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A atualidade turística do caso da Gripe Espanhola na cidade do Rio de Janeiro (Sept. 1918 - Mar. 1919)

La actualidad turística del caso de la gripe española en la ciudad de Rio de Janeiro (Sept. de 1918 - Mar. de 1919)

Resumo

Este trabalho investiga o surto epidêmico da gripe espanhola que assolou a cidade do Rio de Janeiro em 1918, com o objetivo de que esse caso histórico possa contribuir na compreensão da relação entre turismo e epidemias – e, por consequência, da própria pandemia da Covid-19. Para isso, a pesquisa se vale do método histórico de investigação, com base em fontes primárias e revisão bibliográfica. A principal fonte histórica utilizada são os jornais cariocas de época, explorados por meio de escrutínio no acervo da Biblioteca Nacional Digital. Além dessa fonte, foram utilizados, secundariamente, crônicas, romances e memórias. Como resultado da investigação, infere-se que o surto epidêmico da gripe espanhola impactou, sob múltiplos aspectos, a atividade turística na cidade do Rio de Janeiro, dentre os quais se destaca o seu papel no desenvolvimento do turismo de massas.

Palavras-chave
História do Turismo; Epidemias; Gripe Espanhola; Covid-19

Resumen

Este trabajo investiga el brote epidémico de la gripe española que afectó a la ciudad de Rio de Janeiro en 1918, con el objetivo de que este caso histórico pueda ayudar a comprender la relación entre el turismo y las epidemias y, en consecuencia, la pandemia de la Covid-19. Para esto, la investigación utiliza el método histórico de investigación, basado en fuentes primarias y revisión bibliográfica. La principal fuente histórica utilizada son las publicaciones periódicas de Rio de Janeiro, exploradas a través del escrutinio en la colección de la Biblioteca Nacional Digital. Además de esta fuente, las crónicas, novelas y recuerdos se utilizaron de forma secundaria. Como resultado de la investigación, parece que el brote epidémico de la gripe española impactó, en múltiples aspectos, la actividad turística en la ciudad de Rio de Janeiro, entre los cuales se destaca el desarrollo del turismo massivo.

Palabras clave
Historia del Turismo; Epidemia; Gripe Española; Covid-19

Abstract

This study investigates the epidemic outbreak of the Spanish flu that hit the city of Rio de Janeiro in 1918, aiming to contribute to the understanding of the relationship between tourism and epidemics – and, consequently, the Covid-19 pandemic itself. For this, the study uses the historical method of investigation, based on primary sources and documentary research. The main historical source used is the periodicals from Rio de Janeiro, explored through scrutiny in the collection of the National Digital Library. In addition, secondary sources were used, such as chronicles, novels, and memories. As a result of the investigation, it appears that the epidemic outbreak of the Spanish flu affected, in multiple aspects, the tourist activity in the city of Rio de Janeiro, among which we highlight the development of mass tourism.

Keywords
History of Tourism; Epidemics; Spanish flu; Covid-19

1 ALGUMAS NOTAS INTRODUTÓRIAS À LUZ DOS DIAS ATUAIS

“Há, mesmo, num roteiro oficial inglez, de uso universal entre os navegantes, um eloquente conselho aos pilotos que tenham perdido o rumo e se vejam sem bussolas, em noite escura, no Atlântico Sul: caso avistem um clarão no céo, caminhar para ele, que é a cidade do Rio de Janeiro”

(O Paiz, 26 de setembro de 1926)

Ainda nos albores da pandemia, uma imagem que parecia antecipar o que a disseminação global da Covid-2019 reservava para o futuro do turismo era a de um cruzeiro marítimo atracado num porto do Japão, sem a permissão para seguir viagem ou desembarcar os seus passageiros. Também, pudera: hoje, em média, somando turistas e tripulantes, e a depender do seu porte, essas embarcações podem transportar de 2 mil a 8 mil pessoas. Diante de tal magnitude, portanto, como subestimar o risco de uma rápida proliferação, tanto no navio quanto no destino turístico, de uma doença sobre a qual, ainda, pouco se sabia?

Com efeito, em meados de fevereiro de 2020, era perturbadora a cena dos passageiros do Diamond Princess, obrigados a um estado de quarentena pelas autoridades portuárias japonesas da cidade de Yokohama. Pelos telejornais do mundo afora, testemunhou-se por câmeras postadas em solo e à distância, passageiros, sozinhos ou em duplas, e em horários pré-definidos, transitando pelas varandas do transatlântico, para o chamado banho de sol – tal como se é feito nas prisões.

Assim, aos olhos dos mais pessimistas, os dispêndios e os custos financeiros para manter o Diamond Princess atracado no porto era uma alegoria do que viria a ser os impactos econômicos da Covid-19 no setor – muito embora, houvesse, também, quem visse na cena de um transatlântico fundeado, esse epítome do turismo de massas, o surgimento, no pós-pandemia, de um novo paradigma de viagem turística. O argumento é que, no rescaldo da crise sanitária global, as pessoas passem a valorizar viagens mais intimistas e experimentais, alheias às mediações de operadores e agentes de viagem, e que exijam menores deslocamentos, sobretudo porque voltadas para comunidades próximas aos locais de origem ou mesmo na própria moradia do turista-viajante – num curioso reavivamento da obra Viagem à roda do meu quarto, de Xavier de Maistre, na qual o protagonista desse romance do século XVIII se lança ao desafio de viajar pelo mundo a partir dos pequenos objetos, de lembranças e memórias remanescentes, que, todavia, mobíliam o seu quarto.

Pelo exposto, desnecessário dizer que, nesses tempos de pandemia, as antevisões, sejam utópicas ou catastróficas, são sempre muito convidativas. Ocorre, no entanto, que o caso do Diamond Princess, leva o olhar, igualmente, para o passado. A historiografia, a imprensa escrita, artigos acadêmicos, crônicas, romances e memórias permitem afirmar, com certo grau de segurança, que as chamadas epidemias modernas não são apenas contemporâneas ao nascimento do fenômeno turístico, como sua disseminação dependeu, em muitos casos, de um modelo de viagem e lazer que, a partir do fim do século XIX, passava a ser determinado pelo desenvolvimento científico-tecnológico e organizado segundo os métodos e os princípios da produção industrial.

Em termos mais concretos, isso significa dizer que, a partir de então, os surtos epidêmicos guardam íntima relação com a transformação da viagem num empreendimento gerido por princípios modernos, e não mais pela lógica do tradicional, e por sua transformação num setor da acumulação capitalista – quer dizer, num produto turístico. É o caso, por exemplo, das excursões organizadas por Thomas Cook para os operários ingleses, notabilizadas por aliarem o transporte rápido sobre trilhos a um sistema de hotéis e alojamentos credenciados nos lugares de destino –ou, ainda, das viagens a bordo de transatlânticos, cujos engenheiros se gabavam de serem incólumes às intempéries da natureza, e por meio dos quais turistas europeus e americanos preconizavam o que viria a ser o leitmotiv dos pacotes de viagens oferecidos por agências e operadoras turísticas, a saber: o exotismo dos países periféricos.

Esses ecos do passado se tornam ainda mais fortes quando se observa que, na origem de alguns casos notificados da Covid-19 pelo mundo, figurava o turismo. É o que se verificou, por exemplo, no Brasil. Trata-se de um episódio, largamente noticiado pela imprensa em abril de 2020, no qual uma empregada doméstica, moradora da periferia da cidade do Rio de Janeiro, havia sido contaminada em seu local de trabalho, no bairro de classe média alta do Leblon, por sua patroa que acabara de voltar de um passeio turístico pela Itália – país que, naquela altura, se transformava no novo epicentro da Covid-19, após o seu início na cidade chinesa de Wuhan em dezembro de 2019.

De modo que, tão importante quanto investigar os impactos da Covid-19 no futuro da atividade turística, sejam eles econômicos ou comportamentais, tarefa para a qual a economia, a gestão de empresas, a sociologia, os estudos culturais, enfim, tão bem contribuem, é oportuno, nesse esforço interdisciplinar para entender uma pandemia e cuja iconografia parece reverberar um passado próximo, submeter o objeto ao crivo da investigação história. Pergunta-se: qual é o impacto que os surtos epidêmicos de outrora tiveram, em seus múltiplos sentidos, na atividade turística?

Nesse caso, vale a pena passar em revista o que foi considerado, até os dias correntes, o pior surto epidêmico do século XX, qual seja: o da gripe espanhola. Mais precisamente, tome-se o caso ocorrido na cidade do Rio de Janeiro em 1918, então capital federal do Brasil e onde ocorreu, inicialmente, o desenvolvimento do turismo no país.

Para isso, a investigação se baseia em revisão bibliográfica e no escrutínio de fontes históricas primárias. A revisão bibliográfica privilegiou trabalhos historiográficos, oriundos da interface entre os estudos em turismo e a história, e as ciências médicas e a história, sobre o tema do turismo no Brasil e a respeito do caso da gripe espanhola na cidade do Rio de Janeiro. Tal técnica de pesquisa se efetuou, predominantemente, por meio de buscas em repositórios digitais de artigos científicos e de teses e dissertações acadêmicas.

Já no tocante às fontes primárias, a principal fonte utilizada são os jornais cariocas de época. O acesso a esses periódicos ocorreu por meio de exploração na hemeroteca da Biblioteca Nacional Digital: https://bndigital.bn.gov.br/. Os periódicos escrutinados foram: O Paiz, o Correio da Manhã, A Noite e a Gazeta de Notícias. As buscas, nesse acervo digital, foram realizadas tomando como referência o período de 1910 a 1929, a localização do Rio de Janeiro e as seguintes palavras-chave: “grippe hespanhola”; “carnaval de 1919”; “villegiatura”; “turistas estrangeiros”. Com o intuito de manter a originalidade das fontes, optou-se por manter a grafia das palavras usadas na época. As figuras que ilustram a investigação, também, foram extraídas da hemeroteca da Biblioteca Nacional Digital (jornais Careta e A Noite).

Além da revisão bibliográfica e dos jornais de época, foram utilizados, secundariamente, crônicas, romances e memórias, encontrados em revistas e jornais eletrônicos, e em textos literários e biográficos.

2 LA DANSARINA: O CASO DE UMA EPIDEMIA NO ALVORECER DO TURISMO NO BRASIL

À primeira vista, não haveria motivos para escolher o caso da gripe espanhola que assolou a cidade do Rio de Janeiro em 1918 como quadro de referência para esta investigação. Ainda que, eventualmente, o navio SS Demerara, de propriedade da Royal Mail, que fazia a rota Liverpool – Buenos Aires, pudesse contar em sua primeira classe com embarcados que estivessem a passeio, a atividade turística não lhe era primordial. Quando partia da cidade inglesa de Liverpool, fazendo uma parada no porto de Lisboa, para depois navegar por portos africanos, até alcançar a costa brasileira, por onde atracava nos portos das cidades de Recife, Salvador, Rio de Janeiro e Santos, para, enfim, terminar a viagem na bacia do Prata, nas cidades portuárias de Montevidéu e Buenos Aires, o SS Demerara transportava, sobretudo, cargas e mercadorias. Esse transatlântico não era, portanto, tipicamente um cruzeiro turístico, e sim um paquete de uso misto, que, como era comum à época, transportava cargas e passageiros – tais como homens de negócios, imigrantes, viajantes, mas também café, ouro, açúcar, etc.

Ocorre, no entanto, que, a partir do atracamento do SS Demerara no porto da cidade do Rio de Janeiro, realizado em 16 de setembro de 1918, que, de acordo com a imprensa da época, iniciou o surto da doença, bem como nos três meses que se seguiram a esse episódio, existe uma série de convergências que aproxima o caso da gripe espanhola com os assuntos do turismo e do lazer.

A primeira dessas convergências tem a ver com a transformação urbana pela qual a cidade do Rio de Janeiro passava no período. Mais especificamente, a chegada do SS Demerara acontece num momento em que ocorrem grandes projetos de modernização e embelezamento que modificam a fisionomia da cidade, motivados, entre outros objetivos, por questões sanitárias e de saúde pública, e pelo combate a doenças epidêmicas. Esse é o caso da chamada Reforma Passos, empreendida entre os anos 1903 e 1906, como, também, das intervenções urbanas da administração Carlos Sampaio, de 1920 a 1922, e do Plano Agache, realizado no final da década de 1920. Tais empreendimentos desfizeram a paisagem da velha cidade colonial de origem portuguesa, para dar lugar a largas avenidas, edifícios, bulevares, parques, teatro, no intuito de conferir à capital do país uma imagem cosmopolita, europeia – que, ao fim, lhe valera o título de “Cidade Maravilhosa” (Machado, 2005Machado, M. B. T. (2005). A formação do espaço turístico do Rio de Janeiro. In: R. Bartholo et. al. (Orgs.) Turismo e sustentabilidade no estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ: Garamond.).

Ato contínuo, o estigma da insalubridade que, desde os tempos dos vice-reis, atentava contra a imagem da cidade do Rio de Janeiro foi pouco a pouco sendo desfeito, o que alçou o porto da cidade, também modernizado para cumprir funções não somente ligadas às atividades agrário-exportadoras, mas, igualmente, ao mundo urbano, à condição de receber artigos de luxo importados, viajantes internacionais, ideias e modas estrangeiras (Challoub, 2015Chalhoub, S. (2015). Trabalho, lazer e botequim: O cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Époque. 2a ed. Campinas, SP: Editora Unicamp.).

Testemunha disso é a vinda, em 1907, do navio de cruzeiro Byron, em viagem organizada pela empresa Cook and Son, que havia sido criada algumas décadas antes pelo precursor das viagens turísticas modernas; e a celebração do centenário da abertura dos portos, realizada por meio de uma exposição nacional feita em 1908, cujo público estimado, ao longo de três meses de evento, foi de 1 milhão de visitantes – no que foi considerado um marco para o desenvolvimento da hotelaria no Brasil (Belchior & Poyares, 1987Belchior, E., & Poyares, R. (1987). Pioneiros da hotelaria no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ: Senac.; Lessa, 2005Lessa, C. (2005). O Rio de todos os Brasis: uma reflexão em busca de autoestima. Rio de Janeiro, RJ: Record.; Enders, 2008Enders, A. (2008). A História do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ: Gryphus.; Molina, 2016Molina, F. (2016). A produção da “Paris dos trópicos” e os megaeventos no Rio de Janeiro no início do século XX. Finisterra. 102 (1), 25-45. https://doi.org/10.18055/Finis3816
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).

Não por acaso, em artigo publicado pelo jornal O Paiz em 26 de setembro de 1926, intitulado “Como fazer turismo no Brasil, os ensinamentos da história e da experiência”, o periódico recordava o papel de figuras que haviam “tornado possível esta indústria”, a exemplo do presidente Rodrigues Alves que construíra “o Rio moderno com Lauro Miller, Passos e Frontin, e saneando a cidade e o paíz com Oswaldo Cruz (...)”, e, assim, “iniciou-se praticamente o turismo, e, dentro da relatividade das coisas, com sucesso magnifico”.

Talvez pelo fato de ter se tornado o principal destino turístico e centro de lazer do país é que os efeitos do surto epidêmico da La Dansarina, conforme popularmente a gripe foi batizada, tenham sido sentidos de forma mais intensa na vida cotidiana do Rio de Janeiro. Estima-se que a capital do país congregava uma população próxima a 1 milhão de habitantes. Desses, 600 mil foram infectados pela gripe espanhola, dos quais 15 mil viriam a morrer (Goulart, 2005Goulart, A. D. (2005). Revisitando a espanhola: A gripe pandêmica de 1918 no Rio de Janeiro. Revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos. 12 (1), 101-142. https://doi.org/10.1590/S0104-59702005000100006
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). Em Chão de Ferro, Pedro Narra, com base em suas memórias, nos oferece uma visão do que tais números significaram concretamente:

Era apavorante a rapidez com que ela ia da invasão ao apogeu, em poucas horas, levando a vítima às sufocações, às diarreias, às dores lancinantes, ao letargo, ao coma, à uremia, à síncope e à morte em algumas horas ou poucos dias. Aterrava a velocidade do contágio e o número de pessoas que estavam sendo acometidas. Nenhuma de nossas calamidades chegara aos pés da moléstia reinante: o terrível já não era o número de casualidades — mas não haver quem fabricasse caixões, quem os levasse ao cemitério, quem abrisse covas e enterrasse os mortos. O espantoso já não era a quantidade de doentes, mas o fato de estarem quase todos doentes e impossibilitados de ajudar, tratar, transportar comida, vender gêneros, aviar receitas, exercer, em suma, os misteres indispensáveis à vida coletiva

(Nava, 2001Nava, P. (2001). Chão de Ferro. São Paulo, SP: Ateliê editorial., p. 208).

Em tal cenário, a recomendação pública do isolamento social, já utilizada naqueles tempos, impactou a indústria cultural da época. Ainda que estivesse nos estágios iniciais do seu desenvolvimento, a gripe espanhola, certamente por alguns meses, arrefeceu o ímpeto do setor. Tanto que bares, restaurantes, teatros e hotéis foram peremptoriamente fechados, deixando a cidade do Rio de Janeiro vazia e silenciosa. É o que narrava o Correio da Manhã em 20 de outubro de 1918 em A vida na cidade:

Ao envés de apresentar aspecto animador a cidade hontem dava ainda mais triste impressão do que nos dias anteriores. As ruas estavam desertas, o movimento comercial paralysado, nulla absolutamente nulla sua vida agitada e alegre (...) Hoteis e restaurantes cerraram egualmente suas portas. Uma atmosfera de tristeza cobre tudo. O desanimo abate os mais fortes.

Figura 1
Foto da Avenida Rio Branco na cidade do Rio de Janeiro. A foto foi tirada às 16h do sábado de 26 de outubro de 1918

Decerto, o silêncio, e, sobretudo, o medo campeiam quando se vive sob a ameaça de um vírus contra o qual o combate ainda é incerto – quando não iludido. Mas, se, por um lado, a iminência da morte nos esmorece; por outro, são nesses momentos em que a inventividade humana parece mais aflorar. Daí por que um fato curioso que correlaciona a gripe espanhola com o turismo tem a ver com a forma que a sociedade de maneira geral e, sobretudo, as autoridades públicas lidaram com o surto, notadamente em seus estágios iniciais, ora negando a doença, ora ridicularizando-a.

Não por outra razão, Carlos Seidl, então chefe da Diretoria Geral de Saúde Pública, para quem a gripe era uma influenza “pura e simples”, fora demitido, acusado pela opinião pública de obtusidade, num momento em que todos já pareciam reconhecer que, em vez de mais um mercante, o SS Demerara era, na verdade, um navio que trazia a morte. Não é à toa que o Bloco dos Tagarelas preparara uma marchinha especial para o carnaval do ano seguinte, conforme se identifica no jornal Gazeta de Notícias de 03 março de 1919: “o Seidl esqueceu o povo, a hygiene não se moveu porque o mal era benigno, o Torres chegou no fim botando logo sciencia”.

Eis também por que, na ausência de informações oficiais sobre os meios preventivos e curativos, exceção feita ao que o governo especulava ser eficiente, caso do sal de quinino, ou conveniente, como os incensos de alfazema, a saúde pública do Rio de Janeiro se transformou num terreno fértil para improvisações – quiçá charlatanismos. Assim, contra La Dansarina, recomendavam-se desde soluções caseiras, como essências de canela e suco de cebola, ao uso da homeopatia, caso do thermotol e do antipampyrus, ou de pílulas, injeções e tônicos, que, segundo seus inventores, entre médicos e boticários, prometiam fazer regredir a moléstia em poucos dias1 1 Essas informações foram extraídas de reportagens e anúncios feitos no jornal Correio da Manhã referentes aos dias 18, 19, 21, 24, 30 de outubro de 1918; 05 de novembro de 1918; e 05 de dezembro de 1918. .

Há quem diga que a “caipirinha”, esse ícone nacional do turismo de praia, mar e sol, foi um engenho proveniente da falta de orientação das instâncias responsáveis pela saúde pública. Segundo o Instituto Brasileiro de Cachaça, a bebida teria sido a evolução de uma panaceia que consistia em misturar aguardente, que a crença popular rezava ser capaz de “matar” os germes, mais mel e limão (Carvalho, 2020Carvalho, A. (2020, 22 de abril). O legado da gripe espanhola para a luta contra a Covid-19. Superinteressante. Recuperado em 20 maio 2020 de https://super.abril.com.br/especiais/as-licoes-da-gripe-espanhola/. Acesso em: 20 maio 2020.
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). Aliás, no que diz respeito à menção desse produto tropical, importa lembrar que a opinião médica do período acreditava que a doença, ao se transmudar para o território brasileiro, sofreria uma ação benéfica do clima quente, capaz de minorar a virulência observada nos países anglo-saxônicos (Brito, 1997Brito, N. A. (1997). “La dansarina”: A gripe espanhola e o cotidiano na cidade do Rio de Janeiro. Revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, 4 (1), 11-30. https://doi.org/10.1590/S0104-59701997000100002
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).

Supõe-se, assim, que, também por motivos climáticos, a elite carioca, pretendendo escapar da epidemia, tenha recorrido a antigas formas de viagens ao interior do estado – a chamada vilegiatura. É que, desde os tempos da vinda da coroa portuguesa à cidade, em consonância com a política sanitária do vice-reinado, todavia, baseada em princípios médicos pré-modernos, caso das tradições galênicas e miasmáticas, que recomendavam a ação curativa da natureza, as cidades localizadas na região serrana do Rio de Janeiro haviam se transformado numa rota de fuga contra as epidemias que assolavam ano após ano a capital do país (Schwarcz, 1998Schwarcz, L. M. (1998). As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo, SP: Companhia das Letras.; Goulart, 2005Goulart, A. D. (2005). Revisitando a espanhola: A gripe pandêmica de 1918 no Rio de Janeiro. Revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos. 12 (1), 101-142. https://doi.org/10.1590/S0104-59702005000100006
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).

Referindo-se a essa prática observada no surto epidêmico da febre amarela entre os anos de 1873 e 1876, o Barão de Torres Homem, então membro da Academia Imperial de Medicina, escreveu: “muitos estrangeiros abastados, não aclimatados, retiraram-se para os lugares elevados, como Tijuca, Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, a fim de ficarem fora do alcance do “quid” gerador da moléstia epidêmica” (Franco, 1969Franco, O. (1969). A História da Febre Amarela no Brasil. Recuperado de http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/0110historia_febre.pdf
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, p. 46). Algo semelhante, por sua vez, se encontra nas observações de um antigo quadro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Segundo Henri Raffard, “centenas de pessoas abastadas [que] fugiram dos logares empestados e procuraram abrigo no bello clima de Petrópolis (...) pessoas que talvez nunca tivessem vindo a Petrópolis ficaram conhecendo o logar e gostado d´elle” (Ambrozio, 2008Ambrozio, J. C. G. (2008). O Presente e o passado no processo urbano da cidade de petrópolis: Uma história territorial. (Tese de Doutorado, Programa Pós-Graduação em Geografia Humana, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo). Recuperado de https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-06012009-163050/pt-br.php
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, p. 245). Ademais, num guia de turismo publicado em 1910, intitulado “Petrópolis Cidade do Brasil: a Rainha das Serras”, a cidade de Petrópolis era descrita como a “cidade cura” (Daibert, 2010Daibert, A. B. D. (2010). História do turismo em Petrópolis entre 1900 e 1930. (Dissertação de Mestrado, Mestrado Profissional em Bens Culturais e Projetos Sociais, Fundação Getúlio Vargas). Recuperado de http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/6568
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).

Já no caso da gripe espanhola, o escrutínio das fontes históricas revela muito pouco sobre a associação da epidemia com a prática da vilegiatura. Sabe-se, no entanto, que, em razão de a doença ser conhecida por deixar os pulmões cheios de líquido, era comum a percepção de que o clima seco e fresco das regiões serranas era bom para o tratamento – ou, melhor, conforme testemunho vivo de Dona Diva da Costa, 106 anos, que viveu as consequência do surto epidêmico em Petrópolis: “as pessoas valorizavam as esplanadas, onde não se perdia o sol da manhã; onde entra o sol, a doença não se estabelece” (Sobreira, 2020Sobreira, G. (2020, 01 de abril). Recordações da Gripe Espanhola. O Dia. Recuperado de https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2020/03/5892543-recordacoes-da-gripe-espanhola.html#foto=1
https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/20...
).

Seja como for, o fato é que a tradição veranista que, desde o século XIX, acompanhava a região serrana do Rio de Janeiro culminará na formação de um imaginário social a ser explorado pela indústria do turismo. É a partir dessa época, por exemplo, que a cidade de Petrópolis é ideologicamente convertida num oásis de paz em meio ao crescimento desenfreado da metrópole carioca (Mesquita, 2012Mesquita, P. P. A. (2012). A formação industrial de Petrópolis: trabalho, sociedade e cultura operária (1870-1937). (Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em História, Instituto de Ciências Humanas, Universidade Federal de Juiz de Fora). Recuperado de http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UFJF_05edc6081ff0b326c812823ed6d4f64f
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). Um dos resultados dessa operação simbólica, como se sabe, será a transformação da região em uma das principais zonas do turismo de massas do estado fluminense.

3 E “O MUNDO NÃO SE ACABOU”: O PAPEL DO CARNAVAL DE 1919 NA CULTURA HEDONÍSTICA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Em matéria publicada pelo O Paiz em 26 de setembro de 1926, o periódico chamava a atenção para a necessidade de se elevar “a grande atração turística da nossa indústria do turismo” para patamares ainda mais altos. Como sugestão, a ideia era chegar ao nível de suas congêneres no exterior, como o carnaval das cidades de New Orleans, nos Estados Unidos, de Nice, na França, de Sevilha, na Espanha, ou ainda de Veneza, na Itália – onde, já se tinha percebido que, para se ter sucesso nesse campo, deve-se ir sempre além “com as cerimônias simbólicas”. E, para isso, o texto jornalístico propunha, entre outros expedientes, uma “proteção systematizada aos referidos clubs sustentáculos das melhores tradições da nossa maior festa popular”; que se auxiliassem financeiramente os préstitos, com intuito de aprimorá-los artisticamente; que a festa começasse uma ou duas semanas antes do habitual e, assim, assegurar o tempo de atrações para os turistas; que se instituísse “a eleição da rainha do Carnaval e a sua coroação pelo prefeito da cidade...”; e, por fim, “que os ultra-conservadores não se escandalizem com esta sugestão”.

Tomando tais proposições e admonitórios em retrospectiva, pode-se afirmar, com certa segurança, que a festa momesca de 1919 se situa, justamente, no ponto de inflexão histórico que marcaria a transformação do carnaval carioca em um produto turístico. Dali a pouco anos, cada vez mais, navios transatlânticos passariam a fundear na baía de Guanabara, trazendo em suas acomodações visitantes estrangeiros, em especial argentinos, norte-americanos e europeus, para o fim da temporada internacional de turismo no país – tratava-se, em essência, de industriais, famílias aristocráticas, artistas renomados, em suma, turistas endinheirados, atraídos ao Brasil por signos de exotismo, cultivados, por exemplo, pelo cinema de Hollywood e pela icônica figura de Carmem Miranda, no que se convencionou chamar de “belle époque turística brasileira” (Paixão, 2005Paixão, D. L. D. (2005). A Belle Époque do turismo brasileiro (1930-1945): os hotéis-cassino na era getulista. In: L. G. G. Trigo (Ed.). Análises Regionais e Globais do Turismo Brasileiro. São Paulo, SP: Roca.; Guimarães, 2012Guimarães, V. (2012). O Turismo levado a sério: discursos e relações de poder no Brasil e na Argentina (1933-1946). (Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em História Comparada, Universidade Federal do Rio de Janeiro) Recuperado de http://objdig.ufrj.br/34/teses/793565.pdf
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).

Um evento particular desse interlúdio é a transformação do samba numa mercadoria. Foi durante essa época que aconteceu o predomínio do samba sobre os demais ritmos carnavalescos que animavam a festa desde o século XIX, como as polcas, quadrilhas, valsas, habaneras, boleros, schottischs e mazurcas (Soihet, 1998Soheit, R. (1998). A subversão pelo riso: Estudos sobre o carnaval da Belle Époque ao tempo de Vargas. Rio de Janeiro, RJ: Fundação Getúlio Vargas.). Mais ainda: é nesse período que o samba deixa de ser um ritmo de terreiro, diuturnamente perseguido pela polícia, para se converter num produto da indústria cultural – conforme prova a canção Pelo Telefone, um dos primeiros sambas gravados e radiodifundidos, cuja partitura foi registrada, em expediente pioneiro até então, pelo sambista Ernesto Joaquim Maria dos Santos, o Donga, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro em 27 de novembro de 19162 2 DONGA. Pelo telephone. Rio de Janeiro, RJ: Instituto de Artes Graphicas, [19--?]. 4 p. Fonte: Hemeroteca da Biblioteca Nacional Digital. Recuperado de: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_musica/mas566964.pdf .

Em A morte da Porta Estandarte, o escritor mineiro Aníbal Machado (1978)Machado, A. (1978). A morte da porta estandarte, Tati a Garota e outras histórias. São Paulo, SP: José Olympio. apresentará o saldo dessas transformações. Para além do drama em si, em que um negro e uma mulata são os personagens principais, a leitura da obra desnuda uma mudança essencial do público visitante do carnaval carioca. No conto, a figura do outsider já não é mais um naturalista ou um habitué europeu, mas sim o turista estrangeiro – no caso, turistas ingleses. Ademais, ao representar o espetáculo de forma excêntrica, diante do qual o turista é posicionado à distância, o conto prenuncia o que virá a ser o slogan da propaganda turística no Brasil, sobretudo a de caráter institucional.

Assim, por tudo o que foi dito acima, quando se passou da fase mortuária da epidemia, após três meses de duração, o melhor exemplo para analisar os efeitos da gripe espanhola no desenvolvimento do turismo na cidade do Rio de Janeiro foram, sublinhe-se, as festas carnavalescas de 1919.

Sobre o que se sucedeu naqueles dias, vale recuperar alguns registros jornalísticos. Senão veja-se. Na sexta-feira de carnaval, dia 28 de fevereiro de 1919, o jornal A Noite, com a manchete “Na vespera do sabbado gordo”, anotou: “O entusiasmo corre avassalador, contamina a todos e a tudo dá a impressão carnavalesca!”. No domingo de 02 de março de 1919, o Correio da Manhã anunciava triunfante o primeiro dia de fato do calendário carnavalesco: “é o carnaval que desponta trazendo ao mundo tristonho a névoa alegre de um sonho, doces prazeres sem conta”. Na segunda-feira de 03 de março de 1919, O Paiz, haja vista o que ocorrera no sábado e no domingo, vaticinava: “Não. O carnaval não morreu, ao contrário, vingou-se, gloriosamente, das restricções que no anno passado lhe impoz a guerra, e prestou-nos, a todos, o optimo serviço de fazer escurecer a visita macabra da hespanhola”. Na terça-feira, dia 04 de março de 1919, o Gazeta de Notícias estampava a manchete “O carnaval passava n’uma apotheose” e chamava a atenção para uma singularidade daquele ano “em todos os bairros, nos subúrbios, os festejos tiveram desusada animação e parece que a tendência agora é fazer o carnaval em cada bairro...”. E na quarta-feira de cinzas, o A noite de 05 de março de 1919 comunicava o final da folia: “Acabou o Carnaval, Graças a Deus! Ahi está uma exclamação que cabe hoje na boca de toda gente”; enquanto o Correio da Manhã de 06 de março de 1919 concluía a semana desse jeito: “em resumo, o carnaval de 1919, contra todas espectativas escudadas no anno de flagellos que o precedeu, foi apenas um record de animação, de luxo, de alegria e de bom gosto”.

Além do noticiário, as marchas e canções de carnaval, com as subversões que lhe são próprias, mostram como o carnaval de 1919 dramatizou a morte, ao transformar o luto em alegria, e o trágico, em pilhéria. É o caso da sociedade carnavalesca Club dos Democráticos que, durante o seu préstito, segundo o Correio da Manhã de 04 de março de 1919, exibiu um carro alegórico em formato de xícara – em alusão ao chá que piedosamente era servido na Santa Casa da Misericórdia aos desenganados pela gripe –, para, assim, se fazer acompanhar, em sua passagem, pela marcha O Chá da Meia Noite:

Estão lembrados senhores desse chá famigerado? Isso foi no anno passado, num mez de grandes horrores... A Santa Casa de Miseria e Corda poz muita gente do sepulchro à borda... “O chá da meia noite”. Foi o caminho mais curto para a morte do pobre desgraçado, dos “sem sorte”. Implacavel açoite aos corpos desvalidos... O chá marcou a época tristonha e o Zé Povinho mesmo ardendo em brasa, queimado pela febre má, bisonha, escomungou, de vez, a Santa Casa!

Figura 2
Préstito do Club dos Democráticos de 04 de março de 1919. Note-se no quadrante inferior da imagem, o carro alegórico em formato de xícara

É na memória de quem presenciou a folia que se encontra, porém, o retrato mais expressivo do que se seguiu após o fim da epidemia. Mais precisamente, de quem tematizou o Rio de Janeiro da época, elegendo a cidade como um cenário ideal para a flanêurie – à maneira daqueles tipos sociais que são porta-vozes da experiência moderna e de suas implicações nos miúdos do dia-a-dia (Borde, 2016Borde, A. B. (2016). À sombra dos mortos sem caixão: memórias da gripe espanhola em crônicas de Nelson Rodrigues. Revista Recorte. 13 (2), 1-14. Recuperado de http://periodicos.unincor.br/index.php/recorte/article/view/2864
http://periodicos.unincor.br/index.php/r...
). Em A Menina sem Estrela, ao rememorar suas lembranças, Nelson Rodrigues escreveu:

Estou aqui reunindo as minhas lembranças. Aquele Carnaval foi, também, e sobretudo, uma vingança dos mortos mal vestidos, mal chorados e, por fim, mal enterrados. Ora, um defunto que não teve o seu bom terno, a sua boa camisa, a sua boa gravata – é mais cruel e mais ressentido do que um Nero ultrajado. E o Zé de S. Januário está me dizendo que enterrou sujeitos em ceroulas, e outros nus como santos. A morte vingou-se, repito, no Carnaval... E tudo explodiu no sábado de Carnaval. Vejam bem: até sexta-feira, isto aqui era o Rio de Machado de Assis; e, na manhã seguinte, virou o Rio de Benjamim Costallat, ou, ainda do Theo Filho

(Rodrigues, 1993Rodrigues, N. (1993). A menina sem estrela: memória. São Paulo, SP: Companhia da Letras., p. 58).

E mais recentemente, numa crônica em alusão à infância de Nelson Rodrigues, intitulada Carnaval no Escuro, Ruy Castro anotou:

A guerra e a espanhola alertaram toda uma população para a realidade da morte. Com isso, quem não morreu sentiu-se no dever de celebrar a vida, brincando o Carnaval como nunca antes. A cidade saiu em peso para os corsos, ranchos e batalhas de confete. Os pierrôs e caveiras não se contentavam em pular – invadiam as casas e arrastavam os renitentes para a folia. Pela primeira vez, o samba superou os outros ritmos na rua

(Castro, 2017Castro, R. (2017). Carnaval no Escuro. Folha de São Paulo. Recuperado em 03 mar. 2020 de https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ruycastro/2017/03/1863198-carnaval-no-escuro.shtml
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ru...
, on-line).

A esse conjunto, somam-se números e cifras que singularizam pelo lado quantitativo o carnaval de 1919. Estima-se que 40 toneladas de confetes e serpentinas tenham sido recolhidas das ruas após a festa – para ser ter uma ideia dessa quantidade, cumpre dizer que, no carnaval de 2020, às vésperas do surto epidêmico da Covid-19, quando pelo menos três milhões de pessoas participaram da folia, a prefeitura municipal do Rio de Janeiro recolheu um total de 74 toneladas de lixo (Câmara, 2020Câmara, R. S. (2020). O carnaval do fim do mundo: como a gripe espanhola revolucionou a folia carioca. 360 Meridianos. Recuperado de https://www.360meridianos.com/especial/carnaval-rio-1919-gripe-espanhola
https://www.360meridianos.com/especial/c...
). É o que indica reportagem do A Noite de 05 de março de 1919. Com o título de “Serpentinas, serpentinas”, o periódico informava a satisfação dos principais trapeiros da cidade com as vendas durante o carnaval daquele ano. Por exemplo, a Casa Leão havia vendido 20 toneladas de papel; a loja dos Srs. Amaral & C., 5 toneladas; a loja da Rua Lavrador, 1.300 toneladas, e a loja dos Srs. Magdalena & Filho, 3.400 toneladas. Essas vendas permitiam “um cálculo aproximado de 40.000 kg que vendidas a 100 reis o kilo, dão a apreciável cifra de 4:000$000”.

Figura 3
Serpentinas abarrotadas até o teto da loja da Rua Misericórdia, n. 80

É possível identificar, também, uma preocupação por parte das sociedades carnavalescas em fazer daqueles festejos o máximo que se poderia obter pelas vias do luxo e da ostentação. De acordo com notícia veiculada pelo Correio da Manhã em 08 de fevereiro de 1919, o carnaval daquele ano seria “brilhantíssimo”, principalmente no que dizia respeito aos préstitos da “terça-feira gorda”. A título de ilustração, o clube carnavalesco dos Fenianos, “segundo é público e notório, prepararam um préstito monumental, que ninguém ainda viu...o reclame é merecido: os fenianos, em breve, attingirão a parcela de 200:000$000”. Já o Club dos Democráticos se queixava por não ter tido naquele ano uma receita extra, algo em torno de 30:000$000, que fizesse jus às expectativas criadas, porque a polícia iniciara uma tenaz perseguição ao jogo – ofensiva essa, cumpre lembrar, que terá o seu desfecho em 1946, com a edição pelo governo Gaspar Dutra do decreto-lei n. 9.215, que proibiu a prática e a exploração de jogos de azar em todo o território nacional e, por conseguinte, derrubando toda a economia representativa daquela fase do turismo no Brasil, baseada em hotéis de luxo, estâncias e balneários, cassinos, etc. (Paixão, 2005Paixão, D. L. D. (2005). A Belle Époque do turismo brasileiro (1930-1945): os hotéis-cassino na era getulista. In: L. G. G. Trigo (Ed.). Análises Regionais e Globais do Turismo Brasileiro. São Paulo, SP: Roca.).

Decerto, existem outros marcadores da historiografia do turismo carioca e nacional que podem ser vislumbrados na festa de 1919 – dentre os quais, pode-se citar Carmem Miranda cantando “E o mundo não se acabou”, em gravação feita para o carnaval de 1938; ou mesmo algo mais anedótico, como a origem do cordão da Bola Preta, esse chamariz do atual carnaval da cidade (Câmara, 2020Câmara, R. S. (2020). O carnaval do fim do mundo: como a gripe espanhola revolucionou a folia carioca. 360 Meridianos. Recuperado de https://www.360meridianos.com/especial/carnaval-rio-1919-gripe-espanhola
https://www.360meridianos.com/especial/c...
) –, mas, há um que, embora se alcance somente por vias indiretas e especulativas, nem por isso deveria ser relegado. Trata-se do possível papel que o Carnaval de 1919 cumpriu a favor de uma cultura mais hedonística e, por conseguinte, mais despojada e solar para os padrões do período.

É que, ao longo daqueles dias, os cariocas, à maneira de um ritual dionisíaco, expurgaram a morte que desembarcara na cidade. A própria opinião corrente de que aquele poderia ser o último carnaval de uma vida catalisou a intensidade do fenômeno. Aliás, a julgar mais uma vez pelas memórias do autor de Toda a Nudez Será Castigada, pode-se dizer que o comportamento de homens e mulheres brasileiros até princípios de 1919 era medieval, feudal, – porém:

Começou o Carnaval, e, de repente, da noite para o dia, usos, costumes e pudores tornaram-se antigos, obsoletos, espectrais. As pessoas usavam a mesma cara, o mesmo feitio de nariz, o mesmo chapéu, a mesma bengala (naquele tempo, ainda se lavava a honra a bengaladas). Mas algo mudara. Sim, toda a nossa íntima estrutura fora tocada, alterada e, eu diria mesmo, substituída

(Rodrigues, 1993Rodrigues, N. (1993). A menina sem estrela: memória. São Paulo, SP: Companhia da Letras., p. 58).

Tal assertiva se justifica. Afinal, foi a primeira vez que Nelson Rodrigues, ainda uma criança de seis anos, havia visto o umbigo de uma mulher – enquanto que, como se quisessem perenizar a cena em sua cabeça, marchinhas pornográficas, até então impensáveis para a moralidade existente, eram entoadas: “na minha casa não racha lenha, na minha racha, na minha racha, na minha casa não falta água, na minha abunda” (Rodrigues, 1993Rodrigues, N. (1993). A menina sem estrela: memória. São Paulo, SP: Companhia da Letras., p. 58).

Infere-se, assim, por que, segundo relatórios emitidos pelas autoridades públicas de segurança, as queixas contra defloramentos, que era um crime, segundo o código penal vigente, contra os costumes, e não contra a pessoa, alcançaram números paroxísticos. Calcula-se um total de 4.315 mil casos de defloramentos ocorridos durante o carnaval de 1919 – sendo que, de acordo com a Delegacia do Catete, dois mil casos ocorreram somente nos arredores das localidades próximas à rua Santo Amaro, no bairro da Glória, um dos principais redutos dos foliões (Castro, 1992Castro, R. (1992). O anjo pornográfico. São Paulo, SP: Companhia das Letras.; Cony, 1996Cony, C. H. (1996, 19 de fevereiro). O carnaval da peste. Folha de São Paulo. Recuperado em 19 fev. 2020 de https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/2/19/opiniao/7.html
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/2...
). A título de ilustração, importa registrar que, entre os anos 1920 e 1940, a cidade do Rio de Janeiro ostentava uma média de 500 defloramentos por ano (Caufield, 2000Caulfield, S. (2000). Em defesa da honra: Moralidade, modernidade e nação no Rio de Janeiro (1918-1940). Campinas, SP: Editora Unicamp.). Eis a razão por que a geração concebida naqueles dias recebeu o apelativo de “os filhos da gripe”.

Episódicos ou não, o certo é que esses novos padrões comportamentais não se limitaram aos habitantes do Rio de Janeiro. Em São Paulo, observou-se igual euforia. É que os habitantes da “paulicéia desvairada” haviam saído de um momento profundamente marcado por guerra, gripe e geadas (Santos, 2006Santos, R. A. (2006) O Carnaval, a peste e a 'espanhola'. Revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos. 13 (1), 130-158. https://doi.org/10.1590/S0104-59702006000100008
https://doi.org/10.1590/S0104-5970200600...
; Sevcenko, 1992Sevcenko, N. (1992). Orfeu extático na metrópole. São Paulo, SP: Companhia das Letras.). Falando nisso, como se esquecer dos “loucos” anos 1920 que marcaram a sociedade americana, tão bem imortalizados na literatura de um F. Scott Fitzgerald? Trata-se da época do jazz, de quando se dizia que os Estados Unidos haviam se transformado na sociedade do prazer – que tanto desgosto causara a mentes apegadas aos valores do puritanismo na mitologia da sociedade americana, como a de um Thorstein Veblen.

É verdade, também, que tudo isso foi parece ter sido em vão. Afinal, dali a exatamente duas décadas a humanidade adentraria num dos períodos mais funestos de sua história. De qualquer modo, como é próprio desses tempos, tal como um navio à deriva, costumamos mirar sempre o horizonte em busca de um porto seguro – que o digam os dias atuais.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao que parece, há uma vantagem metodológica nas iniciativas historiográficas que tomam as epidemias do passado como um ponto privilegiado de observação de outros fenômenos e dimensões da vida social. É que, como se fossem objetos de uma ciência natural, as implicações sociais, históricas, políticas e econômicas dos surtos epidêmicos, ainda que sob diferentes contextos e circunstâncias, e, ressalva-se, com as devidas singularidades que os estudos da sociedade pressupõem, aparentam obedecer a um certo padrão de resposta social. O que facultaria à investigação histórica a habilidade de escrutinar melhor o passado com base nas reverberações do presente.

Por exemplo, não deixa de ser interessante notar que, tal como ocorre hoje com a pandemia da Covid-19, um dos primeiros setores da economia da cidade do Rio de Janeiro a sofrer uma interrupção, em razão do surto da gripe espanhola, tenha sido o da indústria cultural. As descrições encontradas em jornais da época, crônicas e memórias nos revelam que a moderna vida urbana da qual dependem tanto os lazeres e o turismo foi suspensa. No escrutínio dessas fontes, é fácil supor, até mesmo pelo tom amplificado das narrações e expressões usadas, que os impactos econômicos impingidos ao setor foram de grande monta.

Por outro lado, à diferença da natureza quantitativa e estatística com que esses impactos hoje são auferidos, nas fontes pesquisadas, essa aferição é, hegemonicamente, qualitativa – na maioria das vezes, sob a forma de crônicas. O que, supõe-se, ser explicado pelo estágio ainda inicial em que se encontrava o desenvolvimento da indústria cultural no Brasil, notadamente em sua capital.

Isso não parece autorizar, no entanto, que se estivesse diante da continuidade de fenômenos sociais pré-modernos – caso das viagens aristocráticas do chamado Grand Tour. Pelo contrário, o surto epidêmico da gripe espanhola no Rio de Janeiro se situa numa zona de transição em que as viagens, apesar de se limitarem aos segmentos sociais mais abastados, passam a ser organizadas segundo métodos e princípios industriais, à maneira do turismo de massas – a própria experiência fetichista aventada pelos jornais da época para o carnaval carioca ajuda a fundamentar essa assertiva.

É certo, também, que o surto epidêmico parece ter estimulado formas sociais pretéritas de viagem, como é o caso da vilegiatura na região serrana do estado. No entanto, a própria dificuldade em encontrar nos jornais da época reportagens e matérias que façam alusão à vilegiatura no contexto do surto epidêmico pode ser um indicativo de que se trata de uma prática social cada vez mais em desuso. Aliás, ainda que permanecesse por mais algumas décadas no vocabulário corrente da imprensa, é provável que o emprego da palavra vilegiatura guardasse mais relação com o imaginário sanitarista que alavancou o desenvolvimento do turismo de massas na região do que propriamente com essa forma tradicional de viagem.

A bem da verdade, mais do que se situar num ponto de transição, a epidemia parece ter catalisado o processo de desenvolvimento do fenômeno turístico. É o caso da destradicionalização do carnaval carioca verificado naquele ano de 1919. Prova disso é a preocupação acentuada com o embelezamento artístico dos préstitos e, principalmente, o fato de que foi justamente naquela festa momesca que o ritmo musical do samba se impôs de forma hegemônica sobre outros ritmos que, também, marcavam a folia. O que não é um fato corriqueiro, frise-se. Junto e a seguir dessa hegemonia, advêm a oficialização dos desfiles das escolas de samba, a profissionalização dos sambistas, isto é, daquele que ganha um cachê pelo produto radiofônico, a conversão de rádios amadoras em empresas fonográficas e, claro, a própria transformação do samba (até então confinado a um universo em que quadras eram terreiros e as letras, benzidas) numa mercadoria musical, frequentemente lançada e promovida pelas indústrias culturais durante o carnaval.

A esse propósito, é digno de nota que semelhante efeito catalisador é esperado no pós-pandemia da Covid-19. A expectativa é que o surto epidêmico acelere a superação de um modelo de viagem turística que, pelo menos desde os anos 1990, tem sido confrontado tanto pela crítica acadêmica, que o avalia como uma prática cultural e socialmente massificada, quanto, na prática, por meio de formas de turismo alternativo. O que não deixa de ser paradoxal, uma vez que se trata, em essência, do mesmo modelo que a gripe espanhola ajudou a impulsionar. Daí uma hipótese decorrente desta investigação: o espaço de tempo abrangido por esses dois surtos epidêmicos representaria o início e o fim de um determinado ciclo histórico do turismo no Brasil?

Verdade que ainda é cedo para efetuar qualquer prognóstico acerca do que virá a ser o futuro do turismo – seja em âmbito nacional ou global. Mas, se, por um lado, é prematuro vislumbrar, embora já se sugira, a hegemonia de experiências turísticas mais intimistas, personalizadas e engajadas com os lugares visitados; por outro, vale lembrar que, ao surto epidêmico da gripe espanhola, se vislumbraram mudanças comportamentais que marcaram a sociedade carioca da época. Daí que, nesse âmbito da vida social, à luz da história, não há muitas razões para pensar que o caso da Covid-19 não trará nenhuma novidade.

  • 1
    Essas informações foram extraídas de reportagens e anúncios feitos no jornal Correio da Manhã referentes aos dias 18, 19, 21, 24, 30 de outubro de 1918; 05 de novembro de 1918; e 05 de dezembro de 1918.
  • 2
    DONGA. Pelo telephone. Rio de Janeiro, RJ: Instituto de Artes Graphicas, [19--?]. 4 p. Fonte: Hemeroteca da Biblioteca Nacional Digital. Recuperado de: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_musica/mas566964.pdf
  • Como citar: Nascimento, A. F. (2020). A atualidade turística do caso da Gripe Espanhola na cidade do Rio de Janeiro (Sept. 1918 - Mar. 1919). Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, 14 (3), p. 176-188, set./dez. http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v14i3.2068

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Out 2020
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2020

Histórico

  • Recebido
    22 Jun 2020
  • Aceito
    01 Ago 2020
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