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Interface entre a violência conjugal e o consumo de álcool pelo companheiro

RESUMO

Objetivo:

analisar o discurso de mulheres sobre a interface entre violência conjugal e uso de álcool pelo companheiro.

Método:

pesquisa exploratória, qualitativa, fundamentada no referencial metodológico da história oral. Foram entrevistadas 19 mulheres com história de violência conjugal e envolvimento com drogas. Os dados foram analisados através do discurso do sujeito coletivo.

Resultados:

o discurso das participantes aponta o consumo do álcool pelo companheiro como elemento potencializador dos episódios violentos, evento também experienciado pelos pais, sinalizando para seu caráter transgeracional; alerta ainda para a violência conjugal decorrente da reação do homem ao ser questionado pela companheira quanto ao consumo do álcool.

Considerações finais:

o estudo identifica o álcool como fator precipitador e/ou potencializador da violência conjugal, bem como o caráter intergeracional da violência alicerçada na concepção de dominação e intolerância masculina.

Descritores:
Violência Contra a Mulher; Violência por Parceiro Íntimo; Usuários de Drogas; Enfermagem; Promoção da Saúde

ABSTRACT

Objective:

to analyze the discourse of women on the interface between marital violence and alcohol use by the partner.

Method:

qualitative exploratory research, based on the methodological reference of oral history. We interviewed 19 women with a history of marital violence and involvement with drugs. The data were analyzed through discourse of the collective subject.

Results:

the participants’ discourse points to consumption of alcohol by partners as a potentiating element of violent episodes, also experienced by their parents, signaling to its transgenerational character; it also calls attention to the danger of marital violence resulting from men’s reactions to having their alcohol consumption questioned by their partners.

Final considerations:

the study identifies alcohol as a precipitating and/or potentiating factor of conjugal violence, as well as the intergenerational character of violence based on male domination and intolerance.

Descriptors:
Violence Against Women; Intimate Partner Violence; Drug Users; Nursing; Health Promotion

RESUMEN

Objetivo:

analizar el discurso de las mujeres sobre la interfaz entre la violencia conyugal y el uso de alcohol por el compañero.

Método:

investigación exploratoria, cualitativa, basada en el referencial metodológico de la historia oral. Se entrevistaron a 19 mujeres con antecedentes de violencia conyugal e implicación con drogas. Los datos fueron analizados a través del discurso del sujeto colectivo.

Resultados:

el discurso de las participantes apunta el consumo del alcohol por el compañero como elemento impulsor de los episodios violentos, evento también experimentado por los padres, señalando para su carácter transgeneracional; advierte también a la violencia conyugal derivada de la reacción del hombre al ser cuestionado por la compañera en cuanto al consumo del alcohol.

Consideraciones finales:

el estudio identifica el alcohol como factor precipitador y/o impulsor de la violencia conyugal, así como el carácter intergeneracional de la violencia basada en la concepción de dominación e intolerancia masculina.

Descriptores:
Violencia Contra la Mujer; Violencia de Pareja; Consumidores de Drogas; Enfermería; Promoción de la Salud

INTRODUÇÃO

A violência contra a mulher representa um importante desafio no âmbito da segurança e da saúde pública, acarretando o adoecimento das mulheres e com repercussões para a produtividade econômica. Seu enfrentamento requer preparo profisional para a identificação precoce deste agravo, sobretudo em sua interface com o álcool e outras drogas.

Diversos estudos sinalizam os danos na saúde física e psicológica das mulheres, gerando custos para o setor saúde(11 Acosta DF, Gomes VLO, Fonseca AD, Gomes GC. Violência contra a mulher por parceiro íntimo:(in) visibilidade do problema. Texto Contexto Enferm[Internet]. 2015[cited 2017 May 27];24(1):121-7. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v24n1/pt_0104-0707-tce-24-01-00121.pdf
http://www.scielo.br/pdf/tce/v24n1/pt_01...

2 Dourado SM, Noronha CV. Visible and invisible marks: facial injuries suffered by women as the result of acts of domestic violence. Ciênc Saúde Colet[Internet]. 2015[cited 2017 Jun 22];20(9):2911-20. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v20n9/en_1413-8123-csc-20-09-2911.pdf
http://www.scielo.br/pdf/csc/v20n9/en_14...

3 Begum S, Donta B, Nair S, Prakasam CP. Socio-demographic factors associated with domestic violence in urban slums, Mumbai, Maharashtra, India. Indian J Med Res[Internet]. 2015[cited 2017 Jan 23];141(6):783-8. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4525403/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...

4 Thureau S, Le Blanc-Louvry I, Thureau S, Gricourt C, Proust B. Conjugal violence: a comparison of violence against men by women and women by men. J Forensic Leg Med[Internet]. 2015[cited 2017 Jun 21];31:42-6. Available from: http://www.jflmjournal.org/article/S1752-928X(14)00230-3/fulltext
http://www.jflmjournal.org/article/S1752...
-55 Islam MJ, Broidy L, Baird K, Mazerolle P. Intimate partner violence around the time of pregnancy and postpartum depression: the experience of women of Bangladesh. PLoS One[Internet]. 2017[cited 2017 Jun 29];12(5). Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5417480/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
). Essa realidade tem atingido as famílias e a sociedade devido aos elevados números no que tange à morbimortalidade. O Mapa da Violência, no ano de 2014, identificou a ocorrência de 2,4 vezes mais homicídios femininos no Brasil do que a média internacional, fazendo o país assumir a quinta posição mundial em índice de morte de mulheres por agressões. Quanto à morbidade, no mesmo ano, 147.691 mulheres precisaram de atenção médica em decorrência de violências, evento que onera os cofres públicos(66 Waiselfisz JJ. Mapa da Violência 2016: homicídios por armas de fogo no Brasil. Flacso Brasil[Internet]. 2015[cited 2017 May 30]. 71p. Available from: http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2016/Mapa2016_armas_web.pdf
http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf201...
).

Considerando a magnitude e as implicações da violência contra a mulher, alguns mecanismos foram construídos com o objetivo de prevenir e enfrentar o fenômeno. Pode-se mencionar a Lei nº 11.340(77 Brasil. Lei n.º 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, de 8 de agosto de 2006. p.1.), que criou dispositivos para coibir a violência doméstica e familiar, trazendo as tipificações das expressões da violência em cinco formas: física, que corresponde a qualquer conduta que afete a integridade corporal; sexual, caracterizada por imposições que anulem o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; patrimonial, identificada como subtração ou destruição de objetos ou recursos econômicos como estratégia de dominação; moral, associada a calúnias, difamações e injúrias e, por fim, psicológica, relacionada a ações que visam degradar ou controlar as ações da mulher.

Independente da forma de expressão, a vivência de violência desencadeia adoecimento físico e mental decorrente de lesões diretas dos atos violentos, apresentadas através de hematomas, lacerações, contusões e fraturas ocasionadas pela agressão física ou, até mesmo, através da somatização, caracterizada como sinais e sintomas mentais e físicos de origem emocional, a exemplo da insônia, baixa autoestima, transtorno do pânico, úlceras gástricas e hipertensão(11 Acosta DF, Gomes VLO, Fonseca AD, Gomes GC. Violência contra a mulher por parceiro íntimo:(in) visibilidade do problema. Texto Contexto Enferm[Internet]. 2015[cited 2017 May 27];24(1):121-7. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v24n1/pt_0104-0707-tce-24-01-00121.pdf
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). Os danos à integridade física das vítimas são ratificados em estudo na França, que acrescentam os cortes e entorses e alerta ainda que estas lesões podem, inclusive, levar à morte(44 Thureau S, Le Blanc-Louvry I, Thureau S, Gricourt C, Proust B. Conjugal violence: a comparison of violence against men by women and women by men. J Forensic Leg Med[Internet]. 2015[cited 2017 Jun 21];31:42-6. Available from: http://www.jflmjournal.org/article/S1752-928X(14)00230-3/fulltext
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).

Embora todos estes danos para a saúde estejam tipificados, os profissionais têm dificuldade de reconhecer e abordar a situação. Isso acontece por conta de deficiência na formação e pela construção social de gênero que dificulta que as mulheres revelem a situação de violência nos serviços de saúde(88 Cruz NM, Tavares VS, Gomes NP, Silva Filho CC, Magalhães JRF, Estrela FM. Meanings of the reports of violence against women: a descriptive study. O Braz J Nurs[Internet]. 2015[cited 2017 May 26];14(2):144-50. Available from: http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/4717
http://www.objnursing.uff.br/index.php/n...
). Pesquisa desenvolvida em Israel também desvela que os profissionais de saúde, com enfoque na atenção básica, não reconhecem os casos de violência conjugal assistidos. Consequentemente, os agravos deixam de ser notificados, e as repercussões físicas e psicológicas não são percebidas, sendo estas, para os profissionais, elementos invisíveis no atendimento(99 Daoud N, Sergienko R, Shoham-Vardi I. Intimate partner violence prevalence, recurrence, types, and risk factors among Arab, and Jewish immigrant and nonimmigrant women of childbearing age in Israel. J Interpers Violence[Internet]. 2017[cited 2017 Jun 21]. Available from: http://journals.sagepub.com/doi/10.1177/0886260517705665
http://journals.sagepub.com/doi/10.1177/...
). Na Turquia, pesquisa com estudantes de enfermagem aborda o não reconhecimento dos casos de violência e sugere a integração de cursos sobre a temática no currículo de enfermagem para auxiliar a detecção de sinais de violência contra as mulheres(1010 Tambag H, Turan Z. Ability of nursing students to recognize signs of violence against women. Int J Nurs Knowl[Internet]. 2015[cited 2017 Apr 23];26(3):107-12. Available from: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/2047-3095.12050/full
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).

A dificuldade de abordar a violência conjugal na rede de atenção é reflexo também da multiplicidade e complexidade dos elementos que se associam ao fenômeno, a exemplo da baixa escolaridade e do envolvimento com álcool e outras drogas. Este último é apontado pela literatura como importante componente da violência conjugal, entretanto não se aponta em quais aspectos o envolvimento com as drogas se relaciona com a ocorrência do agravo(1111 Vieira LB, Cortes LF, Padoin SMM, Souza IEO, Paula CC, Terra MG. Abuso de álcool e drogas e violência contra as mulheres: denuncia de vividos. Rev Bras Enferm[Internet]. 2014[cited 2017 Apr 27];67(3):366-72. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n3/0034-7167-reben-67-03-0366.pdf
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12 Razera J, Cenci CMB, Falcke D. Violência doméstica e transgeracionalidade: um estudo de caso. Rev Psicol IMED[Internet]. 2014[cited 2017 May 9];6(1):47-51. Available from: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/5154960.pdf
https://dialnet.unirioja.es/descarga/art...
-1313 Silva ACLG, Coelho EBS, Njaine K. Violência conjugal: as controvérsias no relato dos parceiros íntimos em inquéritos policiais. Ciênc Saúde Colet[Internet]. 2014[cited 2017 Apr 3];19(4):1255-62. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v19n4/1413-8123-csc-19-04-01255.pdf
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). Autores estado-unidenses e indianos enfatizam que não há uma clara compreensão da relação entre o álcool e o aumento do risco da violência, o que sinaliza a importância de estudos futuros que testem essa associação(1414 Eckhardt CI, Parrott DJ, Sprunger JG. Mechanims of alcohol-facilitated intimate partner violence. Violence Against Women[Internet]. 2015[cited 2017 Jun 22];21(8):939-57. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4795825/
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-1515 Ramadugu S, Jayaram PV, Srivastava K, Chatterjee K, Madhusudan T. Understanding intimate partner violence and its correlates. Ind Psychiatry J[Internet]. 2015[cited 2017 Jun 21];24(2):172-8. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4866346/
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). Diante de tal lacuna, delineamos a seguinte questão de pesquisa: qual o discurso de mulheres acerca da interface entre a violência conjugal e o consumo de álcool pelo companheiro?

OBJETIVO

Analisar o discurso de mulheres sobre a interface entre a violência conjugal e o consumo do álcool pelo companheiro.

MÉTODO

Aspectos éticos

O estudo consiste no recorte da tese Vivências, vulnerabilidades e enfrentamentos da violência conjugal: discurso de mulheres envolvidas com drogas, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado da Bahia, e atende aos dispositivos éticos e legais constantes na Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde(1616 Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução n. 466, de 12 de dezembro de 2012. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União 13 junho de 2012; Seção 1.). A coleta de dados foi iniciada somente após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelas mulheres, que optaram por realizar a entrevista em suas próprias residências ou a de pessoas próximas. Nestas residências, escolheu-se um espaço que garantisse a privacidade durante a coleta de dados.

Tipo de estudo e referencial metodológico

Trata-se de pesquisa com abordagem qualitativa, fundamentada na entrevista semiestruturada, técnica que permite a exploração de temas sensíveis com riqueza de informações e detalhamento de percepções e vivências, o que amplia o conhecimento dos objetos sociais investigados(1717 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec; 2014).

Cenário do estudo

A pesquisa foi realizada na área de abrangência de duas unidades de saúde da família (USF) localizadas na zona urbana de um município do interior da Bahia (Brasil). Segundo dados do Ipea(1818 IPEA. Atlas de violência 2016. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; 2016.) (2016), o município é considerado um dos mais violentos do país, situação evidenciada pelo aumento de 1.136,9% na taxa de homicídios, reflexo da deterioração das condições de segurança e da elevada vulnerabilidade social.

Fonte de dados

O estudo foi realizado com 19 mulheres residentes no referido município. Como critérios de inclusão considerou-se residir na área de abrangência de uma das duas USF, ter história de violência conjugal, envolvimento com drogas e idade igual ou superior a 18 anos. Considerou-se como critérios de exclusão indícios de instabilidade emocional, expressa pela maior tendência para transtornos do pânico, estados de negatividade e depressão e uso ou em síndrome de abstinência de drogas. A avaliação da instabilidade emocional foi realizada pela pesquisadora e, em alguns casos, com o apoio da psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas e do Núcleo de Apoio à Saúde da Família do município. A limitação no número de colaboradoras deu-se em decorrência da dificuldade de identificação de mulheres que vivenciam os fenômenos da violência conjugal e envolvimento com drogas.

A aproximação com a comunidade se deu com o apoio dos agentes comunitários de saúde, que viabilizaram as visitas na área de abrangência das unidades. Considerou-se a necessidade de várias visitas domiciliares para promoção de uma vinculação entre pesquisadora e entrevistada, visando permitir a esta última uma confiabilidade para o compartilhamento das vivências.

Coleta e organização dos dados

A coleta de dados foi realizada entre os meses de outubro de 2016 e fevereiro de 2017. O resgate da memória de mulheres envolvidas com álcool e em situação de violência conjugal ocorreu mediante entrevista em profundidade. As entrevistas individuais foram gravadas e a utilização das narrativas ocorreu após transcrição, textualização e transcriação. A transcrição consiste na conversão fiel do conteúdo gravado para a escrita. Na textualização, após fusão das respostas, a narrativa em primeira pessoa é organizada a partir dos elementos cronológicos, etapa que facilita a compreensão. A última fase correspondeu à transcriação, com elaboração de um texto em plenitude, enriquecido com os elementos extratexto registrados no diário de campo.

Análise dos dados

A análise dos dados aconteceu através da comparação entre o conteúdo das entrevistas, observando-se a alternância de opiniões, pontos de vistas ou fatos relatados. A análise foi guiada pelo discurso do sujeito coletivo, método que agrupa expressões individuais de sentidos semelhantes, estabelecendo categorias semânticas gerais(1919 Lefevre F, Lefevre AMC. Discurso do sujeito coletivo: representações sociais e intervenções comunicativas. Texto Contexto Enferm[Internet]. 2014[cited 2017 Apr 27];23(2):502-7. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v23n2/pt_0104-0707-tce-23-02-00502.pdf
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). Assim, o conteúdo das entrevistas foi convertido em um depoimento-síntese, redigido na primeira pessoa do singular, como se tratasse da fala de uma coletividade. Os resultados foram embasados na produção do saber sobre violência conjugal e drogas e na categoria de análise de gênero.

RESULTADOS

As 19 colaboradoras, mulheres em situação de violência conjugal e envolvidas com drogas, tinham idade entre 20 e 69 anos. Eram, em sua maioria, negras, católicas, casadas ou em união estável e tinham de um a três filhos, pouca escolaridade e renda mensal inferior a um salário mínimo. Em relação ao envolvimento com drogas, a maioria declarou abuso frequente de bebidas alcóolicas e cigarro, além do uso de benzodiazepínicos. As mulheres afirmaram ainda abuso frequente de bebidas alcóolicas e cigarro por parte de seus companheiros.

A interface entre o consumo de álcool pelo companheiro e a violência conjugal foi desvelada nos discursos coletivos, organizados nas seguintes categorias: “O álcool potencializa o comportamento violento do parceiro”, “O parceiro reage de forma violenta ao questionamento sobre o consumo de álcool” e “A violência intrafamiliar permeada pelo uso de álcool pelo parceiro tem caráter transgeracional”.

Ideia-síntese 1: o álcool potencializa o comportamento violento do parceiro

No discurso, as mulheres sinalizam o efeito do álcool nos hábitos cotidianos de seus companheiros, inclusive potencializando os episódios violentos, expressos de diversas formas.

O problema da bebida é que ela o deixa mais violento. Ele já bebia antes de me conhecer, mas no início do casamento sempre chegava em casa quieto. Só que o tempo foi passando e ele bebendo cada dia mais. Passou a sair de casa para beber no sábado e só voltar na segunda-feira. Hoje, ele bebe a semana inteira! Ele já é uma pessoa ignorante, não sabe conversar, gosta de brigar, mas com a bebida é que ele fica pior, constantemente irritado, nervoso, mas, a cada dia, ele bebe ainda mais. Ele sempre foi muito bom para o lado de dinheiro [...] bom homem, bom pai, bom marido e bom dono de casa. Mas sempre que ele bebe, gasta todo o dinheiro, fica na rua durante dias, fica raparigueiro, mais ignorante, e quando chega em casa fica mais bruto com todo mundo, perturba, fala palavrão, me chama de vagabunda, quebra as coisas dentro de casa, esmurra e chuta quadro, porta, janela, joga os alimentos fora, não aceita minha vontade de não querer relação, puxa facão e ameaça detonar arma na minha cabeça. (E2, E3, E4, E5, E7, E8, E9, E18, E19)

Ideia-síntese 2: o parceiro reage de forma violenta ao questionamento sobre o consumo de álcool

Os discursos revelam ainda que, ao serem questionados sobre o consumo de álcool, os cônjuges reagem de forma violenta, o que demonstra a interface entre violência conjugal e o questionamento das mulheres quanto ao uso da droga.

A briga começa porque eu não quero que ele beba. Quando o conheci, ele já bebia um pouco, mas passou a beber bastante com o tempo. Agora ele bebe todo dia, já começa de segunda-feira, e cada dia bebe mais. Detesto tanto vê-lo beber que, quando ele volta para casa, fico estressada, questiono, reclamo, ameaço, digo que não vou ficar com ele e com a bebida [...] e assim começam as discussões. Ele acha ruim e começa a quebrar as coisas da casa. Com a mesma fúria, parte para cima de mim, me agride puxando cabelo, dando chute e tentando me enforcar. Para terminar, ele sempre diz que por causa da minha ousadia em contrariá-lo uma hora dessas vai cortar meu pescoço. (E1, E2, E3, E5, E6, E7, E8, E9, E13, E16, E15, E18, E19)

Ideia-síntese 3: a violência intrafamiliar permeada pelo uso de álcool pelo parceiro tem caráter transgeracional

Em seu discurso, as mulheres revelam a reprodução de uma família nos mesmos moldes de seus pais: o companheiro, que usa álcool e agride esposa e filhos; e a mulher, que naturaliza tal condição. Essa transgeracionalidade do abuso intrafamiliar predispõe a vivência de violência conjugal pela mulher.

Meu pai bebia bastante e, quando chegava em casa, brigava, xingava, quebrava tudo dentro de casa, dizia que não gostava da gente e nos batia. Quando ele bebia, agredia todo mundo, ficava com muito ciúmes e batia muito mais em minha mãe. Ela só não apanhava mais porque entrava um e outro no meio. Meu irmão aprendeu com meu pai, entrou na droga cedo, hoje é alcoólatra e não consegue ficar com nenhuma mulher porque é muito agressivo. Bateu em todas. O que aconteceu com minha mãe, hoje, acontece o mesmo comigo. Quando meu marido bebe, eu já sei que ele novamente vai quebrar tudo dentro de casa, começar a maltratar os meninos [filhos], discutir, xingar, me esculhambar alto para os vizinhos escutarem, desconfiar de mim, me agredir, enforcar e empurrar. Eu estou me vendo na mesma vida de minha mãe e também não consigo sair disso. Eu até já sei que minha vida é isso mesmo! [...] não vai mudar! (E1, E3, E4, E9, E10, E11, E12, E13, E16)

DISCUSSÃO

O discurso de mulheres em situação de violência conjugal e envolvimento com drogas revela a relação entre o consumo de bebida alcoólica pelo companheiro e o desencadeamento da violência conjugal. Nesta perspectiva, homens percebidos socialmente como não agressivos passam a se comportar de tal maneira, e aqueles com condutas já violentas as manifestam de forma potencializada. Isso é corroborado em estudos nacionais e internacionais que demonstram que o uso do álcool pelo parceiro do sexo masculino desempenha papel importante no contexto de violência, uma vez que o comportamento de beber surge não só como motivo direto da desavença entre os casais, mas também como fator potencializador da violência(33 Begum S, Donta B, Nair S, Prakasam CP. Socio-demographic factors associated with domestic violence in urban slums, Mumbai, Maharashtra, India. Indian J Med Res[Internet]. 2015[cited 2017 Jan 23];141(6):783-8. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4525403/
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,1414 Eckhardt CI, Parrott DJ, Sprunger JG. Mechanims of alcohol-facilitated intimate partner violence. Violence Against Women[Internet]. 2015[cited 2017 Jun 22];21(8):939-57. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4795825/
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,2020 Leite FMC, Amorim MHC, Wehrmeister FC, Gigante DP. Violence against women, Espírito Santo, Brazil. Rev Saúde Pública[Internet]. 2017[cited 2017 Jun 05];51:33. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v51/0034-8910-rsp-S1518-87872017051006815.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rsp/v51/0034-89...
-2121 Vasconcelos MS, Holanda VR, Alburqueque TT. Profile of the aggressor and factors associated with violence against women. Cogitare Enferm[Internet]. 2016[cited 2017 May 20];21(1):1-10. Available from: http://docs.bvsalud.org/biblioref/2016/07/698/41960-171298-1-pb.pdf
http://docs.bvsalud.org/biblioref/2016/0...
).

Apesar deste estudo não estabelecer relação de causa e efeito entre o uso de substâncias psicoativas e a ocorrência de atos violentos, esta condição de potencializador da violência pode ser compreendida através das implicações da substância no organismo. A estimulação de neurotransmissores desencadeada pela droga inibe diversas áreas neurais e, consequentemente, gera alterações estruturais e comportamentais no indivíduo(2222 Haes TM, Clé DV, Nunes TF, Roriz-Filho JS, Moriguti JC. Álcool e sistema nervoso central. Med [Internet]. 2010[cited 2017 Apr 13];43(2):153-63. Available from: http://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/173/174
http://www.revistas.usp.br/rmrp/article/...
). Essas desordens neurológicas alteram o controle integrador das funções do organismo e afetam os processos neurais que determinam o comportamento, gerando incapacidade de tomada de decisões racionais, inconstância de humor, euforia e intolerância ante determinadas situações(2323 Santos MD, Araújo MF, Silva ES, Pinto MB, Santos NCCB, Menezes CCPS. Teenagers and youth perception about alcohol pathophysiology and influence this on consumption. Rev Enferm UFPE[Internet]. 2016[cited 2017 May 27];10(9):3241-50. Available from: http://www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article/view/9416/pdf_10953
http://www.revista.ufpe.br/revistaenferm...
).

Com a perda do senso crítico e do controle das ações, a incapacidade de tomada de decisões racionais e a intolerância diante de determinadas situações são as principais responsáveis pela inibição da “autocensura”. Esta inibição priva a pessoa da habilidade de discernir condutas moralmente aceitas, contribuindo para a adoção de comportamentos violentos(2424 Lopes APAT, Ganassin GS, Marcon SS, Decesaro MN. Abuso de bebida alcoólica e sua relação no contexto familiar. Estud Psicol[Internet]. 2015[cited 2017 Jun 22];20(1):22-30. Available from: http://www.scielo.br/pdf/epsic/v20n1/1413-294X-epsic-20-01-0022.pdf
http://www.scielo.br/pdf/epsic/v20n1/141...
). Este efeito do álcool no comportamento do indivíduo justifica a relação entre a agressão vivida por mulheres e o abuso de bebida alcoólica e outras drogas pelo companheiro, bem como o fato de os homens demonstrarem comportamentos mais pacíficos quando sem o efeito da substância psicoativa(1111 Vieira LB, Cortes LF, Padoin SMM, Souza IEO, Paula CC, Terra MG. Abuso de álcool e drogas e violência contra as mulheres: denuncia de vividos. Rev Bras Enferm[Internet]. 2014[cited 2017 Apr 27];67(3):366-72. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n3/0034-7167-reben-67-03-0366.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n3/003...
). Corroborando tal ideia, estudo realizado na Índia com 272 casais e na África do Sul com 1.388 mulheres revelou que o uso de álcool pelos companheiros representou fator de risco aumentado para agressões(1515 Ramadugu S, Jayaram PV, Srivastava K, Chatterjee K, Madhusudan T. Understanding intimate partner violence and its correlates. Ind Psychiatry J[Internet]. 2015[cited 2017 Jun 21];24(2):172-8. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4866346/
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https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
). Realidade semelhante foi confirmada em estudo realizado com 422 mulheres grávidas da Etiópia, que investigou a prevalência de violência conjugal durante a gravidez e os fatores associados(2626 Gebrezgi BH, Badi MB, Cherkose EA, Weldehaweria NB. Factors associated with intimate partner physical violence among women attending antenatal care in Shire Endaselassie Town, Tigray, Northern Ethiopia: a cross-sectional study, July 2015. Reprod Health[Internet]. 2017[cited 2017 Jun 23];14(1):76. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5483282/pdf/12978_2017_Article_337.pdf
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
).

Ao revelar o abuso a que as mulheres se encontram expostas quando inseridas em um contexto de violência conjugal permeada pelo uso do álcool pelo companheiro, os discursos possibilitam identificar todas as formas de expressões tipificadas pela Lei Maria da Penha, as quais também vêm sendo apontadas em outras pesquisas desenvolvidas nacional e internacionalmente(2121 Vasconcelos MS, Holanda VR, Alburqueque TT. Profile of the aggressor and factors associated with violence against women. Cogitare Enferm[Internet]. 2016[cited 2017 May 20];21(1):1-10. Available from: http://docs.bvsalud.org/biblioref/2016/07/698/41960-171298-1-pb.pdf
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,2727 Peasant C, Sullivan TP, Weiss NH, Martinez I, Meyer JP. Beyond the syndemic: condom negotiation and use among women experiencing partner violence. AIDS Care[Internet]. 2017[cited 2017 Jul 30];29(4):516-23. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5291821/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
). Acerca da violência física, por exemplo, cujo discurso apontou para a vivência de puxões de cabelo, chutes e enforcamentos, estudo realizado com mulheres pernambucanas também revelou a relação entre o consumo do álcool com o comportamento agressivo do parceiro, acrescentando ainda murro e facada, situações que desencadearam lacerações e fraturas ósseas(2121 Vasconcelos MS, Holanda VR, Alburqueque TT. Profile of the aggressor and factors associated with violence against women. Cogitare Enferm[Internet]. 2016[cited 2017 May 20];21(1):1-10. Available from: http://docs.bvsalud.org/biblioref/2016/07/698/41960-171298-1-pb.pdf
http://docs.bvsalud.org/biblioref/2016/0...
).

Quanto à expressão da violência na forma patrimonial, destaca-se que o discurso considera que esta ocorre quando o companheiro, sob o efeito de álcool, quebra os itens da casa e priva a família de alimentar-se ao jogar a comida no lixo. Em estudo desenvolvido em Minas Gerais, com 27 mulheres, o consumo do álcool pelo companheiro foi revelado no cotidiano de violência conjugal, se relacionando à retenção e subtração de recursos econômicos, principalmente os utilizados para o sustento da família(2828 Pereira RCBR, Loreto MDS, Teixeira KMD, Sousa JMM. O fenômeno da violência patrimonial contra a mulher: Percepções das vítimas. Oikos[Internet]. 2013[cited 2017 May 26];24(1):207-36. Available from: http://www.seer.ufv.br/seer/oikos/index.php/httpwwwseerufvbrseeroikos/article/viewFile/89/156
http://www.seer.ufv.br/seer/oikos/index....
). Esta realidade é apontada também em outras literaturas que reconhecem, inclusive, a influência da dependência no redirecionamento dos recursos anteriormente destinados para a provisão do lar e que passam a ser utilizados para a compra do álcool, o que compromete o sustento da família(1111 Vieira LB, Cortes LF, Padoin SMM, Souza IEO, Paula CC, Terra MG. Abuso de álcool e drogas e violência contra as mulheres: denuncia de vividos. Rev Bras Enferm[Internet]. 2014[cited 2017 Apr 27];67(3):366-72. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n3/0034-7167-reben-67-03-0366.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n3/003...
,1313 Silva ACLG, Coelho EBS, Njaine K. Violência conjugal: as controvérsias no relato dos parceiros íntimos em inquéritos policiais. Ciênc Saúde Colet[Internet]. 2014[cited 2017 Apr 3];19(4):1255-62. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v19n4/1413-8123-csc-19-04-01255.pdf
http://www.scielo.br/pdf/csc/v19n4/1413-...
).

Os discursos permitiram ainda identificar a vivência da violência em forma psicológica, expressa através de ameaças com o uso de arma branca e de fogo, e em forma moral, evidenciada pelos xingamentos desonrosos à mulher, configurando atos de injúria e difamação. A presença das expressões psicológica e moral também foi apontada em estudo realizado a partir de registros de uma delegacia de polícia civil da região Sul do Brasil, cujas ocorrências de violência contra a mulher associadas ao uso de álcool se relacionaram significativamente às formas moral e psicológica, expressas em atos de ameaça, humilhação e xingamento, desencadeando relatos de medo, impotência, culpa, baixa autoestima e submissão(2929 Griebler CN, Borges JL. Violência contra a mulher: perfil dos envolvidos em boletins de ocorrência da Lei Maria da Penha. Psicol[Internet]. 2013[cited 2017 May 26];44(2):215-25. Available from: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/11463/9640
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/...
).

A violência sexual, também desvelada no discurso, é corroborada por estudo realizado no interior do Rio Grande do Sul, cujos achados revelaram que, diante do consumo de álcool pelo companheiro, as mulheres eram obrigadas a manter prática sexual, mediante intimidação, ameaça e coação, até mesmo no período gestacional(1111 Vieira LB, Cortes LF, Padoin SMM, Souza IEO, Paula CC, Terra MG. Abuso de álcool e drogas e violência contra as mulheres: denuncia de vividos. Rev Bras Enferm[Internet]. 2014[cited 2017 Apr 27];67(3):366-72. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n3/0034-7167-reben-67-03-0366.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n3/003...
). Isso é ratificado em estudo realizado nos EUA que reconhece ser comum o estupro conjugal(2727 Peasant C, Sullivan TP, Weiss NH, Martinez I, Meyer JP. Beyond the syndemic: condom negotiation and use among women experiencing partner violence. AIDS Care[Internet]. 2017[cited 2017 Jul 30];29(4):516-23. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5291821/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
). Esta ocorrência é melhor compreendida na perspectiva de gênero que, ao reforçar a desigualdade nos papéis e condutas de homens e mulheres, corrobora o sexo no casamento enquanto direito do homem e obrigação da mulher. Esta condição dificulta o reconhecimento dos atos e, consequentemente, contribui para a escassez dos relatos de violência sexual.

Além do entendimento de que o consumo do álcool pelo companheiro precipita a violência, expressa de diversas formas, outro elemento que favoreceu sua ocorrência relacionou-se ao questionamento feminino quanto ao uso do álcool pelo companheiro. A reação violenta do homem ao ser questionado justifica-se pelo processo histórico e sociocultural que naturaliza e reproduz a construção social da submissão e da passividade como atributos inerentes ao feminino. Estudo brasileiro, realizado com mulheres vítimas de violência, ao investigar os fatores que desencadeavam ou intensificavam os conflitos na relação conjugal, identificou a idealização do homem como único dono do saber, da razão e do poder, não devendo portanto ser questionado, e da mulher enquanto pessoa que lhe deve submissão e obediência, sem direitos de expressão, discordância e imposição em relação ao parceiro(3030 Paixão GPN, Gomes NP, Diniz NMF, Couto TM, Vianna LAC, Santos SMP. Situations which precipitate conflicts in the conjugal relationship: the women’s discourse. Texto Contexto Enferm[Internet]. 2014[cited 2017 Jun 28];23(4):1041-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v23n4/0104-0707-tce-23-04-01041.pdf
http://www.scielo.br/pdf/tce/v23n4/0104-...
). Outras pesquisas realizadas em Cuba, na Nigéria e na África oriental também trazem dados referentes ao controle masculino e à subserviência feminina, sendo estes fatores associados à violência contra a mulher(3131 Angulo LL, Curbelo ML. Impacto del maltrato a la mujer en la conducta parasuicida en el municipio de Cienfuegos en el año 2009. Rev Hosp Psiquiátr Haban[Internet]. 2012[cited 2017 Jun 28];9(2). Available from: http://www.medigraphic.com/pdfs/revhospsihab/hph-2012/hph122f.pdf
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https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
).

A reafirmação social dessas imputações esperadas para as mulheres é a base para a dominação socialmente legitimada do masculino. Em um contexto que atribui direitos do homem sobre o feminino é que se fortalece uma relação de poder que não tolera o questionamento da mulher, seja qual for, e não apenas em relação ao consumo de álcool do companheiro. Neste ambiente, replica-se também a naturalização da domesticação feminina através da violência, associando e fortalecendo a ideia do poder de um dominador que obtém o direito de agredir. Assim, papéis preestabelecidos pelas funções de gênero são desempenhados, convencionados socialmente e, naturalmente, reafirmados nas relações conjugais(3030 Paixão GPN, Gomes NP, Diniz NMF, Couto TM, Vianna LAC, Santos SMP. Situations which precipitate conflicts in the conjugal relationship: the women’s discourse. Texto Contexto Enferm[Internet]. 2014[cited 2017 Jun 28];23(4):1041-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v23n4/0104-0707-tce-23-04-01041.pdf
http://www.scielo.br/pdf/tce/v23n4/0104-...
).

Tais condutas de dominação, que justificam a violência como manifestações da masculinidade e da submissão feminina, estão alicerçadas na construção do patriarcado, e não podem ser ignoradas no enfrentamento da violência conjugal, apesar de serem naturalizadas até mesmo pelos profissionais da rede(3434 Carvalho MC, Germano Z. Estudo de caso acerca da relação conjugal violenta. Encon Rev Psicol[Internet]. 2014[cited 2017 Jun 25];17(26):179-94. Available from: http://www.pgsskroton.com.br/seer/index.php/renc/article/view/2426/2326
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-3535 Porto RTS, Bispo JP, Lima EC. Violência doméstica e sexual no âmbito da Estratégia de Saúde da Família: atuação profissional e barreiras para o enfrentamento. Physis[Internet]. 2014[cited 2017 Jun 08];24(3):787-807. Available from: http://www.redalyc.org/pdf/4008/400834035007.pdf
http://www.redalyc.org/pdf/4008/40083403...
). Por exemplo, estudo internacional realizado com profissionais de saúde angolanos acerca das percepções destes sobre a violência contra a mulher na relação conjugal, identificou como pilares de sustentação para a naturalização deste tipo de violência a construção cultural do papel social da mulher na família, marcada pela crença na superioridade masculina e na fragilidade feminina(3636 Nascimento EFGA, Ribeiro AP, Souza ER. Perceptions and practices of Angolan health care professionals concerning intimate partner violence against women. Cad Saúde Pública[Internet]. 2014[cited 2017 Jun 25];30(6):1229-38. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csp/v30n6/0102-311X-csp-30-6-1229.pdf
http://www.scielo.br/pdf/csp/v30n6/0102-...
).

Outro dado relevante identificado na história oral das participantes em estudo foi o relato da experiência transgeracional do envolvimento com álcool como precipitadora da violência conjugal e intrafamiliar. Este achado é corroborado por outros estudos realizados no Brasil, que apontam que filhos de casais em relacionamentos violentos são mais propensos a repetirem a mesma vivência em suas relações futuras(1212 Razera J, Cenci CMB, Falcke D. Violência doméstica e transgeracionalidade: um estudo de caso. Rev Psicol IMED[Internet]. 2014[cited 2017 May 9];6(1):47-51. Available from: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/5154960.pdf
https://dialnet.unirioja.es/descarga/art...
,3737 Colossi PM, Falcke D. Gritos do silêncio: a violência psicológica no casal. Psicol[Internet]. 2013[cited 2017 May 15];44(3):310-8. Available from: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/11032/10404
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/...
-3838 Paixão GPN, Gomes NP, Diniz NMF, Lira MOSC, Carvalho MRS, Silva RS. Women experiencing the intergenerationality of conjugal violence. Rev Latino-Am Enfermagem[Internet]. 2015[cited 2017 May 26];23(5):874-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v23n5/0104-1169-rlae-23-05-00874.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v23n5/0104...
). Pesquisa realizada no Sri Lanka com gerações de família também apontou a transgeracionalidade da violência quando crianças presenciam e/ou vivenciam violência na infância e na adolescência, reproduzindo-a na vida marital(3939 Sriskandarajah V, Neuner F, Catani C. Predictors of violence against children in Tamil families in northern Sri Lanka. Soc Sci Med[Internet]. 2015[cited 2017 Jul 4];146:257-65. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26521032
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2652...
).

Reafirmando esta realidade, pesquisa realizada em Bangladesh evidenciou que mulheres que testemunharam ou experenciaram o envolvimento com álcool e a violência na infância tiveram mais chances de reprodução da violência conjugal quando adultas(4040 Islam TM, Tareque MI, Tiedt AD, Hoque N. The intergenerational transmission of intimate partner violence in Bangladesh. Glob Health Action[Internet]. 2014[cited 2017 Apr 1];7. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4033320/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
). Estudo realizado no Brasil que investigou os padrões transgeracionais da violência familiar associada ao uso de álcool também confirmou a reprodução transgeracional, sendo observada ainda, nas famílias estudadas, a repetição do padrão de consumo, do tipo de violência e da reação das vítimas(4141 Tondowski CS, Feijó MR, Silva EA, Gebara CFP, Sanchez ZM, Noto AR. Padrões intergeracionais de violência familiar associada ao abuso de bebidas alcoólicas: um estudo baseado em genogramas. Psicol Reflex Crit[Internet]. 2014[cited 2017 Jun 28];27(4):806-14. Available from: http http://www.scielo.br/pdf/prc/v27n4/0102-7972-prc-27-04-00806.pdf
http http://www.scielo.br/pdf/prc/v27n4/...
). Assim, ao presenciar desde a infância relacionamentos violentos entre os pais, as mulheres podem naturalizar e reproduzir o mesmo modelo em seus vínculos conjugais. A naturalização das experiências de violência intrafamiliar permeada pelo uso do álcool, como modelo relacional, favorece a construção e a permanência de mulheres em relações conjugais desrespeitosas.

Contribuições para a enfermagem, para a saúde ou para políticas públicas

Embora o estudo limite-se a trazer o contexto individual de mulheres de determinada região do Nordeste, a compreensão da construção social de gênero que se espera destas permite que os resultados sejam extrapolados para outras realidades, inclusive fora do Brasil. Ao desvelar a interface entre a vivência de violência conjugal e o consumo de álcool pelo companheiro, o estudo oferece elementos que poderão subsidiar a elaboração de intervenções para viabilizar a prevenção e o enfrentamento destes fenômenos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O discurso de mulheres em situação de violência conjugal e envolvidas com drogas aponta o consumo do álcool pelo companheiro como elemento precipitador e potencializador dos episódios violentos, evento também experienciado pelos pais, sinalizando para seu caráter transgeracional; alerta ainda para a violência conjugal decorrente da reação do homem, que não admite ser questionado pela companheira quanto ao consumo do álcool.

Considerando que o discurso revela o entendimento das mulheres de que o uso de álcool pelo companheiro as vulnerabiliza para vivência de violência, fazem-se necessárias ações educativas no sentido de incitar reflexões acerca do agravo e sua relação com o álcool, bem como de seu caráter transgeracional ancorado na construção social de gênero. Espera-se que os diversos espaços de atenção à mulher promovam o empoderamento feminino, que permitirá o reconhecimento da vivência de violência e a busca de estratégias para uma vida livre de violência.

Nesse contexto, as(os) enfermeiras(os) são personagens essenciais, podendo realizar, através de um processo educativo, ações não apenas nos espaços de saúde, mas também de forma integrada aos cenários da educação e da segurança social a fim de prevenir e enfrentar o fenômeno. No âmbito escolar, essas ações são essenciais, visto que, como se trata do público infanto-juvenil, poderão desestimular o uso precoce de drogas, bem como contribuir para a desconstrução social da desigualdade de gênero, quiçá permitindo a construção de relações mais simétricas entre homens e mulheres. Acredita-se ainda que a intervenção precoce evitará a reprodução do contexto conjugal presenciado na relação entre os pais, sendo esta uma forma de minimizar a transgeracionalidade da violência nas futuras relações conjugais.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2018

Histórico

  • Recebido
    05 Ago 2017
  • Aceito
    07 Out 2017
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