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TRADUÇÃO DAS PALAVRAS COM CARGA CULTURAL NO ROMANCE  活着  (HUÓ ZHE, VIVER) A PARTIR DA PERSPECTIVA DA ECO-TRANSLATOLOGIA

TRANSLATION OF CULTURE-LOADED WORDS IN THE NOVEL  活着  (HUÓ ZHE, TO LIVE) FROM THE PERSPECTIVE OF ECO-TRANSLATOLOGY

Resumo

O romance  活着  (huó zhe, Viver), do prestigiado escritor chinês Yu Hua, é considerado um dos romances mais influentes na história da literatura chinesa contemporânea e foi traduzido no Brasil (Yu, 2008) e em Portugal (Yu, 2019). Como o romance é marcado pela abundância de palavras com carga cultural, o presente trabalho tem como objeto a tradução das palavras com carga cultural nas duas referidas versões de tradução do romance à luz da eco-translatologia (proposta pelo teórico chinês Hu Gengshen), com uma análise qualitativa de caso sobre o grau de transformação tridimensional. O artigo fará o levantamento de todas as palavras com carga cultural no romance Viver, selecionará as palavras mais representativas, comparará as traduções destas palavras por dois tradutores e avaliará seus desempenhos em termos do grau de transformação tridimensional para enriquecer os resultados teóricos da eco-translatologia.

Palavras-chave
Palavras com carga cultural; Yu Hua; Tradução chinês -português; Eco-translatologia

Abstract

The novel  活着  (huó zhe, To Live) written by the prestigious Chinese writer, Yu Hua, is considered as one of the most influential novels in the history of contemporary Chinese literature and has been translated in Brazil (Yu, 2008) and Portugal (Yu, 2019). As the novel is marked by the abundance of culture-loaded words, the present paper has its research object as the translation of culture-loaded words in the two mentioned translation versions of the novel in the light of eco-translatology (proposed by Chinese theorist Hu Gengshen), with a qualitative case analysis on the degree of three-dimensional transformation. The paper will survey all culture-loaded words in the novel To Live, selecting the most representative words, comparing the translations of these words by the two translators, and evaluating their performances in terms of the degree of three-dimensional transformation to enrich the theoretical results of eco-translatology.

Keywords
Culturally charged words; Yu Hua; Chinese-Portuguese translation; Eco-translatology

Introdução

De uma perspectiva cultural, a língua assume importantes funções culturais e existe um tipo de unidade lexical chamado de “palavras com carga cultural”. Como veremos em detalhe na seção a seguir, transmitindo informações e conotações culturais específicas, as palavras com carga cultural incorporam a evolução da vida social e as mudanças do pensamento humano e, devido às suas peculiaridades e idiossincrasias, a tradução dessas palavras é uma das tarefas mais desafiadoras na tradução literária.

O romance 活着 (huó zhe, Viver), doravante designado como Viver, obra-prima literária, publicada em 1993, do escritor chinês Yu Hua, foi galardoado com o prémio italiano Grinzane Cavour em 1998 e as suas traduções em diferentes línguas têm tido ótima recepção. O romance indaga, de forma humanística, o destino de todos nós, por via da apresentação da vida de sofrimentos, em que se cruzam as desgraças familiares e as vicissitudes sociais, do protagonista Fugui, que passou por várias turbulências na sua vida desde o período da Guerra Civil (1945-1949) até ao período da Revolução Cultural (1966-1976) da China.

A calma e a paz face à morte são destacadas ao longo do romance Viver. O pai morreu devido ao choque depois de saber que ia perder todos os bens da família pela dívida que o filho tinha contraído no casino; a mãe morreu de doença e não conseguiu ver a volta do filho do exército; a mulher de Fugui morreu de fadiga devido ao trabalho incessante; o filho morreu por perda excessiva de sangue porque fora forçado a doá-lo; a filha morreu no parto; o genro morreu num acidente de construção civil; o neto morreu sufocado, aos seus 7 anos, depois de comer demais feijão porque nunca tinha provado algo tão delicioso.

O romance aborda o destino humano através da descrição da consecutiva morte dos personagens, evidenciando a perseverança e a tenacidade, misturada com certa apatia do protagonista, bem como as reflexões sobre o viver dos chineses durante essa época histórica da China. As palavras com carga cultural são uma das principais características na literatura de Yu Hua e são bastante evidenciadas nessa obra, pois estas palavras, além de contribuir para retratar os personagens literários, desempenham um papel relevante na reflexão da ética, ideologia, costumes e valores da China daquela época, representando as características exclusivas da língua e cultura chinesas e aumentando a beleza linguística e literária da obra. Sendo uma obra que tem atraído a atenção dos leitores de língua portuguesa, Viver foi publicado no Brasil em 2008, com tradução de Márcia Schmaltz e, em 2019 foi publicado em Portugal, com tradução de Tiago Nabais.

É interessante reparar no fato de que as duas traduções se divergem no que toca à tradução das palavras com carga cultural e apresentam distintas interpretações linguísticas e culturais do texto fonte (TF) e da própria cultura chinesa. A eco-translatologia é uma abordagem teórica proposta em 2006 por Hu Gengshen1 1 O termo Eco-translatologia (Eco-translatology) apareceu pela primeira vez no discurso “Interpretação da Eco-translatologia” proferido por Hu Gengshen na Conferência “Tradução da cultura global: rumo à construção de teorias interdisciplinares” em 2006. Hu publicou o artigo”牛态翻译学解读” (Interpretação da Eco-translatologia) em 2008. e fornece um guia teórico das dimensões linguística, cultural e comunicativa para a análise da tradução. Sendo assim, é de relevância prática e teórica fazer uma análise comparativa das traduções, feitas por dois tradutores, das palavras com carga cultural no romance Viver, na perspectiva da eco-translatologia.

Palavras com carga cultural

As palavras com carga cultural são abundantes na linguagem literária, incorporando as crenças, valores e estereótipos compartilhados por uma comunidade da língua. De acordo com o Dictionary of Lexicography, as palavras com carga cultural são definidas como “[...] as palavras e frases associadas ao ‘estilo de vida’ de uma comunidade da língua. Na tradução, esses itens lexicais causam problemas particulares de equivalência” (Hartman & James, 2001Hartman, Reinhard & James, Gregory. Dictionary of Lexicography. Beijing: Foreign Language Teaching and Research Press, 2000., p. 33, tradução nossa). Aixela explicita as dificuldades na tradução, quando refere palavras com carga cultural na tradução, “[...] alguns itens que aparecem no texto de origem não têm itens equivalentes no sistema cultural do leitor alvo ou esses itens têm um status textual diferente daqueles no sistema cultural do leitor alvo, causando uma dificuldade de tradução ao transferir a função e o significado do texto fonte para o texto alvo” (Aixela, 1996Aixela, Javier Franco. “Culture-Specific Items in Translation”. In: Roman, Avarez & Carmen-África, Vidal. Translation, Power, Subversion. Clevedon: Multilingual Matters Ltd., 1996. p. 52-78., p. 58, tradução nossa). Baker avança com uma descrição mais clara da essência dessas palavras:

A palavra da língua de origem pode expressar um conceito que é totalmente desconhecido na cultura alvo. Esse conceito pode ser abstrato ou concreto; pode ser relacionado com uma crença religiosa, com um costume social ou até com um tipo de alimento. Esses conceitos são frequentemente chamados de ‘específicos da cultura’

(Baker, 2020Baker, Mona. In Other Words: A Course Book on Translation. Beijing: Foreign Language Teaching and Research Press, 2000., p. 20, tradução nossa).

Os pesquisadores chineses, por sua vez, também abordam a definição das palavras com carga cultural. Para Hu Wenzhong (1999)Hu, Wenzhong. . [Introdução à Comunicação Intercultural]. Beijing: Foreign Language Teaching and Research Press, 1999., as palavras com carga cultural encaixam numa esfera cultural específica, refletindo direta ou indiretamente culturas de diferentes povos. Liao (2000)Liao, Qiyi. “”. [Exploração de teorias da tradução ocidentais contemporâneas]. Nanjing: Yilin Press, 2000. aborda o processo de formação dessas palavras, indicando que elas refletem o modo único de atividades de um determinado povo, que é divergente do de outros povos e gradualmente acumulado ao longo da sua longa história.

Todas as abordagens apontam que, embutidas em sua cultura distinta, essas palavras são culturalmente específicas. A tradução das palavras com carga cultural é uma das tarefas mais difíceis, tal como afirma Nida (1993, p. 110, tradução nossa)Nida, Eugene. Language, culture and translating. Shanghai: Shanghai Foreign Language Education Press, 1993., “[...] para uma tradução verdadeiramente bem-sucedida, o biculturalismo é ainda mais importante do que o bilinguismo, desde que as palavras só têm significados em termos das culturas em que funcionam”. Desse modo, os tradutores devem concentrar-se na compreensão da cultura bilíngue e não apenas na língua.

Conforme Nida (1975, p. 68, tradução nossa)Nida, Eugene. Exploring Semantic Structures. Munchen: Wilhelm Fink Verlag, 1975., “[...] os problemas de tradução, que são basicamente problemas de equivalência, podem ser tratados de forma conveniente sob os cinco fatores culturais: cultura ecológica, cultura material, cultura social, cultura religiosa e cultura linguística”. Nessa perspectiva, ao proceder o levantamento do nosso objeto de análise, classificamos as palavras com carga cultural em Viver com base na classificação dos fatores culturais referidos por Nida. Sendo assim, as palavras com carga cultural em Viver são contadas e divididas em cinco categorias, a saber, palavras com carga cultural ecológica (18), palavras com carga cultural material (33), palavras com carga cultural social (34), palavras com carga cultural religiosa (15) e palavras com carga cultural linguística (64), totalizando 164, uma quantidade que marca a distinção literária do romance e justifica a relevância de uma abordagem da tradução dessas palavras.

Eco-translatologia

A ideia da tradução ecológica foi proposta em 2001 e desenvolvida em 2006 por Hu Gengshen, e a eco-translatologia foi formulada, de forma sistemática, em 2008 pelo mesmo teórico, que a entende como “[...] uma abordagem ecológica dos estudos da tradução, ou estudos da tradução a partir de uma perspectiva ecológica” (Hu, 2008bHu, Gengshen. “”. [Interpretação da eco-transdutologia]. Chinese Translators Journal, 29(6), p. 11-15, 2008b., p. 11, tradução nossa). O autor revela a relação intrínseca entre a ecologia da tradução e a ecologia natural e afirma que “[...] a tradução é a transformação entre as línguas, que pertencem a suas respectivas culturas, ao passo que as culturas derivam do acumular das atividades humanas, e os seres humanos fazem parte da natureza” (Hu, 2010Hu, Gengshen. “”. [Eco-tradutologia: seu pano de fundo e base de desenvolvimento]. Foreign Languages Research, 4, p. 62-64, 2010. DOI: https://doi.org/10.3969/j.issn.1005-7242.2010.04.011
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, p. 64, tradução nossa). Na definição de Hu, a eco-translatologia é “[...] guiada pelos princípios básicos da teoria de adaptação e seleção natural de Darwin, tendo como fundamento o conceito de que a tradução é a adaptação e a seleção e tendo como núcleo a ideia de que a tradução é centrada no tradutor. Trata-se de um novo paradigma de tradução capaz de fazer novas interpretações da tradução” (Hu, 2008bHu, Gengshen. “”. [Interpretação da eco-transdutologia]. Chinese Translators Journal, 29(6), p. 11-15, 2008b., p. 11, tradução nossa).

Dado que os conceitos de “adaptação” e “seleção” na teoria de Darwin estão interligados com as atividades tradutórias, a tradução, consequentemente, é o processo de adaptação e seleção contínua do tradutor. A regra “sobrevivência do mais apto”, por conseguinte, também funciona para a tradução, e assim as traduções que se adaptem ao ambiente ecológico da tradução sobreviverão.

Termos básicos da eco-translatologia

Há vários termos específicos da eco-translatologia. O primeiro é o ambiente ecológico da tradução (Hu, 2008aHu, Gengshen. “”. [Teoria da tradução a partir da terminologia — uma visão geral da teoria da adaptação e seleção da tradução]. Tradução de Shanghai, 2, p. 1-5, 2008a. DOI: https://doi.org/10.3969/j.issn.1672-9358.2008.02.001
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), que se refere ao mundo juntamente apresentado pelo TF, a língua fonte (LF) e a língua alvo (LA). O ambiente ecológico da tradução consiste no complexo de interação interconectada da língua, comunicação, cultura, sociedade, bem como autor, leitor e aquele que se encarrega da tarefa de tradução. O ambiente ecológico da tradução é um conjunto de vários fatores que restringem as melhores escolhas de adaptação e otimização do tradutor.

O segundo termo é o grau de transformação tridimensional (Hu, 2008aHu, Gengshen. “”. [Teoria da tradução a partir da terminologia — uma visão geral da teoria da adaptação e seleção da tradução]. Tradução de Shanghai, 2, p. 1-5, 2008a. DOI: https://doi.org/10.3969/j.issn.1672-9358.2008.02.001
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), que também é conhecido como grau de adaptação e seleção holística. O grau de transformação tridimensional avalia se o tradutor se adapta a um específico ambiente ecológico da tradução, especialmente se consegue a transformação tridimensional, nomeadamente a transformação nas dimensões linguística, cultural e comunicativa. Do ponto de vista da eco-translatologia, em quanto mais dimensões a transformação ocorra, melhor será a tradução.

O terceiro termo é a seleção adaptativa e adaptação seletiva (Hu, 2008aHu, Gengshen. “”. [Teoria da tradução a partir da terminologia — uma visão geral da teoria da adaptação e seleção da tradução]. Tradução de Shanghai, 2, p. 1-5, 2008a. DOI: https://doi.org/10.3969/j.issn.1672-9358.2008.02.001
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). Durante o processo de tradução, o tradutor efetua simultaneamente a adaptação ao ambiente ecológico da tradução, e a seleção, como membro integrante do ambiente ecológico da tradução, do texto alvo (TA). Por isso, a tradução é vista como um ciclo alternativo da adaptação seletiva e seleção adaptativa, em que a adaptação seletiva tem como objetivo manter a tradução efetiva, além de permitir a tradução sobreviver, ao passo que a seleção adaptativa se faz pela optimização de escolhas quanto ao TA.

Transformação tridimensional

A transformação tridimensional constitui o conceito central da eco-translatologia. As abordagens linguísticas, culturais e comunicativas da tradução são baseadas na pesquisa sistemática das práticas de tradução, enquanto a língua, a cultura e a comunicação também têm sido o foco dos teóricos da tradução. Na perspectiva da eco-translatologia, a transformação nas dimensões linguística, cultural e comunicativa evidencia as relações lógicas e inerentes entre a língua, a cultura e a comunicação.

Segundo Hu (2008a)Hu, Gengshen. “”. [Teoria da tradução a partir da terminologia — uma visão geral da teoria da adaptação e seleção da tradução]. Tradução de Shanghai, 2, p. 1-5, 2008a. DOI: https://doi.org/10.3969/j.issn.1672-9358.2008.02.001
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, a transformação na dimensão linguística ocorre em diferentes aspectos e níveis da língua, pois esta transformação se refere à seleção adaptativa, realizada pelo tradutor, acerca da forma da linguagem, ordem das palavras e frases, bem como o estilo da linguagem durante o processo de tradução. Desta forma, o próprio tradutor deve adaptar-se ao ambiente ecológico da tradução, para poder posteriormente fazer a seleção de um texto alvo mais adequado, concretizando a seleção adaptativa.

Além de fatores linguísticos, o tradutor deve prestar atenção à interpretação e transmissão das conotações culturais bilíngues no processo de tradução, levando em consideração as divergências quanto à natureza e quanto ao conteúdo entre a cultura original e a cultura de destino e evitando interpretar, de forma desviada ou até errada, o TF da perspectiva da cultura de destino. Ao realizar a transformação na dimensão cultural, o tradutor deve adaptar-se ao sistema cultural ao qual a língua pertence.

A transformação na dimensão comunicativa se trata de um fator fundamental na produção de uma tradução com alto grau de transformação tridimensional. Conforme Hu (2008a)Hu, Gengshen. “”. [Teoria da tradução a partir da terminologia — uma visão geral da teoria da adaptação e seleção da tradução]. Tradução de Shanghai, 2, p. 1-5, 2008a. DOI: https://doi.org/10.3969/j.issn.1672-9358.2008.02.001
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, o tradutor deve, além de transmitir as informações linguísticas e as conotações culturais, concentrar-se no nível comunicativo e dedicar-se à concretização das intenções comunicativas do autor no TF na tradução.

Tradução das palavras com carga cultural na perspectiva da eco-translatologia

A eco-translatologia tem sua vantagem única na avaliação e orientação da tradução das palavras com carga cultural. Em termos culturais, a eco-translatologia enfatiza a transformação na dimensão cultural, exigindo que a adaptação seletiva e a seleção adaptativa ao nível cultural sejam realizadas no processo de tradução. São destacadas a precisão e a integralidade da transmissão das conotações culturais entre as línguas em questão, e são postas em destaque as distinções entre as origens culturais das palavras a fim de evitar mal-entendidos ao nível cultural.

Ao avaliar ou orientar a tradução das palavras com carga cultural, a eco-translatologia não se limita à dimensão cultural, mas dá importância ao efeito da transmissão das informações que é estreitamente relacionado com as formas da linguagem e a concretização das intenções comunicativas. Portanto, a eco-translatologia aborda a tradução das palavras com carga cultural não apenas a partir do nível cultural, como também dos níveis linguístico e comunicativo.

A eco-translatologia presta atenção à relevância e interação entre as várias dimensões, o que a distingue de demais abordagens dos estudos da tradução e a qualifica para analisar, avaliar e orientar a tradução das palavras com carga cultural.

Análise de caso das traduções das palavras com carga cultural nas duas versões de Viver

Na perspectiva da eco-translatologia, o grau da transformação tridimensional é utilizado como critério para avaliar a qualidade da tradução. Quanto maior o grau da transformação tridimensional, melhor será a qualidade da tradução. A fim de efetuar uma análise comparativa das duas versões de tradução do romance Viver, serão examinadas, por meio da análise de caso, as traduções das palavras com carga cultural das duas versões, com base no seu grau da transformação tridimensional.

Das 164 palavras com carga cultural existentes em Viver, selecionam-se as mais representativas em termos de características linguísticas, elementos culturais e intenções comunicativas, e faz-se posteriormente a análise de caso a partir da perspectiva da transformação tridimensional.

Transformação na dimensão linguística

A essência da transformação na dimensão linguística reside na transformação adaptativa entre a LF e a LA. A fim de realizar a transformação na dimensão linguística, o tradutor deve esforçar-se por manter a forma e o estilo da LF, por via de uma seleção adaptativa.

A linguagem de Yu Hua no romance Viver (Yu, 2004Yu, Hua. . [Viver]. Shanghai: Shanghai Literature and Art Publishing House, 2004.) é simples, concisa e sem inquietação, sendo capaz de despertar, por meio das experiências vividas pelos personagens no romance, a empatia junto aos leitores. Em Viver, Yu Hua recorre a uma grande quantidade de palavras com carga cultural que possuem formatos e estruturas, que, por um lado, são típicas na língua chinesa e mostram uma grande simplicidade e fluidez para os leitores da LF e, por outro, são difíceis de traduzir pela sua única estrutura sintática e peculiar estilo linguístico. Para além de suas funções semânticas, essas palavras são empregues para pôr em destaque uma ação, uma ideia ou uma emoção dos personagens, e até certo ritmo da redação ou alguma rima da escrita especial, ao longo do desenvolvimento do enredo e da caraterização dos personagens. Veja-se a tabela 1, em que são evidenciados o texto fonte (TF), o pinyin (sistema de transliteração fonética oficialmente usado pela China), a tradução de Schmaltz (S) e a de Nabais (N):

Tabela 1
exemplo da transformação na dimensão linguística

Diferentemente do português, cuja gramática tradicional exige hipotaxe na distribuição das frases, o chinês não costuma utilizar palavras de ligação, e as frases não são restringidas por uma estrutura sujeito-predicado rigorosa. Em vez de exigir uma estrutura lógica quanto à construção de frases, o chinês se focaliza mais na coerência inerente. A frase original na tabela 1 é composta por cinco orações curtas de quatro ou cinco caráteres. Cada oração começa com o verbo “做” (zuò, ser/fazer), que prevê a regra e o destino da vida de todos os seres, contendo uma conotação interna de que “o boi deve arar o campo, o cão deve guardar a casa, o monge deve pedir esmolas, o galo deve anunciar o amanhecer e a mulher deve tecer o pano”. Além de adicionar uma suave pausa entre o sujeito e o predicado para o leitor poder sentir a coerência inerente, esta ênfase do verbo na posição inicial da frase incorpora o pensamento fatalista do confucionismo, que divide a vida de uma pessoa em seis partes: “[...] aos 15 anos, empenhei-me no estudo. Aos 30, estabeleci-me. Aos 40, já não tinha dúvidas. Aos 50, compreendi o Mandato do Céu. Aos 60, meus ouvidos estavam afinados. Aos 70, (consegui) seguir o que desejava meu coração, sem infringir as regras” (Confúcio, 2012Confúcio. Os Analectos. Tradução de Giorgio Sinedino. São Paulo: Editora da Unesp, 2012., p. 33). Segundo Giorgio Sinedino, o tradutor da obra, o “Mandato do Céu” é o “destino” e a “Ordem que o Céu dá a cada um” (Confúcio, 2012Confúcio. Os Analectos. Tradução de Giorgio Sinedino. São Paulo: Editora da Unesp, 2012., p. 34).

O destaque da posição do verbo “做” na estrutura sintática do TF transmite, de forma patente, a ideia de que o que está predeterminado pelo destino não pode ser alterado. Proferida pelo protagonista Fuigui, esta afirmação retrata uma emoção que parece infiltrada das vicissitudes da vida dura e, mais importante, da sua reconciliação com a vida depois de tantos sofrimentos infindáveis. Através dessa afirmação, Yu Hua revela a atitude de Fugui face à vida depois de ter passado por todos os tipos de adversidades e traumas, contendo uma resiliência da vida, uma força, e até uma tranquilidade instintiva. E com orações de apenas quatro ou cinco caráteres, toda a frase evidencia um ritmo conciso, forte e acentuado, emitindo, por conseguinte, uma força inegável, para além dos pensamentos filosóficos que os elementos culturais tipicamente chineses contêm.

Pode-se ver nos dois textos alvo que ambos os tradutores adotam a tradução literal, mas as duas traduções são divergentes na estrutura sintática e no estilo linguístico e literário. Na tradução de Schmaltz, a tradutora põe o verbo “ser”, em gerúndio, no início de cada oração, o que separa o sujeito e o predicado com uma vírgula, que permite no TA uma ligeira pausa, que é equivalente à pausa subentendida no TF. Esta tradução preserva o estilo conciso do TF com um ritmo pausado, o que está em conformidade com a imagem de Fugui: um camponês chinês que, depois de ter vivido vidas extremamente contrastantes, tem uma personalidade simples e obediente, mas sempre foi resistente e otimista com relação à vida miserável desde que tinha perdido toda a riqueza.

Por sua vez, a tradução de Nabais não enfatiza o verbo “做”, respeitando a sintaxe mais comum do português: o predicado se segue ao sujeito, criando uma proposição composta de cinco orações simples. O TA também possui uma estrutura breve, mas perde o mesmo ritmo pausado, e por ignorar o verbo “做” do TF, as relações entre o protagonista e a vida ficam enfraquecidas, o que faz com que o TA não passa de ser uma apresentação resumida das funções de diferentes seres no mundo.

Nota-se que a tradução de Schmaltz concretiza uma melhor transformação na dimensão linguística, pela estrutura sintática e estilo da linguagem que são capazes de reproduzir semanticamente o que há de mais importante no TF.

Tabela 2
exemplo da transformação na dimensão linguística

Existe uma abundância de expressões reduplicadas em Viver, o que é outra característica da linguagem literária de Yu Hua. Em primeiro lugar, o uso de expressões reduplicadas reforça o ritmo de ações dos personagens e cria rimas de escrita. Ademais, a reduplicação ilustra e destaca, de forma vívida, a condição emocional e psicológica dos personagens.

O TF na tabela 2 é um exemplo típico do uso de expressões reduplicadas, que além de conter duas reduplicações: “走走哭哭 (zǒu zǒu kū kū, andar e andar, chorar e chorar)” e “哭哭走走 (kū kū zǒu zǒu, chorar e chorar, andar e andar)”, é propriamente uma estrutura de palíndromo, que fortalece ainda mais a repetição no TF, em que Fugui voltou para casa sabendo que devia pagar a dívida à custa de todos os bens da família. A repetição de “走” (zǒu, andar) e “哭” (, chorar) contorna o estado mental e espiritual de Fugui, que está fora de si sem poder conter o choro. Devido à sua estrutura única, esta combinação de reduplicação e palíndromo no TF dificulta a tradução.

A tradução de Schmaltz omite a repetição de “走” e “哭”, tornando “走走” (zǒu zǒu, andar e andar) e “哭哭” (kū kū, chorar e chorar) diretamente em “caminhando” e “chorando”, o que é razoável por causa da ausência do padrão “caminhar caminhar” ou “chorar chorar” em português. No entanto, ela mantém a repetição de “走走哭哭” na sua tradução: “caminhando e chorando, chorando e caminhando”, na mesma ordem do TF. Quanto à tradução de Nabais, o tradutor repete o significado em vez da palavra: o primeiro“走” é “voltei”, enquanto o segundo “走” muda para “andava” e o palíndromo fica omisso no TA. A reduplicação fica visivelmente enfraquecida também. Portanto, do ponto de vista da transformação na dimensão linguística, a tradução de Nabais não pode atingir plenamente o efeito desejado, ao passo que a tradução de Schmaltz é mais marcante e permite uma cadência que é mais próxima da rima do TF.

Transformação na dimensão cultural

O tradutor deve esforçar-se por desbloquear as barreiras causadas pelas diferenças culturais quando faz a tradução das palavras com conotações exclusivas de certas culturas, que muitas vezes dificultam a compreensão por parte dos leitores do TA. Ao traduzir as palavras com carga cultural, o tradutor não apenas transfere a informação semântica, como também deve interpretar todos os elementos culturais contidos no TF aos leitores do TA.

Tabela 3
exemplo da transformação na dimensão cultural

Na tabela 3, o substantivo“良心” (liáng xīn) em chinês se refere às normas de conduta e aos padrões de valores reconhecidos de forma universal pela sociedade chinesa. Como um conceito confucionista, “良心” é uma combinação de todas as restrições morais e normas comportamentais. No TF, quando a China se encontrava numa época difícil e muitas pessoas sofriam de fome, a filha surda-muda de Fugui, Fengxia, retirou uma batata doce da terra. Contudo, Wang Si, com a intenção de ficar com a batata doce, aproveitou a deficiência física de Fengxia mentindo que esta lha tinha roubado. Fugui defendeu a filha, mas os outros acreditaram nas palavras de Wang Si e disseram a Fugui o TF na tabela 3. Com base no contexto, o significado de “良心” é próximo de “honestidade”. Quanto a “做人得讲良心” (zuò rén děi jiǎng liáng xīn), a tradução de Schmaltz é “temos de ser honestos” enquanto a tradução de Nabais é “uma pessoa tem de ser honrada”. Ambos os tradutores adotam a tradução livre, destacando um dos significados da palavra neste contexto. Por outro lado, é difícil encontrar um equivalente da palavra “良心” em português e se se traduzisse literalmente, causar-se-iam mal-entendidos junto dos leitores do TA. Portanto, ambos os tradutores alcançam uma boa transformação na dimensão cultural.

Tabela 4
exemplo da transformação na dimensão cultural

“包产到户” (bāo chǎn dào hù, fixar cotas de produção agrícola para cada família)2 2 É conhecido em inglês como Household contract responsibility system. na tabela 4 foi uma política exclusiva da China e intimamente relacionada com sua realidade econômica e social do fim da década de 1970 e início da década de 1980. Foi implementada nas regiões rurais no âmbito da política de reforma e abertura do país. A política previa que os camponeses tivessem o direito de gerir a terra, organizando diferentes atividades de produção por conta própria. Tirando os impostos agrícolas, o resto da colheita era propriedade de cada família. Antes disso, fora implementado nas regiões rurais o sistema de Comuna Popular, e segundo o qual tudo era compartilhado com base na produção coletiva. Com a nova política, que mudou da produção coletiva para a produção por agregado familiar, a situação econômica da família de Fugui se piorou, devido à falta da mão de obra, pois eram apenas duas pessoas na família. Como os leitores do TA podem não conhecer essa parte da história chinesa, convém fazer uma transformação adaptativa na tradução a fim de permitir aos leitores do TA entenderem a relação entre “包产到户” e a dificuldade financeira cada vez maior de Fugui.

A tradução de Nabais é quase palavra por palavra, que concretiza a transformação na dimensão linguística, enquanto a versão de Schmaltz faz um ajuste na tradução, recorrendo ao procedimento de amplificação para transmitir a mensagem inteira do TF com mais precisão. Nota-se que a parte “quando tivemos de abandonar o sistema de produção coletiva e reassumir a responsabilidade individual” é acrescentada ao TA pela tradução de Schmaltz. Esta estratégia deixa claro o fato de que “包产到户” e a Comuna Popular são dois sistemas divergentes exercidos em diferentes etapas históricas da China, e facilita a compreensão do contexto econômico e social da China, concretizando a transformação na dimensão cultural, e até na dimensão comunicativa.

Transformação na dimensão comunicativa

A transformação na dimensão comunicativa é o processo da seleção adaptativa com base nos propósitos comunicativos do TF. Além de transferir os significados linguísticos e as conotações culturais, a tradução deve transferir as intenções comunicativas do TF, com recurso a métodos da seleção adaptativa. Vejam-se dois exemplos nas tabelas 5 e 6, que exigem a transformação na dimensão comunicativa.

Tabela 5
exemplo da transformação na dimensão comunicativa

É interessante notar as formas de tratamentos de Wang Xi ao pai e à mulher de Fugui. Nos tempos antigos, “老爷” (lǎo ye) era uma forma de tratamento para designar respeito aos nobres, oficiais ou ricos do sexo masculino, que ao mesmo tempo eram senhores de uma família. E “少奶奶” (shào nǎi nai) era uma forma de tratamento dirigida às noras das famílias nobres ou ricas. As formas de tratamento refletem a diferença etária, inclusive geracional e, particularmente, a diferença de status sociais. Em Viver, Wang Xi é rendeiro da família de Fugui, e na relação entre os rendeiros e os proprietários da época relatada pelo romance, os rendeiros dependiam economicamente dos proprietários, contando com um status inferior. Portanto, no diálogo entre Wang Xi e Jiazhen (mulher de Fugui), sente-se sempre o tom humilde de Wang Xi.

Schmaltz traduz “老爷” e “少奶奶” para “senhor” e “senhora”. Mesmo que o substantivo “senhor” em português possa designar “dono de propriedade”, que combina perfeitamente com a identidade do pai de Fugui, não evidencia a diferença geracional no TF, pelo que “老爷” é sogro de “少奶奶”. Por sua vez, Nabais utiliza a transliteração com uma anotação: “Laoye era uma forma de tratamento utilizada por camponeses quando se dirigiam a um proprietário de terras. Caiu em desuso depois da implantação da República Popular em 1949”. Esta estratégia de tradução não apenas transmite com precisão o significado do TF, como também inspira um estilo diferente, permitindo que os leitores do TA conheçam algum aspecto especial da cultura chinesa. No entanto, ele não adota a mesma estratégia ao traduzir a forma de tratamento “少奶奶”, que é traduzida para “menina”. Sendo mais coloquial, esta tradução não transmite com precisão a distância social entre Wang Xi e a mulher de Fugui, nem reflete a hierarquia rígida da sociedade tradicional chinesa que o romance retrata.

No TF da tabela 5, na sequência de notar que o pai de Fugui tinha caído no chão devido à fraqueza física e morrido após ter proferido poucas palavras, Wang Xi foi até à mulher de Fugui para a informar do incidente. A expressão “熟了” (shú le, amadureceu) é um eufemismo que indica de forma suave a morte de alguém. Segundo o Dicionário Xinhua online, a expressão em chinês se refere aos frutos de uma planta que são maduros ou uma cultura que está pronta para ser colhida. Tal como em muitas outras culturas, na cultura chinesa também não se costumam expressar diretamente as palavras que inspiram azar ou ominosidade. A tradução de Nabais não expressa precisamente o significado da morte, enquanto na versão de Schmaltz, Wang Xi notificou a morte de “老爷” e ao mesmo tempo utiliza um tom eufemístico e solene, transmitindo com sucesso a intenção comunicativa do TF.

No entanto, ambas as traduções podem ser otimizadas a partir da transformação na dimensão comunicativa. A primeira solução é adotar a estratégia de domesticação, em que se mantém a tradução de Schmaltz sobre “老爷” (lǎo ye) e traduz “少奶奶” para “jovem senhora”. O segundo procedimento incide na transliteração de Nabais, mantendo “Laoye” para “” e traduzindo “” para “Shaonainai”, adicionando uma anotação explicativa.

Tabela 6
exemplo da transformação na dimensão comunicativa

Em Viver, Fugui era o filho único de uma família rica. Ele passava dias e noites jogando no casino ou saindo com prostitutas. Deparou um dia com o sogro quando passeava com uma prostituta e o TF da tabela 6 retrata a reação do sogro. Ficando imediatamente zangado, o sogro teve de conter a fúria por causa da superioridade do genro, oriundo de uma família rica. É por isso que reagiu com esse ar com tanta irritação e ao mesmo tempo se sentindo humilhado. Yu Hua usa a comparação explícita de símile para comparar a cara do sogro a um “松花蛋” (sōng huā dàn), que é uma comida exclusiva na China e é feita por conservar por diversas semanas um ovo de pata com uma mistura de argila, cinzas, sal e cal. Essa comparação é interessante, porque a cor de “松花蛋” é verde escuro, e compará-lo ao rosto do sogro, que tem a pele amarela, pode refletir de forma vívida a irritação e o tom ofendido dele. Por isso, o TF tem uma forte intenção comunicativa na reprodução da irritação e da sensação de ofensa do sogro.

Schmaltz substitui a imagem de “松花蛋” por “pimentão” para ilustrar claramente a raiva do sogro, especificando a cor vermelha do “pimentão” e criando uma comparação razoável, pois todos os leitores do TA sabem que a cor vermelha do rosto representa na maioria dos casos a irritação. Nabais, por sua vez, tenta manter a imagem de “松花蛋” no TA, mas traduz para “ovo podre”, que não corresponde ao TF e, ainda por cima, embora os leitores de língua português talvez conheçam o ovo podre, não poderão estabelecer a relação entre a cor do ovo podre e a reação do sogro. Posto isto, a tradução de Nabais não chega a fazer a transformação na dimensão comunicativa, sendo que a versão de Schmaltz alcança a intenção comunicativa do TF.

Considerações finais

As palavras com carga cultural marcam sua existência abundante em obras literárias e constituem uma das maiores dificuldades para a tradução. O presente trabalho faz o levantamento das palavras com carga cultural na obra-prima Viver do escritor chinês Yu Hua, e recolhe as traduções dessas palavras nas duas versões publicadas em 2008 por Schmaltz (Yu, 2008Yu, Hua. Viver. Tradução de Márcia Schmaltz. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.) e em 2019 por Nabais (Yu, 2019Yu, Hua. Viver. Tradução de Tiago Nabais. Lisboa: Relógio D’ Água Editores, 2019.), anatomizando, à luz da eco-translatologia, as traduções recolhidas, e comparando, por via da análise de caso, as duas versões de tradução do romance chinês.

A eco-translatologia é uma abordagem teórica pertinente para avaliar a tradução, especialmente a tradução das palavras com carga cultural. Sendo o conceito central da eco-translatologia, a transformação tridimensional é capaz de avaliar efetivamente as traduções das palavras com carga cultural em Viver. Com efeito, a tradução que concretiza, por um lado, a adaptação tridimensional ao ambiente ecológico da tradução e, por outro, a seleção adaptativa com base na adaptação seletiva tem mais oportunidade de sobreviver.

Da análise de caso obtém-se a conclusão de que a tradução de Viver em 2008 alcança um maior grau de transformação tridimensional, com relação à tradução das palavras com carga cultural chinesa, pelo que a tradução evidencia uma compreensão mais precisa do TF, uma melhor restauração do estilo do TF e uma seleção mais flexível das estratégias de tradução, alcançando desta forma uma melhor transformação nas dimensões linguística, cultural e comunicativa e se adaptando melhor, por conseguinte, ao ambiente ecológico de tradução.

A eco-translatologia é também uma abordagem teórica pertinente para orientar a tradução. Neste paradigma da tradução, como membro integrante do ambiente ecológico da tradução, o tradutor deve, além de dominar bem o par das línguas em questão, possuir conhecimentos suficientemente profundos das culturas envolvidas para interpretar corretamente o TF em termos semânticos, culturais e comunicativos. Caso contrário, o tradutor não “sobreviverá” ao ambiente ecológico tradução, e por conseguinte, não será uma opção perfeita para tal tarefa de tradução. Durante o processo de tradução, o tradutor ideal esforça-se por se adaptar, de forma seletiva, ao ambiente ecológico da tradução, recorrendo às estratégias de tradução pertinentes a fim de produzir traduções que possam sobreviver nas dimensões linguística, cultural e comunicativa.

  • 1
    O termo Eco-translatologia (Eco-translatology) apareceu pela primeira vez no discurso “Interpretação da Eco-translatologia” proferido por Hu Gengshen na Conferência “Tradução da cultura global: rumo à construção de teorias interdisciplinares” em 2006. Hu publicou o artigo”牛态翻译学解读” (Interpretação da Eco-translatologia) em 2008.
  • 2
    É conhecido em inglês como Household contract responsibility system.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    13 Out 2022
  • Aceito
    14 Mar 2023
  • Publicado
    Abr 2023
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