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Pesquisa estratégica, inovação tecnológica e enfermagem

EDITORIAL

Pesquisa estratégica, inovação tecnológica e enfermagem

Maria Helena Palucci Marziale

Editora da Revista Latino-Americana de Enfermagem e Professora Titular da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Brasil, e-mail: marziale@eerp.usp.br

A inovação tecnológica é definida como processo de concepção ou de agregação de novas funcionalidades ou características de um produto ou de um método de produção. Dentro desse movimento, exploram-se mudanças na qualidade, ou na produtividade, capazes de adequar um negócio ou serviço à realidade do mercado. Ela pode ser classificada em inovação de produto, ao ser introduzida no mercado, ou inovação de processo, ao ser usada no processo de produção(1). O conceito se refere também à introdução de um novo produto, serviço, ou processo, no mercado, com base no conhecimento disponível, seja recente ou gerado no passado. A inovação é o conhecimento em ação, é o conhecimento utilizado largamente no âmbito da sociedade e no âmbito das organizações produtivas, sejam elas de bens ou de serviços em saúde(2).

O tema inovação tecnológica e saúde tem ganhado progressivo espaço na academia e nas políticas públicas no Brasil desde a realização, em 1994, da I Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde(3), uma vez que os sistemas de inovação científica são benéficos ao desenvolvimento do país, pois forte capacidade científica nacional prevê uma base para sustentar as decisões de política e melhorar a vida das pessoas. Em nosso país, os desafios para melhorar a vida das pessoas são grandes e diversificados, e não são possíveis sem a contribuição do conhecimento científico e de tecnologias inovadoras.

A vacina que erradicou a varíola, a terapia de re-hidratação oral que salva vidas de milhões de crianças com diarreia, o manejo integrado de pragas que aumentou a produção de arroz e reduziu o uso de pesticidas, a criação de variedades de alto rendimento de trigo e arroz transformou a segurança alimentar no sul da Ásia. Ainda, as tecnologias de purificação de água reduziram o risco de epidemias após catástrofes naturais, o telefone móvel que melhorou o acesso aos mercados urbanos e rurais e ajudou a fortalecer os laços familiares são alguns exemplos de tecnologias que tiveram impactos significativos para melhorar a vida das pessoas. Essas melhorias foram alcançadas através de anos de experimentação, realizada em colaboração por grupos de cientistas, de diferentes países e disciplinas(4). Assim, destaca-se que a interdisciplinaridade e as parcerias de grupos de pesquisadores são instrumentos importantíssimos nesse processo.

A criação de sistemas eficazes de ciência global de inovação, com a participação de cientistas de países em desenvolvimento e de países desenvolvidos, para pesquisar as necessidades dos países em desenvolvimento, possibilitará o alcance de metas do milênio - Millennium Development Goals(5-6). Nesse sentido, pesquisas estratégicas, com olhar atento da comunidade científica e tecnológica às necessidades e às políticas de saúde, abordando os temas que tratam os desafios nacionais e internacionais que requerem recursos e arranjos multi-institucionais, devem ser desenvolvidas em todas as áreas do conhecimento.

Alguns dos desafios previstos estão relacionados às mudanças climáticas, devido ao aumento da frequência e gravidade dos eventos climáticos, por exemplo, secas, temperaturas extremas, inundações e tempestades tropicais. A globalização do comércio e as viagens contribuíram para o movimento rápido de novas pragas e doenças das culturas e no gado, que conduz a mais frequentes surtos que ameaçam a produção agrícola e o comércio. O mesmo processo de globalização está aumentando os riscos de epidemias de doenças infecciosas humanas, com o surgimento de novos agentes patogênicos associados à mistura de patógenos humanos e animais. Assim, é necessária a construção de capacidade técnica para monitorar as populações e os ambientes, de forma a detectar os choques, a capacidade de modelos de previsão e antecipação, e uma gama de respostas que ajudem comunidades e nações para prevenir, tolerar e se recuperar de desastres. Colaborando, também, para o próprio desenvolvimento, incluindo a melhoria da segurança alimentar, saúde humana e a gestão dos recursos ambientais. No campo da ciência, observa-se crescimento em novas plataformas que têm a flexibilidade de serem transformadas com facilidade para a solução de problemas de ricos ou pobres e revolução nas tecnologias de informação e comunicação, aumentando a capacidade de comunicar e participar, em nível mundial, da inovação científica, envolvendo as partes interessadas e os beneficiários desse processo, além de transpor as fronteiras históricas dos países desenvolvidos e de países em desenvolvimento(4).

Diante desse contexto, a Enfermagem tem por desafios: treinar e capacitar os cientistas que possam trabalhar em nível internacional sobre a inovação da ciência. Esse é papel que deve ser desempenhado pelo sistema de ensino (programas de graduação e pós-graduação). Por sua vez, as instituições financiadoras precisam ampliar o financiamento para as pesquisas nacionais. Além disso, há necessidade de auxiliar os cientistas de países em desenvolvimento a participar em sistemas de inovação, através da pesquisa global, com especialistas de outros países. Essas parcerias de investigação deverão ser mais justas e capacitar para o desenvolvimento de cientistas, apoiando as suas carreiras nas instituições nacionais, através de oportunidades de investigação a mais longo prazo, de publicação e de construção de grupos de pesquisa.

Especificamente, na área da Enfermagem, há necessidade de ampliar o número de pesquisas de forte impacto e de inovação tecnológica, a fim de possibilitar a redução da pobreza, a melhoria do bem-estar da comunidade.

Referências

  • 1. Ministério de Cięncia e Tecnologia. Programa juro zero. Brasília. [citado em 23 mar 2009]. Disponível em: http://www.jurozero.finep.gov.br/jurozero_prod/autenticar
  • 2
    Anais da 2ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde; 2004 Jul 25-28; Brasília (DF), Brasil. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2004.
  • 3. Pereira Júlio Cesar Rodrigues, Baltar Valéria Troncoso, Mello Débora Luz de. Sistema Nacional de Inovaçăo em Saúde: relaçőes entre áreas da cięncia e setores econômicos. Rev. Saúde Pública [periódico na Internet]. 2004 Fev [citado 2010 Fev 17] ; 38(1): 1-8. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext & pid=S0034-89102004000100001 & lng=pt.doi:10.1590/S0034-89102004000100001
  • 4. Conway, Gordon; Waage, Jeff; Delaney, Sara. Science and Innovation for Development. UK Collaborative on Development Sciences (UKCDS), London, January 2010.ISBN: 978 1 84129 0829
  • 5. Technology and Innovation.UN. (2009) The Millennium Development Goals Report, 2009, UN, New York.
  • 6. Marziale Maria Helena Palucci, Mendes Isabel Amélia Costa. Poverty and human development: global strategies. Rev. Latino-Am. Enfermagem [periódico na Internet]. 2007 Out [citado 2010 Fev 17] ; 15(spe): 713-720. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext & pid=S0104-11692007000700001 & lng=pt.doi:10.1590/S0104-11692007000700001

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Jul 2010
  • Data do Fascículo
    Fev 2010
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