Orientações estratégicas para o fortalecimento da enfermagem e obstetrícia: potencialidades e conexões na perspectiva complexa^*

Resumos

Objetivo:

compreender, a partir da perspectiva complexa, as conexões estabelecidas entre as Orientações Estratégicas para o Fortalecimento da Enfermagem e Obstetrícia, delimitadas pela Organização Mundial da Saúde; discutir as implicações dessas estratégias para o investimento de recursos humanos da enfermagem e obstetrícia, com vistas ao fortalecimento da capacidade técnica de saúde para o enfrentamento das demandas de saúde global.

Método:

pesquisa documental, realizada a partir de documentos oficiais da OMS, no período de setembro a outubro de 2019. Foi realizada técnica de análise categorial, sendo a interpretação dos dados alcançada a partir do referencial teórico da Complexidade.

Resultados:

foram delimitadas três categorias, interdependentes, a saber: desafios para a formação de recursos humanos em enfermagem e obstetrícia com vistas ao atendimento das necessidades para a saúde global; desafios para o desenvolvimento do trabalho dos profissionais de enfermagem e obstetrícia nos diferentes contextos de atuação; desafios para os governos, lideranças e serviços de saúde para o fortalecimento de recursos humanos em enfermagem e obstetrícia.

Conclusão:

as orientações estratégicas corroboram a perspectiva complexa porque valorizam a multidimensionalidade nos desafios para o exercício profissional de enfermeiros e obstetrizes. Todavia, esses desafios estão relacionados, também, aos fatores contextuais, políticos e de liderança.

Descritores:
Enfermagem; Saúde Global; Pessoal de Saúde; Desenvolvimento de Pessoal; Educação em Enfermagem; Educação Continuada em Enfermagem

Objective:

to understand from the complex perspective the connections established between the Strategic Directions for Strengthening Nursing and Midwifery, delimited by the World Health Organization; to discuss the implications of these strategies for the investment of human resources in nursing and midwifery, with a view to strengthening the technical health capacity to face global health demands.

Method:

a documentary research, carried out from official WHO documents, from September to October 2019. A categorical analysis technique was performed, and the interpretation of the data was achieved based on the theoretical framework of Complexity.

Results:

three interdependent categories were defined, namely: challenges for the training of human resources in nursing and midwifery in order to meet the needs for global health; challenges for the development of the work of nursing and midwifery professionals in different contexts of practice; challenges for governments, leaders and health services to strengthen human resources in nursing and midwifery.

Conclusion:

the strategic directions corroborate the complex perspective because they value multidimensionality in the challenges for the professional practice of nurses and obstetricians. However, these challenges are also related to contextual, political, and leadership factors.

Descriptors:
Nursing; Global Health; Health Personnel; Staff Development; Education, Nursing; Education, Nursing, Continuing

Objetivo:

comprender, desde una perspectiva compleja, las conexiones establecidas entre las Orientaciones Estratégicas para el Fortalecimiento de la Enfermería y la Partería, delimitadas por la Organización Mundial de la Salud; discutir las implicaciones de estas estrategias para la inversión de recursos humanos en enfermería y partería, con miras al fortalecimiento de la capacidad técnica de salud para afrontar la demanda global de servicios de salud.

Método:

investigación documental, realizada con base en documentos oficiales de la OMS, de septiembre a octubre de 2019. Se llevó a cabo un análisis categorial y la interpretación de los datos se logró a partir del marco teórico de la Complejidad.

Resultados:

se definieron tres categorías interdependientes, a saber: desafíos para la capacitación de recursos humanos en enfermería y partería a fin de satisfacer las necesidades de la salud global; desafíos para el desarrollo del trabajo de los profesionales de enfermería y partería en diferentes contextos de actuación; desafíos para los gobiernos, las direcciones y los servicios de salud para fortalecer los recursos humanos en enfermería y partería.

Conclusión:

las orientaciones estratégicas corroboran la perspectiva compleja porque valoran la multidimensionalidad en los desafíos para la práctica profesional de enfermeros y obstetras. No obstante, estos desafíos también se hallan relacionados con factores contextuales, políticos y de liderazgo.

Descriptores:
Enfermería; Salud Global; Personal de Salud; Desarrollo de Personal; Educación em Enfermería; Educación Continua em Enfermería

Introdução

O desenvolvimento das nações está alinhado às demandas complexas e dinâmicas de saúde dos seus povos, que estabelecem implicações nos diferentes contextos sociais, econômicos, políticos para a garantia da dignidade humana pautada na qualidade de vida das pessoas^(1-3).

Nessa conjuntura, é necessário considerar a importância dos recursos humanos da saúde para implementar e fortalecer ações estratégicas que garantam práticas de saúde e de cuidados eficientes às pessoas diante dos desafios atuais e vindouros para a saúde local e global, estimados a partir da epidemiologia do envelhecimento populacional, condições crônicas de saúde, doenças emergentes, negligenciadas, saúde mental, iniquidades sociais, entre outras^(4-5).

Desse modo, a enfermagem e obstetrícia devem ser compreendidas como profissões que, no âmbito dos recursos humanos para a saúde, assumem e exercem valorosas contribuições para garantir acesso aos serviços e práticas de saúde para as pessoas e suas famílias, nos distintos contextos de cuidados^(6-7). Todavia, é fundamental que essa compreensão seja vislumbrada para além da própria profissão e alcance, de forma significativa, diferentes líderes, o que pode resultar em desdobramentos às ações desempenhadas pela enfermagem e obstetrícia, de modo que consigam alcançar o entendimento de que o investimento nesses profissionais é equivalente ao investimento na qualidade de vida das pessoas, bem como eficiente gerenciamento de recursos para reduzir gastos com o combate de doenças^(8-9).

Ademais, ao garantir condições dignas para a manutenção da população economicamente ativa, a partir das ações de saúde e de cuidados desempenhados pela enfermagem e obstetrícia, pode-se conceber a relação de interdependência entre essas profissionais e o desenvolvimento econômico das nações. Há, portanto, nessa relação, o princípio do circuito-recursivo da complexidade, “em que os produtos e efeitos são, eles mesmos, produtores e causadores daquilo que os produz”⁽¹⁰⁾.

Por outro lado, há que se considerar que o desenvolvimento do processo de trabalho da enfermagem e obstetrícia, com vistas ao acesso universal de saúde, está condicionado ao contexto político para o exercício da autonomia desses profissionais, bem como ao desenvolvimento de competências para melhor intervir^(5,11). A despeito dessa realidade, as conexões entre macro e micropolítica, que se posicionam em perspectivas multidimensionais, são fundamentais para a garantia das estratégias de fortalecimento de recursos humanos de enfermeiras e obstetrizes, no que diz respeito o compromisso dessas profissionais para uma formação consolidada, assim como das instituições de saúde para efetivar condições dignas para que atuem com autonomia necessária ao pleno alcance de suas potencialidades.

Em assim sendo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lança o conjunto de Orientações Estratégicas para o Fortalecimento dos Serviços de Enfermagem e Obstetrícia^(5,12-13) e, recentemente, em parceria com o Conselho Internacional de Enfermeiros, o programa global para a valorização da Enfermagem e Obstetrícia Nursing Now⁽¹⁴⁾, com foco na liderança para as práticas de cuidados que avancem novos e distintos cenários de saúde, dentre outras finalidades.

Por outro lado, advoga-se que essas estratégias devam ser percebidas em suas complexidades, isto é, interligadas em suas perspectivas contextuais, multidimensionais e dinâmicas. Depreende-se dessa lógica a capacidade dessas estratégias serem concebidas como eixos norteadores para as conexões entre macro e micropolíticas que envolvem o investimento e desenvolvimento para os recursos humanos da saúde, com vistas a ampliar condições de compreensão por parte dos formuladores de políticas públicas sobre a importância da enfermagem e obstetrícia para o mundo. Por conseguinte, vislumbra-se a valorização por parte da sociedade civil, políticos e empregadores da saúde para o entendimento de que o investimento nesses profissionais é fundamental para responder aos desafios epidemiológicos atuais e vindouros⁽⁵⁾.

Nesse sentido, questiona-se: de que forma a perspectiva complexa pode favorecer a compreensão necessária sobre os desafios relacionados ao fortalecimento de recursos humanos da enfermagem e obstetrícia, a partir das orientações estratégicas delimitadas para o fortalecimento desses profissionais?

Em assim sendo, foi objetivo da pesquisa: compreender, a partir da perspectiva complexa, as conexões estabelecidas entre as Orientações Estratégicas para o Fortalecimento da Enfermagem e Obstetrícia, delimitadas pela OMS; discutir as implicações dessas estratégias para o investimento de recursos humanos da enfermagem e obstetrícia, com vistas ao fortalecimento da capacidade técnica de saúde para o enfrentamento das demandas de saúde global.

Método

Pesquisa de natureza documental, realizada a partir de documentos oficiais da OMS. Para o processo de análise foi realizada a técnica de análise categorial, sendo a interpretação dos dados alcançada a partir do referencial teórico da Complexidade, na perspectiva de Morin^(10,15).

O Pensamento Complexo visa a compreensão dos fenômenos a partir das interações entre as partes que os constituem, em uma perspectiva dinâmica, processual e não linear. Para tanto, utiliza de princípios que permitem compreender a complexidade inserida na dinâmica de funcionamento do fenômeno analisado, tais como: princípio recursivo organizacional, que considera que um fenômeno é, ao mesmo tempo, produto e produtor de si mesmo^(10,15). Nesse sentido, o fortalecimento da enfermagem e obstetrícia passa a ser compreendido a partir de mecanismos internos e externos ao funcionamento do processo de trabalho desses profissionais.

Na perspectiva complexa, os princípios se complementam para melhor explicar o fenômeno em sua dinâmica viva de funcionamento. Desse modo, por exemplo, ao princípio supracitado pode-se acrescentar outro, a saber: autonomia-dependência⁽¹⁵⁾, que permite aos sistemas a auto-organização de suas partes para o equilíbrio e manutenção do todo. Outros princípios para se conceber a complexidade são abordados na discussão dos resultados desta pesquisa.

Os documentos utilizados como fontes de dados foram: Diretrizes Estratégicas para o Fortalecimento dos Serviços de Enfermagem e Obstetrícia (2002 - 2008)⁽¹²⁾ Diretrizes Estratégicas para Enfermagem e Obstetrícia (2011-2015)⁽¹³⁾, Direções Estratégicas Globais para o fortalecimento da Enfermagem e Obstetrícia (2016-2020)⁽⁵⁾.

A análise dos documentos foi realizada a partir de três questões definidoras para o processo de categorização, a saber: a) quais são os desafios para a formação de recursos humanos em enfermagem e obstetrícia com vistas ao atendimento das necessidades para a saúde global? b) quais são os desafios para o desenvolvimento do trabalho da enfermagem e obstetrícia nos diferentes contextos de atuação profissional? c) de que forma governos, lideranças e serviços de saúde poderão favorecer o desenvolvimento de recursos humanos de enfermagem e obstetrícia?

O processo analítico dos documentos, balizado a partir das questões indutoras de análise, deu-se a partir da transcrição dos dados em figuras, com quatro colunas em arquivo Word e comparados entre si, agrupados por similaridades, de modo a formar categorias explicativas do fenômeno investigado. Todo o processo de categorização foi realizado a partir do referencial da complexidade e analisados por três pesquisadores independentes. Os dados foram coletados diretamente nos sites oficiais da OMS, no período de setembro a outubro de 2019.

Por se tratar de pesquisa documental, com dados de domínio público, a pesquisa não foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos.

Resultados

O agrupamento dos resultados está apresentado por categorização em três figuras, a partir das questões indutoras de análise. Para identificação dos documentos oficiais da OMS, utilizou-se a seguinte denominação: Orientações 2002-2008; Orientações 2011-2015; Orientações 2016-2017.

Cabe destacar que as orientações estratégicas para o fortalecimento da enfermagem e obstetrícia, em suas primeiras versões, isto é, 2002-2008 e 2011-2016, elencaram o conjunto de esferas de resultados principais, com os respectivos objetivos para cada esfera. Já a versão 2016-2020 abordou temas com objetivos, estratégias e suas relações contextuais (global, nacional, regional e parceria). Todavia, neste artigo, para apresentação dos resultados, o material analisado está apresentado em ações e fatores relacionados para cada categoria gerada.

Desse modo, a Figura 1 revela as conexões estabelecidas entre ações e fatores relacionados presentes nas orientações estratégicas para a formação de recursos humanos em enfermagem e obstetrícia, com vistas ao atendimento das necessidades para a saúde global.

Figura 1
Desafios para a formação de recursos humanos em enfermagem e obstetrícia com vistas ao atendimento das necessidades para a saúde global

Orientação estratégica 2002-2008	Ação: Educação do Pessoal Sanitário para os Serviços de Enfermagem e Obstetrícia
	Fatores relacionados: a dinâmica dos serviços de saúde requer profissionais com competências necessárias ao atendimento de suas demandas. Resulta dessa necessidade o fortalecimento de competências profissionais da enfermagem e obstetrícia.
Orientação estratégica 2011-2016	Ação: Política e Prática de Enfermagem e Obstetrícia
	Fatores relacionados: bases de evidências de enfermagem e obstetrícia. Visa construir uma base de evidências para a prática de enfermagem e obstetrícia por meio da pesquisa, e garantir que ela seja usada para alterar a prática.
Orientação estratégica 2011-2016	Ação: Educação em enfermagem e obstetrícia: treinamento e desenvolvimento de carreira
	Fatores relacionados: fornecimento de força de trabalho em enfermagem e obstetrícia. Para tanto, objetiva garantir que os programas de pré-serviço e educação continuada em todos os níveis de enfermagem e obstetrícia para que produzam um suprimento adequado de profissionais competentes. Ademais, objetiva garantir que os programas de educação/treinamento em enfermagem e obstetrícia estejam agrupados em recursos de ensino adequados. Desenvolver, ainda, conhecimento por meio da educação pós-básica, orientação e outras atividades de desenvolvimento de carreira.

Já a Figura 2 apresenta as conexões estabelecidas para o enfrentamento dos desafios com vistas ao desenvolvimento do trabalho dos profissionais de enfermagem e obstetrícia.

Figura 2
Desafios para o desenvolvimento do trabalho dos profissionais de enfermagem e obstetrícia nos diferentes contextos de atuação

Orientação estratégica 2002-2008	Ação: Gestão de Pessoal de Saúde para os Serviços de Enfermagem e Obstetrícia
	Fatores relacionados: instauração de políticas nacionais de emprego que busquem equidade para as relações de gênero que permeiam a enfermagem e obstetrícia, com condições laborais saudáveis e seguras, com dignidade salarial, de semelhante modo reconhecimento e valorização das competências da enfermagem e obstetrícia. A partir do exposto visa, além da contratação, a retenção de pessoal.
Orientação estratégica 2002-2008	Ação: Prática de Melhoramento dos Serviços de Saúde
	Fatores relacionados: dada a dinamicidade dos sistemas de saúde, a enfermagem e obstetrícia necessitam fundamentar, cada vez mais, suas tomadas de decisões e modelos assistenciais/gerenciais com base nas melhores evidências científicas, com vistas as melhores práticas de cuidados. Depreende-se dessa conjuntura, como objetivo, o melhoramento do acesso aos serviços eficientes de enfermagem e obstetrícia ao indivíduo, família e comunidade.
Orientação estratégica 2011-2016	Ação: Contribuição para o fortalecimento dos sistemas e serviços de saúde
	Fatores relacionados: contribuição para o cuidado centrado na pessoa. Desse modo, objetiva possibilitar aos enfermeiros e obstetrizes um papel maior para garantir que o projeto, a prestação e o desempenho dos sistemas de saúde atendam às necessidades das pessoas.
Orientação estratégica 2011-2016	Ação: Política e Prática de Enfermagem e Obstetrícia
	Fatores relacionados: melhorar a posição profissional de enfermagem e obstetrícia
Orientação estratégica 2011-2016	Ação: Gerenciamento de força de trabalho de enfermagem e obstetrícia
	Fatores relacionados: aprimoramento do desempenho. Desse modo, objetiva promover um ambiente de trabalho positivo, com supervisão de suporte para o desempenho ideal da força de trabalho em enfermagem e obstetrícia.
Orientação estratégica 2011-2016	Ação: Parceria para serviços de enfermagem e obstetrícia
	Fatores relacionados: faz-se necessário o incentivo da colaboração ativa e sistemática entre as organizações de enfermagem e obstetrícia, além de organizações de base comunitária, grupos profissionais e governo. Em assim sendo, objetiva: implementação e monitoramento destas orientações estratégias e a articulação e fortalecimento de redes e parcerias eficazes para melhorar os serviços de enfermagem e obstetrícia.
Orientação estratégica 2016-2020	Ação: G arantia de força de trabalho de enfermagem e obstetrícia eficiente, competente e atuante nos sistemas de saúde de forma eficaz, em todos os níveis, em diferentes contextos
	Fatores relacionados: educar, recrutar, implementar e manter o número adequado de trabalhadores de enfermagem e obstetrícia, com competências necessárias, fortalecidos com recursos favoráveis ao desempenho do trabalho, regidos por regulamentação profissional. Para tanto, estabelece como estratégia: alinhar investimentos e coordenar planos para o desenvolvimento da enfermagem e obstetrícia na gestão da força de trabalho.
Orientação estratégica 2016-2020	Ação: Trabalho conjunto para maximizar as capacidades e potenciais de enfermeiros e obstetrizes por meio de parcerias e colaborações intra e interprofissionais, educação e desenvolvimento contínuo
	Fatores relacionados: otimizar o impacto da enfermagem e obstetrícia nos sistemas de saúde, em todos os níveis de atenção à saúde, por meio da colaboração e parceria inter e intra profissional. Para tanto, faz-se necessário delinear, monitorar e avaliar papéis/responsabilidades da força de trabalho da enfermagem e obstetrícia para promover educação e prática colaborativa.

Na Figura 3 estão os resultados referentes aos desafios que deverão ser assumidos pelos governos, lideranças e serviços de saúde para o fortalecimento de recursos humanos em enfermagem e obstetrícia.

Figura 3
Desafios para os governos, lideranças e serviços de saúde para o fortalecimento de recursos humanos em enfermagem e obstetrícia

Orientação estratégica 2002-2008	Ação: Planificação Sanitária, Sensibilização e Compromisso Político
	Fatores relacionados: previsão de assessoramento dos serviços de enfermagem e obstetrícia adequados aos planos sanitários e de desenvolvimento da nação. Delimitam-se três objetivos: fortalecimento dos mecanismos de planificação e intervenção em matéria de política de recursos humanos, de modo a contribuir para o processo de trabalho eficiente da enfermagem e obstetrícia; mobilização de diferentes atores (instâncias normativas, sociedade civil, profissionais, entre outros) para promover mecanismos que permitam o fortalecimento dos serviços de enfermagem e obstetrícia; participação política e de liderança, em todos os âmbitos.
Orientação estratégica 2002-2008	Ação: Administração e Governança
	Fatores relacionados: a administração e governança dos serviços de enfermagem e obstetrícia compreendem o governo, sociedade civil, profissionais de saúde compromissados com a qualidade da atenção à saúde das pessoas. Do exposto, elencam-se dois objetivos: assessorar os governos para o desenvolvimento de administração e governança de sistemas de saúde saudáveis, com enfoque para os serviços de enfermagem e obstetrícia; concessão e autorização dos profissionais de enfermagem e obstetrícia aos seus órgãos regulamentadores para assumir a responsabilidade de autorregulação e a qualidade da assistência.
Orientação estratégica 2011-2016	Ação: Contribuição para o fortalecimento dos sistemas e serviços de saúde
	Fatores relacionados: Liderança para a saúde. Visa capacitar enfermeiros e obstetrizes para liderar em todos os níveis de atenção do sistema de saúde.
Orientação Estratégica 2011-2016	Ação: Política e Prática de Enfermagem e Obstetrícia
	Fatores relacionados: garantir que as políticas de enfermagem e obstetrícia sejam parte integrante da formulação geral de políticas de saúde.
Orientação estratégica 2011-2016	Ação: Gerenciamento de força de trabalho de enfermagem e obstetrícia
	Fatores relacionados: garantir que os planos nacionais de desenvolvimento incluam estratégias apropriadas de saúde e aos serviços de enfermagem e obstetrícia.
Orientação estratégica 2011-2016	Ação: Parceria para serviços de enfermagem e obstetrícia
	Fatores relacionados: administração e governança - de modo a ajudar os governos a apoiar o fortalecimento de uma administração e governança sólidas, especialmente nos serviços de enfermagem e obstetrícia.
Orientação estratégica 2016-2020	Ação: Otimizando o desenvolvimento de políticas, liderança efetiva, gestão e governança
	Fatores relacionados: entrada e participação ativa dos líderes de enfermagem e obstetrícia em todos os níveis de formulação de políticas, planejamento e formulação de programas, incluindo a geração de evidências para a tomada de decisão. Para tanto, faz-se necessário preparar os líderes de enfermagem para os desafios atuais de saúde, com competência necessária, inclusive na formulação de políticas, gestão de conhecimento a partir de evidências para o processo de trabalho eficiente.
Orientação estratégica 2016-2020	Ação: Mobilização de interesses políticos para investir na construção de um efetivo desenvolvimento de força de trabalho em enfermagem e obstetrícia
	Fatores relacionados: estabelecer estruturas que permitam ao enfermeiro e obstetriz ter poder, a fim de alcançar um engajamento efetivo e contribuir para o desenvolvimento de políticas de saúde, de modo a aumentar a quantidade e qualidade dos serviços de saúde. Para tanto, deve-se construir apoio político dos sistemas de saúde e na sociedade civil para garantir que as políticas criadas para alcançar a cobertura universal de saúde e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável envolvam os serviços de enfermagem e obstetrícia centrados nas pessoas.

Discussão

Para o Pensamento Complexo, estratégia significa mecanismo para melhor lidar com a realidade objetiva, isto porque a própria realidade é permeada por incertezas, riscos e ilusões que podem não ser controladas, em sua totalidade, pelos mecanismos de ação delimitados pelo homem⁽¹⁵⁾. Todavia, cabem às estratégias a previsão de melhores condições para lidar com os fenômenos dinâmicos da realidade⁽¹⁶⁾.

Em assim sendo, no contexto de saúde, em que a enfermagem e obstetrícia desempenham relevantes papéis⁽⁵⁾, as estratégias para o seu fortalecimento devem contemplar as possibilidades para intervir com base nos desafios atuais e vindouros. Por esta razão, as orientações estratégicas, especialmente a sua versão mais recente⁽⁵⁾, estão fundamentadas em uma perspectiva contextual, em uma lógica global, a partir de evidências que conclamam o fortalecimento desses profissionais para o exercício de suas competências.

Depreende-se dessa realidade os seguintes documentos: Diretrizes da OMS 2013 para transformar e ampliar a educação e treinamento dos profissionais de saúde; Relatório do estudo da obstetrícia mundial⁽¹⁷⁾; Plano de ação para a Saúde Mental 2013-2020⁽¹⁸⁾; A estratégia Global para a Saúde das Mulheres, das Crianças e dos Adolescentes 2016-2030⁽¹⁹⁾; Estratégia para acabar com a mortalidade materna evitável; Relatório mundial sobre envelhecimento e saúde⁽²⁰⁾, entre outros.

Para todas essas questões, a enfermagem e obstetrícia desempenham ações fundamentais para efetivar o desenvolvimento dessas estratégias e recomendações para a saúde global. Desse modo, tal qual destaca o Pensamento Complexo ao sinalizar a importância contextual de interações estabelecidas para o desenvolvimento de um determinado fenômeno, as orientações estratégicas para o fortalecimento da enfermagem e obstetrícia foram, ao longo de suas edições, reforçando a importância do contexto para o planejamento e execução eficientes das estratégias de fortalecimento desses profissionais.

Nessa perspectiva, as três categorias destacam a relevância do contexto para a implementação das ações necessárias, adotadas pelos Estados Membros da OMS para efetivar suas orientações para a cobertura e para o acesso universal de saúde, por exemplo⁽²¹⁾. Desse modo, o desenvolvimento de competências profissionais, a melhoria das condições de trabalho e o incentivo de lideranças, governos e instituições para a enfermagem e obstetrícia concebem a perspectiva contextual como indispensável ao pleno alcance das orientações estratégicas.

É no contexto laboral que o enfermeiro e obstetriz enfrentam desafios de origem cultural, codificados em relações de poder que implicam limitações ao pleno desenvolvimento desses profissionais. Pelo exposto, as orientações estratégicas avançaram para as sinalizações referentes ao exercício da liderança, capacitação profissional e ocupação de espaços de tomadas de decisão para que a enfermagem e obstetrícia possam, cada vez mais, atingir seus objetivos junto aos diferentes grupos com os quais atuam.

Não obstante, as interações contextuais são necessárias para a produção de cuidados eficientes. Por esta razão, é foco do pensamento complexo a capacidade de se conhecer a realidade em uma lógica multifacetada de conhecimento e ações⁽¹⁵⁾. Depreende-se dessa realidade a valorização da interdisciplinaridade e intersetorialidade, tal qual destacou a versão mais atual das orientações estratégicas.

Embora a enfermagem e obstetrícia conformem, em diversos países, mais de 50% dos recursos humanos da saúde, o processo de trabalho desses profissionais está articulado em um objetivo mais amplo, que necessita de abordagem multidimensional a partir da estratégia interdisciplinar no contexto da saúde. Pode-se, com isto, revelar que duas dimensões são abordadas em uma perspectiva dialógica, que se complementam, a saber: autonomia profissional para a enfermagem e obstetrícia e, ao mesmo tempo, melhor integração aos processos relacionais que configuram a força motriz de cuidados em saúde da equipe multiprofissional.

Ademais, é nesse conjunto de interações que se processa outro princípio da complexidade que pode contribuir para melhor compreender a perspectiva multifacetada das orientações estratégicas para o fortalecimento da enfermagem e obstetrícia, e, por conseguinte, os próprios desafios desses profissionais para atender as demandas de saúde e de cuidados das pessoas.

Este princípio é o unitas-multiplex, que pede para que seja considerado que o todo pode ser mais ou menos que a soma de suas partes⁽¹⁵⁾. Isto porque importa mais a qualidade das interações que sua existência, pois, em um contexto desfavorável ao desenvolvimento das partes, as interações negativas do processo de trabalho podem limitar, reduzir, desfavorecer o potencial de transformação do sujeito. O oposto também pode ser revelado pelo mesmo princípio, isto é: a qualidade das interações poderá potencializar fortalezas da natureza do trabalho capazes de favorecer aos profissionais da enfermagem e obstetrícia condições para exercerem seus papéis com excelência, tal qual sinalizam as orientações estratégicas da OMS.

Esta pesquisa apresenta como limitação, na ordem epistemológica de apreensão do objeto investigado, a incapacidade de abstrações que possam aprofundar a realidade percebida pelos profissionais enfermeiros e obstetrizes acerca dos resultados apresentados. Desse modo, outras metodologias, que abordem a investigação de campo, por exemplo, poderão aprofundar o conhecimento sobre a natureza complexa das orientações estratégias para o fortalecimento da enfermagem e obstetrícia.

Por outro lado, a análise dos dados oriundos de documentos oficiais da OMS para o fortalecimento dos recursos humanos da enfermagem e obstetrícia, a partir da perspectiva complexa, revelou a importância de uma abordagem epistemológica que permita contextualizar e interligar as múltiplas dimensões envolvidas nos desafios para o fortalecimento desses profissionais, que são permeados por estruturas culturais e de poder enraizadas nos espaços de tomadas de decisão. Resultam dessas realidades a necessidade de melhores conexões entre enfermagem e obstetrícia, condições dignas de trabalho, políticas públicas, lideranças e saúde global.

Conclusão

As orientações estratégicas para o fortalecimento da enfermagem e obstetrícia corroboram a perspectiva da complexidade, ao passo que valorizam a multidimensionalidade inserida nos desafios para o exercício profissional de enfermeiros e obstetrizes.

Nessa lógica, reforçam a necessidade de conexões a partir de parcerias; as implicações contextuais para efetivar, com sucesso, as estratégias de ação-interação; a perspectiva interdisciplinar, sem, contudo, desvalorizar a necessidade de autonomia profissional.

• *
  A publicação deste artigo na Série Temática “Recursos Humanos em Saúde e Enfermagem” se insere na atividade 2.2 do Termo de Referência 2 do Plano de Trabalho do Centro Colaborador da OPAS/OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Brasil.

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Editado por

Editor Associado: Pedro Fredemir Palha

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  19 Out 2020
• Data do Fascículo
  2020

Histórico

• Recebido
  21 Abr 2020
• Aceito
  15 Jul 2020