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Pesquisa de enfermagem e modelos de citação bibliográfica

Resumos

Esta pesquisa concentra-se na análise de como os jornais de enfermagem publicam os seus artigos. Basicamente, dois modelos são analisados, o Vancouver, promovido pelo Comitê Internacional dos Editores de Revistas Médicas, e APA, pela Associação Psicológica Americana. As suas vantagens e desvantagens são aqui discutidas. Diante da maneira que os artigos de pesquisa estão sendo publicados, atualmente, e como a pesquisa está sendo julgada, os autores propõem um modelo próprio para a enfermagem, independentemente de como publicam os profissionais médicos.

pesquisa de enfermagem; bibliografia; publicações; publicações científicas e técnicas


This research focuses on the analysis of how nursing journals publish their papers. Basically, two models are analyzed, Vancouver, by the International Committee of Medical Journal Editors, and APA by the American Psychological Association. Their advantages and disadvantages are discussed. In view of how research papers are currently published and how research is judged, the authors propose that nursing journals adopt their own model, irrespective of how medical professionals publish.

nursing research; bibliography; periodicals; scientific and technical publications


Esta investigación se centra en el análisis de la forma de publicar de las revistas de enfermería. Se analizan básicamente dos modelos, el modelo Vancouver, promovido por el Comité Internacional de Editores de Revistas Médicas, y el modelo APA, de la Asociación Norteamericana de Psicología. Se discuten sus ventajas e inconvenientes. A la vista de cómo se publica en la actualidad y de cómo se juzga la investigación, se propone que las revistas de enfermería adopten su propio modelo, independientemente de cómo publican los profesionales de la medicina.

investigación en enfermería; bibliografía; publicaciones periódicas; publicaciones científicas y técnicas


ARTIGO ORIGINAL

IProfessor Titutlar, Universidad de Valencia, Espanha, e-mail: jordi.pique@uv.es, ramon.camano@uv.es

IIProfessor Associado, Facultad de Filología, Traducción y Comunicación, Universidad de Valencia, Espanha

RESUMO

Esta pesquisa concentra-se na análise de como os jornais de enfermagem publicam os seus artigos. Basicamente, dois modelos são analisados, o Vancouver, promovido pelo Comitê Internacional dos Editores de Revistas Médicas, e APA, pela Associação Psicológica Americana. As suas vantagens e desvantagens são aqui discutidas. Diante da maneira que os artigos de pesquisa estão sendo publicados, atualmente, e como a pesquisa está sendo julgada, os autores propõem um modelo próprio para a enfermagem, independentemente de como publicam os profissionais médicos.

Descritores: pesquisa de enfermagem; bibliografia; publicações; publicações científicas e técnicas

INTRODUÇÃO

A tradição científica provoca, em alguns momentos, certa inércia e mimetismo difíceis de evitar e que, no caso da enfermagem, diz respeito à medicina, pela influência que essa profissão tradicionalmente tem tido sobre aquela. Assim, não é difícil entender que a medicina tenha conduzido, na utilização do modelo Vancouver, publicações de uma boa parte da pesquisa em enfermagem. Esse modelo toma seu nome da reunião de Editores de Revistas Médicas, feita em Vancouver, Canadá, em 1978, e que criou o International Committee of Medical Journal Editors. Nessa reunião, ficou acordada a unificação sobre a maneira de escrever e citar dos profissionais da medicina. Inicialmente, aderiram principalmente as revistas de ciências biomédicas, publicando-se uma lista de mais de 300 revistas(1), porém, da enfermagem, somente apareceu a revista Nursing.

O modelo Vancouver tem sido implantando na enfermagem, o que aconteceu, em princípio, por se encontrar com um trabalho feito, porém, também por certa inexperiência editorial, o que levou a adotar, sem análise prévia, por parte dos responsáveis de muitas dessas revistas, do novo modelo de publicação. No entanto, é preciso apontar outras considerações, por exemplo, o significado e uso das citas. Campanario(2) descreve o princípio subjacente a toda cita: "se um documento cita outro documento, ambos adquirem uma relação conceitual"; quer dizer, através das citas reconhece-se e se aceita que as publicações se conectem estreitamente com as referências incluídas. Essa relação, portanto, exige uma atitude de respeito com quem é citado e com o que é citado, que, no mínimo, foi consultado mesmo que somente seja em suas linhas principais, e não mediante os títulos e resumos obtidos na busca bibliográfica, como infelizmente observa-se em alguns dos artigos que aparecem no mercado. Porém, para que esse respeito seja real e não fictício, também é necessário um elemento de avaliação e crítica para elucidar porquê se citam uns autores e não outros, já que, para proporcionar apoio e dar solidez às opiniões próprias expressadas(3), é preciso que os trabalhos citados não somente sejam facilmente acessíveis ao leitor, mas que também sejam bem interpretados e avaliados por parte do autor da publicação. Isso é o que se tenta seja a pesquisa no modelo APA, proposto pela American Psychological Association e, em alguns casos, pelo modelo Harvard, muito similar a esse último.

O modelo Vancouver apresenta um formato com um número entre parênteses, ou entre colchetes e incluso como superíndice, para cada entrada bibliográfica que se vai adicionando pela ordem de aparecimento no texto, na lista completa de trabalhos ao final(1). Inclusive, há programas informáticos que facilitam a tarefa e agilizam a apresentação do trabalho. Porém, com frequência, a abundância de citas bibliográficas, por uma parte, e as poucas palavras usadas na sua avaliação, por outra, se deve à ideia generalizada de que o maior número de entradas bibliográficas produz impacto maior, mesmo que não se tenha realizado nenhum tipo de avaliação das mesmas. Também pode influir alguma razão econômica por parte da editora que defende um limite baixo, com frequência excessiva no número total de palavras da publicação. Tudo isso tende a reduzir em excesso a necessária avaliação e/ou crítica da literatura prévia, o que favorece a cita de segunda e terceira mão, e incrementa a possibilidade de que se infiltrem erros em obras de prestígio ao "copiar" uma informação bibliográfica errada no seu início.

A crítica é muito explícita na hora de assinalar uns mínimos com referência à revisão da literatura prévia que aparece na introdução de um artigo, ou em uma parte diferençada da mesma, ou bem na discussão do artigo. Como diz Swales(4), não se trata de inventar nada novo, deve-se identificar vazios na literatura precedente, conhecer o que se tem pesquisado ou continuar o que outros iniciaram em uma área determinada, e, também, averiguar fontes de dados que outros pesquisadores tenham utilizado.

Ao examinar as diversas revistas profissionais na área das ciências da saúde, o leitor se encontra com diferentes maneiras de utilizar e citar a bibliografia; em outras palavras, formas distintas de atribuir a seus autores respectivos a informação extraída mediante a busca bibliográfica. Neste artigo, analisa-se, em termos de utilidade e pertinência, os modelos de citação bibliográfica, majoritariamente utilizados na atualidade, com o objetivo de discernir qual poderia ser o modelo mais adequado a ser utilizado no âmbito da pesquisa em enfermagem. Pretende-se que os profissionais de enfermagem prestem mais atenção à análise e à avaliação da literatura prévia em seus artigos e, por outro lado, propor a unificação de critérios para citar em enfermagem, que responda às suas necessidades de pesquisa, que não têm porquê ser as mesmas que em outras disciplinas.

MATERIAL E MÉTODO

O presente trabalho tem como base a análise dos sistemas de citação utilizados pelas revistas de enfermagem contidas em três bases de dados:

- vinte e duas revistas de livre acesso que aparecem no Directory of Open Access Journals, na seção "Nursing" (Tabela 1);

- primeiras 20 revistas espanholas, segundo a última lista publicada do ranking CUIDEN (Tabela 2);

- as 36 revistas de enfermagem que, até 2006, figuravam na lista de impacto ISI (Tabela 3).

No primeiro grupo, analisou-se as 22 revistas que aparecem no DOAJ com a finalidade de apreciar o modelo de referências utilizado e as diferenças mais significativas que se podia observar. Por outro lado, da segunda base de dados, utilizou-se as 20 primeiras revistas, segundo o ranking CUIDEN, devido ao fato de que, quase unanimemente, elegem seguir as normas de edição Vancouver das revistas biomédicas; porém, nas revistas da lista ISI, analisou-se as 36 revistas que apareciam em 2006 e que oferecem maior variabilidade no modelo utilizado. Adicionalmente, para ilustrar as diferenças na utilização das citas nos dois modelos, e a partir de artigos originais publicados em revistas contidas nas bases de dados, nas quais se centrou este trabalho, foi realizada análise comparativa da aplicação de ambos os sistemas de referência, APA e Vancouver.

RESULTADOS

A primeira base de dados consultada foi o Directory of Open Access Journals (DOAJ)(5). Analisou-se as 22 revistas de enfermagem que figuram no mesmo, apresentadas esquematicamente na Tabela 1.

A Tabela 1 mostra que 15 das revistas somente publicam seguindo o modelo Vancouver (68,2%), 3 das quais (13,6%) aceitaram uns poucos artigos em outro modelo (APA, Harvard), outras 4 (18,2%) advogam diretamente o modelo APA, 3 são dos Estados Unidos e 1 do Chile (Cienc Enferm). Destaca-se que muitas das revistas que publicam seguindo as normas Vancouver estão relacionadas com algum laboratório médico ou com alguma base de dados biomédica (BioMed, Medline, Surgical Materials Testing Laboratory etc.), o que parece razoável também em revistas surgidas de instituições sanitárias, como é o caso da maioria das revistas latino-americanas, excetuando a chilena (nº 3) que publica seguindo o modelo APA. Assim mesmo, muitos profissionais de enfermagem, independentemente dos seus trabalhos individuais, publicam conjuntamente com equipes médicas, os quais optam por publicar em revistas médicas, algumas vezes em revistas multidisciplinares, com o maior impacto possível, coisa que não costuma ocorrer com as revistas exclusivamente de enfermagem(6). Porém, onde se observou maior liberdade de estilo nas publicações foi na revista Index Enferm, onde a equipe editorial, mesmo aconselhando utilizar o modelo Vancouver, com frequência aceita artigos que seguem outros modelos.

O Grupo de Estudos Documentais da Fundação Índex tem publicado diversos trabalhos relacionados às revistas de enfermagem da área linguística do espanhol e do português, assim como a lista dos indicadores de repercussão CUIDEN, através dos quais se pode deduzir alguns dados significativos. Obteve-se a distribuição das primeiras 20 revistas espanholas do ano 2006, segundo o índice Rch(7), conforme mostrado na Tabela 2.

Como se pode observar na Tabela 2, os profissionais espanhóis de enfermagem, seguindo as normas de cada uma das revistas, majoritariamente seguem o modelo Vancouver, exceto no caso de Cultura dos Cuidados (nº 10), que publica segundo o modelo APA, outras esporadicamente também o aceitam (nº 15 e 16).

Seria injusto, não obstante, tomar como amostra somente as revistas de enfermagem que aparecem no DOAJ (Tabela 1), ou única e exclusivamente as revistas espanholas da lista da Fundação Índex (Tabela 2), para obter resultados representativos, não porque sejam revistas de acesso livre ou porque sejam revistas eletrônicas algumas delas, cujo impacto fosse colocado em dúvida(8), mais sim por outros fatores como, por exemplo, os dados que aparecem nos Journal Citation Reports, segundo a Tabela 3.

Analisou-se, aqui, as 36 revistas de enfermagem, segundo o índice de impacto (2006), que aparece na lista ISI (Tabela 3), das mais de 50 revistas de enfermagem que possivelmente aparecerão na próxima lista, para ver até que ponto seguem a tendência manifestada nas Tabelas 1 e 2. Segundo a Tabela 3, das 36 revistas de enfermagem dessa lista, 20 (55,6%) seguem o modelo APA e 16 (44,4%) o modelo Vancouver.

A importância que se tem dado ultimamente às publicações na área da enfermagem fez que, recentemente, Thompson Scientific, em artigo publicado na imprensa em 7 de setembro de 2006(9), anunciasse a ampliação da cobertura das revistas de enfermagem. Como disse, na mesma nota de imprensa, "o estar indexado na ISI Web of Knowledge é um importante indicador do impacto e influência de uma revista científica em seu respectivo campo". É evidente que a enfermagem, especialmente nos países onde existem títulos universitários superiores até alcançar o doutorado, os pesquisadores em enfermagem tenham dado um primeiro passo para dar à enfermagem esse caráter autóctone, proposto aqui e tem avançado consideravelmente, concretamente nos Estados Unidos. É significativo que, na lista da ISI, não apareça, até o momento, nenhuma revista espanhola e somente recentemente se anunciou a inclusão da brasileira Rev Latino-am Enfermagem.

RAZÕES PARA ELEGER O MODELO

A maioria das revistas de enfermagem, no índice ISI, emprega um sistema de referências mais acorde com as ciências sociais, tal e como faz o modelo APA, e que é proposto neste artigo, não porque se queira abdicar da formação recebida, e sim porque se deseja contribuir para aumentar a qualidade da pesquisa, no resultado e seleção do material bibliográfico. Um exemplo comparativo, obtido de revistas de enfermagem, contidas nas bases de dados anteriormente enumeradas, deveria ser suficiente para mostrar a diferença.

Veja-se, em continuação, os textos da Tabela 4, nos quais os autores de língua espanhola optam pelos dos modelos descritos e diferenciados.

O primeiro exemplo, procedente da revista Gerokomos, segue o modelo Vancouver e seus autores acumularam, no primeiro parágrafo, seis itens bibliográficos, mais seis no segundo e um no terceiro; um total de treze citas bibliográficas. Porém, como não há nenhum tipo de avaliação crítica dos mesmos, se faz redundantes uns e supérfluos outros. Por outro lado, o texto no modelo APA, também de enfermagem, sem grandes alardes bibliográficos, já que o tema também não pede, com três citas bibliográficas é suficiente; e mais, o segundo deles parece muito acertado, pois repete umas palavras exatas dos autores citados em um contexto onde a paráfrase seria também redundante. A única vantagem que se encontra no modelo Vancouver é a esquematização da informação, porém, a pergunta seria se é isso precisamente o que necessita uma ciência incipiente como a enfermagem. Acredita-se que não.

O modelo Vancouver entra em contradição direta com a recomendação de Swales(4) que advoga por um procedimento combinado que, na análise de citas, se veria muito reforçado, aumentando consideravelmente as técnicas de análise textual. Para ele, esse autor faz uma série de perguntas que deveriam ser consideradas ao confeccionar as citas da revisão da bibliografia como, por exemplo: se a cita mencionada pelo autor contém algum elemento de avaliação ou de crítica; se ela cita diretamente o autor referenciado; se faz referência a uma teoria ou simplesmente a um conceito; se expressa com um parênteses o autor e ano, ou se reproduz as palavras diretamente ou então propõe uma alternativa à mesma. O exemplo, em a seguir(12), extraído de um artigo médico, confirma essa carência crítica e/ou avaliadora do modelo Vancouver.

"Tem-se descrito a importância da hiper-homocisteinemia como fator de risco vascular em geral e de acidente cerebrovascular agudo em particular(1-10). A etiologia da hiper-homocisteinemia é muito variada, provocando níveis altos de homocisteína no sangue na insuficiência renal crônica, insuficiência hepática, desnutrição, uso de anticonceptivos orais, mutações na Cistation beta sintetasa, antiepilépticos, L-dopa e fármacos que interferem nas vias metabólicas dos folatos, tabagismo etc(11-15). Inclusive se tem observado diferenças em função do sexo, sendo maior a homocisteinemia nos homens(16-18).

Por uma parte, como mostra este exemplo, a acumulação de trabalhos, que "falam de algo" relacionado com a pesquisa em questão, não é razão suficiente para incluí-los se não têm como respaldo a avaliação dos mesmos; por outro lado, a análise qualitativa desse parágrafo não pode responder a nenhuma das perguntas que se faz à literatura(13). Pode-se argumentar, como assim foi feito por um dos revisores na primeira versão deste artigo, que o que apontava Swales(4) também se pode fazer com o modelo Vancouver. Efetivamente, porém, em teoria, já que na prática é outra e se tende a reduzir a parte da avaliação do argumento da literatura prévia à sua mínima expressão. A cita direta, como sugeria Campanario(2), deve envolver, de alguma maneira, o autor citado, porém, nem sempre se consegue se não se menciona explicitamente o mesmo, coisa que sucede nos dois modelos. Veja-se o exemplo seguinte, no qual se utiliza, com o modelo Vancouver, uma cita direta com indicação da página de procedência da revista Online Braz J Nurs(14).

"A leitura atenta dos artigos selecionados possibilitou selecionar informações referentes às concepções de administração do cuidado da enfermagem enfocadas no referencial do paradigma da complexidade, as quais foram submetidas à análise de conteúdo e, a seguir, extraídas as ideias centrais e/ou as categorias de referência(6). A finalidade da análise de conteúdo consiste em deduzir essas mensagens de forma lógica e com justificativa, complementando e validando os resultados da interpretação. Esse processo consiste na classificação dos elementos em diferentes pastas, estabelecendo uma ordem de assuntos, que vai depender da escolha desses critérios de classificação(7:364)"(14) .

Como se pode apreciar, a página vai junto ao número de cita (7:364) e faz referência a um artigo de sua bibliografia. Porém, essa interessante inovação não aparece na norma Vancouver, o que mostra que, sim, se pode fazer, o que leva à interrogação sobre a possibilidade de se incorporar esse modelo ao exemplo anterior(12). No artigo da cita precedente(14), fora as citas indiretas, há outras dezessete citas diretas, porém, curiosamente, em nenhuma delas aparece seus autores. Com referência ao anterior, caberia assinalar, como assim o tem feito Skelton(15), que na pesquisa médica houve processo de "perdida da pessoa", citando-se o fato em detrimento do autor. Por outro lado, com o uso de verbos e expressões ambíguas, como "indicar", "sugerir", "quem sabe", "talvez" e "possivelmente" e "provavelmente", se mantém postura vacilante e provisória, ao mesmo tempo em que, como sugerem Skelton e Edwards(16), se evita ir beyond the evidence, quer dizer, se deixa de dar um passo além da evidência.

Desafortunadamente, os manuais de redação de artigos dedicam pouco espaço à revisão e avaliação da literatura prévia, uma seção considerada fundamental na apresentação dos trabalhos científicos. Granjel et al.(17) são muito explícitos e dedicam capítulos ao acesso e tratamento da informação bibliográfica. Porém, põem limites à seção da introdução já que, dizem, não é o lugar para informar o "conteúdo do trabalho, e sim dos seus objetivos e pretensões"(nossa tradução)(17). Norman(18), pelo contrário, somente emprega um parágrafo para indicar que uma boa introdução "inclui aquela informação e aquelas citas que sejam necessárias para entender a justificação do estudo, e as apresenta com uma sequência lógica", adicionando que a introdução "não é o lugar adequado para uma boa revisão, nem é uma oportunidade para demonstrar ao leitor o muito que sabe do seu campo", e insiste na necessidade de justificar concretamente o estudo em questão. Essa informação magra é compreensível, por outro lado, já que esse manual atende principalmente os aspectos gramaticais do trabalho científico em inglês. Porém, ambos os manuais se centram para favorecer que se publique qualquer revisão mais ou menos exaustiva da literatura nos chamados artigos de revisão. Day(19), por sua parte, destaca o fato de que a revisão da literatura deve ser "exaustiva e apropriada", quer dizer, deve contribuir para a melhor compreensão do contexto no qual se enquadra a própria pesquisa. "Nenhum investigador - diz Day(19)- pode pesquisar um problema sem entender seu contexto", e para isto é preciso incluir uma boa revisão da literatura. Neste trabalho, na pesquisa prévia(20), seguindo o modelo Swales, foi apresentada a estrutura do artigo que incide diretamente na necessidade de revisar a literatura, relacionada com a própria pesquisa, mediante quatro unidades informativas concretas: (i) referência à pesquisa prévia, (ii) às suas limitações, (iii) às vantagens da própria pesquisa e (iv) como a própria pesquisa é uma continuação da pesquisa prévia(20). Para isso, é preciso o elemento avaliador e não simplesmente repetir mecanicamente o que outros pesquisadores têm dito; como aconselha Dae, "avalia - não regurgites"(19).

OBSERVAÇÕES FINAIS

A profissão enfermagem tem evoluído enormemente nas últimas décadas. Ela já não é considerada uma mera vocação técnica ou uma simples ocupação a ser comparada com a advocacia, a medicina ou a pedagogia. Como consequência, numerosas revistas de enfermagem se tem constituído em publicações influentes em nível mundial, no âmbito das ciências da saúde.

É evidente que o desenvolvimento da pesquisa na área da enfermagem tem propiciado mudança no uso de um dos modelos. Assim, por exemplo, nos Estados Unidos, que levam anos com estudos superiores de enfermagem, muitas das revistas importantes (veja a Tabela 3) têm atuado significativamente fora da área biomédica e publicam seguindo o modelo APA. É precisamente por essa razão que se augura mudança semelhante na produção da pesquisa a partir da introdução de programas de graduação e pós-graduação em enfermagem, especialmente em países como Espanha ou Brasil, onde o desenvolvimento científico representa fator crucial no avanço profissional e social(21). Por um lado, a incorporação das escolas de enfermagem às universidades é fato relativamente recente. Essa incorporação tardia fez com que a pesquisa no doutorado e pós-doutorado somente recentemente fosse incentivada. Por outro lado, a incorporação definitiva a programas de graduação e pós-graduação que, especialmente na Europa, se encontram num período de experimentação e trocas, deveria dar o impulso definitivo para generalizar ainda mais a pesquisa dos profissionais da enfermagem. Essa tem sido uma das razões principais pelas quais os grupos de pesquisa, especialmente de enfermagem, ainda não sejam tão numerosos como seria de desejar. Em artigo sobre publicações relacionadas à saúde, Paraje et al.(22) analisaram a produção mundial de trabalhos que se referem à saúde e situaram a Espanha no décimo lugar. A implantação dos programas de graduação, seguindo as diretrizes da União Europeia, deveriam contribuir sensivelmente para a potenciação tanto dos grupos de pesquisa, dos projetos apresentados e aprovados pelo Ministério, como para a publicação de artigos em revistas de impacto.

Em nota editorial da Gac Sanitaria, Fernández e Plasència(23) se dirigem ao leitor dizendo-lhe que contam com ele, porém, continuando, perguntam: "contamos também com as suas citas?", com o que se dá, uma vez mais, excessiva ênfase à importância de mútua citação para, assim, aumentar o respectivo índice de impacto. Pensa-se que a enfermagem, muito mal representada nas comissões de pesquisa nacional, deve, de alguma maneira, propor um modelo distinto para valorar os trabalhos publicados e promover publicações de maior qualidade. Não é suficiente queixar-se quando se é atingido pessoalmente, por não ter sido valorado satisfatoriamente a pesquisa; deve-se dar um passo mais e isso se consegue fomentando mais grupos independentes de trabalho. A atividade de enfermagem, com frequência, se vê diluída nos grupos amplos, relacionados ou não aos hospitais, porém, por pertencer a uma unidade concreta, estão sujeitos a um estilo de trabalho e, frequentemente, sem nada poder dizer para dar-lhe esse toque da enfermagem que precisa a pesquisa nessa área.

Depois das vicissitudes na história da profissão de enfermagem, relacionadas à categoria médica, não parece adequado que a enfermagem deva publicar de uma maneira determinada porque assim foi dito numa reunião dos diretores das revistas médicas em Vancouver (Canadá). Pensa-se que, dada sua idiossincrasia, muito mais orientada à sociologia e menos à biomedicina, a enfermagem deve se orientar a uma forma própria para investigar e publicar essa pesquisa. Porém, independentemente dessa razão, que por ela mesma seria suficiente, há que se entender que a alternativa APA comporta maior confiabilidade na cita e atribui crédito a quem o merece, além de favorecer maior ajuda para a acessibilidade em termos de recuperação bibliográfica. Em outras palavras, Vancouver parece favorecer a quantidade, da mesma maneira que a APA introduz elementos qualitativos no que se refere à avaliação das referências mencionadas.

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  • Pesquisa de enfermagem e modelos de citação bibliográfica

    Jordi Piqué AngordansI; Ramón Camaño PuigI; Carmen Piqué NogueraII
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Ago 2009
    • Data do Fascículo
      Jun 2009

    Histórico

    • Recebido
      07 Nov 2007
    • Aceito
      26 Fev 2009
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