A clínica da depressão: questões atuais

Resumos

A psicoterapia com pacientes que encontram-se sob efeito de antidepressivos revela que estes são relativamente eficazes na inibição de sintomas considerados típicos da depressão. Porém, ao mesmo tempo, sintomas considerados típicos da melancolia não são afetados por esses medicamentos.

Nem a longa e rica tradição psiquiátrica nem a psicanalítica estabelecem uma diferença específica clara entre depressão e melancolia, tratando-as, na maior parte das vezes, como fazendo parte de um mesmo campo semântico e, por isso, sendo utilizadas como sinônimos. Esta tendência culmina em manuais de psiquiatria, como o DSM-IV e o CID-10, em que o transtorno bipolar é denominado maníaco-depressivo. A melancolia fica, assim, dissolvida na depressão.

Partindo desta constatação clínica, este trabalho estabelece uma diferença específica entre depressão e melancolia e descreve o campo semântico próprio da depressão.

Psiquiatria; psicanálise; depressão; melancolia; psicoterapia

La psicoterapía con pacientes que se hallan bajo el efecto de antidepresivos revela que esos son relativamente eficazes en la inibición de los síntomas considerados típicos de la depresión. Sin embargo, al mismo tiempo, síntomas considerados típicos de la melancolía no son afectados por esos medicamentos.

Ni la larga y rica tradición psiquiátrica ni la psicoanalítica establecen una diferencia específica entre depresión y melancolía tratandolas, en general, como se hiciesen parte de un mismo campo semántico y por lo tanto siendo utilizadas como sinónimos.

Esta tendencia culmina en manuales de psiquiatría, como los DSM-IV y el CID-10, en el cuales el trastorno bipolar es llamado maníaco-depresivo. La melancolía es, así, disolvida en la depresión.

Este trabajo establece una diferencia específica entre depresión y melancolía y describe el campo semántico propio de la depresión.

Psiquiatría; psicoanálisis; depresión; melancolía; psicoterapía

La psychothérapie avec des patients qui sont sous l’action des antidépresseurs montre que ceux-ci sont relativement efficaces en ce qui concerne à l’inhibition de sumptômes tenus pour typiques de la dépression. Cependant, au même temps, des symptômes tenus pour typiques de la mélancolie ne sont pas affectés par ces médicaments.

Ni la longue et riche tradition psychiatrique ni celle de la psychanalyse établissent une distinction claire et spécifique entre dépression et mélancolie, en les traitant, au contraire, le plus souvent, comme des parties du même champ sémantique – et c’est pour cela qu’elles sont utilisées comme synonymes. Cette tendance atteint son point culminant aux manuels de psychiatrie, comme le DSM-IV et le CID-10, où le bouleversement bipolaire est dénommé maniacodépressiv. La mélancolie reste, ainsi, dissoute dans la dépression.

En partant de cette constatation clinique, ce travail établit une distinction spécifique entre dépression et mélancolie et décrit un champ sémantique propre à la dépression.

Psychiatrie; psychanalyse; dépression; mélancolie; psychotherapie

The psychotherapy with patients that are under the effect of antidepressives reveals that these drugs are relatively efficient for the symptoms inhibition that are typical of depression. However, symptoms considered typical of melancholia are not affected by these drugs.

Neither the long and rich psychiatric tradition nor the psychoanalytic one establish a specific and clear difference between depression and melancholia, considering them as parts of the same semantic field and treating them as synonyms.

This tendency is most evident in psychiatric manuals as DSM-IV and CID-10, where bipolar disorder is called maniac-depressive. Melancholia is, therefore, dissolved in depression.

Starting from clinical observation, this article establishes a specific difference between depression and melancholia and describes the semantic field of depression.

Psychiatry; psychoanalysis; depression; melancholia; psychotherapy

Texto completo disponível apenas em PDF.

Bibliografia

• ARISTÓTELES. O homem de gênio e a melancolia. O problema XXX, 1. Trad. do grego, apres. e notas de Jackie Pigeaud. Trad. de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Lacerda, 1998.
• Associação Psiquiátrica Americana, Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais – DSM IV. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
• BERLINCK, Manoel Tosta. “Autismo, paradigma do aparelho psíquico”, in Estilos da Clínica. Revista sobre a infância com problemas, vol. IV, nº 7, 2º semestre de 1999,
• BLOC, G. E. R. (org.). Hippocratic Writings. London: Penguin, 1983.
• BUCHER, Richard. Depressão e melancolia. Estrutura e classificação dos estados depressivos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1979.
• BURTON, Robert. The Anatomy of Melancholy. London: Penguin, 1997.
• FÉDIDA, Pierre. Depressão. Trad. de Martha Gambini. São Paulo: Escuta, 1999.
• FREUD, Sigmund. “Luto e melancolia” (1915). ESB, vol. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1969.
• FREUD, Sigmund “O mal-estar na civilização” (1938). ESB, vol. XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1969.
• FREUD, Sigmund Neuroses de transferência: uma síntese. Trad. de Abram Eksterman. Rio de Janeiro: Imago, 1987.
• GRINBERG, Leon. Culpa y depresión. Estudio psicoanalítico. Madrid: Alianza, 1983.
• The Harvard Mental Health Letter, Internet, 1990.
• LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 5. As formações do inconsciente. Trad. de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
• LAMBOTTE, Marie-Claude. O discurso melancólico. Trad. de Sandra Refina Felgueiras. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1997.
• PEREIRA, Mário Eduardo Costa. Pânico e desamparo. São Paulo: Escuta, 1999.
• PERES, Urânia Tourinho (org.). Melancolia. São Paulo: Escuta, 1996.
• PESSOTTI, Isaias. Os nomes da loucura. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1999.
• ROCHA, Zeferino. “Desamparo e metapsicologia. Para situar o conceito de desamparo no contexto da metapsicologia freudiana”, in Síntese. Revista de filosofia, vol. 26, nº 86 (1999), pp. 331-346.
• ROUDINESCO, Elisabeth & PLON, Michel. Verbetes sobre melancolia e sobre mania. Dicionário de psicanálise. Trad. de Vera Ribeiro e Lucy Magalhães. Supervisão da ed. bras. de Marco Antonio Coutinho Jorge. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
• SACKS, Oliver. Tempo de despertar. Trad. de Laura Teixeira da Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
• TELLENBACH, Hubert. “A endogenidade como origem da melancolia e do tipo melancólico”, in Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, vol. II, nº 4, dezembro de 1999, pp. 164-175.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  Apr-Jun 2000