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Fatores preditivos dos diagnósticos de enfermagem em pessoas vivendo com a síndrome da imunodeficiência adquirida1 1 Artigo extraído da dissertação de mestrado "Sistematização da Assistência de Enfermagem em Pacientes com AIDS", apresentada ao Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil.

Resumo

Objetivo:

identificar os fatores preditivos dos diagnósticos de enfermagem em pessoas vivendo com a síndrome da imunodeficiência adquirida.

Método:

estudo transversal, realizado com 113 pessoas vivendo com AIDS. Os dados foram coletados com um roteiro de entrevista e exame físico. Para análise dos dados, foi utilizada regressão logística, considerando um nível de significância de 10%.

Resultados:

os fatores preditivos identificados foram: para o diagnóstico de enfermagem conhecimento deficiente - seguimento inadequado de instruções e verbalização do problema; para o diagnóstico de enfermagem falta de adesão - anos de estudo, comportamento indicativo de falta de aderência, participação no tratamento e esquecimento; para o diagnóstico de enfermagem disfunção sexual - renda familiar, frequência diminuída da prática sexual, déficit percebido de desejo sexual, limitações percebidas impostas pela doença e função corporal alterada.

Conclusão:

os fatores preditivos desses diagnósticos de enfermagem envolveram características sociodemográficas e clínicas, características definidoras e fatores relacionados, os quais devem ser considerados durante a assistência prestada pelo enfermeiro.

Descritores:
Processos de Enfermagem; Diagnóstico de Enfermagem; Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.

Abstract

Objective:

to identify the predictive factors for the nursing diagnoses in people living with Acquired Immune Deficiency Syndrome.

Method:

a cross-sectional study, undertaken with 113 people living with AIDS. The data were collected using an interview script and physical examination. Logistic regression was used for the data analysis, considering a level of significance of 10%.

Results:

the predictive factors identified were: for the nursing diagnosis of knowledge deficit-inadequate following of instructions and verbalization of the problem; for the nursing diagnosis of failure to adhere - years of study, behavior indicative of failure to adhere, participation in the treatment and forgetfulness; for the nursing diagnosis of sexual dysfunction - family income, reduced frequency of sexual practice, perceived deficit in sexual desire, perceived limitations imposed by the disease and altered body function.

Conclusion:

the predictive factors for these nursing diagnoses involved sociodemographic and clinical characteristics, defining characteristics, and related factors, which must be taken into consideration during the assistance provided by the nurse.

Descriptors:
Nursing Process; Nursing Diagnosis; Acquired Immunodeficiency Syndrome

Resumen

Objetivo:

identificar los factores de predicción de diagnósticos de enfermería en personas viviendo con el síndrome de la inmunodeficiencia adquirida.

Método:

estudio transversal, realizado con 113 personas viviendo con el SIDA. Los datos fueron recolectados con un guión de entrevista y examen físico. Para analizar los datos, fue utilizada la regresión logística, considerando un nivel de significación de 10%.

Resultados:

los factores de predicción identificados fueron: para el diagnóstico de enfermería conocimiento deficiente - seguimiento inadecuado de instrucciones y verbalización del problema - para el diagnóstico de enfermería falta de adhesión - años de estudio, comportamiento indicativo de falta de adhesión, participación en el tratamiento y olvido - y para el diagnóstico de enfermería disfunción sexual - renta familiar, frecuencia disminuida de la práctica sexual, déficit percibido de deseo sexual, limitaciones percibidas impuestas por la enfermedad y función corporal alterada.

Conclusión:

los factores de predicción, de esos diagnósticos de enfermería, participaron: características sociodemográficas y clínicas, características definidoras y factores relacionados, las que deben ser consideradas durante la asistencia prestada por el enfermero.

Descriptores:
Procesos de Enfermería; Diagnóstico de Enfermería; Síndrome de Inmunodeficiencia Adquirida

Introdução

Estima-se que 35 milhões de pessoas estão vivendo com o Vírus da Imunodeficiência Adquirida (HIV). Desde o início da epidemia de AIDS (1980) até dezembro de 2013, foram identificados cerca de 1,5 milhão de óbitos, tendo como causa básica a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS)11. Granich R, Gupta S, Hersh B, Williams B, Montaner J, Young B, et al. Trends in AIDS Deaths, New Infections and ART Coverage in the Top 30 Countries with the Highest AIDS Mortality Burden; 1990-2013. PLoSOne. 2015;10(7):1-16.. Nesse sentido, a AIDS ainda se configura como um problema de saúde pública, demandando, portanto, atenção tanto de gestores quanto de profissionais de saúde, no tocante às medidas de prevenção, tratamento e reabilitação dos indivíduos.

O enfermeiro se insere nesse contexto como importante facilitador do cuidado às pessoas vivendo com AIDS, seja realizando os procedimentos de enfermagem durante a internação hospitalar ou avaliando e prestando orientações sobre seu estado de saúde, exames, medicamentos, dieta, prevenção da transmissão do vírus, dentre outros assuntos. Para tanto, é necessário que essas ações sejam realizadas de forma sistemática.

A Sistematização da Assistência de Enfermagem pode ocorrer a partir da aplicação do Processo de Enfermagem, o qual é composto pelas cinco etapas inter-relacionadas, interdependentes e recorrentes: coleta de dados (histórico), diagnóstico de enfermagem, planejamento, implementação e avaliação de enfermagem. Mediante isso, a prática do enfermeiro estará pautada no julgamento clínico, maior organização e qualidade do cuidado. Para tanto, é primordial que esse profissional envolva as pessoas vivendo com AIDS e seus familiares22. Faria JO, Silva GA. Diagnósticos de enfermagem em pessoas com HIV/aids: abordagem baseada no modelo conceitual de Horta. Rev RENE. 2013; 14(2):290-300..

Nesse sentido, a identificação dos diagnósticos de enfermagem e dos seus preditivos, os quais estão relacionados às respostas humanas, facilitam a implementação das intervenções de enfermagem que serão mais adequadas às reais necessidades das pessoas vivendo com AIDS e ao seu contexto socioeconômico e cultural.

Para respaldar e justificar o desenvolvimento do estudo, realizou-se uma revisão integrativa na busca por produções científicas publicadas nos últimos cinco anos, sobre a temática em questão. Assim, utilizaram-se as bases de dados informatizadas da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS): Literatura Latino-Americana e do Caribe (LILACS) e Literatura Internacional em Ciências da Saúde e Biomédica (MEDLINE); Scopus e CINAHL (Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature), empregando-se os seguintes cruzamentos: Nursing diagnosis and Acquired immunodeficiency syndrome, Nursing process and Acquired immunodeficiency syndrome. Verificaram-se poucos estudos que abordassem Diagnósticos de Enfermagem em pessoas vivendo com AIDS22. Faria JO, Silva GA. Diagnósticos de enfermagem em pessoas com HIV/aids: abordagem baseada no modelo conceitual de Horta. Rev RENE. 2013; 14(2):290-300.

3. Faria JO, Silva GA. Diagnósticos de enfermagem do domínio segurança e proteção em pessoas com HIV/Aids. Rev Eletrônica Enferm. [Internet]. 2014 [Acesso 11 nov 2014;16(1):93-9. Disponível em: https://www.fen.ufg.br/fen_revista/v16/n1/pdf/v16n1a11.pdf
https://www.fen.ufg.br/fen_revista/v16/n...

4. Cunha GH, Galvão MTG. Diagnósticos de enfermagem em pacientes com o Vírus da Imunodeficiência Humana/ Síndrome da Imunodeficiência Adquirida em assistência ambulatorial. Acta Paul Enferm. 2010;23(4):526-32.

5. Gómez JJ, Mayorga CME, Pérez MJO, Rojas SLZ, Orozco VLC, Camargo FFA. Prevalencia de diagnósticos de enfermería en personas con VIH/SIDA. Enferm Glob. 2013;12(32):1-10.
-66. Brasileiro ME, Cunha LC. Diagnósticos de enfermagem em pessoas acometidas pela Síndrome da Imunodeficiência Adquirida em terapia antirretroviral. Rev Enferm UERJ. 2011 19(3):392-6., encontrando-se pesquisas sobre perfil e prevalência dos diagnósticos, e ausência de investigações sobre os seus fatores preditivos.

A partir da lacuna do conhecimento identificada sobre o assunto, na literatura científica, questiona-se: Quais os fatores preditivos dos diagnósticos de enfermagem em pessoas vivendo com a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida?

Diante disso, o objetivo deste estudo foi identificar os fatores preditivos dos diagnósticos de enfermagem em pessoas vivendo com a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.

Método

Estudo transversal, realizado em um hospital público, localizado no Nordeste do Brasil. A população do estudo consistiu em 158 pessoas com o diagnóstico de AIDS, os quais se encontravam internados no hospital selecionado. Para tanto, contabilizou-se uma internação para cada paciente. O cálculo do tamanho da amostra se deu a partir da fórmula para populações finitas, levando em consideração o nível de confiança de 95% (Z∞=1,96), o erro amostral de 5% e o tamanho da população77. Fontelles MJ, Simões MG, Almeida JC, Fontelles RG. Metodologia da pesquisa: diretrizes para o cálculo do tamanho da amostra. Rev Paran Med. 2010; 24:(1):57-64.. A amostra ficou constituída por 113 pessoas vivendo com AIDS, selecionadas por conveniência, do tipo consecutiva.

Foram incluídas no estudo as pessoas que possuíam o diagnóstico de AIDS, apresentavam idade acima de 18 anos, tinham sido internadas há pelo menos 12 horas. Excluíram-se aquelas que não estavam em condições físicas ou psíquicas para participar do estudo ou aquelas que desconheciam o diagnóstico da doença. Ressalta-se que as pessoas vivendo com AIDS reinternadas, que já haviam sido entrevistadas no presente estudo, não foram novamente incluídas na amostra.

A coleta ocorreu no período de março a setembro de 2014, correspondendo ao intervalo de tempo necessário para atingir a amostra calculada. Na abordagem dos sujeitos, era realizada a apresentação da proposta da pesquisa e leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para tanto, era dado o tempo que o paciente necessitava para tomar sua decisão. Caso desejasse colaborar com o estudo, eram realizados a anamnese e o exame físico em sala separada, no referido hospital, respeitando a privacidade do paciente. Em todo o processo de coleta de dados, utilizou-se linguagem acessível para não haver dúvidas ou constrangimentos.

Os instrumentos utilizados na coleta de dados, para realização da anamnese e do exame físico, foram adaptados22. Faria JO, Silva GA. Diagnósticos de enfermagem em pessoas com HIV/aids: abordagem baseada no modelo conceitual de Horta. Rev RENE. 2013; 14(2):290-300.,88. Lira ALBC, Lopes MVO. Pacientes transplantados renais: análise de associação dos diagnósticos de enfermagem. Rev Gaúcha Enferm. 2010; 31(1):108-14.-99. Herdman TH. International nursing diagnoses: definitions and classification, 2012-2014. Oxford, UK: Wiley-Blackwell; 2012., apresentavam perguntas abertas e fechadas sobre os dados sociodemográficos e clínicos. Além disso, abordaram-se as características definidoras (sinais e sintomas), fatores relacionados/de risco, subdivididos nos 12 domínios (promoção da saúde, nutrição, eliminação e troca, atividade/repouso, percepção/cognição, autopercepção, papéis e relacionamentos, sexualidade, enfrentamento/tolerância ao estresse, segurança/proteção e conforto) presentes na taxonomia II da NANDA Internacional. Para a adaptação, acrescentaram-se questões específicas para pessoas vivendo com AIDS, como: forma de transmissão, tempo de diagnóstico, presença de infecções oportunistas e coinfecções, medicamentos utilizados e informações sobre os exames laboratoriais realizados.

Os instrumentos foram validados por oito professores doutores com experiência em diagnósticos de enfermagem e síndrome da imunodeficiência adquirida, os quais participaram como juízes. A avaliação do instrumento ocorreu a partir da classificação de cada item quanto à opinião dos juízes sobre a concordância ou discordância da permanência do item nos instrumentos. Além disso, sugestões também puderam ser realizadas. Incorporaram-se aos instrumentos os itens que alcançaram um índice de concordância ≥0,80 entre os professores participantes do estudo, sendo considerados validados. Os referidos instrumentos foram aplicados, sob a forma de pré-teste, a dez pessoas vivendo com AIDS, no local do estudo. Não houve necessidade de alterações e os participantes foram incluídos na amostra do estudo.

Utilizou-se a Nanda Internacional, versão 2012-201499. Herdman TH. International nursing diagnoses: definitions and classification, 2012-2014. Oxford, UK: Wiley-Blackwell; 2012., para classificar os diagnósticos de enfermagem, características definidoras e fatores relacionados ou de risco. O processo de inferência diagnóstica foi realizado por dois pesquisadores e ocorreu em duas etapas: análise (categorização dos dados e identificação das lacunas) e síntese (agrupamento, comparação, identificação e relação dos fatores causadores).

Construiu-se um banco de dados, no qual foram registradas todas as variáveis sociodemográficas e clínicas, as características definidoras, os fatores relacionados e os diagnósticos de enfermagem identificados. A análise dos dados se deu de forma descritiva, mediante obtenção de frequências absolutas e relativas. Para as variáveis numéricas, foram apresentadas as medidas de tendência central.

A estatística inferencial se deu por meio de regressão logística pelo método stepwise para identificar os preditivos dos diagnósticos de enfermagem que influenciavam o processo de estabelecimento das respostas humanas, apresentadas por pessoas vivendo com AIDS, e considerou-se um nível de significância de 10%. Salienta-se que houve impossibilidade de realizar os testes estatísticos com o diagnóstico de enfermagem "proteção ineficaz", haja vista que apresentou uma frequência de 100% entre os participantes do presente estudo.

Dessa forma, realizou-se a regressão logística para os três diagnósticos mais prevalentes neste estudo com as variáveis sociodemográficas e clínicas, contidas no instrumento da pesquisa (sexo, faixa etária, situação conjugal, procedência, crença religiosa, anos de estudo, renda familiar, situação ocupacional, coinfecção com HIV atual, infecção oportunista atual, existência de outras doenças, uso de antirretrovirais, reações adversas aos antirretrovirais nas primeiras semanas, motivo da internação atual, abandono de tratamento, dificuldade de acesso ao serviço, tabagista, usuário de álcool e drogas ilícitas, dificuldade para aprender coisas novas, existência de dúvida sobre o tratamento, satisfação com a aparência e o estilo de vida, modificação corporal relacionada à doença, vida sexual ativa, frequência diminuída da prática sexual), como também com as características definidoras e fatores relacionados que apresentaram uma prevalência de 15%.

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Parecer nº508.445/2014), atendendo as normas nacionais e internacionais de ética em pesquisa envolvendo seres humanos.

Resultados

A maioria das pessoas vivendo com AIDS era do sexo masculino (n=82/72,6%), com idade média de 39 anos (±9,81), heterossexuais (n=81/71,7%), possuíam até 8 anos de estudo (n=74/65,5%), renda familiar de até um salário-mínimo (n=66/58,5%), e residiam no interior do Estado (n=60/67,8%). O tempo de diagnóstico da AIDS foi, em média, de 5 anos (±5,38), e 69 (n=78) já haviam abandonado o tratamento por descrença (n=16/20,5%).

Foram identificados 56 diagnósticos de enfermagem, prevalecendo quatro em mais de 50% das pessoas vivendo com AIDS, quais sejam: proteção ineficaz (n=113/100%), conhecimento deficiente (n=91/80,5%), falta de adesão (n=78/69%) e disfunção sexual (n=61/54%). As frequências das características definidoras do Diagnóstico de Enfermagem (DE) proteção ineficaz foram: deficiência da imunidade (n=113/100%), alteração da coagulação (n=76/67,2%), fadiga (n=70/61,9%), fraqueza (n=52/46%), dispneia (n=28/24,7%). Já para os fatores relacionados foram: distúrbios imunológicos (n=113/100%), perfis sanguíneos anormais (n=96/84,9%), abuso de drogas (n=51/45,1%), nutrição inadequada (n=25/22,1%) e terapia medicamentosa (n=16/14,1%). A Tabela 1 apresenta a distribuição dos fatores preditivos dos diagnósticos de enfermagem, identificados em pacientes com a síndrome da imunodeficiência adquirida, exceto do DE proteção ineficaz.

Tabela 1
Distribuição dos fatores preditivos dos diagnósticos de enfermagem, identificados em pacientes com a síndrome da imunodeficiência adquirida. Natal, RN, Brasil, 2014

Os fatores preditivos identificados foram: para o diagnóstico de enfermagem conhecimento deficiente - seguimento inadequado de instruções e verbalização do problema; para o diagnóstico de enfermagem falta de adesão - anos de estudo, comportamento indicativo de falta de aderência, participação no tratamento e esquecimento e para o diagnóstico de enfermagem disfunção sexual - renda familiar, frequência diminuída da prática sexual, déficit percebido de desejo sexual, limitações percebidas impostas pela doença e função corporal alterada.

Discussão

A epidemia da AIDS, no Brasil, tem sido, nos últimos anos, marcada por uma mudança no perfil epidemiológico caracterizada pela heterossexualização, pauperização e interiorização1010. Souza CC, Mata LRF, Azevedo C, Gomes CRG, Cruz GECP, Toffano SEM. Interiorização do HIV/aids no Brasil: um estudo epidemiológico. Rev Bras Ciênc Saúde. 2013;11(35):25-30.. Estudos realizados, com pessoas vivendo com AIDS, eram, predominantemente, com pacientes do sexo masculino e idade de até 40 anos, de forma similar ao encontrado nesta pesquisa44. Cunha GH, Galvão MTG. Diagnósticos de enfermagem em pacientes com o Vírus da Imunodeficiência Humana/ Síndrome da Imunodeficiência Adquirida em assistência ambulatorial. Acta Paul Enferm. 2010;23(4):526-32.

5. Gómez JJ, Mayorga CME, Pérez MJO, Rojas SLZ, Orozco VLC, Camargo FFA. Prevalencia de diagnósticos de enfermería en personas con VIH/SIDA. Enferm Glob. 2013;12(32):1-10.
-66. Brasileiro ME, Cunha LC. Diagnósticos de enfermagem em pessoas acometidas pela Síndrome da Imunodeficiência Adquirida em terapia antirretroviral. Rev Enferm UERJ. 2011 19(3):392-6..

O diagnóstico de enfermagem proteção ineficaz apresentou, em geral, as características definidoras e fatores relacionados ligados à alteração no estado imunológico, incluindo as alterações das células hematológicas. Pesquisas realizadas anteriormente corroboram esse achado22. Faria JO, Silva GA. Diagnósticos de enfermagem em pessoas com HIV/aids: abordagem baseada no modelo conceitual de Horta. Rev RENE. 2013; 14(2):290-300.,44. Cunha GH, Galvão MTG. Diagnósticos de enfermagem em pacientes com o Vírus da Imunodeficiência Humana/ Síndrome da Imunodeficiência Adquirida em assistência ambulatorial. Acta Paul Enferm. 2010;23(4):526-32.-55. Gómez JJ, Mayorga CME, Pérez MJO, Rojas SLZ, Orozco VLC, Camargo FFA. Prevalencia de diagnósticos de enfermería en personas con VIH/SIDA. Enferm Glob. 2013;12(32):1-10..

Sabe-se que o HIV atua ligando-se à superfície das células imunológicas do indivíduo, principalmente destruindo as células CD4, mas, também, pode atingir hemácias, plaquetas e leucócitos, levando a um quadro de fadiga, dispneia, anemia, infecções e hemorragia. Essas alterações hematológicas também podem ser somatizadas pelo próprio efeito imunossupressor das infecções oportunistas e neoplásicas e pelos efeitos mielotóxicos que alguns antirretrovirais ou que os medicamentos corticoides e antineoplásicos podem gerar1111. Kotwal J, Singh V, Kotwal A, Dutta V, Nair V. A study of haematological and bone marrow changes in symptomatic patients with human immune deficiency virus infection with special mention of functional iron deficiency, anaemia of critically ill and haemophagocyticlymphohistiocytosis. Med J Armed Forces India. 2013;69(4):319-25..

A literatura também aponta a presença de alterações gastrointestinais como fator preditivo para o agravamento do quadro imunológico, uma vez que o quadro de diarreia, juntamente com a própria ação do vírus, provoca alteração na absorção de nutrientes e metabolismo de lipídios, contribuindo para o surgimento do quadro de desnutrição1212. Sousa Filho MP, Luna IT, Silva KL, Pinheiro PNC. Pacientes vivendo com HIV/aids e coinfecção tuberculose: dificuldades associadas à adesão ou ao abandono do tratamento. Rev Gaúcha Enferm. 2012;33(2):139-45.

13. Moges NA, Kassa GM. Prevalence of opportunistic infections and associated factors among HIV positive patients taking anti-retroviral therapy in Debre Markos referral hospital, northwest Ethiopia. J AIDS Clin Res. 2014; 5(5):1-300.
-1414. Santos AC, Almeida AM. Nutritional Status and CD4 Cell Counts in Patients with HIV/AIDS Receiving Antiretroviral Therapy. Rev Soc Bras Med Trop. 2013;46(6):698-703..

Entre as infecções oportunistas e coinfecções destacam-se: pneumocistose, toxoplasmose, tuberculose, meningite criptocócica e infecção por citomegalovírus, herpes-zoster, dentre outras1313. Moges NA, Kassa GM. Prevalence of opportunistic infections and associated factors among HIV positive patients taking anti-retroviral therapy in Debre Markos referral hospital, northwest Ethiopia. J AIDS Clin Res. 2014; 5(5):1-300.,1515. Mitiku H, Weldegebreal F, Teklemariam Z. Magnitude of opportunistic infections and associated factors in HIV-infected adults on antiretroviral therapy in eastern Ethiopia. HIV/AIDS - Res Palliative Care. 2015; 2015(7):137-44..

Algumas dessas infecções não se relacionam, exclusivamente, à diminuição das células T CD4, como nos casos da tuberculose e candidíase. A reação paradoxal, decorrente do tratamento da tuberculose, pode ser causada pela liberação da proteína do bacilo durante sua destruição. Esse conteúdo proteico pode ser entendido pelo organismo como um antígeno, ocasionando, assim, uma resposta imune inata e adaptativa exacerbada. A infecção por Candida é observada com qualquer nível de células T CD4, de modo que a diminuição dessas células influencia apenas sua frequência e gravidade1616. Saharia KK, Koup RA. T cell susceptibility to HIV influences outcome of opportunistic infections. Cell. 2013;155(3):505-14..

Diante do exposto, o aparecimento das complicações da doença pode estar relacionado a vários fatores, a saber: mecanimos de ação do vírus, efeito paradoxal do tratamento da tuberculose, alterações nas células leucocitárias e efeitos dos medicamentos antirretovirais. Esses fatores podem levar ao desinteresse pelo tratamento, contribuindo para o seu abandono.

O enfermeiro precisa monitorar o quadro clínico das pessoas vivendo com AIDS, atentando para os marcadores sanguíneos e sintomatologia, visando identificar as complicações causadas pela doença. Ademais, é importante que essas pessoas tenham consciência sobre o seu estado clínico atual e seu prognóstico e, sobretudo, de qual maneira podem contribuir para minimizá-los.

Com relação ao diagnóstico de enfermagem conhecimento deficiente, sabe-se que o seguimento inadequado de instruções e verbalização do problema podem influenciar na forma como as pessoas, vivendo com AIDS, lidam com a doença, bem como na adesão ao tratamento e aos comportamentos saudáveis1717. Jones D,Cook R, Rodriguez A, Valverde DW. Personal HIV Knowledge, Appointment Adherence and HIV Outcomes. AIDS Behav. 2013;17:242-9..

Nesse sentido, o enfermeiro deve estimular as pessoas vivendo com AIDS a relatar dúvidas, angústias e dificuldades relacionadas ao tratamento, principalmente no momento da descoberta da doença, uma vez que é comum apresentarem irritabilidade, culpa, apatia, dentre outros sentimentos negativos, fato que pode interferir no envolvimento dessas pessoas para seguirem o tratamento1818. Camargo LA, Capitão CG, Filipe EMV. Mental health, family support and treatment adherence: associations in the context of HIV/aids. Psico USF. 2014;19(2):221-32..

Entende-se que pessoas vivendo com AIDS quanto mais esclarecidas mais capazes são para lidarem e compreenderem melhor que a mudança no estilo de vida e a necessidade de ter compromisso com o tratamento são cruciais para melhor prognóstico da doença e, consequentemente, para uma boa qualidade de vida.

A participação no tratamento pode estar bastante ligada ao grau de informação que os indivíduos têm sobre a doença, sobretudo acerca das consequências que a irregularidade do tratamento pode causar, como infecções oportunistas e alterações sistêmicas.

O enfermeiro pode intervir para minimizar os preditivos do diagnóstico de enfermagem conhecimento deficiente, mediante orientações acerca da doença, prognóstico, tratamento e hábitos de vida que podem favorecer a melhor qualidade de vida. É preciso considerar também a maneira como serão repassadas essas informações, principalmente para aqueles que possuem baixo nível de escolaridade.

No que diz respeito ao fator preditivo anos de estudo, do diagnóstico de enfermagem falta de adesão, estudos apontam que a baixa escolaridade de pessoas vivendo com AIDS prevalece como um aspecto que pode influenciar a falta de adesão ao tratamento da doença33. Faria JO, Silva GA. Diagnósticos de enfermagem do domínio segurança e proteção em pessoas com HIV/Aids. Rev Eletrônica Enferm. [Internet]. 2014 [Acesso 11 nov 2014;16(1):93-9. Disponível em: https://www.fen.ufg.br/fen_revista/v16/n1/pdf/v16n1a11.pdf
https://www.fen.ufg.br/fen_revista/v16/n...
-44. Cunha GH, Galvão MTG. Diagnósticos de enfermagem em pacientes com o Vírus da Imunodeficiência Humana/ Síndrome da Imunodeficiência Adquirida em assistência ambulatorial. Acta Paul Enferm. 2010;23(4):526-32.,1919. Melo GC, Rodrigues STC, Trindade RFC, Holanda JBL. Adesão ao tratamento: representações sociais sobre a terapia antirretroviral para pessoas que vivem com HIV. Rev Enferm UFPE online [Internet]. 2014 [Acesso 12 jan 2015];8(3):572-80. Disponível em: file:///C:/Users/malerbo/Downloads/4159-53397-1-PB.pdf.

Em estudo realizado nos Estados Unidos da América, que teve como objetivo analisar a relação entre o conhecimento dos indivíduos sobre o HIV e a sua adesão ao tratamento, verificou-se que o conhecimento do estado de saúde, incluindo aspectos relacionados ao desenvolvimento da doença, como contagem de CD4 e carga viral, contribuía para o envolvimento das pessoas, vivendo com AIDS, na adesão ao tratamento1717. Jones D,Cook R, Rodriguez A, Valverde DW. Personal HIV Knowledge, Appointment Adherence and HIV Outcomes. AIDS Behav. 2013;17:242-9..

Outros fatores são apontados por alguns estudos como possíveis intervenientes na adesão ao tratamento: dificuldades financeiras, fatores nutricionais, descrença, falta de interesse, uso de drogas, sintomas depressivos, ocorrência de reações adversas durante a tomada dos comprimidos e quantidade de antirretrovirais ingeridos por dia1616. Saharia KK, Koup RA. T cell susceptibility to HIV influences outcome of opportunistic infections. Cell. 2013;155(3):505-14.,2020. Berhe N, Tegabu D, Alemayehu M. Effect of nutritional factors on adherence to antiretroviral therapy among HIV-infected adults: a case control study in Northern Ethiopia. Infectious Dis. 2013;13:233-42.-2121. Barroso J, Voss JG. Fatigue in HIV and aids: An Analysis of Evidence. J Assoc Nurses Aids Care. 2013;24(1):1-10..

As dificuldades financeiras limitam o acesso à alimentação adequada para minimizar o quadro de debilidade física, marcado por fraqueza muscular e baixo peso, decorrentes da própria ação do vírus, como também das reações adversas dos medicamentos ou sintomas das infecções oportunistas2020. Berhe N, Tegabu D, Alemayehu M. Effect of nutritional factors on adherence to antiretroviral therapy among HIV-infected adults: a case control study in Northern Ethiopia. Infectious Dis. 2013;13:233-42.

21. Barroso J, Voss JG. Fatigue in HIV and aids: An Analysis of Evidence. J Assoc Nurses Aids Care. 2013;24(1):1-10.
-2222. Fagbami O, Oluwasanjo A, Fitzpatrick C, Fairchild R, Shin A, Donato A. Factors Supporting and Inhibiting Adherence to HIV Medication Regimen in Women: A Qualitative Analysis of Patient Interviews. Open AIDS J. 2015; 9:45-50.. Já a descrença no tratamento pode estar relacionada ao entendimento da não eficácia dos antirretrovirais, pelo fato de ser uma doença incurável1818. Camargo LA, Capitão CG, Filipe EMV. Mental health, family support and treatment adherence: associations in the context of HIV/aids. Psico USF. 2014;19(2):221-32..

Além disso, eventos adversos desses medicamentos podem envolver alterações anatômicas, metabólicas e neuropsiquiátricas, bem como efeitos gastrintestinais de diferentes intensidades1212. Sousa Filho MP, Luna IT, Silva KL, Pinheiro PNC. Pacientes vivendo com HIV/aids e coinfecção tuberculose: dificuldades associadas à adesão ou ao abandono do tratamento. Rev Gaúcha Enferm. 2012;33(2):139-45.. Outro aspecto importante diz respeito à quantidade de antirretrovirais ingeridos por dia, a que também contribui para que as pessoas que vivem com AIDS tenham resistência à tomada da medicação, ou não se recordem dos horários de ingestão dos comprimidos1212. Sousa Filho MP, Luna IT, Silva KL, Pinheiro PNC. Pacientes vivendo com HIV/aids e coinfecção tuberculose: dificuldades associadas à adesão ou ao abandono do tratamento. Rev Gaúcha Enferm. 2012;33(2):139-45.,1919. Melo GC, Rodrigues STC, Trindade RFC, Holanda JBL. Adesão ao tratamento: representações sociais sobre a terapia antirretroviral para pessoas que vivem com HIV. Rev Enferm UFPE online [Internet]. 2014 [Acesso 12 jan 2015];8(3):572-80. Disponível em: file:///C:/Users/malerbo/Downloads/4159-53397-1-PB.pdf.

Sabe-se, no entanto, que os medicamentos antirretrovirais possuem importante papel no controle, sobrevida e melhora da qualidade de vida das pessoas vivendo com AIDS, na medida em que atuam na supressão viral e mantêm os níveis das células CD4 mais elevadas, permitindo, assim, melhora no sistema imunológico e diminuição da ocorrência de infecções oportunistas1313. Moges NA, Kassa GM. Prevalence of opportunistic infections and associated factors among HIV positive patients taking anti-retroviral therapy in Debre Markos referral hospital, northwest Ethiopia. J AIDS Clin Res. 2014; 5(5):1-300.,1515. Mitiku H, Weldegebreal F, Teklemariam Z. Magnitude of opportunistic infections and associated factors in HIV-infected adults on antiretroviral therapy in eastern Ethiopia. HIV/AIDS - Res Palliative Care. 2015; 2015(7):137-44..

É importante salientar que, embora neste estudo não tenha havido uma significância estatística entre o diagnóstico falta de adesão e as variáveis relacionadas ao consumo de bebida alcoólica, tabaco e drogas ilícitas, é interessante notar que os fatores relacionados comportamento indicativo de falta de aderência e esquecimento podem ser decorrentes desse estilo de vida tão prevalente entre os participantes desta pesquisa.

Estudos afirmam que os comportamentos de vida não saudáveis, dentre eles o consumo de drogas, podem ser determinantes tanto no contágio do HIV quanto na adesão ao tratamento da doença, uma vez que essas pessoas, comumente, ao ingerir álcool ou consumir outras drogas, diminuem o grau de cognição e assumem determinados comportamentos, como a prática do sexo inseguro, multiplicidade de parceiros, compartilhamento de seringas, esquecimento da tomada dos medicamentos antirretrovirais2020. Berhe N, Tegabu D, Alemayehu M. Effect of nutritional factors on adherence to antiretroviral therapy among HIV-infected adults: a case control study in Northern Ethiopia. Infectious Dis. 2013;13:233-42.

21. Barroso J, Voss JG. Fatigue in HIV and aids: An Analysis of Evidence. J Assoc Nurses Aids Care. 2013;24(1):1-10.

22. Fagbami O, Oluwasanjo A, Fitzpatrick C, Fairchild R, Shin A, Donato A. Factors Supporting and Inhibiting Adherence to HIV Medication Regimen in Women: A Qualitative Analysis of Patient Interviews. Open AIDS J. 2015; 9:45-50.
-2323. Naidoo P, Chirinda W, Mchunu G, Swartz S, Anderson J. Social and structural factors associated with vulnerability to HIV infection among young adults in South Africa. Psychol Health Med. 2014;15:1-11.. Ademais, os usuários de drogas, em virtude de seu alto grau de dependência, preferem consumi-la a ingerir os medicamentos, tendo em vista que o uso concomitante pode aumentar os efeitos adversos dos antirretrovirais, ou mesmo pelo fato de considerarem o uso das drogas como mecanismos de escape para as adversidades da vida1212. Sousa Filho MP, Luna IT, Silva KL, Pinheiro PNC. Pacientes vivendo com HIV/aids e coinfecção tuberculose: dificuldades associadas à adesão ou ao abandono do tratamento. Rev Gaúcha Enferm. 2012;33(2):139-45.,2121. Barroso J, Voss JG. Fatigue in HIV and aids: An Analysis of Evidence. J Assoc Nurses Aids Care. 2013;24(1):1-10..

Nesse sentido, o enfermeiro deve estar atento aos múltiplos fatores que influenciam a adesão ao tratamento, principalmente aqueles referentes às questões comportamentais. O envolvimento e o sentimento de responsabilidade são fundamentais para o sucesso terapêutico. O apoio familiar e psicológico também se faz essencial nesse processo, no sentido de estimular as pessoas vivendo com AIDS a seguirem adequadamente o tratamento, incluindo as mudanças comportamentais que possuem tanto impacto para um melhor prognóstico da doença. É necessário envolver essas pessoas no seu processo saúde/doença, principalmente fornecendo-lhes a possibilidade de escolher junto com a equipe de saúde como se dará seu tratamento, considerando, também, os fatores extrínsecos, como os socioeconômicos e culturais.

O diagnóstico de enfermagem disfunção sexual apresentou como fatores preditivos a função corporal alterada, renda familiar, frequência diminuída da prática sexual, déficit percebido do desejo sexual e limitações percebidas impostas pela doença.

Estudo aponta que existe grande desconforto com relação às mudanças corporais causadas pela AIDS e os antirretrovirais, principalmente aquelas relacionadas à perda de peso e à lipodistrofia. Essa mudança na imagem corporal, por vezes, pode causar insegurança ou vergonha nas pessoas vivendo com AIDS, podendo interferir na sua autoestima e relações pessoais e sexuais, principalmente quando está relacionada a um quadro depressivo44. Cunha GH, Galvão MTG. Diagnósticos de enfermagem em pacientes com o Vírus da Imunodeficiência Humana/ Síndrome da Imunodeficiência Adquirida em assistência ambulatorial. Acta Paul Enferm. 2010;23(4):526-32..

A principal forma de transmissão da doença pode interferir no modo de as pessoas, vivendo com AIDS, vivenciarem sua sexualidade, seja pelo receio de transmitir o vírus, ou por associar a prática sexual à sua condição de saúde atual, principalmente quando essas pessoas apresentam várias internações hospitalares em um curto período de tempo44. Cunha GH, Galvão MTG. Diagnósticos de enfermagem em pacientes com o Vírus da Imunodeficiência Humana/ Síndrome da Imunodeficiência Adquirida em assistência ambulatorial. Acta Paul Enferm. 2010;23(4):526-32..

A disfunção sexual possui causas multifatoriais, as quais podem ser orgânicas ou psicológicas. Estudiosos apontam que uma disfunção endotelial pode acontecer como consequência do quadro de dislipidemia, obesidade e diabetes mellitus, causado pela própria ação do HIV, ou pelos efeitos adversos dos antirretrovirais. Esse processo altera o relaxamento vascular e o fluxo sanguíneo, interferindo, assim, na função sexual das pessoas vivendo com AIDS2424. Romero-Velez G, Lisker-Cervantes A, Villeda-Sandoval CI, Zavaleta MS, Olvera-Posada D, Sierra-Madero JG, Arreguin-Camacho LO, Castillejos-Molina RA. Erectile Dysfunction Among HIV Patients Undergoing Highly Active Antiretroviral Therapy: Dyslipidemia as a Main Risk Factor. Sex Med. 2014;2:24-30..

O hipogonadismo possui patogênese multifatorial, podendo ocorrer por causa dos efeitos citopáticos do vírus em células testiculares, ao uso de drogas gonadotóxicas, à desnutrição, às infecções oportunistas e às neoplasias que afetam o testículo. Os níveis baixos de testosterona podem estar relacionados ao hipogonadismo e causar a perda de massa e força muscular, redução da densidade mineral óssea e lipodistrofia e disfunção sexual2424. Romero-Velez G, Lisker-Cervantes A, Villeda-Sandoval CI, Zavaleta MS, Olvera-Posada D, Sierra-Madero JG, Arreguin-Camacho LO, Castillejos-Molina RA. Erectile Dysfunction Among HIV Patients Undergoing Highly Active Antiretroviral Therapy: Dyslipidemia as a Main Risk Factor. Sex Med. 2014;2:24-30..

Por fim, o diagnóstico de enfermagem disfunção sexual apresentou a renda familiar como um dos preditivos. Conviver com uma doença ainda tão estigmatizada pela sociedade dificulta o acesso do indivíduo ao mercado de trabalho44. Cunha GH, Galvão MTG. Diagnósticos de enfermagem em pacientes com o Vírus da Imunodeficiência Humana/ Síndrome da Imunodeficiência Adquirida em assistência ambulatorial. Acta Paul Enferm. 2010;23(4):526-32., contribuindo para o desemprego e, consequentemente, dificuldades financeiras.

Diante da multicausalidade que pode envolver o diagnóstico de enfermagem disfunção sexual, é importante que o enfermeiro estabeleça uma relação de vínculo e respeito com as pessoas vivendo com AIDS, às quais ele presta cuidados, para que possa conhecer os preditivos que podem cursar para que essas disfunções ocorram, ou que já causaram impacto na qualidade de vida dessas pessoas.

Como contribuições para o avanço do conhecimento científico, ressalta-se que a identificação dos fatores preditivos confere maior poder clínico ao enfermeiro, pois permite o conhecimento dos aspectos que estão relacionados às respostas humanas das pessoas vivendo com AIDS e o quanto esses possuem uma dimensão multicausal e estão interligados. Essa identificação facilita estabelecer intervenções de enfermagem mais adequadas às reais necessidades dessas pessoas e ao seu contexto socioeconômico e cultural, além de possibilitar a minimização das complicações do tratamento e da própria vivência com a doença, podendo, também, proporcionar base para o ensino dos diagnósticos de enfermagem.

Os limites do estudo estiveram relacionados ao tipo de amostragem não probabilística, o que não garante a representatividade da amostra. Outro aspecto identificado consiste no fato de a avaliação clínica ser um processo subjetivo, diante disso, o processo diagnóstico está sujeito a incertezas. Ressalta-se que a pequena quantidade de estudos que abordaram os diagnósticos de enfermagem em pessoas vivendo com AIDS e que utilizaram a estatística inferencial gerou certa dificuldade para comparar os achados da presente pesquisa.

Nesse sentido, sugere-se que outros estudos sejam desenvolvidos com vistas a dar maior embasamento para a prática assistencial do enfermeiro diante de pessoas vivendo com AIDS, principalmente com relação aos diagnósticos de enfermagem e seus preditivos.

Conclusão

O estudo permitiu identificar que os fatores preditivos dos diagnósticos de enfermagem são: conhecimento deficiente, falta de adesão e disfunção sexual, encontrados nas pessoas vivendo com AIDS e envolveram características sociodemográficas, clínicas, características definidoras e fatores relacionados, os quais podem ser utilizados por enfermeiros para identificar o risco aumentado para o desenvolvimento de respostas humanas específicas e complicações relacionadas à doença.

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    Artigo extraído da dissertação de mestrado "Sistematização da Assistência de Enfermagem em Pacientes com AIDS", apresentada ao Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2016

Histórico

  • Recebido
    18 Jul 2015
  • Aceito
    21 Nov 2015
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