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Satisfação dos pacientes com a implantação do conceito dor o quinto sinal vital, no controle da dor pós-operatória

Patients' satisfaction with the implementation of the concept of pain as the fifth vital sign to control postoperative pain

CARTA AO EDITOR

Satisfação dos pacientes com a implantação do conceito dor o quinto sinal vital, no controle da dor pós-operatória

Patients' satisfaction with the implementation of the concept of pain as the fifth vital sign to control postoperative pain

Senhor Editor,

A conclusão de que não houve diferença na satisfação dos pacientes quando colocada em prática a dor como quinto sinal vital do artigo referência, publicado na Revista Dor: Pesquisa Clínica e Terapêutica 2011;12(1):29-34, de autoria de Lisiane Specht Iuppen, Fernanda Herbstrith de Sampaio, Claudio Marcel Berdún Stadñik, deve ser analisada com cuidado, uma vez que pode induzir os leitores a entenderem que esse conceito preconizado pela Agência Americana de Pesquisa e Qualidade em Saúde Pública e pela Joint Comission on Accreditation on Healthcare Organizations (JCAHO), para melhorar o controle da dor não é benéfico para o tratamento da dor pós-operatória.

A conclusão desse artigo deve ser vista com reserva, pois como a dor foi avaliada apenas 2 vezes ao dia e não 4 vezes ao dia como são classicamente avaliados os quatro sinais vitais, não se pode aceitar que foi utilizado no estudo o conceito dor o quinto sinal vital, que conceitualmente prevê a avaliação da dor concomitantemente a avaliação dos demais sinais vitais.

Outra limitação evidenciada no estudo foi a inclusão de pacientes submetidos a cirurgias que produzem dor de intensidade leve ou moderada e que foram avaliados por um curto período, em uma instituição em que o conceito dor quinto sinal vital ainda não está implantado, mesmo porque não basta apenas avaliar a dor, é necessário que médicos e enfermeiros utilizem a avaliação da dor para mudar suas condutas em relação ao seu tratamento1.

O estudo tem outras limitações como o relativamente pequeno número de pacientes que foram incluídos e a diversidade das cirurgias a que foram submetidos, pois é incontroverso que a intensidade da dor pós-operatória está relacionada à localização e tamanho da incisão, ao tipo de operação e ao tipo de anestesia, alem de não deixar claro se a equipe médica se valeu da avaliação da dor como quinto sinal vital para fazer as prescrições analgésicas.

É consenso que para ser adequadamente controlada a dor deve ser avaliada regularmente, e considerar a dor como quinto sinal vital é uma maneira de sistematizar a sua avaliação, que deve ser feita por equipe de enfermagem capacitada.

A avaliação da dor como o quinto sinal vital pode ser considerado como um grande desafio para equipe de enfermagem na prática clínica diária, porem apresenta vantagens para o paciente, médico, equipe de enfermagem e para a instituição hospitalar, pois permite um melhor controle e alívio da dor, porém exige da equipe de enfermagem prática assistencial especializada, fundamentada e embasada no conhecimento técnico e científico, e a utilização desses dados pela equipe de controle da dor e pelos demais médicos que atendem o paciente, pois apenas a avaliação periódica da intensidade da dor não melhora necessariamente o tratamento da dor2.

Para que a equipe de enfermagem responsável pelos controles de sinais vitais seja qualificada para avaliar e quantificar a dor dos pacientes, deve se sensibilizar, treinar e capacitar a equipe proporcionando a todos os componentes conhecimentos sobre a fisiopatologia, avaliação e o tratamento da dor, usando metodologia adequada e confiável que permita ao enfermeiro avaliar com bastante fidedignidade a intensidade da dor dos pacientes e a equipe de enfermagem, deve ser capaz de compreender que o adequado controle e registro da dor é parte integrante do tratamento e que a intensidade da mesma deve ser avaliada conjuntamente com os sinais vitais.

Não basta avaliar a dor como quinto sinal vital, é fundamental que os dirigentes das instituições de saúde sintam a real necessidade de controlar adequadamente a dor, com a adesão do corpo clínico, para melhorar o atendimento dos pacientes e caminhar em direção ao objetivo do "hospital sem dor"3.

Áquila Lopes Gouvea

Enfermeira da Equipe de Controle da Dor, da Divisão de Anestesia do InstitutoCentral do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP.

  • 1. Al Samaraee A, Rhind G, Saleh U, et al. Factors contributing to poor post-operative abdominal pain management in adult patients: a review. Surgeon 2010;8(3):151-8.
  • 2. Lorenz ka, Sherbourne CD, Shugarman lR, et al. How reliable is pain as the fifth vital sign? J Am Board Fam Med 2009;22(3):291-8.
  • 3. Mularski RA, White-Chu F, Overbay D, et al. Measuring Pain as the 5th vital sign does not improve quality of pain management. Gen Intern Med 2006;21(6):607-12.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Set 2011
  • Data do Fascículo
    Jun 2011
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