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Rotação de culturas para cevada, após dez anos: efeitos na fertilidade do solo

Crop rotation systems for barley, after ten years: effects on soil fertiliy

Resumos

A fertilidade do solo foi avaliada, após dez anos (1984 a 1994), num latossolo bruno álico, em Guarapuava, PR, Brasil, em quatro sistemas de rotação de culturas para cevada: sistema I (cevada/ soja); sistema II (cevada/soja e ervilhaca/milho, de 1984 a 1989, e cevada/soja e aveia branca/soja, de 1990 a 1993); sistema III (cevada/soja, linho/soja e ervilhaca/milho, de 1984 a 1989, e cevada/soja, ervilhaca/milho e aveia branca/soja, de 1990 a 1993); e sistema IV (cevada/soja, linho/soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho). Através de contrastes, foram comparados os sistemas e as profundidades de amostragem de solo. Os sistemas de rotação de culturas para cevada, sob plantio direto, elevaram os valores de matéria orgânica, de P e de K, principalmente na camada 0 a 5cm. Os valores de pH, de Ca+Mg, de matéria orgânica, de P e de K foram mais elevados na camada 0 a 5cm, em comparação aos verificados na camada 15 a 20cm. Tendência inversa foi observada para os teores de Al trocável.

sucessão de culturas; fertilidade do solo; calagem; plantio direto


Soil fertility parameters were evaluated after ten years (1984 to 1994) of no-tiliage cropping in a latossolo bruno álico, in Guarapuava, state of Paraná, Brazil, under four barley crop rotation systems as follows: system I (barley/soybean); system II (barley/soybean and common vetch/corn, from 1984 to 1989, and barley/soybean and white oats/soybean, from 1990 to 1993); system III (barley/soybean, flax/soybean, and common vetch/corn, from 1984 to 1989, and barley/soybean, common vetch/corn, and white oats/soybean, from 1990 to 1993); and system IV (barley/soybean, flax/soybean, white oats/ soybean and common vetch/corn). Crop systems and soil samples at dijferent depths were compared using the contrast procedure. Barley crop rotation systems, under no-till, raised organic matter. P, and K contents, chiefly in the 0 to 5cm layer. Higher pH and Ca+Mg values were observed in the soil layer 0 to 5cm, as compared to the 15 to 20cm layer. The opposite was observed for exchangeable Al contents.

crop succession; soil fertility; liming; no-tiliage


ROTAÇÃO DE CULTURAS PARA CEVADA, APÓS DEZ ANOS: EFEITOS NA FERTILIDADE DO SOLO

CROP ROTATION SYSTEMS FOR BARLEY, AFTER TEN YEARS: EFFECTS ON SOIL FERTILIY

Henrique Pereira dos Santos1 1 Engenheiro Agrônomo, Dr., Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Trigo, CP 451, 99001-970 Passo Fundo (RS). E mail: hpsantos@cnpt.embrapa.br. Bolsista do CNPq. Autor para correspondência. Gilberto Ormar Tomm2 1 Engenheiro Agrônomo, Dr., Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Trigo, CP 451, 99001-970 Passo Fundo (RS). E mail: hpsantos@cnpt.embrapa.br. Bolsista do CNPq. Autor para correspondência.

RESUMO

A fertilidade do solo foi avaliada, após dez anos (1984 a 1994), num latossolo bruno álico, em Guarapuava, PR, Brasil, em quatro sistemas de rotação de culturas para cevada: sistema I (cevada/ soja); sistema II (cevada/soja e ervilhaca/milho, de 1984 a 1989, e cevada/soja e aveia branca/soja, de 1990 a 1993); sistema III (cevada/soja, linho/soja e ervilhaca/milho, de 1984 a 1989, e cevada/soja, ervilhaca/milho e aveia branca/soja, de 1990 a 1993); e sistema IV (cevada/soja, linho/soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho). Através de contrastes, foram comparados os sistemas e as profundidades de amostragem de solo. Os sistemas de rotação de culturas para cevada, sob plantio direto, elevaram os valores de matéria orgânica, de P e de K, principalmente na camada 0 a 5cm. Os valores de pH, de Ca+Mg, de matéria orgânica, de P e de K foram mais elevados na camada 0 a 5cm, em comparação aos verificados na camada 15 a 20cm. Tendência inversa foi observada para os teores de Al trocável.

Palavras-chave: sucessão de culturas, fertilidade do solo, calagem, plantio direto.

SUMMARY

Soil fertility parameters were evaluated after ten years (1984 to 1994) of no-tiliage cropping in a latossolo bruno álico, in Guarapuava, state of Paraná, Brazil, under four barley crop rotation systems as follows: system I (barley/soybean); system II (barley/soybean and common vetch/corn, from 1984 to 1989, and barley/soybean and white oats/soybean, from 1990 to 1993); system III (barley/soybean, flax/soybean, and common vetch/corn, from 1984 to 1989, and barley/soybean, common vetch/corn, and white oats/soybean, from 1990 to 1993); and system IV (barley/soybean, flax/soybean, white oats/ soybean and common vetch/corn). Crop systems and soil samples at dijferent depths were compared using the contrast procedure. Barley crop rotation systems, under no-till, raised organic matter. P, and K contents, chiefly in the 0 to 5cm layer. Higher pH and Ca+Mg values were observed in the soil layer 0 to 5cm, as compared to the 15 to 20cm layer. The opposite was observed for exchangeable Al contents.

Key words: crop succession, soil fertility, liming, no-tiliage.

INTRODUÇÃO

Para que os sistemas agrícolas sejam estáveis e continuamente produtivos, é necessário manter as condições físicas do solo, adicionar os nutrientes conforme a necessidade das culturas e controlar a erosão por métodos efetivos que não tornem oneroso o processo de produção (ALBUQUERQUE et al, 1995). Estudos recentes indicam que a adequada cobertura do solo por resíduos vegetais pode reduzir as perdas de solo por erosão, manter o conteúdo de matéria orgânica e contribui para a manutenção da produtividade das culturas. Para manter o solo coberto com palha, recomenda-se o uso de sistemas de manejo conservacionista, como plantio direto (PD), pois este também apresenta outras vantagens em relação ao sistema convencional de preparo do solo (PC), como economia de tempo, de combustível e de trabalho.

Trabalhos conduzidos nos Estados Unidos da América (EUA), com a manutenção dos resíduos vegetais na superfície do solo, revelaram acúmulo significativo de matéria orgânica, de P extraível, de Ca trocável, de Mg trocável e de K trocável do solo, na camada 0 a 5cm, após seis anos de PD (SHEAR & MOSCHLER, 1969 e TRIPLETT Jr. & Van DOREN Jr., 1969). Além disso, os primeiros autores verificaram a acidificação do solo, após esse período, necessitando nova calagem, posto que aplicaram apenas 1,1 t ha-1 de calcário três anos antes da primeira avaliação.

Trabalhos conduzidos nos estados do Paraná e do Rio Grande do Sul apresentaram acúmulo de Ca trocável, de Mg trocável e de K trocável, bem como de P extraível, nas camadas superficiais do solo, a partir de três ou quatro anos de cultivo sob PD (BOUGLÉ & PEREIRA, 1978, MUZILLI, 1983 e SIDIRAS & PAVAN, 1985). Nesses casos, houve aumento de pH e, em consequência, redução do nível de Al trocável na camada 0 a l0 cm do solo. Os mesmos autores não verificaram efeito dos sistemas de rotação de culturas sobre a fertilidade do solo, em PD.

No trabalho realizado por SANTOS & LHAMBY (1992), em latossolo bruno álico, no estado do Paraná, durante cinco anos, sob PD, foi observada uma diminuição nos valores de pH e de Ca + Mg trocáveis do solo, com o aumento da profundidade de amostragem de 0 a 20cm, enquanto os teores de Al trocável, de matéria orgânica, de P extraível e de K trocável foram mais elevados na superfície do solo, em comparação às camadas mais profundas (15 a 20cm). Não foram verificados efeitos dos sistemas de rotação de culturas para trigo sobre a fertilidade do solo. Pesquisa conduzida por SANTOS & TOMM (1994), em latossolo vermelho escuro distrófico, no estado do Rio Grande do Sul, sob PD, verificaram diminuição no pH, nos teores de Ca + Mg trocáveis, na matéria orgânica, no P extraível e no K trocável, com o aumento da profundidade de amostragem do solo. Os mesmos autores observaram diferenças significativas entre os sistemas de rotação de culturas para triticale sobre os teores de matéria orgânica e de K trocável do solo.

Deve ser levado em consideração que existem relativamente poucos trabalhos de rotação de culturas que tratam dos efeitos na fertilidade do solo. Esses trabalhos necessitam de dois ciclos de rotação para serem mais bem avaliados.

Este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de quatro sistemas de rotação de culturas para cevada, sob plantio direto, após dez anos, sobre a fertilidade do solo, em Guarapuava, PR.

MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento foi realizado na Cooperativa Agrária Mista Entre Rios Ltda., município de Guarapuava, PR, no período de 1984 a 1993, em latossolo bruno álico, de textura franco argilosa (EMBRAPA, 1984). Nesse mesmo local, antes da instalação do experimento, foram conduzidas lavouras de cevada ou de trigo, no inverno, e de milho ou de soja, no verão, com preparo convencional do solo.

Os tratamentos consistiram de quatro sistemas de rotação de culturas de inverno e de verão, tendo a cevada como cultura base do sistema, a saber: I (cevada/soja); sistema II (cevada/soja e ervilhaca/milho, de 1984 a 1989, e cevada/soja e aveia branca/soja, de 1990 a 1993); sistema III (cevada/soja, ervilhaca/milho e linho/soja, de 1984 a 1989, e cevada/soja, ervilhaca/milho e aveia branca/soja, de 1990 a 1993); e sistema IV (cevada/soja, linho/soja, ervilhaca/milho e aveia branca/soja). As culturas foram estabelecidas em plantio direto, exceto em 1989, quando o solo foi arado e gradeado após a aplicação de calcário, antes da semeadura das culturas de inverno.

Em abril de 1984, antes da semeadura das culturas de inverno, foram coletadas amostras de solo em cada parcela, na profundidade 0 a 20cm, e os valores médios indicaram: pH = 5,1, Al trocável = 8,9mmolc dm-3. Ca + Mg trocáveis = 58,3mmolc dm-3, matéria orgânica = 67,Og kg-1, P extraível = 3,4mg kg-1 e K trocável = 71mg kg-1. O solo da área experimental foi corrigido com 3,7t ha-1 de calcário (PRNT 75 %) e com 300kg ha-1 de termofosfato magnesiano Yoorin (180g. kg-1 de P2O5, 90g kg-1 de Mg e 200g kg-1 de Ca), incorporado com grade de discos. Posteriormente, uma segunda correção da acidez foi efetuada em 1989, com ll,7t ha-1 de calcário, com PRNT 75 %, aplicadas em duas vezes: metade antes da aração (arado de discos) e metade antecedendo a gradagem da área (grade pesada ou grade niveladora). Em ambas as aplicações, o calcário correspondeu à metade da dose necessária para elevar o pH em água para 6,0. As amostragens de solo, para a determinação de níveis de nutrientes e do teor de matéria orgânica, foram realizadas anualmente, sempre após a colheita das culturas de inverno e de verão. A adubação de manutenção e a correção da acidez do solo foram baseadas nos valores médios da análise do solo da área experimental.

O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com quatro repetições. A área útil da parcela foi de 60m2 (l0m de comprimento por 6m de largura).

Em maio de 1994, após as culturas de verão, foram coletadas amostras de solo compostas (seis subamostras por parcela) nas profundidades 0 a 5cm, 5 a l0cm, 10 a 15cm e 15 a 20cm. As análises (pH em água, P extraível, K trocável, matéria orgânica, Al trocável e Ca+Mg trocáveis) seguiram a metodologia descrita por TEDESCO et al (1985). A fertilidade do solo foi comparada entre os quatro sistemas de rotação de culturas para cevada. As quatro profundidades de amostragem de solo foram comparadas dentro de um mesmo sistema de rotação. Todas as comparações foram realizadas através de contrastes com um grau de liberdade (STEEL & TORRIE, 1980). A significância dos contrastes foi dada pelo teste F, levando-se em conta o desdobramento dos graus de liberdade do erro.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A variação de pH, após dez anos de cultivo, está especialmente relacionada com a aplicação de ll,7t ha-1 de calcário (PRNT 75 %), em abril de 1989 (Tabela 1). Convém salientar que, pelas informações que se tem hoje, talvez fosse prescindível aplicar essa quantidade de calcário, usando-se apenas parte dessa recomendação na superfície do solo. Isso explica porque esses resultados contrariam os de SHEAR & MOSCHLER (1969), no estado da Virgínia, Estados Unidos da América (EUA), face à baixa dose de calcário aplicada, onde o valor de pH na camada 0 a 5cm (5,4) foi menos elevado, em comparação aos valores de pH na camada 0 a 20cm, antes do estabelecimento do experimento (6,0). SIDIRAS & PAVAN (1985), no estado do Paraná, após quatro anos, também observaram valores menores de pH em solo latossolo roxo distrófico, na camada 0 a l0cm (5,4), do que antes da instalação do experimento (5,6). Nesse experimento, em novembro de 1988, SANTOS & SIQUEIRA (1996) observaram, passados 4,5 anos desde a aplicação de calcário (abril 1984), que a quantidade de corretivo (3,7t ha-1, PRNT 75 %) aplicada ao solo foi insuficiente para manter o pH em nível desejado (entre 5,50 a 6,00) (SOCIEDADE..., 1995). SANTOS & LHAMBY (1992), no estado do Paraná, na mesma localidade desse experimento, trabalhando com sistemas de rotação de culturas para trigo, sob plantio direto (PD), constataram efeito residual para a calagem de, aproximadamente, dois anos e meio.

Na profundidade 5 a l0cm, os sistemas II(5,80) e III (5,86) mostraram valor de pH do solo menor, em comparação ao sistema IV (6,00) (Tabela 1). Todavia, essas diferenças não são agronomicamente relevantes. Resultados similares foram observados por SANTOS & TOMM (1994), trabalhando com sistemas de rotação de culturas para triticale, durante seis anos, sob PD, em latossolo vermelho escuro distrófico, no estado do Rio Grande do Sul.

Entre determinadas profundidades de amostragem, foram verificadas diferenças significativas de pH dó solo, em alguns sistemas. O pH do solo diminuiu gradativamente com o aumento na profundidade de amostragem de solo (de 5,84 a 5,93, na camada de 0 a 5cm, para 5,58-5,63, na camada de 15 a 20cm). Nesse caso, é possível que o calcário não tenha sido distribuído uniformemente na camada de 0-20cm. Como o calcário tem pouca mobilidade no solo, acabou reagindo próximo à superfície do solo. Na primeira avaliação do mesmo experimento, realizada por SANTOS & SIQUEIRA (1996), em novembro de 1988, o pH do solo elevou-se gradativamente com o aumento da profundidade de amostragem do solo (4,80 para 5,10), o que também deve ter sido influenciado pela quantidade de calcário aplicada em abril de 1984. Isso ocorre devido à menor dose de calcário aplicada, tanto incorporado como aplicado na superfície do solo. Tendência semelhante foi observada por SANTOS & LHAMBY (1992) (5,20 para 4,90), em 1988, após cinco anos.

A diminuição dos teores de Al trocável deve-se à quantidade de calcário aplicada em abril de 1989 (Tabela 1). Na primeira avaliação, em novembro de 1988 (SANTOS & SIQUEIRA, 1996), o valor de Al trocável do solo (9,3mmolc dm-3), na camada 0 a 5cm, foi mais elevado, em relação ao valor obtido por ocasião da segunda leitura, em maio de 1994.

Não houve diferenças significativas entre os valores médios de Al trocável do solo, nos diferentes sistemas de rotação (Tabela 1). Isso está relacionado com os dados obtidos para os valores de pH do solo, onde se observou diferença de pH do solo entre alguns sistemas apenas em uma profundidade. Essa diferença tem sido observada na quase totalidade dos ensaios de longa duração. Similarmente, SANTOS & TOMM (1994) não verificaram diferenças significativas nos valores de Al trocável, entre cinco sistemas de rotação de culturas para triticale, após seis anos de cultivo, sob PD, em latossolo vermelho escuro distrófico, no estado do Rio Grande do Sul.

Ao compararem-se os níveis de Al trocável entre as profundidades de amostragem de um mesmo sistema de rotação, foram registradas diferenças significativas. Os valores de Al trocável do solo aumentaram da camada 0 a 5cm para a camada 15 a 20cm (de 0,0 - 0,1 para 0,8 - l,3mmolc dm-3). Na primeira avaliação da evolução da fertilidade nesse experimento (SANTOS & SIQUEIRA, 1996), em novembro de 1988, os valores de Al trocável do solo diminuíram da camada 0 a 5cm (9,3mmolc dm-3) para a camada 15 a 20cm (5,7mmolc dm-3). Semelhante tendência (de 9,5 para 6,0mmolc dm-3), na mesma localidade, foi observada por SANTOS & LHAMBY (1992), no estado do Paraná, avaliando sistemas de rotação de culturas para trigo, sob PD. O aumento no teor de Al trocável com o aumento da profundidade, encontrado no presente experimento, está relacionado com a redução no efeito residual da calagem aplicada, na superfície ou indica que, eventualmente, na incorporação do calcário uma maior proporção do corretivo aplicado ficou retida nas camadas próximas à superfície.

O valor médio de Ca+Mg trocáveis do solo (95 a 131mmolc dm-3) (Tabela 1), em todas as camadas, é considerado alto para o crescimento e desenvolvimento das culturas da região (REUNIÃO, 1995). Isso decorre da aplicação de 3,7t ha-1 de calcário (PRNT 75 %), em abril de 1984, para corrigir a área experimental antes da instalação, e de l l,7t ha-1 (PRNT 75 %) de calcário, após cinco anos de condução do experimento. A aplicação de calcário do tipo dolomítico, onde tanto o cálcio como o magnésio foram fornecidos em grandes quantidades, fez com que os teores desses elementos ultrapassassem aqueles correspondentes aos níveis críticos das espécies que compuseram os sistemas de rotação (SOCIEDADE..., 1995). Dados similares (de 73,3 a 86,8mmolc dm-3) foram observados por SANTOS & LHAMBY (1992), em 1988, na mesma localidade, com aplicação de3,7t ha-1.

O sistema IV apresentou teor de Ca+Mg trocáveis (131mmolc dm-3) mais elevado do que o sistema II (116mmolc dm-3), na camada 5 a l0cm (Tabela 1). Para os demais sistemas, não houve diferenças significativas nessa camada de solo. Isso foi igualmente verdadeiro para as demais profundidades de amostragem de solo, nos diferentes sistemas de rotação, em ambos os períodos estudados. Tendência similar foi descrita por SANTOS & TOMM (1994), que não verificaram diferenças si- gnificativas para os teores de Ca+Mg trocáveis entre os cinco sistemas de rotação de culturas para triticale, após seis anos, sob PD, em latossolo vermelho escuro distrófico, no estado do Rio Grande do Sul.

Nas comparações dentro de um mesmo sistema de rotação, foram observadas diferenças significativas de Ca+Mg trocáveis do solo, entre determinadas profundidades de amostragem, em alguns sistemas de rotação. O teor de Ca+Mg trocáveis diminuiu da camada 0 a 5cm (126 - 130mmolc dm-3) para a camada 15 a 20cm (95 - 98mmolc dm-3). Isso pode ter sido reflexo da distribuição do calcário na camada 0-20cm. Dados semelhantes foram obtidos por SIDIRAS & PAVAN (1985), trabalhando com manejo de solo e com sistemas de rotação de culturas para trigo (74,0 para 62,0mmolc dm-3), e por SANTOS & TOMM (1994), com sistemas de rotação de culturas para triticale. No presente experimento, por ocasião da primeira avaliação, em novembro de 1988, SANTOS & SIQUEIRA (1996) verificaram tendência oposta, ou seja, houve aumento nos valores de Ca+Mg trocáveis da camada de 0 a 5cm (64,2mmolc dm-3) para a camada 15 a 20cm (71,4mmolc dm-3). Resultados similares foram obtidos por SANTOS & LHAMBY (1992) (73,3 para 86,8mmolc dm-3).

Na avaliação de novembro de 1988, os teores de matéria orgânica na camada de 0 a 5cm dos sistemas de rotação de culturas II, III e IV foram superiores aos encontrados por ocasião da segunda leitura (48,9 a 56,6g kg-1), em maio de 1994, apresentado-se o sistema I (monocultura cevada/soja) como uma exceção, com teores ligeiramente inferiores (64,0 a 66,8g kg-1), nas diferentes profundidades de amostragens do solo.

Já, na avaliação de maio de 1994, não houve diferenças significativas entre as médias dos diferentes sistemas de rotação para os valores de matéria orgânica (Tabela 2 ). De forma semelhante, SANTOS & TOMM (1994), trabalhando com sistemas de rotação de culturas para triticale, durante seis anos, sob PD, em latossolo vermelho escuro distrófico, no estado do Rio Grande do Sul, observaram teores de matéria orgânica do solo (22,7g kg-1) menores na monocultura desse cereal (sistema I) do que em todos os demais sistemas de rotação de culturas de inverno (de 24,1 a 24,3g kg-1), na profundidade 10 a 15cm. Na profundidade de amostragem de solo 5 a l0cm, no sistema com triticale a cada três anos (triticale/soja, triticale/soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho) (26,lg kg-1), verificaram-se teores de matéria orgânica mais elevados do que na monocultura triticale/soja (24,3g kg-1). A rotação de culturas tem papel importante na reciclagem de nutrientes, entre eles o nitrogénio, porque as espécies vegetais diferem entre si no tocante à quantidade de resíduos fornecidos, à eficiência de absorção de íons e à exploração de diferentes profundidades do solo.

Foram verificadas diferenças significativas nos teores de matéria orgânica entre determinadas profundidades de amostragem do solo, em três sistemas de rotação. Com exceção do sistema III, os valores de matéria orgânica do solo decresceram progressivamente da camada 0 a 5cm (55 a 57g hg-1) para a camada 15a 20cm (49 a 50g hg-1). Tendências semelhantes nas variações entre teor de matéria orgânica na camada 0 a 5cm e na camada 15a 20cm foram verificadas por SANTOS & LHAMBY (1992) (de 73,0 para 70,0g kg-1), SÁ (1993) (de 52,8 para 35,4g kg-1) e por SANTOS & TOMM (1994) (de 29,6 para 22,3g kg-1), em sistemas de rotação de culturas para trigo e para triticale, sob PD. A manutenção do teor de matéria orgânica em valores mais elevados, apenas na camada superficial do solo, decorre do acúmulo de resíduos vegetais sobre a superfície do solo sob PD e pela não incorporação física destes através do revolvimento do solo, o que diminui a taxa de mineralização. Resultados semelhantes foram obtidos por MUZILLI (1983).

Os teores de P extraível do solo (2,6 a 7,lmg kg-1), em todas as camadas (Tabela 2 ), foram inferiores ao valor considerado critico, nesse tipo de solo (9,0mg kg-1), para o crescimento e desenvolvimento das culturas (REUNIÃO, 1995).

Os valores de P extraível do solo não apresentaram diferenças significativas entre os diferentes sistemas de rotação (Tabela 2). Isso tem sido observado nesse tipo de trabalho. Resultados semelhantes foram obtidos por SANTOS & TOMM (1994).

Em todos os sistemas avaliados, foram verificadas diferenças significativas nos valores de P extraível entre determinadas profundidades de amostragem. Em todos os sistemas, os teores absolutos de P extraível na camada 0 a 5cm (6,1-7,1mg kg-1) foram superiores ao dobro dos teores verificados na camada 15 a 20cm (2,6-2,9mg kg-1). Dados semelhantes foram observados por SHEAR & MOSCHLER (1969) (de 59,0 para l l,0mg kg-1), por TRIPLETT Jr. & Van DOREN Jr. (1969) (de 117,0 para 37,0mg kg-1), por SANTOS & LHAMBY (1992) (de 13,6 para 5,8mg kg-1) e por Sá (1993) (de 35,2 para 12,5mg kg-1), sob PD. Segundo SIDIRAS & PA VAN (1985), o acúmulo de P extraível próximo à superfície do solo decorre das aplicações anuais de fertilizantes fosfatados, da liberação de P durante a decomposição dos resíduos vegetais e da menor fixação de P, devida ao menor contato desse elemento com os constituintes inorgânicos do solo, uma vez que não há revolvimento do solo.

Os teores de K trocável, nas camadas 0 a 5, 5 a l0 e l0 a 15cm (Tabela 2), foram superiores ao valor considerado crítico (80mg kg-1) para o crescimento e desenvolvimento das culturas (REUNIÃO, 1995).

O teor de K trocável na camada 0 a 5cm foi maior no sistema II (187mg kg-1) do que no sistema III (151mg kg-1) (Tabela 2). SANTOS & TOMM (1994) verificaram que os valores de K trocável foram significativamente mais elevados no sistema I (monocultura triticale/soja=71mg kg-1) do que nos sistemas II (triticale/soja e aveia branca/soja= 54mg kg-1), IV (triticale/soja aveia branca/soja e ervilhaca/milho= 53mg kg-1) e V (triticale/soja, triticale/soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho= 48mg kg-1), na camada 15 a 20cm.

Entre a maioria das profundidades de amostragem de solo, nos sistemas de rotação avaliados, foram verificadas diferenças significativas de K trocável, com uma tendência a decréscimo nos teores com o aumento da profundidade. Nessas observações, os sistemas apresentaram teores de K trocável mais elevados na camada 0 a 5cm, em relação à camada 15 a 20cm, com exceção do sistema III. A exemplo do verificado com P extraível, também verificou-se acúmulo de K trocável nas camadas próximas à superfície nos diferentes sistemas de rotação. Os teores de K trocável na camada 0 a 5cm (de 166 a 187mg kg-1) foram 2,2 a 2,4 vezes maiores que a concentração observada na camada 15 a 20cm (de 69 a 82mg kg-1), para os sistemas I, II e IV. Acúmulos similares de K trocável, na camada 0 a 5cm, em relação à camada 15 a 20cm, foram relatados por SHEAR & MOSCHLER (1969) (de 159 a 98mg kg-1), por TRIPLETT Jr. & Van DOREN Jr. (1969) (de 278 a 121mg kg-1 ), por SANTOS & LHAMBY (1992) (de 167 a 53mg kg-1) e por SANTOS & TOMM (1994) (de 200 a 71mg kg-1).

Os dados indicam que a adubação e a calagem de acordo com as recomendações vigentes (ROLAS), no plantio direto, num período de dez anos, com utilização de espécies com habilidade diferenciada no aproveitamento de nutrientes do solo ou com sistema radicular alcançando profundidades variadas, seguramente permite a manutenção e, provavelmente, a elevação dos teores de Ca + Mg trocáveis, de K trocável e de P extraível, principalmente na camada 0 a 5cm. Isso decorre da aplicação de fertilizantes na camada superficial, sem incorporação mecânica, e da mineralização lenta e gradual dos resíduos vegetais. Conseqüentemente, houve a concentração desses nutrientes nas camadas superficiais e sua gradual diminuição nas camadas mais profundas, influenciando a disponibilidade e o aproveitamento destes pelas espécies em estudo.

CONCLUSÕES

1. Os teores de matéria orgânica, de P extraível e de K trocável, diminuíram gradualmente com a profundidade.

2. Na camada de solo 0 a 5cm, são verificados valores maiores de pH e de Ca + Mg trocáveis, em relação à camada 15 a 20cm e, conseqüentemente, os teores de Al trocável são menores na camada 0 a 5cm do que naquelas mais profundas.

3. Não foram verificados efeitos dos sistemas de rotação de culturas para cevada sobre a fertilidade do solo.

2 Engenheiro Agrônomo, PhD., Embrapa-CNPT. Bolsista do CNPq.

Recebido para publicação em 10.11.97. Aprovado em 03.06.98

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    Engenheiro Agrônomo, Dr., Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Trigo, CP 451, 99001-970 Passo Fundo (RS). E mail:
    hpsantos@cnpt.embrapa.br. Bolsista do CNPq. Autor para correspondência.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Out 2007
    • Data do Fascículo
      Dez 1998

    Histórico

    • Aceito
      03 Jun 1998
    • Recebido
      10 Nov 1997
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