas sociais, e a eles dá o seu tom expressivo particular tornando-os “de uma certa forma sua propriedade privada” (Dahrendorf, 1969DAHRENDORF, Ralf. Homo sociologicus. Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro, 1969., p. 56). Dessa maneira, Dahrendorf (1969DAHRENDORF, Ralf. Homo sociologicus. Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro, 1969., p. 56) fala do “confronto entre o agente individual e [as] formas predeterminadas de ação”. Assim, se neste quadro, a primeira questão fundamental para a sociologia está relacionada a essas formas prescritas de ação ou papéis, “a questão [fundamental] seguinte [...], como um determinado indivíduo se comporta realmente ante tais expectativas, assume um significado específico a partir de tais expectativas” (Dahrendorf, 1969DAHRENDORF, Ralf. Homo sociologicus. Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro, 1969., p. 56). A teoria da atividade (Bronckart, 1995BRONCKART, Jean-Paul. Theories of action, speech, natural language, and discourse. In: WERTSH, James V.; RÍO, Pablo del; ALVAREZ, Amélia. (Org.). Sociocultural studies of mind. Cambridge, UK: Cambridge Universtity Press, 1995. p. 75-91.; Bruner, 1997BRUNER, Jerome. Atos de significação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.; Bakhtin, 2010BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.) supõe que, entre a atividade prescrita e a atividade real (isto é, realizada), situa-se um sujeito que toma as prescrições e as utiliza conforme seu estilo pessoal, isto é, dando expressividade que não é somente dele, mas que é ele.

O distanciamento das normas - ou dissonância entre a tarefa prescrita e a execução real da tarefa, que é a atividade elaborada do agente, é, para Dahrendorf (1969DAHRENDORF, Ralf. Homo sociologicus. Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro, 1969., p. 48), uma questão tão importante quanto aquela da permanência de normas. Razão pela qual o sociólogo alemão assume o posicionamento weberiano - que é neokantista - de que tanto o Homo sociologicus quanto o Homo oeconomicus e o Psychological man não são imagens exatas da realidade, mas uma construção científica (Dahrendorf, 1969DAHRENDORF, Ralf. Homo sociologicus. Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro, 1969., p. 42). Isto é, o homem real, em suas dimensões empíricas, está situado entre as formulações teóricas destes três tipos de “homem” que essas três disciplinas clássicas das ciências sociais postulam.

Nesse sentido, Dubet (2010DUBET, François. Sociología de la experiencia. Madrid: Editorial Complutense/CIS, 2010., p. 107) formula que “uma sociologia da experiência incita a que se considere cada indivíduo como um ‘intelectual’, como um ator capaz de dominar conscientemente, pelo menos em certa medida, sua relação com o mundo”. Quanto ao “peso” do social sobre a subjetividade, Dubet (2010DUBET, François. Sociología de la experiencia. Madrid: Editorial Complutense/CIS, 2010., p. 106) acrescenta que “basta pouco para que a calma aparente revele tensões que impedem que se reduzam as condutas a rotinas ou a aplicações de papéis”.

As situações de multiposicionalidade dos sujeitos nos cenários sociais - abordada tanto por Dahrendorf (1969DAHRENDORF, Ralf. Homo sociologicus. Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro, 1969.) quanto por Grimson (2011GRIMSON, Alejandro. Los límites de la cultura. Crítica de las teorías de la identidad. Buenos Aires: Siglo XXI, 2011.) - terminam por possibilitar que os atores realizem a transferência de lógicas de ação de um campo ao outro e que permutem (Strauss, 1993STRAUSS, Anselm. L. Continual permutations of action. New York: Aldine de Gruyter, 1993.) de uma lógica de ação a outras nos “campos”, “cenários” ou “esferas de atuação” em que estão imersos (Cf. Billig, 1987BILLIG, Michael. Arguing and Thinking: A Rhetorical Approach to Social Psychology. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.; Lahire, 2002LAHIRE, Bernard. Homem plural: os determinantes da ação. Petrópolis, RJ: Editora Vozes , 2002.). Desse modo, observa Dubet (2010DUBET, François. Sociología de la experiencia. Madrid: Editorial Complutense/CIS, 2010., p. 107): “o ator é obrigado a articular lógicas de ação diferentes, e é a dinâmica gerada por esta atividade que constitui a subjetividade do ator e sua reflexividade”.

Intencionalidade e consequências não-intencionais6 6 A intencionalidade é “aquela propriedade de muitos estados e eventos mentais pela qual estes são dirigidos para, ou acerca de, objetos e estados de coisas do mundo” (Searle, 1983, p. 1)

Seja numa sociedade antiga como a sociedade Azande estudada por Evans-Pritchard ([1937] 2005EVANS-PRITCHARD, Edward E. Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005 [1937].) ou numa sociedade intermediária na Alta Birmânia (Leach, 1995LEACH, Edmund. Sistemas políticos da Alta Birmânia. São Paulo: EDUSP, 1995.), seja em sociedades modernas e contemporâneas (Van Velsen, 2010VAN VELSEN, Jaap. A análise situacional e o método de estudo de caso. In: FELDMAN-BIANCO, Bela. (Org.). Antropologia das sociedades contemporâneas: métodos. São Paulo: Editora UNESP , 2010. p. 437-468.), os indivíduos são maximizadores dos seus interesses (Hayek, [1952] 2004HAYEK, Friedrich. El orden sensorial: los fundamentos de la psicología teórica. Madrid: Union editorial S.A., 2004 [1952]. ; Simon, 1983SIMON, Herbert. Reason in human affairs. Stanford: Stanford University Press, 1983.; Downs, 1999DOWNS, Anthony. Uma teoria econômica da democracia. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1999.).

Maximizar interesses, contudo, não significa alcançar os objetivos tais como planejados nem que os interesses sejam sempre absolutamente racionais. Os elementos pré-intencional, intencional, bem como as consequências não intencionais que compõem a agência são reveladores do fato de que, ao tentar maximizar os seus interesses, não poucas vezes, os indivíduos terminam por minimizá-los. Nada impede, contudo, que a intencionalidade ativa, ou “papel atuante do sujeito” (Smolka et al., 1995SMOLKA, Ana Luiza B.; DE GOES, Maria Cecília R.; PINO, Angel. The Constitution of the Subject: a Persistent Question. In: WERTSH, James V.; RÍO, Pablo del; ALVAREZ, Amélia. (Org.). Sociocultural studies of mind. Cambridge, UK: Cambridge Universtity Press, 1995, p. 187-214., p. 189), faça uso de remissões e antecipações - num processo de tentativa-erro - para alcançar melhores resultados a cada ação liberada no espaço social. Selecionamos os nossos comportamentos em razão das “consequências”, promissoras ou negativas, que a ativação dos mesmos recebe da realidade que recai sobre nós como “resposta” ou “retorno”, seja das pessoas, seja das instâncias e processos coletivos com os quais o sujeito se relaciona. (cf. Elster, 2009ELSTER, Jon. Ulisses liberto: estudos sobre racionalidade, pré-compromisso e restrições. São Paulo: Editora UNESP, 2009; 2010ELSTER, Jon. La explicación del comportamiento social: más tuercas y tornillos para los científicos sociales. Barcelona: Editora Gedisa, 2010. ). Mesmo “acontecimentos” que não foram resultado da ação original do sujeito que os experimenta ou os sofre são apropriados (filosoficamente, inclusive) pelo mesmo, que os toma como “experiência” adquirida e como “filosofia de vida” (cf. Dewey, 1959DEWEY, John. Como pensamos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959.; Dubet, 2010DUBET, François. Sociología de la experiencia. Madrid: Editorial Complutense/CIS, 2010.).

Análises antropológicas como as de Barth (1967BARTH, Fredrik. On the Study of Social Change. American Anthropologist. v. 69, n. 06, p. 661-669, 1967.; 2000BARTH, Fredrik. O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro: Editora Contra-Capa, 2000.) e Van Velsen (2010VAN VELSEN, Jaap. A análise situacional e o método de estudo de caso. In: FELDMAN-BIANCO, Bela. (Org.). Antropologia das sociedades contemporâneas: métodos. São Paulo: Editora UNESP , 2010. p. 437-468.) subscrevem um sujeito que faz contínuas escolhas sobre atitudes e comportamentos que porão em causa no mundo social. Por trás de uma ação, Van Velsen (2010VAN VELSEN, Jaap. A análise situacional e o método de estudo de caso. In: FELDMAN-BIANCO, Bela. (Org.). Antropologia das sociedades contemporâneas: métodos. São Paulo: Editora UNESP , 2010. p. 437-468., p. 441) enxerga “um indivíduo [que] pode fazer uma escolha [...] de acordo com os seus objetivos em determinada situação”. Segundo Van Velsen (2010VAN VELSEN, Jaap. A análise situacional e o método de estudo de caso. In: FELDMAN-BIANCO, Bela. (Org.). Antropologia das sociedades contemporâneas: métodos. São Paulo: Editora UNESP , 2010. p. 437-468., p. 442) “em qualquer sociedade, o indivíduo terá, por vezes, que optar entre várias normas contraditórias”. Se, “as normas [...] dificilmente serão compatíveis entre si em todos os sentidos” (Van Velsen, 2010VAN VELSEN, Jaap. A análise situacional e o método de estudo de caso. In: FELDMAN-BIANCO, Bela. (Org.). Antropologia das sociedades contemporâneas: métodos. São Paulo: Editora UNESP , 2010. p. 437-468., p. 442), os nossos interesses e metas também sofrem “curto-circuito” durante a realização de um entre os vários. Isto é, interesses e metas colidem, expressam “lealdades conflitantes” (Van Velsen, 2010VAN VELSEN, Jaap. A análise situacional e o método de estudo de caso. In: FELDMAN-BIANCO, Bela. (Org.). Antropologia das sociedades contemporâneas: métodos. São Paulo: Editora UNESP , 2010. p. 437-468., p. 454) e, cada um deles, demanda sua urgência quando estamos realizando um ou outro.

Assim:

[...] em todas as sociedades existem incongruências e contradições entre os vários conjuntos de normas nos diferentes campos de ação. Um problema que os membros de qualquer sociedade devem resolver é o de viver com tais incongruências por meio da manipulação de normas [...]. (Van Velsen, 2010VAN VELSEN, Jaap. A análise situacional e o método de estudo de caso. In: FELDMAN-BIANCO, Bela. (Org.). Antropologia das sociedades contemporâneas: métodos. São Paulo: Editora UNESP , 2010. p. 437-468., p. 442).

Um dos efeitos colaterais da complexidade social é a pluralidade de demandas e conflito inerente entre elas (Giddens et al., 1997GIDDENS, Anthony.; BECK, Ulrich; LASH, Scott. A modernização reflexiva. São Paulo: UNESP, 1997.; Certeau, 2011CERTEAU, Michel de. A cultura no plural. São Paulo: Editora Papirus, 2011.). Embora sempre possuam uma “margem de possibilidades” para efetuar suas estratégias de realização dos próprios interesses - pondo em ação táticas de maximizar a conquista dos seus interesses pessoais na relação de força com os interesses coletivos (cf. Elster, 1999ELSTER, Jon. Juicios salomónicos: las limitaciones de la racionalidad como principio de decisión. Barcelona: Gedisa Editorial, 1999. ; 2009ELSTER, Jon. Ulisses liberto: estudos sobre racionalidade, pré-compromisso e restrições. São Paulo: Editora UNESP, 2009; 2010ELSTER, Jon. La explicación del comportamiento social: más tuercas y tornillos para los científicos sociales. Barcelona: Editora Gedisa, 2010. ; Van Velsen, 2010VAN VELSEN, Jaap. A análise situacional e o método de estudo de caso. In: FELDMAN-BIANCO, Bela. (Org.). Antropologia das sociedades contemporâneas: métodos. São Paulo: Editora UNESP , 2010. p. 437-468.) -, os agentes experimentam o conflito não somente entre suas metas e as metas coletivas, mas também entre suas metas particulares, elegendo as que são mais urgentes e as que podem ser adiadas (Elster, 2010ELSTER, Jon. La explicación del comportamiento social: más tuercas y tornillos para los científicos sociales. Barcelona: Editora Gedisa, 2010. ).

Seja para os psicólogos educacionais Dweck e Elliot (2005DWECK, Carol; ELLIOT, Andrew. Handbook of competence and motivation. New York: Guilford Press, 2005.), seja para um sociólogo da interação como Goffman (2011GOFFMAN, E. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis, RJ: Editora Vozes , 2011.), a “estratégia” pessoal de ação tem a ver com a gestão de si (Bandura, 2008BANDURA, Albert. O sistema do self no determinismo recíproco. In: BANDURA, Albert; Roberta G.; POLYDORO, Soely A. J. (orgs.) Teoria social cognitiva . Porto Alegre: Editora Artmed , 2008. p. 43-68.), a autorregulação nas interações (Azzi; Polydoro, 2008AZZI, Roberta Gurgel; POLYDORO, Soely A. J. Auto-regulação: aspectos introdutórios. In: BANDURA, Albert; AZZI, Roberta Gurgel; POLYDORO, Soely A. J. Teoria social cognitiva. Porto Alegre: Editora Artmed, p. 149-164, 2008.), bem como com o monitoramento reflexivo do “eu” no cenário social (Giddens, 2009GIDDENS, Anthony. Consciência, self e encontros sociais. In: GIDDENS, A. A constituição da sociedade. São Paulo: Editora Martins Fontes , 2009. p. 47-128). As “táticas” de ação originam as diferentes maneiras de agir num tecido social (cf. Bandura, 2008BANDURA, Albert. O sistema do self no determinismo recíproco. In: BANDURA, Albert; Roberta G.; POLYDORO, Soely A. J. (orgs.) Teoria social cognitiva . Porto Alegre: Editora Artmed , 2008. p. 43-68.; Elster, 2009ELSTER, Jon. Ulisses liberto: estudos sobre racionalidade, pré-compromisso e restrições. São Paulo: Editora UNESP, 2009) e abrem um leque de possibilidades de escolhas, enriquecendo a capacidade inventiva dos atores que elaboram “desvios” às opções restritivas, resistências às agências heterônomas de controle e de tomada de decisão.

Dessa maneira,

[...] a cena aparece no contexto da vida cotidiana. [...] [com] um certo número de pessoas com personalidades bem diferentes, reagindo a um conjunto de regras [...] [grupais] [...] de maneiras diferentes, seja conformando-se com essas regras, seja rebelando-se contra elas. (Richards, 1939, p.160 apudVan Velsen, 2010VAN VELSEN, Jaap. A análise situacional e o método de estudo de caso. In: FELDMAN-BIANCO, Bela. (Org.). Antropologia das sociedades contemporâneas: métodos. São Paulo: Editora UNESP , 2010. p. 437-468., p. 445).

Então, “normas e regras gerais de conduta são traduzidas em prática e, em última análise, manipuladas por indivíduos em situações específicas para servirem a fins específicos, o que dá margem a variações [...]” (Van Velsen, 2010VAN VELSEN, Jaap. A análise situacional e o método de estudo de caso. In: FELDMAN-BIANCO, Bela. (Org.). Antropologia das sociedades contemporâneas: métodos. São Paulo: Editora UNESP , 2010. p. 437-468., p. 449). Se há pluralidade de interesses, valores e grupos existentes e concorrentes no cenário social, e se as variações entre eles “ampliaram a escolha, para os indivíduos [...] entre as normas de comportamento” (Van Velsen, 2010VAN VELSEN, Jaap. A análise situacional e o método de estudo de caso. In: FELDMAN-BIANCO, Bela. (Org.). Antropologia das sociedades contemporâneas: métodos. São Paulo: Editora UNESP , 2010. p. 437-468., p. 457) numa mesma sociedade, devemos entender por “escolha” a “seleção por parte dos indivíduos de normas alternativas de comportamento dentro de uma estrutura social persistente” (Van Velsen, 2010VAN VELSEN, Jaap. A análise situacional e o método de estudo de caso. In: FELDMAN-BIANCO, Bela. (Org.). Antropologia das sociedades contemporâneas: métodos. São Paulo: Editora UNESP , 2010. p. 437-468., p. 457). O autogerenciamento e a autodeterminação são componentes inegáveis da reflexividade dos agentes no tecido social contemporâneo.

Considerações finais

A sociedade reflexiva implica, invariavelmente, uma “autoconfrontação” (Giddens et al., 1997GIDDENS, Anthony.; BECK, Ulrich; LASH, Scott. A modernização reflexiva. São Paulo: UNESP, 1997., p. 16), seja da sociedade consigo mesma (influenciada pelos grupos de interesses políticos e por grupos de especialistas dotados de conhecimentos divergentes e diferenciados sobre diversas esferas e conteúdos do social), seja dos grupos entre si (pelas trocas constantes e desafios reflexivos que as comunidades de interesses e conhecimentos rivais ou heterogêneos fixam umas às outras). Do mesmo modo, os próprios sujeitos em interação, também se veem desafiados a “dar razões” (para si mesmos e para os outros) dos seus atos, assim como são levados a refletir e a empenharem a si mesmos nos afazeres cotidianos que o sistema simbólico-valorativo do tecido cultural da modernidade reflexiva impõe a todos - sujeitos, grupos, instituições etc. -, sem exceção.

Compreendemos que as evidências oferecidas pelos teóricos citados (supra), possibilitam-nos formular que uma teoria sociológica da subjetividade explicita alguns pontos essenciais. Tais elementos fundamentais são: (a) os processos de formação da subjetividade são iniciados desde o nascimento, (b) ocorrem por meio de uma interação entre o indivíduo e seu meio ambiente sócio-histórico-cultural e num (c) alinhamento intersubjetivo de comportamentos sociais (papéis sociais dotados de expectativas e restrições) e práticas discursivas. Tais trocas intersubjetivas (d) ocorrem pela mediação de símbolos, por meio dos quais - realizando atos de significação - os homens atribuem sentido ao mundo e à sua existência.

Em razão de tais processos, a subjetividade do sujeito é plural e o sujeito é um ator reflexivo e “criativo”, um meio da inovação social, “um princípio de imprevisibilidade (Mounier, 2010MOUNIER, Emmanuel. O personalismo. Rio de Janeiro: Edições Texto e Grafia, 2010., p. 08) do mundo social. Assim, “a pessoa é, antes de mais nada, o não, a recusa de aderir, a possibilidade de se opor, de duvidar, de resistir (idem, p. 18MOUNIER, Emmanuel. O personalismo. Rio de Janeiro: Edições Texto e Grafia, 2010.) e, ainda, “um centro de reorientação do universo [social] objetivo” (Mounier, 2010MOUNIER, Emmanuel. O personalismo. Rio de Janeiro: Edições Texto e Grafia, 2010., p. 20).

Diversas evidências apontam para uma compreensão da centralidade do sujeito nos processos sociais. Esse sujeito atua como um agente autônomo dentro de um mundo socioculturalmente organizado, mas em transformação contínua (embora conservando as regularidades sociais que a sociologia estuda). Sem dúvidas, tal autonomia e a individuação que ela implica são, per se, socioculturalmente constituídas.

A ênfase na autonomia, individuação e reflexividade do sujeito supõe “algo” de permanente num sujeito que é plural e cuja identidade nunca é fixa. O que há de permanente na subjetividade do sujeito é o seu centro de monitoramento das ações que é o self. O self é o centro reflexivo do sujeito, e a reflexividade que ele implica demarca a centralidade do sujeito como “gestor” de si e de suas ações e interações - com pessoas e coisas - nos cenários sociais.

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  • VYGOTSKY, Lev Semenovich. Conscience, inconscient, emotions. Paris: La Dispute, [1925] 2003.
  • 1
    Vygotsky ([1925] 2003VYGOTSKY, Lev Semenovich. Conscience, inconscient, emotions. Paris: La Dispute, [1925] 2003., p. 76) postula que “o homem está, a cada minuto, repleto de possibilidades não realizadas.”. Nesse sentido, temos possibilidades que podem ser [ou terem sido] frustradas, mas, também, temos possibilidades ainda a realizar, contempladas de maneira projetiva. Para o sujeito, uma possibilidade que ele não consegue realizar não demarca apenas a frustração, mas também a insistência (Frankl, 1989FRANKL, Viktor E. Um sentido para a vida. Aparecida: Editora Santuário, 1989.; Dupuy, 1992DUPUY, Jean-Pierre. Introduction aux sciences sociales. Logique des phénomènes collectifs. Paris: Ellipses, 1992.; Searle, 1983SEARLE, John. R. Intentionality: An essay in the philosophy of mind. Cambridge: Cambridge University Press , 1983.).
  • 2
    Dubet (2010DUBET, François. Sociología de la experiencia. Madrid: Editorial Complutense/CIS, 2010., p. 86) apresenta os jogos da experiência social “a partir de uma concepção estratégica da ação”. Dentro desse quadro, postula que “o ator é orientado pelos seus interesses, pela percepção que tem deles e pelas regras da organização [da experiência]. É uma estratégia que se situa num espaço do jogo que ele não escolhe, mas que pode modificar ao jogar. Daqui resulta uma racionalidade limitada em relação aos objetos pretendidos e às oportunidades que se oferecem ao indivíduo. A racionalidade do estratega é limitada, porque os atores não conhecem todas as condições do jogo [social] e não podem antecipar todas as consequências das suas decisões na ordem do sistema. No entanto, cada um dispõe de um poder que depende da sua capacidade de negociação; o outro não é unicamente um obstáculo, ele é também um recurso da estratégia, o que explica a ambivalência emocional das relações feitas de alianças e de rivalidade, pois que outrem é, alternadamente, aliado e rival.” (Dubet, 2010DUBET, François. Sociología de la experiencia. Madrid: Editorial Complutense/CIS, 2010., p. 86).
  • 3
    Por meio da reflexão autoexaminadora ou da reflexão provocada, seja pelas consequências negativas de uma ação passada, seja pela confrontação cruzada com o ponto de vista de outrem.
  • 4
    Barth (1967BARTH, Fredrik. On the Study of Social Change. American Anthropologist. v. 69, n. 06, p. 661-669, 1967., p. 663) formula: “Aquilo que as pessoas querem obter, os fins variados que perseguem, fornecem a orientação para sua conduta. Por outro lado, as restrições técnicas e ecológicas condenam alguns tipos de conduta ao fracasso e recompensam outros, enquanto a presença de outros atores impõe restrições estratégicas e oportunidades que modificam as escolhas favoráveis que as pessoas podem fazer.”.
  • 5
    “[...] apenas o contato entre a significação linguística e a realidade concreta, apenas o contato entre a língua e a realidade - que se dá no enunciado - provoca o lampejo da expressividade [do sujeito].” (Bakhtin, 2003BAKHTIN, Mikhail. A estética da criação verbal. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2003., p. 311).
  • 6
    A intencionalidade é “aquela propriedade de muitos estados e eventos mentais pela qual estes são dirigidos para, ou acerca de, objetos e estados de coisas do mundo” (Searle, 1983SEARLE, John. R. Intentionality: An essay in the philosophy of mind. Cambridge: Cambridge University Press , 1983., p. 1)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Aug 2018
  • Data do Fascículo
    Ago 2018

Histórico

  • Recebido
    23 Out 2016
  • Aceito
    27 Jun 2017
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