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A percepção dos pais frente ao seu envolvimento nas atividades com o(s) filho(s)

Resumos

Trata-se de um estudo descritivo exploratório com abordagem quantitativa, que buscou identificar a percepção do pai em relação à importância das necessidades do(s) filho(s); as estratégias utilizadas pelo pai para aproximar-se do(s) filho(s); analisar a influência das tarefas domésticas e da educação do(s) filho(s) na vida do pai. Os sujeitos foram 92 homens com filhos de idade até seis anos, residentes na cidade de Rio Grande, RS. Os resultados apontaram um pai mais participativo nas atividades com os filhos, que valoriza a confiança, a segurança e a proximidade com a família como principais necessidades da criança, e que priorizaram os progressos dos filhos bem como a atenção para ouvir e conversar. A educação dos filhos não agrega mais problemas do que imaginavam, permitindo-lhes planejar a vida como gostariam. Esses achados mostram que, na amostra estudada, o pai está conseguindo desenvolver ações mais afetivas e direcionadas para o envolvimento com o(s) filho(s).

Enfermagem; Relações pai-filho; Família; Paternidade


This is an exploratory, descriptive study with a quantitative approach and the aim to identify the perception of fathers regarding their children's needs; strategies used by fathers to get closer to their children as well as to analyze the influence of household chores and children's education in their fathers' lives. Study subjects were 92 men with six-year-old children, residing in the city of Rio Grande, state of Rio Grande do Sul (RS). The results revealed fathers who are more engaged in activities with their children, valuing confidence, safety, as well as proximity to family as children's main needs, having prioritized the progress children make as well as attention to listening and conversation. Children's education does not aggregate more problems than they imagined, managing to plan life the way they seek to. These findings show that, in the sample studied, fathers have been able to develop more affectionate actions aimed at being more involved with their children.

Nursing; Father-child relations; Family; Paternity


Es un estudio descriptivo exploratorio con abordaje cuantitativo buscando identificar la percepción del padre con relación a la importancia de las necesidades de su(s) hijo(s); las estrategias utilizadas por el padre para aproximarse del hijo y analizar la influencia de tareas domésticas y educación del hijo en la vida del padre. Los sujetos fueron 92 hombres con hijos de edades hasta seis años, residiendo en Rio Grande/RS. Los resultados apuntaron un padre más participativo en actividades con sus hijos, valorando confianza, seguridad y proximidad con la familia como principales necesidades para el niño, y priorizaron los progresos del hijo bien como atención para oír y conversar. La educación de los hijos no agrega más problemas que lo imaginado, consiguiendo planear la vida como les gustaría. Estos hallazgos muestran que, en la muestra estudiada, el padre está consiguiendo desarrollar acciones más afectivas y dirigidas a la participación con su(s) hijo(s).

Enfermería ; Relaciones padre-hijo; Familia; Paternidad


INTRODUÇÃO

A família se constitui no contexto primordial das interações pais/filhos, as quais são essenciais para o desenvolvimento infantil, na medida em que conferem à criança proteção e promovem sua autoestima( 11 1 Crepaldi MA, Andreani G, Ristoff CD, Hammes OS, Abreu SRR. A participação do pai nos cuidados da criança, segundo a concepção de mães. Psicol Estud. 2006 set-dez;11(3):579-87. - 22 Bronfenbrenner U, Ceci SJ. Nature-nurture reconceptualized in desenvolvimental perspective: a bioecological model. Psychol Rev. 1994 Oct;101(4):568-86. ). Além disso, influencia no processo de socialização, o que estimula o desenvolvimento cognitivo, posteriormente reforçado em outros ambientes como na escola e comunidade( 33 Andrade SA, Santos DN, Bastos AC, Pedromônico MRM, Almeida-Filho N, Barreto ML. Ambiente familiar e desenvolvimento cognitivo infantil: uma abordagem epidemiológica. Rev Saúde Pública. 2005;39(4):606-11. ). Ao mesmo tempo, o grupo familiar também pode ser o cenário de conflitos decorrentes da falta de conciliação entre a família e o trabalho, o que, muitas vezes, leva à desestruturação familiar.

O processo de mudanças sociais, culturais, políticas e econômicas globais ocorridas nos últimos tempos tem repercutido no grupo familiar. Esse processo traz a necessidade de reorganização e adaptação entre os papéis parentais relativos ao cuidado e educação dos filhos, assim como da divisão das tarefas domésticas, implicando em reorganização tanto na vida pessoal como conjugal e parental( 44 Cia F, Barham EJ. O envolvimento paterno e o desenvolvimento social de crianças iniciando as atividades escolares. Psicol Estud. 2009 jan-mar;14(1):67-74. ). Considerando-se que, em geral, ambos os pais estão inseridos no mercado de trabalho, tais adaptações podem causar situações de conflito na tentativa de conciliar e dividir papéis e tarefas no âmbito da família.

A literatura mostra que, desde a inserção da mulher no mercado de trabalho, a maioria dos homens tem assumido um papel mais participativo na criação dos filhos( 55 Prado AB, Piovanotti MRA, Vieira ML. Concepções de pais e mães sobre comportamento paterno real e ideal. Psicol Estud. 2007 jan-abr;12(1):41-50. - 66 Matias M, Silva A, Fontaine AM. Conciliação de papéis e parentalidade: efeitos de gênero e estatuto parental. Exedra. 2011;(5):57-76. ). Gradativamente o homem vem deixando de ser somente o provedor da família para dividir com a companheira as atividades de educação, lazer e atenção junto à criança( 55 Prado AB, Piovanotti MRA, Vieira ML. Concepções de pais e mães sobre comportamento paterno real e ideal. Psicol Estud. 2007 jan-abr;12(1):41-50. - 66 Matias M, Silva A, Fontaine AM. Conciliação de papéis e parentalidade: efeitos de gênero e estatuto parental. Exedra. 2011;(5):57-76. ). Entretanto, não se pode negar que ainda está arraigada na sociedade a ideia de que a mulher é a principal responsável pelas tarefas domésticas e os cuidados com o(s) filho(s)( 66 Matias M, Silva A, Fontaine AM. Conciliação de papéis e parentalidade: efeitos de gênero e estatuto parental. Exedra. 2011;(5):57-76.

7 Matias M, Fontaine AM, Simão C, Oliveira E, Mendonça M. A conciliação trabalho-família em casais de duplo-emprego. In: Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia; 2010 fev 4-6; Braga, Portugal. Braga: Universidade do Minho; 2010. p. 963-76.
- 88 Grzywacz JG, Frone MR, Brewer CS, Kovner CT. Quantifying work-family conflict among registered nurses. Res Nurs Health. 2006;29(5):414-26. ).

Pesquisa realizada na cidade do Rio Grande/RS, com 92 casais com filhos de idade até seis anos, demonstrou que a mulher é prejudicada em relação à divisão das tarefas domésticas, mostrando uma distribuição desigual entre os papéis parentais, gerando uma sobrecarga de tarefas para a mulher( 99 Rocha LP, Almeida MCV, Silva MRS, Vaz MRC. Influência recíproca entre atividade profissional e vida familiar: percepção de pais/mães. Acta Paul Enferm. 2011;24(3):373-80. ). Dados semelhantes foram encontrados na França e Suécia, através de investigação acerca da conciliação da vida profissional e familiar que apontou a insatisfação das mães em relação à falta de participação de seu parceiro nas tarefas diárias( 1010 Almqvist AL. Expériences de conciliation du travail et de la vie de famille en France et en Suède. Enfances, Familles, Générations. 2006;(4):1-16. ).

Por outro lado, na busca de maneiras de conciliar a vida profissional dos casais, estudiosos apontam que os homens desejam ter o horário de trabalho reduzido para poder dedicar mais tempo para a família( 1010 Almqvist AL. Expériences de conciliation du travail et de la vie de famille en France et en Suède. Enfances, Familles, Générations. 2006;(4):1-16. ). De forma semelhante, estudo brasileiro realizado com casais com filhos pequenos refere que a busca de conciliação entre esses dois mundos está associada ao pouco tempo disponível para a família em razão das obrigações e horários de trabalho( 99 Rocha LP, Almeida MCV, Silva MRS, Vaz MRC. Influência recíproca entre atividade profissional e vida familiar: percepção de pais/mães. Acta Paul Enferm. 2011;24(3):373-80. ). Esses resultados revelam que pode haver situações de conflitos entre os casais devido à sobrecarga de tarefas domésticas para a mulher e à falta de tempo dos homens para dedicarem-se à família devido a atribuições laborais.

Nesse contexto, desponta um importante campo de atuação para a enfermagem com famílias. O enfermeiro pode desenvolver ações focadas no quotidiano, ajudando os pais a identificar os recursos e as potencialidades de que o grupo dispõe para conciliar e adaptar os papéis parentais relativos ao cuidado, educação dos filhos e à divisão das tarefas domésticas. Considerando que é fundamental para a relação pai/filhos que o pai tenha conhecimento da importância de seu papel para o desenvolvimento infantil e que a falta deste conhecimento pode impedir uma relação mais afetiva e participativa com o filho, é importante que o enfermeiro atente para as inter-relações familiares. É através delas que o pai busca bases de apoio para o exercício da paternidade e para o reconhecimento da importância de seu papel no desenvolvimento infantil( 11 1 Crepaldi MA, Andreani G, Ristoff CD, Hammes OS, Abreu SRR. A participação do pai nos cuidados da criança, segundo a concepção de mães. Psicol Estud. 2006 set-dez;11(3):579-87. ).

Considerando, de um lado, que as transformações sociais que incidem sobre a família exigem a reestruturação dos papéis e a adaptação de seus membros às novas demandas, e, de outro, a necessidade de construir conhecimento para embasar a prática de enfermeiros com famílias, este estudo objetiva identificar: (1) a percepção do pai em relação à importância das necessidades dos filhos; (2) as estratégias utilizadas pelo pai para aproximar-se dos filhos; (3) a influência das tarefas domésticas e da educação dos filhos na vida do pai.

METODOLOGIA

Este estudo é derivado do projeto "Vida familiar e profissional: entre as responsabilidades e as demandas enfrentadas pelos pais na sociedade contemporânea", que investiga as estratégias utilizadas pelos pais para conciliar a vida familiar e profissional, quando os filhos são pequenos. Trata-se de um estudo descritivo exploratório com abordagem quantitativa, iniciado por um grupo de pesquisadores europeus (FAMWORK), que vem sendo desenvolvido em outros países, inclusive no Brasil. Em Rio Grande/RS participaram 92 casais que atendiam aos seguintes critérios: a) ter pelo menos um filho(a) com até 6 anos; b) estarem ambos os cônjuges inseridos no mercado de trabalho; c) residir no município no qual o estudo foi realizado; d) expressar a concordância em participar do estudo através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As famílias foram localizadas e recrutadas na população em geral, a partir de informações e observação das características consideradas como critérios de inclusão, particularmente em locais como escolas, creches, associações de bairros dentre outras.

Os dados foram coletados através de amplo questionário (versão feminina e versão masculina), abordando temas relativos a: profissão, divisão de tarefas, vida familiar, estratégias para conciliação, vida pessoal, vida em comum e dados sociodemográficos. A versão original desse questionário, elaborada em 2003 pelos pesquisadores do projeto original, foi adaptada em 2006 à realidade local, para resguardar suas especificidades sociais, econômicas, políticas e culturais. O questionário foi aplicado na residência das famílias, em horário previamente agendado, sendo a maioria em finais de semana, no período 2007 e 2008.

O estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande, tendo sido registrado sob o nº 23116.003244/2008-16. Foram respeitadas todas as recomendações da Resolução 196/96 e os casais integraram-se ao estudo somente após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Para este artigo foram utilizadas as respostas apenas dos homens relativas a: percepção dos pais em relação à importância das necessidades dos filhos; estratégias utilizadas pelo pai para aproximar-se do(s) filho(s); e a influência das tarefas domésticas e educação dos filhos na vida do pai. As questões foram respondidas através de uma escala de Likert com variação entre 0 a 5, expressando opiniões entre dois extremos. Para a análise dos dados foi utilizado o programa SPSS versão 16.0.

RESULTADOS

Caracterização dos sujeitos

Dentre os 92 homens que integraram a amostra em estudo, a faixa etária variou de 20 a 59 anos, com predominância entre 20-39 anos (n= 39; 42%), sendo que 46 (50%) possuíam mais de um filho com menos de seis anos e tempo de convivência com a esposa (ou companheira) entre 2 e 25 anos. Do total de homens entrevistados, 34 (36,9%) tinham o segundo grau completo; oito (8,7%), o terceiro grau completo; cinco (5,4%), pós-graduação; e os demais apresentaram o primeiro grau incompleto. Com relação à ocupação, os homens empregados totalizaram 54 (59%), sendo que seis (6,5%) exerciam funções de comércio/atendente; quatro (4,3%) de professores; três (3,3%) eram funcionários públicos federais; três (3,3%), vigilantes; três (3,3%), motoristas; dentre outros.

Percepção do pai em relação à importância das necessidades dos filhos

Os pais foram questionados a respeito da importância atribuída a certas necessidades que, de acordo com a literatura, estão imbricadas na relação entre pais e filhos, como: carinho e atenção, independência/autonomia, proximidade com a família e regras claras. Utilizou-se escala de Likert com variação entre 0 (não é importante) e 5 (é muitíssimo importante).

A Tabela 1 mostra o predomínio de respostas concentradas nos níveis 4 e 5 para todas as necessidades apontadas, indicando que os pais consideravam importante e muito importante o carinho e a atenção dedicados ao filho (n= 85; 92,4%), seguido de independência/autonomia (n= 49; 53,2%), proximidade com a família (n= 85; 92,4%) e a necessidade de regras claras (n= 80; 87%). Por outro lado, o percentual de respostas nos níveis 0, 1 e 2 apontam que para dois (2,2%) pais o carinho e atenção, bem como a proximidade com a família, não eram considerados importantes. Da mesma forma, 23 (24,9%) deles avaliaram a independência/autonomia, e seis (6,5%), a necessidade de regras claras como não importantes (Tabela 1).

Tabela 1
Grau de importância atribuído pelos pais às necessidades dos filhos - Rio Grande, 2008.

Estratégias de aproximação entre pai e filhos

Com relação às estratégias utilizadas pelo pai na busca de aproximar-se dos filhos, questionou-se sobre a frequência com que ele brincava, acarinhava, conversava, incentivava e escutava seus filhos. A escala utilizada foi a de Likert com variação entre 0 (nunca) e 5 (muitas vezes). Os resultados mostram que os pais, frequentemente, brincavam (n=56; 60,9%), acarinhavam (n= 68; 73,9%), conversavam (n=67; 72,8%), incentivavam (n= 71; 77,2%) e escutavam (n=62; 67,4%) seus filhos. Ressalta-se que nos níveis de variação entre 0, 1 e 2, havia pais que nunca ou raramente: brincavam (n= 18; 19,6%), acarinhavam (n= 08; 8,7%), conversavam (n= 10; 10,9%), incentivavam (n=4; 4,4%) e escutavam seus filhos (n= 8; 9,7%) (Tabela 2).

Tabela 2
Estratégias utilizadas pelos pais para aproximação com os filhos - Rio Grande, 2008.

Influência das tarefas domésticas e da educação dos filhos na vida do pai

Os pais foram solicitados a explicitar seu grau de concordância acerca das afirmativas: (1) a educação dos meus filhos impede-me de fazer coisas que considero importantes para mim; (2) por causa dos meus filhos, não posso planejar a minha vida como gostaria; (3) a educação dos meus filhos traz-me mais problemas do que pensava. Foi utilizada a escala de Likert, considerando para o nível 0 "discordo totalmente" e para o nível 5 "concordo totalmente".

Na Tabela 3, as respostas concentradas nos níveis 0, 1e 2 indicam que a maioria dos pais (n= 84; 91,3%) considerava que a educação dos filhos não os impedia de desenvolver atividades importantes; de planejar a vida como gostaria (n= 81; 89%); e que não lhes acarretava mais problemas do que pensava (n=85; 92,4%).

Tabela 3
Influência das tarefas domésticas e da educação dos filhos na vida do pai - Rio Grande, 2008

Com o intuito de verificar de forma mais aprofundada como a educação dos filhos pode influenciar na vida dos pais, estes também foram questionados a respeito da possível sobrecarga que poderiam estar sentindo em decorrência da distribuição de tarefas domésticas; do comportamento dos filhos; e da falta de tempo para relaxar. Neste item, o nível 0 da escala correspondia a nunca e o 5 a muitas vezes.

A Tabela 4 mostra uma concentração de respostas entre os níveis 0, 1 e 2 da escala. Observa-se que 66 (71,7%) pais avaliaram que nunca ou poucas vezes sobrecarregavam-se em decorrência de problemas com a distribuição de tarefas, e 73 (80,3%), com os problemas relacionados ao comportamento dos filhos. Já, na falta de tempo para relaxar, não houve concentração de respostas entre os níveis da tabela.

Tabela 4
Sobrecarga do pai - Rio Grande, 2008.

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo mostram que a maioria dos pais considerou importantes o carinho, a atenção dedicada ao filho, a proximidade com a família e a necessidade de regras claras como principais necessidades dos filhos na faixa etária de 0 a 6 anos. Da mesma forma, pesquisa realizada com famílias compostas por pai, mãe e crianças pré-escolares apontam esses valores como os mais importantes a serem transmitidos aos filhos( 1111 Cia F, Pamplin RCO, Williams LCA. O impacto do envolvimento parental no desempenho acadêmico de crianças escolares. Psicol Estud. 2008 abr-jun;13(2):351-60. ). Entretanto, vários aspectos considerados como necessidades podem variar de acordo com expectativas e possibilidades culturais/contextuais das famílias.

Assim, constata-se que, enquanto os pais que constituíram a amostra em estudo consideravam que seus filhos necessitavam com muita frequência de carinho, atenção, confiança, segurança, proximidade/ligação com a família e de regras claras, outros pais residentes em cidades satélites do Distrito Federal refletiram que uma maior atenção deveria ser dada para o ensino de valores morais e estímulo ao estudo e atividades acadêmicas dos filhos( 1111 Cia F, Pamplin RCO, Williams LCA. O impacto do envolvimento parental no desempenho acadêmico de crianças escolares. Psicol Estud. 2008 abr-jun;13(2):351-60. ). Embora sendo famílias com contextos e culturas diferenciados, cabe destacar que as necessidades priorizadas pelos pais do presente estudo e os pais residentes no Distrito Federal englobam um conjunto de habilidades de cuidados parentais importantes para o desenvolvimento infantil.

Outros aspectos apoiadores para o desenvolvimento infantil e que também se destacaram nos resultados deste estudo foram a proximidade/ligação familiar e a necessidade de regras claras. Nas relações familiares, é importante que os pais consigam impor limites aos filhos e saibam lidar com a transgressão de regras. Estudo sobre as relações parentais e maritais evidenciou que o uso inadequado ou a ausência de limites e regras para os filhos é uma prática condenada pela maioria dos genitores, pois caracteriza a má criação dos filhos( 1111 Cia F, Pamplin RCO, Williams LCA. O impacto do envolvimento parental no desempenho acadêmico de crianças escolares. Psicol Estud. 2008 abr-jun;13(2):351-60. ).

Cabe ressaltar os pais que não consideraram como necessidades dos filhos o carinho e atenção, bem como a proximidade com a família. Também não ponderaram a necessidade de regras claras e a busca pela independência/autonomia como importantes para o bom desenvolvimento da criança. Apesar de terem sidos contabilizados com menor valor na escala de Likert, estes resultados merecem destaque, pois a não valorização de tais necessidades, demonstra o desconhecimento do pai a respeito da importância das necessidades dos filhos para o desenvolvimento físico, cognitivo, social e cultural da criança.

Esses resultados podem ser justificáveis visto que o pai sempre ocupou o papel de provedor da família, deixando sob a responsabilidade da mãe as relações afetivas com os filhos. Dessa forma, as atividades exercidas por ambos os genitores eram estabelecidas diferentemente, e essas diferenças devem ser consideradas por pesquisadores e educadores, além de profissionais envolvidos na promoção da saúde e no desenvolvimento de crianças e famílias, pois estão relacionadas também com o contexto sociocultural no qual os pais estão inseridos( 11 1 Crepaldi MA, Andreani G, Ristoff CD, Hammes OS, Abreu SRR. A participação do pai nos cuidados da criança, segundo a concepção de mães. Psicol Estud. 2006 set-dez;11(3):579-87. ).

Quanto às estratégias utilizadas pelos pais para aproximarem-se dos filhos, os resultados mostraram que a maioria usou de brincadeiras, carinho, conversas, incentivo e escuta. Porém, um grupo considerável de pais relatou que não buscava se aproximar de seus filhos. Eles confirmaram que nunca ou raramente brincavam, acarinhavam, conversavam, incentivavam e escutavam seus filhos. Segundo pesquisadores, essa interação é fundamental para que a criança apresente um bom desenvolvimento escolar, um relacionamento social saudável e também estimula a autoestima da criança( 1212 Cia F, Pereira CS, Prette ZAPD, Prette AD. Habilidades sociais parentais e o relacionamento entre pais e filho. Psicol Estud. 2006 jan-abr;11(1):73-81. ).

A dificuldade que muitos homens encontram em aproximar-se de seus filhos, buscando maneiras mais afetivas de relacionamento, estão pautadas expressivamente no contexto histórico e cultural no qual o pai é representado e compreendido( 11 1 Crepaldi MA, Andreani G, Ristoff CD, Hammes OS, Abreu SRR. A participação do pai nos cuidados da criança, segundo a concepção de mães. Psicol Estud. 2006 set-dez;11(3):579-87. ). Existem muitos pais que não ocupam um lugar ativo na vida de seus filhos, seja por não desejarem ocupar ou por acreditarem que não podem, assim, causando insegurança e desestabilidade emocional na criança( 1313 Silva ATB, Marturano EM. Habilidades sociais educativas parentais e problemas de comportamento: comparando pais e mães de pré-escolares. Aletheia. 2008 jan-jun;(27):126-38. ). Pesquisa acerca do envolvimento parental no desempenho acadêmico dos filhos verificou que, de modo geral, quanto maior a frequência de interação entre pais e filhos e a participação dos pais nas atividades escolares, culturais e de lazer dos filhos, maior o desempenho acadêmico das crianças.

Outro fator favorável para o desenvolvimento infantil está na conciliação entre a vida profissional e familiar. Os dados deste estudo apontam que o pai consegue realizar essa conciliação, sendo que a educação dos filhos não agrega mais problemas para sua vida pessoal, o que contribui para que ele consiga planejar a vida como gostaria. É importante salientar que os estudos que tratam da conciliação de papéis e parentalidade apontam que existe dificuldade tanto da mulher quanto do homem em lidar com os papéis familiares e profissionais, o que muitas vezes pode refletir em uma divisão desigual das tarefas( 1414 Pereira D, Alarcão M. Avaliação da parentalidade no quadro da proteção à infância. Temas Psicol. 2010;18(2):499-517. ). Dessa forma, investigou-se também sobrecarga do pai a respeito da distribuição de tarefas em casa. Constatou-se que os pais não se sentiam sobrecarregados pela divisão de tarefas, porém, a maioria deles não encontrava tempo para relaxar.

As atribuições do trabalho e da família geram uma sobrecarga e fazem com que muitos pais necessitem buscar diferentes estratégias para lidar com essas exigências, tais como: apoio emocional mútuo entre o casal, atitude positiva face aos múltiplos papéis e a situação de duplo emprego da família, uso de características individuais, cedências profissionais e uso de apoio institucional. Essas estratégias conferem aos pais a possibilidade de conciliar as tarefas familiares e laborais( 66 Matias M, Silva A, Fontaine AM. Conciliação de papéis e parentalidade: efeitos de gênero e estatuto parental. Exedra. 2011;(5):57-76. ).

Além das estratégias de conciliação utilizadas pelos casais a fim de estabelecer uma harmonia entre o trabalho e a família, é importante que exista também um ambiente social apoiador, no qual estruturas como creches disponibilizadas pelas empresas ou família expandida disponível para compartilhar o cuidado dos filhos, principalmente quando esses são pequenos, podem contribuir para a conciliação entre a vida familiar e profissional( 1515 Feldman L, Vivas E, Lugli Z, Zaragoza J, Gómez O V. Relaciones trabajo-familia y salud en mujeres trabajadoras. Salud Publica Mex. 2008;50(6):482-9. ).

Constatou-se também que a maioria dos pais não se sentia sobrecarregada com problemas de comportamento dos filhos. A literatura demonstra que esta sobrecarga, quando existe, pode ser desencadeada muitas vezes por permissividade excessiva dos pais em relação ao filho e a falta de imposição de limites, o que pode levar ao mau comportamento dos filhos( 1616 Souza CLC, Benetti SPC. Paternidade contemporânea: levantamento da produção acadêmica no período de 2000 a 2007. Paidéia. 2009 jan-abr;19(42):97-106. ). Esses problemas de comportamento podem ser amenizados por meio de atenção, carinho, harmonia na família e um bom relacionamento entre pai e filhos. Assim, é possível que os filhos sejam menos resistentes a cooperar com seus pais, além de mais afetivos, contribuindo para uma interação social satisfatória da criança( 1313 Silva ATB, Marturano EM. Habilidades sociais educativas parentais e problemas de comportamento: comparando pais e mães de pré-escolares. Aletheia. 2008 jan-jun;(27):126-38. ).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conhecer o modo como os pais percebem as necessidades dos filhos, suas interações na família e como de fato a educação dos filhos pode influenciar na sua vida pessoal consiste em importante auxílio tanto para a família quanto para profissionais de enfermagem, pois propostas de intervenção destinadas aos pais podem ser construídas considerando suas próprias concepções, necessidades e subjetividades, auxiliando na relação entre pais e filhos.

Os dados do presente estudo apontaram um pai mais participativo nas atividades com os filhos, valorizando a confiança, a segurança e a proximidade com a família como principais necessidades para a criança, e priorizando os progressos dos filhos bem como a atenção para ouvir e conversar.

Esses achados demonstram que o pai começa a priorizar valores diferenciados para o desenvolvimento da criança. Ele está se conscientizando de que seu papel não é apenas de prover a família, sem se envolver com a educação do(s) filho(s), e assim conseguindo realizar ações mais afetivas e direcionadas para o envolvimento com os filhos, o que vem a favorecer o bem-estar de toda a família.

Cabe ressaltar que este estudo não permite a generalização de seus resultados, uma vez que as necessidades das crianças e a forma como os pais se envolvem na oferta de cuidados às mesmas podem variar de acordo com expectativas e possibilidades culturais/contextuais das famílias.

Outro fator que precisa ser considerado é que os resultados apresentam somente dados da amostra masculina, não possibilitando comparações com a perspectiva das mães acerca das necessidades dos filhos. Portanto, investigar a influência e a interdependência entre os membros familiares, em seus diferentes papéis (de esposa e mãe, de marido e pai), e também entre os subsistemas familiares, conjugal e parental torna-se fundamental na medida em que a complexidade de tais influências e suas consequências podem interferir no relacionamento entre pai e filho.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar 2014

Histórico

  • Recebido
    28 Dez 2012
  • Aceito
    31 Jan 2014
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