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A visita de quatro escritores brasileiros aos Estados Unidos em tempos de guerra (1941-1946)

The visit of four Brazilian writers to the United States in times of war (1941-1946)

Resumo:

Este artigo tem como objetivo analisar a atuação de Erico Verissimo, Orígenes Lessa, Sérgio Milliet e Vianna Moog como divulgadores das culturas brasileira e estadunidense no âmbito dos intercâmbios culturais do Office of the Coordinator of Interamerican Affairs (1941-1946), que movimentou o campo acadêmico, artístico e literário na América Latina e nos Estados Unidos e fortaleceu o ideal de entendimento mútuo para alcançar a solidariedade hemisférica no período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Esses escritores foram convidados pelo Departamento de Estado como parte do compromisso de reciprocidade do programa para melhor conhecer aspectos da cultura estadunidense, ao mesmo tempo em que deveriam divulgar a cultura brasileira nas cidades pelas quais passaram. Demonstrarei como a participação desses intelectuais foi atravessada por projetos pessoais, profissionais e políticos, num cenário de reivindicação pela liberdade de expressão e de imprensa no período autoritário do governo de Getúlio Vargas.

Palavras-chave:
Relações culturais entre Brasil e Estados Unidos; Office of the Coordinator of Interamerican Affairs; escritores brasileiros

Abstract:

This article aims to analyze Erico Verissimo, Orígenes Lessa, Sérgio Milliet and Vianna Moog’s commitment to disseminate the Brazilian and North American cultures in the cultural exchange programs carried out by the Office of the Coordinator of Interamerican Affairs (1941-1946), which caused excitement among academics, artists, and writers in Latin America and in the United States and fostered the objective of mutual understanding to reach hemispheric solidarity during the Second World War (1939-1945). They were invited by the State Department as part of the reciprocity of the program to better understand aspects of North American culture. At the same time, they were to disseminate Brazilian culture in the cities they visited. I will demonstrate that these participations were crisscrossed by individual, professional, and political motivations in a context in which writers and journalists claimed for freedom of expression and freedom of the press under the authoritarian government of Getúlio Vargas.

Keywords:
Cultural relations between Brazil and the United States; Office of the Coordinator of Interamerican Affairs; Brazilian writers

Introdução

A conjuntura política e econômica da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) estimulou a criação do Office of the Coordinator of Interamerican Affairs (OCIAA), um órgão vinculado diretamente ao Departamento de Estado dos Estados Unidos que tinha por objetivo declarado estreitar os laços políticos, econômicos e culturais com os países latino-americanos. O OCIAA, coordenado pelo jovem magnata Nelson Rockefeller, movimentou o campo cultural de vários países por meio do financiamento de projetos de natureza diversa que atingiram suas elites e classes médias, bem como as áreas e as cidades mais recônditas das Américas.

No âmbito intelectual, um contrato de cem mil dólares possibilitou o intercâmbio de professores universitários, acadêmicos e “trabalhadores criativos” (escritores, artistas plásticos, músicos, fotógrafos) entre a América Latina e os EUA. Em 1942, a Comissão de Relações Artísticas e Intelectuais Interamericanas reuniu representantes das três entidades filantrópicas estadunidenses mais atuantes na área cultural para conduzir a missão: Henry Allen Moe, da Guggenheim Foundation; Frederick P. Keppel, da Carnegie Corporation; e David H. Stevens, da Rockefeller Foundation (Morinaka, 2017MORINAKA, Eliza Mitiyo. Ficção e política em tempo de guerra: o projeto tradutório estadunidense para a literatura brasileira (1943-1947). Estudos Históricos (Rio de Janeiro). v. 30, n. 62, p. 661-680, 2017. Disponível em:http://dx. doi.org/10.1590/S2178-14942017000300008. Acesso em: 16 abr. 2020.
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). O interesse das entidades filantrópicas nas relações culturais ou na diplomacia cultural dos EUA ultrapassava a declarada ajuda humanitária a países em desenvolvimento, revelando os interesses privados que convergiram para a política e a diplomacia de Estado (Berman, 1983BERMAN, Edward. The ideology of philanthropy: the influence of Carnegie, Ford, and Rockefeller Foundations on American foreign policy. Berkeley: University of California Press, 1983.; Parmar, 2012PARMAR, Inderjeet. Foundations of the American Century. Nova York: Columbia University Press, 2012.).1 1 Dumont e Aubert (2021) analisam os diferentes termos que tratam dos intercâmbios culturais promovidos de maneira direta ou indireta pelos Estados na região do Atlântico desde o final do século XIX. As denominações variam de acordo com os períodos, os países que promoviam as trocas culturais, a maneira como os governos tratavam as relações nos documentos oficiais e como os acadêmicos examinam essas relações atualmente. Neste artigo usarei o termo “relação cultural” por se tratar das “condições, das formas e dos objetivos das interações culturais, particularmente a articulação entre as políticas de Estado e os atores do setor privado” (tradução nossa).

Visando atingir a elite intelectual, a viagem de editores estadunidenses para vários países da América Latina em 1942 movimentou o mercado das publicações (Morinaka, 2019MORINAKA, Eliza Mitiyo. Livros, trocas culturais e relações internacionais Brasil-Estados Unidos em um contexto de guerra (1941-1946). Varia Historia(Belo Horizonte). v. 35, n. 69, p. 691-722, 2019. Disponível em:http://dx.doi.org/10.1590/0104-87752019000300002. Acesso em: 10 jun. 2020.
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). Já o projeto “Visita de editores brasileiros aos EUA” tinha como objetivo convidar pessoas ligadas ao universo das publicações para conhecer os EUA, a exemplo de Freitas Bastos, José Olympio, Martins Fontes, Geraldo de Ulhoa Cintra, Orlando F. Rocha e Erico Verissimo. Jornalistas, publicitários, acadêmicos, músicos e compositores brasileiros também estavam no rol de ilustres visitantes que receberam subsídios. Entre eles estavam Assis Chateaubriand, megaempresário dos Diários Associados, Caio Julio César Vieira, de O Jornal e Diário da Noite (ambos integravam os Diários Associados), Sergio Milliet, escritor de A Manhã e chefe da seção editorial de O Estado de S.Paulo, e vários jornalistas do Diário de São Paulo, O Globo e Diário de Notícias. Também receberam o convite Pedro Calmon, Sérgio Buarque de Holanda, Dante de Laytano, Francisco Mignone, Antônio C. Leão e Christovam L. de Castro (Morinaka, 2020MORINAKA, Eliza Mitiyo. Livros, trocas culturais e relações internacionais Brasil-Estados Unidos em um contexto de guerra (1941-1946). Varia Historia(Belo Horizonte). v. 35, n. 69, p. 691-722, 2019. Disponível em:http://dx.doi.org/10.1590/0104-87752019000300002. Acesso em: 10 jun. 2020.
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).

Além desse grupo de brasileiros, outros “líderes” de igual calibre da América Latina - de acordo com a denominação usada por Espinosa (1976ESPINOSA, Manuel J. Inter-American beginnings of US cultural diplomacy, 1936-1948. Washington: Department of State Publications, 1976.) - foram convidados do Departamento de Estado: dr. Aurelio Espinosa Polit, reitor da Universidade Católica de Quito; comandante Fernando Romero, instrutor da Universidade Naval Peruana e romancista; LuisValcárcel, diretor do Museu de Arqueologia do Peru; Maurice Dartigue, diretor da Educação Rural do Haiti, entre outros. Isso demonstrava claramente, segundo Espinosa, que os programas eram direcionados para as pessoas que eram capazes de moldar o pensamento e a opinião das elites educadas dos países latino-americanos, os “dez por cento que moldaram os destinos do público latino-americano para a causa dos Aliados e a solidariedade hemisférica”, ou seja, os “líderes” formadores de opinião (Espinosa, 1976ESPINOSA, Manuel J. Inter-American beginnings of US cultural diplomacy, 1936-1948. Washington: Department of State Publications, 1976., p. 167).

Os projetos do OCIAA destinados ao intercâmbio de intelectuais estavam abrigados em diferentes divisões ou unidades. Alguns eram propostos diretamente pelo próprio Departamento de Estado, enquanto outros nasciam no âmbito da Biblioteca do Congresso, Fundação Hispânica, American Library Association, American Council of Learned Societies (ACLS), Divisão de Educação ou Unidade de Publicações do OCIAA. Eles eram apresentados à Comissão Mista (composta por representantes do OCIAA, Departamento de Estado, ACLS e divisões do OCIAA), que decidia sobre sua aprovação ou não, e que, depois, encaminhava os projetos aprovados para a liberação dos subsídios. As fundações filantrópicas como a Rockefeller, Carnegie e Guggenheim também disponibilizaram recursos para os intercâmbios intelectuais nesse mesmo período como visto anteriormente. Quando o financiamento vinha dessas fundações, a Comissão Mista acolhia seus representantes para juntos avaliarem as propostas (Morinaka, 2020MORINAKA, Eliza Mitiyo. Tradução como política: escritores e tradutores em tempos de guerra. Salvador: Eduf­ba, 2020.).

Os escritores gaúchos Erico Verissimo (1905-1975) e Vianna Moog (1906-1988) e os paulistas Orígenes Lessa (1903-1986) e Sérgio Milliet (1898-1966), personagens do circuito editorial brasileiro que são o foco de minha pesquisa, visitaram ou trabalharam nos EUA a convite do Departamento de Estado via OCIAA. Assim, o objetivo deste artigo é analisar a participação desses escritores na disseminação das culturas brasileira e estadunidense e seu desiderato pautado na construção da solidariedade hemisférica em prol dos Aliados. A falta de liberdade de expressão e de imprensa marcou o governo de Getúlio Vargas, principalmente os anos iniciais da criação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).2 2 O DIP foi estabelecido pelo Decreto-lei presidencial nº 1915, em 27 de dezembro de 1939. Porém, em 1942, houve alguma abertura para manifestações de jornalistas e escritores na imprensa e na sociedade civil. Segundo Grecco (2021GRECCO, Gabriela de Lima. Palavras que resistem. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2021., p. 45), após a declaração de guerra do Brasil contra o Eixo em agosto de 1942 e “a crítica crescente ao regime [de Vargas] por parte de muitos setores, o DIP foi obrigado a diminuir o controle e a censura para dar um caráter mais ‘democratizante’ ao regime e procurar sua sobrevivência.” Esse fato pode ter contribuído para que projetos literários, pessoais, profissionais e políticos desses escritores pudessem ser concretizados ao mesmo tempo que vislumbravam a aliança com os EUA como um dos meios para se conseguir uma maior democratização.3 3 Destaque-se a análise do campo intelectual durante o Estado Novo feita por Velloso (1987, 2003) e Oliveira (2003).

Minha pesquisa dialoga com os trabalhos de Maria Luiza G. Atik (1999ATIK, Maria Luiza Guarnieri. Sérgio Milliet: um mediador cultural. Todas as Letras (São Paulo). n. 1, p. 43-52, 1999.), Maria A. G. Gatti (2013GATTI, Maria Antônia Girardello. Nas entrelinhas da Boa Vizinhança: literatura e política na trajetória de Erico Verissimo entre Brasil e Estados Unidos (1941-1945). Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2013.), Richard C. Smith (2013SMITH, Richard Cándida. Erico Verissimo: a Brazilian cultural ambassador in the United States. Tempo(Rio de Janeiro). v. 17, n. 34, p. 147-173, 2013. Disponível em:https://doi.org/10.5533/TEM-1980-542X- 2013173412. Acesso em: 17 jul. 2020.
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), Carlos C. Minchillo (2015MINCHILLO, Carlos Cortez. Erico Verissimo, escritor do mundo. São Paulo: Edusp, 2015.), Maria da Gloria Bordini (2008BORDINI, Maria da Glória. Amigos, amigos, literatura à parte: Vianna Moog e Erico Verissimo.Teresa [s.l.]. n. 8-9, p. 205-222, 2008. Disponível em:Disponível em:https://www.revistas.usp.br/teresa/article/view/116702 . Acesso em: 31 jan. 2022.
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e 2016) e Patricia C. Gonsales (2016GONSALES, Patricia Cecilia. Sérgio Milliet e a metrópole paulistana. São Paulo: Editora Mackenzie, 2016.), mas difere quanto ao material arquivístico consultado para compor a narrativa.4 4 Sobre Sérgio Milliet: Atik (1999) traçou o perfil de Milliet como um mediador cultural analisando sua obra Panorama da moderna poesia brasileira (1952); e Gonsales (2016) examinou a carreira de Milliet e sua participação para a democratização da cultura em São Paulo. Sobre Erico Verissimo: a dissertação de Gatti (2013) analisou a relação entre literatura e política nas narrativas de viagem de Verissimo, alicerçada por documentos encontrados nos seguintes arquivos: Departamento de Ordem Política e Social, Federal Bureau of Investigation e NARA II; Smith (2013) investigou as consequências da estadia de Verissimo nos EUA na sua carreira literária utilizando-se da documentação do Instituto Moreira Salles (IMS); Minchillo (2015) examinou como a trajetória internacional de Verissimo refletiu em seus relatos de viagem e romances “estrangeiros”, explorando documentos dos seguintes arquivos: IMS, Fundação Casa de Rui Barbosa, Harry Ransom Center, Instituto de Estudos Brasileiros, NARA II, Smithsonian Institute Archives, entre outros; Bordini (2008) mostrou a gênese do romance O resto é silêncio, os dois primeiros volumes de O tempo e o vento e Bandeirantes e pioneiros, por meio do conteúdo presente em uma troca de cartas entre Verissimo e Vianna Moog, que se encontra no IMS; e o artigo de 2016 analisou a carreira de Verissimo na União Pan-Americana, nos EUA, entre 1953 e 1956, recorrendo ao arquivo do IMS. Utilizei fontes primárias encontradas em dois arquivos dos EUA: National Archives and Records Administration II (NARA II), em College Park (MD);5 5 NARA II - National Archives and Records Administration. RG 229, Office of Inter-American Affairs. College Park, Maryland (MD), USA. e no Archival and Manuscript Collection, na Northwestern University, Evaston (IL). O conjunto de fontes composto por correspondência pessoal e relatórios administrativos que apresento com ineditismo abre pequenas janelas para se compreender um pouco mais sobre o universo dos escritores e jornalistas da época.

Cada seção deste artigo será dedicada à análise da participação de cada escritor nos projetos do OCIAA, mostrando suas singularidades bem como os múltiplos fatores de ordem pessoal, profissional e política que atravessaram a atuação desses sujeitos. Cada um, à sua maneira, agarrou as oportunidades para a sobrevivência como escritor ou jornalista no conturbado período político frente ao cenário de guerra, que os aproximavam do discurso da democracia nos EUA, possibilitando a expansão de projetos pessoais e profissionais.

Sérgio Milliet e a Sociedade de Escritores Brasileiros

Em setembro de 1942, as discussões sobre a aliança hemisférica ocorridas na então Sociedade de Escritores Brasileiros (SEB),6 6 Em 1943, a SEB passou por reformulações e adotou outro nome, Associação Brasileira de Escritores (ABDE). Como a nova proposta era acolher profissionais do território nacional, a sede foi transferida para o Rio de Janeiro, o Distrito Federal à época. Felipe Victor Lima (2015) traçou o histórico da transição da SEB para ABDE, chamando a atenção para a importância de se estabelecer as balizas temporais e os locais onde ficavam as associações para evitar equívocos comuns que aparecem em trabalhos que tratam dessas entidades. na cidade de São Paulo, chegaram ao conhecimento de Nelson Rockefeller por meio de um pedido de Sérgio Milliet, presidente da Sociedade, a Cecil M. P. Cross, cônsul-geral dos EUA no Brasil. Como o consulado e o OCIAA comunicavam-se constantemente para otimizar as atividades, Cross encaminhou um manifesto elaborado pela Sociedade a Berent Friele, coordenador do OCIAA no Rio de Janeiro, mencionando que a SEB era uma “organização de primeira classe” e o manifesto continha ótimas sugestões de intercâmbio de escritores entre as repúblicas americanas. Cross pontuou que uma resposta de Rockefeller a Milliet, um “proeminente escritor brasileiro” seria capaz de produzir bons frutos nos círculos intelectuais de São Paulo.7 7 National Archives and Records Administration II (NARA II). Record Group 229 (RG229), Office of Inter-American Affairs (OIAA). Regional Division, Coordination Committee for Brazil: General Records, 1941-1945 (RD, CCB). Legal Archives (LGA). Cross a Friele, 18 set. 1942. Box 1310 (Cortesia do Nara II). Vejamos algumas partes do “Manifesto ao pensamento americano”:8 8 O manifesto completo pode ser encontrado no Anexo I deste artigo.

Manifesto ao pensamento americano

A Sociedade dos Escritores Brasileiros, procurando uma oportunidade para maior entendimento entre os escritores do Brasil e dos demais países irmãos do continente e reconhecendo, depois de debatidos os pontos essenciais dessa aproximação, a necessidade da fundação de um organismo internacional destinado à vigilância e defesa dos interesses materiais e morais dos escritores das três Américas, decidiu apresentar essa sugestão, na certeza de contar com o decidido apoio de todos os americanos que, nesta altura, vêm colocando ao serviço da liberdade humana as suas mais elevadas expressões de arte ou ciência.

[...]

Para enfrentar e resolver os problemas ligados à condição de escritor, é imprescindível, desde já, a união dos intelectuais autenticamente democráticos, daqueles que ainda continuam corajosamente a representar os sentimentos mais puros de suas nações e que permanecem amando a liberdade de opinião e, nela, a própria essência do progresso humano. Sem que se canalize para um só corpo harmônico a saúde verbal dos escritores livres do continente, dispersivo se apresentará qualquer trabalho de depuração espiritual.

Ora, chegou o instante das Américas influírem nos destinos da humanidade. Se alguma transformação vier para a mentalidade criadora do Novo Mundo, com a justiça assegurando a exata distribuição e valorização das atividades e o direito restaurando na comunhão social de cada povo uma paz sem explorações nem subornos, não resta dúvida que essa ordem nascerá da contribuição de todos os americanos. Mas só estarão preparados para essa missão aqueles que se unirem no anseio de apagar da história contemporânea a ignomínia das superioridades raciais e do predomínio de castas; aqueles que lutarem contra as místicas e as tiranias que oprimem a consciência do trabalho intelectual.

Convém, pois, definir o pensamento e o sentimento pan-americanos, como ideal, como doutrina e como processo de luta. Convém saber o que representa, direta ou disfarçadamente, perigo para a honesta manifestação do pensamento e qual a força que insiste em criar delito de opinião naquilo que é apenas desejo de viver nobremente.

Localizem-se os focos deletérios que se antepõem ao rumo democrático das artes, para em seguida exterminá-los pelo expurgo mais solene e mais completo. Estabeleça-se o critério da arte livre, como emancipação ou como crítica, pois na arte livre está a síntese de toda arte criadora e construtiva. Coloquem-se, enfim, muralhas de aço contra os dogmas corruptores que pretendem governar em nome da razão armada e consciência artística do mundo (Cross, 18 set. 1942; destaques nossos).9 9 Cross a Friele, 18 set. 1942. Ver nota 7.

O desejo de liberdade de pensamento e de expressão nas artes permeia todo o manifesto, reflexo dos debates feitos no interior da SEB. Mas também é possível ver marcas claras do pan-americanismo surgido nos anos 1930 e das ideias difundidas pelo OCCIA, fundado um pouco antes da SEB. O tom político e social parece ter permeado as discussões na SEB desde a sua fundação em 1942.10 10 As notícias da SEB encontradas em jornais brasileiros da época tratavam somente do caráter profissional da agremiação, porém, essa carta assinada por membros da SEB e destinada a Nelson Rockefeller ratifica a afirmação de Lima (2015) de que as memórias registradas por alguns escritores destacaram o comprometimento político das suas atividades. Seus debates culminaram no I Congresso de Escritores Brasileiros, realizado em 1945 na cidade de São Paulo. De acordo com Ana Amélia de Melo (2011MELO, Ana Amélia de Moura Cavalcante. Associação brasileira de escritores: dinâmica de uma disputa. Varia Historia (Belo Horizonte). v. 27, n 46, p. 711-732, 2011. Disponível em: https://doi.org/10.15 90/S0104-87752011000200016. Acesso em: 13 jun. 2020.
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), apesar das divergências de opiniões decorrentes do fato de que vários membros da sociedade tinham vínculos com partidos políticos de diferentes correntes ideológicas, desde comunistas até ex-integralistas, a SEB tinha como principal reivindicação a liberdade de expressão e de imprensa, uma pauta que unificava esses intelectuais.11 11 Lima (2015) analisou a trajetória da ABDE identificando dois princípios - a função social do intelectual e a defesa dos direitos autorais - que promoveram aproximações e dissensos entre seus membros e refletiram em quatro momentos distintos durante sua existência (1943-1958).

Da mesma maneira que a SEB foi fundada logo depois da criação do OCIAA, este parece ter compreendido bem o desejo e a luta pela redemocratização encampada pela SEB, algo que o Office habilmente soube usar a seu favor para aproximar a pauta pela democracia dos Aliados à dos escritores e jornalistas brasileiros. Conforme recomendado por Cross, em janeiro de 1943, o próprio Rockefeller assinou uma carta de agradecimento a Milliet por ter comunicadoo engajamento da Sociedade com a democracia.12 12 NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Nelson Rockefeller a Milliet, 19 jan. 1943. Box 1310. No final desse mesmo mês, no dia 29 de janeiro de 1943, Milliet partiu para os EUA a convite do OCIAA. Lá, ministrou palestras sobre a literatura e os escritores brasileiros.13 13 “Em viagem para os Estados Unidos o escritor Sergio Milliet”. Correio Paulistano. 31 jan. 1943.

Além de uma série de artigos intitulados “Cartas da América”, publicados por Milliet no O Estado de S.Paulo,14 14 NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Arnold Tschudy a Friele, 4 mar. 1943. Box 1310. o crítico paulista dedicou-se também a conhecer melhor o universo das artes plásticas e dos museus dos EUA, pois liderava um grupo interessado em criar um Museu de Arte Moderna em São Paulo nos moldes do MoMA, de Nova York. Como consequência direta desse interesse, após retornar da viagem Milliet produziu e publicou o livro A pintura norte-americana (1943).15 15 Segundo Gonsales (2016), as pessoas interessadas na criação do Museu de Arte Moderna eram Eduardo K. de Melo, Carlos P. Alves, Ciccillo Matarazzo e Rino Levi, juntamente com o estadunidense Carleton S. Smith, conselheiro do MoMA e adido cultural do Consulado Americano em São Paulo, que trabalhava com Milliet na Escola Livre de Sociologia e Política. Nas palavras do crítico literário Ciro Mendes, A pintura norte-americana, de Milliet, e Escritores norte-americanos (1943), de Almiro Rolmes, contribuíram para disseminar a arte e a literatura produzidas nos EUA, ao mesmo tempo que desmistificaram a imagem de “lindas mulheres, milionários em busca de aventura, heróis mafiosos e uma interminável lista dos maiores do mundo” produzida por Hollywood.16 16 NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Tschudy a Friele, 3 mar. 1943. Box 1310.

O Diário crítico de Sérgio Milliet (1940-1943), publicado em 1944, reuniu os artigos sobre os EUA que abordavam um amplo arco de temas, desde a vida cotidiana à crítica literária como: a força expressiva da poesia negra de Langston Hughes que não encontrava paralelos na América Latina; um elogio à arte como “a expressão da miséria humana” (Milliet, 1944MILLIET, Sérgio. Diário crítico de Sérgio Milliet (1940-1943). São Paulo: Brasiliense, 1944., p. 101); uma descrição de Miami comparando-a ao Rio de Janeiro (Milliet, 1944MILLIET, Sérgio. Diário crítico de Sérgio Milliet (1940-1943). São Paulo: Brasiliense, 1944., p. 102); o comentário sobre um anúncio do Washington Daily sobre o preço dos funerais que não havia tido alta; e o suicídio de Elsie Houston.

Enquanto Ciro Mendes expressou seu apreço à literatura e arte estadunidenses, afirmando que ela não se resumia ao materialismo nos filmes Hollywood, os artigos de Milliet têm um tom moderado de elogios, mas também de críticas a alguns aspectos da vida nos EUA. Apesar de ter sido presidente da SBE em 1942, os artigos não deixaram rastros sobre a preocupação da liberdade intelectual e de imprensa conforme foram expressas no manifesto elaborado pela sociedade. Não poderia ser muito diferente, já que O Estado de S. Paulo, jornal para o qual trabalhava e que publicava seus artigos, passara a ser subordinado ao Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), sob a nova direção de Abner Mourão, quando a redação foi ocupada pela polícia militar em 1940 (Sodré, 2011SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. São Paulo: Intercom; Porto Alegre: Edipuc-RS, 2011.).

Por outro lado, Milliet continuou seu contato com Nelson Rockefeller, que era também diretor do MoMA, e o sonho de abrir um museu em São Paulo parecia mais próximo. Em 1946, Milliet recebeu a notícia de que o magnata doaria obras de artistas estadunidenses para compor a coleção do futuro museu. Obviamente, faltava ainda recurso financeiro para a efetiva organização e funcionamento, que só aconteceu em 1948. O Museu de Arte de São Paulo (Masp) funcionou numa sala dos Diários Associados cedida por Assis Chateaubriand até 1968, quando se mudou para sede própria, na avenida Paulista (Gonsales, 2016GONSALES, Patricia Cecilia. Sérgio Milliet e a metrópole paulistana. São Paulo: Editora Mackenzie, 2016.). A viagem e os contatos feitos por Milliet e os profissionais das comunicações nos EUA lhes renderam amizades que os ajudaram em projetos futuros, tendo um saldo positivo ao final.

Orígenes Lessa e o grupo de jornalistas e editores

Orígenes Lessa e sua família chegaram a Nova York no dia 14 de março de 1942, juntamente com os jornalistas Júlio Barata (acompanhado por sua esposa e dois filhos) e Raimundo Magalhães (também em companhia de sua consorte). No dia 16, um almoço especial foi organizado para as mulheres dos convidados brasileiros, e nos dois dias que se seguiram chegaram Pompeu de Souza, cônjuge e filho e Francisco de Paula Assis Figueiredo e esposa, completando o grupo que seria recebido por Nelson Rockefeller dias depois.17 17 NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. Letter Archives (LTA). Donald Withycomb a Russell Pierce, 17 mar. 1942. Box 1261.

Antes da chegada do grupo aos EUA Berent Friele já havia enviado um memorando informando o OCIAA em Washington, DC sobre o perfil de cada visitante.18 18 NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LTA. Friele a Don Francisco, 11 mar. 1942. C/C Arquivo pessoal e confidencial do embaixador. Box 1261. Júlio Barata, especialista em rádio e jornalista, foi descrito como um recém-convertido às democracias, pró-estadunidense, que faria um grande sucesso em sua nova posição. Assis Figueiredo, diretor da Divisão de Turismo do DIP, entre outras atividades para promover o Brasil no exterior, era “o responsável pelas relações com os EUA no Brasil”.19 19 A Divisão de Turismo era “encarregada da divulgação do Brasil no exterior, com a finalidade de incentivar o turismo,” e editou a revista em língua inglesa Travel in Brazil, com uma distribuição de 25 mil exemplares somente nos EUA (Araújo, 2018). Braço direito de Lourival Fontes, diretor do DIP, gozava de sua confiança e era muito próximo da família de Getúlio Vargas e Osvaldo Aranha. Quanto aos outros membros:

[...] são homens inteligentes, imbuídos do espírito de colaboração brasileiro-americano. A fé em nossa causa é implícita e farão tudo para nos ajudar. O temperamento latino tem que ser considerado. Eles precisam de encorajamento e treinamento. Eu pessoalmente estou muito otimista com os resultados que virão desse projeto e acho que vocês terão em seu meio os escritores e intelectuais brasileiros mais brilhantes, que contribuirão generosamente com o sucesso dos esforços da Coordenação na área de comunicação e relações culturais (Friele, 11 mar. 1942; tradução nossa).20 20 “The same may be said of all the others. They are an intelligent group of men imbued with the spirit of Brazilian-American collaboration. Their faith in our cause is implicit and they will do everything possible to assist us. The Latin temperament has to be reckoned with. They need encouragement and coaching. I am personally very optimistic as to the outcome of this project and feel that you will have in your midst some for the most brilliant Brazilian writers and intellectuals who should contribute in a generous measure to the success of the Coordinator’s efforts in the field of communications and cultural relations.” NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LTA. Friele a Don Francisco, 11 mar. 1942. Box 1261.

O grupo parece ter chegado com ânimo para o trabalho. Barata, por exemplo, a pedido de Edward Tomlinson, fez a sua primeira participação no programa na WJZ, em inglês, e agradou o pessoal da NBC.21 21 Rockefeller a Friele, 31 mar. 1942. NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LTA. Friele a Don Francisco, 11 mar. 1942. Box 1261. Os programas produzidos por Barata, Magalhães, Lessa e Pompeu de Souza, a exemplo do Brazilian News Broadcast, tinham como objetivo ressaltar a solidariedade hemisférica e a amizade entre os países das repúblicas americanas. Esse programa era enviado de Nova York e retransmitido por estações governamentais no Brasil e 89 estações locais, de segunda a sábado à noite (Sousa, 2004SOUSA, Marquilandes Borges. Rádio e propaganda política: Brasil e México sob a mira norte-americana durante a Segunda Guerra. São Paulo: Annablume, 2004.).

Lessa ficou um ano com sua família em Nova York trabalhando como redator da NBC e escrevendo artigos para os boletins do OCIAA. Seu contrato foi finalizado em 6 de agosto de 1943.22 22 NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LTA. Divisão Brasileira ao OCIAA Washington, 30 set. 1943. Box 1296. De volta ao Brasil, o escritor reuniu o conteúdo de entrevistas e encontros com as personalidades famosas dos EUA e publicou o volume Ok America: cartas de Nova York, datado de 1945. Um breve texto introdutório tratou a obra como “um documentário, principalmente, da grande simpatia [dos norte-americanos] pela nossa terra e do desejo de uma compreensão e de um entendimento maiores entre os povos do Hemisfério” (Lessa, 1945LESSA, Orígenes. OK América(Cartas de Nova York). Rio de Janeiro: Editora Leitura, 1945., p. 7). Como funcionário recrutado para trabalhar na divulgação da propaganda estadunidense, o tom cordial atravessa os relatos sobre Bedford, a capital açoriana nos EUA; e as conversas com Arna Bontemps, Ciro Alegria, John Steinbeck, Pearl Buck e Sinclair Lewis, entre outros personagens famosos de vários países.23 23 Arna Bontemps foi um literato negro que marcou forte presença no cenário cultural e intelectual afro-americano na década de 1920 durante o movimento que ficou conhecido como Harlem Renaissance. Ciro Alegria foi um escritor peruano que ganhou o prêmio pelo livro El mundo es ancho y ayeno (1941) no mesmo concurso em que o romance brasileiro A fogueira (1942), de Cecílio Carneiro, ganhou a menção honrosa (Morinaka, 2020). John Steinbeck, Pearl Buck e Sinclair Lewis foram importantes figuras literárias nos EUA. Houve um esforço para a publicação da novela The moon is down (1942), de Steinbeck, no Brasil, por se tratar de “uma alegoria do regime nazista na Alemanha e uma crítica ao regime totalitário que avançava rapidamente pelos países europeus” (Morinaka, 2020, p. 159).

Não há referência explícita à liberdade de expressão e de imprensa nos EUA, exceto uma declaração no campo do controle do governo ou de editores sobre a produção literária que foi mencionada em uma entrevista com o escritor Sinclair Lewis. Perguntado por Lessa sobre sua opinião a respeito da função do escritor em tempo de guerra, Lewis respondeu:

A de escrever. Escrever o que pode, o que quer, o que pensa, o que lhe apraz. E se tem prazer nisso. Se não tivesse todos esses direitos e todas essas liberdades, Joseph Conrad, mestre do romance e da língua, não nos teria legado a sua obra. Imagine que alguém, o governo, um editor, um leitor, os leitores, lhe dessem o tema, lhe escolhessem o assunto. Escreva sobre isso, escreva sobre aquilo. Teríamos perdido Joseph Conrad. Nós e o futuro (Lessa, 1945LESSA, Orígenes. OK América(Cartas de Nova York). Rio de Janeiro: Editora Leitura, 1945., p. 95; destaque nosso).

A tese de Lewis é desdobrada em mais duas páginas, o que demonstra sua opinião e seu apreço pela plena liberdade de expressão que deveria ser garantida aos escritores de ficção. Provavelmente Lewis não se referia ao financiamento do governo estadunidense aos intelectuais das Américas nem às traduções. Primeiro, por ter desconhecimento de tal fato; e, segundo, pelo fato de o escritor ter se expressado favoravelmente aos intercâmbios literários que deveriam ser financiados pelo governo. Segundo ele, “a guerra veio trazer uma curiosidade maior, despertar interesse pelos outros países da América” (Lessa, 1945LESSA, Orígenes. OK América(Cartas de Nova York). Rio de Janeiro: Editora Leitura, 1945., p. 98-99). Talvez Lewis estivesse criticando os próprios escritores estadunidenses que eram membros ou simpatizantes da League of American Writers, ligada à International Association of Writ­ers for the Defense of Culture,24 24 Para mais informações sobre a Liga, cf. Folsom (1994). cujo financiamento vinha do The Soviet Writers Union, e fazia imposições estéticas e temáticas nas produções dos escritores.25 25 Para mais informações sobre o realismo socialista, cf. Eagleton (2011). De qualquer maneira, por meio dessa entrevista com Sinclair Lewis, o recado da liberdade de expressão foi dado.

Orígenes Lessa, que havia ficado preso na Ilha Grande por ter participado da chamada Revolução Constitucionalista de 1932,26 26 Sobre Lessa ver o site da Academia Brasileira de Letras (ABL). Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/origenes-lessa/biografia. Acesso em: 5 nov. 2020. trabalhou ao lado de funcionários do governo de Vargas durante sua estadia nos EUA. A aparente contradição encontra ecos com a seguinte anedota que se encontra na Revista Press:

Um detalhe curioso sobre sua contratação pela Ayer é que, para conseguir o emprego, teve de raspar a barba que cultivava como símbolo de revolucionário e prisioneiro de guerra. Décadas depois, em entrevista para um livro de história da propaganda, lembraria do caso ao falar sobre conselhos para jovens estudantes de publicidade: “Que eles se aperfeiçoem tecnicamente, sim… Que eles se tornem profissionais fabulosos da comunicação, claro… Eu troquei a minha barba, há 40 anos, por um prato de lentilhas. Que é que eu posso dizer aos de agora? Que não comam lentilhas nem caviar? Hoje, nem sequer a barba atrapalha…” (Orígenes..., 2019ORÍGENES Lessa, pioneiro da publicidade brasileira. Portal Press, 2019. Disponível em: Disponível em: http://revistapress.com.br/advertising/origenes-lessa-pioneiro-da-publicidade-brasileira/ . Acesso em:5 nov. 2020.
http://revistapress.com.br/advertising/o...
).

Atuando na área publicitária desde 1928 e trabalhando para a agência multinacional J. Walter Thompson desde 1929, certamente essa experiência o habilitou como um profissional competente para prestar serviços ao OCIAA. O trabalho de Lessa pela solidariedade hemisférica foi sem dúvida favorável aos esforços feitos pelos governos dos dois países e bem avaliado pelos funcionários do OCIAA. Ao mesmo tempo, a experiência de morar nos EUA seguramente lhe rendeu frutos para a futura atuação na área literária e publicitária.

Viana Moog e a coleta de dados para Bandeirantes e pioneiros (1954)

Vianna Moog é certamente o personagem mais singular desse grupo de escritores. Os rastros de sua passagem pelos EUA deixados nos arquivos revelam situações inusitadas em que o escritor gaúcho parece ter driblado a incumbência de um fiel cumpridor das leis e ordens ditadas pelos norte-americanos. Seu nome foi indicado pela Sociedade Felipe de Oliveira (SFO)27 27 A pesquisa de Angela de Castro Gomes (1993, p. 73-74) cartografou “os lugares de sociabilidade intelectual” e as publicações desses grupos sediados no Rio de Janeiro e associou a Sociedade Felipe de Oliveira ao modernismo pelo fato de Felipe de Oliveira, patrono da sociedade, ter sido considerado um “modernista” após a publicação do livro de poesia Lanterna verde (1927). A autora indicou, no entanto, a necessidade de uma análise mais aprofundada sobre os vários periódicos do período. A pesquisa posterior de Raul Antelo (1997) indicou que a Sociedade Felipe de Oliveira era uma entidade conservadora que reunia intelectuais católicos e publicava uma revista literária intitulada Lanterna verde, dada ao público entre 1934 e 1944, de posição mais comedida em relação à estética modernista. e João Daudt de Oliveira, financiador desse grupo literário.28 28 NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Rockefeller a Friele, 20 ago. 1942. Box 1318. Ele havia garantido a Moog que seu projeto receberia aprovação do OCIAA assim que eles soubessem do que se tratava.29 29 NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Caffery a Rockefeller, Kenneth Holland e Friele, 31 out. 1942. Box 1318. O trâmite do processo começou com uma curta investigação sobre sua vida, etapa fundamental exigida pela Comissão de Relações Artísticas e Intelectuais Interamericanas para a concessão da bolsa,30 30 NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Kenneth Holland (Diretor da Divisão de Ciência e Educação) a Friele, 23 out. 1942. Box 1318. ao que se seguiu a análise de seu projeto, que tinha como objetivo obter impressões de primeira mão sobre os EUA para suplementar a vasta leitura teórica que tinha sobre o país. Nas palavras de Jefferson Caffery, embaixador dos EUA no Brasil, “[e]le planeja um livro sério sem a leveza e nem o estilo literatura de viagem de Gato preto em campo de neve, de Erico Verissimo”.31 31 NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Caffery a Rockefeller, Kenneth Holland e Friele, 31 out. 1942. Box, 1318.

No entanto, há um desencontro entre as informações no arquivo do OCIAA e a memória de Moog no texto intitulado “Breve história de Bandeirantes e pioneiros”, escrito para a 10ª edição de Bandeirantes e pioneiros, em 1972. Moog diz que ficou pensando seis meses sobre a proposta da Guggenheim que continha “uma vaga insinuação de cláusula, que parecia exigir de mim, em troca da viagem, um livro sobre os EUA” (Moog, 2000MOOG, Vianna. Bandeirantes e pioneiros: paralelo entre duas culturas. 19ª ed. Rio de Janeiro: Graphia, 2000., p. 13). Desdobrando esse assunto, Moog continua:

[n]ão duvido que no meio de meus incertos planos a ideia tenha repontado alguma vez e alguma vez a tenha mencionado em conversações irrelevantes ou em exercícios descontraídos de intimidade e comunicação. Mas uma coisa é fazer planos e outra muito diversa é pô-los em execução (Moog, 2000MOOG, Vianna. Bandeirantes e pioneiros: paralelo entre duas culturas. 19ª ed. Rio de Janeiro: Graphia, 2000., p. 13-14).

Porém, sabe-se que os subsídios do OCIAA eram concedidos mediante apresentação e aprovação de projetos. Nesse sentido, pode-se afirmar que o livro Bandeirantes e pioneiros já estava no horizonte e foi apresentado como a justificativa para a concessão dos recursos para que Moog viajasse pelos EUA - só não podemos afirmar se foi ele mesmo ou a SFO que esboçou o projeto. Ainda de acordo com as memórias que Moog quer fixar, seu “Doppelgänger”,32 32 Uma tradução literal do alemão seria “o duplo que vai junto”. No folclore alemão, acredita-se que há uma réplica exata de cada criatura viva. Ver o verbete ‘Doppelgänger’ na Encyclopedia Britannica, 2019. Disponível em: https://www.britannica.com/art/doppelganger. Acesso em: 5 nov. 2020. nas palavras do escritor, aconselhava-o a aceitar o convite e ignorar a cláusula (foi o que ele fez, de acordo com a documentação do OCIAA analisada mais à frente). “Afinal de contas, tratava-se de uma condição impertinente, desde que outros, que reputava de menos mérito estavam sendo convidados sem condições” (Moog, 2000MOOG, Vianna. Bandeirantes e pioneiros: paralelo entre duas culturas. 19ª ed. Rio de Janeiro: Graphia, 2000., p. 14).

Ainda de acordo com suas memórias, Moog mantinha diálogos constantes com seu “Doppelgänger” sobre aceitar ou não aquele convite nada comum. Quando recebeu a segunda carta da Guggenheim contendo uma nova proposta para que ele escrevesse uma série de artigos sobre o esforço de guerra dos EUA ao invés do livro “que poderia sair deformado pelas circunstâncias do momento” (Moog, 2000MOOG, Vianna. Bandeirantes e pioneiros: paralelo entre duas culturas. 19ª ed. Rio de Janeiro: Graphia, 2000., p. 15) foi que aceitou o convite, por lhe parecer uma proposta mais razoável “[e]m troca, como noblesse oblige [responsabilidade social], o elogio, a propaganda barata, a onda a favor” (Moog, 2000MOOG, Vianna. Bandeirantes e pioneiros: paralelo entre duas culturas. 19ª ed. Rio de Janeiro: Graphia, 2000., p. 16).

Henry Allen Moe, da Guggenheim, consultou Melville Herskovits, da Northwestern University, em Evaston (IL), sobre sua disponibilidade para receber Moog,33 33 Northwestern University (NU). Archival and Manuscript Collection (AMC). Melvile Herskovits (1895-1963) Papers, 1906-1963 (MHP). Series 35/6. General Files (GF): 1943-1944. Brazil Trip, 1943. Moe a Herskovits, 21 dez. 1942. Box 27, Folder 15 (Cortesia da Northwestern University). ao qual Herskovits respondeu positivamente.34 34 AMC. NU. MHP. Series 35/6. GF: 1929-1942. Guggenheim Foundation, 1929-1942. Herskovits a Moe, 23 dez. 1942. Box 8, Folder 17. Moog e Herskovits parecem ter se dado bem, pois em uma carta bem-humorada a Herskovits, Moog pede ao amigo que recolha e envie a máquina de escrever, a sacola de roupas, os livros e papéis que estavam em seu apartamento para a Embaixada do Brasil em Washington. Moog estava em Detroit quando recebeu a notícia da extensão de sua permanência nos EUA, mas seus compromissos não lhe deixariam tempo para voltar a Evanston antes de se mudar para Washington, DC. Se pudesse contar com a ajuda do amigo Herskovits, poderia seguir diretamente para a capital estadunidense.35 35 AMC. NU. MHP. Series 35/6. GF: 1943-1944. Guggenheim Foundation, 1943-1944. Moog a Herskovits, 19 set. 1943. Box 28, Folder 9.

Retornando a maio de 1943, Moog começou a ser informado sobre o trabalho que deveria fazer em retribuição ao financiamento da viagem de pesquisa nos EUA:

Por ser um excelente jornalista, o senhor pode nos prestar um grande serviço enquanto estiver nos EUA. Gostaríamos que escrevesse uma série de artigos sobre os EUA em guerra, particularmente sobre o fator humano. Como as pessoas aceitam o racionamento de guerra - os sacrifícios que são feitos no seu cotidiano - os transtornos que atravessaram a rotina da vida familiar, resultantes da operação da indústria da guerra que funciona diuturnamente - e, acima de tudo, o “típico jeito americano” com que as pessoas dos EUA aceitam essas dificuldades, sempre com uma pitada de humor. Essas são as coisas que precisam ser ditas às pessoas do Brasil.

Se o senhor puder intermediar essa informação, ganhará a eterna gratidão das pessoas dos EUA, que, afinal de contas, só têm as mesmas coisas a ganhar com essa guerra, o mesmo que os brasileiros: o direito de viver suas próprias vidas.

Estabelecidas as premissas, vamos nos encontrar antes da sua partida para garantir e acertar os detalhes dessa tarefa tão importante (Hippelheuser, 18 maio 1943;36 36 NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. R. H. Hippelheuser (Diretor da Divisão de Informação) a Moog, 18 maio1943.Box 1318. tradução nossa; destaque no original).37 37 “Being the excellent journalist that you are, you can do us a tremendous service while in the US. We would like very much to have from you a series of articles on the United States at war, with particular reference to the human factor. How the people accept war rationing - the sacrifices they undergo in their daily lives - the disruptions that have come into the ordinary family life as the result of round-the-clock operation of war industries - and, above all, the ‘typical American way’ that the people of the US accept these hardships, always with a grain of humor. These are the things that need to be told to the people of Brazil. If you can be the medium of this interchange of information you will gain the undying gratitude of the people of the US - who, after all, have only one thing to gain out of this war: the same thing that the people of Brazil have to gain: the right to live their own lives. Having stated these premises let’s be sure and get together before you leave, to work out the details of this most important job.”

Hippelheuser enviou um relatório à Comissão Intelectual após o encontro com Moog em que reiterou a ideia de que o racionamento nos EUA, que não acometeu o cotidiano dos brasileiros, precisava ser “martelada” nas notícias veiculadas no Brasil. Ainda segundo o relato, Moog mostrou-se solidário à causa dizendo que os brasileiros não reconheciam pelo que e como os EUA estavam lutando. Nesse momento, acertaram que Moog escreveria um total de vinte artigos a serem distribuídos para os principais consórcios de imprensa.38 38 NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Hippelheuser à Comissão Intelectual, 26 maio 1943. Box 1318. As correspondências de Hippelheuser mostram sua empolgação com o projeto de colaboração intelectual. Ele chegou a conjecturar o trio Moog, Verissimo e Gilberto Freyre escrevendo artigos sobre os EUA para serem divulgados no Brasil, mas isso não aconteceu, pois Verissimo só voltaria aos EUA em setembro de 1943, ao passo que Freyre não poderia sair do Brasil naquele momento por “razões políticas”.39 39 NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Hippelheuser a Frank V. Norall (Divisão do OCIAA no Rio de Janeiro), 6 jul. 1943. Box 1318.

Moog preocupava-se com a ideia de produzir os artigos e confessa que isso “toldava-me bastante o prazer de viajar pelo puro prazer de viajar [...]” (Moog, 2000MOOG, Vianna. Bandeirantes e pioneiros: paralelo entre duas culturas. 19ª ed. Rio de Janeiro: Graphia, 2000., p. 15). A primeira contribuição de Moog como embaixador da boa vizinhança foi publicada no New York Herald Tribune, em 12 de setembro de 1943, um longo artigo intitulado “Race problems are lacking in life of Brazil: prejudice finds no echo there as nation rejects racial superiority idea” [Não há problemas raciais no Brasil: a discriminação não encontra eco numa nação que rejeita a ideia de superioridade racial].40 40 NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Harry Frantz a Friele, 16 set. 1943. Box 1318. No entanto, os artigos sobre o racionamento de guerra e os sacrifícios nos EUA não chegaram aos consórcios de imprensa brasileiros. Em junho de 1944, a Divisão Brasileira do OCIAA alegou que Moog já estava de volta ao Brasil, mas que não tivera nenhuma notícia sobre esses artigos.41 41 NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Divisão brasileira a Francis Jamieson (coordenador adjunto), 9 jun. 1944. Box 1318.

Moog recebeu o total antecipado de U$185,00 por uma série de cinco artigos publicados nos EUA e um adicional de U$150,00 por cinco artigos que seriam publicados no Brasil. O material sobre o Brasil foi entregue para Don Glassman, do OCIAA de Nova York, que afirmou que só depois de “muita edição” conseguiram publicá-los nos jornais estadunidenses. Quanto aos artigos sobre os EUA para serem publicados no Brasil, Moog entregou capítulos de um livro com suas impressões e experiências sobre o gigante do norte, mas não os artigos sobre os esforços de guerra norte-americanos como havia sido combinado. O material estava “incompleto, incorreto e superficial”, de acordo com o relatório. Apesar de já ter recebido o pagamento, Moog não quis modificar o material e disse que publicaria o livro no Brasil. Porém, havia um mal-entendido nessa história, pois o combinado não fora esse. Francis Jamieson, um dos agentes do OCIAA, alegou que o Office nunca cogitou a publicação do livro de Moog nos EUA.42 42 NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Jamieson a Nattier, 23 jun. 1944. Box 1318.

Esses capítulos faziam parte do livro Pare, olhe, escute, que continha as impressões e reflexões que não couberam em um artigo e naturalmente foram tomando a forma de um livro, “respondendo talvez ao primeiro desafio da Guggenheim Foundation”, No entanto, não satisfeito ainda com o resultado (ou a avaliação negativa do pessoal do OCIAA), Moog reteve o manuscrito “no fundo de uma gaveta, e à chave, cerca de dez anos”. Desses dez anos, metade foi passada novamente nos EUA, entre seu trabalho na Delegacia do Tesouro Brasileiro em Nova York e na Comissão Social do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, quando finalmente encontrou o “leit-motiv e a unidade interna” (Moog, 2000MOOG, Vianna. Bandeirantes e pioneiros: paralelo entre duas culturas. 19ª ed. Rio de Janeiro: Graphia, 2000., p. 18). Moog afirma que quando percebeu que as palavras bandeirantes e pioneiros não eram sinônimos, mas sim antônimos, iniciou a escrita do trabalho comparativo entre o Brasil e os EUA. No capítulo intitulado “Imagem e símbolo”, Moog explorou detidamente os dois tipos de ocupação europeia dos EUA, que se deu com a colonização da terra como opção de vida (pioneiros), e do Brasil, com a exploração predatória das riquezas (bandeirantes), o que explicava, em parte, o progresso econômico dos EUA, que apesar de ser um país mais jovem, superava o Brasil.

Erico Verissimo e a preocupação com o antiamericanismo

Erico Verissimo esteve nos EUA em três momentos distintos. A primeira vez, em 1941, a convite do Departamento de Estado e com o financiamento do OCIAA, demorou-se três meses em uma visita que consistia em conhecer algumas cidades e pessoas e dar palestras sobre o Brasil. À sua volta, escreveu e publicou o relato de viagem Gato preto em campo de neve (1941), no qual narra suas experiências pelas cidades que visitou, as pessoas que conheceu, principalmente do círculo editorial (Verissimo, 1957aVERISSIMO, Erico. Gato preto em campo de neve. 10ª ed. Porto Alegre: Globo, 1957a.). Na segunda vez, novamente a convite do Departamento de Estado, levou a família e atuou como professor visitante na Universidade da Califórnia entre 1943 e 1945 (Minchillo, 2015MINCHILLO, Carlos Cortez. Erico Verissimo, escritor do mundo. São Paulo: Edusp, 2015.). Suas memórias da estadia estão registradas em A volta do gato preto, publicado em 1947 (Verissimo, 1957bVERISSIMO, Erico. A volta do gato preto. 4ª ed. Porto Alegre: Globo , 1957b.). Na terceira vez, ficou mais tempo e trabalhou em Washington, DC como diretor do Pan American Union entre 1953 e 1956 (Bordini, 2016BORDINI, Maria da Glória. Erico Verissimo e a vida diplomática na União Pan-Americana. Nonada: Letras em Revista(Caxias do Sul). v. 2, n. 27, p. 155-164, 2016.).

Nesses períodos que passou nos EUA, Verissimo atuou como intermediador cultural entre o Brasil e os EUA. Sua participação pode ser resumida no âmbito da divulgação de ideias, fatos e impressões; da negociação, tradução e publicação de livros; e do esforço para estabelecer contatos entre artistas, intelectuais e escritores entre os dois países (Minchillo, 2015MINCHILLO, Carlos Cortez. Erico Verissimo, escritor do mundo. São Paulo: Edusp, 2015.). Diferentemente de muitos de seus contemporâneos, Verissimo, por ter experienciado os “momentos iniciais da mídia de massa”, conseguia lidar muito bem com “a cultura do consumidor moderno” (Smith, 2013SMITH, Richard Cándida. Erico Verissimo: a Brazilian cultural ambassador in the United States. Tempo(Rio de Janeiro). v. 17, n. 34, p. 147-173, 2013. Disponível em:https://doi.org/10.5533/TEM-1980-542X- 2013173412. Acesso em: 17 jul. 2020.
https://doi.org/https://doi.org/10.5533/...
, p. 156), o que o ajudou a dialogar com o público leitor dos EUA e influenciou a escrita da futura saga O tempo e o vento (1949, 1951 e 1961), que poderia chamar a atenção do mercado editorial estrangeiro. No entanto, não foi fácil para Verissimo conseguir interessar editores estadunidenses para publicar sua produção literária pregressa, não fosse a ajuda de escritores como Thornton Wilder, John Dos Passos e Robert Nathan, além dos subsídios para traduções do OCIAA (Smith, 2013SMITH, Richard Cándida. Erico Verissimo: a Brazilian cultural ambassador in the United States. Tempo(Rio de Janeiro). v. 17, n. 34, p. 147-173, 2013. Disponível em:https://doi.org/10.5533/TEM-1980-542X- 2013173412. Acesso em: 17 jul. 2020.
https://doi.org/https://doi.org/10.5533/...
).

Concomitantemente, as palestras e as entrevistas de Erico Verissimo foram marcadas por tentativas de aproximar o Brasil do público estadunidense. Em uma entrevista concedida a um programa de rádio em 3 de julho de 1944, em Sacramento, Califórnia, Verissimo disse que o Eixo acusava os EUA de imperialistas que só estavam à procura de mercados para seus produtos na América Latina, ideia que deveria ser combatida a todo custo com intercâmbios culturais. Ao invés de enviar ou convidar somente os mais famosos, Verissimo argumentou que as mulheres seriam as melhores pessoas por se interessarem mais pelas relações humanas do que por negócios (Smith, 2013SMITH, Richard Cándida. Erico Verissimo: a Brazilian cultural ambassador in the United States. Tempo(Rio de Janeiro). v. 17, n. 34, p. 147-173, 2013. Disponível em:https://doi.org/10.5533/TEM-1980-542X- 2013173412. Acesso em: 17 jul. 2020.
https://doi.org/https://doi.org/10.5533/...
, p. 168).

Essa sugestão é semelhante à que se encontra em uma carta de cinco páginas assinada por Verissimo enviada ao OCIAA. Usando um estilo muito próximo ao diálogo que Verissimo trava com o leitor imaginário no epílogo “Diálogo sobre os Estados Unidos,” em Gato preto, o escritor dá sua opinião sobre: “as vantagens e os perigos para a concessão de ajuda financeira para viagens de escritores e professores”, o antiamericanismo, a opinião dos brasileiros sobre a Política da Boa Vizinhança e “quem são os inimigos dos EUA no Brasil”.43 43 Por ser um documento inédito, a cópia da carta em inglês na sua íntegra encontra-se no Anexo II deste artigo. As palavras iniciais são: “[p]ara começar, este é um esboço de um relato escrito em inglês pidgin, inglês simplificado”, mas “o olhar sincero de um homem com boas intenções, que quer melhorar as relações amigáveis entre o Brasil e os EUA, tendo como base uma troca justa” (Verissimo, 19 abr. 1943SMITH, Richard Cándida. Erico Verissimo: a Brazilian cultural ambassador in the United States. Tempo(Rio de Janeiro). v. 17, n. 34, p. 147-173, 2013. Disponível em:https://doi.org/10.5533/TEM-1980-542X- 2013173412. Acesso em: 17 jul. 2020.
https://doi.org/https://doi.org/10.5533/...
).44 44 NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LTA. Erico Verissimo ao OCIAA, 19 abr. 1943 (Data a lápis). Box 1259. Todas as traduções dessa carta assinada por Erico Verissimo são nossas.

A preocupação inicial de Verissimo é sobre “o perigo que o Departamento de Estado corre ao convidar as pessoas erradas para visitar o país, ou ao deixar as pessoas certas tomarem o caminho errado durante a visita”. Como exemplo, citou o caso de Armando Câmara, que passara 15 dias nos EUA e, na sua volta, falou aos amigos que “[o] animal mais parecido com o homem é o norte-americano”. Em uma palestra, continua Verissimo, Câmara não se mostrou favorável aos EUA e causou “uma impressão profunda nas mentes católicas” (Verissimo, 19 abr. 1943VERISSIMO, Erico. A volta do gato preto. 4ª ed. Porto Alegre: Globo , 1957b.; destaque no original).

A sugestão é que se o governo estadunidense convidasse pessoas céticas sobre a existência de “cultura” nos EUA, elas poderiam ser levadas, por exemplo, a museus, universidades, galerias de arte, palestras, teatros. E se os convidados não soubessem inglês, poderia se contratar um intérprete para acompanhá-los. Da mesma maneira que Verissimo tentava desfazer os estereótipos sobre a inexistência de cultura no Brasil nas palestras que ministrou nos EUA (Minchillo, 2015MINCHILLO, Carlos Cortez. Erico Verissimo, escritor do mundo. São Paulo: Edusp, 2015.), a sugestão dada ao OCIAA converge para a mesma direção:

É preciso evitar a ideia formulada de América, digo - melindrosas, cidades grandes, campos de petróleo, Companhia Ford, milionários, cocktails nos bares de Manhattan, etc. As coisas para se mostrar são: a vida de suas famílias, as universidades, suas ideias sobre democracia e boa vontade, as cidades pequenas, as favelas que estão sendo transformadas em áreas residenciais e saudáveis para os trabalhadores, etc. Bem, falo em termos gerais. Além disso, vocês devem se atentar para os interesses “especiais” de cada convidado. Resumindo, o mais importante é mostrar o lado espiritual e cultural dos Estados Unidos bem como o lado humano (Verissimo, 19 abr. 1943VERISSIMO, Erico. Gato preto em campo de neve. 10ª ed. Porto Alegre: Globo, 1957a.).

Em seguida, Verissimo assinalou que era difícil avaliar se o antiamericanismo crescia no Brasil, mas ouviu várias insinuações sobre o perigo yankee e o imperialismo americano. Sobre quem estava espalhando esse antiamericanismo, responde:

- Sim, quem? Acho que sei.

  1. os quinta colunistas de todo tipo e nível.

  2. os católicos que temem a dominação dos EUA, “um país protestante”, depois da guerra.

  3. os supernacionalistas, com as mentes maduras o suficiente para se tornarem nazistas ou fascistas.

Vejamos o que eles dizem ou insinuam sobre os Estados Unidos:

  • Americanos e brasileiros não têm nada em comum em termos de ideais.

  • Não há pensadores, bons escritores e nem vida cultural nos EUA.

  • Os americanos têm uma má conduta. Altas taxas de divórcio, muita bebida e escândalos em demasia. Muitos ateístas, etc. (Verissimo, 19 abr. 1943VERISSIMO, Erico. Gato preto em campo de neve. 10ª ed. Porto Alegre: Globo, 1957a.).

Verissimo complementa que muitos antiamericanos no Brasil eram professores, escritores e oficiais do exército, sugerindo que eles poderiam ser convidados pelo governo dos EUA para “continuar com seu trabalho de propaganda.” Ele achava que Gato preto fez muito pela amizade e compreensão entre os países. “Fui propositadamente severo ao mencionar alguns aspectos das suas vidas para evitar que o leitor pense ou diga: ‘Verissimo está cego pelo seu amor pela América e os americanos” (Verissimo, 19 abr. 1943VERISSIMO, Erico. A volta do gato preto. 4ª ed. Porto Alegre: Globo , 1957b.).

A mesma declaração na entrevista em Sacramento sobre as mulheres constituírem o melhor grupo de “embaixadoras culturais” encontra-se na carta: “As mulheres e os médicos inteligentes” seriam pessoas importantes a serem convidadas, pois a “influência deles em nossa sociedade é enorme.” Ao final, recomendou a jornalista Gilda Marinho e o médico Rubens Maciel. “Gilda Marinho é uma mulher brilhante, muito inteligente e culta” e Rubens Maciel “é um dos nossos líderes democráticos, um dos primeiros a se opor aos integralistas neste país” (Verissimo, 19 abr. 1943VERISSIMO, Erico. A volta do gato preto. 4ª ed. Porto Alegre: Globo , 1957b.). De acordo com a pesquisa de Schmidt (2009SCHMIDT, Benito B. Nunca houve uma mulher como Gilda? Memória e gênero na construção de uma mulher “excepcional”. In: GOMES, Angela de Castro; SCHMIDT, Benito Bisso(orgs.). Memórias e narrativas (auto)biográficas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009. p. 155-171., p. 161-162), Gilda Marinho trabalhou para a Revista do Globo como escritora e tradutora (mesmo local de trabalho de Verissimo). Em 1943, Gilda Marinho mereceu destaque em uma reportagem da própria revista como um tipo de mulher moderna “que já proliferava nos EUA: as career’s girl, isto é, as moças de carreira”. Sua atuação e popularidade, no entanto, não era em assuntos de negócios nem na política, mas em “assuntos femininos”.

Se essa carta assinada por Verissimo tivesse vindo à tona nas décadas de 1950 e 1960, certamente teria ajudado a incendiar o debate sobre a crítica ao escritor ser um agente “americano”. Especulação que, na realidade, não agregava nenhum valor no “mercado dos EUA” da mesma maneira que repercutia no cenário nacional, segundo Smith (2013SMITH, Richard Cándida. Erico Verissimo: a Brazilian cultural ambassador in the United States. Tempo(Rio de Janeiro). v. 17, n. 34, p. 147-173, 2013. Disponível em:https://doi.org/10.5533/TEM-1980-542X- 2013173412. Acesso em: 17 jul. 2020.
https://doi.org/https://doi.org/10.5533/...
). Além do mais, nessas décadas, o crescente anticomunismo de Verissimo o tornou menos interessante para os críticos e leitores estadunidenses, que “queriam ler sobre os movimentos revolucionários na América Latina” (Smith, 2013SMITH, Richard Cándida. Erico Verissimo: a Brazilian cultural ambassador in the United States. Tempo(Rio de Janeiro). v. 17, n. 34, p. 147-173, 2013. Disponível em:https://doi.org/10.5533/TEM-1980-542X- 2013173412. Acesso em: 17 jul. 2020.
https://doi.org/https://doi.org/10.5533/...
, p. 172). Nesse sentido, as antenas dos EUA se voltavam para a produção da América Hispânica, estimulada também por subsídios da CIA (Cohn, 2012COHN, Deborah. The Latin American literary boom and US nationalism during the Cold War. Nashville: Vanderbilt University Press, 2012.).

Considerações finais

A análise da documentação dos arquivos nos mostrou como os recursos disponibilizados pelo OCIAA fomentaram aspirações de crescimento pessoal e profissional de escritores e críticos e garantiram em parte a sobrevivência no mundo editorial. Alguns chegaram até mesmo a moderar discursos naqueles tempos acirrados de grandes divergências no Brasil, como os exemplos de Sérgio Milliet e Orígenes Lessa, que mesmo trabalhando nos EUA teriam suas produções supervisionadas pelo DIP quando o material chegasse ao Brasil. Se, por um lado, houve flexibilização para manifestações de escritores e jornalistas na imprensa a partir de 1942, pois uma vez decidido o apoio aos Aliados, a luta pela democracia encampada por eles deveria de alguma forma ser colocada em prática no Brasil; por outro, agentes estadunidenses estavam atentos aos movimentos do DIP e influenciaram diretamente a publicação de notícias favoráveis aos EUA e seus ideais. “Ao se posicionarem como guardiões da democracia e o modelo a ser seguido pelos vizinhos latino-americanos, os EUA combatiam os possíveis resquícios de antiamericanismo existentes na América Latina em várias frentes” (Morinaka, 2021MORINAKA, Eliza Mitiyo. Livros e política nas relações culturais dos Estados Unidos com o Brasil (1930-1946). Anuario Colombiano de Historia Social y de la Cultura(Bogotá). v. 48, n. 2, p. 241-270, 2021. Disponível em:https://doi.org/10.15446/achsc.v48n2. 95654. Acesso em: 19 jun. 2021.
https://doi.org/https://doi.org/10.15446...
, p. 259).

De qualquer sorte, a decantada solidariedade hemisférica foi sendo construída pelos veículos de imprensa à medida que Sérgio Milliet publicava as “Cartas da América” no Estado de S. Paulo e fazia o tour pelos EUA dando palestras sobre a literatura brasileira. E, ao retornar, publicou o livro A pintura norte-americana (1943), disponibilizando ao público brasileiro as informações que havia aprendido sobre a pintura dos EUA. Enquanto isso, Orígenes Lessa ressaltava a amizade entre as Américas como redator da NBC para o programa Brazilian News Broadcast, que era irradiado para o Brasil e atingia um grande público; além disso, escrevia boletins do OCIAA, e, ao voltar, cumprindo a reciprocidade de entendimento cultural, publicou Ok America: cartas de Nova York, um volume contendo vários artigos e entrevistas com personalidades latino-americanas, estadunidenses e europeias, algumas delas dizendo que conheceram mais sobre os vizinhos desde o início da guerra e passaram a estimar a cultura de cada povo. Mesmo que, atualmente, haja consenso entre os pesquisadores que algumas dessas imagens foram equivocadas, o objetivo de mobilizar a população para uma maior compreensão da América Latina à época foi alcançado. Além da entrevista com Lewis mencionada anteriormente, é interessante observar o relato de suas entrevistas com: 1) Etta Moten (1901-2004), cantora contralto afro-americana, em que Lessa (1945LESSA, Orígenes. OK América(Cartas de Nova York). Rio de Janeiro: Editora Leitura, 1945., p. 108) destacou que ela voltou “encantada com a nossa terra, principalmente porque os seus irmãos de sangue encontraram, no Brasil, um ambiente amigo e sem preconceitos”; e 2) Arna Bontemps (1902-1973), escritor e poeta afro-americano, que teve sua opinião sobre o Brasil reproduzida por Lessa (1945LESSA, Orígenes. OK América(Cartas de Nova York). Rio de Janeiro: Editora Leitura, 1945., p. 138): “Por tudo que tenho lido e ouvido, o Brasil é o país que resolveu, de maneira mais simples, mais realística e mais humana, o problema racial.” Essas opiniões refletem uma imagem da situação da população afro-brasileira integrada ao país em que não havia preconceito, condição que se opunha diametralmente à Lei Jim Craw de segregação racial vigente nos EUA.

Viana Moog, apesar de não ter contribuído especificamente com ações que estimulassem a solidariedade entre as Américas ou dado o retorno imediato esperado pelo pessoal do OCIAA, conseguiu coletar material nas bibliotecas para escrever seu livro Bandeirantes e pioneiros, que foi publicado depois, em 1954, já no período da Guerra Fria. Seu conterrâneo Erico Verissimo, por outro lado, parece ter sido o escritor mais determinado em construir esse entendimento. Suas passagens pelas cidades dos EUA foram repletas de palestras, encontros com escritores e personalidades ligadas à arte e entrevistas, registradas em dois livros, Gato preto em campo de neve e A volta do gato preto. Nesse último, registrou como se sentia livre por falar de assuntos que nunca poderia falar para um público no Brasil. Somando-se à carta detalhada na seção anterior em que expressa sua opinião e dá sugestões para a melhoria das relações culturais entre o Brasil e os EUA, Verissimo mostrou seu comprometimento e engajamento pela causa hemisférica. No entanto, Minchillo (2015MINCHILLO, Carlos Cortez. Erico Verissimo, escritor do mundo. São Paulo: Edusp, 2015., p. 184) afirma que Verissimo teria deixado transparecer em seu Solo de clarineta (1973) algum desencantamento com os Estados Unidos depois da Segunda Guerra, quando o conheceu mais de perto durante a terceira e mais longa estadia.

Esses quatro escritores de diferentes origens, participantes de círculos literários distintos e de orientação política variada, que aparentemente teriam pouco em comum, foram reunidos aqui tendo como elo a causa pela união hemisférica tão almejada pelos EUA em tempo de guerra. Os braços do OCIAA não alcançaram somente o universo dos filmes, programas de rádio, desenhos e revistas destinadas ao grande público. Congregaram também os intelectuais para conquistar as elites letradas dos países latino-americanos.

Referências

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  • VERISSIMO, Erico. A volta do gato preto 4ª ed. Porto Alegre: Globo , 1957b.
  • 1
    Dumont e Aubert (2021DUMONT, Juliette; AUBERT, Didier. Cultural diplomacy from propaganda to soft power. Transatlantic Cultures, nov. 2021. Disponível em: Disponível em: https://www.transatlantic-cultures.org/pt/catalog/diplomatie-culturelle-entre-propagande-soft-power . Acesso em: 8 nov. 2020.
    https://www.transatlantic-cultures.org/p...
    ) analisam os diferentes termos que tratam dos intercâmbios culturais promovidos de maneira direta ou indireta pelos Estados na região do Atlântico desde o final do século XIX. As denominações variam de acordo com os períodos, os países que promoviam as trocas culturais, a maneira como os governos tratavam as relações nos documentos oficiais e como os acadêmicos examinam essas relações atualmente. Neste artigo usarei o termo “relação cultural” por se tratar das “condições, das formas e dos objetivos das interações culturais, particularmente a articulação entre as políticas de Estado e os atores do setor privado” (tradução nossa).
  • 2
    O DIP foi estabelecido pelo Decreto-lei presidencial nº 1915, em 27 de dezembro de 1939.
  • 3
    Destaque-se a análise do campo intelectual durante o Estado Novo feita por Velloso (1987VELLOSO, Monica Pimenta. Os intelectuais e a política cultural do Estado Novo. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (orgs.). O Brasil republicano: o tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Livro 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 145-179., 2003VELLOSO, Monica Pimenta. Os intelectuais e a política cultural do Estado Novo. Rio de Janeiro: CPDOC/FGV ,1987.) e Oliveira (2003OLIVEIRA, Lúcia Lippi. Sinais da modernidade na era Vargas: vida literária, cinema e rádio. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves(orgs.). O Brasil republicano: o tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Livro 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 323-349.).
  • 4
    Sobre Sérgio Milliet: Atik (1999) traçou o perfil de Milliet como um mediador cultural analisando sua obra Panorama da moderna poesia brasileira (1952); e Gonsales (2016) examinou a carreira de Milliet e sua participação para a democratização da cultura em São Paulo. Sobre Erico Verissimo: a dissertação de Gatti (2013) analisou a relação entre literatura e política nas narrativas de viagem de Verissimo, alicerçada por documentos encontrados nos seguintes arquivos: Departamento de Ordem Política e Social, Federal Bureau of Investigation e NARA II; Smith (2013) investigou as consequências da estadia de Verissimo nos EUA na sua carreira literária utilizando-se da documentação do Instituto Moreira Salles (IMS); Minchillo (2015) examinou como a trajetória internacional de Verissimo refletiu em seus relatos de viagem e romances “estrangeiros”, explorando documentos dos seguintes arquivos: IMS, Fundação Casa de Rui Barbosa, Harry Ransom Center, Instituto de Estudos Brasileiros, NARA II, Smithsonian Institute Archives, entre outros; Bordini (2008) mostrou a gênese do romance O resto é silêncio, os dois primeiros volumes de O tempo e o vento e Bandeirantes e pioneiros, por meio do conteúdo presente em uma troca de cartas entre Verissimo e Vianna Moog, que se encontra no IMS; e o artigo de 2016 analisou a carreira de Verissimo na União Pan-Americana, nos EUA, entre 1953 e 1956, recorrendo ao arquivo do IMS.
  • 5
    NARA II - National Archives and Records Administration. RG 229, Office of Inter-American Affairs. College Park, Maryland (MD), USA.
  • 6
    Em 1943, a SEB passou por reformulações e adotou outro nome, Associação Brasileira de Escritores (ABDE). Como a nova proposta era acolher profissionais do território nacional, a sede foi transferida para o Rio de Janeiro, o Distrito Federal à época. Felipe Victor Lima (2015LIMA, Felipe Victor. Literatura e engajamento na trajetória da Associação Brasileira de Escritores (1942-1958). Tese (Doutorado em História Social), Universidade de São Paulo. São Paulo, 2015.) traçou o histórico da transição da SEB para ABDE, chamando a atenção para a importância de se estabelecer as balizas temporais e os locais onde ficavam as associações para evitar equívocos comuns que aparecem em trabalhos que tratam dessas entidades.
  • 7
    National Archives and Records Administration II (NARA II). Record Group 229 (RG229), Office of Inter-American Affairs (OIAA). Regional Division, Coordination Committee for Brazil: General Records, 1941-1945 (RD, CCB). Legal Archives (LGA). Cross a Friele, 18 set. 1942. Box 1310 (Cortesia do Nara II).
  • 8
    O manifesto completo pode ser encontrado no Anexo I deste artigo.
  • 9
    Cross a Friele, 18 set. 1942. Ver nota 7.
  • 10
    As notícias da SEB encontradas em jornais brasileiros da época tratavam somente do caráter profissional da agremiação, porém, essa carta assinada por membros da SEB e destinada a Nelson Rockefeller ratifica a afirmação de Lima (2015) de que as memórias registradas por alguns escritores destacaram o comprometimento político das suas atividades.
  • 11
    Lima (2015) analisou a trajetória da ABDE identificando dois princípios - a função social do intelectual e a defesa dos direitos autorais - que promoveram aproximações e dissensos entre seus membros e refletiram em quatro momentos distintos durante sua existência (1943-1958).
  • 12
    NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Nelson Rockefeller a Milliet, 19 jan. 1943. Box 1310.
  • 13
    “Em viagem para os Estados Unidos o escritor Sergio Milliet”. Correio Paulistano. 31 jan. 1943.
  • 14
    NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Arnold Tschudy a Friele, 4 mar. 1943. Box 1310.
  • 15
    Segundo Gonsales (2016), as pessoas interessadas na criação do Museu de Arte Moderna eram Eduardo K. de Melo, Carlos P. Alves, Ciccillo Matarazzo e Rino Levi, juntamente com o estadunidense Carleton S. Smith, conselheiro do MoMA e adido cultural do Consulado Americano em São Paulo, que trabalhava com Milliet na Escola Livre de Sociologia e Política.
  • 16
    NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Tschudy a Friele, 3 mar. 1943. Box 1310.
  • 17
    NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. Letter Archives (LTA). Donald Withycomb a Russell Pierce, 17 mar. 1942. Box 1261.
  • 18
    NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LTA. Friele a Don Francisco, 11 mar. 1942. C/C Arquivo pessoal e confidencial do embaixador. Box 1261.
  • 19
    A Divisão de Turismo era “encarregada da divulgação do Brasil no exterior, com a finalidade de incentivar o turismo,” e editou a revista em língua inglesa Travel in Brazil, com uma distribuição de 25 mil exemplares somente nos EUA (Araújo, 2018ARAÚJO, Rejane. Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Atlas histórico do Brasil. Rio de Janeiro: CPDOC/FGV, 2018. Disponível em:Disponível em:https://atlas.fgv.br/verbete/7791 . Acesso em: 10 jun. 2021.
    https://atlas.fgv.br/verbete/7791...
    ).
  • 20
    “The same may be said of all the others. They are an intelligent group of men imbued with the spirit of Brazilian-American collaboration. Their faith in our cause is implicit and they will do everything possible to assist us. The Latin temperament has to be reckoned with. They need encouragement and coaching. I am personally very optimistic as to the outcome of this project and feel that you will have in your midst some for the most brilliant Brazilian writers and intellectuals who should contribute in a generous measure to the success of the Coordinator’s efforts in the field of communications and cultural relations.” NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LTA. Friele a Don Francisco, 11 mar. 1942. Box 1261.
  • 21
    Rockefeller a Friele, 31 mar. 1942. NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LTA. Friele a Don Francisco, 11 mar. 1942. Box 1261.
  • 22
    NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LTA. Divisão Brasileira ao OCIAA Washington, 30 set. 1943. Box 1296.
  • 23
    Arna Bontemps foi um literato negro que marcou forte presença no cenário cultural e intelectual afro-americano na década de 1920 durante o movimento que ficou conhecido como Harlem Renaissance. Ciro Alegria foi um escritor peruano que ganhou o prêmio pelo livro El mundo es ancho y ayeno (1941) no mesmo concurso em que o romance brasileiro A fogueira (1942), de Cecílio Carneiro, ganhou a menção honrosa (Morinaka, 2020). John Steinbeck, Pearl Buck e Sinclair Lewis foram importantes figuras literárias nos EUA. Houve um esforço para a publicação da novela The moon is down (1942), de Steinbeck, no Brasil, por se tratar de “uma alegoria do regime nazista na Alemanha e uma crítica ao regime totalitário que avançava rapidamente pelos países europeus” (Morinaka, 2020, p. 159).
  • 24
    Para mais informações sobre a Liga, cf. Folsom (1994FOLSOM, Franklin. Days of anger, days of hope: a memoir of the League of American Writers, 1937-1942. Colorado: University Press of Colorado, 1994.).
  • 25
    Para mais informações sobre o realismo socialista, cf. Eagleton (2011EAGLETON, Terry. Marxismo e crítica literária. Trad. Matheus Corrêa. São Paulo: Edunesp, 2011.).
  • 26
    Sobre Lessa ver o site da Academia Brasileira de Letras (ABL). Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/origenes-lessa/biografia. Acesso em: 5 nov. 2020.
  • 27
    A pesquisa de Angela de Castro Gomes (1993GOMES, Angela de Castro. Essa gente do Rio... Estudos Históricos (Rio de Janeiro). v. 6, n. 11, p. 62-77, 1993. Disponível em: Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/1954 . Acesso em: 10 jun. 2021.
    http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/inde...
    , p. 73-74) cartografou “os lugares de sociabilidade intelectual” e as publicações desses grupos sediados no Rio de Janeiro e associou a Sociedade Felipe de Oliveira ao modernismo pelo fato de Felipe de Oliveira, patrono da sociedade, ter sido considerado um “modernista” após a publicação do livro de poesia Lanterna verde (1927). A autora indicou, no entanto, a necessidade de uma análise mais aprofundada sobre os vários periódicos do período. A pesquisa posterior de Raul Antelo (1997ANTELO, Raúl. As revistas literárias brasileiras. Boletim de Pesquisa Nelic (Florianópolis). v. 1, n. 2, p. 3-11, 1997. Disponível em:Disponível em:https://periodicos.ufsc.br/index.php/nelic/article/view/1041 . Acesso em: 4 nov. 2020.
    https://periodicos.ufsc.br/index.php/nel...
    ) indicou que a Sociedade Felipe de Oliveira era uma entidade conservadora que reunia intelectuais católicos e publicava uma revista literária intitulada Lanterna verde, dada ao público entre 1934 e 1944, de posição mais comedida em relação à estética modernista.
  • 28
    NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Rockefeller a Friele, 20 ago. 1942. Box 1318.
  • 29
    NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Caffery a Rockefeller, Kenneth Holland e Friele, 31 out. 1942. Box 1318.
  • 30
    NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Kenneth Holland (Diretor da Divisão de Ciência e Educação) a Friele, 23 out. 1942. Box 1318.
  • 31
    NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Caffery a Rockefeller, Kenneth Holland e Friele, 31 out. 1942. Box, 1318.
  • 32
    Uma tradução literal do alemão seria “o duplo que vai junto”. No folclore alemão, acredita-se que há uma réplica exata de cada criatura viva. Ver o verbete ‘Doppelgänger’ na Encyclopedia Britannica, 2019. Disponível em: https://www.britannica.com/art/doppelganger. Acesso em: 5 nov. 2020.
  • 33
    Northwestern University (NU). Archival and Manuscript Collection (AMC). Melvile Herskovits (1895-1963) Papers, 1906-1963 (MHP). Series 35/6. General Files (GF): 1943-1944. Brazil Trip, 1943. Moe a Herskovits, 21 dez. 1942. Box 27, Folder 15 (Cortesia da Northwestern University).
  • 34
    AMC. NU. MHP. Series 35/6. GF: 1929-1942. Guggenheim Foundation, 1929-1942. Herskovits a Moe, 23 dez. 1942. Box 8, Folder 17.
  • 35
    AMC. NU. MHP. Series 35/6. GF: 1943-1944. Guggenheim Foundation, 1943-1944. Moog a Herskovits, 19 set. 1943. Box 28, Folder 9.
  • 36
    NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. R. H. Hippelheuser (Diretor da Divisão de Informação) a Moog, 18 maio1943.Box 1318.
  • 37
    “Being the excellent journalist that you are, you can do us a tremendous service while in the US. We would like very much to have from you a series of articles on the United States at war, with particular reference to the human factor. How the people accept war rationing - the sacrifices they undergo in their daily lives - the disruptions that have come into the ordinary family life as the result of round-the-clock operation of war industries - and, above all, the ‘typical American way’ that the people of the US accept these hardships, always with a grain of humor. These are the things that need to be told to the people of Brazil. If you can be the medium of this interchange of information you will gain the undying gratitude of the people of the US - who, after all, have only one thing to gain out of this war: the same thing that the people of Brazil have to gain: the right to live their own lives. Having stated these premises let’s be sure and get together before you leave, to work out the details of this most important job.”
  • 38
    NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Hippelheuser à Comissão Intelectual, 26 maio 1943. Box 1318.
  • 39
    NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Hippelheuser a Frank V. Norall (Divisão do OCIAA no Rio de Janeiro), 6 jul. 1943. Box 1318.
  • 40
    NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Harry Frantz a Friele, 16 set. 1943. Box 1318.
  • 41
    NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Divisão brasileira a Francis Jamieson (coordenador adjunto), 9 jun. 1944. Box 1318.
  • 42
    NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LGA. Jamieson a Nattier, 23 jun. 1944. Box 1318.
  • 43
    Por ser um documento inédito, a cópia da carta em inglês na sua íntegra encontra-se no Anexo II deste artigo.
  • 44
    NARA II. RG229, OIAA. RD, CCB. LTA. Erico Verissimo ao OCIAA, 19 abr. 1943 (Data a lápis). Box 1259. Todas as traduções dessa carta assinada por Erico Verissimo são nossas.

ANEXO I:

Manifesto ao pensamento americano da Sociedade dos Escritores Brasileiros

ANEXO II

Carta de Erico Verissimo ao OCIAA

Fonte:
NARA II. RG229, OIAA. Regional Division, Coordination Committee for Brazil: General Records, 1941-1945. Legal Archives, Box 1310.

Fonte: NARA
II. RG229, OIAA. Regional Division, Coordination Committee for Brazil: General Records, 1941-1945. Letter Archives, Box 1259.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Abr 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2022

Histórico

  • Recebido
    29 Jan 2021
  • Aceito
    26 Ago 2021
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