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Ocorrência de Ralstonia pseudosolanacearum em pimenta de cheiro (Capsicum chinense) no estado do Pará

A murcha bacteriana causada pelo complexo da espécie _xbeRalstonia solanacearum_xbe é uma doença endêmica na região Norte do Brasil, chegando a ser limitante ao cultivo de várias espécies de plantas, em especial da família solanaceae. Dentre as espécies de pimentas, Capsicum chinense tem a Amazônia como seu maior centro de diversidade em morfotipos sendo conhecida por diversos nomes comuns como: pimenta de cheiro, pimenta de bode, cumari do Pará, murupi, habanero e biquinho (11 Carvalho, S.I.C.; Bianchetti, L.B. Botânica e recursos genéticos. In: Ribeiro, C.S.C.; Lopes, A.C.; Carvalho, S.I.; Henz, G.P.; Reifschneider, F.J.B. Pimentas Capsicum. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2008. p.39-54.). No estado do Pará, a pimenta de cheiro está entre as mais cultivadas, representando importante alternativa de renda para agricultores familiares. No ano de 2015, observou-se a ocorrência de plantas com sintomas de murcha em plantios desta hortaliça (Figura 1A, B) nos municípios de Castanhal e Santo Antônio do Tauá, Pará. As plantas sintomáticas foram coletadas e transportadas ao Laboratório de Fitopatologia da Embrapa Amazônia Oriental onde foram realizados os procedimentos para a identificação do patógeno. A partir de exsudatos do caule, procedeu-se o isolamento bacteriano em meio 523 (55 Kado, C.I.; Heskett, M.G. Selective media for isolation of Agrobacterium, Corynebacterium, Erwinia, Pseudomonas and Xanthomonas. Phytopathology, St. Paul, v.60, n.6, p.969-976, 1970.). Foram obtidos três isolados de colônias lisas, fluidas, irregularmente arredondadas e opacas típicas da bactéria. Foi realizado teste de patogenicidade a partir de colônias individuais, inoculando-se cada isolado em cinco mudas sadias de pimenta de cheiro, onde as raízes podadas com tesoura foram imersas por cinco minutos em suspensão bacteriana calibrada para 10_xbe8_xbe_xbe_xbe UFC/mL. Como controle, realizou-se o mesmo procedimento em água, antes de serem transferidas para vasos. As plantas foram mantidas a temperatura de 28 a 30 °C. Para todos os isolados, os sintomas de murcha iniciaram-se cinco dias após a inoculação, evoluindo até a morte das plantas aos 16 dias após a inoculação (Figura 1C, D, E). A identidade do patógeno foi confirmada por PCR utilizando-se o par de _xbeprimers_xbe 759/760 que amplificaram um fragmento de 282 pb (66 Opina, N.; Tavner, F.; Holloway, G.; Wang, J.F.; Li, T.H.; Maghirang, R.; Fegan, M.; Hayward, A.C.; Krishnapillai, V.; Hong, W.F.; Holloway, B.W.; Timmis, J.N. A novel method for development of species and strain specific DNA probes and PCR primers for identifying Burkholderia solanacearum (formerly Pseudomonas solanacearum). Asia Pacific Journal of Molecular Biology Biotechnology, Kuala Lumpur, v.5, p.19-30, 1997.) para os três isolados. Por meio dos testes bioquímicos propostos por Hayward (44 Hayward, A.C. Characteristics of Pseudomonas solanacearum. Journal of Applied Bacteriology, Oxford, v.27, p.265-277, 1964.), os três isolados pertencem à biovar 3. Pelo teste PCR-Multiplex, com _xbeprimers_xbe Nmult amplificando um fragmento de 114 pb, foram caracterizados como filotipo I (33 Fegan, M.; Prior, P. How complex is the Ralstonia solanacearum species complex? In: Allen, C.; Prior, P.; Hayward, A.C. Bacterial wilt disease and the Ralstonia solanacearum species complex. St. Paul: APS Press, 2005. p.449-461.). Dessa maneira, os três isolados foram identificados como R. pseudosolanacearum de acordo com a proposta de alteração taxonômica do complexo de espécies de Safni et al. (77 Safni, I.; Cleenwerck, I.; De Vos, P.; Fegan, M.; Sly, L.; Kappler, U. Polyphasic taxonomic revision of the Ralstonia solanacearum species complex: proposal to emend the descriptions of R. solanacearum and R. syzygii and reclassify current R. syzygii strains as Ralstonia syzygii subsp. syzygii, R. solanacearum phylotype IV strains as Ralstonia syzygii subsp. indonesiensis subsp. nov., banana blood disease bacterium strains as Ralstonia syzygii subsp. celebesensis subsp. nov. and R. solanacearum phylotypes I and III strains as Ralstonia pseudosolanacearum sp. nov. International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, Reading, v.64, p.3087-3103, 2014.). Embora a murcha bacteriana já tenha sido relatada em C. chinense na Região Norte (22 Coelho Netto, R.A.; Pereira, B.G.; Noda, H.; Boher, B. Murcha bacteriana no estado do Amazonas, Brasil. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.29, p.21-27, 2004.), com coletas realizadas principalmente no estado do Amazonas, esse é o primeiro relato de _xbeRalstonia pseudosolanacearum_xbe causando murcha bacteriana em _xbeC. chinense_xbe no estado do Pará.

Figura 1
Sintomas da murcha bacteriana em planta de pimenta do cheiro em Santo Antônio do Tauá (A, B). Reação de mudas de pimenta de cheiro dezesseis dias após a inoculação de Ralstonia pseudosolanacearum (Isolado de Castanhal - C, Isolados de Santo Antônio do Tauá - D e E).

REFERÊNCIAS

  • 1
    Carvalho, S.I.C.; Bianchetti, L.B. Botânica e recursos genéticos. In: Ribeiro, C.S.C.; Lopes, A.C.; Carvalho, S.I.; Henz, G.P.; Reifschneider, F.J.B. Pimentas Capsicum Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2008. p.39-54.
  • 2
    Coelho Netto, R.A.; Pereira, B.G.; Noda, H.; Boher, B. Murcha bacteriana no estado do Amazonas, Brasil. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.29, p.21-27, 2004.
  • 3
    Fegan, M.; Prior, P. How complex is the Ralstonia solanacearum species complex? In: Allen, C.; Prior, P.; Hayward, A.C. Bacterial wilt disease and the Ralstonia solanacearum species complex St. Paul: APS Press, 2005. p.449-461.
  • 4
    Hayward, A.C. Characteristics of Pseudomonas solanacearum Journal of Applied Bacteriology, Oxford, v.27, p.265-277, 1964.
  • 5
    Kado, C.I.; Heskett, M.G. Selective media for isolation of Agrobacterium, Corynebacterium, Erwinia, Pseudomonas and Xanthomonas Phytopathology, St. Paul, v.60, n.6, p.969-976, 1970.
  • 6
    Opina, N.; Tavner, F.; Holloway, G.; Wang, J.F.; Li, T.H.; Maghirang, R.; Fegan, M.; Hayward, A.C.; Krishnapillai, V.; Hong, W.F.; Holloway, B.W.; Timmis, J.N. A novel method for development of species and strain specific DNA probes and PCR primers for identifying Burkholderia solanacearum (formerly Pseudomonas solanacearum). Asia Pacific Journal of Molecular Biology Biotechnology, Kuala Lumpur, v.5, p.19-30, 1997.
  • 7
    Safni, I.; Cleenwerck, I.; De Vos, P.; Fegan, M.; Sly, L.; Kappler, U. Polyphasic taxonomic revision of the Ralstonia solanacearum species complex: proposal to emend the descriptions of R. solanacearum and R. syzygii and reclassify current R. syzygii strains as Ralstonia syzygii subsp. syzygii, R. solanacearum phylotype IV strains as Ralstonia syzygii subsp. indonesiensis subsp. nov., banana blood disease bacterium strains as Ralstonia syzygii subsp. celebesensis subsp. nov. and R. solanacearum phylotypes I and III strains as Ralstonia pseudosolanacearum sp. nov. International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, Reading, v.64, p.3087-3103, 2014.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2019

Histórico

  • Recebido
    14 Set 2017
  • Aceito
    14 Jun 2018
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