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A Mulher no Contexto das Drogas: Representações Sociais de Usuárias em Tratamento1 1 Artigo derivado da tese de doutorado da primeira autora, sob colaboração da segunda e terceira autora, defendida no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba. Apoio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq - Grant # 140154/2015-9).

La Mujer en el Contexto de las Drogas: Representaciones Sociales de Usuarios em Tratamiento

Resumo:

O consumo de drogas por mulheres é um fenômeno influenciado por discursos acerca das relações de gênero e das estruturas sociais normatizadoras. O objetivo deste estudo foi analisar a dimensão representacional acerca da mulher usuária de drogas a partir da Teoria das Representações Sociais. Trata-se de um estudo qualitativo, de caráter descritivo e de campo, com 45 usuárias em tratamento. Utilizou-se entrevista semiestruturada, submetida à análise textual com uso do software IRAMUTEQ. Os resultados indicaram que a mulher usuária de drogas está representada como alguém que oferece perigo e que não tem o controle de si, ancorada em elementos representacionais objetivados na ruptura de comportamentos pautados nas normas sociais, distanciando-se, assim, dos papéis sociais atribuídos ao feminino. Tais representações postas na sociedade e compartilhadas pelas usuárias têm impacto na forma como elas lidam com a dependência química, repercutindo na inclusão sociofamiliar destas mulheres, na expressão de sua identidade e no exercício de seus papéis sociais.

Palavras-chave:
drogas; gênero; representação social; mulheres

Resumen:

El consumo de drogas por mujeres es un fenómeno influenciado por discursos acerca de las relaciones de género y las estructuras sociales normatizadoras. Se objetivó analizar la dimensión representacional sobre la mujer usuaria de drogas utilizándose la Teoría de las Representaciones Sociales. Estudio cualitativo, de carácter descriptivo y de campo, con 45 usuarias en tratamiento. Se usó entrevista semiestructurada, sometida al análisis textual mediante el software IRAMUTEQ. Los resultados indicaron que la usuaria de drogas está representada como alguien que ofrece peligro y sin control de sí misma; sujeta a elementos representacionales objetivados en la ruptura de comportamientos pautados por normas sociales, alejándose, así, de los papeles sociales atribuidos al femenino. Tales representaciones puestas en la sociedad y compartidas por las usuarias tienen impacto en la forma como estas lidian con dependencia química, repercutiendo en su inclusión sociofamiliar, en la expresión de identidad y en el ejercicio de papeles sociales.

Palabras clave:
drogas; género; representación social; mujeres

Abstract:

Women drug comsumption is a phenomenom influenced by speeches regarding gender relationships and standardizing social structures. This study aims to analyze the representational dimension of female drug users through the social representation theory; it is a qualitative, descriptive field study with 45 women admitted to therapeutic communities and rehabilitation clinics in the states of Paraíba and Pernambuco, Brazil. This study uses a sociodemographic questionnaire and a semi-structured interview, which were submitted to qualitative textual analysis using IRAMUTEQ software. The results indicate that the female drug user is represented as someone who presents a threat and lacks self-control; anchored in representational elements concerning the transgression of social norms, she is considered to have set herself apart from the social roles assigned to women. Such images projected in society and shared by the users affect the manner in which they address chemical dependency and have consequences for their inclusion in their families and society, their expression of identity and the manner in which they perform social roles.

Keywords:
drugs; gender; social representation; women

Dentro do contexto plural das relações na sociedade, localizar a discussão da feminilidade no contexto de uso de drogas é deparar-se com um fenômeno complexo, relacional em sua gênese, impulsionado por construções simbólicas e representacionais, que tem como pano de fundo aspectos políticos, ideológicos e macrocontextual, que se inter-relacionam e integram o universo consensual sobre o que as pessoas pensam e representam as drogas no universo feminino.

Há pouco mais de algumas décadas, tem se revelado maior visibilidade às mulheres e os possíveis impactos sociais e de saúde decorrentes do seu envolvimento com as drogas, pois, acreditava-se que a dependência química não acometia esse público, uma vez que as mulheres não possuíam problemas vivenciais “visíveis” em relação às drogas, e, portanto, foram aviltadas da esfera pública (Medeiros, Maciel, Sousa & Vieira, 2015Medeiros, K. T., Maciel, S. C., Sousa, P. F., & Vieira, G. L. S. (2015). Vivências e representações sobre o crack: Um estudo com mulheres usuárias. Psico-USF, 20(3), 517-528. doi: 10.1590/1413-82712015200313
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). Isso permite se pensar que o aumento da prevalência do abuso e da dependência de drogas entre as mulheres, nos últimos anos, não foi acompanhado pelo desenvolvimento de estudos sobre suas necessidades, e assim, pode-se afirmar que, a atenção às especificidades femininas nesse cenário foi marginalizada, revestindo-se majoritariamente de explicações e de interpretações de cunho moral - produtos de uma construção sociocultural em torno do gênero feminino e dos seus papeis sociais (Ferreira, 2013Ferreira, L. O. (2013). Saúde e relações de gênero: Uma reflexão sobre os desafios para a implantação de políticas públicas de atenção à saúde da mulher indígena. Ciência & Saúde Coletiva, 18(4), 1151-1159. doi: 10.1590/S1413-81232013000400028
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).

Mudanças no paradigma social da mulher, como as aproximações entre os papéis sociais de homens e mulheres, têm sido apontadas pela literatura como um dos fatores para o aumento do consumo de drogas pelo público feminino, como apontam Marangoni e Oliveira (2012Marangoni, R. S., & Oliveira, M. L. F. (2013). Fatores desencadeantes do uso de drogas de abuso em mulheres. Texto & Contexto Enfermagem, 22(3), 662-670. doi: 10.1590/S0104-07072013000300012
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). Na atualidade as mulheres têm sido um dos públicos-alvo de campanhas publicitárias que endereçam a esse grupo social algumas drogas líticas como o álcool e, subliminarmente, o incentivo ao uso de estimulantes e anorexígenos, veiculando-os a ideia de status de beleza com bem estar e ascensão social, reforçando regras para o comportamento social e a configuração ideal do corpo feminino (Ferreira, 2013Ferreira, L. O. (2013). Saúde e relações de gênero: Uma reflexão sobre os desafios para a implantação de políticas públicas de atenção à saúde da mulher indígena. Ciência & Saúde Coletiva, 18(4), 1151-1159. doi: 10.1590/S1413-81232013000400028
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). O apelo psicológico dos meios de comunicação acaba influenciando de forma negativa a iniciação e a permanência do consumo de drogas por este público.

De acordo os dados do Relatório Mundial sobre Drogas (United Nations Office on Drugs and Crime [UNODC], 2016United Nations Office on Drugs and Crime. (2016). Word Drug Report. Vienna, Austria: UNODC. Recuperado de http://www.unodc.org/doc/wdr2016/WORLD_DRUG_REPORT_2016_web.pdf
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), estima que há 29 milhões de pessoas “dependentes de drogas” em todo o mundo, sendo registrado aumento do público feminino nos perfis epidemiológicos. Segundo esta publicação, nos Estados Unidos, por exemplo, verificou-se que na última década mais mulheres do que homens começaram a usar heroína, conforme se observa que no período de 2002-2004 a estatística era de 0,08%, no período de 2011-2013 esse número subiu para 0,16%. Em país europeu, como Portugal, por exemplo, as mulheres vêm apresentando maiores taxas de continuidade do consumo de maconha, ecstasy e de cogumelos alucinógenos, quando comparadas aos homens (Ministério da Saúde, 2015Ministério da Saúde. Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências. (2015). Relatório anual: A situação do país em matéria de drogas de toxicodependência. Lisboa, Portugal: SICAD. Recuperado de http://www.sicad.pt/PT/Publicacoes/Documents/Relat%C3%B3rio%20Anual%20Drogas%20e%20Toxicodepend%C3%AAncias%202015.pdf
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).

No Brasil, pesquisa de abrangência nacional realizada pela Fundação Oswaldo Cruz [FIOCRUZ] (2013)Fundação Oswaldo Cruz. (2013). Maior pesquisa sobre crack já feita no mundo mostra o perfil do consumo no Brasil. Recuperado de https://portal.fiocruz.br/pt-br/content/maior-pesquisa-sobre-crack-j%C3%A1-feita-no-mundo-mostra-o-perfil-do-consumo-no-brasil
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sobre o consumo de cocaína/crack, revelou que no país há cerca de 370 mil usuários de crack, dos quais 21,3% são mulheres. Os usuários que frequentam as chamadas “cracolândias”, as mulheres somam um quantitativo de 20% e encontram-se em uma conjuntura de maior vulnerabilidade, apresentando baixa escolaridade; experiência diária de viver em situação de rua; histórico de violência sexual; uso incomum de preservativos, troca de sexo por dinheiro e/ou drogas, dentre outras situações marcantes de risco à saúde.

Tal contextualização vem demonstrado a notoriedade do fenômeno de dependência de drogas, em comparação com outros períodos da história. No entanto, a imagem de “mulher usuária de drogas” ainda é vista com ressalvas pela sociedade, seja pelo comportamento abusivo em relação à substância, seja pelo descumprimento de padrões de comportamentos esperados para o feminino, cuja compreensão pela sociedade ainda é feita através da desconstrução dessa mulher enquanto “boa” e “virtuosa”. Isso se deve, em grande medida, à narrativa discursiva que ao longo da história delegou determinadas características e postos específicos para homens e mulheres, construídos por meio de processos políticos hierarquizados e de poder entre os gêneros, os quais foram e ainda são imbuídos de teor valorativo na organização social. Fruto dessa construção foi associado às mulheres um imaginário social de que estas seriam mais frágeis, mais afetivas, passivas e limitadas ao espaço doméstico, tendo como prioridade os cuidados materno-familiares, e enquadrando-as em modelos “ideais” de feminilidade (Ferreira, 2013Ferreira, L. O. (2013). Saúde e relações de gênero: Uma reflexão sobre os desafios para a implantação de políticas públicas de atenção à saúde da mulher indígena. Ciência & Saúde Coletiva, 18(4), 1151-1159. doi: 10.1590/S1413-81232013000400028
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). Portanto, através desse viés, revelado por estruturas de desigualdades de gênero, o uso de drogas por mulheres deflagra um terreno minado por representações depreciativas acerca da mulher usuária de drogas, que legitimam a expressão de atitudes preconceituosas e a exclusão social (Medeiros et al., 2015Medeiros, K. T., Maciel, S. C., Sousa, P. F., & Vieira, G. L. S. (2015). Vivências e representações sobre o crack: Um estudo com mulheres usuárias. Psico-USF, 20(3), 517-528. doi: 10.1590/1413-82712015200313
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).

Não muito difícil de ser identificado nos discursos populares ou veiculado por meios de comunicação, ao se remeter as mulheres usuárias de drogas são acionadas categorias morais na busca de dar significado ao fenômeno, ultrapassando o âmbito da saúde e se articulando com práticas jurídicas e, consequentemente, de polícia sobre a questão das drogas no Brasil. Ainda que regulamentada a questão das drogas no país, por meio da Lei Federal 11.343 (Lei No. 11.343, 2006Lei No. 11.343, de 23 de agosto de 2006 (2006, 24 de agosto). Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas. Diário Oficial da União, seção 1.), onde o usuário passa a ser considerado “doente” por causa da dependência desencadeada pela doença e/ou por problemas psíquicos, ainda estão presentes no imaginário social a associação das drogas a comportamentos transgressores ou desviantes, especialmente quando se refere às substâncias ilícitas.

Para Bucher (1992Bucher, R. (1992). Drogas e drogadição no Brasil. Porto Alegre, RS: Artes Médicas.), as mulheres usuárias de drogas resistem ao controle das regras legais e morais da sociedade, e, portanto, causam “estranhamento” no sistema social vigente. Essa perspectiva se aproxima dos estudos realizados por Becker (2008Becker, H. S. (2008). Outsiders: Estudos de sociologia do desvio (M. L. X. A. Borges, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Zahar.) com usuários de maconha e músicos sobre o comportamento desviante, este entendido a partir da noção de que grupos sociais estabelecem o que é considerado infração às regras e a naturalização e imposição de rótulos sobre os que são designados como desviantes. Sobre tal aspecto, Goffman (2006Goffman, E. (2006). Estigma: La identidad deteriorada (L. Guinsberg, Trad.). Buenos Aires, Argentina: Amorrortu.) faz uma análise simbólica de rótulos e os define enquanto “marca” ou atributo indesejável, constituído e imposto pela sociedade que estabelece um modelo de categoria de “normalidade”. O não pertencimento a essa categoria de normalidade, no caso as usuárias, as colocariam como alvos de moralização e representações depreciativas, o que as desqualificam e as despersonalizam enquanto “sujeitos desejáveis”, e por isso, são atribuídos rótulos de periculosidade e ameaça ao convívio social.

Reflexos de manifestações individuais e sociais dos grupos, tais representações trazem à tona construções sociais que podem ocasionar processos de vulnerabilização nos diversos aspectos da vida mulher, repercutindo na esfera biopsicossocial (Medeiros, et al., 2015Medeiros, K. T., Maciel, S. C., Sousa, P. F., & Vieira, G. L. S. (2015). Vivências e representações sobre o crack: Um estudo com mulheres usuárias. Psico-USF, 20(3), 517-528. doi: 10.1590/1413-82712015200313
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). Apesar da relevância do tema, é escassa a literatura que trata sobre o envolvimento do grupo de mulheres com as drogas ultrapassando as fronteiras do individual e do biológico, buscando uma compreensão do fenômeno a nível societal, com enfoque na produção de discursos e representações acerca desse grupo de pertença.

A fim de se debruçar sob tal problemática e ancorada numa perspectiva de análise social mais ampla, essa pesquisa tem seu campo teórico consolidado na Psicologia Social, sob as contribuições psicossociológicas da Teoria das Representações Sociais (TRS), a qual é compreendida enquanto reflexos das manifestações - individuais e sociais - do grupo social com o qual o sujeito compartilha experiências e vivências da sua vida pessoal, ou seja, suas respostas individuais, de forma que os pronunciamentos semelhantes revelam certo nível de generalização, uma forma coletiva de pensar sobre um mesmo assunto, como propõe Jodelet (2001Jodelet, D. (2001). Representações sociais: Um domínio em expansão. Rio de Janeiro, RJ: Ed. UERJ.).

Com isso, ao se investigar o fenômeno da mulher usuária de drogas à luz da TRS, busca-se conceber o objeto social em questão de maneira não apriorística, o que significa dizer que o objeto de estudo será compreendido à luz de um enfoque dinâmico e multifacetado, direcionado para a construção de um conhecimento fruto da práxis dos diversos atores sociais e compartilhado por seus grupos de pertenças (Jodelet, 2001Jodelet, D. (2001). Representações sociais: Um domínio em expansão. Rio de Janeiro, RJ: Ed. UERJ.). No caso desta pesquisa, as próprias mulheres usuárias de drogas, trazendo as suas vivências e experiências, resultando num saber consensual, elaborado, transformado e partilhado sobre o objeto social em análise.

Em face disto, a questão que se intenciona problematizar no presente estudo faz menção à produção dos saberes populares construídos acerca da mulher no contexto de uso de drogas, e especificamente, que conteúdos representacionais fundamentam os discursos destas mulheres os quais são absolvidos do contexto social mais amplo, na qual estão inseridas. Acredita-se que há um universo consensual de representações sociais depreciativas acerca da mulher usuária de droga, que implica exclusão de direitos pautados em suas diferenças de papéis sociais não aceitas e, por vezes, não toleradas, substanciando discursos sociais a partir dos atravessamentos de gênero.

Com base no exposto, o objetivo deste estudo foi analisar a dimensão representacional acerca da mulher usuária de drogas a partir da Teoria das Representações Sociais. Nessa perspectiva, este estudo visou analisar a representação social acerca da mulher usuária de drogas, de forma a buscar esses significados compartilhados socialmente e que também são apropriados e veiculados pelas próprias usuárias de drogas, tendo impacto nas representações e nas suas condutas, interferindo no exercício dos seus papéis sociais e na sua inclusão como sujeito ativo e de direitos. Visando contribuir, sobretudo, para o conhecimento de elementos que auxiliem no tratamento e na prevenção da dependência de substâncias psicoativas no grupo de mulheres, partindo da riqueza das vivências destas mulheres, dando voz para elas e tornando-as parte ativa no processo.

Método

O fenômeno social investigado foi pautado na abordagem qualitativa, que tem o social como mundo de significados passível de investigação a partir da compreensão minuciosa das representações dos atores investigados.

Participantes

O presente estudo se apresenta enquanto uma pesquisa de campo, descritiva e de amostragem não probabilística e de conveniência. Totalizaram 45 mulheres usuárias de drogas (idade média de 29,11 anos), que se encontravam em tratamento em Comunidades Terapêuticas e em Clínicas de Reabilitação, exclusivas para tratamento de mulheres dependentes químicas, localizadas nos Estados da Paraíba (PB) e de Pernambuco (PE).

Foram incluídas as participantes que estavam internas nos locais escolhidos para a coleta, com idade maior que 18 anos e que aceitaram participar do estudo. Excluíram-se as que apresentavam condições cognitivas que comprometessem a compreensão dos instrumentos. O número amostral foi estabelecido pelo critério de saturação teórica a qual conforme Fontanella, Ricas e Turato (2008Fontanella, B. J. B., Ricas, J., & Turato, E. R. (2008). Amostragem por saturação em pesquisas qualitativas em saúde: Contribuições teóricas. Cadernos de Saúde Pública, 24(1), 17-27. doi: 10.1590/S0102-311X2008000100003
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), consiste num processo contínuo de análise dos dados onde a interrupção da introdução de novos sujeitos à amostra ocorre no momento em que os dados coletados começam a se repetir e a se tornarem redundantes, não acrescentando mais contribuição significativa ao conteúdo da representação.

Instrumentos

Aplicou-se um questionário sócio-demográfico com perguntas que pudessem caracterizar a amostra e entrevistas semiestruturadas, individuais, aplicadas com uso do gravador, garantindo-se o anonimato das participantes. A entrevista consistia em duas questões na qual deveriam responder, livremente: “Como você se vê?” e “Como você acha que a sociedade vê a mulher usuária de drogas?”.

Procedimento

Coleta de Dados. A fase de coleta de dados ocorreu nos próprios locais de tratamento, em salas reservadas que possibilitaram um diálogo individualizado entre o pesquisador e a participante. Esclarecido o propósito da pesquisa, solicitou-se o preenchimento dos dados do questionário e iniciou-se a gravação da entrevista, a qual teve uma duração, em média, 25 minutos.

Análise dos Dados. O software IRAMUTEQ (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires) é um programa informatizado que se ancora no software R e permite diversos tipos de análises de dados textuais, dentre eles a Classificação Hierárquica Descendente (CDH) (Justo & Camargo, 2014Justo, A. M., & Camargo, B. V. (2014). Estudos qualitativos e o uso de softwares para análises lexicais. In C. Novikoff, S. R. M. Santos, & O. B. Mithidieri (Orgs.), Caderno de artigos: X SIAT & II Serpro (pp. 37-54). Duque de Caxias, RJ: UNIGRANRIO. Recuperado de http://www.academia.edu/11753344/Estudos_qualitativos_e_o_uso_de_softwares_para_an%C3%A1lises_lexicais
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). Neste trabalho, os dados textuais analisados foram provenientes das 45 entrevistas realizadas. Esta análise lexográfica abrange a lematização e o cálculo de frequência de palavras, o software fornece agrupamentos maiores chamados de eixos, e nestes, estão organizadas classes hierarquizadas que são caraterizadas por seus vocábulos mais característicos denominados à posteriori pelo pesquisador, o qual deverá nomear os eixos e as classes de acordo com as palavras mais representativas em cada classe e de acordo com a teoria utilizada para discussão dos resultados (Justo & Camargo, 2014Justo, A. M., & Camargo, B. V. (2014). Estudos qualitativos e o uso de softwares para análises lexicais. In C. Novikoff, S. R. M. Santos, & O. B. Mithidieri (Orgs.), Caderno de artigos: X SIAT & II Serpro (pp. 37-54). Duque de Caxias, RJ: UNIGRANRIO. Recuperado de http://www.academia.edu/11753344/Estudos_qualitativos_e_o_uso_de_softwares_para_an%C3%A1lises_lexicais
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).

Considerações Éticas

A presente pesquisa obteve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, localizado no Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba (CEP / CCS-UFPB), sob o protocolo de No. 0349/12, respeitando-se todos os cuidados éticos com pesquisa envolvendo seres humanos. Além disso, solicitou-se às participantes a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados e Discussão

No tocante à caracterização das participantes, foi possível identificar que a faixa etária das usuárias variou entre 18 e 42 anos (M = 29,11 anos); a maioria mulheres solteiras (62%); e predominaram as que tinham ensino fundamental completo (58%). Quanto aos aspectos econômicos, 40% exerciam atividades informais, e a maioria concentrou-se entre 1 e 3 salários mínimos (49%), vindo em seguida aquelas que afirmaram não ter renda fixa (27%). Em relação ao número de filhos, sobressaiu àquelas que relataram ter de 1 a 2 filhos, correspondendo à 51% da amostra. Consoante estes dados, é possível conhecer o contexto do qual emergiram as representações sociais acerca da mulher usuária de drogas, tratando-se, portanto, de mulheres jovens em idades reprodutivas, com baixo nível socioeconômico e com vivências maternas em suas trajetórias. Estes achados refletem os dados da literatura em que há associação do abuso de drogas com situações de vulnerabilidades social e de exclusão (Neto & Santos, 2016Acioli Neto, M. L., & Santos, M. F. S. (2016). Os usos de crack em um contexto de vulnerabilidade: Representações e práticas sociais entre usuários. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 32(3), e32326. doi: 10.1590/0102-3772e32326
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).

Os dados processados a partir da CHD contemplam 45 Unidades de Contexto Iniciais (UCI) (entrevistas), sendo divididos em 1.540 Unidades de Contexto Elementar (UCE), contendo 7.463 palavras ou vocábulos distintos. O aproveitamento desse corpus compreendeu 71% das UCEs e foram considerados para análise os vocábulos com os χ² (qui-quadrado) a partir de 3,84 com 1 grau de liberdade, sendo estes significativos e revelando maior força associativa entre cada palavra e sua classe correspondente (Azevedo, Costa & Miranda, 2013Azevedo, D. M., Costa, R. K. S., & Miranda, F. A. N. (2013). Use of the ALCESTE in the analysis of qualitative data: Contributions to researches in nursing [Special number]. Journal of Nursing UFPE on line, 7(7), 5015-5022. doi: 10.5205/reuol.4700-39563-1-ED.0707esp201326
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).

Na interface dos resultados, o software produziu um dendograma (Figura 1) que diz respeito à organização de quatro classes referentes à representação social acerca da mulher usuária de drogas, sendo estas classes hierarquizadas e organizadas pelo programa de acordo com seu conteúdo lexical, estando ainda articuladas por meio de dois grandes eixos, os quais indicam agrupamentos de contextos que reproduzem as narrativas oriundas da entrevista. Neste dendograma, observa-se a descrição de cada uma das classes, composta pelo título e seguido pelas palavras de maior frequência e associação com a referida classe (χ²), bem como pelo número de UCEs que a compõe.

Figura 1:
Dendograma ou classificação hierárquica descendente sobre as representações de usuárias em tratamento.

A Figura 1 mostra a articulação dos seguintes eixos: Eixo 1 - Ameaça Social e Eixo 2 - Quebra dos Padrões Normativos, entendidos como complementares quanto à interpretação do fenômeno em análise. Nesse entrelaçamento de eixos, pode-se observar a presença de elementos relacionados à contextualização das usuárias de drogas, como também elementos específicos e figurativos às dimensões interpretativas do feminino na sociedade.

O Eixo 1 (Ameaça Social) remete a forma como a sociedade encara as mulheres usuárias de drogas, enquanto “perigosa” (Classe 2 - Periculosidade) e “impulsiva” (Classe 1 - Impulsividade). Os discursos emergidos nestas classes mostraram que a usuária de drogas é vista como agente causador de problemas, e por isso, visto enquanto ameaça à sociedade. O Eixo 2 (Quebra de Padrões Normativos), engloba elementos referentes à ruptura do comportamento da mulher usuária de drogas com as normas sociais figurativas ao feminino no seio social, revelando por meio de discursos, a perda de valor da mulher usuária de drogas, tida como “problema”, e também, o seu distanciamento dos papéis sociais a ela atribuídos. Neste eixo encontram-se discussões que revelam assimetrias de gênero e as relações de poder ainda presentes em relação à mulher na sociedade, formada pelas Classes 4 (Afastamento dos papéis Sociais Femininos) e Classe 3 (Desvalorização Moral da figura da Mulher)

Serão descritos abaixo os eixos e as classes na ordem dada pelo programa, sendo expressas algumas palavras com o χ² que obtiveram maior frequência e os dados mais característicos das classes.

Eixo 1 - Ameaça Social: Periculosidade (classe 2) e Impulsividade (classe 1)

Os conteúdos reunidos nesse eixo representam questões relativas ao grupo de mulheres usuárias de drogas, onde este é vinculado à aspectos de marginalidade, violência e perda do controle sobre si e que pode cometer qualquer ato para manter o consumo de substâncias.

Na classe 2 (Periculosidade) fica evidente que a imagem da mulher usuária de drogas foi relacionada à alguém que oferece perigo, seja no contexto familiar, como o ato de subtrair objetos domésticos ou itens pessoais de pessoas próximas, situação destacada pelas expressões que foram fortemente associadas a classe em questão, como exemplo, as palavras “casa” e “levar”, como também a realização de roubos e assaltos em contextos públicos, representado pelas palavras “roubar” e “tomar”. O trecho abaixo é ilustrativo desse discurso:

Às vezes saía de casa para roubar na rua, pegava as coisas no supermercado, na casa do povo. Mas chegou ao ponto que se eu pedisse um gole de água, ninguém me deixava nem entrar com medo de levar alguma coisa. Todos ficavam com muito medo de eu roubar um celular (Mulher 15, idade 24 anos).

Com base no fragmento de fala da usuária relatada acima, é possível identificar conteúdos representacionais que associam as usuárias de drogas a contextos de marginalidade e à agentes causadores de desagregação à ordem social. Sobre esse aspecto, alguns autores também pontuam que usuários são comumente vistos como perigosos, violentos e únicos responsáveis pela sua condição (Aciole Neto & Souza, 2016Acioli Neto, M. L., & Santos, M. F. S. (2016). Os usos de crack em um contexto de vulnerabilidade: Representações e práticas sociais entre usuários. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 32(3), e32326. doi: 10.1590/0102-3772e32326
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). Em contexto internacional, Fortney et al. (2005Fortney, J., Mukherjee, S., Curran, G., Fortney, S., Han, X., & Booth, B. M. (2005). Factors associated with perceived stigma for alcohol use and treatment among at-risk drinkers. The Journal of Behavioral Health Services & Research, 31(4), 418-429. doi: 10.1007/BF02287693
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) em seu estudo verificaram a prontidão dos profissionais da atenção primária de implementar cuidados preventivos em relação aos usuários de drogas, e os resultados apontaram que os profissionais não se sentiam aptos para trabalhar com tal público, uma vez que atribuía-lhes crenças de periculosidade, percepção de culpa do paciente sobre sua condição e, por isso, eram alvos de preconceito e segregação.

Posto isso, percebe-se que a concepção das usuárias enquanto sujeitos perigosos está associada ao potencial para interferir na estabilidade, e dessa forma, na funcionalidade da sociedade. Logo, essa concepção compreende que a dependência de drogas é uma ameaça concreta aos “valores sociais”, e por isso, visto como um “desvio”, como propõe Becker (2008Becker, H. S. (2008). Outsiders: Estudos de sociologia do desvio (M. L. X. A. Borges, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Zahar.), ou seja, agente que produz contínua desagregação à ordem social, com significativas repercussões, especialmente, a nível familiar.

A mulher usuária, como vista na presente pesquisa, se equipara ao homem usuário de drogas, sendo vista como perigosa. Ela, no caso da dependência, perde sua identidade feminina e veste uma roupagem de usuário de drogas vinculado à criminalidade e a periculosidade. O fator determinante nas relações e nos estereótipos, no caso das drogas, não será o gênero, mas sim o abuso das drogas e a relação com a marginalidade e a criminalidade.

Em continuidade, a classe 1 (Impulsividade) reúne discursos que remetem à comportamentos impulsivos a falta de controle de si. Nessa classe, a usuária de drogas é pensada à partir de aspectos relacionados ao consumo da substância, seus efeitos e sensações proporcionadas, como também a partir do comportamento da usuária diante da droga, exemplificado a partir das palavras “Fumar” e “Sentir”. O trecho a seguir ilustra um fragmento de fala representativa:

A gente não sentia mais alegria em nada. O único momento de prazer era no momento de fumar, eu não queria mais saber de nada, não adiantava ninguém falar nada, eu só queria sentir aquele momento. Saía pra fumar sempre que batia aquela vontade incontrolável. Eu me via assim, incontrolável (Mulher 44, idade 37 anos).

Sobre esse aspecto, deve ser ressaltado que as interpretações que o conhecimento do senso comum tem a respeito da problemática envolvida com as drogas, perpassam pelas mudanças comportamentais, onde se tem o usuário enquanto um sujeito movido a impulsos, imprevisível, e por isso, destituído da razão. Esta lógica moderna de se garantir parâmetros de normalidade e organização do que é socialmente aceito, também é observado no grupo de doentes mentais, como relata o estudo realizado por Maciel, Pereira, Lima e Souza (2015Maciel, S. C., Pereira, C. R., Lima, T. J. S., & Souza, L. E. C. (2015). Desenvolvimento e validação da Escala de Crenças sobre a Doença Mental. Psicologia: Reflexão e Crítica, 28(3), 463-473. doi: 10.1590/1678-7153.201528305
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). No que refere aos usuários de drogas, além do estigma de “louco”, “sem razão”, “imprevisível” também é atribuído o estigma de “drogado”, especialmente quando associados às drogas ilícitas que são frequentemente relacionadas a desvios de conduta, fracasso e crime (Hartmann, 2013Hartmann, M. R. (2013). Representações sociais e ideologia: O usuário de drogas segundo Correio do Povo e Zero Hora (Tese de doutorado). Recuperado de http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/80075/000901992.pdf?sequence=1
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).

Ancorado na representação dos doentes mentais, enquanto sujeitos destituídos da razão, contudo, agravado pela ilicitude do ato, os usuários de drogas são vistos como mais imprevisíveis, mais violentos e mais responsáveis por seu problema, do que indivíduos afetados por outros transtornos mentais (Ronzani, Noto, & Silveira, 2014Ronzani, T. M., Noto, A. R., & Silveira, P. S. (2014). Reduzindo o estigma entre usuários de drogas: Guia para profissionais e gestores. Juiz de Fora, MG: Ed. UFJF. Recuperado de http://www.editoraufjf.com.br/ftpeditora/site/reduzindo_o_estigma_entre_usuarios_de_drogas.pdf
http://www.editoraufjf.com.br/ftpeditora...
). Em pesquisa conduzida por Soares et al. (2011Soares, R. G., Silveira, P. S., Martins, L. F., Gomide, H. P., Lopes, T. M., & Ronzani, T. M. (2011). Distância social dos profissionais de saúde em relação à dependência de substâncias psicoativas. Estudos de Psicologia (Natal), 16(1), 91-98. doi: 10.1590/S1413-294X2011000100012
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) onde investigou o distanciamento social frente a usuários de álcool, maconha e cocaína, observou-se maior desejo de distanciamento social quando o usuário era descrito como dependente de cocaína, revelando uma forte associação entre a rejeição ao contato social e a percepção de possível violência.

Esses dados refletem que, entre as diversas condições de saúde comumente estigmatizadas pela sociedade, o uso de álcool e outras drogas é uma das que mais apresentam uma conotação moralizante do mundo, sobretudo se este for usuário de uma substância ilícita (Fortney et al, 2005Fortney, J., Mukherjee, S., Curran, G., Fortney, S., Han, X., & Booth, B. M. (2005). Factors associated with perceived stigma for alcohol use and treatment among at-risk drinkers. The Journal of Behavioral Health Services & Research, 31(4), 418-429. doi: 10.1007/BF02287693
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). Sobre essa lógica, pensar o usuário de drogas enquanto “ameaça social”, é imprimir estigmas de algo “nocivo” e “indesejável”, ou seja, fora do parâmetro que a sociedade toma como padrão, o que reforça o caráter simbólico do imaginário social segundo o qual os sujeitos estigmatizados são considerados incapazes e prejudiciais à interação sadia na comunidade.

Ao se discutir o tema de drogas, torna-se inevitável não engendrar no campo político-ideológico, esta segundo Thompson (2009Thompson, J. B. (2009). Ideologia e cultura moderna: Teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa (Grupo de Estudos sobre Ideologia, Comunicação e Representações Sociais da Pós-Graduação do Instituto de Psicologia da PURCS, Trad.). Petrópolis, RJ: Vozes.), é concebida como o uso de formas simbólicas para estabelecer ou reproduzir relações sociais assimétricas, desiguais e injustas na dinâmica social. Segundo Becker (2008Becker, H. S. (2008). Outsiders: Estudos de sociologia do desvio (M. L. X. A. Borges, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Zahar.), regras, desvios e rótulos são sempre construídos em processos políticos, nos quais alguns grupos conseguem impor seus pontos de vista como mais legítimos que outros. O desvio para o referido autor é visto como “produto de uma transação que tem lugar entre algum grupo social e alguém que é visto por esse grupo como infrator de uma regra” (Becker, 2008Becker, H. S. (2008). Outsiders: Estudos de sociologia do desvio (M. L. X. A. Borges, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Zahar., p. 22). Logo, essa concepção compreende que os usuários de drogas ameaçam a ordem social e com isso, tornam-se alvo de desvalorização, e a consequente segregação dos espaços sociais.

Deste modo, a mulher usuária de drogas é representada por uma imagem “deteriorada” e visivelmente desqualificada, estando às representações sociais expressas nesse eixo, impregnadas e ancoradas num suposto saber científico compartilhado na mídia e na sociedade que justifica e normatiza a conduta das usuárias de drogas, associando-as a sujeitos despojados de sua sanidade, movidas a impulsos e, portanto, imprevisíveis e perigosas. Este discurso fortalece o descrédito da curabilidade vinculada à dependência química e a direciona enquanto um problema de ordem legal e social.

Eixo 2 - Quebra de Padrões Normativos: Afastamento dos Papéis Sociais (Classe 4) Desvalorização Moral da Figura da Mulher (Classe 3)

Este eixo revela discursos que abarcam a compreensão da imagem da mulher usuária de drogas como algo incompatível ao que a sociedade espera para o lugar ocupado pelo feminino. Há a compreensão de que a droga ocasiona uma ruptura da mulher com padrões normativos, levando-a ao afastamento dos papéis sociais e à sua desvalorização moral.

A classe 4 (Afastamento dos Papéis Sociais Femininos) aponta para o afastamento da mulher do seu papel no meio familiar e social, enquanto progenitora e cuidadora dos filhos e do lar, como pode ser evidenciado na emissão das palavras “Filho” e “Afastar”. Pelas falas, apontou-se para um contexto de negligência e irresponsabilidade perante a função materna e também do lar. O fragmento de texto a seguir ilustra essa situação:

Eu passava tempos sem ir em casa . . . minhas filhas quem criou foi meu irmão . . . viver maternidade para mim é um privilégio, mas quando a gente tem condições, porque uma pessoa drogada, não tem condições de cuidar da própria vida, não é uma boa opção ser mãe (Mulher 8, idade 28 anos).

A partir da fala acima, percebe-se que culturalmente a sociedade transmite e prevê um leque de papéis e de simbolismos quando se refere à figura da mulher, sendo realçada pelo discurso da entrevistada a responsabilidade na preservação da espécie, ligada às amarras da maternagem e a naturalização de traços biológicos aptos ao cuidado parental dentro do marco familiar. Entretanto, o fato da mulher vivenciar a problemática do uso de drogas, é considerada uma grande ameaça social ao modelo de esposa, de mãe e de sexualidade; este argumento se dá por meio da replicabilidade dos discursos postos na sociedade de incompatibilidade e de inadequação da usuária de drogas às funções e papéis femininos previamente definidos; mas também é possível evidenciar uma apreensão desse discurso hegemônico pelas próprias usuárias, o qual é internalizado e tomado como verdade para si, como se observa no fragmento relatado acima, determinando assim condutas e culpabilização.

Alguns estudiosos têm se dedicado a analisar como as mulheres usuárias de drogas vivenciam questões vinculadas à maternidade. Marangoni e Oliveria (2012Marangoni, R. S., & Oliveira, M. L. F. (2013). Fatores desencadeantes do uso de drogas de abuso em mulheres. Texto & Contexto Enfermagem, 22(3), 662-670. doi: 10.1590/S0104-07072013000300012
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) em seu estudo aponta que as usuárias relatam sentir dificuldade em desempenhar tarefas maternas, e quando saem em busca da droga, muitas deixam os filhos sozinhos por longos períodos, ou sob a responsabilidade de outros familiares; fator este também evidenciado na presente pesquisa. Inúmeros outros estudos associam ainda o uso de drogas durante a gestação, destacando na maioria das vezes, as consequências físicas na formação do feto, a exemplo da teratogênese ganhando contornos de “epidemia” obstétrica (Martins-Costa, Vettorazzi, Cecin, Stump & Ramos, 2013Martins-Costa, S. H., Vettorazzi, J., Cecin, G. K. G., Stumpf, C. C., & Ramos, J. G. L. (2013). Crack: A nova epidemia obstétrica. Revista HCPA, 33(1), 55-65. Recuperado de http://www.seer.ufrgs.br/hcpa/article/viewFile/33833/25672
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). Estes estudos geralmente tendem a culpabilizar e criminalizar a mulher usuárias de drogas, como se elas fossem “assassinas” ou péssimas mães para seus filhos.

Segundo Scavone (1985Scavone, L. (1985). As múltiplas faces da maternidade. Cadernos de Pesquisa, (54), 37-49. Recuperado de http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/cp/article/view/1392
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), há um apelo normativo no fato de gerar e de prover cuidados aos filhos enfatizado como uma realização pessoal para as mulheres, por serem estas protagonistas no processo de continuidade da vida. Esta realidade aponta para um desequilíbrio doméstico, onde o não vivenciar o papel materno é romper com a ideia de “símbolo de fecundidade” e de feminilidade. Embora se reconheça mudanças ocorridas nos últimos anos, acerca dos papéis sociais femininos, como por exemplo, as novas configurações familiares e a escolha de não vivenciar a maternidade, o envolvimento feminino com atividades vistas enquanto “transgressoras” de papéis sociais, como o uso de drogas, ainda causam um pensamento coletivo de estranhamento social e de “fracasso social” diante do que se espera para a mulher na sociedade. Nesse sentido, é possível afirmar que as representações sociais das mulheres usuárias de drogas, se ancoram em concepções biologizantes e de submissão, cristalizadas em torno dos seus papéis sociais, em especial, ao papel de mãe.

Em continuidade, a classe 3 (Desvalorização Moral da Figura da Mulher) apresenta significados associados à perda de valor moral relacionado à imagem da mulher no contexto de uso de drogas, visualizado por meio das palavras “Lixo” e “Sem valor”. O trecho a seguir demonstra isso: “Sofri rejeição do povo, xingamento, diziam que eu era vagabunda, sem valor, prostituta e sapatão. Algumas pessoas acham que a gente que usa drogas não liga para essas coisas, mas liga sim, isso dói, faz com que a gente se sinta um lixo” (Mulher 12, idade 25 anos).

A partir de tal colocação, percebe-se um discurso envolto de “roupagem” moralista, fruto de uma construção de ordem simbólica que deflagra o controle social sobre o corpo e a sexualidade da mulher. Sobre essa questão, Maciel e Medeiros (2017Maciel, S. C., & Medeiros, K. T. (2017). Mulheres usuárias de crack: Enfrentamentos e barreiras sociais. In A. Roso (Org.), Crítica e dialogicidade em psicologia social: Saúde, minorias sociais e comunicação (pp. 1-42). Santa Maria, RS: Ed. UFSM.) acrescentam que a identidade sexual feminina sempre apareceu na história como algo velado, alvo de repressão; sendo que aquelas que expressassem sua sexualidade em público seriam passíveis de “condenação” moral e social.

A narrativa histórica que trata do envolvimento das mulheres com as drogas, ainda que recente nos registros é construída partir de sua condição de transgressora das regras e das normas estipuladas socialmente para o exercício da feminilidade, sendo vinculada à prática da prostituição que é considerada como uma ameaça para a construção da família (Macedo, Roso, & Lara, 2015Macedo, F. S., Roso, A., & Lara, M. P. (2015). Mulheres, saúde e uso de crack: A reprodução do novo racismo na/pela mídia televisiva. Saúde e Sociedade, 24(4), 1285-1298. doi:10.1590/S0104-12902015138833
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). Resultado semelhante foi encontrado em um estudo com usuárias de crack conduzido por Maciel e Medeiros (2017Maciel, S. C., & Medeiros, K. T. (2017). Mulheres usuárias de crack: Enfrentamentos e barreiras sociais. In A. Roso (Org.), Crítica e dialogicidade em psicologia social: Saúde, minorias sociais e comunicação (pp. 1-42). Santa Maria, RS: Ed. UFSM.), neste as mulheres relataram serem rotuladas pela sociedade como mulher “sem valor”, “prostituta” e “irresponsável”, sofrendo com situações de preconceito e estigmatização.

Esse modo de representar a mulher usuária faz menção a uma identidade feminina deteriorada proposto por Goffman (2006Goffman, E. (2006). Estigma: La identidad deteriorada (L. Guinsberg, Trad.). Buenos Aires, Argentina: Amorrortu.) como estigma social, e decorrem da sucessão de fatos históricos, nos quais se responsabiliza os sujeitos, mediante os seus comportamentos, pelos danos causados ao meio social, com uma consequente desvalorização do portador do estigma. Uma das consequências do estigma para o indivíduo estigmatizado é a internalização deste. Autores como Ronzani, Noto e Silveira (2014Ronzani, T. M., Noto, A. R., & Silveira, P. S. (2014). Reduzindo o estigma entre usuários de drogas: Guia para profissionais e gestores. Juiz de Fora, MG: Ed. UFJF. Recuperado de http://www.editoraufjf.com.br/ftpeditora/site/reduzindo_o_estigma_entre_usuarios_de_drogas.pdf
http://www.editoraufjf.com.br/ftpeditora...
) e Sibitz, Unger, Woppmann, Zidek e Amering (2011Sibitz, I., Unger, A., Woppmann, A., Zidek, T., & Amering, M. (2011). Stigma resistance in patients with schizophrenia. Schizophrenia Bulletin, 37(2), 316-323. doi: 10.1093/schbul/sbp048
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), afirmam que o estigma internalizado é um processo subjetivo caracterizado pela concordância e aplicação dos estereótipos sociais a si próprios. Sobre isso, observou-se no presente estudo, uma auto-responsabilização das próprias usuárias mediante as suas vivências e experiências negativas com as drogas, traduzindo-se numa internalização do estigma, apresentando-se desvalorizadas, marginalizadas e culpabilizadas pelo seu adoecer.

Sobre a culpabilização dos indivíduos, Macedo et al. (2015Macedo, F. S., Roso, A., & Lara, M. P. (2015). Mulheres, saúde e uso de crack: A reprodução do novo racismo na/pela mídia televisiva. Saúde e Sociedade, 24(4), 1285-1298. doi:10.1590/S0104-12902015138833
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) destacam essa questão afirmando que os fatos históricos se referem a suposições ligadas ao raciocínio higienista, que culpa os indivíduos e atribui problemas de saúde ao comportamento ou ao envolvimento com práticas insalubres ou imorais. Para as autoras, um exemplo dessa questão é o discurso que culpa a prostituição pela disseminação de doenças sexualmente transmissíveis; esse discurso do senso comum contribui para o sentimento de inutilidade entre os membros deste grupo e para a construção de sinônimos culturais na mente coletiva em relação a discursos imbuídos de imagens negativas e prejudiciais com relação a mulher usuária de drogas.

Os resultados desse estudo salientam que a representação da mulher usuária de drogas ainda é revelada pela atribuição que lhe é feita de uma função social. Observou-se uma visualização indissociável dos papéis sociais femininos enquanto estruturadores de identidade da mulher, e neste contingente, as participantes da presente pesquisa não se veem aptas às responsabilidades sociais e culturais atribuídas às mulheres, se colocando separada deste grupo social, o que tem uma grande implicação na formação de sua identidade, de sua autoestima e da realização dos seus papeis na sociedade.

A compreensão da dimensão representacional acerca da mulher usuária de drogas proporciona o acesso às justificativas utilizadas por este grupo de pertença para orientar julgamentos e ações acerca do mundo e sobre suas próprias vivências, permitindo conhecer de que forma lidam com os fatos do dia a dia e reproduzem conhecimentos que regem o processo de comunicação e ação em relação ao fenômeno das drogas e das mulheres usuárias.

Os significados atribuídos ao “ser mulher” e “usuária de drogas” revelou-se intimamente associado a uma condição de vulnerabilidade que parece influenciar na retenção de informações preventivas e, consequentemente, na dificuldade de acesso aos serviços públicos de saúde. Com isso, demanda-se um paradigma de compreensão do fenômeno da drogadição feminina que supere a visão fragmentada da mulher e de seus papéis sociais, e que contemple, de forma integral, às necessidades subjetivas e de saúde das mulheres. Fica evidente a necessidade da incorporação da perspectiva heterogênea nas ações voltadas à prevenção e a reabilitação das mulheres usuárias de drogas, de modo a reconhecer os impactos psicossociais das construções da feminilidade, em busca de uma assistência mais humanizada e menos culpabilizante.

Conhecer as representações sociais acerca da mulher usuária de drogas permitiu-nos compreender esse fenômeno a partir de um universo consensual, construído no esteio social, onde é partilhado entre os atores sociais. Por meio desse conhecimento, foi possível ter acesso a forma como se percebe esse grupo de pertença (mulheres usuárias de drogas), identificando o conjunto consensual de saberes coletivos que se revelam por meio de crenças, valores e atitudes relacionados ao fenômeno em questão.

Mediante a análise dos dados coletados, pôde-se observar que a mulher usuária de drogas foi representada como um “duplo desvio”, seja pelo fato de consumir substâncias encaradas como causadoras de instabilidade pessoal e social, seja pelo descumprimento de papéis sociais referendados à mulher na dinâmica social.

A repetição de termos, ideias, crenças, estereótipos, valores, nada mais é do que o imenso arcabouço de imagens, conhecimentos de que as pessoas se valem para compreender o fenômeno em questão, direcionar suas práticas e dá sentido a vida social. Chama-se a atenção para o fato de que as falas das entrevistadas no presente estudo se auto-responsabilizam com exclusividade por todos os prejuízos causados a si, ao próximo e ao ambiente; onde estas representações se revelam como se fossem “profecias auto-realizadoras”, uma vez que as próprias usuárias se apropriam e compartilham um discurso culpabilizante e excludente sobre o próprio grupo de pertença.

Assim, espera-se que esses resultados venham em apoio à elucidação de novas propostas de intervenção, com vistas à desmistificação de tais ideologias culpabilizantes e repressoras, e de reformulações de planos terapêuticos que levem em consideração às especificadas da mulher e suas reais necessidades. Indo nesta direção, estudos mais recentes que abarcam discussões de gênero procuraram, nos últimos anos, evitar as oposições binárias fixas e naturalizadas, postulando então a dimensão relacional entre os gêneros, trazendo novas interpretações, novos enfoques e perspectivas para os variados contextos históricos. Com isso, é preciso romper com a cristalização de imagens e representações sobre fragilidade, controle, delicadeza, modelos de virtude e de costumes, colados histórica e socialmente à identidade atribuída às mulheres, e buscar compreender as múltiplas faces da feminilidade, dependendo do contexto social e político, e ainda de modo particular, quando vinculado ao envolvimento dessas mulheres com o consumo de drogas.

Deixa-se como limitação desta pesquisa o levantamento de representações apenas de mulheres usuárias, precisando ampliar o estudo para outras parcelas da sociedade, sobretudo, os trabalhadores da saúde mental e a população em geral, sobretudo no que diz respeito aos estereótipos e ao preconceito. Nessa perspectiva, vale ressaltar que a presente pesquisa faz sobressair um aspecto importante: o impacto que os significados negativos atribuídos às mulheres usuárias de drogas têm na forma como a sociedade as vê e, principalmente, como elas próprias lidam com a problemática das drogas e as expectativas que possuem em relação a si mesmas, as quais repercutem na busca por ajuda ou na manutenção do tratamento nos serviços de saúde especializados. Acrescenta-se ainda outro aspecto ímpar emergido nas discussões e que se projeta para futuras investigações, na indagação: que fatores explicariam a expressão de atitudes preconceituosas frente ao grupo de mulheres usuárias de drogas? Vivemos em uma sociedade em que o gênero limita as ações das pessoas, e para muitos, ainda existem atividades e comportamentos que somente o homem pode apresentar e outros reservados somente às mulheres. Logo, se faz necessário pensar nas diferenças de gênero quando se propõe e constroem políticas públicas. O uso de drogas é uma questão delicada que deve ser discutida com a sociedade de forma mais tolerante e menos punitiva, caso contrário, teremos dificuldades para estabelecer políticas assertivas e eficazes para reduzir o consumo e as consequências danosas do uso abusivo de drogas, sobretudo no público feminino.

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  • 1
    Artigo derivado da tese de doutorado da primeira autora, sob colaboração da segunda e terceira autora, defendida no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba. Apoio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq - Grant # 140154/2015-9).
  • 5
    Como citar este artigo: Medeiros, K. T., Maciel, S. C., & Sousa, P., F. (2017). Women in the context of the drugs: Social representations of users in treatment. Paidéia (Ribeirão Preto), 27(Suppl. 1), 439-447. doi:10.1590/1982-432727s1201709

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2017

Histórico

  • Recebido
    03 Fev 2017
  • Revisado
    15 Ago 2017
  • Aceito
    18 Out 2017
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