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TSAGARI, Dina. Floros, Georgius. Translation in Language Teaching and Assessment. Cambridge Scholars Publishing, 2013, 253 p.

TSAGARI, Dina; Floros, Georgius. Translation in Language Teaching and Assessment. Cambridge Scholars Publishing, 2013. 253

Sabe-se que, devido à concepção acerca do uso da tradução no ensino de línguas estrangeiras, ela foi, durante muito tempo, banida do contexto de sala de aula. Entre as razões apontadas, algumas são a percepção de que a tradução estaria relacionada unicamente ao uso da língua materna, o falso entendimento de que tradução é encontrar correspondência entre língua materna e língua estrangeira e a falha dos estudos da tradução em examinar outros domínios relativos à atividade de tradução. No livro, organizado por Tsagari e FlorosTsagari, Dina. Floros, Georgius. Translation in Language Teaching and Assessment. Cambridge Scholars Publishing, 2013, 253 p., vemos todas essas razões exploradas e refutadas através das pesquisas de cunho teórico e empírico que são apresentadas ao longo das 253 páginas dos 12 capítulos que o compõem. Alguns dos principais objetivos dessa seleção de artigos são mostrar o crescente interesse da aprendizagem de línguas na tradução e as várias maneiras como ela é usada no ensino de línguas, bem como explorar novas maneiras de consolidar a relação entre a aprendizagem de línguas e a tradução e, ainda, examinar as possibilidades e limitações da interação entre essas duas disciplinas. Com este intuito, os autores reúnem textos de acadêmicos, pesquisadores e profissionais dos Estudos da Tradução e Ensino de Línguas e avaliação e pós-graduandos de uma variedade de línguas e áreas do mundo, relacionados a variados contextos educacionais e culturais.

O livro é dividido em duas partes. A primeira parte apresenta as novas visões sobre como a tradução pode ser usada para o ensino das habilidades da língua e explora as principais abordagens do uso da tradução como ferramenta de ensino. A parte dois enfatiza o uso da tradução no campo da avaliação. No geral, dos artigos selecionados, os nove primeiros se referem ao uso da tradução no ensino e os três últimos se relacionam ao uso da tradução no âmbito da avaliação.

O capítulo 1 apresenta o artigo de Tzu-yi Lee que traz os achados de um estudo experimental explorando o uso da tradução na leitura em língua estrangeira. A pesquisadora leva em consideração o potencial impacto dos exercícios de tradução na proficiência leitora dos aprendizes de L2. Nesse intuito, ela investiga 35 alunos de graduação em um curso de chinês e inglês em Taiwan para os quais aplica exercícios de tradução e exercícios de compreensão leitora. Os resultados mostram que os exercícios de tradução auxiliam a compreensão leitora dos alunos.

No capítulo 2, Melita Koletnik Korošec mostra o papel da tradução na aquisição de categorias gramaticais selecionadas. O estudo é experimental e enfatiza o papel da tradução na aquisição da competência linguística e no desenvolvimento da competência de tradução. Nesse experimento, um grupo de estudantes entre 19 e 22 anos, falantes de esloveno, do programa de bachalerado em estudos interlinguais, são divididos em dois grupos. Um deles é ensinado com o uso da tradução e o outro não. A pesquisa demonstra que os benefícios do ensino explícito da língua parece ser mais eficaz apenas quando um conhecimento formal da língua é requerido em situação de sala de aula.

Ana Ibáñez Moreno e Anna Vermeulen, no capítulo 3, pesquisam o uso da audiodescrição como ferramenta para melhorar as competências lexical e fraseológica. Assim, as pesquisadoras fazem o uso da audiodescrição como ferramenta para verificar se os estudantes do terceiro ano de espanhol de uma faculdade de linguística aplicada na Bélgica, são beneficiados com o uso desse recurso, principalmente no que diz respeito ao seu domínio lexical, ao que elas concluem positivamente.

No capítulo 4, Flavia Belpoliti e Amira Plascencia-Vela exploram o uso das técnicas de tradução para promover o desenvolvimento do domínio lexical. O estudo é realizado com aprendizes de herança do espanhol e tem como objetivos descobrir os impactos das técnicas de tradução como ferramenta pedagógica no desenvolvimento do domínio lexical, identificar que técnicas são usadas pelos aprendizes de herança ao traduzir e, ainda, definir quais componentes lexicais são mais afetados em sua produção. A pesquisa foi realizada com alunos universitários matriculados nos cursos de espanhol para aprendizes de herança do idioma e comprova que a tradução pedagógica parece ser um componente útil para o aprendizado de vocabulário.

No capítulo 5, Christine Calfoglou concentra sua pesquisa na ordem de palavras do grego e do inglês, em que os aprendizes recorrem ao potencial da L1 de várias maneiras, e lança luz sobre a interlíngua dos aprendizes. A pesquisadora usa o princípio da otimalidade, ao propor o uso da tradução no ensino de língua estrangeira de maneira estruturada, tirando vantagem das semelhanças e diferenças entre L1 e L2. Este estudo, realizado com estudantes gregos de inglês como língua estrangeira em uma escola de Atenas, mostra que a tradução tanto pode ser usada como uma ferramenta de pesquisa quanto de ensino.

Marie Källkvist, no capítulo 6, realiza um estudo qualitativo sobre como a tradução facilita o aprendizado da L2. A pesquisa foca na interação e no uso da tradução como meio de facilitar o aprendizado da língua estrangeira por alunos de nível avançado de uma universidade sueca. Os resultados mostraram que os alunos foram particularmente motivados para iniciar e se envolver na comunicação em L2 ao se fazer uso da tradução em sala de aula.

No capítulo 7, Silvia Bratož e Alenka Kocbek focam no uso da tradução no ensino de línguas para jovens aprendizes com ênfase nas diferenças linguísticas e culturais entre a primeira e a segunda língua. Para isso, elas discutem estudos e teorias que favorecem o uso da tradução como ferramenta de ensino nos níveis iniciais de aprendizado de língua inglesa. Tal pesquisa reforça a relevância do uso da tradução para aprendizes nos níveis iniciais.

No capítulo 8, Raphaëlle Beecroft destaca, em sua pesquisa, o potencial didático da noção de tradução como um processo holístico, comunicativo e intercultural, para as salas de língua inglesa como língua estrangeira no ensino secundário. Com esta finalidade, a pesquisa traz uma reflexão do cenário e das questões interculturais envolvidas no processo de resolução de tarefas de tradução, e chama atenção para o fato de que o renovado interesse nos processos de tradução oral e escrita no contexto do ensino de línguas estrangeiras faz com que o diálogo entre estudos da tradução e ensino de línguas estrangeiras seja mais do que necessário.

Anna Kokkinidou e Kyriaki Spanou, no capítulo 9, apresentam as percepções e práticas de professores estagiários com relação ao uso da tradução no ensino do grego como língua estrangeira. Nesse estudo, 20 professores não-nativos de grego analisaram exercícios de tradução com relação ao seu potencial de uso no ensino de línguas e concluíram que eles são adequados ao processo de aprendizagem de línguas e podem ser usados em diferentes contextos.

Já na segunda parte do livro, no capítulo 10, Samira ElAtia enfatiza a importância da dimensão da linguagem na adaptação e tradução de testes, considerando questões como validade, confiabilidade e adequação dos instrumentos de avaliação. A partir de análises de testes internacionais, a pesquisa aponta que a língua e suas variações sociolinguísticas são somadas à complexidade do processo de tradução e adaptação de testes.

No capítulo 11, Sultan Turkan, Maria Elena Oliveri e Julio Cabrera pesquisam o uso da tradução como acomodação de testes em avaliações de conteúdo administradas a aprendizes cultural e linguisticamente diversos no contexto escolar dos Estados Unidos. Para tanto, os pesquisadores discutem as principais questões associadas com o uso da tradução para a acomodação de testes aplicados a aprendizes provenientes de contextos linguísticos e culturais diversos, no intuito de permitir a eles que demonstrem conhecimento de determinados conteúdos em sua língua nativa.

No último capítulo, Youyi Sun e Liying Cheng investigam a percepção dos alunos das demandas da tarefa de tradução no College English Test na China e examinam a relação entre a performance dos alunos na tarefa de tradução e sua performance em outras seções do teste. 524 alunos, do segundo ano da faculdade de duas universidades chinesas, realizam a prova e atestam que a tarefa de tradução tem relação moderada com as outras tarefas, ou seja, o desempenho dos alunos na tarefa de tradução tinha relação com seu desempenho em outras questões que envolviam as demais com-petências da língua. A percepção dos estudantes com relação à demanda das questões envolvendo tradução, no entanto, foi relativamente baixa.

O fato de as pesquisas reunidas por Tsagari e Floros contemplarem, além de uma variedade de línguas, uma variedade de contextos educacionais e profissionais, faz com que o volume seja uma rica fonte de pesquisas para acadêmicos, pesquisadores e profissionais dos Estudos da Tradução e Ensino de Línguas e Avaliação e pós-graduandos de uma variedade de línguas e países. O mais interessante é que as pesquisas não só apresentam um estudo do ponto de vista teórico, mas também empírico, possibilitando uma maior percepção da validade do uso da tradução no contexto do ensino de idiomas. Vale, ainda, ressaltar que, este volume de pesquisas atesta o crescente interesse acadêmico na integração entre ensino de línguas e estudos da tradução.

A leitura do livro é relativamente fácil, especialmente para quem já tem familiaridade com a área, por contemplar investigações práticas sobre o uso da tradução no ensino e avaliação, abrindo caminho para que outras pesquisas possam ser realizadas. O fato de a maioria das pesquisas se concentrarem no uso da tradução como ferramenta de ensino da língua estrangeira reforça a necessidade de mais pesquisas no campo da avaliação. Outro aspecto importante é o contato que se tem com os vários enfoques de ensino e as teorias relacionadas aos estudos da tradução através dessa leitura. Assim, o leitor interessado poderá ter uma visão acerca da aplicabilidade da tradução dentro de um contexto no qual ela tinha sido desconsiderada durante muito tempo, provando que é possível a integração entre as duas disciplinas.

Por fim, acreditamos que os estudos realizados e que ainda se realizarão envolvendo essa relação contribuíram, contribuem e ainda contribuirão significativamente para a diminuição da distância entre o ensino de línguas e os estudos da tradução. Recomendamos, portanto, a leitura de Translation in Language Teaching and Assessment por acreditar que o volume oferece insights para que outras pesquisas sejam realizadas em outros contextos e realidades

Referências

  • Tsagari, Dina. Floros, Georgius. Translation in Language Teaching and Assessment Cambridge Scholars Publishing, 2013, 253 p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    9 Set 2019
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2019

Histórico

  • Recebido
    10 Dez 2018
  • Aceito
    13 Mar 2019
  • Publicado
    Maio 2019
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