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Tradução da história Uma anedota sua com três (ḫabaruhu ma c talāta) do livro Histórias de Abū-Nuwās (Aḫbār Abī-Nuwās) de Abū-Hiffān Almihzamī

Translation of the story An anecdote of him with three (ḫabaruhu ma c talāta) from the book Stories of Abū-Nuwās (Aḫbār Abī-Nuwās) by Abū-Hiffān Almihzamī

Resumo:

Abū-Hiffān cAbd-Allāh Ibn-Aḥmad Almihzamī foi um importante transmissor da literatura árabe do século IX d.C./ III H. A compilação de histórias (aḫbār) que registrou sobre Abū-Nuwās tornou-se uma referência autorizada no que diz respeito à produção deste poeta inovador. As Histórias de Abū-Nuwās contribuem com temas de vinho e erotismo para as fabulosas narrativas que se situam à era dos califas abássidas. A seguinte apresentação e tradução do relato Uma anedota sua com três (ḫabaruhu ma c talāta) procura transpor ao português brasileiro o fragmento desse importante momento da cultura árabe, dos primeiros séculos do Islã.

Palavras-chave:
Abu Nuwas; Abu Hiffan; Árabe; Tradução; Poesia

Abstract:

Abū-Hiffān cAbd-Allāh Ibn-Aḥmad Almihzamī was an important transmitter of the Arabic literature of the ninth century AD / III H. The compilation of stories (aḫbār) that he recorded about Abū-Nuwās became an authorized reference regarding to the production of this innovative poet. The Stories of Abū-Nuwās contribute to the fabulous tales that are placed in the era of the Abbasid caliphs with themes of wine and eroticism. The following introduction and translation of the narrative An anecdote of him with three (ḫabaruhu ma 'talāta) intends to transpose into Brazilian Portuguese the fragment of this important moment of the literature in Arabic language, from the first centuries of Islam.

Keywords:
Abu Nuwas; Abu Hiffan; Arabic; Translation; Poetry

Abū-Hiffān cAbd-Allāh Ibn-Aḥmad Almihzamī (?-869 d.C./ ?-255 H.) foi um poeta e narrador de poemas, colecionador de histórias (aḫbār)1 1 Com base na raiz da palavra ḫabar (relato, notícia), o termo aḫbār (relatos, notícias) parece corresponder ao sentido que obtemos atualmente em português no termo histórias, conforme o significado de sua antiga grafia estórias. Destaca-se sobre esse gênero de narrativas não o rigor cronológico ou documental, mas a seleção de relatos pessoais, assegurados por uma cadeia de narradores (isnād) que, pela variedade das vozes autorizadas, dá ciência de uma informação, Cf. Rosenthal, 1968, p. 66. Já no contexto da sociedade abássida, em que essas narrativas serviram ao registro de biografias de notáveis, esse termo, referindo-se à coletânea de atos memoráveis - cômicos e jocosos, quando se trata de Abū-Nuwās -, possibilita um sentido em português brasileiro próximo de anedotas. e um importante transmissor da literatura árabe. Proveniente de uma família de Basra, quando jovem foi aprendiz do poeta Abū-Nuwās (757-815 d.C./ 139-199 H.) e redigiu, no século IX d.C./ III H., uma compilação de suas anedotas, chamada Histórias de Abū-Nuwās (Aḫbār Abī-Nuwās), um texto fundamental para a difusão dos enunciados atribuídos a Abū-Nuwās até a atualidade.

A obra de Abū-Nuwās é estudada nos meios acadêmicos e literários principalmente devido às características que a situam entre a dos inovadores (almuḥdaṯūn) da literatura árabe a partir do século VIII d.C./ II H, em que se presta grande reconhecimento à sua poesia de vinho (ḫamriyya). O que é registrado sobre sua conduta depravada e desordeira, por outro lado, estimulou amplamente a produção de narrativas que, desde seus contemporâneos e de modo ampliado após sua morte, multiplicam referências a seu nome, representando uma figura irreverente, espirituosa e muito eloquente.

A prática de determinados poetas, entre os séculos I e II da Hégira, VII-VIII d.C., representou uma notável mudança no fazer literário em língua árabe e ficou conhecida como o movimento dos inovadores. Além de Abū-Nuwās, poetas como Baššār Ibn-Burd (714-784 d.C./ 95-167 H.),2 2 Cf. Blachère, 1986, p. 1080-1082. Muslim Ibn-Alwalīd (747-823 d.C./ 130-208 H.),3 3 Cf. Kratschkowsky, 1993, p. 694-695. Abū-Tammām (804-845 d.C./ 188-231 H.),4 4 Cf. Ritter, 1986, p. 133-135. Almutanabbī (915-965 d.C./ 303-354 H.)5 5 Cf. Blachère & Pellat, 1993, p. 769-771. e Abū-Alcalā’ Almacarrī (973-1058 d.C./ 363-449 H.)6 6 Cf. Smoor, 1986, p. 927-935. transcenderam as referências poéticas pré-islâmicas para expressar suas respectivas sensibilidades à nova cultura ascendente nas regiões do Hijaz, de Damasco e Bagdá. O resultado foi uma produção que trabalhou com as formas consideradas tradicionais da literatura árabe - em termos de influência, empréstimos, cópia ou imitação -, mas as marcou por novas influências e por invenção. Surgiram dessa ação não apenas uma diversidade de éthos poéticos e estruturas de poemas, mas ainda categorias de compreensão da poesia que situavam os enunciados em chaves temáticas específicas de entendimento. Tornou-se usual a composição de poemas de amor, libertinos, de caça, poemas ascéticos, ou poemas que descrevem cenas em que se bebe o vinho.

Segundo o poeta e crítico literário sírio Adonis (1997ADONIS (1997). Poesía y poética árabes. Presentación y traducción del árabe: Carmen Ruiz Bravo Villasante. Madrid, Ediciones del Oriente y Mediterráneo., p. 210), a transformação literária nesse período teria sido moldada, ao menos, sobre três dimensões: um éthos poético; o novo contexto social; e as influências externas. Destaca, a princípio, um aspecto linguístico-metafórico, que se refere à sobreposição de uma retórica da realidade pré-islâmica completamente transformada pela nova visão de mundo estabelecida pelo Islã. Essa mudança de posicionamento do poeta no mundo reflete uma alteração de contexto, marcada pela relevância da condição urbana, principalmente no que oferece de valores que simbolizam a civilização, em oposição ao deserto. O período entre os califados omíada e abássida testemunhou, nesse sentido, a transposição de uma arte ritual espontânea pré-islâmica para uma de aprimoramento técnico mais rigoroso, dirigida a reis, líderes e notáveis em troca de pagamento (Muhsin, 2006MUHSIN, A. (2006). Arabic Poetry Trajectories of Modernity and Tradition. London, Routledge., p. 11). Por fim, Adonis aponta naqueles poetas a influência estrangeira como um fator que resulta na assimilação de práticas estilísticas e temáticas de outras culturas. A inovação atribuída à obra de Abū-Nuwās, então, indica o reconhecimento de uma renovação. Esse percurso não seria apenas a negação do clássico pré-islâmico, mas sua afirmação em uma “sistematização artístico-intelectual no âmbito estético que esta renovação descobriu, tanto no plano da teoria como no da expressão” (Adonis, 1997ADONIS (1997). Poesía y poética árabes. Presentación y traducción del árabe: Carmen Ruiz Bravo Villasante. Madrid, Ediciones del Oriente y Mediterráneo., p. 222).7 7 “[...] sistematización artístico-intelectual en el ámbito estético que esta renovación descubrió, tanto en el plano de la teoría como en el de la expressión.” Tradução do Prof. Dr. Michel Sleiman para fins didáticos.

A forma reconhecida como predominante da poesia árabe clássica, referente ao período pré-islâmico e boa parte do califado omíada, era a cacida (qaṣīdah), um poema longo, contendo dezenas de versos divididos em dois hemistíquios e organizados segundo um mesmo ritmo e uma mesma rima final para todas as linhas do poema. As cacidas (qaṣā’īd) eram politemáticas. Iniciadas, em geral, com versos de amor (nasīb) - após o poeta confrontar as ruínas do acampamento de sua amada -, seguiam pela descrição (waṣf) de um camelo ou da paisagem do deserto, concluindo com uma seção que expressa a proposição (qaṣd) específica daquele poema - reprovação, glorificação, exaltação da memória. É preciso ter em mente, porém, que a cacida não era apenas uma estrutura textual, mas um movimento lírico, uma prática de expressão do ego do enunciador em chaves de autoelogio e invocação de impulsos carnais e psíquicos (Blachère, 1991BLACHÈRE, R. (1991). “Ghazal”. In: Encyclopaedia of Islam. Vol. 2. Leiden, Brill, p. 1028-1033., p.1028). Sobre a prática da cacida, afirma o pensador das letras árabes do século IX d.C./ III H., Ibn-Qutayba (828-889 d.C. / 213-276 H.):8 8 Cf. Lecomte, 1986, p. 844-847.

Eu ouvi um homem de letras dizer que o autor de uma cacida começa falando sobre acampamentos, destroços, vestígios; ele chora, reclama, fala sobre o lugar do acampamento e encoraja seu companheiro a parar e aproveitar a oportunidade para falar sobre pessoas que se afastaram dele. Pois os habitantes das tendas vivem incessantemente entre um acampamento e uma partida, ao contrário das pessoas que vivem nas casas da cidade; eles se movem de um ponto de água a outro, procuram pastos de grama e perseguem os lugares que a chuva acabou de regar, onde quer que estejam. A este início o poeta encadeia a canção de amor (nasīb); ele deplora a violência de sua paixão, os males da separação, o excesso de sua ternura e desejo, a fim de conquistar corações, virar rostos para ele e obter a atenção dos ouvintes. [...] Quando o poeta constatou que conseguiu a atenção e a benevolência da audiência, passa à afirmação de seus direitos; ele parte em seu poema, queixa-se do cansaço e das suas vigílias, dos deslocamentos durante a noite, do calor do meio-dia, do cansaço do seu camelo e de sua camela. Quando ele sente que estabeleceu bem o personagem que ele aborda, seu direito à esperança e de encontrar satisfação em seus desejos, e que convenceu dos males que sofreu durante sua jornada, ele começa o elogio (madīḥ). Incita-o a compensá-lo e a ser generoso. Ele o exalta acima de seus pares e os rebaixa diante de sua grandeza. (Ibn-Qutayba, 1947IBN-QUTAYBA (1947). Ašši c r wa-ššu c arā’. Editado por Gaudefroy-Demombynes. Paris, Société d’édition Les Belles lettres., p. 13-14)9 9 قال أبو محمد: وسمعت بعض أهل الأدب يذكر أن مقصد القصيد إنما ابتدأ فيها بذكر الديار والدمن والآثار، فبكى وشكا، وخاطب الربع، واستوقف الرفيق، ليجعل ذلك سبباً لذكر أهلها الظاعنين عنها، إذ كان نازلة العمد في الحلول والظغن على خلاف ما عليه نازلة المدر، لانتقالهم عن ماءٍ إلى ماءٍ، وانتجاعهم الكلأ، وتتبعهم مساقط الغيث حيث كان. ثم وصل ذلك بالنسيب، فشكا شدة الوجد وألم الفراق وفرط الصبابة، والشوق، ليميل نحوه القلوب، ويصرف إليه الوجوه، وليستدعي به إصغاء الأسماع إليه. [...] فإذا علم أنه قد استوثق من الإصغاء إليه، والاستماع له، عقب بإيجاب الحقوق، فرحل في شعره، وشكا النصب والسهر وسرى الليل وحل الهجير، وإنضاء الراحلة والبعير، فإذا علم أنه قد أوجب على صاحبه حق الرجاء، وذمامة التأميل وقرر عنده ما ناله من المكاره في المسير، بدأ في المديح، فبعثه على المكأفاة، وهزه للسماح، وفضله على الأشباه، وصغر في قدره الجزيل.

Embora na poesia árabe anterior (da pré-islâmica à omíada) a introdução amorosa (nasīb) da cacida e a descrição (waṣf) nunca ocorressem de forma independente, como poemas elas mesmas, era comum uma proposição (qaṣd) de encerramento ser entendida como objeto de um curto poema monotemático independente chamado qiṭā c ou muqaṭṭa c a (Schoeler, 2010SCHOELER, G. (2010). The genres of classical Arabic poetry - classifications of poetic themes and poems by pre-modern critics and redactors of dīwāns. Quaderni di Studi Arabi 5/6, p. 1-48., p. 3-4). Sob a ação dos poetas inovadores as partes todas da cacida passaram a ser isoladas em unidades poéticas, como conteúdos temáticos que, por um conjunto de elementos discursivos específicos, passavam a expressar novas situações poéticas. Ao desenvolver esses tipos independentes, os poetas se basearam tanto na poesia árabe tradicional como em materiais importados das culturas sob hegemonia árabe, notavelmente da cultura persa.

Abū-Nuwās chegou à mais alta fama, principalmente, por conta de seus poemas que tratam o tema de vinho (Schoeler, 1998SCHOELER, G. (1998). “Abū Nuwās”. In: SCOTT MEISAMI, J.; STARKEY, P. (orgs.). Encyclopaedia of Arabic Literature. London, Routledge, p. 41-43., p. 42; Wagner, 1986WAGNER, E. (1986). “Abū Nuwās”. In: Encyclopaedia of Islam. Vol. 1. Leiden, Brill, p. 143-144., p. 144). Nesse gênero, é considerado o maior poeta árabe, sendo a principal referência para todos os que posteriormente trataram do tema. Sua obra consolida nos primeiros séculos do Islã o tema de vinho como um gênero poético autônomo, conhecido em árabe como ḫamriyya. Sob a ordem moral monoteísta e abstêmia em construção, realizou-se a princípio subversiva explorando temas como a adoração da figura feminina e homossexualidade, além do consumo de vinho, consolidando padrões discursivos que serão reconhecidos, sem dúvida, a partir do século X d.C./ IV H.

Já no século IX d.C./ III H., Abū-Nuwās foi registrado em coletâneas de seus poemas (dīwān, pl. dawawin) e de anedotas (aḫbār) que veiculavam enunciados associados a práticas libertinas e homoeróticas, caracterizando assim um certo éthos literário. Essa personagem, em reelaborações escritas posteriores, dentre os séculos XV e XVIII d.C./ IX-XII H., foi incluída entre as histórias das Mil e uma noites, tornando ainda mais notável a já fabulosa Bagdá da era dos primeiros califas abássidas.

A coletânea de narrativas de Abū-Hiffān sobre Abū-Nuwās, o Aḫbār Abī-Nuwās, é uma das mais antigas e, ainda atualmente, um dos mais referenciados documentos sobre o poeta inovador. Ibn-Annadīm, no livro O catálogo (Alfihrist),10 10 Registro de todas as obras conhecidas em língua árabe, até então, escrito no século XI d.C./ V H.; modernamente republicada como Ibn Nadim, 1964. destacou a forte relação da obra de Abū-Hiffān com a poesia dos inovadores.

[Abū-Hiffān] Será lembrado com relação aos poetas inovadores. Foi um narrador de anedotas e de obras autorais. Entre seus livros estão O quarto livro de histórias dos poetas [Kitāb al’arba c a fi aḫbār aššu c arā’] e A arte da poesia [Ṣinā c at ašša c ir], um grande livro, do qual vi uma parte. (Ibn-Annadīm, 1872IBN-ANNADĪM (1872). “Abū-Hiffān Almihzamī”. Kitāb alfihrist. Editado por Gustav Flügel. Leipzig, Oxford University., p. 144)11 11 وسيتم ذكرة في جملة شعرآء المُحْدَثين وكان اخباريا راوية مصنّفا ولة من الكتب كتاب الاربعة في اخبار الشعرآء كتاب صناعة الشعر كبير رأيت بعضه.

Além de promover a personagem literária de Abū-Nuwās em situações cômicas, eróticas, profanas, libertinas que ampliam sua celebridade, a obra de Abū-Hiffān, provavelmente uma parte da coleção do quarto livro citado por Ibn-Annadīm (Macdonald, 1907MACDONALD, D. (1907). A MS of Abū Hiffān's Collection of Anecdotes about Abū Nuwās. The American Journal of Semitic Languages and Literatures 24, n. 1, p. 86-91., p. 86), tornou-se um componente essencial das compilações póstumas de histórias e poemas atribuídos a Abū-Nuwās. O manuscrito nº 946 da Biblioteca Ḥakīm Aūġlū de Istambul, do seu Aḫbār Abī-Nuwās, datado de 1714 d.C./ 1125 H., por exemplo, foi um dos documentos utilizados na composição da obra Dīwān Abī-Nuwās, publicada em cinco volumes pela Associação de Orientalistas Alemães (Abū-Nuwās, 2002ABŪ-NUWĀS (2002). Dīwān Abī-Nuwās. Editado por Ewald Wagner. Vol. 1. Beirute, Almada.; Abū-Nuwās, 2003aABŪ-NUWĀS (2003a). Dīwān Abī-Nuwās. Editado por Ewald Wagner. Vol. 2. Beirute, Almada.; Abū-Nuwās, 2003bABŪ-NUWĀS (2003b). Dīwān Abī-Nuwās. Editado por Ewald Wagner. Vol. 3. Beirute, Almada.; Abū-Nuwās, 2003cABŪ-NUWĀS (2003c). Dīwān Abī-Nuwās. Editado por Gregor Schoeler. Vol. 4. Beirute, Almada.; Abū-Nuwās, 2003dABŪ-NUWĀS (2003d). Dīwān Abī-Nuwās. Editado por Ewald Wagner. Vol. 5. Beirute, Almada.), sob a organização de Ewald Wagner e Gregor Schoeler, contemporaneamente a coleção mais ampla dos poemas de Abū-Nuwās. O Aḫbār de Abū-Hiffān foi ainda a principal referência para o famoso filólogo Ibn-Manḍūr (1233-1311 d.C./ 630-711 H.) produzir seu próprio Aḫbār Abī-Nuwās, editado modernamente no Cairo por Muḥammad cAbd-Arrusul Ibrāhīm e cAbbas Aššarbinī (Ibn-Manḍūr, 1924IBN-MANḌŪR (1924). Aḫbār Abī-Nuwās ṭārīḫuhu nawādiruhu ši c ruhu mujūnuhu. Editado por Muḥammad cAbd-Arrusul Ibrāhīm e cAbbas Aššarbinī. Cairo, Matabacāt Ali‘timad.). Também na obra As gerações de poetas (Ṭabaqāt aššu c arā’), que reúne histórias e anedotas (aḫbār e nawādir) de vários poetas do período abássida, o califa por um dia, Ibn-Almuctazz (861-908 d.C./ 247-296 H.), reproduziu trechos da obra de Abū-Hiffān, no artigo intitulado Aḫbār Abī-Nuwās (Ibn-Almuctazz, 1956IBN-ALMUcTAZZ (1956). Ṭabaqāt Aššu c ara’. Editado por cAbd-Assattār Aḥmad Farrāj. Cairo, Dar Almacarifa fi Misr., p. 192-217).

Com o título Aḫbār Abī-Nuwās, o livro de Abū-Hiffān foi editado modernamente no Cairo por cAbd-Assattār Aḥmad Farrāj, em 1954, como parte da coleção Fontes da literatura árabe (c Uyūn al’adab al c arab). O texto a seguir é a tradução da história Uma anedota sua com três (ḫabaruhu ma c talāta), identificada como a 25a da coletânea de Abū-Hiffān (1954ABŪ-HIFFĀN (2011). Aḫbār Abī-Nuwās Ḥasan Ibn-Hāni’. Editado por Faraj Alḥawār. Beirute, Manshūrāt aljamal., p. 60-66).12 12 Cf. o Anexo após a tradução. O relato narra um embuste do poeta para possuir três adolescentes (ġulām, pl. ġilmān). Ao despedir-se dos jovens, canta alegre sua aventura em versos.

Tradução

Abū-Hiffān disse: narrou-me Yūsuf Ibn-Addāia13 13 N. do T.: Seguem traduzidas também as notas de cAbd-Assattār Aḥmad Farrāj, que compõem a edição do Cairo de 1954. 14 14 Esta anedota é encontrada em Ibn-Manẓūr, volume 1, página 244, sem citação da fonte [sanad]. Seu relato da anedota diferencia-se em expressões e por muitos acréscimos, mas não se diferencia em seu sentido. A anedota e a poesia são encontradas no livro Humor e genialidade [alfukāha wa ali’tna’], a partir da página 30. que, durante sua estadia no Egito, Abū-Nuwās saiu ao encontro de Alḫaṣīb Ibn-cAbd-Alhamīd15 15 N. do T.: “Quando o célebre poeta Abū-Nuwās viajou de Bagdá para o Cairo para recitar um elogio a Alḫaṣīb Ibn-cAbd-Alhamīd, chefe do gabinete de impostos [dīwān alḫarāj] do Cairo, ele adicionou no poema os nomes dos lugares que havia no caminho”, cf. Ibn-Ḫallikān, 1972, v. 1, p. 61. e deparou-se com três garotos (ġilmān) jovens e bonitos como pavões. Dotados de graça, decoro e hombridade, tinham boas formas, de modo que não havia ninguém no Egito que os superasse em elegância, charme e perfeição. Um deles era descendente de Šabit Ibn-Rabicà Attamimà e os outros dois eram irmãos filhos dos Dahāq.16 16 Em Ibn-Manẓūr: descendente de Šabit Ibn-Rabiac Attamimà, o outro de cAṭīa Ibn-Al’Asuad Alḫarijī e o terceiro era descendente dos Dahāq. Ao vê-los, Abū-Nuwās ficou admirado com a virtude e a beleza dos rapazes e se esforçou por ignorá-los com todos os estratagemas, até que, exaurido, admitiu-se em desespero ao ouvir um deles dizer ao outro, “Domingo, arrumaremos o café da manhã”. Preparou-se para aquele dia. E quando chegou, levantou bem cedo, vestiu uma jubba 17 17 N. do T.: Espécie de vestido longo similar às jalabiyyas, porém com uma grande abertura à frente. de lã, raspou sua cabeça e aparou a barba, pegou um karzan 18 18 karzan: o machado grande. e foi espreitá-los no mercado,19 19 Em Ibn-Manẓūr: mercado de cabritos, cordeiros e manjericão. fingindo a aparência de um carregador. Quando os encontrou, seguiu-os até um lugar onde compraram o que buscavam e rapidamente tomou de suas mãos dizendo “Eu carrego”. Disseram “Aqui está!”, e ele foi levando suas compras. Quando chegaram ao local em que se hospedavam, repousou o karzan e descarregou todas as coisas que estavam com ele. Logo, aprontou um punhado de lenha, acendeu o fogo e cozinhou um picadinho.20 20 Está assim no original e talvez seja uma corruptela [muḥarafa] de uma panela [qidrān, em vez de qidadān]. Eles apreciaram o tempero e disseram “Você é cozinheiro?”, ele disse “Isso foi há muito tempo”.21 21 Está assim no original. Então, olhou para um garrafão junto a uns copos cobertos de poeira e exortou-se a apanhá-lo. Atirou-se em sua direção e revelou enquanto o limpava, escovou os assentos e arrumou as canecas.22 22 No original: a caridade deles [zakātuhum] e não há semelhança com rakuwāt, plural de rakūwa, e de seu significado: a vasilha pequena de couro em que se bebe água. Confirma isso a fala de Ibn-Manẓūr: arrumou seus utensílios e empilhou o manjericão. Colocou em ordem os ramos de manjericão, descobriu os braços e lhes deu de beber. Cantou para eles, declamando às vezes, e outras dedilhando a ṭanbūrā. 23 23 N. do T.: Instrumento de cordas antigo originário da Mesopotâmia. Sentiram admiração por ele quando viram tudo aquilo que apresentara e lhe disseram “Carregador, fique conosco hoje”, a que ele respondeu “Sou vosso servo e criado. Irão ver que sou um descamisado, de baixa condição, mas, se me vestirem de linhos como os seus, merecerão a recompensa de Deus forte e majestoso. Tenham minha gratidão e minhas orações”, e eles fingiram que não reparavam. O que ele queria era seduzi-los e encobrir24 24 Encobriu deles a situação, o encobre [labasa] - como ḍaraba yaḍribu -, confundiu-os, fingindo ser um outro ocultamente. N. do T.: O editor indica nessa nota que a orientação vocálica do verbo destacado é labasa (encobrir), não labisa (vestir), utilizando como modelo o verbo ḍaraba (bater). a situação para que não suspeitassem dele. Disseram “Que assim seja. Deus te abençoe. Aprovamos sua estadia, fique à vontade”. Ele se sentou com eles. Depois que se alimentaram, ele derramou água sobre suas mãos, mas deu-lhes de beber o vinho antes disso, com a comida,25 25 alġamar: significa que tinham as mãos engorduradas de carne, e talvez quisesse servir-lhes três copos antes que lavassem suas mãos depois de comerem. três rodadas, e os representou pelo verso que segue:26 26 Não encontrei este verso nas fontes que estão em minhas mãos, além de que a métrica é diferente em cada hemistíquio.

Três copos com marcas de gordura

deixam o rosto como a lua. 27 27 N. do T.: A poesia árabe antiga é registrada em dois hemistíquios separados por uma pequena tabulação, ou seja, cada verso do poema é segmentado no meio. Sendo a língua árabe mais sintética que o português, a tradução nem sempre mantém aquela configuração. Por isso, nessa tradução os segundos hemistíquios foram deslocados para a linha de baixo dos versos e orientados à direita da página.

Foi buscar o garrafão de bebida lacrado com barro, perfurou-o28 28 bazalahu: perfurar [taqabahu]. e derramou dele para servir os presentes. Continuou, pois, a beber e a servi-los e, enquanto isso, entretia e os divertia. Então, olharam para sua cabeça raspada e puseram-se a bater nela, e ele suportou aquilo, uma vez que alimentava artimanha e trapaça contra eles. Sua intenção era embebedá-los e sedá-los, assim, ficou com eles até que a noite os encobriu. Para estimulá-los à bebedeira, chacoalhava, distraia e servia vinho para que eles excedessem o limite. Logo despencaram adormecidos sem consciência, bêbados, e ele preparou-se para o encontro. Quando percebeu que havia condições para a oportunidade, aproximou-se e satisfez seu desejo de estar com eles... disse “Por Deus que me vingarei de seus testículos, pelo que fizeram em minha nuca (qamaḥdūtà)”...29 29 No original, qaḥdūta, uma corruptela [taḥrīf]. A qamaḥduwa é a parte posterior da cabeça. e quando cansou e não pode mais... e não restou nele forças, embebedou-se e dormiu como eles, de bruços... Assim o fez. Quando o primeiro deles acordou e viu sua situação desaprovou-a e, suspeitando de Abū-Nuwās, disse “Isso é coisa do carregador, ele o fez” e acordou o segundo e o terceiro. Suas condições eram as mesmas, e contrariados daquilo disseram “Quem nos violou está neste local, e certamente foi o carregador” - que se fingia de adormecido e bêbado, enquanto escutava suas palavras - e olharam para ele. Mas se, então, estava como os outros, despido das ceroulas e úmido no ânus. Disseram “O que é isso, senão um ato do Demônio?” e o acordaram. Ao despertar, indignou-se e ardeu de cólera, disse “Que Deus vos desonre, pelo que fizeram a um ancião como eu. Não são temerosos a Deus, nem se envergonham dos meus cabelos brancos. Por Deus, vou me queixar de vocês ao mundo”. Eles lhe disseram “Tema Deus, que isso foi feito em nós todos”. Acalmou-se e, em seguida, disse “Se ocorreu como sustentam, estou em boa semelhança a vocês”. Um deles disse ao outro “Não vê que, se ele divulgar essa história, somente trará um escândalo sobre nós? E Abū-Nuwās está no país. Se ele ouvir essa história, onde haverá refúgio das suas sátiras?” Um a um foram, então, se banhar. Depois, Abū-Nuwās disse “Rapazes, ontem, todos nós fomos desposados, então, adiantemo-nos ao prazer, bem cedo, com a pressa dos noivos”. Disseram “Verdade!”, então, alimentaram-se e puseram-se a beber. Quando o vinho já dava volta em suas cabeças, levantou-se Abū-Nuwās como se fosse cumprir uma necessidade e saiu. Vestiu uma roupa distinta, dada por Alḫaṣīb e perfumou-se. Voltou até eles. Quando entrou pela porta, disseram “Ei, quem é você?” Respondeu “Sou o carregador que ontem fez de vocês noivos”. Disseram “Por Deus, você é Abū-Nuwās?”, ele disse “Por Deus, sou Abū-Nuwās. O que acharam?” Todos bateram com a mão na testa. Envergonharam-se, escavando30 30 No original: Violando a terra [yankitu, em vez de yankitu]. a terra, tímidos e embaraçados. Ele disse, então, “O que aconteceu aconteceu, e eu vou beber. Acompanhem-me, pois, até terminarem seu dia. Seria o mais apropriado a vocês”. Beberam, assim, ao ódio deles e à profunda vergonha. E quando o sol se pôs, o poeta partiu, recitando:31 31 Consulte o poema em Ibn-Manẓūr, p. 246, e no Alfukāha, p. 31, para visualizar a diferença dos versos.

Jovens iguais a colossos reunidos

como dinares recém cunhados

O acaso me levou a eles, quando

diziam que chegava o domingo

Sairiam cedo, antes da oração,

e fui ao lugar que combinaram 32 32 Em Ibn-Manẓūr e no livro Alfukāha: prometeram [wacadū, em vez de camadū].

Peguei um machado, uma manta

e miha, com cordões de fibras de palmeira33 33 Não encontrei no idioma falado a palavra miha com o significado exigido e não identifiquei a fonte da distorção. Aparentemente, trata-se da ferramenta dos carregadores. Ocorreu neste segundo hemistíquio e talvez seja uma corruptela da palavra em [fī].

Por isso, madruguei a espreita

apareceram ao amanhecer e não se separaram 34 34 Esse verso não existe no livro Alfukāha. Em Ibn-Manẓūr, é dito: Pra isso, fantasiei-me a espreita deles e apareceram magicamente como combinado. [camdan tanakartu wa irtaṣadtuhumū ḥatà ’atū saḥratan kamā tacadū]

Até que compraram suas coisas

e a situação propícia foi armada

Cheguei a eles, “Eu carrego

tenho comigo as correias para levar 35 35 Está registrado em outras fontes: preparativos [alcudad]. O termo correias [alqidad] é o plural de correia [qad], e é uma cinta de couro.

Corda firme, miha e eu

carregador, sabido e experiente”

“Pegue-as, então. É com você.

Será recompensado com o que pudermos”

Corri, como um camelo deles

carregando até o lugar onde moravam

Umedeci o chão e o varri

preparei a comida, no fogo de lenha

Já que havia ânfora e copos

pensei no seu canto ao transbordar

Alcei-me à garrafa e a lavei

até que brilhasse como granizo

Impressionei os imberbes, leviano,

e eles não levavam a sério

“Fique para nos servir - disseram

antes que a noite nos surpreenda”

Decepei, então, um gargalo

derramando, fino como uma estaca

Precipitou-se como de um homem

que escorre o sangue jorrado

Segui servindo-lhes o brilhante

e os corpos guardavam o efeito dos copos

Até que vi suas cabeças pensas

e os pescoços já sem energia

Línguas e pernas travadas

segurando a cabeça, escorados

Fiquei arrepiado de tesão 36 36 N. do T.: Na edição do Cairo (Abū-Hiffān, 1954, p. 65), há reticências no final deste hemistíquio. Porém, na edição alemã do Dīwān Abī-Nuwās (Abū-Nuwās, 2003d, p. 23), na obra Alfukāha wa ali’tna’ (cAbd-Almutacāl, 1899, p. 32) e na edição de Beirute (Abū-Hiffān, 2011, p. 95), nesta lacuna está escrito “para fodê-los” (linaikihimu).

e todos ficaram de quatro excitados.

Oh, noite, fiquei colhendo os deliciosos frutos dóceis e castos

De um a outro, foi imperioso que

eu os penetrasse, de novo e de novo

Tinham a alegria das estrelas

ou das lâmpadas quando brilham

Até que me enfadei de seus ânus

e exauriu-se 37 37 N. do T.: Na edição do Cairo (Abū-Hiffān, 1954, p. 65), utilizada para essa tradução, há reticências neste verso. A edição de Beirute (Abū-Hiffān, 2011, p. 96) apresenta o verso “e exauriu-se o meu pênis que estava ereto” (wa kalla ’ayrī famā bihi jaladu). O verso foi omitido na obra Alfukāha wa ali’tna’ (cAbd-Almutacāl, 1899, p. 32) e no Dīwān Abī-Nuwās (Abū-Nuwās, 2003d, p. 23). o que estava ereto

Quando a festa chegou ao fim

eu os abandonei e as taças foram largadas

Retornei à minha casa, onde

enfeitei-me e embelezei-me muito

Vesti-me com Qūhiya e ’Ardiya

de trama egípcia, todos novos

“Quem é você?”, “Seu dono!”

“Que nenhum juízo abençoe vocês, nem norma”

“Eu sou aquele que fodeu 38 38 N. do T.: Na edição do Cairo (Abū-Hiffān, 1954, p. 66), há reticências neste verso. A edição de Beirute (Abū-Hiffān, 2011, p. 96) apresenta o verso “Eu sou aquele que fodeu vocês” (’anā alladī niktukum bi’ajmacikum). O verso foi omitido na obra Alfukāha wa ali’tna’ (cAbd-Almutacāl, 1899, p. 32) e no Dīwān Abī-Nuwās (Abū-Nuwās, 2003d, p. 23). vocês”.

“Nuwās!”, disseram. “Mas sim!” 39 39 No livro Alfukāha: Disseram “Olhamos, como se fosse espuma”.

Depois, cantei alegremente amado

“Quem dera Salma cumprisse o que prometeu”.

Bibliografia

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  • ABŪ-NUWĀS (2003b). Dīwān Abī-Nuwās Editado por Ewald Wagner. Vol. 3. Beirute, Almada.
  • ABŪ-NUWĀS (2003c). Dīwān Abī-Nuwās Editado por Gregor Schoeler. Vol. 4. Beirute, Almada.
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  • SCHOELER, G. (2010). The genres of classical Arabic poetry - classifications of poetic themes and poems by pre-modern critics and redactors of dīwāns. Quaderni di Studi Arabi 5/6, p. 1-48.
  • SMOOR, P. (1986). “Al-Macarri”. In: Encyclopaedia of Islam Vol. 5. Leiden, Brill, p. 927-935.
  • WAGNER, E. (1986). “Abū Nuwās”. In: Encyclopaedia of Islam Vol. 1. Leiden, Brill, p. 143-144.
  • 1
    Com base na raiz da palavra ḫabar (relato, notícia), o termo aḫbār (relatos, notícias) parece corresponder ao sentido que obtemos atualmente em português no termo histórias, conforme o significado de sua antiga grafia estórias. Destaca-se sobre esse gênero de narrativas não o rigor cronológico ou documental, mas a seleção de relatos pessoais, assegurados por uma cadeia de narradores (isnād) que, pela variedade das vozes autorizadas, dá ciência de uma informação, Cf. Rosenthal, 1968ROSENTHAL, F. (1968). A History of Muslim Historiography. Leiden, Brill., p. 66. Já no contexto da sociedade abássida, em que essas narrativas serviram ao registro de biografias de notáveis, esse termo, referindo-se à coletânea de atos memoráveis - cômicos e jocosos, quando se trata de Abū-Nuwās -, possibilita um sentido em português brasileiro próximo de anedotas.
  • 2
    Cf. Blachère, 1986BLACHÈRE, R. (1986). “Baššār Ibn Burd”. In: Encyclopaedia of Islam. Vol. 1. Leiden, Brill, p. 1080-1082., p. 1080-1082.
  • 3
    Cf. Kratschkowsky, 1993KRATSCHKOWSKY, I. (1993). “Muslim b. al-Walid”. In: Encyclopaedia of Islam. Vol. 7. Leiden, Brill, p. 694-695., p. 694-695.
  • 4
    Cf. Ritter, 1986RITTER, H. (1986). “Abū Tammam”. In: Encyclopaedia of Islam. Vol. 1. Leiden, Brill, p. 133-135., p. 133-135.
  • 5
    Cf. Blachère & Pellat, 1993BLACHÈRE, R.; PELLAT, C. (1993). “Almutanabbi”. In: Encyclopaedia of Islam. Vol. 7. Leiden, Brill, p. 769-771., p. 769-771.
  • 6
    Cf. Smoor, 1986SMOOR, P. (1986). “Al-Macarri”. In: Encyclopaedia of Islam. Vol. 5. Leiden, Brill, p. 927-935., p. 927-935.
  • 7
    “[...] sistematización artístico-intelectual en el ámbito estético que esta renovación descubrió, tanto en el plano de la teoría como en el de la expressión.” Tradução do Prof. Dr. Michel Sleiman para fins didáticos.
  • 8
    Cf. Lecomte, 1986LECOMTE, G. (1986). “Ibn Ḳutayba”. In: Encyclopaedia of Islam. Vol. 3. Leiden, Brill, p. 844-847., p. 844-847.
  • 9
    قال أبو محمد: وسمعت بعض أهل الأدب يذكر أن مقصد القصيد إنما ابتدأ فيها بذكر الديار والدمن والآثار، فبكى وشكا، وخاطب الربع، واستوقف الرفيق، ليجعل ذلك سبباً لذكر أهلها الظاعنين عنها، إذ كان نازلة العمد في الحلول والظغن على خلاف ما عليه نازلة المدر، لانتقالهم عن ماءٍ إلى ماءٍ، وانتجاعهم الكلأ، وتتبعهم مساقط الغيث حيث كان. ثم وصل ذلك بالنسيب، فشكا شدة الوجد وألم الفراق وفرط الصبابة، والشوق، ليميل نحوه القلوب، ويصرف إليه الوجوه، وليستدعي به إصغاء الأسماع إليه. [...] فإذا علم أنه قد استوثق من الإصغاء إليه، والاستماع له، عقب بإيجاب الحقوق، فرحل في شعره، وشكا النصب والسهر وسرى الليل وحل الهجير، وإنضاء الراحلة والبعير، فإذا علم أنه قد أوجب على صاحبه حق الرجاء، وذمامة التأميل وقرر عنده ما ناله من المكاره في المسير، بدأ في المديح، فبعثه على المكأفاة، وهزه للسماح، وفضله على الأشباه، وصغر في قدره الجزيل.
  • 10
    Registro de todas as obras conhecidas em língua árabe, até então, escrito no século XI d.C./ V H.; modernamente republicada como Ibn Nadim, 1964.
  • 11
    وسيتم ذكرة في جملة شعرآء المُحْدَثين وكان اخباريا راوية مصنّفا ولة من الكتب كتاب الاربعة في اخبار الشعرآء كتاب صناعة الشعر كبير رأيت بعضه.
  • 12
    Cf. o Anexo após a tradução.
  • 13
    N. do T.: Seguem traduzidas também as notas de cAbd-Assattār Aḥmad Farrāj, que compõem a edição do Cairo de 1954.
  • 14
    Esta anedota é encontrada em Ibn-Manẓūr, volume 1, página 244, sem citação da fonte [sanad]. Seu relato da anedota diferencia-se em expressões e por muitos acréscimos, mas não se diferencia em seu sentido. A anedota e a poesia são encontradas no livro Humor e genialidade [alfukāha wa ali’tna’], a partir da página 30.
  • 15
    N. do T.: “Quando o célebre poeta Abū-Nuwās viajou de Bagdá para o Cairo para recitar um elogio a Alḫaṣīb Ibn-cAbd-Alhamīd, chefe do gabinete de impostos [dīwān alḫarāj] do Cairo, ele adicionou no poema os nomes dos lugares que havia no caminho”, cf. Ibn-Ḫallikān, 1972IBN-ḪALLIKĀN (1972). Wafayāt ala c yān wa-anbā’ abnā’ azzamān. 8 vols. Beirute, Dar Aṣṣadr., v. 1, p. 61.
  • 16
    Em Ibn-Manẓūr: descendente de Šabit Ibn-Rabiac Attamimà, o outro de cAṭīa Ibn-Al’Asuad Alḫarijī e o terceiro era descendente dos Dahāq.
  • 17
    N. do T.: Espécie de vestido longo similar às jalabiyyas, porém com uma grande abertura à frente.
  • 18
    karzan: o machado grande.
  • 19
    Em Ibn-Manẓūr: mercado de cabritos, cordeiros e manjericão.
  • 20
    Está assim no original e talvez seja uma corruptela [muḥarafa] de uma panela [qidrān, em vez de qidadān].
  • 21
    Está assim no original.
  • 22
    No original: a caridade deles [zakātuhum] e não há semelhança com rakuwāt, plural de rakūwa, e de seu significado: a vasilha pequena de couro em que se bebe água. Confirma isso a fala de Ibn-Manẓūr: arrumou seus utensílios e empilhou o manjericão.
  • 23
    N. do T.: Instrumento de cordas antigo originário da Mesopotâmia.
  • 24
    Encobriu deles a situação, o encobre [labasa] - como ḍaraba yaḍribu -, confundiu-os, fingindo ser um outro ocultamente. N. do T.: O editor indica nessa nota que a orientação vocálica do verbo destacado é labasa (encobrir), não labisa (vestir), utilizando como modelo o verbo ḍaraba (bater).
  • 25
    alġamar: significa que tinham as mãos engorduradas de carne, e talvez quisesse servir-lhes três copos antes que lavassem suas mãos depois de comerem.
  • 26
    Não encontrei este verso nas fontes que estão em minhas mãos, além de que a métrica é diferente em cada hemistíquio.
  • 27
    N. do T.: A poesia árabe antiga é registrada em dois hemistíquios separados por uma pequena tabulação, ou seja, cada verso do poema é segmentado no meio. Sendo a língua árabe mais sintética que o português, a tradução nem sempre mantém aquela configuração. Por isso, nessa tradução os segundos hemistíquios foram deslocados para a linha de baixo dos versos e orientados à direita da página.
  • 28
    bazalahu: perfurar [taqabahu].
  • 29
    No original, qaḥdūta, uma corruptela [taḥrīf]. A qamaḥduwa é a parte posterior da cabeça.
  • 30
    No original: Violando a terra [yankitu, em vez de yankitu].
  • 31
    Consulte o poema em Ibn-Manẓūr, p. 246, e no Alfukāha, p. 31, para visualizar a diferença dos versos.
  • 32
    Em Ibn-Manẓūr e no livro Alfukāha: prometeram [wacadū, em vez de camadū].
  • 33
    Não encontrei no idioma falado a palavra miha com o significado exigido e não identifiquei a fonte da distorção. Aparentemente, trata-se da ferramenta dos carregadores. Ocorreu neste segundo hemistíquio e talvez seja uma corruptela da palavra em [fī].
  • 34
    Esse verso não existe no livro Alfukāha. Em Ibn-Manẓūr, é dito: Pra isso, fantasiei-me a espreita deles e apareceram magicamente como combinado. [camdan tanakartu wa irtaṣadtuhumū ḥatà ’atū saḥratan kamā tacadū]
  • 35
    Está registrado em outras fontes: preparativos [alcudad]. O termo correias [alqidad] é o plural de correia [qad], e é uma cinta de couro.
  • 36
    N. do T.: Na edição do Cairo (Abū-Hiffān, 1954ABŪ-HIFFĀN (1954). Aḫbār Abī-Nuwās. Editado por cAbd-Assattār Aḥmad Farrāj. Cairo, Maktaba Misr., p. 65), há reticências no final deste hemistíquio. Porém, na edição alemã do Dīwān Abī-Nuwās (Abū-Nuwās, 2003dABŪ-NUWĀS (2003d). Dīwān Abī-Nuwās. Editado por Ewald Wagner. Vol. 5. Beirute, Almada., p. 23), na obra Alfukāha wa ali’tna’ (cAbd-Almutacāl, 1899cABD-ALMUTAcĀL (1899). Alfukāha wa ali’tna’ fi mujūn Abū-Nuwās waba c aḍ naqā’īdihi ma c aššuarā’. Editado por Manṣūr cAbd-Almutacāl e Hussein Afandī Šarif. Cairo, Editora desconhecida., p. 32) e na edição de Beirute (Abū-Hiffān, 2011ABŪ-HIFFĀN (2011). Aḫbār Abī-Nuwās Ḥasan Ibn-Hāni’. Editado por Faraj Alḥawār. Beirute, Manshūrāt aljamal., p. 95), nesta lacuna está escrito “para fodê-los” (linaikihimu).
  • 37
    N. do T.: Na edição do Cairo (Abū-Hiffān, 1954ABŪ-HIFFĀN (1954). Aḫbār Abī-Nuwās. Editado por cAbd-Assattār Aḥmad Farrāj. Cairo, Maktaba Misr., p. 65), utilizada para essa tradução, há reticências neste verso. A edição de Beirute (Abū-Hiffān, 2011ABŪ-HIFFĀN (2011). Aḫbār Abī-Nuwās Ḥasan Ibn-Hāni’. Editado por Faraj Alḥawār. Beirute, Manshūrāt aljamal., p. 96) apresenta o verso “e exauriu-se o meu pênis que estava ereto” (wa kalla ’ayrī famā bihi jaladu). O verso foi omitido na obra Alfukāha wa ali’tna’ (cAbd-Almutacāl, 1899cABD-ALMUTAcĀL (1899). Alfukāha wa ali’tna’ fi mujūn Abū-Nuwās waba c aḍ naqā’īdihi ma c aššuarā’. Editado por Manṣūr cAbd-Almutacāl e Hussein Afandī Šarif. Cairo, Editora desconhecida., p. 32) e no Dīwān Abī-Nuwās (Abū-Nuwās, 2003dABŪ-NUWĀS (2003d). Dīwān Abī-Nuwās. Editado por Ewald Wagner. Vol. 5. Beirute, Almada., p. 23).
  • 38
    N. do T.: Na edição do Cairo (Abū-Hiffān, 1954ABŪ-HIFFĀN (1954). Aḫbār Abī-Nuwās. Editado por cAbd-Assattār Aḥmad Farrāj. Cairo, Maktaba Misr., p. 66), há reticências neste verso. A edição de Beirute (Abū-Hiffān, 2011ABŪ-HIFFĀN (2011). Aḫbār Abī-Nuwās Ḥasan Ibn-Hāni’. Editado por Faraj Alḥawār. Beirute, Manshūrāt aljamal., p. 96) apresenta o verso “Eu sou aquele que fodeu vocês” (’anā alladī niktukum bi’ajmacikum). O verso foi omitido na obra Alfukāha wa ali’tna’ (cAbd-AlmutacālcABD-ALMUTAcĀL (1899). Alfukāha wa ali’tna’ fi mujūn Abū-Nuwās waba c aḍ naqā’īdihi ma c aššuarā’. Editado por Manṣūr cAbd-Almutacāl e Hussein Afandī Šarif. Cairo, Editora desconhecida., 1899, p. 32) e no Dīwān Abī-Nuwās (Abū-Nuwās, 2003dABŪ-NUWĀS (2003d). Dīwān Abī-Nuwās. Editado por Ewald Wagner. Vol. 5. Beirute, Almada., p. 23).
  • 39
    No livro Alfukāha: Disseram “Olhamos, como se fosse espuma”.

Anexo

Fotocópia da história Uma anedota sua com três (ḫabaruhu ma c talāta) do Aḫbār Abī-Nuwās, editado no Cairo por cAbd-Assattār Aḥmad Farrāj, em 1954, utilizado nesta tradução.

Figura 1:
Capa.

Figura 2:
Página 1 de 7.

Figura 3:
Página 2 de 7.

Figura 4:
Página 3 de 7.

Figura 5:
Página 4 de 7.

Figura 6:
Página 5 de 7.

Figura 7:
Página 6 de 7.

Figura 8:
Página 7 de 7.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Maio 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    26 Dez 2018
  • Aceito
    29 Nov 2019
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