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Hispanismo e latinismo no debate intelectual ibero-americano

Hispanism and latinism in the Ibero-American intellectual debate

Resumos

Neste trabalho serão abordadas duas correntes de opinião do cenário ibero-americano, o hispanismo e o latinismo, ambas empenhadas na construção de comunidades culturais transatlânticas nos séculos XIX e XX. Os intelectuais tiveram lugar privilegiado na formulação de ideias, programas e iniciativas com a finalidade de estreitar laços entre o mundo europeu e o americano, assim como foram protagonistas de polêmicas que atravessaram as fronteiras nacionais. A crítica aos Estados Unidos constituiu o pano de fundo da luta que espanhóis e franceses travaram para reivindicar a liderança sobre os países ao sul do Rio Bravo. Enfocaremos algumas conjunturas e personagens que animaram tais correntes de modo a compreender suas posições e antagonismos.

hispanismo; latinismo; ibero-americanismo


This work aims to address two different streams of opinions in the ibero-american scenario, the hispanism and the latinism, both committed to building transatlantic cultural communities in the 19th and 20th Centuries. Some intellectuals had a privileged position in the formulation of ideas, programs and initiatives in order to strengthen the ties between the European and American worlds, just as they were the protagonists of controversies that crossed the national frontiers. The criticism to the United States established the background for the fight that the Spanish and French waged to claim the leadership on the countries located south of the "Rio Bravo". We will focus on some situations and characters that inspired such opinions in order to understand their positions and antagonisms.

hispanism; latinism; Ibero-Americanism


DOSSIÊ: INTELECTUAIS E CIRCULAÇÃO DE IDEIAS NA AMÉRICA LATINA

Hispanismo e latinismo no debate intelectual ibero-americano* * Autor convidado. ** Contato: jbbeired@assis.unesp.br. [

Hispanism and latinism in the Ibero-American intellectual debate

José Luis Bendicho Beired** * Autor convidado. ** Contato: jbbeired@assis.unesp.br. [

Departamento de História, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Assis (SP), Brasil

RESUMO

Neste trabalho serão abordadas duas correntes de opinião do cenário ibero-americano, o hispanismo e o latinismo, ambas empenhadas na construção de comunidades culturais transatlânticas nos séculos XIX e XX. Os intelectuais tiveram lugar privilegiado na formulação de ideias, programas e iniciativas com a finalidade de estreitar laços entre o mundo europeu e o americano, assim como foram protagonistas de polêmicas que atravessaram as fronteiras nacionais. A crítica aos Estados Unidos constituiu o pano de fundo da luta que espanhóis e franceses travaram para reivindicar a liderança sobre os países ao sul do Rio Bravo. Enfocaremos algumas conjunturas e personagens que animaram tais correntes de modo a compreender suas posições e antagonismos.

Palavras-chave: hispanismo, latinismo, ibero-americanismo

ABSTRACT

This work aims to address two different streams of opinions in the ibero-american scenario, the hispanism and the latinism, both committed to building transatlantic cultural communities in the 19th and 20th Centuries. Some intellectuals had a privileged position in the formulation of ideas, programs and initiatives in order to strengthen the ties between the European and American worlds, just as they were the protagonists of controversies that crossed the national frontiers. The criticism to the United States established the background for the fight that the Spanish and French waged to claim the leadership on the countries located south of the "Rio Bravo". We will focus on some situations and characters that inspired such opinions in order to understand their positions and antagonisms.

Keywords: hispanism, latinism, Ibero-Americanism

O hispanismo e o latinismo foram duas correntes de opinião que ocuparam um importante lugar no debate intelectual ibero-americano, entre meados dos séculos XIX e XX. Criadas e sustentadas por agentes situados em ambos os lados do Atlântico, tais correntes foram responsáveis por estimular não apenas o contato entre ambientes culturais situados em diferentes países, mas também a construção de novas identidades nacionais e transnacionais. A crença fundamental dos seus promotores era que Espanha e França encabeçavam duas grandes comunidades de nações euro-americanas em razão dos vínculos históricos, culturais, linguísticos e religiosos. Ao perceberem o potencial político dessas correntes, os governos francês e espanhol buscaram incorporá-las ao discurso oficial para a afirmação dos seus Estados no contexto internacional.[1 1 ] Este artigo constitui uma versão modificada de um capítulo de BEIRED, José Luis Bendicho. América-Espanha-América: política, intelectuais e historiografia. Tese (Livre-docência). Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Assis, 2010. Uma versão inicial foi apresentada no IX Encontro Internacional da ANPHLAC, Goiânia, UFG, 2009. [ ]

Neste artigo analisaremos como a construção de comunidades culturais transatlânticas pelo hispanismo[2 2 ] Tomamos o termo hispanismo como sinônimo de hispano-americanismo. Ambos aparecem com o mesmo sentido nas fontes, embora o primeiro com maior ênfase no século XIX e o segundo no século XX. [ ] e o latinismo foi discutidaebatida pelos intelectuais ibero-americanos. Por um lado, objetivamos relativizar as interpretações que enfatizam o conflito entre as duas correntes.[3 3 ] MARCILHACY, David. Une histoire culturelle de l' hispano-americanisme (1910-1930): L'Espagne à la reconquête d'un continent perdu. t.I, Paris: Université de Paris III, 2006, p. 150; SEPULVEDA, Isidro. El sueño de la Madre Pátria: hispanoamericanismo y nacionalismo. Madrid: Marcial Pons, 2005, p.329-359. [ ] A documentação consultada evidencia que a oposição entre hispanismo e latinismo não foi significativa até a Primeira Guerra Mundial, predominando a complementaridade entre ambas, pois se entendia que o mundo hispânico contribuía para fortalecer os interesses da causa latina no cenário internacional. Depois de indicar os motivos e argumentos que colocaram tais correntes em campos opostos, analisaremos como os intelectuais hispano-americanos se posicionaram e se enfrentaram diante de problemas específicos que colocavam em jogo o poder das correntes em questão.

Nossa abordagem se insere nos marcos da história intelectual e transnacional. Os intelectuais constituíram a categoria social que mais se empenhou no fomento de laços entre o Velho e o Novo Mundo, assim como foram essenciais na elaboração das identidades culturais nacionais e supranacionais. A nossa atenção se volta aos processos de circulação, apropriação e reelaboração, de modo a explicar como os referenciais hispanistas e latinistas orientaram os projetos, intercâmbios e polêmicas que envolveram agentes situados em países de diferentes continentes. As fontes empregadas serão fundamentalmente revistas e jornais, uma vez que consideramos terem sido os principais veículos de circulação internacional do latinismo e do hispanismo. A sua utilização é essencial para estabelecer as conexões concretas entre ideias, personagens, interesses e circunstâncias e dessa forma evitar os riscos das análises descontextualizadas que envolvem o estudo dos fenômenos ideológicos.[4 4 ] ESPAGNE, Michel. Les transferts culturels franco-allemands. Paris: PUF, 1999; PRADO, Maria Ligia Coelho. Repensando a história comparada da América Latina. Revista de História, São Paulo, n.153, p.11-33, 2005; SÁNCHEZ ILLÁN, Juan Carlos. La nación inacabada: los intelectuales y el proceso de construcción nacional (1900-1914). Madrid: Biblioteca Nueva, 2002, p. 23-29; POCOCK, John G. A. Linguagens do ideário político. São Paulo: Edusp, 2003. Sobre a questão da historia transnacional e das histórias conectadas, ver artigos do dossiê "Une histoire à l'echelle globale". Annales, v.56, n.1, 2001. [ ]

Paralelismos e confluências

Os panismos, ou seja, os movimentos de união de coletividades em função da sua unidade cultural, ganharam um notável impulso em meados do século XIX durante o processo de desagregação do Antigo Regime e de construção da Europa das nacionalidades. A projeção exterior das potências transformou-se em um recurso complementar da ideologia nacionalista e contribuiu para legitimar os novos Estados nacionais perante os cidadãos e os demais países da Europa. A tese de que as nações mais poderosas deveriam exercer poder sobre as demais era uma justificativa das pretensões internacionais das potências quer por meio da anexação de territórios quer pela formação de zonas de influência. Um bom exemplo foi dado pelo espanhol Carlos Navarro y Rodrigo,[5 5 ] Esse personagem foi ideólogo do partido Unión Liberal, força centrista criada em 1858 que visou aglutinar os chamados moderados não-absolutistas e os progressistas menos exaltados. Foi organizado e liderado pelo general Leopoldo O'Donnell, que em seu governo empreendeu uma política de prestigio apoiada na ressurreição do "sonho imperial"; ÁLVAREZ JUNTO, José. Mater Dolorosa: la idea de España en el siglo XIX. Madrid: Taurus, 2005, p. 510. [ ] que se inspirou nas leis de Newton para interpretar o fenômeno panista num livro publicado em 1869:

Los Estados, como cuerpos celestes, ejercen sobre los demás pueblos una atracción que está en razón directa de sus masas, ley que regula la armonía de las esferas y que ha sugerido a la diplomacia moderna la teoria brilhante y devastadora de las grandes nacionalidades para regular la armonía entre ellas.[6 6 ] NAVARRO Y RODRIGO, Carlos. O'Donnell y su tiempo. Madrid: Imprenta de la Biblioteca Universal Económica, 1869, p. 189; apud LOPEZ-OCON, Leoncio. Biografia de "La América": una crónica hispano-americana del liberalismo democrático español (1857-1886). Madri: CSIC, 1987, p.78. [ ]

O panlatinismo surgiu exatamente no contexto da primeira metade do século XIX como expressão cultural e programa geopolítico que legitimava a expansão francesa por meio da sua política exterior. Na concepção dessa corrente, a Europa estava dividida em três grandes povos que lutavam entre si: latinos, eslavos e anglo-saxões, liderados pela França, Rússia e Inglaterra, respectivamente. O panlatinismo apoiava-se na reivindicação da unidade religiosa católica e linguística entre a França, Bélgica, Espanha, Portugal, Itália e Romênia.[7 7 ] AILLON SORIA, Esther. La política cultural de Francia en la génesis y difusión del concepto L' Amerique Latine, 1860-1930. In: GRANADOS, Aimer; MARICHAL, Carlos. Construcción de las identidades latinoamericanas: ensayos de historia intelectual (siglos XIX y XX). México: El Colégio de México, 2004, p.76. [ ] Se durante o período moderno a unidade política havia residido na instituição monárquica e nas dinastias reais, na época contemporânea o povo passava constituir sua base, quer na condição de conjunto de coletividade dotada de soberania política, quer como base das tradições que conferiam identidade cultural à nação.[8 8 ] Essas duas concepções correspondem a duas experiências, a francesa e a alemã, transfiguradas nos chamados modelos político e cultural; HOBSBAWM, Eric. Nações e nacionalismo desde 1780. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. [ ]

É conhecido o papel de Michel Chevalier, saintsimoniano que visitou a América em missão do governo francês durante os anos 1830 e elaborou os fundamentos ideológicos da expedição de Napoleão III ao México. Chevalier assinalava a decadência da Espanha e propunha que a França assumisse a sua herança e fizesse frente aos Estados Unidos, justificando dessa forma a intervenção no país americano. De acordo com o desenho geopolítico do francês, a comunidade de interesses das nações se baseava na reciprocidade, segundo a qual a França poderia oferecer certos benefícios aos países latinos ao mesmo tempo em que estes retribuiriam aceitando a sua liderança. Em um livro sobre o México, afirmava que a França era a nação chamada a recuperar e fortalecer o mundo latino e católico:

Sin ella, sin su enérgica iniciativa y sin el respeto que imponen sus luces, sus sentimientos elevados y su poder militar, el grupo de naciones latinas estaria reducido a hacer una triste figura en el mundo (...) es para estas naciones una hermana mayor, cuya autoridad les sirve de salvaguardia. No solamente forma la entidad principal del grupo latino, sino que es su única protectora, desde que España ha descendido de su antiguo rango.[9 9 ] Apud AILLON SORIA, Esther. La política cultural de Francia, p.79. [ ]

Em 1863 uma expedição militar hispano-anglo-francesa invadiu o México a pretexto da cobrança de dívidas, a qual foi aproveitada pela França para derrubar o governo de Benito Juárez e instaurar uma monarquia com o apoio dos conservadores. Apesar do fracasso do empreendimento que acabou com a morte do Arquiduque Maximiliano da Áustria, o prestigio da França apenas aumentou nas décadas seguintes, inclusive entre os mexicanos, a exemplo de Justo Sierra. Este ideólogo do porfirismo admirava a Espanha, mas duvidava da sua capacidade para projetar-se no futuro e assegurar aos americanos aquilo que necessitavam. Ao passo que a França, esta sim, por sua capacidade material e qualidades espirituais era o único país capaz de conter a ameaça norte-americana e unificar as nações latinas.[10 10 ] GANTUS, Fausta. Justo Sierra: el proyecto de una identidad integradora. In: GRANADOS, Aimer; MARICHAL, Carlos. Construcción de las identidades latinoamericanas, p.116-120. [ ]

No ambiente intelectual americano, a francofilia desenvolveu-se ao lado das críticas às limitações da Espanha. O exercício da influência francesa sobre a América foi recebido com beneplácito por muitos intelectuais americanos, a exemplo do chileno Francisco Bilbao e do colombiano José María Torres Caicedo. Radicado em Paris, Torres Caicedo foi o primeiro autor a empregar a expressão América Latina em oposição à América anglo-saxã no poema Las dos Américas, em 1856. Ou seja, de forma paradoxal os intelectuais latino-americanos não só foram essenciais para forjar o conceito de América Latina, mas também para o sucesso da projeção internacional francesa. Como assinala Aillón Soria, no seu afã por construir uma estratégia de reconhecimento, com a denominação América Latina, tais intelectuais elaboraram um conceito de identidade que representava a minoria dominante na América; uma minoria que possuía a palavra e o direito a escrever a história.[11 11 ] AILLON SORIA, Esther. La política cultural de Francia, p.84. [ ]

Passemos ao exame do fenômeno hispanista. Concluídas as guerras da independência americana, a reaproximação entre a Espanha e suas ex-colônias foi levada adiante sob diversas formas no século XIX, compreendendo tanto o estreitamento de laços comerciais e culturais quanto a organização de uma confederação política e uma aliança militar defensiva. As primeiras propostas vieram à luz na Espanha durante os anos 1830, por meio de uma profusão de panfletos, artigos jornalísticos e documentos oficiais que manifestavam a aspiração espanhola de estabelecer uma união fraternal com os povos americanos, na qual a "pátria mãe" deveria exercer uma vaga autoridade como guardiã.[12 12 ] VAN AKEN, Mark. Pan-hispanism: its origin and development to 1866. Berkeley: University of California Press, 1959, p. 2-19; RAMA, Carlos. Historia de las relaciones culturales entre España y la América Latina. México: Fondo de Cultura Económica, 1982, p. 161. [ ]

As relações com a América constituíam uma alternativa para reerguer a combalida Espanha, devolvendo-lhe a grandeza e o orgulho nacional.[13 13 ] Tal atitude era coerente com o desenvolvimento do nacionalismo espanhol e europeu de meados do século XIX, segundo a qual política a exterior deveria ser um catalisador da afirmação nacional. Sobre a questão, ver: ALVAREZ JUNCO, José. Mater Dolorosa, p.510-511. [ ] As manifestações de reatamento não escondiam a manutenção de uma perspectiva imperial que sempre apresentava a Espanha como uma mãe benevolente diante da filhas americanas. De qualquer forma, uma nova imagem de império desenhou-se a partir de então, não mais baseada nas estruturas políticas da monarquia católica, mas no comércio e nos vínculos de religião, língua e costumes, configurando o alvorecer do movimento panhispanista.[14 14 ] Ainda que tal expressão tenha perdurado até o século XX, ela foi usada com pouca frequência, provavelmente pelas reações contrárias dos americanos a uma nova sujeição externa. No seu lugar, hispanismo e hispano-americanismo foram as expressões mais usuais; VAN AKEN, Mark. Pan-hispanism, p.29. [ ]

Os ressentimentos recíprocos entre os governos da Espanha e dos países americanos tardaram décadas a se dissipar, de tal modo que as iniciativas em favor da união hispânica restringiram-se a círculos de intelectuais, políticos e burgueses. Na segunda metade do século XIX, uma profusão de publicações regulares, formadas por jornais e revistas, abraçou a causa da união hispano-americana, promovendo a circulação internacional desse ideal e a comunicação entre seus entusiastas.[15 15 ] BEIRED, José L.B. Intelectuais e imprensa: a configuração de uma rede hispano-americana no espaço atlântico. História, São Paulo, v.28, n.2, p.821-836, 2009; RAMA, Carlos. Historia de las relaciones culturales entre España y la América Latina. [ ]

Editadas em Madri, a Revista Española de Ambos Mundos e La América foram duas publicações fundamentais para a aproximação com o mundo americano. Note-se que em ambas não havia a exclusão, mas a inclusão expressa da tradição latina. O dominicano Francisco Muñoz del Monte escreveu uma série de artigos intitulados España y las republicas hispanoamericanas", primeiramente publicados na Revista Española de Ambos Mundos, no ano de 1853, e depois na revista La América, em 1857. Ali desenvolveu uma interpretação das relações interamericanas lançando mão de um genérico conceito de "raça" que mesclava componentes biológicos e culturais. Para ele, a "raça latina" e "anglo-saxã" eram as preponderantes na América e subordinavam física e intelectualmente a indígena e a africana. No entanto, mostrava preocupação pela tendência do elemento anglo-germânico a absorver o latino, e cobrava da Espanha e da França medidas para manter na América o equilíbrio existente na Europa entre as "raças antagônicas".[16 16 ] LOPEZ-OCON, Leoncio. Biografia de " La America": una crónica hispano-americana del liberalismo democrático español (1857-1886). Madrid: CSIC, 1987, p.80. [ ] Destas duas nações, considerava a Espanha como a mais interessada no equilíbrio em função do seu papel de mãe das repúblicas americanas, dos interesses comerciais e da identidade de religião, história, sentimentos e costumes. Para ele, a Espanha encontrava-se obrigada a defender os países hispano-americanos como forma de preservar a raça latina.[17 17 ] VAN AKEN, Mark. Pan-hispanism, p.74. [ ]

O escritor Emilio Castelar foi outra figura que sustentou o fortalecimento dos latinos. Foi o primeiro membro dos governos da Espanha a propor uma política de aproximação com a América como parte de um projeto progressista mais amplo de natureza liberal e republicana.[18 18 ] Exerceu a atividade de deputado e ministro, chegando à presidência da Primeira República Espanhola, entre 07/09/1873 e 03/01/1874. [ ] Outorgava à Espanha e à França a missão de defender os povos latinos da América contra as investidas dos Estados Unidos. Era taxativo quanto às aptidões e ao caráter que definiam os latinos como superiores:

La raza latina puede ejercer en el Nuevo Mundo un apostolado superior a la raza anglosajona. Raza artista, raza guerrera, dada a la disciplina, a la unidad, a la concentración de sus fuerzas, raza eminentemente social, la raza latina puede más, mucho más que la raza anglosajona en el Nuevo Mundo. Examinad los caracteres de esta raza. No es humanitária; su caracter, sus tendencias, su misma lectura, son eminentemente particulares y locales. El anglosajon no trabaja por uma idea, trabaja por el comercio. El anglosajon encerrado en su própio individualismo, no tiene por los pueblos ni por la humanidad esa simpatia vivíssima que es el gran blasón de la raza latina.[19 19 ] CASTELAR, Emilio. La unión de España y América. O texto foi publicado em fevereiro de 1858 na revista La América, e reproduzido pela revista Unión Ibero Americana, n.172, p.5, 15/08/1900. [ ]

Os latinos caracterizavam-se pela criatividade, idealismo, coragem e espírito de união, ao passo que os anglo-saxões eram provincianos, individualistas e materialistas. Em função de tais diferenças, os povos latinos deveriam unir-se por todos os meios para defender suas prerrogativas, incluindo o uso da força, se necessário. Propôs não só a formação de uma confederação dos países hispano-americanos, aos quais denominou "Nuestra América",[20 20 ] "Nuestra América no es, no puede ser, no será nunca ni en ningún tiempo más que democrática. Ese destino le ha encomendado el Eterno, y ese destino cumplirá en el mundo"; CASTELAR, Emilio. La unión de España y América. Unión Ibero Americana, n.172, p.5, 1900. [ ] mas também a união política entre a Espanha e a América.[21 21 ] CASTELAR, Emilio. La unión de España y América, p. 6-7. [ ]

A fundação da Unión Ibero-Americana em Madri, em 1885, foi um marco das relações hispano-americanas. Com uma rede de filiais na América e dirigida por importantes políticos e intelectuais, constituiu a mais importante entidade espanhola empenhada na construção de laços entre a Espanha e a América. Suas matérias, editoriais e declarações não manifestavam contradição entre o hispanismo e o latinismo: a expressão América Latina era corriqueira, assim como os termos latino, latino-americano e raça latina, todos utilizados de forma indistinta tanto por espanhóis quanto americanos.[22 22 ] BEIRED, José L. B. O hispano-americanismo na imprensa espanhola: a trajetória de Unión Ibero-Americana e Revista de las Españas (1885-1936). In: BEIRED, José Luis B.; CAPELATO, Maria Helena; PRADO, Maria Ligia (orgs). Intercâmbios políticos e mediações culturais nas Américas. São Paulo: FCL Assis-Unesp Publicações/Laboratório de Estudos de História das Américas – USP, 2010, p.13-38. Disponível em: < http://historia.fflch.usp.br/sites/historia.fflch.usp.br/files/Intercambios_Politicos_-_e-book.pdf>. Acesso em: 05 fev. 2014. [ ] Por exemplo, em uma solenidade com a presença do Ministro de Estado[23 23 ] Ministério de Estado correspondia à pasta de relações exteriores. [ ] espanhol e outras autoridades, os discursos fizeram referências aos ideais da "raça latina" e à influência da Unión Ibero-Americana sobre a "América latina".[24 24 ] El banquete de la Unión. Unión Ibero Americana, n.58, p.14, 1890. [ ] A iminente intervenção norte-americana na guerra de independência de Cuba foi repudiada pela opinião pública espanhola em nome dos direitos históricos da Espanha e do mundo latino. O conflito mereceu especial atenção da Unión Ibero-Americana por meio de editoriais e matérias que o interpretavam como uma contenda na qual a civilização europeia e a "raça latina" eram defendidas heroicamente pela Espanha:

España defiende allí, en su único baluarte, la civilización europea y los derechos de la raza latina en América, cuya prioridad nadie le podrá disputar, puesto que esta raza, por su genio y su fe, hizo surgir del Océano aquel ignorado mundo, que hoy otras razas desean poseer.[25 25 ] RODRIGUEZ SAN PEDRO, Faustino. Mensaje elevado por la Unión Ibero-Americana al Gobierno de S. M. Unión Ibero Americana, n.150, Marzo 1898. [ ]

A guerra acabou por exacerbar certas interpretações do final do século XIX, segundo as quais as características dos povos se baseavam em fatores raciais, geográficos e psicológicos, o que por sua vez determinava a superioridade de uns sobre outros. Mas também despertou reações críticas e inesperadas. Mónica Quijada assinala como as leituras sobre a guerra foram divergentes na Europa e na América. Para os europeus o conflito significava a confirmação da decadência latina e para os espanhóis cristalizou a sensação de atraso e de prostração da Espanha diante das nações mais modernas e poderosas. Em contrapartida, na América fortaleceu a consciência cultural hispano-americana na medida em que o debate foi canalizado em favor da afirmação do nacionalismo e da identidade hispânica.[26 26 ] QUIJADA, Mónica. Latinos y anglosajones: el 98 en el fin de siglo sudamericano. Hispania, Madrid, LVII/2, n.196, p.587-609, 1997. [ ] O sinal da polêmica foi invertido de modo que o "latino" e por extensão o "hispânico" passaram para o pólo positivo da dicotomia.

Inúmeras vozes vieram à tona para criticar os Estados Unidos e os preconceitos em relação aos povos latinos da América e da Europa, a exemplo do poeta nicaraguense Rubén Dario em seu famoso panfleto El triunfo de Caliban.[27 27 ] DARIO, Rubén. El triunfo de Calibán. Disponível em: < www.ensaystas.org/antologia/XIXA/dario/> Acesso em: 20 set. 2008. Na América Espanhola a intervenção norte-americana desencadeou uma onda de solidariedade à Espanha e de repúdio aos Estados Unidos. O texto de Rubén Dario foi escrito a propósito de um evento em desagravo da Espanha realizado no teatro Vitoria de Buenos Aires. Foi publicado originalmente no diário El Tiempo, de Buenos Aires, em 20/05/1898. [ ] Outra voz a se levantar foi a de José Enrique Rodó: tomou a metáfora sugerida por Dario e associou os latinos ao oposto de Calibán, Ariel, o outro personagem tomado de Shakespeare que representava a sabedoria, a beleza e a harmonia. Em meio à indisposição contra os Estados Unidos, o clássico Ariel de Rodó foi com certeza o livro-manifesto que alcançou maior notoriedade na exaltação das qualidades culturais dos americanos latinos em relação aos saxãos.[28 28 ] Libelos imbuídos do mesmo espírito também foram publicados por autores menos lembrados, a exemplo do uruguaio Victor Arreguine, que escreveu En qué consiste la superioridad de los pueblos latinos sobre los anglosajones., Buenos Aires: La Enseñanza Argentina, 1900. [ ] Ao elaborar uma releitura das representações culturais que circulavam havia décadas entre a Espanha e os países americanos, o escritor uruguaio se tornou uma referência para toda uma geração de intelectuais que se debruçavam sobre o problema da identidade cultural da América Latina.

Na visão dos autores aqui tratados, hispanismo e latinismo se compenetravam. Não obstante, também era evidente que a identidade latina dos americanos derivava da herança espanhola e que, portanto eles eram latinos por meio da Espanha. O que era mais importante, a raiz latina ou o tronco espanhol? Havia uma ambiguidade nessa concepção identitária que podia ser amplificada de acordo com as circunstâncias. De tal maneira que quando novos elementos viessem a separar os interesses da Espanha e da França, as diferenças poderiam ser exasperadas e se sobrepor aos elementos que davam unidade ao hispanismo e ao latinismo.

Os contornos de uma competição

A França emergiu como a principal potência da Europa ocidental após a Primeira Guerra Mundial, o que significou um passo a mais na consolidação do latinismo como política internacional francesa. Porém, ao contrário das décadas anteriores, a co-habitação entre o hispanismo e o latinismo cedeu lugar a uma relação conflituosa e de aberta disputa pela conquista de espaço no cenário internacional.

No final do século XIX, o programa latinista francês para a América havia ganhado um novo caráter em razão do incremento das relações e da aplicação de "métodos científicos de cooperação internacional".[29 29 ] AILLON SORIA. La política cultural de Francia, p.89. [ ] A França pretendia assumir claramente a condição de herdeira da latinidade de uma América reconquistada para si. Conferiu enorme relevância à chamada diplomacia cultural, por meio da qual desenvolveu várias iniciativas: missões antropológicas, fundação da Aliança Francesa, criação de revistas,[30 30 ] Bulletin Hispanique (1899), Bulletin de Bibliothèque Americaine (1910) e Revue de l'Amerique Latine (1921). [ ] implantação de escolas nas cidades latino-americanas, a formação do Comitê de Ajuda a Estudantes Estrangeiros e a promoção das Semanas da América Latina para estimular a adesão dos países da região à Tríplice Entente. Além de continuar a promover congressos americanistas iniciados no século anterior, também passou a enviar missões de professores e fundou diversas instituições de ação cultural na América Latina. Em síntese, a França vinha desenvolvendo uma série de ações apoiadas na cooperação e na solidariedade, as quais produziram um estado de alerta entre os defensores do hispano-americanismo contra o expansionismo cultural gaulês.

A participação da Espanha na Primeira Guerra suscitou polêmicas no âmbito da opinião pública, tendo como extremos germanófilos e aliadófilos. O governo espanhol optou por manter o país neutro perante o conflito, de modo a afirmar uma posição pautada pelo pacifismo e pela expectativa de beneficiar-se economicamente dos desarranjos produzidos pela guerra. A resolução da Argentina a favor da posição neutra foi saudada pelos setores neutralistas espanhóis como prova da afinidade dos americanos em relação à Espanha. Com o final da contenda, a imprensa e amplos segmentos do ambiente intelectual espanhol passaram a ver os interesses da Espanha como opostos à França e à Itália, e lançaram-se a desenvolver campanhas de exaltação patriótica articuladas ao fortalecimento dos laços com os países hispano-americanos. Esse foi o objetivo do estabelecimento do dia 12 de outubro como data comemorativa dos laços hispânicos, sob o nome de Fiesta de la Raza. Foi um empreendimento levado a cabo pela Unión Ibero-Americana, que conseguiu instituir a celebração como feriado oficial na Espanha e na maior parte da América Espanhola.

No campo acadêmico, a nova percepção dos interesses internacionais em jogo levantou a discussão sobre uma definição mais estrita da identidade hispânica. O uso da denominação América Latina foi discutido no Primeiro Congresso de História e Geografia Hispano-Americanas, realizado em Sevilha, em 1914. Foi aprovado que América Hispânica e Hispano-América eram nomes mais apropriados, pois a Espanha havia dotado o continente de uma personalidade específica. O segundo congresso ocorreu em 1921, que ao retomar o problema acabou por deliberar de forma mais incisiva contra as pretensões de influência do latinismo. Uma das resoluções determinava a utilização da qualificação hispano para todos os assuntos que tivessem referência a temas e fatos comuns à Espanha, Portugal, América Espanhola e Portuguesa.[31 31 ] SEPULVEDA, Isidro. El sueño dela Madre Pátria, p. 350-351. [ ]

A afirmação do hispanismo frente ao latinismo também foi objeto de muitos debates na imprensa dos anos 1920, a exemplo do verificado no diário madrilenho El Sol. Fundado em 1917, sob a inspiração de intelectuais tais como José Ortega y Gasset, o jornal foi concebido como um órgão moderno e de índole liberal dedicado ao o debate dos principais problemas nacionais e internacionais.[32 32 ] Ao visar um público de mais elevada formação cultural, alcançou a tiragem média de 85.000 exemplares diários nos anos 1920; DESVOIS, Juan Michel. La prensa en España (1900-1931). Madrid: Siglo XXI, 1977, p. 144. [ ] Em vista da sua elevada qualidade editorial, dos autores publicados e dos debates veiculados, tornou-se uma importante referência no âmbito da opinião pública espanhola.

O socialista Luis Araquistain foi um dos seus mais constantes e polêmicos colaboradores.[33 33 ] Luis Araquistáin Quevedo (1886-1959) integrou as fileiras do Partido Socialista Operário Espanhol desde a juventude, teve ativa participação nos governos da Segunda República e representou a Espanha como embaixador na França durante a Guerra Civil Espanhola. [ ] Em uma série de matérias escritas durante uma estadia em Portugal, ofereceu uma interessante amostra do estado de opinião sobre as relações Espanha-França. As suas "Cartas de Portugal"[34 34 ] Titulo da seção do jornal dedicada a matérias enviadas do país vizinho. [ ] demonstravam o conhecimento e a admiração em relação ao passado, a literatura e a historiografia portuguesas, elementos que para ele deveriam servir de elos para a aproximação com a Espanha. No entanto, as suas análises veiculavam uma visão alarmista do papel desempenhado pela nação portuguesa em favor do avanço do latinismo e em última instância dos interesses franceses sobre os espanhóis. Uma das suas primeiras matérias apresentava de maneira exemplar essa perspectiva. Tratava de uma conferência em que Augusto de Castro, diretor do Diário de Noticias, de Lisboa, era assistido pelas mais importantes autoridades lusitanas. Para o articulista, o evento constituía um ato político de proclamação da hegemonia da cultura latina no mundo. O conferencista teria afirmado que "en el pantano europeu, solo hay una tierra firme: Francia". Não menos alarmantes eram suas declarações em favor da união de Portugal, Brasil e França para fazerem frente aos países hispano-americanos: "la unión luso-brasileña, que restituirá a la raza portuguesa el papel de hegemonia atlántica y latina que ella representó hace cuatro siglos".[35 35 ] ARAQUISTAIN, Luis. Nacionalismo y latinismo. El Sol, 1923. [ ]

As preocupações de Araquistain inscreviam-se no âmbito de uma tradição que remontava ao século XIX em prol da união entre Espanha e Portugal. "União Ibérica" foi a expressão corrente empregada para designar o projeto de reunificação política da península levado a cabo pelos grupos republicanos de ambos os países. Se a unidade italiana e alemã havia sido possível, por que não a unidade da Península Ibérica? A eliminação da fronteira hispano-portuguesa fazia parte do ideal sustentado pelas correntes liberais mais progressistas, as quais deram forma ao chamado "iberismo". Do lado português, inúmeros intelectuais tais como Almeida Garrett, Oliveira Martins, Antero de Quental e Sebastião de Magalhães Lima defenderam a causa iberista por meio de livros, jornais, revistas e folhetos. Na Espanha, a corrente análoga foi integrada por figuras de expressão política e intelectual tais como os republicanos Emilio Castelar, Francisco Pi y Margall e Rafael Maria de Labra. Para os defensores do regime republicano, a unidade deveria ser alcançada mediante a criação de uma federação ibérica, enquanto para os monarquistas moderados por meio de uma fusão dinástica. Entidades foram criadas em favor disso, tal como o Club Ibérico, de corte republicano, fundado em Paris em 1848 por democratas portugueses e espanhóis.[36 36 ] Como símbolo da Ibéria unida, o grupo idealizou uma bandeira de quatro listas: branca, azul, vermelha e amarela; ALVAREZ JUNCO, José. Mater Dolorosa, p.524-531. [ ] Em 1873 era fundada a Asociación Hispano-Portuguesa por Nicolás Salmerón, como fruto da proclamação da Primeira República na Espanha (1873-1874) e no final do século XIX existiu uma Liga Ibérica, da qual participou Oliveira Martins. No entanto, essa corrente fraternal restringiu-se a um limitado círculo político e intelectual e encontrou a resistência de um crescente antiiberismo alimentado pelo nacionalismo português e pelas desconfianças em relação ao risco da anexação de Portugal à Espanha.

O conteúdo das "Cartas de Portugal" apenas pode ser explicado no contexto dos movimentos de aproximação e repúdio entre os dois países ibéricos e que ganharam um novo componente na ação do latinismo francês sobre Portugal. Um dos objetivos do articulista era mostrar a possibilidade da união ibérica com base nos elementos que vinculavam ambos os países. Para o sucesso da reaproximação, entendia que deveriam ser abandonados tanto os projetos de união política da península quanto de confederação ibero-americana. A união deveria basear-se nos "laços de cultura", pois no fundo, perguntava-se, "no es una misma cultura dividida en dos idiomas, distintos, pero no extraños?".[37 37 ] ARAQUISTAIN, Luis. Lazos de cultura. El Sol, 1923. [ ] Em favor do seu argumento, evocava o escritor português Antonio Sardinha que em seu exílio na Espanha passou a defender o que chamava de "aliança peninsular" como parte de um programa de unidade cultural que incluía a América Espanhola e o Brasil. À pergunta "es posible un panhispanismo?", respondia positivamente, por meio de uma operação contrária à experiência suíça, ou seja, produzindo uma unidade cultural a despeito da dualidade política peninsular. O caminho para isso consistia num plano de intercâmbio de professores e estudantes para que aprendessem e ensinassem mutuamente suas línguas e literaturas.[38 38 ] ARAQUISTAIN, Luis. ¿Es posible un panhispanismo? El sol, 1923. [ ]

Obcecado pelo fantasma latino, Araquistain passou a ver no integralismo português um instrumento a serviço da manipulação da França.[39 39 ] Com ironia, comparava o integralismo lusitano aos ovos de uma galinha gaulesa transplantados e incubados em solo português, dando origem a uma doutrina adaptada ao novo "meio vital"; cf. ARAQUISTAIN, Luis. El integralismo lusitano. El Sol, 1923. [ ] Acusava os dirigentes da extrema-direita francesa, Charles Maurras e Maurice Barrès, que diante de uma "Europa desorientada e sem líderes à altura", voltavam as esperanças da latinidade para a Península e a América. De acordo com o correspondente, tratava-se de um escândalo, um lamentável objetivo para uma causa tão importante: o hispanismo destinado a realizar-se sob a direção de Maurras e Barrès, tendo o Integralismo português como intermediário.[40 40 ] Apud ARAQUISTAIN, Luis. Un matiz del iberismo. El Sol, 1923. [ ]

A disputa com o latinismo também preocupava a direção do jornal. Um editorial criticava a realização de um Segundo Congresso da Imprensa Latina, na cidade de Lisboa, cujo objetivo era estreitar o contato entre os povos latinos da Europa e da América. Embora aparentemente merecesse aplausos, o jornal denunciava que tais eventos escondiam um perigoso equívoco que justificava a vigilante atenção da imprensa espanhola. O editorialista tratava o assunto como uma verdadeira conspiração gaulesa. Desconfiava da realização do primeiro congresso em Lyon e do segundo em Lisboa, ambos fora da Espanha. E lançava suspeitas sobre a denominação do congresso, adjetivado como latino, que dessa forma disfarçava a política sistemática de invasão espiritual da América Hispano-Portuguesa. Sem meias palavras, disparava:

Para hablar con toda claridad, latinismo es la expresión encontrada por Francia, con el fin de lanzar una línea de parentesco con Iberoamérica, dando un largo rodeo por Roma, y deslizar a su amparo su influencia espiritual sobre los pueblos de lengua española y portuguesa. Francia mantiene la pretensión de ser la más latina de las naciones latinas, la auténtica y la única representante del espiritu latino en la actualidad, a la que corresponde la preponderancia cultural sobre los demás pueblos del mismo origen, y cuanto se acuña con el troquel de latinismo es francés hasta las cachas.[41 41 ] Editorial. El Congreso de la Prensa Latina: un equívoco peligroso. El Sol, 1924. [ ]

Nesse mesmo número, a direção do jornal criticava o emprego da denominação América Latina em uma matéria publicada no diário La Voz. Afirmava que a expressão era completamente errônea e estranhava sua utilização em um jornal "tão espanhol e popular", lembrando que a questão havia sido completamente elucidada em artigos do filólogo Ramón Menéndez Pidal e do jornalista Mariano de Cavia, em 1918.[42 42 ] Nos artigos, os dois autores questionavam a utilização do titulo "América Latina" pelo próprio diário El Sol para nomear uma nova seção informativa; MENÉNDEZ PIDAL, Ramón. Nuestro título 'América Latina' discutido por el Sr. Menéndez Pidal. El Sol, 1918; CAVIA, Mariano de. Ibero-América: outro voto de calidad. El Sol, 1918. [ ] De acordo com os dois autores, a expressão América Hispânica derivava do latim Hispania, termo criado durante o domínio romano para designar todo o território peninsular, e nomeava com propriedade e justiça os territórios colonizados por países que se exprimiam em línguas hispânicas. Nas palavras de Menéndez Pidal:

Esas naciones americanas no heredaron la lengua latina, como la heredaron España, Francia e Itália de su colonización romana, sino que recibieron lenguas hispánicas; lengua castellana y portuguesa, y éstas, para adjetivarlas aludiendo a sus orígenes, se llaman comúnmente, neolatinas y no latinas.[43 43 ] MENÉNDEZ PIDAL, Ramón. Nuestro título 'América Latina' discutido por el Sr. Menéndez Pidal. [ ]

A propósito da celebração do congresso da imprensa latina, o jornalista e crítico literário Eduardo Gomez de Baquero refletiu de modo bastante realista sobre as dificuldades que se apresentavam ao hispano-americanismo. O articulista espanhol via três vertentes americanistas que se chocavam: o latino-americanismo, o pan-americanismo e o hispano-americanismo, que incluía o Brasil, e equivalia a ibero-americanismo. Definia os povos da América ibérica como novos brotos da família e da cultura hispânica, ou seja, do tronco espanhol, que por sua vez era um ramo da Roma Antiga. Em suma, a força do hispano-americanismo fundamentava-se na história e no idioma. O pan-americanismo pretendia ser a criação de um mundo novo e diferente do europeu. Era prospectivo e abria uma nova etapa histórica. O latinismo era externamente mais parecido ao hispanismo, porém com uma posição menos sólida e realista, pois se apoiava na tese de uma cultura latina e de uma problemática raça latina.

Embora Gomez de Baquero considerasse o hispano-americanismo como o mais fundamentado e legítimo dos americanismos em função das raízes históricas, língua e costumes, ele alertava para as limitações de tais elementos para garantir sua vitória sobre seus concorrentes. O articulista tinha clareza das transformações das sociedades americanas e dos desafios colocados à Espanha. Para ele "los españoles de las nuevas Españas" não aceitavam a dependência do antigo solar nem renunciavam de forma alguma à sua originalidade e à sua modernidade.[44 44 ] GOMEZ DE BAQUERO, Eduardo. Americanismos. El Sol, 1924. [ ] Recusavam-se a ser "colónias espirituales después de haber dejado ser colónias políticas".[45 45 ] GOMEZ DE BAQUERO, Eduardo. Revistas Americanas. El Sol, 1926. Na matéria, saudava a revista Repertório Americano, publicada na Costa Rica, pela sua qualidade editorial e contribuição à difusão do sentimento panhispanista. [ ] O hispano-americanismo não podia sustentar-se sobre declamações sentimentais ou por meio da aplicação de rótulos. Estava a depender da capacidade e da conduta dos espanhóis, os quais não deveriam esquecer que "el lema de los pueblos de America es modernidad". Admitia que o latinismo exercia um grande fascínio sobre os americanos. Tinha seu favor o prestigio das letras e da cultura francesa, a simpatia que despertava a liberdade das suas instituições e o feitiço de Paris, mas considerava que os americanos não queriam ser absorvidos e modelados por outros povos, pois aspiravam à própria originalidade nacional. Seguindo a tendência do hispano-americanismo do seu país, entendia que os melhores agentes políticos da Espanha eram os intelectuais, pois com a pena mostravam aos americanos que ela não era uma nação caduca ou pretérita à imagem do Escorial. O sucesso do hispano-americanismo dependia, pois, da capacidade da Espanha responder positivamente à América viva e progressista:

America ama la vida y no la muerte. Cada regresión nuestra, cada hecho que ponga em duda nuestra capacidad para la vida moderna, es una herida a nuestro americanismo y una ventaja para los americanismos rivales.[46 46 ] GOMEZ DE BAQUERO, Eduardo. Americanismos. [ ]

Em que medida os intelectuais espanhóis desenvolveram ações capazes de afirmar o hispanismo em face do latinismo? Quais as reações que produziram?

A reconquista espiritual da América

A projeção espanhola sobre o continente americano foi evocada na Espanha por meio da metáfora da "reconquista da América", embora não mais no sentido territorial, mas exercido por outros meios, tais como o econômico, o diplomático, o científico e o cultural. A tese de que os países hispano-americanos constituíam uma área de influência linguística e cultural reservada essencialmente à Espanha foi um dos pilares da ação levada a cabo pelo historiador Rafael Altamira: seu país tinha não apenas o direito, mas o dever de preservar os elementos civilizatórios hispânicos na América. Encarregado pela Universidade de Oviedo, Altamira viajou pela América entre 1909 e 1910 para o estreitamento das relações com a Espanha, em um périplo que incluiu Argentina, Uruguai, Chile, Peru, Cuba, México e Estados Unidos. Realizou dezenas de atividades entre cursos, conferências e reuniões, as quais se tornaram um marco das relações culturais e científicas e estimularam outras inúmeras iniciativas.[47 47 ] ALTAMIRA, Rafael. España y el programa americanista. Madrid: Editorial América, 1917. [ ]

Mas a aproximação oficial da Espanha com a América apenas ganhou um impulso significativo sob o governo do general Miguel Primo de Rivera. Alçado ao poder por meio de um golpe de Estado, o militar estabeleceu um regime autoritário que se propôs a modernizar a economia, reformar a sociedade e fortalecer a posição internacional do país. A promoção do hispanismo tornou-se um dispositivo da nova diplomacia, levada a efeito por meio das seguintes linhas de ação: criação de uma Seção de Política da América e de Relações Culturais, ampliação do corpo diplomático e consular ibero-americano, apoio a entidades dedicadas à aproximação científica e cultural, e realização de acordos e de eventos que simbolizavam a união hispano-americana. Foram patrocinados eventos tais como a Exposição Ibero-Americana de Sevilha, exposições espanholas nas capitais da América, congressos e a assinatura de vários acordos internacionais. Um episódio fartamente explorado pela propaganda hispanista foi a viagem do hidroavião Plus Ultra de Cádiz a Buenos Aires, passando por Recife, Rio de Janeiro e Montevidéu, metaforicamente apresentada como a reprodução da aventura dos antigos conquistadores espanhóis.[48 48 ] PEREIRA, Juan C. Primo de Rivera y la diplomacia española en Hispanoamérica: el instrumento de un objetivo. Quinto Centenário – 10. Madrid: Editorial Universidad Complutense, 1986, p.131-155. [ ] Além disso, esforços diplomáticos foram despendidos no sentido de alcançar um assento permanente no Conselho da Sociedade das Nações, entidade fundada com a colaboração espanhola. Sob Primo de Rivera, a pretensão da Espanha apoiou-se em um novo argumento, o de ser o porta-voz europeu de um bloco de Estados americanos, cuja liderança lhe asseguraria uma posição relevante no cenário do após-guerra.[49 49 ] PEREIRA, Juan C; CERVANTES, Ángel. Las relaciones diplomáticas entre España y América. Madrid: Mapfre, 1992, p. 217. A campanha em favor dessa demanda contou com um forte apoio da opinião pública, incluindo o diário El Sol e a sociedade Unión Ibero-Americana. [ ]

As dificuldades da influência da Espanha sobre os países ibero-americanos foram objeto de inúmeras reflexões. Os correspondentes do diário El Sol, em Buenos Aires, apontavam o desenvolvimento de um sentimento nacionalista da "Argentina jovem, dinâmica e orientada ao futuro", o qual levava o país a esquecer seus vínculos com o passado; também viam com preocupação a imigração de origem não-hispânica, assim como o desinteresse dos filhos dos imigrantes espanhóis em se manterem identificados com a pátria dos ancestrais. Por outro lado, acreditavam que o campo das relações culturais era o único no qual a Espanha podia competir com vantagem, pois no plano comercial encontrava forte concorrência das exportações de outros países mais industrializados.[50 50 ] Os correspondentes eram Luis Olariaga, Avelino Gutierrez, Dionísio Perez. [ ] A empreitada não era simples, pois outras nações, notadamente França, Itália e Alemanha, também buscavam exercer influência por meios diversos, inclusive estimulando a formação de instituições culturais e organização de missões de professores e estudantes.[51 51 ] GUTIERREZ, Avelino. Lo que hacen otras naciones por influir en la Argentina. El Sol, 1925. [ ]

O adversário mais visado era a França. Na perspectiva de outro correspondente, o espírito dominante nos países ibero-americanos era o francês em razão de uma ação coordenada. Em Buenos Aires havia sido criado o Instituto da Universidade de Paris, subvencionado pelo governo francês e com o apoio das universidades locais, para acolher quatro professores franceses por ano, além de outros enviados diretamente pelas universidades da França. Também apontava a Aliança Francesa, com doze escolas só na capital, que ensinava língua, literatura, história, enfim tudo que pudesse elevar o nome da França e criar um genuíno espírito francês, além da existência de vários colégios administrados por ordens religiosas francesas. Conforme outro articulista, a impressão geral era que as iniciativas francesas eram muito mais eficazes que o hispano-americanismo, frequentemente circunscrito à "prosa jornalística, aos discursos solenes e aos brindes alcoolizados". Em contraste com o "monólogo hispano-americano", por trás do latinismo atuava uma ação política persistente, o trabalho financeiro e diplomático, universitário e literário que repetiam que não havia raça hispânica nem pensamento espanhol.[52 52 ] PEREZ, Dionísio. El monólogo de nuestro hispanoamericanismo. El Sol, 1925. [ ]

Com frequência os diálogos entre os intelectuais espanhóis e americanos derivavam em controvérsias, quando não em verdadeiras batalhas campais entre os dois lados do Atlântico e que mobilizavam diversos autores e órgãos de imprensa. As matérias sobre a Argentina e de autoria de argentinos eram constantes na imprensa espanhola. O poeta Leopoldo Lugones foi, por exemplo, objeto de ataques em razão do seu radicalismo nacionalista e do seu ceticismo em relação ao hispano-americanismo. Causou polêmica quando publicou uma carta no diário El Sol criticando a realização de um Congresso Livre de Trabalhadores Intelectuais, proposta por um publicista peruano, para a "organização do pensamento hispano-americano", pois este, na opinião do argentino, simplesmente não existia.[53 53 ] LUGONES, Leopoldo. Um congreso libre de trabajadores intelectuales. El Sol, 1925; ARAQUISTAIN, Luis. Lo explicable y lo inexplicable del Sr. Lugones. El Sol, 1925. [ ] As críticas da imprensa espanhola também tinham como objeto a defesa da cultura hispânica e do idioma espanhol, cuja integridade era tida como a base fundamental da unidade hispano-americana frente à América do Norte e o pan-americanismo.[54 54 ] ARAQUISTAIN, Luis. Organización de la cultura hispánica. El Sol, 1925. [ ] A defesa da pureza da língua derivou na crítica ao "lunfardismo",[55 55 ] O lunfardo designa a gíria de uso popular gestada nas comunidades de imigrantes em Buenos Aires e que se difundiu na região do Prata no final do século XIX. [ ] o qual, na perspectiva espanhola, englobava tanto a corrupção do idioma espanhol como da própria história da literatura argentina, cuja interpretação nacionalista colocava as contribuições da Espanha em segundo plano.[56 56 ] PEREZ, Dionísio. El lunfardismo en Suramerica. El Sol, 1925. [ ]

Uma das disputas mais emblemáticas foi representada pelo problema do "meridiano intelectual da América Hispânica". A polêmica produziu-se a partir da publicação do editorial "Madrid, meridiano intelectual de Hispanoamérica", de autoria do escritor Guillermo de Torre, na revista espanhola La Gaceta Literária, da qual era secretário de redação. A publicação constituía um espaço aberto aos temas de vanguarda e veiculava autores das mais variadas posições estéticas e ideológicas.

Entendemos que o significado do editorial apenas pode ser devidamente aquilatado no quadro mais amplo das tensas relações entre o hispanismo e o latinismo na década de 1920. O texto iniciava-se qualificando a denominação "América Latina" como falsa e injustificada, e posicionando-se em favor de "Iberoamérica, Hispanoamérica ou América Espanhola", acepções que portavam os três fatores fundamentais: a origem étnica, a identidade linguística e o caráter espiritual. O objetivo era questionar a influência francesa, cujo latinismo intelectual definia como tão perigoso quanto a política saxã:

Eliminemos, pues, de una vez para siempre, en nuestro vocabulário, los espúreos términos de 'América Latina' y de 'latinoamericanismo'. (...) ¡Basta ya, por tanto, de ese latinismo ambíguo y exclusivista! ¡Basta ya de tolerar pasivamente esa merma de nuestro prestigio, esa desviación constante de los intereses intelectuales hispanoamericanos hacia Francia![57 57 ] TORRE, Guillermo de. Madrid, meridiano intelectual de Hispanoamérica. La Gazeta Literária, 1927. [ ]

Contra as "manobras anexionistas" da França e da Itália, e principalmente a sedução exercida por Paris, propunha uma nova hegemonia intelectual, de Madri, transformada no ponto de intersecção entre a América e a Espanha:

Frente a la imantación desviada de París, señalemos en nuestra geografia espiritual a Madrid como el más certero punto meridiano, como la más auténtica línea de intersección entre América y España. Madrid: punto convergente del hispanoamericanismo equilibrado, no limitado, no coativo, generoso y europeo, frente a París: reducto del latinismo estrecho, parcial, desdeñoso de todo lo que no gire em torno a su eje.[58 58 ] TORRE, Guillermo de. Madrid, meridiano intelectual de Hispanoamérica. [ ]

Enquanto os outros "ismos" representavam a hegemonia norte-americana ou francesa, justificava que o hispano-americanismo não expressava a hegemonia de nenhum povo de fala espanhola sobre outro. Indagava:

¿Qué vale más, qué prefieren los jóvenes espíritus de hispanoamérica? ¿Ser absorvidos bajo el hechizo de una fácil captación francesa, que llega hasta anular y neutralizar sus mejores virtudes nativas, dejándoles al margen de la auténtica vida nacional, o sentirse identificados con la atmosfera vital de España, que no rebaja y anula su personalidad, sino que más bien la exalta y potencia en sus mejores expresiones?[59 59 ] TORRE, Guillermo de. Madrid, meridiano intelectual de Hispanoamérica. [ ]

Questionava como "equivocada" a corrente que levava as jovens gerações de estudantes e intelectuais a procurarem Paris em lugar de Madri, aonde encontrariam um ambiente muito mais acolhedor e fecundo que entre os aproveitadores do latinismo parisiense. Por fim, seu autor procurava desarmar as desconfianças dos leitores, declarando que não possuía propósitos de anexação, mas buscava apenas apagar fronteiras e agrupar toda produção de língua espanhola.

Guillermo de Torre expôs suas ideias de forma provocativa convocando o campo literário hispano-americano a cerrar fileiras em torno de uma causa liderada pela Espanha. A reação dos interlocutores foi imediata por meio de protestos publicados em diversas revistas americanas.[60 60 ] Outros intelectuais que reagiram ao editorial foram José Carlos Mariátegui, José Vasconcelos, Alberto Zum Felde, José Santos Chocano, Leopoldo Lugones, Manuel Ugarte e Victor R. Haya de la Torre, e inclusive o espanhol Luis Araquistain. [ ] A resposta mais incisiva foi a da argentina Martin Fierro, que três meses depois "rebatia com entusiasmo o convite" dos escritores espanhóis, por meio da pluma de Jorge Luis Borges. Era impossível ser mais irônico:

Madrid no nos entiende. Una ciudad cuyas orquestas no pueden intentar un tango sin desalmarlo; una ciudad cuyos estomagos no pueden asumir una caña brasileña sin enfermarse; una ciudad sin otra elaboración que las greguerías; una ciudad cuyo Yrigoyen es Primo de Rivera; una ciudad cuyos actores no distinguen a um mexicano de un oriental; (...) De dónde va a entendernos, qué va a saber de la terrible esperanza que los americanos vivimos? Hay que enfrentar los hechos. Ni en Montevideo ni en Buenos Aires – que yo sepa – hay simpatía hispánica.[61 61 ] BORGES, Jorge Luis. Sobre el meridiano de una Gaceta; apud MARCILHACY, David. Une histoire culturelle de l' hispano-americanisme, p. 182. [ ]

Por sua vez, o uruguaio Zum Felde afirmava considerar-se traído pela Gazeta Literária, a qual admirava por publicar as manifestações mais avançadas da literatura americana, mas sem saber que ocultava pretensões de reconquista colonial. Impotente materialmente, ao "ingênuo imperialismo hispanizante" não restaria outra saída senão o refúgio ilusório no terreno cultural. Acusava os vanguardistas de 1927 de nada terem aprendido nem esquecido sobre a América, lembrando que os americanos, sobretudo do Rio da Prata, estabeleciam relações diretas com a Europa, sem passar pelas alfândegas dos Pirineus. Além dessas montanhas estavam a França e a Europa Central, "onde a atividade do Espírito, em todas as ordens da cultura, oferecia à jovem América valores de muito maior categoria e temas de estudo mais ricos e originais".[62 62 ] ZUM FELDE, Alberto. O meridiano intelectual da América. In: SCHWARTZ, Jorge (org.). Vanguardas latino-americanas: polêmicas, manifestos e textos críticos. São Paulo: Edusp, 1995, p.524-525. [ ]

De Lima, Mariátegui saudou a ousada e revolucionária reação de Martin Fierro, a qual se colocava em prontidão para manter os escritores vigilantes, acordados e combativos diante de qualquer reação conservadora: "Contra a tardia reivindicação espanhola devemos nos levantar todos os escritores e artistas da nova geração hispano-americana". Justificava o protesto não só em razão dos ideais perseguidos pelas novas gerações de americanos, mas também pela falta de legitimidade de uma Espanha ainda medieval, de um país governado por um ditador, pretender a reconquista espiritual da América.[63 63 ] MARIATEGUI, José C. A batalha de Martin Fierro. In SCHWARTZ, Jorge (porg.). Vanguardas Latino-Americanas, p.526-527. [ ]

As críticas não arrefeceram os ânimos de La Gaceta Literária, que publicou um dossiê com respostas de inúmeros escritores espanhóis. Organizado por seu diretor Ernesto Gimenez Caballlero, o dossiê era iniciado por um conjunto de títulos e subtítulos irônicos sob a forma de um cartaz de propaganda de torneios esportivos: "Un debate apasionado. Campeonato para un meridiano intelectual. La selección argentina Martin Fierro (Buenos Aires) reta a la española Gaceta Literária (Madrid)".[64 64 ] GIMENEZ CABALLERO, Ernesto. Un debate apasionado. La Gaceta Literária. 1927. Disponível em: < www.filosofia.org/hem/dep/gac/gt01703a.htm>. Acesso em: 01 jun. 2010. Vanguardista, Gimenez Caballero foi pioneiro do cartazismo político na Espanha, o que explica o uso desse tipo de linguagem. [ ] Ao fim e ao cabo, La Gazeta Literária não se deu por vencida e não aceitou o desafio de Martin Fierro atribuindo-lhe golpes sujos. Em sua intervenção, Guillermo de Torre buscou explicar-se de forma menos belicosa, considerando imotivados e inexplicáveis os receios dos jovens escritores argentinos. No lugar de meridiano, considerava melhor "vértice", como ponto de confluência, afirmando que no fundo buscava incitar cordialmente a absoluta independência literária americana, sem nenhum exclusivismo ou unidade em torno de Madri.[65 65 ] TORRE, Guillermo de. La Gaceta Literária, 1927. Disponível em: < www.filosofia.org/hem/dep/gac/gt01703a.htm>. Acesso em: 01 jun. 2010. [ ] O tom geral do restante das matérias oscilava entre a ironia e a crítica, mas teve na figura do diretor Gimenez Caballero a posição mais radical. Por meio de insultos e até afirmações racistas, comparou a atitude de Martin Fierro com a de um "camponês ignorante ofendido" e finalmente justificou o abandono do debate por não encontrar um oponente à altura para a contenda.[66 66 ] GIMENEZ CABALLERO, Eernesto. Un debate apasionado. [ ] Os argumentos de Gimenez Caballero traduziam uma visão imperial, na qual a superioridade dos espanhóis se afirmava em oposição à condição subalterna dos americanos, materializada nos costumes, na corrupção da língua, nos tipos étnicos, enfim elementos que buscavam desqualificar o interlocutor.[67 67 ] Diante da repercussão do tema, o diário argentino La Nación interveio em prol da reconciliação das posições mediante a publicação de três artigos de Luis Araquistain. Julgando equivocados conceitos de ibero-americanismo e latino-americanismo, propunha um novo hispano-americanismo livre das expressões viciadas do discurso oficial. Deveria ser centrado na intensificação das relações culturais, acadêmicas, jornalísticas, profissionais e sindicais. Os artigos foram publicados em 6, 13 e 20/11/1927. Ver: SANCHEZ-CASCADO BLANCO, Maria José. Escritores españoles en La Nación de Buenos Aires (1923-1930). Actas del XXIX Congreso del Instituto Internacional de Literatura Iberoamerican. t. II, v.2, Barcelona: PPU, 1994, p.1077-1083. [ ]

Em sua análise sobre a polêmica do meridiano, a estudiosa Celina Manzoni considera que a produção das revistas culturais não respondia apenas às questões estéticas, mas tinham um papel ativo nos debates políticos e sociais e por isso elas expressavam conflitos e expectativas do seu tempo.[68 68 ] MANZONI, Celina. La polémica del meridiano intelectual. Actas del XXIX Congreso del Instituto Internacional de Literatura Iberoamericana, p.823-832. [ ] Os envolvidos na discussão tomavam posição de acordo com os seus diagnósticos e programas com o intuito de demarcar diferenças. Não poderia ser de outro modo em uma época de auge das vanguardas estéticas e políticas, uma vez que estas aspiravam à transformação integral do mundo. Embora o ataque de La Gazeta Literária contra a latinidade estivesse situado no plano cultural, tratava-se de uma atitude beligerante com implicações políticas em um contexto no qual se desenrolava uma redistribuição das forças e influências das potências entre si e sobre o continente sul americano.[69 69 ] MARCILHACY, David. Une histoire culturelle de l' hispano-americanisme, p. 182. [ ] Nesse sentido, não é possível compreender o hispanismo centralista e paternalista de La Gazeta Literária sem levar em consideração a vaga nacionalista e autoritária promovida pela ditadura do general Miguel Primo de Rivera, regime com o qual Gimenez Caballero possuía afinidade.

Igualmente não é possível explicar as reações americanas ao artigo de Guillermo de Torre fora do contexto de afirmação da soberania política e cultural das repúblicas hispano-americanas. Diversas correntes se desenvolviam nestas em busca da construção de identidades e projetos de futuro que passavam ao largo do hispanismo propalado na Espanha: os nacionalismos os mais variados, o indigenismo, o socialismo, o comunismo, o latino-americanismo, o aprismo, o muralismo mexicano, enfim uma torrente de movimentos cujo horizonte colocava em questão o programa hispanista. Embora o hispanismo e a busca de identificação com a Espanha contassem com importantes entusiastas na América, estes se circunscreviam a grupos restritos tais como setores intelectuais, da elite política e membros das colônias de imigrantes espanhóis.

A Segunda República e a Guerra Civil

O ano de 1930 foi marcado pela queda da ditadura de Primo de Rivera e pelo início da década mais dramática da história contemporânea espanhola. No ano seguinte, a monarquia caiu ante a vitória eleitoral das forças políticas republicanas, as quais por sua vez governaram sob uma situação de polarização política que desaguou na Guerra Civil e no triunfo dos rebeldes nacionalistas em 1939. O hispanismo não ficou imune a tais mudanças, as quais aprofundaram a divisão do movimento entre um campo secular e progressista e outro católico-conservador. Este setor fortaleceu-se tendo como líder o escritor Ramiro de Maeztu, personagem que formulou uma nova versão do hispanismo por meio da noção de hispanidad. Lançando mão de uma interpretação tradicionalista da história, desenvolveu a tese da essência católica da identidade hispano-americana e da existência de um "império espiritual" hispânico encabeçado pela Espanha.[70 70 ] MAEZTU, Ramiro de. Defensa de la hispanidad. Buenos Aires: Huemul, 1986. Importante escritor espanhol, foi embaixador em Buenos Aires, onde teve contato com círculos ultraconservadores que lhe ofereceram a inspiração para elaborar a noção de hispanidad, evidenciando o papel da circulação e apropriação ideológica. [ ]

Sob dificuldades, o hispano-americanismo fez parte da agenda dos governos republicanos, os quais buscaram imprimir-lhe um caráter progressista. A antiga Junta de Relaciones Culturales, criada por Primo de Rivera e vinculada ao Ministério de Estado, foi remodelada de modo a dissipar seu viés imperial em relação à América. Os projetos de "expansão cultural" na América foram apenas parcialmente efetivados e tiveram reduzida repercussão, consistindo no intercâmbio de professores, estudantes e escritores, ao lado da difusão do livro e da arte espanhola por meio da criação de bibliotecas e museus. Tais projetos enfrentaram não só obstáculos financeiros, mas também políticos em face da oposição dos setores conservadores do governo.[71 71 ] Cf TABANERA, Nuria. La Junta de Relaciones Culturales del Ministério de Estado, 1931-1936: una imagen de América Latina en un organismo oficial bajo la república. In: HUGUET, Montserrat; NIÑO, Antonio; PÉREZ, Pedro (eds.) La formación de la imagen de América Latina en España, 1898-1989. Madrid: OEI, 1989, p. 43-64. [ ]

Em que medida o regime republicano foi inovador nas relações hispano-americanas? Como assinala Nuria Tabanera, ainda que a Espanha não fosse mais definida como a "mãe" das nações americanas, permanecia a auto-imagem oficial da Espanha "transmissora de ciência" e "portadora da cultura nova e universal", diante da América receptora passiva desse legado cultural. De qualquer forma, as visões que insistiam na superioridade da Espanha não eram claramente assumidas pelas autoridades em vista das susceptibilidades da opinião pública ibero-americana, para não falar das limitações econômicas do país para ocupar de fato uma posição de liderança internacional.

Na década de 1930, cresceram os impasses do hispanismo diante não só do latinismo propagado pela França, mas também das versões de identidade cultural produzidas pelos próprios americanos em busca da sua afirmação nacional e continental. Analistas e diplomatas franceses que se dedicaram a examinar o hispanismo enfatizavam suas debilidades: movimento puramente ideológico, sonho sem porvir, pura e simples peça de oratória, incapacidade material, impotência diante do pan-americanismo e irrealismo político em face da falta de resultados.[72 72 ] NIÑO, Antonio. La opinión francesa y el hispanoamericanismo: una visión exterior de las relaciones de España con América Latina. In: HUGUET, Montserrat; NIÑO, Antonio; PÉREZ, Pedro (eds.) La formación de la imagen de América Latina en España, p. 23-43 [ ]

Para os observadores franceses, o empenho na promoção do hispano-americanismo era ininteligível à luz dos escassos rendimentos práticos. Como explicar esse desencontro de perspectivas? Uma hipótese plausível é que a lógica dos diplomatas e analistas franceses sobre as questões internacionais não era a mesma dos espanhóis. Como assinala Antonio Niño, apesar dos muitos acertos dos observadores franceses propiciados pela avaliação do contexto internacional, havia uma deficiência em suas análises provocadas pelo "efeito de distância" em relação à Espanha e que se traduzia na incapacidade de compreender a importância do hispano-americanismo para a opinião pública espanhola. Haveria uma dimensão simbólica a ser considerada, uma questão sentimental vinculada à própria consciência histórica, à identidade nacional e à expectativa de elevar o prestígio internacional da Espanha. O que para os franceses era um fracasso poderia representar justamente o contrário para os espanhóis, pois a racionalidade que movia as suas decisões obedecia a outros parâmetros que ultrapassavam a mera relação custo-benefício de caráter material.[73 73 ] NIÑO, Antonio. La opinión francesa y el hispanoamericanismo, p. 23-43. [ ]

Considerações finais

Finalizamos na expectativa de termos podido apresentar as grandes vertentes das relações entre o hispanismo e o latinismo. Originalmente formados no âmbito da sociedade civil, esses movimentos de opinião tomaram vários caminhos, sendo compartilhados por uma plêiade de atores tais como intelectuais, políticos e membros da burguesia, até incluir o próprio Estado. A compreensão do latinismo e do hispanismo constitui um desafio em razão da quantidade de agentes envolvidos e da interação entre eles ao longo do tempo. Mediante o recorte aqui proposto, procuramos assinalar como tais correntes sustentaram determinados interesses políticos, econômicos e culturais; e, por outro lado, como incidiram sobre a construção das identidades nacionais e transnacionais no espaço atlântico. A despeito dos seus preconceitos e valores paternalistas, tais correntes propiciaram diálogos e intercâmbios variados entre os interlocutores europeus e latino-americanos, num processo em que nenhuma das partes foi passiva, pois cada uma delas interagiu com as demais em função das suas necessidades, interesses e valores.

Depois de coabitar com o latinismo até a Primeira Guerra Mundial, o movimento hispanista passou a combatê-lo em nome dos direitos históricos da Espanha sobre a América que ela havia descoberto e colonizado. A capacidade de influência do hispanismo dependia de abrir mão das expectativas de tutela herdadas do passado, assim como responder às mudanças econômicas e políticas contemporâneas. As circunstâncias não colaboraram para isso. O hispanismo assistiu ao declínio da sua influência em uma região que cada vez mais se auto-reconhecia como América Latina e que demandava transformações internas e uma inserção internacional aberta ao futuro. Enquanto o advento da ditadura franquista isolou internacionalmente a Espanha, deste lado do Atlântico os Estados Unidos e a França ampliaram a sua influência cultural e foram identificados pelos governos e intelectuais como exemplos de civilização e fontes de inspiração para o futuro.

Redefinido nos termos católico-conservadores da hispanidad, o hispanismo desempenhou um papel chave na diplomacia do regime franquista. A noção de hispanidad ofereceu uma base doutrinária para promover os interesses internacionais da Espanha e inclusive sua admissão no sistema de poder estabelecido pelas nações vencedoras na Segunda Guerra.[74 74 ] As relações com a América foram promovidas sob o franquismo pelo Consejo de la Hispanidad e depois pelo Instituto de Cultura Hispánica. Gradativamente a Espanha foi admitida em organismos tais como UNESCO, FAO e OMS, até ser admitida como membro pleno da ONU, em 1955; DELGADO GÓMEZ-ESCALONILLA, Lorenzo. Diplomacia franquista y politica cultural hacia Iberoamerica (1939-1953). Madrid: CSIC, 1988; Imperio de papel. Acción cultural y política exterior durante el primer franquismo. Madri: CSIC, 1992. ] No entanto, o alcance do hispanismo viu-se limitado pelo viés conservador do regime franquista e pela persistência da retórica passadista na propaganda oficial. O programa hispanista teria de aguardar a democratização da Espanha para a sua reinvenção.

Artigo recebido em: 24/02/2014

  • [1] Este artigo constitui uma versão modificada de um capítulo de BEIRED, José Luis Bendicho. América-Espanha-América: política, intelectuais e historiografia. Tese (Livre-docência). Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Assis, 2010. Uma versão inicial foi apresentada no IX Encontro Internacional da ANPHLAC, Goiânia, UFG,
  • [3] MARCILHACY, David. Une histoire culturelle de l' hispano-americanisme (1910-1930): L'Espagne à la reconquête d'un continent perdu. t.I, Paris: Université de Paris III, 2006, p.
  • 150; SEPULVEDA, Isidro. El sueńo de la Madre Pátria: hispanoamericanismo y nacionalismo Madrid: Marcial Pons, 2005, p.329-359.
  • [4] ESPAGNE, Michel. Les transferts culturels franco-allemands. Paris: PUF,
  • 1999; PRADO, Maria Ligia Coelho. Repensando a história comparada da América Latina. Revista de História, São Paulo, n.153, p.11-33,
  • 2005; SÁNCHEZ ILLÁN, Juan Carlos. La nación inacabada: los intelectuales y el proceso de construcción nacional (1900-1914). Madrid: Biblioteca Nueva, 2002, p.
  • 23-29; POCOCK, John G. A. Linguagens do ideário político São Paulo: Edusp,
  • [5] Esse personagem foi ideólogo do partido Unión Liberal, força centrista criada em 1858 que visou aglutinar os chamados moderados não-absolutistas e os progressistas menos exaltados. Foi organizado e liderado pelo general Leopoldo O'Donnell, que em seu governo empreendeu uma política de prestigio apoiada na ressurreição do "sonho imperial"; ÁLVAREZ JUNTO, José. Mater Dolorosa: la idea de Espańa en el siglo XIX. Madrid: Taurus, 2005, p.
  • [6] NAVARRO Y RODRIGO, Carlos. O'Donnell y su tiempo. Madrid: Imprenta de la Biblioteca Universal Económica, 1869, p.
  • 189; apud LOPEZ-OCON, Leoncio. Biografia de "La América": una crónica hispano-americana del liberalismo democrático espańol (1857-1886). Madri: CSIC, 1987,
  • [7] AILLON SORIA, Esther. La política cultural de Francia en la génesis y difusión del concepto L' Amerique Latine, 1860-1930. In: GRANADOS, Aimer; MARICHAL, Carlos. Construcción de las identidades latinoamericanas: ensayos de historia intelectual (siglos XIX y XX). México: El Colégio de México, 2004,
  • [8] Essas duas concepções correspondem a duas experiências, a francesa e a alemã, transfiguradas nos chamados modelos político e cultural; HOBSBAWM, Eric. Nações e nacionalismo desde 1780. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
  • [9] Apud AILLON SORIA, Esther. La política cultural de Francia,
  • [10] GANTUS, Fausta. Justo Sierra: el proyecto de una identidad integradora. In: GRANADOS, Aimer; MARICHAL, Carlos. Construcción de las identidades latinoamericanas, p.116-120.
  • [11] AILLON SORIA, Esther. La política cultural de Francia,
  • [12] VAN AKEN, Mark. Pan-hispanism: its origin and development to 1866. Berkeley: University of California Press, 1959, p.
  • 2-19; RAMA, Carlos. Historia de las relaciones culturales entre Espańa y la América Latina México: Fondo de Cultura Económica, 1982, p.
  • [13] Tal atitude era coerente com o desenvolvimento do nacionalismo espanhol e europeu de meados do século XIX, segundo a qual política a exterior deveria ser um catalisador da afirmação nacional. Sobre a questão, ver: ALVAREZ JUNCO, José. Mater Dolorosa, p.510-511.
  • [14] Ainda que tal expressão tenha perdurado até o século XX, ela foi usada com pouca frequência, provavelmente pelas reações contrárias dos americanos a uma nova sujeição externa. No seu lugar, hispanismo e hispano-americanismo foram as expressões mais usuais; VAN AKEN, Mark. Pan-hispanism,
  • [15] BEIRED, José L.B. Intelectuais e imprensa: a configuração de uma rede hispano-americana no espaço atlântico. História, São Paulo, v.28, n.2, p.821-836,
  • 2009; RAMA, Carlos. Historia de las relaciones culturales entre Espańa y la América Latina
  • [16] LOPEZ-OCON, Leoncio. Biografia de "La America": una crónica hispano-americana del liberalismo democrático espańol (1857-1886). Madrid: CSIC, 1987,
  • [17] VAN AKEN, Mark. Pan-hispanism,
  • [19] CASTELAR, Emilio. La unión de Espańa y América. O texto foi publicado em fevereiro de 1858 na revista La América, e reproduzido pela revista Unión Ibero Americana, n.172, p.5, 15/08/1900.
  • [20] "Nuestra América no es, no puede ser, no será nunca ni en ningún tiempo más que democrática. Ese destino le ha encomendado el Eterno, y ese destino cumplirá en el mundo"; CASTELAR, Emilio. La unión de Espańa y América. Unión Ibero Americana, n.172, p.5,
  • [21] CASTELAR, Emilio. La unión de Espańa y América, p.
  • [22] BEIRED, José L. B. O hispano-americanismo na imprensa espanhola: a trajetória de Unión Ibero-Americana e Revista de las Espańas (1885-1936). In: BEIRED, José Luis B.; CAPELATO, Maria Helena; PRADO, Maria Ligia (orgs). Intercâmbios políticos e mediações culturais nas Américas. São Paulo: FCL Assis-Unesp Publicações/Laboratório de Estudos de História das Américas USP, 2010, p.13-38. Disponível em: <http://historia.fflch.usp.br/sites/historia.fflch.usp.br/files/Intercambios_Politicos_-_e-book.pdf>. Acesso em: 05 fev.
  • [24] El banquete de la Unión. Unión Ibero Americana, n.58, p.14,
  • [25] RODRIGUEZ SAN PEDRO, Faustino. Mensaje elevado por la Unión Ibero-Americana al Gobierno de S. M. Unión Ibero Americana, n.150, Marzo 1898.
  • [26] QUIJADA, Mónica. Latinos y anglosajones: el 98 en el fin de siglo sudamericano. Hispania, Madrid, LVII/2, n.196, p.587-609,
  • [27] DARIO, Rubén. El triunfo de Calibán. Disponível em: <www.ensaystas.org/antologia/XIXA/dario/> Acesso em: 20 set.
  • [28] Libelos imbuídos do mesmo espírito também foram publicados por autores menos lembrados, a exemplo do uruguaio Victor Arreguine, que escreveu En qué consiste la superioridad de los pueblos latinos sobre los anglosajones., Buenos Aires: La Enseńanza Argentina,
  • [29] AILLON SORIA. La política cultural de Francia,
  • [31] SEPULVEDA, Isidro. El sueńo dela Madre Pátria, p. 350-351.
  • [32] Ao visar um público de mais elevada formação cultural, alcançou a tiragem média de 85.000 exemplares diários nos anos 1920; DESVOIS, Juan Michel. La prensa en Espańa (1900-1931). Madrid: Siglo XXI, 1977, p.
  • [35] ARAQUISTAIN, Luis. Nacionalismo y latinismo. El Sol,
  • [36] Como símbolo da Ibéria unida, o grupo idealizou uma bandeira de quatro listas: branca, azul, vermelha e amarela; ALVAREZ JUNCO, José. Mater Dolorosa, p.524-531.
  • [37] ARAQUISTAIN, Luis. Lazos de cultura. El Sol,
  • [38] ARAQUISTAIN, Luis. żEs posible un panhispanismo? El sol,
  • [39] Com ironia, comparava o integralismo lusitano aos ovos de uma galinha gaulesa transplantados e incubados em solo português, dando origem a uma doutrina adaptada ao novo "meio vital"; cf. ARAQUISTAIN, Luis. El integralismo lusitano. El Sol,
  • [40] Apud ARAQUISTAIN, Luis. Un matiz del iberismo. El Sol,
  • [42] Nos artigos, os dois autores questionavam a utilização do titulo "América Latina" pelo próprio diário El Sol para nomear uma nova seção informativa; MENÉNDEZ PIDAL, Ramón. Nuestro título 'América Latina' discutido por el Sr. Menéndez Pidal. El Sol,
  • 1918; CAVIA, Mariano de. Ibero-América: outro voto de calidad. El Sol,
  • [44] GOMEZ DE BAQUERO, Eduardo. Americanismos. El Sol,
  • [45] GOMEZ DE BAQUERO, Eduardo. Revistas Americanas. El Sol,
  • [47] ALTAMIRA, Rafael. Espańa y el programa americanista. Madrid: Editorial América,
  • [48] PEREIRA, Juan C. Primo de Rivera y la diplomacia espańola en Hispanoamérica: el instrumento de un objetivo. Quinto Centenário 10. Madrid: Editorial Universidad Complutense, 1986, p.131-155.
  • [49] PEREIRA, Juan C; CERVANTES, Ángel. Las relaciones diplomáticas entre Espańa y América. Madrid: Mapfre, 1992, p.
  • [51] GUTIERREZ, Avelino. Lo que hacen otras naciones por influir en la Argentina. El Sol,
  • [52] PEREZ, Dionísio. El monólogo de nuestro hispanoamericanismo. El Sol,
  • [53] LUGONES, Leopoldo. Um congreso libre de trabajadores intelectuales. El Sol,
  • 1925; ARAQUISTAIN, Luis. Lo explicable y lo inexplicable del Sr. Lugones. El Sol,
  • [54] ARAQUISTAIN, Luis. Organización de la cultura hispánica. El Sol,
  • [56] PEREZ, Dionísio. El lunfardismo en Suramerica. El Sol,
  • [57] TORRE, Guillermo de. Madrid, meridiano intelectual de Hispanoamérica. La Gazeta Literária,
  • [61] BORGES, Jorge Luis. Sobre el meridiano de una Gaceta; apud MARCILHACY, David. Une histoire culturelle de l' hispano-americanisme, p.
  • [62] ZUM FELDE, Alberto. O meridiano intelectual da América. In: SCHWARTZ, Jorge (org.). Vanguardas latino-americanas: polêmicas, manifestos e textos críticos. São Paulo: Edusp, 1995, p.524-525.
  • [63] MARIATEGUI, José C. A batalha de Martin Fierro. In SCHWARTZ, Jorge (porg.). Vanguardas Latino-Americanas, p.526-527.
  • [64] GIMENEZ CABALLERO, Ernesto. Un debate apasionado. La Gaceta Literária. 1927. Disponível em: <www.filosofia.org/hem/dep/gac/gt01703a.htm>. Acesso em: 01 jun.
  • [65] TORRE, Guillermo de. La Gaceta Literária, 1927. Disponível em: <www.filosofia.org/hem/dep/gac/gt01703a.htm>. Acesso em: 01 jun.
  • [67] Diante da repercussão do tema, o diário argentino La Nación interveio em prol da reconciliação das posições mediante a publicação de três artigos de Luis Araquistain. Julgando equivocados conceitos de ibero-americanismo e latino-americanismo, propunha um novo hispano-americanismo livre das expressões viciadas do discurso oficial. Deveria ser centrado na intensificação das relações culturais, acadêmicas, jornalísticas, profissionais e sindicais. Os artigos foram publicados em 6, 13 e 20/11/1927. Ver: SANCHEZ-CASCADO BLANCO, Maria José. Escritores espańoles en La Nación de Buenos Aires (1923-1930). Actas del XXIX Congreso del Instituto Internacional de Literatura Iberoamerican. t. II, v.2, Barcelona: PPU, 1994, p.1077-1083.
  • [68] MANZONI, Celina. La polémica del meridiano intelectual. Actas del XXIX Congreso del Instituto Internacional de Literatura Iberoamericana, p.823-832.
  • [69] MARCILHACY, David. Une histoire culturelle de l' hispano-americanisme, p.
  • [70] MAEZTU, Ramiro de. Defensa de la hispanidad. Buenos Aires: Huemul,
  • [71] Cf TABANERA, Nuria. La Junta de Relaciones Culturales del Ministério de Estado, 1931-1936: una imagen de América Latina en un organismo oficial bajo la república. In: HUGUET, Montserrat; NIŃO, Antonio; PÉREZ, Pedro (eds.) La formación de la imagen de América Latina en Espańa, 1898-1989. Madrid: OEI, 1989, p.
  • [72] NIŃO, Antonio. La opinión francesa y el hispanoamericanismo: una visión exterior de las relaciones de Espańa con América Latina. In: HUGUET, Montserrat; NIŃO, Antonio; PÉREZ, Pedro (eds.) La formación de la imagen de América Latina en Espańa, p.
  • [73] NIŃO, Antonio. La opinión francesa y el hispanoamericanismo, p.
  • [74] As relações com a América foram promovidas sob o franquismo pelo Consejo de la Hispanidad e depois pelo Instituto de Cultura Hispánica. Gradativamente a Espanha foi admitida em organismos tais como UNESCO, FAO e OMS, até ser admitida como membro pleno da ONU, em 1955; DELGADO GÓMEZ-ESCALONILLA, Lorenzo. Diplomacia franquista y politica cultural hacia Iberoamerica (1939-1953). Madrid: CSIC, 1988; Imperio de papel. Acción cultural y política exterior durante el primer franquismo. Madri: CSIC,
  • *
    Autor convidado.
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    Contato:
    [
  • 1
    ] Este artigo constitui uma versão modificada de um capítulo de BEIRED, José Luis Bendicho.
    América-Espanha-América: política, intelectuais e historiografia. Tese (Livre-docência). Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Assis, 2010. Uma versão inicial foi apresentada no IX Encontro Internacional da ANPHLAC, Goiânia, UFG, 2009.
    [
  • 2
    ] Tomamos o termo hispanismo como sinônimo de hispano-americanismo. Ambos aparecem com o mesmo sentido nas fontes, embora o primeiro com maior ênfase no século XIX e o segundo no século XX.
    [
  • 3
    ] MARCILHACY, David.
    Une histoire culturelle de l' hispano-americanisme (1910-1930): L'Espagne à la reconquête d'un continent perdu. t.I, Paris: Université de Paris III, 2006, p. 150; SEPULVEDA, Isidro.
    El sueño de la Madre Pátria: hispanoamericanismo y nacionalismo. Madrid: Marcial Pons, 2005, p.329-359.
    [
  • 4
    ] ESPAGNE, Michel.
    Les transferts culturels franco-allemands. Paris: PUF, 1999; PRADO, Maria Ligia Coelho. Repensando a história comparada da América Latina. Revista de História, São Paulo, n.153, p.11-33, 2005; SÁNCHEZ ILLÁN, Juan Carlos. La nación inacabada: los intelectuales y el proceso de construcción nacional (1900-1914). Madrid: Biblioteca Nueva, 2002, p. 23-29; POCOCK, John G. A.
    Linguagens do ideário político. São Paulo: Edusp, 2003. Sobre a questão da historia transnacional e das histórias conectadas, ver artigos do dossiê "Une histoire à l'echelle globale".
    Annales, v.56, n.1, 2001.
    [
  • 5
    ] Esse personagem foi ideólogo do partido
    Unión Liberal, força centrista criada em 1858 que visou aglutinar os chamados moderados não-absolutistas e os progressistas menos exaltados. Foi organizado e liderado pelo general Leopoldo O'Donnell, que em seu governo empreendeu uma política de prestigio apoiada na ressurreição do "sonho imperial"; ÁLVAREZ JUNTO, José.
    Mater Dolorosa: la idea de España en el siglo XIX. Madrid: Taurus, 2005, p. 510.
    [
  • 6
    ] NAVARRO Y RODRIGO, Carlos. O'Donnell y su tiempo. Madrid: Imprenta de la Biblioteca Universal Económica, 1869, p. 189; apud LOPEZ-OCON, Leoncio.
    Biografia de "La América": una crónica hispano-americana del liberalismo democrático español (1857-1886). Madri: CSIC, 1987, p.78.
    [
  • 7
    ] AILLON SORIA, Esther. La política cultural de Francia en la génesis y difusión del concepto L' Amerique Latine, 1860-1930. In: GRANADOS, Aimer; MARICHAL, Carlos.
    Construcción de las identidades latinoamericanas: ensayos de historia intelectual (siglos XIX y XX). México: El Colégio de México, 2004, p.76.
    [
  • 8
    ] Essas duas concepções correspondem a duas experiências, a francesa e a alemã, transfiguradas nos chamados modelos político e cultural; HOBSBAWM, Eric.
    Nações e nacionalismo desde 1780. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
    [
  • 9
    ] Apud AILLON SORIA, Esther. La política cultural de Francia, p.79.
    [
  • 10
    ] GANTUS, Fausta. Justo Sierra: el proyecto de una identidad integradora. In: GRANADOS, Aimer; MARICHAL, Carlos.
    Construcción de las identidades latinoamericanas, p.116-120.
    [
  • 11
    ] AILLON SORIA, Esther. La política cultural de Francia, p.84.
    [
  • 12
    ] VAN AKEN, Mark.
    Pan-hispanism: its origin and development to 1866. Berkeley: University of California Press, 1959, p. 2-19; RAMA, Carlos.
    Historia de las relaciones culturales entre España y la América Latina. México: Fondo de Cultura Económica, 1982, p. 161.
    [
  • 13
    ] Tal atitude era coerente com o desenvolvimento do nacionalismo espanhol e europeu de meados do século XIX, segundo a qual política a exterior deveria ser um catalisador da afirmação nacional. Sobre a questão, ver: ALVAREZ JUNCO, José.
    Mater Dolorosa, p.510-511.
    [
  • 14
    ] Ainda que tal expressão tenha perdurado até o século XX, ela foi usada com pouca frequência, provavelmente pelas reações contrárias dos americanos a uma nova sujeição externa. No seu lugar, hispanismo e hispano-americanismo foram as expressões mais usuais; VAN AKEN, Mark.
    Pan-hispanism, p.29.
    [
  • 15
    ] BEIRED, José L.B. Intelectuais e imprensa: a configuração de uma rede hispano-americana no espaço atlântico. História, São Paulo, v.28, n.2, p.821-836, 2009; RAMA, Carlos.
    Historia de las relaciones culturales entre España y la América Latina.
    [
  • 16
    ] LOPEZ-OCON, Leoncio. Biografia de "
    La America": una crónica hispano-americana del liberalismo democrático español (1857-1886). Madrid: CSIC, 1987, p.80.
    [
  • 17
    ] VAN AKEN, Mark.
    Pan-hispanism, p.74.
    [
  • 18
    ] Exerceu a atividade de deputado e ministro, chegando à presidência da Primeira República Espanhola, entre 07/09/1873 e 03/01/1874.
    [
  • 19
    ] CASTELAR, Emilio. La unión de España y América. O texto foi publicado em fevereiro de 1858 na revista
    La América, e reproduzido pela revista
    Unión Ibero Americana, n.172, p.5, 15/08/1900.
    [
  • 20
    ] "Nuestra América no es, no puede ser, no será nunca ni en ningún tiempo más que democrática. Ese destino le ha encomendado el Eterno, y ese destino cumplirá en el mundo"; CASTELAR, Emilio. La unión de España y América.
    Unión Ibero Americana, n.172, p.5, 1900.
    [
  • 21
    ] CASTELAR, Emilio. La unión de España y América, p. 6-7.
    [
  • 22
    ] BEIRED, José L. B. O hispano-americanismo na imprensa espanhola: a trajetória de Unión Ibero-Americana e Revista de las Españas (1885-1936). In: BEIRED, José Luis B.; CAPELATO, Maria Helena; PRADO, Maria Ligia (orgs).
    Intercâmbios políticos e mediações culturais nas Américas. São Paulo: FCL Assis-Unesp Publicações/Laboratório de Estudos de História das Américas – USP, 2010, p.13-38. Disponível em: <
    [
  • 23
    ] Ministério de Estado correspondia à pasta de relações exteriores.
    [
  • 24
    ] El banquete de la Unión.
    Unión Ibero Americana, n.58, p.14, 1890.
    [
  • 25
    ] RODRIGUEZ SAN PEDRO, Faustino. Mensaje elevado por la Unión Ibero-Americana al Gobierno de S. M.
    Unión Ibero Americana, n.150, Marzo 1898.
    [
  • 26
    ] QUIJADA, Mónica. Latinos y anglosajones: el 98 en el fin de siglo sudamericano.
    Hispania, Madrid, LVII/2, n.196, p.587-609, 1997.
    [
  • 27
    ] DARIO, Rubén. El triunfo de Calibán. Disponível em: <
    www.ensaystas.org/antologia/XIXA/dario/> Acesso em: 20 set. 2008. Na América Espanhola a intervenção norte-americana desencadeou uma onda de solidariedade à Espanha e de repúdio aos Estados Unidos. O texto de Rubén Dario foi escrito a propósito de um evento em desagravo da Espanha realizado no teatro Vitoria de Buenos Aires. Foi publicado originalmente no diário
    El Tiempo, de Buenos Aires, em 20/05/1898.
    [
  • 28
    ] Libelos imbuídos do mesmo espírito também foram publicados por autores menos lembrados, a exemplo do uruguaio Victor Arreguine, que escreveu
    En qué consiste la superioridad de los pueblos latinos sobre los anglosajones., Buenos Aires: La Enseñanza Argentina, 1900.
    [
  • 29
    ] AILLON SORIA. La política cultural de Francia, p.89.
    [
  • 30
    ] Bulletin Hispanique (1899),
    Bulletin de Bibliothèque Americaine (1910) e
    Revue de l'Amerique Latine (1921).
    [
  • 31
    ] SEPULVEDA, Isidro.
    El sueño dela Madre Pátria, p. 350-351.
    [
  • 32
    ] Ao visar um público de mais elevada formação cultural, alcançou a tiragem média de 85.000 exemplares diários nos anos 1920; DESVOIS, Juan Michel.
    La prensa en España (1900-1931). Madrid: Siglo XXI, 1977, p. 144.
    [
  • 33
    ] Luis Araquistáin Quevedo (1886-1959) integrou as fileiras do Partido Socialista Operário Espanhol desde a juventude, teve ativa participação nos governos da Segunda República e representou a Espanha como embaixador na França durante a Guerra Civil Espanhola.
    [
  • 34
    ] Titulo da seção do jornal dedicada a matérias enviadas do país vizinho.
    [
  • 35
    ] ARAQUISTAIN, Luis. Nacionalismo y latinismo.
    El Sol, 1923.
    [
  • 36
    ] Como símbolo da Ibéria unida, o grupo idealizou uma bandeira de quatro listas: branca, azul, vermelha e amarela; ALVAREZ JUNCO, José.
    Mater Dolorosa, p.524-531.
    [
  • 37
    ] ARAQUISTAIN, Luis. Lazos de cultura.
    El Sol, 1923.
    [
  • 38
    ] ARAQUISTAIN, Luis. ¿Es posible un panhispanismo?
    El sol, 1923.
    [
  • 39
    ] Com ironia, comparava o integralismo lusitano aos ovos de uma galinha gaulesa transplantados e incubados em solo português, dando origem a uma doutrina adaptada ao novo "meio vital"; cf. ARAQUISTAIN, Luis. El integralismo lusitano.
    El Sol, 1923.
    [
  • 40
    ] Apud ARAQUISTAIN, Luis. Un matiz del iberismo.
    El Sol, 1923.
    [
  • 41
    ] Editorial. El Congreso de la Prensa Latina: un equívoco peligroso.
    El Sol, 1924.
    [
  • 42
    ] Nos artigos, os dois autores questionavam a utilização do titulo "América Latina" pelo próprio diário
    El Sol para nomear uma nova seção informativa; MENÉNDEZ PIDAL, Ramón. Nuestro título 'América Latina' discutido por el Sr. Menéndez Pidal.
    El Sol, 1918; CAVIA, Mariano de. Ibero-América: outro voto de calidad.
    El Sol, 1918.
    [
  • 43
    ] MENÉNDEZ PIDAL, Ramón. Nuestro título 'América Latina' discutido por el Sr. Menéndez Pidal.
    [
  • 44
    ] GOMEZ DE BAQUERO, Eduardo. Americanismos.
    El Sol, 1924.
    [
  • 45
    ] GOMEZ DE BAQUERO, Eduardo. Revistas Americanas.
    El Sol, 1926. Na matéria, saudava a revista
    Repertório Americano, publicada na Costa Rica, pela sua qualidade editorial e contribuição à difusão do sentimento panhispanista.
    [
  • 46
    ] GOMEZ DE BAQUERO, Eduardo. Americanismos.
    [
  • 47
    ] ALTAMIRA, Rafael.
    España y el programa americanista. Madrid: Editorial América, 1917.
    [
  • 48
    ] PEREIRA, Juan C. Primo de Rivera y la diplomacia española en Hispanoamérica: el instrumento de un objetivo.
    Quinto Centenário – 10. Madrid: Editorial Universidad Complutense, 1986, p.131-155.
    [
  • 49
    ] PEREIRA, Juan C; CERVANTES, Ángel.
    Las relaciones diplomáticas entre España y América. Madrid: Mapfre, 1992, p. 217. A campanha em favor dessa demanda contou com um forte apoio da opinião pública, incluindo o diário
    El Sol e a sociedade
    Unión Ibero-Americana.
    [
  • 50
    ] Os correspondentes eram Luis Olariaga, Avelino Gutierrez, Dionísio Perez.
    [
  • 51
    ] GUTIERREZ, Avelino. Lo que hacen otras naciones por influir en la Argentina.
    El Sol, 1925.
    [
  • 52
    ] PEREZ, Dionísio. El monólogo de nuestro hispanoamericanismo.
    El Sol, 1925.
    [
  • 53
    ] LUGONES, Leopoldo. Um congreso libre de trabajadores intelectuales.
    El Sol, 1925; ARAQUISTAIN, Luis. Lo explicable y lo inexplicable del Sr. Lugones.
    El Sol, 1925.
    [
  • 54
    ] ARAQUISTAIN, Luis. Organización de la cultura hispánica.
    El Sol, 1925.
    [
  • 55
    ] O lunfardo designa a gíria de uso popular gestada nas comunidades de imigrantes em Buenos Aires e que se difundiu na região do Prata no final do século XIX.
    [
  • 56
    ] PEREZ, Dionísio. El lunfardismo en Suramerica.
    El Sol, 1925.
    [
  • 57
    ] TORRE, Guillermo de. Madrid, meridiano intelectual de Hispanoamérica.
    La Gazeta Literária, 1927.
    [
  • 58
    ] TORRE, Guillermo de. Madrid, meridiano intelectual de Hispanoamérica.
    [
  • 59
    ] TORRE, Guillermo de. Madrid, meridiano intelectual de Hispanoamérica.
    [
  • 60
    ] Outros intelectuais que reagiram ao editorial foram José Carlos Mariátegui, José Vasconcelos, Alberto Zum Felde, José Santos Chocano, Leopoldo Lugones, Manuel Ugarte e Victor R. Haya de la Torre, e inclusive o espanhol Luis Araquistain.
    [
  • 61
    ] BORGES, Jorge Luis. Sobre el meridiano de una Gaceta; apud MARCILHACY, David.
    Une histoire culturelle de l' hispano-americanisme, p. 182.
    [
  • 62
    ] ZUM FELDE, Alberto. O meridiano intelectual da América. In: SCHWARTZ, Jorge (org.).
    Vanguardas latino-americanas: polêmicas, manifestos e textos críticos. São Paulo: Edusp, 1995, p.524-525.
    [
  • 63
    ] MARIATEGUI, José C. A batalha de Martin Fierro. In SCHWARTZ, Jorge (porg.).
    Vanguardas Latino-Americanas, p.526-527.
    [
  • 64
    ] GIMENEZ CABALLERO, Ernesto. Un debate apasionado.
    La Gaceta Literária. 1927. Disponível em: <
    www.filosofia.org/hem/dep/gac/gt01703a.htm>. Acesso em: 01 jun. 2010. Vanguardista, Gimenez Caballero foi pioneiro do cartazismo político na Espanha, o que explica o uso desse tipo de linguagem.
    [
  • 65
    ] TORRE, Guillermo de.
    La Gaceta Literária, 1927. Disponível em: <
    www.filosofia.org/hem/dep/gac/gt01703a.htm>. Acesso em: 01 jun. 2010.
    [
  • 66
    ] GIMENEZ CABALLERO, Eernesto. Un debate apasionado.
    [
  • 67
    ] Diante da repercussão do tema, o diário argentino
    La Nación interveio em prol da reconciliação das posições mediante a publicação de três artigos de Luis Araquistain. Julgando equivocados conceitos de ibero-americanismo e latino-americanismo, propunha um novo hispano-americanismo livre das expressões viciadas do discurso oficial. Deveria ser centrado na intensificação das relações culturais, acadêmicas, jornalísticas, profissionais e sindicais. Os artigos foram publicados em 6, 13 e 20/11/1927. Ver: SANCHEZ-CASCADO BLANCO, Maria José. Escritores españoles en
    La Nación de Buenos Aires (1923-1930).
    Actas del XXIX Congreso del Instituto Internacional de Literatura Iberoamerican. t. II, v.2, Barcelona: PPU, 1994, p.1077-1083.
    [
  • 68
    ] MANZONI, Celina. La polémica del meridiano intelectual.
    Actas del XXIX Congreso del Instituto Internacional de Literatura Iberoamericana, p.823-832.
    [
  • 69
    ] MARCILHACY, David. Une histoire culturelle de l' hispano-americanisme, p. 182.
    [
  • 70
    ] MAEZTU, Ramiro de.
    Defensa de la hispanidad. Buenos Aires: Huemul, 1986. Importante escritor espanhol, foi embaixador em Buenos Aires, onde teve contato com círculos ultraconservadores que lhe ofereceram a inspiração para elaborar a noção de
    hispanidad, evidenciando o papel da circulação e apropriação ideológica.
    [
  • 71
    ] Cf TABANERA, Nuria. La Junta de Relaciones Culturales del Ministério de Estado, 1931-1936: una imagen de América Latina en un organismo oficial bajo la república. In: HUGUET, Montserrat; NIÑO, Antonio; PÉREZ, Pedro (eds.)
    La formación de la imagen de América Latina en España, 1898-1989. Madrid: OEI, 1989, p. 43-64.
    [
  • 72
    ] NIÑO, Antonio. La opinión francesa y el hispanoamericanismo: una visión exterior de las relaciones de España con América Latina. In: HUGUET, Montserrat; NIÑO, Antonio; PÉREZ, Pedro (eds.)
    La formación de la imagen de América Latina en España, p. 23-43
    [
  • 73
    ] NIÑO, Antonio. La opinión francesa y el hispanoamericanismo, p. 23-43.
    [
  • 74
    ] As relações com a América foram promovidas sob o franquismo pelo
    Consejo de la Hispanidad e depois pelo
    Instituto de Cultura Hispánica. Gradativamente a Espanha foi admitida em organismos tais como UNESCO, FAO e OMS, até ser admitida como membro pleno da ONU, em 1955; DELGADO GÓMEZ-ESCALONILLA, Lorenzo.
    Diplomacia franquista y politica cultural hacia Iberoamerica (1939-1953). Madrid: CSIC, 1988; Imperio de papel.
    Acción cultural y política exterior durante el primer franquismo. Madri: CSIC, 1992.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Dez 2014
    • Data do Fascículo
      Dez 2014

    Histórico

    • Recebido
      24 Fev 2014
    Pós-Graduação em História, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais Av. Antônio Carlos, 6627 , Pampulha, Cidade Universitária, Caixa Postal 253 - CEP 31270-901, Tel./Fax: (55 31) 3409-5045, Belo Horizonte - MG, Brasil - Belo Horizonte - MG - Brazil
    E-mail: variahis@gmail.com