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Escola Paulista de Enfermagem: um pouco da sua história

Escuela Paulista de Enfermería: un poco de su historia

PALESTRA

Escola Paulista de Enfermagem: um pouco da sua história

Escuela Paulista de Enfermería: un poco de su historia

Alba Lúcia Bottura Leite de Barros

Professora Titular da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP), Brasil

Autor Correspondente Autor Correspondente: Alba Lúcia Bottura Leite de Barros R. Napoleão de Barros, 754 - Vila Clementino São Paulo - SP - Brasil CEP. 04024-002 E-mail: barros.alba@unifesp.br

BREVE HISTÓRICO

Foi fundada em 1939 na gestão do Dr. Octavio de Carvalho, Diretor da Escola Paulista de Medicina (EPM) com intenções de formar enfermeiras para dirigir o Hospital São Paulo, juntamente com os médicos da EPM, além de preparar religiosas brasileiras quanto aos conhecimentos técnicos e modernos da arte da enfermagem(1).

O currículo do curso adequou-se, inicialmente, às necessidades da própria instituição e da sociedade. O ensino era oferecido pelos professores médicos e pelas religiosas enfermeiras da ordem Franciscanas Missionárias de Maria que vieram da França. A vinda foi mediada pelo Arcebispo da Arquidiocese de São Paulo "Dom José Gaspar", atendendo à solicitação do Prof. Álvaro Guimarães Filho, Vice-Diretor da EPM(2).

A escola que, inicialmente, foi denominada Escola de Enfermeiras do Hospital São Paulo em 1942 foi oficialmente reconhecida com a formação da primeira turma e seguia os moldes da Escola de Enfermagem Anna Nery do Rio de Janeiro, oficialmente estabelecida como padrão.

Em maio de 1968, pelo Decreto n. 62.689, passou a ser denominada Escola Paulista de Enfermagem (EPE), cuja mantenedora era a Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina.

Segundo Souza(3), a "profissão é exercida dentro de um contexto, de uma circunstância composta por aspectos de várias naturezas, ressaltando-se os políticos econômicos e sócio culturais". Esta mesma autora refere que "à medida em que o contexto se torna mais complexo exerce influências no processo evolutivo da formação e do exercício profissional que também se torna multifacetado e pluralista em suas concepções filosóficas, ideológicas, científicas e de aplicação prática". Esta afirmação reflete a evolução desta Escola.

Na década de 60 o Estado Brasileiro, através do Departamento Nacional de Saúde Pública, investe, pela primeira vez em nível nacional, numa política de saúde pública preventiva(1).

Esta mesma autora refere que "com a consolidação do sistema público de previdência social o enfermeiro passa a desempenhar papel prioritário, tanto na saúde coletiva, como na individual, exercendo a função de assistência preventiva e curativa".

Em 1962 adequando-se à legislação(4), a EPE passa a oferecer o curso em nível superior. Destaca-se que não houve necessidade de alteração no currículo e da carga horária, pois o seu conteúdo estava em conformidade com a exigência do decreto do Conselho Federal de Educação.

A década de 70 é marcada pela ditadura e pela integração do país ao capitalismo internacional. O advento das Unidades de Terapia Intensiva, a evolução da medicina biomédica e da indústria farmacêutica influenciaram, nesta década, o ensino nos cursos de graduação(5).

A Direção de Enfermagem do Hospital São Paulo deixa de ser exercida por docentes e ex-alunas.

Em 1977 a EPE foi federalizada como Departamento de Enfermagem da Escola Paulista de Medicina, atendendo à intenção de a EPM vir a se transformar em Universidade e sua direção foi exercida pela primeira enfermeira laica.

Nesta época, iniciam-se os cursos de pós-graduação. Doze anos após a federalização da EPE como um departamento da EPM, em 1989, no cinquentenário do Curso de Graduação em Enfermagem, a preocupação das docentes foi externada na resenha histórica então apresentada: "dentre as prioridades defendidas pelo corpo docente incluem vagas para quatro titulares para as quatro disciplinas existentes e, após a formação de doutores em número adequado, voltar à estrutura de quatro departamentos de enfermagem, como era constituída a "Escola Paulista de Enfermagem"(2).

Há de se destacar que ainda nos anos 70, a última diretora religiosa, provavelmente, influenciada pelo novo papel social feminino e também por ter obtido o seu doutorado em filosofia, opunha-se à federalização da Escola, pois sabia por intermédio dos seus familiares que ocupavam cargos políticos junto ao Governo Federal que seria impossível a permanência da EPE como escola numa eventual federalização, em atenção à política do Ministério da Educação na época* * Depoimento dado por Madre Francisca Nogueira Soares e Alba Lucia Bottura Leite de Barros. .

Os anos 80 são marcados pelo fim da ditadura. Abre-se a perspectiva de renovação política, ampliando e difundindo, para segmentos populares, a busca do controle sobre políticas públicas destinadas à saúde. O Sistema Único de Saúde (SUS) é criado em 1988(1).

A Direção de Enfermagem do Hospital São Paulo volta a ser exercida por uma docente em 1992.

Em 1998, dez anos após a criação do SUS, a perspectiva de implementação deste sistema no país ainda era tímida. Observamos 20 anos após a sua criação que avanços ocorreram, apesar de ainda convivermos num país onde os mais ricos usufruem de privilégios nos serviços de saúde e educação.

No ano seguinte, foi realizado o I Fórum Internacional de Enfermagem em comemoração aos 60 anos de criação do Curso de Graduação em Enfermagem onde estas questões foram debatidas.

PERSPECTIVAS ATUAIS

A EPE vem, ao longo destes anos, contribuindo para a consolidação do SUS, formando profissionais que atendam os princípios deste Sistema. Atende também às demandas do mercado de trabalho, formando atualmente especialistas em 19 diferentes especialidades.

O Programa de Pós-Graduação sensu stricto avaliado com nota 5 CAPES, forma mestres e doutores conforme a demanda nacional. Atende ao princípio de solidariedade avaliado pela CAPES. Seus pesquisadores mantem intercâmbios nacionais e internacionais e tem cadastrado no CNPq 21 grupos de estudos e pesquisa ligados, ou não, à pós-graduação em enfermagem e cinco projetos de extensão são oferecidos.

A Revista Acta Paulista de Enfermagem, indexada nas principais bases de dados, é um dos periódicos classificado entre os melhores, segundo avaliação da CAPES, funcionando de forma ininterrupta desde 1988.

Na impossibilidade de sobrevivência como Universidade temática, criada em 1995, a Universidade Federal de São Paulo aderiu ao programa de expansão do governo, ampliando, em 2005, a formação de graduandos em diferentes áreas do conhecimento, transformando-se paulatinamente numa Universidade plural com campus em cidades do Estado de São Paulo: São Paulo, Santos, São José dos Campos, Diadema e Guarulhos.

Esta perspectiva amplia a parceria interdisciplinar tão importante na formação de nossos alunos.

O novo estatuto que está em estudo, possibilitará à Escola a autonomia administrativa, desejada desde a sua federalização como departamento da EPM.

O solo onde esta Escola foi plantada é fértil. Os seus princípios são sólidos.

Seu crescimento deveu-se ao trabalho coletivo de docentes, funcionários e alunos que acreditaram na formação contínua de enfermeiras para exercer o cuidado a pacientes, familiares e comunidade numa abordagem humana fundamentada na evolução dos princípios da ciência.

A EPE, bem como outras Escolas de Enfermagem do nosso país, traz em sua história uma contribuição expressiva para o desenvolvimento da profissão em consonância com os desafios das diferentes épocas.

A formação é desenvolvida com objetivos que culminam em profissionais capazes de atuar com competências científica, humana e ética, nos diferentes cenários de prática. A participação dos professores e alunos em eventos nacionais e internacionais, apresentando resultados de pesquisas, ministrando cursos e palestras, debatendo temas, mostra a abrangência de atuação e expansão desta Escola.

Olhando para frente, percebemos que o horizonte nos acena com uma caminhada para desafios contínuos, aos quais responderemos com consciência, responsabilidade e entusiasmo.

  • 1. Vianna LAC. Enfermagem: Da vida abnegada à auto-determinação profissional. Acta Paul Enf. 2000;13(Número Especial.Parte I):17-26.
  • 2. Augusto M, Maranhão AMSA. Resenha histórica do Departamento de Enfermagem da Escola Paulista de Medicina. São Paulo. Anais. Jubileu de Ouro do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola Paulista de Medicina. São Paulo, 1989.
  • 3. Souza MF. O ensino de graduação de enfermagem do Departamento de Enfermagem da Escola Paulista de Medicina. [Trabalho apresentado no Jubileu de Ouro do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola Paulista de Medicina, São Paulo, junho de 1989]
  • 4. Ferraz NM. A formação de recursos humanos em enfermagem em face à lei do exercício profissional. [Trabalho apresentado no Jubileu de Ouro do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola Paulista de Medicina, São Paulo, junho de 1989]
  • 5. Barros ALBL. A evolução da assistência de enfermagem em cardiologia em São Paulo. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo.1996;6(2):5-9, Sup. A.
  • Autor Correspondente:
    Alba Lúcia Bottura Leite de Barros
    R. Napoleão de Barros, 754 - Vila Clementino
    São Paulo - SP - Brasil
    CEP. 04024-002
    E-mail:
  • *
    Depoimento dado por Madre Francisca Nogueira Soares e Alba Lucia Bottura Leite de Barros.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Mar 2010
    • Data do Fascículo
      2009
    Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo R. Napoleão de Barros, 754, 04024-002 São Paulo - SP/Brasil, Tel./Fax: (55 11) 5576 4430 - São Paulo - SP - Brazil
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