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Tecnologia social de prevenção da violência conjugal: o Grupo Vid@ em ações com homens* * Extraído da tese: “Tecnologia Social para homens com vistas a prevenção da violência conjugal”, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal da Bahia, 2018.

Resumo

Objetivo:

Divulgar tecnologia social para homens, desenvolvida pelo grupo de estudos Violência, Saúde e Qualidade de Vida, visando à prevenção da violência conjugal.

Método:

Relato de experiência acerca de uma pesquisa-ação visando à criação de tecnologia social, fundamentada na perspectiva crítico-libertadora de Paulo Freire. O público-alvo foi composto por homens que respondiam a processos nas Varas de Justiça pela Paz em Casa, em Salvador (BA).

Resultados:

Participaram 44 homens. A tecnologia social foi organizada em oito encontros, sendo o primeiro destinado à apresentação da proposta do grupo e ao acolhimento dos participantes, o último com fins avaliativos, e os demais, de caráter temático, com o objetivo de incitar a reflexão sobre o cotidiano, visando à criação e recriação das práxis masculinas a partir dos conflitos vivenciados.

Conclusão:

Considerando a possibilidade de replicação em diferentes cenários, sobretudo em decorrência do baixo custo, o uso da tecnologia possibilitará a prevenção da violência conjugal a partir da transformação masculina.

Descritores:
Violência Contra A Mulher; Homens; Masculinidade; Educação; Mudança Social; Tecnologia

Abstract

Objective:

To disseminate social technology for men aimed at preventing relationship violence developed by the Violence, Health and Quality of Life study group.

Method:

An experience report about action research aiming at the creation of social technology, based on Paulo Freire’s critical-liberating perspective. The target audience consisted of men who had undergone legal proceeding in the Justice Department for Peace in the Home in Salvador (BA).

Results:

Forty-four (44) men participated in the study. The social technology was organized in eight meetings, the first for presenting the group’s proposal and welcoming the participants, the last for evaluative purposes, and the other meetings were thematic with the purpose of encouraging reflection on daily life, aiming at creating and recreating male praxis from the experienced conflicts.

Conclusion:

Considering the possibility of replication in different scenarios, especially due to the low cost, the use of the technology will enable preventing marital violence resulting from resulting from changing male behavior domestic spaces.

Descriptors:
Violence Against Women; Men; Masculinity; Education; Social Change; Technology

Resumen

Objetivo:

Divulgar la tecnología social para hombres, desarrollada por el grupo de estudios Violencia, Salud y Calidad de Vida, con vistas a la prevención de la violencia conyugal.

Método:

Relato de experiencia acerca de una investigación-acción a fin de crear la tecnología social, fundada en la perspectiva crítica y libertadora de Paulo Freire. El público meta estuvo compuesto de hombres que respondían a demandas en los Juzgados por la Paz en el Hogar, en Salvador (BA).

Resultados:

Participaron 44 hombres. La tecnología social fue organizada en ocho encuentros, siendo el primero destinado a la presentación de la propuesta del grupo y a la acogida de los participantes, el último con fines de evaluación, y los demás, de carácter temático, con el fin de incitar la reflexión acerca del cotidiano, con vistas a la creación y recreación de praxis masculinas a partir de los conflictos vividos. Conclusión: Considerando la posibilidad de replicación en distintos escenarios, sobre todo como resultado del bajo costo, el empleo de la tecnología posibilitará la prevención de la violencia conyugal a partir de la transformación masculina.

Descriptores:
Violencia Contra La Mujer; Hombres; Masculinidad; Educación; Cambio Social; Tecnología

INTRODUÇÃO

A violência entre parceiros íntimos representa um fenômeno relacional complexo e de grande magnitude, sobretudo em decorrência dos índices de mortalidade feminina. Tal realidade requer estratégias de prevenção e enfrentamento do fenômeno, inclusive pautadas em ações educativas com os homens, conforme disposto na Lei 11.340, mais conhecida como Lei Maria da Penha.

Apesar de as evidências científicas apontarem para violência mútua entre homens e mulheres(11. Paixão GPN, Pereira A, Gomes NP, Souza AR, Estrela FM, Silva Filho URP, et al. Naturalization, reciprocity and marks of marital violence: male defendants' perceptions. Rev Bras Enferm Internet. 2018;71(1):178-84. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0475.
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, é a empregada pelo homem que majoritariamente repercute nas estatísticas de morbimortalidade(22. Evoy CMC, Hideg G. Global violent deaths 2017. Time to Decide. Switzerland: Small Arms Survey; 2017.). No Brasil foram assassinadas 4.645 mulheres somente no ano de 2016. Embora esses dados se refiram aos homicídios gerais, o mapa da violência projeta que 47% das violências foram causadas por homens com quem as mulheres se relacionavam afetivamente(22. Evoy CMC, Hideg G. Global violent deaths 2017. Time to Decide. Switzerland: Small Arms Survey; 2017.). Contudo, tais danos podem ser evitados já que são precedidos por agressões inicialmente mais sutis, que vão aumentando em frequência e intensidade com o passar do tempo, anunciando que um desfecho fatal está próximo(22. Evoy CMC, Hideg G. Global violent deaths 2017. Time to Decide. Switzerland: Small Arms Survey; 2017.). A partir do entendimento de que milhares de vidas são ceifadas em todo o mundo, a violência cometida por parceiro íntimo deixa de ser tratada como de foro doméstico, despertando o interesse coletivo e governamental(11. Paixão GPN, Pereira A, Gomes NP, Souza AR, Estrela FM, Silva Filho URP, et al. Naturalization, reciprocity and marks of marital violence: male defendants' perceptions. Rev Bras Enferm Internet. 2018;71(1):178-84. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0475.
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Nessa perspectiva, o Estado assume o compromisso para a erradicação da violência contra a mulher. O ano de 2006 marca a sanção do maior avanço brasileiro em prol do fim desse fenômeno: a criação da Lei Maria da Penha. Esse instrumento de combate à violência permitiu a proibição de penas pecuniárias, a prisão do autor da agressão em flagrante, e a concessão de medidas protetivas de urgência(33. Brasil. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências Internet. Brasília; 2006 citado 2018 ago. 12. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/L11340.htm.
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. Salienta-se que, embora essas medidas pretendam fazer com que sejam responsabilizados pelos seus atos, os homens não enxergam suas atitudes como crime ou violência, classificando a Lei como injusta e impositiva(44. Sousa AR, Gomes NP, Estrela FM, Paixão GPN, Pereira A, Couto TM. Domestic violence: the discourse of women and men involved in criminal proceedings. Esc Anna Nery Internet. 2018 cited 2018 Aug 30;22(1):e20170108. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141481452018000100204&lng=en.
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Tais situações têm instigado pesquisadores em várias partes do mundo a desenvolverem estudos no sentido de melhor compreender o fenômeno, bem como desvendar estratégias para sua prevenção e enfrentamento, sendo notório que devem perpassar pela educação de gênero de ambos os envolvidos(55. Fleming PJ, Gruskin S, Rojo F, Dworkin SL. Men's violence against women and men are inter-related: recommendations for simultaneous intervention. Soc Sci Med. 2015;146:249-56. DOI: 10.1016/j.socscimed.2015.10.021.
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,66. Paixão GPN, Pereira A, Gomes NP, Campos LM, Cruz MA, Santos PFM. A experiência de prisão preventiva por violência conjugal: o discurso de homens. Texto Contexto Enferm Internet. 2018 citado 2019 abr. 23;27(2):e3820016. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072018000200327&lng=pt.
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. Essa perspectiva é preconizada na Lei Maria da Penha, que mostra a necessidade da inclusão do público masculino nesses espaços educativos. O Artigo 45 da referida Lei versa sobre a determinação do juiz para que os homens compareçam a programas de reeducação(44. Sousa AR, Gomes NP, Estrela FM, Paixão GPN, Pereira A, Couto TM. Domestic violence: the discourse of women and men involved in criminal proceedings. Esc Anna Nery Internet. 2018 cited 2018 Aug 30;22(1):e20170108. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141481452018000100204&lng=en.
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. Para que ações como essas sejam efetivas, vê-se a necessidade de problematizar as questões relacionais a partir do campo teórico de gênero, compreendido como atributo essencial da pessoa a partir da construção social. Tal perspectiva abrange não só a categoria analítica, mas também a histórica, apontando que as diferenças entre homens e mulheres devem ser compreendidas como oriundas da convivência social mediada pela cultura. Para compreender gênero faz-se necessária a inclusão das categorias raça/etnia e classe social como parâmetros para a organização das relações de poder(77. McCarthy KJ, Mehta R, Haberland NA. Gender, power, and violence: a systematic review of measures and their association with male perpetration of IPV. PLoS One Internet. 2018 cited 2019 Mar 21;13(11):e0207091. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6264844/.
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Acredita-se que essas atividades devam contar com uma estratégia didático-metodológica pautada em diálogo, problematização e reflexão, reforçando, assim, a autonomia dos sujeitos, conforme propõe a perspectiva crítico-libertadora(88. Garzon AMM, Silva KLD, Marques RC. Liberating critical pedagogy of Paulo Freire in the scientific production of nursing 1990-2017. Rev Bras Enferm Internet. 2018 cited 2019 Mar 21; 71; Suppl 4:1751-8. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672018001001751&lng=en&tlng=en.
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. Tal corrente envolve a problematização das questões que envolvem poder, dominação, opressão, justiça, identidade, conhecimento, cultura e libertação. Confere aos sujeitos estratégias de enfrentamento das desigualdades, quer sejam elas econômicas, sociais ou políticas em suas complexidades, tal como é o fenômeno da violência, por meio da educação tanto formal como não formal.

É nesse contexto que se insere o trabalho dos grupos de reflexão com homens transgressores. Sua importância pode ser percebida com base em estimativas que revelam que homens que participaram de grupos de reflexão tiveram menos episódios novos de violência conjugal (4%) que os que não tiveram as mesmas oportunidades (75%)(66. Paixão GPN, Pereira A, Gomes NP, Campos LM, Cruz MA, Santos PFM. A experiência de prisão preventiva por violência conjugal: o discurso de homens. Texto Contexto Enferm Internet. 2018 citado 2019 abr. 23;27(2):e3820016. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072018000200327&lng=pt.
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. Entretanto, apesar de sua extrema relevância, ainda é incipiente a forma como esses espaços devam ser conduzidos(99. Jewkes R, Flood M, Lang J. From work with men and boys to changes of social norms and reduction of inequities in gender relations: a conceptual shift in prevention of violence against women and girls. Lancet. 2018;385(9977):1580-9.).

Compreendendo a magnitude e a complexidade da violência conjugal, o Grupo VID@ (fundado em 2004, composto majoritariamente por enfermeiros e enfermeiras e cujo olhar se direciona para a violência como objeto da saúde, fazendo interface com a educação) vem atuando desde 2011 na construção e aprimoramento de uma tecnologia social que possa servir de modelo para todo e qualquer espaço onde se possa contribuir, de maneira eficiente, para a transformação comportamental masculina, como na esfera da Estratégia de Saúde da Família (ESF) do Ministério da Saúde, com trabalhos direcionados para a comunidade. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo divulgar tecnologia social para homens, desenvolvida pelo Grupo VID@, visando à prevenção da violência conjugal. Parte-se do pressuposto de que a educação representa uma forma eficaz de intervenção na vida coletiva, contribuindo, assim, para a construção de uma sociedade livre e justa para homens e mulheres(88. Garzon AMM, Silva KLD, Marques RC. Liberating critical pedagogy of Paulo Freire in the scientific production of nursing 1990-2017. Rev Bras Enferm Internet. 2018 cited 2019 Mar 21; 71; Suppl 4:1751-8. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672018001001751&lng=en&tlng=en.
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MÉTODO

Tipo de estudo

Trata-se de um relato de experiência fundamentado na perspectiva crítico-libertadora(88. Garzon AMM, Silva KLD, Marques RC. Liberating critical pedagogy of Paulo Freire in the scientific production of nursing 1990-2017. Rev Bras Enferm Internet. 2018 cited 2019 Mar 21; 71; Suppl 4:1751-8. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672018001001751&lng=en&tlng=en.
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. Considerando que a terminologia tecnologia social vem sendo utilizada para designar técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social, o estudo em tela propõe socializar a metodologia de prevenção da violência conjugal, emergida por meio do processo de ação e interação com homens envolvidos em processos jurídicos. No sentido da elaboração de uma tecnologia social, o Grupo VID@ desenvolveu uma pesquisa-ação, estratégia constituída por um modelo de estudo concebido a partir de uma ação para a resolução de um problema coletivo(1010. Thiollent M. Fundamentos e desafios da pesquisa-ação: contribuições na produção dos conhecimentos interdisciplinares. In: Toledo RF, Jacobi PR, organizadores. A pesquisa-ação na interface da saúde, educação e ambiente: princípios, desafios e experiências interdisciplinares. São Paulo: Annablume; 2012. p. 19-39.).

Dessa forma, buscando contribuir para a desconstrução das relações assimétricas entre homens e mulheres, a pesquisa-ação foi conduzida a partir das seguintes fases: diagnóstico, planejamento das ações, execução das ações, avaliação e análise de dados(1010. Thiollent M. Fundamentos e desafios da pesquisa-ação: contribuições na produção dos conhecimentos interdisciplinares. In: Toledo RF, Jacobi PR, organizadores. A pesquisa-ação na interface da saúde, educação e ambiente: princípios, desafios e experiências interdisciplinares. São Paulo: Annablume; 2012. p. 19-39.). Especificamente sobre a condução das ações, essenciais para o delineamento da tecnologia social, adotou-se a pesquisa-ação como corpo teórico e técnica de intervenção e incorporação, sendo eleita a modalidade do grupo operativo do tipo centrado na tarefa, sob a perspectiva de Pichon-Rivière. A esse grupo intitulamos grupo reflexivo (GR).

Cenário

A pesquisa foi realizada em parceria com a 1a e a 2a Varas de Justiça pela Paz em Casa de Salvador, Bahia, Brasil, inauguradas, respectivamente, em 18 de novembro de 2008 e 30 de março de 2015, nos bairros do Imbuí e Barris. Os GRs foram agendados às quintas-feiras, entre 17 horas e 19 horas, e atendidos em uma sala de uma escola pública municipal situada no mesmo endereço da 1a Vara de Justiça pela Paz em Casa.

O estudo foi realizado com 44 homens envolvidos em processos jurídicos por violência conjugal nas Varas de Justiça pela Paz em Casa de Salvador.

Critérios de seleção

Como critérios de inclusão foram considerados: homens que respondiam a processos nas Varas e, em decorrência da violência conjugal, considerados em boas condições emocionais. A avaliação das instabilidades emocionais foi realizada pela pesquisadora e, em alguns casos, com o apoio da psicóloga que integra o Grupo Vid@.

Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada entre os meses de dezembro de 2014 e fevereiro de 2018. Desse modo, desenvolveram-se cinco ciclos de GRs, os quais contaram com o processo de ação e interação de homens. O primeiro grupo foi realizado no final de 2014, configurando-se como piloto, quando se atentou para o levantamento das questões que necessitavam de ajustes, visando à melhor estruturação do modelo da proposta a ser implementada nos próximos grupos. Entre os anos de 2016 e 2017, foram desenvolvidos quatro ciclos subsequentes, cada um com oito encontros que ocorreram semanalmente, à exceção do último, de caráter avaliativo, que se deu com um intervalo de, pelo menos, um mês. O intervalo destinado ao último encontro (de caráter avaliativo) foi considerado essencial para que os participantes assimilassem a experiência vivida no GR e pudessem relatar sobre sua disposição para mudanças na forma como se relacionam com os familiares, em especial com as mulheres. Nesse sentido, cada GR teve duração média de três meses, com o GR seguinte iniciando após intervalo de dois meses, tempo que utilizamos para avaliar a tecnologia social e estabelecer adequações, resultando na proposta apresentada.

Análise e tratamento dos dados

Os resultados foram embasados na reflexão sobre o cotidiano, visando à criação e à recriação da práxis masculina a partir dos conflitos vivenciados, conforme propõe Paulo Freire(88. Garzon AMM, Silva KLD, Marques RC. Liberating critical pedagogy of Paulo Freire in the scientific production of nursing 1990-2017. Rev Bras Enferm Internet. 2018 cited 2019 Mar 21; 71; Suppl 4:1751-8. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672018001001751&lng=en&tlng=en.
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Aspectos éticos

No que diz respeito à obtenção de dados para fins de pesquisa, o estudo esteve vinculado à tese de doutorado em Enfermagem e Saúde da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da referida instituição sob o parecer 877.905/2014, e atende aos dispositivos éticos e legais constantes na Resolução no 466/12, do Conselho Nacional de Saúde. A coleta de dados foi iniciada somente após a assinatura, pelos homens, do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os GRs ocorreram em um espaço que garantisse a privacidade durante a coleta de dados.

RESULTADOS

O GR teve sua operacionalização organizada em oito encontros, sendo o primeiro destinado a acolher os participantes e apresentar a proposta do GR, os seis seguintes com vertente temática no sentido de provocar reflexões acerca de percepções e condutas masculinas, bem como sobre a influência destas para as relações familiares e conjugais, e o último, de caráter avaliativo. A apresentação metodológica de cada encontro está descrita a seguir.

Encontro 1 - Apresentando o GR

Objetivo: Apresentar a proposta didático-metodológica e finalidade do GR.

Por meio da dinâmica ‘Quem sou eu?’, busca-se apresentar todos os integrantes: homens participantes e equipe de trabalho. Segue-se com a exposição da proposta do GR, quando se compartilham as experiências de grupos anteriores e se expõe o cronograma das atividades em grupo e em dispersão, estas últimas em formato de cartilha. Considerando que a equipe executora se vincula à Universidade e, portanto, tem interesse em produzir evidências científicas a partir das experiências desenvolvidas, é essencial esclarecer, logo nesse primeiro momento, a intenção de utilização dos dados para fins de pesquisa. Contudo, o emprego das falas condiciona-se à autorização dos participantes, os quais terão suas identidades preservadas. Sua participação na pesquisa é livre e voluntária, assegurando o princípio da autonomia.

Após essa etapa, são pactuadas regras de convivência no GR, como: desligar ou manter-se com os aparelhos celulares em modo silencioso; evitar atrasos; promover convívio harmônico, por meio do respeito a opiniões, expressões e emoções emanadas durante os encontros, mesmo quando existir discordância ideológica; e assegurar privacidade e confidencialidade dos relatos pessoais expostos.

Como forma de promover a socialização dos homens, realiza-se um lanche sempre no início de cada encontro, como oportunidade de ampliar as relações de vínculo com os demais participantes e com a equipe executora. Para fins de possibilitar a participação efetiva e assiduidade no GR, é disponibilizado auxílio financeiro para custeio do transporte público.

Encontro 2 - Influência da família na formação do “eu”

Objetivo: Incitar o valor da instituição família e alertar para sua influência na reprodução de comportamentos.

Desenvolve-se a dinâmica ‘Laços e nós: conhecendo a estrutura familiar’, na qual os homens preenchem seu genograma. Acredita-se que esse processo fará despertar lembranças de momentos com os familiares, os quais são incentivados a serem compartilhados durante a apresentação da estrutura familiar guiada por um roteiro: infância, adolescência e vida adulta, inclusive a relação conjugal e com os filhos.

É feita uma analogia entre árvore frutífera (Figura 1) e árvore genealógica (Figura 2), que é desenhada evidenciando-se suas estruturas (raízes, caule, folhas, flores e frutos, estes últimos considerados ‘quem eu sou’), devendo-se explicar que: a raiz se relaciona à fixação e à absorção de nutrientes; o caule é responsável pela sustentação e condução dos nutrientes; as folhas são a realização de transpiração, trocas gasosas e fotossíntese; e os frutos representam o desenvolvimento. Solicita-se a escolha de familiares que representem as partes da árvore, exceto o fruto, podendo ser a mesma pessoa em partes diferentes. Discute-se a importância do alicerce familiar para a formação do indivíduo, considerando os diversos modelos de conformação e laços familiares, inclusive aqueles não consanguíneos. Busca-se ainda estimular reflexões acerca de familiares que influenciaram/determinaram a pessoa que o participante se tornou, representado pelo fruto, e ainda a tendência de reprodução do vivido nas relações com o outro, sobretudo com os filhos. Para dar ênfase à transgeracionalidade, exibe-se o vídeo ‘Filhos imitam as atitudes dos pais’, produzido por Franco Gregori (https://www.youtube.com/watch?v=6JxvGbIwud4), que possibilitará uma reflexão maior acerca da temática.

Figura 1
Árvore frutífera. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 2
Árvore genealógica. Fonte: Arquivo pessoal.

Encontro 3 - Construção social da desigualdade de gênero

Objetivo: esclarecer que papéis e funções atribuídos a homens e mulheres foram construídos e reproduzidos historicamente, contribuindo para a naturalização do poder masculino.

Exibe-se o vídeo ‘Igualdade de gênero’, produzido pela Organização das Nações Unidas (ONU) (https://www.youtube.com/watch?v=ZCGLC-vziRc), e, em seguida, fomentam-se discussões a respeito da desigualdade entre os gêneros a partir das indagações: Vocês concordam com a mensagem trazida pelo vídeo? Qual sua opinião sobre a igualdade de gênero? Você acredita que a desigualdade pode e deve ser combatida? Objetiva-se desvelar a percepção masculina acerca do “ser homem” e “ser mulher” e provocar reflexões acerca da construção social de papéis/funções tidos como femininos e masculinos, bem como suas implicações.

Finalizada essa etapa, desenvolve-se a dinâmica ‘Conhecendo a realidade’, em que se exibem notícias verídicas de jornais e revistas que abordam a desigualdade de gênero, contemplando questões como dupla jornada, diferença nos cargos de chefia e de salário, assédio no trabalho, etc. Na discussão, busca-se descortinar a desigualdade de gênero, sobretudo no mundo público, que acaba por privilegiar os homens. Os referenciais utilizados para tratar das questões de gênero estruturaram-se nos postulados propostos por referências na área(77. McCarthy KJ, Mehta R, Haberland NA. Gender, power, and violence: a systematic review of measures and their association with male perpetration of IPV. PLoS One Internet. 2018 cited 2019 Mar 21;13(11):e0207091. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6264844/.
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,1111. Alves AM. Pensar o gênero: diálogos com o Serviço Social. Serv Soc Soc Internet. 2018 citado 2019 mar. 21;(132):268-86. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282018000200268&lng=pt&tlng=pt.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
-1212. Assunção MFM. Notas sobre a dominação social em António Gramsci e Pierre Bourdieu. Sociologia Internet. 2016 citado 2019 mar. 21;31:151-71. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0872-34192016000100008&lng=pt&tlng=pt.
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Encontro 4 - Masculinidades e a formação do “novo homem”

Objetivo: Alertar para as consequências do modelo hegemônico de “ser homem” para a vulnerabilidade masculina a doenças/agravos e a necessidade de novos modelos de masculinidade ancorados no respeito e na afetividade.

Realizada geralmente apenas por integrantes homens, esse encontro se inicia com a dinâmica ‘A construção das masculinidades’, em que um dos participantes se deita sobre um papel metro e os demais, com o auxílio de pincel anatômico, fazem o contorno do formato de seu corpo. A partir do esboço do desenho exposto, são realizadas as seguintes indagações: O que falta neste desenho para constituir-se homem? Como os homens são ensinados a se comportar? O que precisam fazer para “provar” que são homens? Hoje vocês ainda pensam assim? Os facilitadores anotam as colocações, que servem de base para discussão acerca dos elementos que constroem a masculinidade e sua vulnerabilidade para agravos, como a violência.

Finalizando, exibem-se os vídeos ‘Comercial Old Spice: O Chamado de Malvino Salvador’ (https://www.youtube.com/watch?v=bsTGvy5pc04) e ‘O sexismo também afeta o homem’ (https://www.youtube.com/watch?v=tyty1lfRUoI), que embasarão a próxima discussão: Vocês se identificam com esses vídeos? Existe relação entre os elementos listados e os vídeos? É possível a construção de um “novo homem”? Busca-se desmistificar o modelo hegemônico do “homem-provedor-rude” e sensibilizar para a valorização de atributos pautados na ética, no respeito e na afetividade.

Encontro 5 - Saúde de homens e o incentivo ao autocuidado

Objetivo: Alertar para doenças/agravos a que a população masculina se encontra vulnerável pelo fato de “ser homem” e incentivar o autocuidado à saúde, em que se inserem relações conjugais saudáveis.

Com o objetivo de incentivar a prática do autocuidado, com enfoque na prevenção da violência tanto urbana como doméstica/conjugal, propõe-se um jogo de tabuleiro humano (Figura 3), que contém itens alusivos aos eixos preconizados pela Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH): Acesso e acolhimento; Saúde sexual e reprodutiva; Paternidade e cuidado; Agravos e condições crônicas na população masculina; Prevenção de violências e acidentes; Saúde do trabalhador e saúde mental. Identificadas com cores específicas, cada categoria temática contém um conjunto de perguntas (por exemplo: Você pratica atividade física? O que você pensa sobre o uso do preservativo? Como podemos prevenir a violência na conjugalidade?), ações (avance e volte) e desafios (por exemplo: encenar pedido de folga para comparecer à consulta médica; colocar condom em pênis de plástico; trocar fralda em boneca). Para iniciar o jogo, os participantes são divididos em dois grupos, cujos representantes lançam os dados para percorrer o tabuleiro, vencendo aquele que primeiro chegar à última casa.

Figura 3
Jogo do tabuleiro humano. Fonte: Arquivo pessoal.

Encontro 6 - Percepção da conduta violenta

Objetivo: Incitar o reconhecimento masculino de condutas desrespeitosas/violentas e da responsabilização criminal.

Realiza-se a dinâmica ‘Esclarecendo sobre as expressões da violência’, que objetiva dar visibilidade às diversas formas de expressão da violência, conforme tipificação da Lei Maria da Penha. Para o desenvolvimento dessa dinâmica, são fixadas cinco cartolinas, cada uma representativa de uma das formas de expressão (física, psicológica, moral, sexual e patrimonial). Solicita-se que escrevam, em pedaços de papel, o que vem a suas mentes quando ouvem a palavra violência, devendo ser utilizado, para cada palavra/frase, um papel, que deverá ser fixado em uma das cinco cartolinas.

Em seguida, incentiva-se que compartilhem o porquê de relacionar a palavra/frase à forma de violência e promove-se uma discussão com fins sobre o caráter velado dos abusos e a dificuldade dos homens em perceberem seus atos como desrespeitosos/violentos e, portanto, passíveis de penalidades jurídicas, o que remete à responsabilização pela conduta criminosa. Assim, insere-se o conflito conjugal como problema de interesse público, não mais protegido pela crença social de que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”. Para aprofundar a discussão, mas de forma específica no campo da violência sexual, exibe-se o vídeo ‘Tea and Consent’ (Chá e Consentimento) (https://www.youtube.com/watch?v=oQbei5JGiT8), com o objetivo de fazer os homens refletirem sobre suas condutas nas relações conjugais, inclusive sobre o estupro conjugal.

Encontro 7 - Resolução pacífica de conflitos

Objetivo: Incitar a percepção masculina acerca dos elementos precipitadores/intensificadores da violência conjugal e estratégias pacíficas para resolução de conflitos.

Desenvolve-se a dinâmica ‘Está estressado? Vai pescar!’, em que, a partir da simulação de uma pescaria, os homens pescam peixes em cujos versos constam palavras precipitadoras/intensificadoras da violência conjugal, tais como: ciúmes, álcool e uso de roupas curtas. Após a pesca, solicita-se que cada participante verbalize o conflito e mencione estratégias de solução pacífica. Amplia-se a discussão para todo o grupo no sentido de elencar o maior número de possibilidades de resolução de conflitos que não por meio da violência.

Na etapa seguinte, aplica-se a dinâmica ‘O perdão’. Para isso, monta-se um painel em formato de um grande coração, no qual são colados corações menores, em cores distintas, contendo mensagens motivacionais. Cada participante escolhe um coração e o retira do painel. Em seguida, é entregue, a cada participante, uma cópia impressa do conto Os pregos e a madeira, de autoria desconhecida. Após a leitura do conto, é feita uma analogia das marcas geradas ao separarem os corações. Objetiva-se a reflexão acerca das repercussões de suas ações para si e para o outro. Sugere-se aos participantes o exercício do perdão nas relações cotidianas.

Encontro 8 - Avaliação do Grupo Reflexivo

Objetivo: Avaliar o impacto do GR para a transformação masculina, sobretudo nas relações familiares e conjugais.

Com o objetivo de que os homens rememorem as experiências no GR, apresenta-se um vídeo contendo fotos de todos os encontros realizados. Em seguida, realiza-se a dinâmica ‘Que bom, Que pena, Que tal’, em que são entregues canetas e três recortes de papel em branco para cada participante, a fim de que descrevam os aspectos positivos (Que bom), negativos e/ou limitações (Que pena) e sugestões de melhoria para o GR (Que tal). Tais anotações devem ser afixadas nas cartolinas coloridas, representadas, respectivamente, pelas cores verde, vermelha e amarela. Em seguida, promove-se espaço de discussão com base em indagações, como: Esses encontros provocaram reflexões acerca de seu papel como homem, marido, filho e pai? O que mudou em sua vida a partir desses encontros? Essa atividade possibilita avaliar o GR e suas contribuições para as relações familiares e conjugais dos participantes.

Para finalizar, é realizada a dinâmica ‘O reflexo no espelho’, em que são disponibilizadas caixas contendo um espelho colado no fundo. Todos os participantes são orientados a, individualmente, observar o conteúdo da caixa, de maneira sigilosa, e a refletir sobre as seguintes questões: Quem é essa pessoa? O que ela aprendeu nos últimos encontros? Ela mudou algo em si? Instiga-se os participantes a pensar sobre o seu “eu” e as transformações que reverberaram a partir das vivências no GR.

DISCUSSÃO

A escolha dos temas trabalhados, a maneira com que foram sequenciados e a forma de conduzir a oficina foram fruto da imersão dos pesquisadores na leitura científica, de discussão e de aplicação prática, resultando na tecnologia social aqui divulgada. A seleção dos temas foi pautada no princípio epistemológico, o qual valoriza o conhecimento trazido pelos sujeitos, buscando-se, a partir do diálogo, a superação de situações-limite(88. Garzon AMM, Silva KLD, Marques RC. Liberating critical pedagogy of Paulo Freire in the scientific production of nursing 1990-2017. Rev Bras Enferm Internet. 2018 cited 2019 Mar 21; 71; Suppl 4:1751-8. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672018001001751&lng=en&tlng=en.
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Por ser a família a instituição essencial na formação do “eu” e pelo caráter fortemente transgeracional da violência, esse tema é, sem dúvida, o pontapé inicial para que reflexões sobre os homens comecem a surgir, principalmente porque a maior parte deles nunca havia relacionado vivências da infância com as da vida adulta. Foi fascinante ouvir dos próprios participantes, durante o desenvolvimento da oficina, que eles estavam percebendo que reproduziam construções que foram aprendidas e/ou que eram reproduzidas do seio familiar. Durante o processo de mediação do grupo, a equipe de trabalho procurou valorizar as experiências significativas trazidas pelos sujeitos, estimulando-os a realizarem uma releitura do próprio mundo(88. Garzon AMM, Silva KLD, Marques RC. Liberating critical pedagogy of Paulo Freire in the scientific production of nursing 1990-2017. Rev Bras Enferm Internet. 2018 cited 2019 Mar 21; 71; Suppl 4:1751-8. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672018001001751&lng=en&tlng=en.
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. Houve também o interesse em promover compreensão sobre as construções de gênero implicadas na formação dos sujeitos, uma vez que estas se apresentam como formas e significados culturais que dão sentido à vida, além de fomentarem características tidas socialmente como femininas e masculinas(1111. Alves AM. Pensar o gênero: diálogos com o Serviço Social. Serv Soc Soc Internet. 2018 citado 2019 mar. 21;(132):268-86. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282018000200268&lng=pt&tlng=pt.
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. Nesse sentido, abordar temáticas que tragam à tona o papel social da família como formadora da identidade individual se mostra importante por favorecer a reflexão e a ressignificação das condutas violentas nas relações familiares e conjugais(55. Fleming PJ, Gruskin S, Rojo F, Dworkin SL. Men's violence against women and men are inter-related: recommendations for simultaneous intervention. Soc Sci Med. 2015;146:249-56. DOI: 10.1016/j.socscimed.2015.10.021.
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,66. Paixão GPN, Pereira A, Gomes NP, Campos LM, Cruz MA, Santos PFM. A experiência de prisão preventiva por violência conjugal: o discurso de homens. Texto Contexto Enferm Internet. 2018 citado 2019 abr. 23;27(2):e3820016. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072018000200327&lng=pt.
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.

O principal legado mencionado se refere à divisão de papéis entre homens e mulheres, fortemente arraigados no modelo patriarcal, ensinados socialmente e reproduzidos em seus lares. Tal perspectiva é discutida por teorista de gênero quando aponta que homens e mulheres são construídos por condicionantes históricos, culturais e sociais, estando permeados por relações de poder, fazendo com que o feminino se mantenha em condição de subalternidade(1111. Alves AM. Pensar o gênero: diálogos com o Serviço Social. Serv Soc Soc Internet. 2018 citado 2019 mar. 21;(132):268-86. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282018000200268&lng=pt&tlng=pt.
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)
, favorecendo a prática da violência nas relações maritais. Pesquisa nacional acrescenta que essa construção social reforça o não reconhecimento de situações violentas(11. Paixão GPN, Pereira A, Gomes NP, Souza AR, Estrela FM, Silva Filho URP, et al. Naturalization, reciprocity and marks of marital violence: male defendants' perceptions. Rev Bras Enferm Internet. 2018;71(1):178-84. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0475.
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, sendo estas, portanto, entendidas como naturais. Essa naturalização da violência também pode ser entendida sob a ótica freireana, a qual parte da premissa de que a neutralidade seria a maneira mais cômoda, senão mais hipócrita, de esconder a opção ou o medo de acusar a injustiça. Na leitura baseada em gênero, a questão da neutralidade ganha amplitude, visto que está enraizada no patriarcado, devendo, portanto, ser analisada de forma abrangente. Pautado neste, são explicadas algumas razões para as desigualdades de gênero e consequente opressão feminina(77. McCarthy KJ, Mehta R, Haberland NA. Gender, power, and violence: a systematic review of measures and their association with male perpetration of IPV. PLoS One Internet. 2018 cited 2019 Mar 21;13(11):e0207091. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6264844/.
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Assim, para superação da realidade, o entendimento e o reconhecimento do fenômeno são fundamentais para a transformação da sociedade(88. Garzon AMM, Silva KLD, Marques RC. Liberating critical pedagogy of Paulo Freire in the scientific production of nursing 1990-2017. Rev Bras Enferm Internet. 2018 cited 2019 Mar 21; 71; Suppl 4:1751-8. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672018001001751&lng=en&tlng=en.
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)
. Nesse contexto, propiciar reflexões acerca da importância de desconstruir as desigualdades de gênero aprendidas na infância torna-se o tema seguinte no fluxo da tecnologia social aqui apresentada.

Não se pode deixar de mencionar que são essas diferenças socialmente estabelecidas que vulnerabilizam mulheres e homens para a vivência de violência. Além de tornarem as mulheres vulneráveis, o poder, que se apresenta de maneira simbólica na dominação masculina, impõe legitimidade do homem e sustenta as disparidades entre os gêneros, que se naturalizam e se mascaram nas relações, infiltrando-se no pensamento e na concepção de mundo(1212. Assunção MFM. Notas sobre a dominação social em António Gramsci e Pierre Bourdieu. Sociologia Internet. 2016 citado 2019 mar. 21;31:151-71. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0872-34192016000100008&lng=pt&tlng=pt.
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Estudos em todo o mundo evidenciam a maior morbimortalidade de mulheres pela vivência da violência por parceiro íntimo(11. Paixão GPN, Pereira A, Gomes NP, Souza AR, Estrela FM, Silva Filho URP, et al. Naturalization, reciprocity and marks of marital violence: male defendants' perceptions. Rev Bras Enferm Internet. 2018;71(1):178-84. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0475.
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, bem como a elevada morbimortalidade de homens por violências externas(22. Evoy CMC, Hideg G. Global violent deaths 2017. Time to Decide. Switzerland: Small Arms Survey; 2017.), e também o adoecimento destes por conta da violência conjugal(44. Sousa AR, Gomes NP, Estrela FM, Paixão GPN, Pereira A, Couto TM. Domestic violence: the discourse of women and men involved in criminal proceedings. Esc Anna Nery Internet. 2018 cited 2018 Aug 30;22(1):e20170108. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141481452018000100204&lng=en.
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Desse modo, para que os homens possam assumir uma postura de mudança acerca do modelo hegemônico da masculinidade, discute-se sobre as diversas masculinidades existentes, na tentativa de quebrar tabus como “homem não chora”. Na perspectiva de gênero, as relações de poder estão presentes no modo de conceber o masculino e o feminino, sendo denunciadas dicotomias, oposições e preconceitos existentes, e aqueles “invisíveis”, que compõem universos de socialização desigual(1212. Assunção MFM. Notas sobre a dominação social em António Gramsci e Pierre Bourdieu. Sociologia Internet. 2016 citado 2019 mar. 21;31:151-71. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0872-34192016000100008&lng=pt&tlng=pt.
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)
. Busca-se, aqui, trabalhar a valorização de atributos pautados no respeito e na afetividade masculina. Essas ideias também são defendidas no princípio axiológico, o qual defende que a educação deve produzir e difundir valores positivos que contribuam para a humanização e solidariedade dos sujeitos(88. Garzon AMM, Silva KLD, Marques RC. Liberating critical pedagogy of Paulo Freire in the scientific production of nursing 1990-2017. Rev Bras Enferm Internet. 2018 cited 2019 Mar 21; 71; Suppl 4:1751-8. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672018001001751&lng=en&tlng=en.
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)
. Nesse sentido, programas na perspectiva de gênero e masculinidade são necessários para mudar atitudes e comportamentos(55. Fleming PJ, Gruskin S, Rojo F, Dworkin SL. Men's violence against women and men are inter-related: recommendations for simultaneous intervention. Soc Sci Med. 2015;146:249-56. DOI: 10.1016/j.socscimed.2015.10.021.
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-66. Paixão GPN, Pereira A, Gomes NP, Campos LM, Cruz MA, Santos PFM. A experiência de prisão preventiva por violência conjugal: o discurso de homens. Texto Contexto Enferm Internet. 2018 citado 2019 abr. 23;27(2):e3820016. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072018000200327&lng=pt.
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)
, estruturados histórico-socialmente(77. McCarthy KJ, Mehta R, Haberland NA. Gender, power, and violence: a systematic review of measures and their association with male perpetration of IPV. PLoS One Internet. 2018 cited 2019 Mar 21;13(11):e0207091. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6264844/.
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)
, favorecendo a construção do novo homem.

A oficina supracitada é também de suma importância, porque é grande o adoecimento e, inclusive, as estatísticas de suicídio entre homens em todo o mundo, por conta de que a eles é privado o direito de compartilhar seus medos e angústias. Ademais, um estudo realizado no Canadá com homens revela que, em decorrência da dificuldade de falar sobre seus problemas e de serem solitários, há uma grande taxa de suicídios masculinos(1313. Roy P, Tremblay G, Duplessis- Brochu E. Problematizing men's suicide, mental health, and well-being. Crisis. 2018;39(2):137-43. DOI: 10.1027/0227-5910/a000477.
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)
. Justamente por considerar realidades como essas, a exemplo das estatísticas de suicídio masculino, é que se procurou colocar em prática os pensamentos freireanos, visto que o próprio Paulo Freire defende a luta constante contra qualquer forma de opressão, propondo que a educação seja pautada por uma ética do desenvolvimento da vida humana em suas diversas potencialidades, promotora da dignidade e fomentadora da autonomia responsável dos sujeitos em relação a si e à coletividade(88. Garzon AMM, Silva KLD, Marques RC. Liberating critical pedagogy of Paulo Freire in the scientific production of nursing 1990-2017. Rev Bras Enferm Internet. 2018 cited 2019 Mar 21; 71; Suppl 4:1751-8. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672018001001751&lng=en&tlng=en.
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. Esse modelo de masculinidade hegemônica, que caracteriza o homem como forte, corajoso e viril, coloca os homens em situação de risco, colabora para a violência contra as mulheres e, ainda, exige renúncias afetivas e emocionais, como paternidade e expressão de sentimentos(1212. Assunção MFM. Notas sobre a dominação social em António Gramsci e Pierre Bourdieu. Sociologia Internet. 2016 citado 2019 mar. 21;31:151-71. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0872-34192016000100008&lng=pt&tlng=pt.
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Rememora-se, ainda, que muito dessa construção acerca do homem forte e viril faz com que esse público se distancie dos serviços de saúde(44. Sousa AR, Gomes NP, Estrela FM, Paixão GPN, Pereira A, Couto TM. Domestic violence: the discourse of women and men involved in criminal proceedings. Esc Anna Nery Internet. 2018 cited 2018 Aug 30;22(1):e20170108. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141481452018000100204&lng=en.
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. Por esse motivo, durante a construção dessa tecnologia social de prevenção à violência conjugal, falar sobre a saúde e incentivar homens ao autocuidado desvelaram-se temas de suma importância. Sob esse olhar, procurou-se fazer com que os hábitos de vida se tornassem objeto de reflexão por parte dos homens, condição essencial para uma compreensão crítica da própria prática e consequente mudança de postura(88. Garzon AMM, Silva KLD, Marques RC. Liberating critical pedagogy of Paulo Freire in the scientific production of nursing 1990-2017. Rev Bras Enferm Internet. 2018 cited 2019 Mar 21; 71; Suppl 4:1751-8. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672018001001751&lng=en&tlng=en.
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)
. As questões de gênero que permeiam essas construções se encontram intimamente articuladas com a linguagem e o discurso, compondo um universo simbólico que permite analisar socialmente aquilo que enxergamos nos corpos(1111. Alves AM. Pensar o gênero: diálogos com o Serviço Social. Serv Soc Soc Internet. 2018 citado 2019 mar. 21;(132):268-86. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282018000200268&lng=pt&tlng=pt.
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Isso porque principalmente este espaço faz com que possamos adentrar ainda mais a questão da violência, haja vista que nos baseamos no PNAISH. Com muitas questões discutidas e desmistificadas, a tecnologia se propõe, a partir do sexto encontro, a desnaturalizar efetivamente a conduta violenta. Isso ocorre porque, embora sejam muitas as formas de expressão da violência entre parceiros íntimos, não raro não são entendidas como tal, principalmente quando se trata das formas mais sutis, que não deixam marcas(44. Sousa AR, Gomes NP, Estrela FM, Paixão GPN, Pereira A, Couto TM. Domestic violence: the discourse of women and men involved in criminal proceedings. Esc Anna Nery Internet. 2018 cited 2018 Aug 30;22(1):e20170108. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141481452018000100204&lng=en.
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)
. Infere-se ainda que não há como pôr fim a algo que não é entendido. Desse modo, causar reflexões e entendimento sobre todas as formas de violência, tomando como base a Lei Maria da Penha(33. Brasil. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências Internet. Brasília; 2006 citado 2018 ago. 12. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/L11340.htm.
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)
, torna-se foco nesse encontro. Nesse sentido, a educação é difusora e produtora de valores que regem a vida dos sujeitos, e esta deve contribuir para uma sociedade mais livre e justa e para a superação das diversas formas de exploração e dominação vigentes(88. Garzon AMM, Silva KLD, Marques RC. Liberating critical pedagogy of Paulo Freire in the scientific production of nursing 1990-2017. Rev Bras Enferm Internet. 2018 cited 2019 Mar 21; 71; Suppl 4:1751-8. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672018001001751&lng=en&tlng=en.
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. A dominação masculina se encontra tênue nas relações, mantém-se muitas vezes invisível, imbricada em nosso inconsciente, mascarada nas formas simples de organização do pensamento e também da linguagem, e, portanto, necessitaria ser tensionada(1212. Assunção MFM. Notas sobre a dominação social em António Gramsci e Pierre Bourdieu. Sociologia Internet. 2016 citado 2019 mar. 21;31:151-71. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0872-34192016000100008&lng=pt&tlng=pt.
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Com o entendimento de que suas ações foram violentas, os homens são instigados a criar estratégias para resolução pacífica de conflitos. Tendo em vista que muitos são os elementos que precipitam a violência conjugal(11. Paixão GPN, Pereira A, Gomes NP, Souza AR, Estrela FM, Silva Filho URP, et al. Naturalization, reciprocity and marks of marital violence: male defendants' perceptions. Rev Bras Enferm Internet. 2018;71(1):178-84. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0475.
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, nada melhor que os próprios homens reflitam sobre como resolver esses problemas sem o uso da força, utilizando o exercício da autopercepção como ação mobilizadora da criação de novas estratégias resolutivas para os conflitos(55. Fleming PJ, Gruskin S, Rojo F, Dworkin SL. Men's violence against women and men are inter-related: recommendations for simultaneous intervention. Soc Sci Med. 2015;146:249-56. DOI: 10.1016/j.socscimed.2015.10.021.
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6. Paixão GPN, Pereira A, Gomes NP, Campos LM, Cruz MA, Santos PFM. A experiência de prisão preventiva por violência conjugal: o discurso de homens. Texto Contexto Enferm Internet. 2018 citado 2019 abr. 23;27(2):e3820016. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072018000200327&lng=pt.
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7. McCarthy KJ, Mehta R, Haberland NA. Gender, power, and violence: a systematic review of measures and their association with male perpetration of IPV. PLoS One Internet. 2018 cited 2019 Mar 21;13(11):e0207091. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6264844/.
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8. Garzon AMM, Silva KLD, Marques RC. Liberating critical pedagogy of Paulo Freire in the scientific production of nursing 1990-2017. Rev Bras Enferm Internet. 2018 cited 2019 Mar 21; 71; Suppl 4:1751-8. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672018001001751&lng=en&tlng=en.
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-99. Jewkes R, Flood M, Lang J. From work with men and boys to changes of social norms and reduction of inequities in gender relations: a conceptual shift in prevention of violence against women and girls. Lancet. 2018;385(9977):1580-9.)
.

Por fim, chegar ao encontro avaliativo e ouvir dos homens, que outrora se mostravam resistentes, o quão importantes foram os espaços criados por esta ferramenta vem sendo recompensador. Sob o aspecto de tecnologia que possibilita aos homens refletirem sobre suas vidas, compartilharem histórias e se despertarem para novos projetos de vida, tal experiência nos indica ser esse um recurso efetivo para a prevenção da violência conjugal. Concordando com a perspectiva crítico-libertadora, acredita-se que a reflexão, a ação e a participação masculinas, em detrimento da educação bancária, constituem importante arma para a prevenção e o enfrentamento desse agravo.

Embora o estudo apresente limitações por não esgotar todas as possibilidades de temáticas a serem exploradas, considera-se que os conteúdos abordados possuem potencial gerador de mudanças, sendo, inclusive, passíveis de replicação em escolas, empresas e serviços de saúde, sobretudo no âmbito da comunidade por meio da ESF. Importante referir ainda que a estratégia metodológica ora apresentada pode e deve ser implementada com novos grupos, inclusive com adolescentes

CONCLUSÃO

A tecnologia social para homens visando à prevenção da violência conjugal desenvolvida pelo Grupo VID@ pauta-se no estímulo à reflexão acerca das percepções e condutas masculinas no que se refere à forma como se relacionam com as mulheres. Para isso, são promovidos espaços de discussão no sentido de fazer com que os homens repensem a importância da família na formação do indivíduo e os impactos da desigualdade de gênero para a sociedade, desmistificando o modelo hegemônico do “homem-provedor-rude”, bem como se sintam estimulados a praticar o autocuidado, conheçam as diversas formas de expressão da violência, e elenquem métodos pacíficos de resolução de conflitos.

Evidencia-se que para a implementação da tecnologia social apresentada foi necessário operacionalizar o trabalho a partir de articulação intersetorial, interdisciplinar e multiprofissional, anuência institucional, bioética e financiamento público para acesso às instituições envolvidas e aos homens participantes. Para além disso, desenvolveu-se, por meio do trabalho em equipe, o levantamento teórico, a apresentação da proposta didático-metodológica e a realização dos encontros.

Acredita-se que a multiplicação de espaços educativos poderá favorecer não apenas a desnaturalização do abuso contra a mulher, como também inserir os homens no enfrentamento dessa problemática, tornando-os agentes transformadores da realidade coletiva e corresponsáveis pela construção de uma sociedade mais livre, justa e equânime entre homens e mulheres.

References

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    Paixão GPN, Pereira A, Gomes NP, Souza AR, Estrela FM, Silva Filho URP, et al. Naturalization, reciprocity and marks of marital violence: male defendants' perceptions. Rev Bras Enferm Internet. 2018;71(1):178-84. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0475.
    » https://doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0475
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  • Apoio financeiro: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB). Secretaria de Segurança Pública, que concederam financiamento para o desenvolvimento do projeto. Número do pedido 6897/2013
  • *
    Extraído da tese: “Tecnologia Social para homens com vistas a prevenção da violência conjugal”, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal da Bahia, 2018.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Mar 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    11 Set 2018
  • Aceito
    30 Abr 2019
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