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Eficácia do tratamento tópico da balanite xerótica obliterante (fimose adquirida) com cremes de cortisona

PANORAMA INTERNACIONAL

PEDIATRIA

Eficácia do tratamento tópico da balanite xerótica obliterante (fimose adquirida) com cremes de cortisona

Uenis Tannuri

Há pouco mais de dez anos surgiu na prática clínica a tentativa de tratamento clínico da fimose, com o objetivo de se evitar o trauma da cirurgia de remoção do prepúcio (postectomia ou circuncisão). A fimose pode ser congênita ou adquirida, sendo esta última conseqüência de repetidas infecções da glande e prepúcio, que levam a estenose do anel prepucial. Neste último grupo de pacientes, a pele do prepúcio adquire o aspecto denominado líquen esclerosante atrófico ou balanite xerótica obliterante, formando-se anel de fibrose no prepúcio que impede a exposição da glande para limpeza adequada. A aplicação tópica, por tempo prolongado, de cremes à base de corticosteróides, promoveria a abertura do anel prepucial. Foram estudados 56 meninos com balanite xerótica obliterante, com indicação formal de postectomia, que foram orientados para aplicação de creme de cortisona no prepúcio, três vezes ao dia, durante três meses. Foi utilizada uma mistura contendo acetato de triamcinolona, neomicina, gramicidina e nistatina. Ao fim deste período, apenas 17% dos pacientes apresentaram resolução da estenose prepucial, sendo que nos pacientes tratados por período maior, de até 23 meses, verificou-se melhora em até 30% dos casos. Importante frisar que os pacientes que apresentaram melhora foram aqueles em que havia estenose cicatricial discreta e sinais leves de balanite xerótica obliterante limitados ao prepúcio. O seguimento das crianças foi feito por período médio de 33 meses. Em todos os outros pacientes foi necessária postectomia.

Comentário

A conclusão mais importante do presente trabalho baseia-se no fato de que houve falha do tratamento em 70% dos pacientes. É importante lembrar que nos casos de sucesso do tratamento, o seguimento por período maior poderá demonstrar recidiva da estenose prepucial, principalmente após a puberdade quando houver o início da atividade sexual. Em nosso meio, têm sido amplamente divulgados os eventuais benefícios de aplicação tópica de cremes de cortisona associados com enzimas proteolíticos, com o objetivo de realizar "tratamento clínico" de fimose em crianças. Nossa observação clínica coincide com as conclusões do trabalho acima. Temos observado alta incidência de falha do tratamento e nos casos em que a aplicação do creme foi eficaz, a interrupção do uso foi seguida de nova recidiva da estenose prepucial. O que realmente se observa é que a aplicação tópica do creme facilita o descolamento bálano-prepucial, o que é erroneamente rotulado como "eficácia do tratamento", em crianças que não apresentam fimose e sim apenas acolamento da pele do prepúcio com a glande.

Referência

1. Vincent MV, MacKinnon E. The response of clinical balanitis xerotica obliterans to the application of topical steroid-based creams. J Pediatr Surg 2005; 40:709-712.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Abr 2006
  • Data do Fascículo
    Fev 2006
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