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Xenoenxerto (pele da Tilápia-do-Nilo) e hidrofibra com prata no tratamento das queimaduras de II grau em adultos

▪ RESUMO

Introdução:

Estudos recentes apontam a utilização do curativo biológico com base em animais aquáticos como biomaterial na medicina regenerativa, apresentando boa aderência ao leito das feridas.O objetivo foi avaliar a eficácia da utilização da pele da Tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus) como curativobiológico oclusivo, no manejo/tratamento de queimaduras de 2º grau em adultos.

Métodos:

Estudo clínico com 30 pacientes aleatoriamente tratados com pele da Tilápia-do-Nilo (n = 15)e hidrofibra com prata Aquacel Ag® (n =1 5).

Resultados:

Em relação à duração, o tratamento com a pele da Tilápiado- Nilo obteve uma média de dias de tratamento (9,6 ± 2,4) similar ao material comparativo (10,7 ± 4,5). Quanto ao relato de dor durante a troca de curativos, não houve diferença estatisticamente significante (p > 0,68) entre os grupos. Após a troca do curativo, não houve inferioridade no registro do valor na escala analógica de dor, em que 66,7% dos tratados com pele da Tilápia-do-Nilo relataram diminuição dos eventos álgicos. Constatou-se ainda que 60% dos pacientes tratados com a pele da Tilápia-do-Nilo não tiveram seus curativos substituídos em qualquer momento do tratamento. Para o curativo Aquacel AG®, 53,3% dos pacientes tiveram mais de uma substituição de curativos.

Conclusão:

Com base na pesquisa, pode-se concluir que a pele da Tilápia-do-Nilo é eficaz como curativo biológico oclusivo. Houve similaridade entre os grupos para a média de dias de tratamento (completa cicatrização da ferida) e para o relato de dor durante a realização do curativo. Também, a não inferioridade relacionada a dor após os curativos e suas trocas (quando existentes) e na quantidade de substituições destes.

Descritores:
Queimaduras; Curativos oclusivos; Cicatrização; Curativos biológicos; Ciclídeos

▪ ABSTRACT

Introduction:

Recent studies have suggested the use of biological dressings made of aquatic animals as biomaterials in regenerative medicine since they demonstrate good adherence to the wound bed. The objective of this study was to evaluate the efficacy of Nile tilapia skin (Oreochromis niloticus) as an occlusive biological dressing in the management and treatment of second-degree burns in adults.

Methods:

This clinical study included 30 patients randomly treated with Nile tilapia skin (n = 15) or Aquacel Ag® silver-based hydrofiber dressing (n = 15).

Results:

The Nile tilapia skin yielded a similar mean treatment time (9.6 ± 2.4 days) to thatof the comparative material (10.7 ± 4.5 days). There was no statistically significantintergroup difference (p > 0.68) in pain during dressing changes. No disadvantage in pain wasnoted, as 66.7% of patients treated with Nile Tilapia skin reported a decrease in pain events Moreover, 60% of the patients treated with the Nile Tilapia skin did not require dressing replacement at any time during treatment. For the Aquacel AG® dressing, 53.3% of the patients required more than one dressing replacement.

Conclusion:

Our findings suggest that the Nile tilapia skin is as effective as an occlusive biological dressing. The average treatment time (complete wound healing) and pain reports during dressing changes were similar between groups. Furthermore, pain after and number of dressing exchanges (when performed) were not worse.

Keywords:
Burns; Occlusive dressings; Healing; Biological dressings; Cichlids

INTRODUÇÃO

Cerca de 1 milhão de pessoas sofrem queimaduras no Brasil a cada ano. Na quase totalidade desses acidentados, o diagnóstico que prevalece é o de queimaduras de 2º grau superficial e/ou profundo11. Cruz BF, Cordovil PBL, Batista KNM. Perfil epidemiológicode pacientes que sofreram queimaduras no Brasil: revisão da literatura. Rev Bras Queimaduras. 2012;11(4):246-50.-22. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. Cartilha para Tratamento de Emergência das Queimaduras. Brasília: Ministério da Saúde; 2012. [acesso 2019 Jan 30]. [Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartilha_tratamento_emergencia_queimaduras.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoe...
.

O curativo ideal para essas lesões é aquele que é de fácil obtenção, tenha boa flexibilidade e aderência ao leito, resistência ao estiramento, fácil manipulação, capacidade de suprimir a dor, baixo custo, seja de armazenamento simples e, principalmente, previna as perdas hidroeletrolíticas, a contaminação bacteriana, favoreça a epitelização das queimaduras e propicie formação do adequado tecido de granulação, para os casos de enxertia63. Ferreira E, Lucas R, Rossi L, Andrade D. Curativo do paciente queimado: uma revisão de literatura. Rev Esc Enferm USP. 2003;37(1):44-51. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342003000100006
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.

Substitutos temporários da pele e curativos sintéticos/biossintéticostêm sido considerados úteis no tratamento de queimaduras superficiais, pois reduzem a frequência de troca do curativo44. Hansbrough JF, Zapata-Sirvent RL, Cooper ML. Effects of topical antimicrobial agents on the human neutrophil respiratory burst. Arch Surg. 1991;126(5):603-8. PMID: 1850590 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342003000100006
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. Entretanto, esses materiais não são eficazes nas queimaduras profundas e têm alto custo55. Chanda J, Rao SB, Mohanty M, Muraleedharan CV, Arthur VL, Bhuvaneshwar GS, et al. Use of glutaraldehyde-gentamicintreated bovine pericardium as a wound dressing. Biomaterials. 1994;15(1):68-70. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/0142-9612(94)90200-3
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. Em função docusto, tem-se buscado nos materiais biológicos alternativas para esse tratamento. Tecidos de origem animal, como pele de porco e submucosa de intestino suíno, são alguns dos materiais utilizados66. Alves APNN, Lima Verde MEQ, Ferreira Júnior AE, Silva PGB, Feitosa VP, Lima Júnior EM, et al. Avaliação microscópica, estudo histoquímico e análise de propriedades tensiométricas da pele de tilápia do Nilo. Rev Bras Queimaduras. 2015;14(3):203-10..

Estudos recentes apontam a utilização da pele da Tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus) como biomaterial na medicina regenerativa, apresentando boa aderência ao leito das feridas em ratos33. Ferreira E, Lucas R, Rossi L, Andrade D. Curativo do paciente queimado: uma revisão de literatura. Rev Esc Enferm USP. 2003;37(1):44-51. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342003000100006
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e resultados satisfatórios em testes comparativos com a pele humana, nas análises histológicas, histoquímica e tração tecidual66. Alves APNN, Lima Verde MEQ, Ferreira Júnior AE, Silva PGB, Feitosa VP, Lima Júnior EM, et al. Avaliação microscópica, estudo histoquímico e análise de propriedades tensiométricas da pele de tilápia do Nilo. Rev Bras Queimaduras. 2015;14(3):203-10..

A pele da tilápia apresentou uma boa resistência à tração e à compressão77. Franco MLRS, Franco NP, Gasparino E, Dorado DM, Prado ME, Vesco APD. Comparação das peles de tilápia do nilo, pacu e tambaqui: Histologia, composição e resistência. Arch Zootec. 2013;62(237):21-32. DOI: http://dx.doi.org/10.4321/S0004-05922013000100003
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, com a possibilidade de que a mesma possa vir a ser utilizada como curativo biológico em queimaduras. Reforça essa possibilidade, a existência de peptídeos nesse tecido com possíveis funções antimicrobianas88. Chem WY, Rogers AA, Lydon MJ. Characterization of biologic properties of wound fluid collected during early stages of wound healing. J Invest Dermatol. 1992;99(5):559-64.DOI: http://dx.doi. org/10.1111/1523-1747.ep12667378
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9. Rajanbabu V, Chen JY. Applications of antimicrobial peptides from fish and perspectives for the future. Peptides. 2011;32(2):415-20. DOI:http://dx.doi.org/10.1016/j.peptides.2010.11.005
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-1010. Hunag PH, Chen JY, Kuo CM. Three different hepcidins from tilapia, Oreochromis mossambicus: analysis of their expressions and biological functions. Mol Immunol. 2007;44(8):1922-34. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.molimm.2006.09.031
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.

OBJETIVOS

Avaliar a eficácia da utilização da pele da Tilápiado- Nilo como curativo biológico oclusivo no manejo e tratamento de queimaduras de segundo grau superficial e profundo em adultos em comparação ao curativo à base de hidrofibra com prata (Aquacel AG®).

MÉTODO

Foi realizado um estudo analítico, intervencional, do tipo estudo clínico aberto com amostra de conveniência no Hospital São Marcos, Recife/PE. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco (Parecer: 2.735.537). A avaliação clínica verificou as condições gerais de saúde e os critérios de inclusão: Presença de queimaduras de II grau superficial e/ou profundo, acometendo até 10% de superfície corporal queimada ; injúria ocorrida no máximo há 72 horas; idadeentre 20 a 60 anos; ausência de tratamento prévio para a queimadura atual e de comorbidades significativas.

Foram selecionados 30 pacientes. Após os esclarecimentos iniciais e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos: curativo biológico oclusivo com pele da Tilápia-do-Nilo (n = 15) e tratamento convencional com hidrofibra com prata, Aquacel AG® (n = 15). O processo terapêutico aplicado aos pacientes está descrito no Quadro 1.

Quadro 1.
Processo terapêutico aplicado aos pacientes.

As peles da Tilápia-do-Nilo são descontaminadas (clorexidina a 2% e glicerol em altas concentrações) e esterilizadas (irradiação com gama cobalto 60) para garantir a segurança de seu uso em seres humanos, além de serem realizados testes microbiológicos para bactérias gram+, gram-e fungos, por amostragem Figura 1.

Figura 1.
Pele da Tilápia-do-Nilo esterilizada e embalada para uso humano

Os procedimentos para ambos os grupos estão descritos no Quadro 2.

Quadro 2.
Procedimentos para tratamento no grupo teste e grupo controle.

Os desfechos para esta pesquisa são:

  1. Número de dias para a completa cicatrização da ferida. A lesão foi considerada reparada quando a área reepitelizada correspondia a 95% ou mais da queimadura inicial.

  2. Avaliação da dor. Para essa mensuração, foi registrada pontuação da Escala Visual Analógica (EVA). ZERO nenhuma dor e DEZ, a maior dor sentida, durante a limpeza e após a aplicação do curativo. Em cada retorno do paciente, o curativo foi avaliado, com novo registro álgico.

  3. Número de vezes em que houve necessidade da substituição de lâminas da pele ou dos curativos de Aquacel AG®.

Os resultados foram analisados utilizando-se as estatísticas descritiva de frequências absoluta e relativa, média e desvio-padrão. Para avaliação dos tipos de tratamentos, foi utilizado o teste exato de Fisher. Nível de significância p < 0,05. SPSS versão 20.0.

RESULTADOS

Em relação ao grau da queimadura, para o tratamento com pele da Tilápia-do-Nilo, 53,3% da amostra tinham queimaduras de 2º grau superficial, e 46,6% paraotratamento com Aquacel AG®.

Na (Tabela 1), destaca-se que o tratamento com a pele da Tilápia-do-Nilo obteve uma média de dias de tratamento similar ao produto comparativo (médias e desvio padrão de 9,6 ± 2,4 e 10,7 ± 4,5 dias, respectivamente).

Tabela 1
Estatísticas descritivas do número de dias (completa reepitelização da ferida) em função do tratamento das queimaduras de II grau em adultos realizado no Hospital São Marcos, Recife/PE – 2018.

A Tabela 2 apresenta como resultado que o paciente relatou dor maior que a pontuação 5 da EVA para ambos os tratamentos durante a troca de curativos, não havendo diferença significante (p > 0,05) entre os grupos, de acordo com o teste exato de Fisher.

Tabela 2
Estatística do valor da pontuação da escala visual analógica parador durante a troca do curativo em função do tipo de tratamento aplicado para queimaduras de II grau em adultos. Hospital São Marcos, Recife/PE - 2018

Após a troca do curativo, foi realizada nova mensuração de pontuação pela EVA para a dor. Na (Tabela 3), destaca-se que houve uma diminuição da pontuação do registro do valor na escala para o tratamento com pele da Tilápia-do-Nilo em 86,7% dos pacientes. Pelo teste exato de Fisher, comprova-se que não houve inferioridade entre os grupos (pele da Tilápiado- Nilo e Aquacel AG®).

Tabela 3
Estatística do valor da pontuação da escala visual analógica para dor após a aplicação do curativo em função do tipo de tratamento aplicado para queimaduras de II grau em adultos. Hospital São Marcos, Recife/PE - 2018.

A Tabela (Tabela 4)expressa os valores referentes a quantidade de substituições de peles ou de curativos necessários para a completa reepitelização, representada pela alta do paciente. Constata-se que 60% dos pacientes que foram tratados com a Tilápia-do-Nilo não tiveram suas peles substituídas em qualquer momento do tratamento. No caso do curativo com Aquacel AG®, 53,3% dos pacientes tiveram mais de umasubstituição de curativos. Considerando o valor de p = 0,71 (p ≥ 0,05),pode-se afirmar que não houve inferioridade do curativo da pele da Tilápia-do-Nilo em relação ao Aquacel AG®.

Tabela 4
Tabela cruzada do tipo de tratamento em função da variável: nº de substituição de curativos, do tratamento das queimaduras de II grau em adultos. Hospital São Marcos, Recife/PE - 2018.

As Figuras Figuras 2 e 3 apresentam os resultados clínicos de dois casos clínicos de pacientes da pesquisa, desde o primeiro atendimento até o momento da alta médica (completa reepitelização).

Figura 2
Caso clínico de paciente tratado com curativo biológico oclusivo com pele da Tilápia-do-Nilo. A: Avaliação, limpeza da ferida e mensuração da dor pela EVA; B: Curativo com a pele da Tilápia-do-Nilo no 1º atendimento clínico e mensuração da dor (EVA); C: Avaliação do curativo após 7 dias; D: Completa reepitelização da ferida após 16 dias.

Figura 3
Caso clínico de paciente submetido ao tratamento convencional com hidrofibra com prata (Aquacel AG®). A: Avaliação, limpeza da ferida e mensuração da dor EVA; B: Curativo com Aquacel AG® no 1º atendimento clínico e mensuração da dor (EVA); C: Avaliação do curativo após 7 dias; D:Completa reepitelização da ferida após 18 dias.

DISCUSSÃO

Estudos apontam os líquidos quentes como os agentes térmicos que mais causam lesões por queimaduras11. Cruz BF, Cordovil PBL, Batista KNM. Perfil epidemiológicode pacientes que sofreram queimaduras no Brasil: revisão da literatura. Rev Bras Queimaduras. 2012;11(4):246-50.-22. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. Cartilha para Tratamento de Emergência das Queimaduras. Brasília: Ministério da Saúde; 2012. [acesso 2019 Jan 30]. [Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartilha_tratamento_emergencia_queimaduras.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoe...

3. Ferreira E, Lucas R, Rossi L, Andrade D. Curativo do paciente queimado: uma revisão de literatura. Rev Esc Enferm USP. 2003;37(1):44-51. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342003000100006
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4. Hansbrough JF, Zapata-Sirvent RL, Cooper ML. Effects of topical antimicrobial agents on the human neutrophil respiratory burst. Arch Surg. 1991;126(5):603-8. PMID: 1850590 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342003000100006
http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342003...

5. Chanda J, Rao SB, Mohanty M, Muraleedharan CV, Arthur VL, Bhuvaneshwar GS, et al. Use of glutaraldehyde-gentamicintreated bovine pericardium as a wound dressing. Biomaterials. 1994;15(1):68-70. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/0142-9612(94)90200-3
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6. Alves APNN, Lima Verde MEQ, Ferreira Júnior AE, Silva PGB, Feitosa VP, Lima Júnior EM, et al. Avaliação microscópica, estudo histoquímico e análise de propriedades tensiométricas da pele de tilápia do Nilo. Rev Bras Queimaduras. 2015;14(3):203-10.

7. Franco MLRS, Franco NP, Gasparino E, Dorado DM, Prado ME, Vesco APD. Comparação das peles de tilápia do nilo, pacu e tambaqui: Histologia, composição e resistência. Arch Zootec. 2013;62(237):21-32. DOI: http://dx.doi.org/10.4321/S0004-05922013000100003
http://dx.doi.org/10.4321/S0004-05922013...

8. Chem WY, Rogers AA, Lydon MJ. Characterization of biologic properties of wound fluid collected during early stages of wound healing. J Invest Dermatol. 1992;99(5):559-64.DOI: http://dx.doi. org/10.1111/1523-1747.ep12667378
http://dx.doi. org/10.1111/1523-1747.ep1...

9. Rajanbabu V, Chen JY. Applications of antimicrobial peptides from fish and perspectives for the future. Peptides. 2011;32(2):415-20. DOI:http://dx.doi.org/10.1016/j.peptides.2010.11.005
http://dx.doi.org/10.1016/j.peptides.201...

10. Hunag PH, Chen JY, Kuo CM. Three different hepcidins from tilapia, Oreochromis mossambicus: analysis of their expressions and biological functions. Mol Immunol. 2007;44(8):1922-34. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.molimm.2006.09.031
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-1111. Costa GOP, Silva JA, Santos AG. Perfil clínico e epidemiológico das queimaduras: evidências para o cuidado de enfermagem. Ciênc Saúde. 2015;8(3):146-55.-1212. Farina JR JA. Novas tecnologias no tratamento de queimaduras. Rev Plastiko’s. 2018:47-9.. Nesta pesquisa, 45% dos casos foram decorrentes de líquidos superaquecidos.

Nas queimaduras, o tratamento e os cuidados objetivam propiciar ambiente adequado para a reepitelização e controle de micro-organismos, que podem proliferar e retardar o processo de cicatrização1313. Moser H, Pereima RR, Pereima MJL. Evolução dos curativos de prata no tratamento de queimaduras de espessura parcial. Rev Bras Queimaduras. 2013;12(2):60-7.. Assim, o curativo biológico deve apresentar propriedades que evitem crescimentos microbianos, promovam a epitelização ou favoreçam a formação do tecido de granulação66. Alves APNN, Lima Verde MEQ, Ferreira Júnior AE, Silva PGB, Feitosa VP, Lima Júnior EM, et al. Avaliação microscópica, estudo histoquímico e análise de propriedades tensiométricas da pele de tilápia do Nilo. Rev Bras Queimaduras. 2015;14(3):203-10.,1414. Miranda MJB. Viabilidade da pele da Tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus). An Fac Med Olinda. 2018;1(1):49-52..

Há registros de utilização de curativos com prata desde o século XVIII1515. Hayneman A, Hoeksema H, Vandekerckhove D, Pirayesh A, Monstrey S. The role of silver sulphadiazine in the conservative treatment of partial thickness burn wounds: A systematic review. Burns. 2016;42(7):1377-86. DOI:http://dx.doi.org/10.1016/j. burns.2016.03.029
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. Várias propriedades deste material foram estudadas, tais como: acelerar o período da cicatrização, ter atividades antimicrobianas e promover a reepitelização em menor tempo. Apesar do conhecido emprego em larga escala, algumas desvantagens, inclusive a citotoxidade, foram consideradas para o estudo de outros materiais1212. Farina JR JA. Novas tecnologias no tratamento de queimaduras. Rev Plastiko’s. 2018:47-9.,1515. Hayneman A, Hoeksema H, Vandekerckhove D, Pirayesh A, Monstrey S. The role of silver sulphadiazine in the conservative treatment of partial thickness burn wounds: A systematic review. Burns. 2016;42(7):1377-86. DOI:http://dx.doi.org/10.1016/j. burns.2016.03.029
http://dx.doi.org/10.1016/j. burns.2016....
,1616. Tavares WS, Silva RS. Curativos utilizados no tratamento de queimaduras: uma revisão integrativa. Rev Bras Queimaduras. 2015;14(4):300-6..

Estamos distantes de um substituto cutâneo temporário ideal, mas o uso de curativos biológicos constitui uma alternativa de tratamento com melhores resultados funcionais e estéticos66. Alves APNN, Lima Verde MEQ, Ferreira Júnior AE, Silva PGB, Feitosa VP, Lima Júnior EM, et al. Avaliação microscópica, estudo histoquímico e análise de propriedades tensiométricas da pele de tilápia do Nilo. Rev Bras Queimaduras. 2015;14(3):203-10.,1414. Miranda MJB. Viabilidade da pele da Tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus). An Fac Med Olinda. 2018;1(1):49-52.. Neste sentido, a pele da Tilápia-do-Nilo é apontada como um produto promissor.

A produção de tilápia representa 45,4% da produção total de peixes no Brasil, sendo a pele subproduto de descarte e apenas 1% empregada em artesanato. Deve ser submetida a protocolos científicos para análise de seu comportamento em humanos. Pesquisas têm sido desenvolvidas comparando a pele humana com a da tilápia66. Alves APNN, Lima Verde MEQ, Ferreira Júnior AE, Silva PGB, Feitosa VP, Lima Júnior EM, et al. Avaliação microscópica, estudo histoquímico e análise de propriedades tensiométricas da pele de tilápia do Nilo. Rev Bras Queimaduras. 2015;14(3):203-10.,77. Franco MLRS, Franco NP, Gasparino E, Dorado DM, Prado ME, Vesco APD. Comparação das peles de tilápia do nilo, pacu e tambaqui: Histologia, composição e resistência. Arch Zootec. 2013;62(237):21-32. DOI: http://dx.doi.org/10.4321/S0004-05922013000100003
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,1414. Miranda MJB. Viabilidade da pele da Tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus). An Fac Med Olinda. 2018;1(1):49-52.,1717. Lima Junior EM, Bandeira TJPG, Miranda MJB, Ferreira GE, Parente EA, Piccolo NS, et al. Characterization of the microbiota of the skin and oral cavity of Oreochromis niloticus. J Health Biol Sci. 2016;4(3):193-7.

18. Alves APNN, Lima Júnior EM, Piccolo NS, de Miranda MJB, Lima Verde MEQ, Ferreira Júnior AEC, et al. Study of tensiometric properties, microbiological and collagen content in nile tilapia skin submitted to different sterilization methods. Cell Tissue Bank. 2018;19(3):373-82.

19. Lima Júnior EM. Tecnologias inovadoras: uso da pele da tilápia do Nilo no tratamento de queimaduras e feridas. Rev Bras Queimaduras. 2017;16(1):1-2.
-2020. Lima-Júnior EM, Picollo NS, Miranda MJB, Ribeiro WLC, Alves APNN, Ferreira GE, et al. Uso da pele de tilápia (Oreochromis niloticus), como curativo biológico oclusivo, no tratamento de queimaduras. Rev Bras Queimaduras. 2017;16(1):10-7.. Resultados favoráveis foram descritos quanto aos seus aspectos histológicos, histoquímicos e propriedades tensiométricas1818. Alves APNN, Lima Júnior EM, Piccolo NS, de Miranda MJB, Lima Verde MEQ, Ferreira Júnior AEC, et al. Study of tensiometric properties, microbiological and collagen content in nile tilapia skin submitted to different sterilization methods. Cell Tissue Bank. 2018;19(3):373-82.,20e20. Lima-Júnior EM, Picollo NS, Miranda MJB, Ribeiro WLC, Alves APNN, Ferreira GE, et al. Uso da pele de tilápia (Oreochromis niloticus), como curativo biológico oclusivo, no tratamento de queimaduras. Rev Bras Queimaduras. 2017;16(1):10-7.

Nesta pesquisa, o produto foi aplicado no tratamento de 15 pacientes, sendo 53,3% destes acometidos por queimaduras de 2º grau superficial, e 46,7%, por 2º grau profundo.

Para o uso da pele animal como curativo oclusivo, faz-se necessário um rigoroso protocolo de desinfecção e esterilização. Pesquisa recente indica que o uso de esterilização química e radioesterilização são efetivas para o preparo da pele da Tilápia- do-Nilo1818. Alves APNN, Lima Júnior EM, Piccolo NS, de Miranda MJB, Lima Verde MEQ, Ferreira Júnior AEC, et al. Study of tensiometric properties, microbiological and collagen content in nile tilapia skin submitted to different sterilization methods. Cell Tissue Bank. 2018;19(3):373-82.. As peles utilizadas foram cedidas pelo Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da Universidade Federal do Ceará, que é responsável pelo processamento de esterilização.

A pele da Tilápia se molda e adere à ferida, criando uma espécie de tampão, que evita a contaminação e perda de líquidos.

Os resultados desta pesquisa evidenciaram que a média de dias de tratamento dos pacientes com a pele da Tilápia-do-Nilo (9,6 ± 2,4) foi similar aos pacientes tratados com Aquacel AG® (10,7 ± 4,5).

Quanto à dor sentida durante e após o curativo, a mensuração se deu via escala visual analógica. O que se observa dos resultados é que, ao serem questionados sobre a dor que estava sentindo por ocasião da limpeza inicial e o processo de aplicação dos curativos, em ambos os grupos os pacientes apontaram pontuação maior que cinco na escala, sem diferença significante entre os grupos.

Ao finalizar o processo clínico da aplicação do curativo, 86,7% dos pacientes do grupo da pele da Tilápia-do-Nilo referiam sentir menos dor, comprovada pela sua indicação na escala, com pontuação igual ou inferior a cinco. Pode-se concluir que este é um efeito satisfatoriamente positivo, quando comparado ao Aquacel AG® (46,7%), considerando que não houve inferioridade entre os grupos (p = 0,05).

Dependendo da quantidade de exudato, avaliam-se as trocas das peles e dos curativos. No entanto, quanto mais trocas, maior o risco de infecção, maior o custo do tratamento e, o pior, maior a possibilidade do paciente sentir dor. Considerando estes aspectos, ressalta-se que nos casos tratados com a pele da Tilápia-do-Nilo, houve um menor número de substituições de curativo.

Em nove casos (60%) com o uso da pele da Tilápiado- Nilo, não houve a necessidade de substituição de nenhum curativo, enquanto para o Aquacel AG®, em 53,3% dos casos, houve pelo menos uma substituição. Assim, considerando o valor de p = 0,71 (p ≥ 0,05), pode-se afirmar que não houve inferioridade do curativo da pele da Tilápia-do-Nilo em relação ao Aquacel AG®.

Considerando todos os achados deste estudo, confirma-se a hipótese de que a pele da Tilápia-do-Nilo é eficaz no manejo/tratamento de queimaduras de 2º grau em adultos, comparativamente ao curativo à base de hidrofibra com prata (Aquacel AG®).

CONCLUSÃO

Com base nos resultados desta pesquisa, pode-se confirmar que a pele da Tilápia- do-Nilo é eficaz como curativo biológico oclusivo, no manejo/tratamento de queimaduras de 2º grau em adultos. Em relação aos pacientes tratados com o curativo com a pele da Tilápiado- Nilo, a média de dias de tratamento (9,6 ± 2,4) foi similar aos tratados com curativo com o Aquacel AG® (10,7 ± 4,5) para a completa cicatrização ou reepitelização da ferida. Também, não houve inferioridade da referência de dor do paciente após a aplicação do curativo, entre os pacientes tratados com a pele da Tilápia-do-Nilo e os tratados com o Aquacel AG®, e, finalmente, não houve inferioridade entre os curativos com a pele da Tilápiado- Nilo e o Aquacel AG®, quanto à necessidade de substituição destes, durante o tratamento.

COLABORAÇÕES

MJBM Análise e/ou interpretação dos dados; aquisição de financiamento; coleta de dados; conceitualização; investigação; metodologia; realização das operações e/ou experimentos; redação - preparação do original; redação - revisão e edição. CTB Análise estatística; aprovação final do manuscrito; conceitualização; redação - revisão e edição; supervisão.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jun 2023
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    30 Out 2018
  • Aceito
    11 Nov 2018
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