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Edema pulmonar de reexpansão em crianças

Resumos

OBJETIVO

Relatar caso de paciente com quadro clínico e radiológico de edema pulmonar de reexpansão, patologia rara e potencialmente fatal.

DESCRIÇÃO DO CASO

Menino de 11 anos com febre e quadro clínico-radiológico de derrame pleural volumoso, inicialmente tratado como parapneumônico. Após descompensação clínica, realizou-se drenagem torácica, com saída de 3.000mL de líquido. Evoluiu rapidamente com insuficiência respiratória aguda, necessitando de ventilação mecânica. Teve duas extubações malsucedidas e, devido à evolução atípica, realizou-se tomografia computadorizada, cujos achados foram compatíveis com edema de reexpansão. Após suporte intensivo, evoluiu satisfatoriamente e, posteriormente, foi diagnosticado com tuberculose pleural.

COMENTÁRIOS

É importante o conhecimento da patologia, ainda que seja rara na população pediátrica (encontrados apenas cinco casos descritos), para prevenção, visto que a taxa de mortalidade é muito alta. Recomenda-se, entre outras medidas, que o esvaziamento de um derrame pleural seja lento e que o volume total retirado não ultrapasse 1.500mL.

edema pulmonar; derrame pleural; tuberculose pleural; adolescente


OBJECTIVE

To present a case of a patient with clinical and radiological features of reexpansion pulmonary edema, a rare and potentially fatal disease.

CASE DESCRIPTION

An 11-year-old boy presenting fever, clinical signs and radiological features of large pleural effusion initially treated as a parapneumonic process. Due to clinical deterioration he underwent tube thoracostomy, with evacuation of 3,000 mL of fluid; he shortly presented acute respiratory insufficiency and needed mechanical ventilation. He had an atypical evolution (extubated twice with no satisfactory response). Computerized tomography findings matched those of reexpansion edema. He recovered satisfactorily after intensive care, and pleural tuberculosis was diagnosed afterwards.

COMMENTS

Despite its rareness in the pediatric population (only five case reports gathered), the knowledge of this pathology and its prevention is very important, due to high mortality rates. It is recommended, among other measures, slow evacuation of the pleural effusion, not removing more than 1,500 mL of fluid at once.

pulmonary edema; pleural effusion; tuberculosis, pleural; adolescent


OBJETIVO

Relatar caso de paciente con cuadro clínico y radiológico de edema pulmonar de reexpansión, patología rara y potencialmente fatal.

DESCRIPCIÓN DEL CASO

Niño de 11 años con fiebre y cuadro clínico-radiológico de derrame pleural voluminoso, inicialmente tratado como parapneumónico. Después de la compensación clínica, se realizó drenaje torácico, con salida de 3000mL de líquido. Evolucionó rápidamente con insuficiencia respiratoria aguda, necesitando ventilación mecánica. Tuvo dos extubaciones mal sucedidas y, debido a la evolución atípica, se realizó tomografía computadorizada, cuyos hallazgos fueron compatibles con edema de reexpansión. Después de soporte intensivo, evolucionó satisfactoriamente y, posteriormente, se diagnosticó tuberculosis pleural.

COMENTARIOS

Es importante el conocimiento de la patología, aunque sea rara en la población pediátrica (encontrados solamente cinco casos descriptos), para prevención, una vez que la tasa de mortalidad es muy alta. Se recomienda, entre otras medidas, que el vaciamiento de un derrame pleural sea lento y que el volumen total retirado no sobrepase 1500mL.

edema pulmonar; derrame pleural; tuberculosis pleural; adolescente


Introdução

O edema pulmonar de reexpansão (EPR) é uma entidade clínica rara e potencialmente fatal. Ocorre geralmente quando um pulmão cronicamente colabado é rapidamente reexpandido após a retirada de grande quantidade de líquido ou ar do espaço pleural, frequentemente utilizando-se altas pressões negativas intrapleurais( 11. Mahfood S, Hix WR, Aaron BL, Blaes P, Watson DC. Reexpansion pulmonary edema. Ann Thorac Surg 1988;45:340-5.

2. Genofre EH, Vargas FS, Teixeira LR, Vaz MA, Marchi E. Reexpansion pulmonary edema. J Pneumol 2003;29:101-6.

3. Sohara Y. Reexpansion pulmonary edema. Ann Thorac Cardiovasc Surg 2008;14:205-9.

4. Gleeson T, Thiessen R, Müller N. Reexpansion pulmonary edema: computed tomography findings in 22 patients. J Thorac Imaging 2011;26:36-41.
- 55. Kesieme EB, Dongo A, Ezemba N, Irekpita E, Jebbin N, Kesieme C. Tube thoracostomy: complications and its management. Pulm Med [serial on the Internet]. 2012;2012 [cited 2012 Feb 20]. Available from: http://www.hindawi.com/journals/pm/2012/256878/cta/
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).

Este estudo relatou o caso de uma criança com derrame pleural volumoso, que apresentou quadro grave de EPR após a drenagem do líquido sendo revisada a literatura acerca do tema.

Relato do caso

Paciente masculino, 11 anos, caucasiano, com história de febre, adinamia, mialgia e dor torácica havia três dias. Antecedente de asma intermitente. Exame físico: bom estado geral, febril, frequência respiratória de 23 incursões por minuto, sem esforço respiratório; propedêutica pulmonar com murmúrio vesicular presente à direita e abolido à esquerda, com macicez à percussão. Sem outros achados clínicos relevantes. Radiografia de tórax na admissão evidenciava opacidade homogênea à esquerda, com obliteração de seio costofrênico e cardiofrênico à esquerda (Figura 1). Realizou-se ultrassonografia, que evidenciou líquido na cavidade pleural até terço superior, sem septações ou espessamento pleural.

Figura 1
(A) Radiografia de tórax na admissão: opacidade homogênea, à esquerda, até ápice, velamento de seios costofrênico e cardiofrênico, com presença de discreto desvio de mediastino contralateral. (B) Tomografia computadorizada de tórax realizada pós-drenagem torácica: corte axial, janelamento para parênquima pulmonar evidenciando acometimento pulmonar bilateral, com áreas de condensação (preenchimento alveolar), áreas de vidro fosco e acometimento pleural bilateral, com achados mais importantes em pulmão esquerdo

Submeteu-se o paciente à toracocentese, retirando-se550mL de líquido citrino; hemograma apresentava: hemoglobina: 14,2mg/dL; leucócitos: 7.310/mm3 (73% segmentados, 18% linfócitos e 9% monócitos); plaquetas: 445.000/mm3. Iniciou-se tratamento para derrame pleural parapneumônico com penicilina cristalina (200.000U/kg/dia). A análise laboratorial do líquido pleural revelou: 4.400 hemácias/mm3; 730 leucócitos/mm3 (81% linfócitos e 19% neutrófilos); glicose: 79mg/dL; proteínas: 5,1g/dL.

Permaneceu em bom estado geral por cinco dias, eupneico e com picos febris diários. As hemoculturas, o teste rápido para dengue e a pesquisa de crioaglutininas foram negativos. Devido à piora clínica (dor torácica e dispneia), sem novas alterações radiológicas, indicou-se drenagem pleural sob anestesia geral.

Durante a indução anestésica, apresentou bradicardia e hipóxia, prontamente revertidas. Realizou-se toracocentese, com retirada de 3.000mL de líquido citrino ao longo de duas horas, mantendo drenagem em selo d'água. Análise laboratorial do líquido: aspecto citrino; 490 hemácias/mm3; 233 leucócitos/mm3 (97% linfócitos); glicose: 94mg/dL; proteínas: 4,2g/dL; pH: 7,48; lactato desidrogenase (LDH): 623U/L (referência: exsudato >300U/L).

Após o procedimento, já extubado, apresentou desconforto respiratório e queda de saturação de oxigênio, com necessidade de ventilação invasiva em UTI pediátrica. Permaneceu em ventilação mecânica do sexto ao 20º dia de internação. Nesse ínterim de 14 dias pós-procedimento, houve duas extubações: uma acidental e outra programada; em ambos os episódios, necessitou ser novamente intubado, reiniciando-se ventilação mecânica por insuficiência respiratória. Durante os períodos de estabilidade do paciente, optou-se por ventilação mandatória intermitente, com pico de pressão inspiratória entre 20â€'25cmH2O, pressão positiva de final inspiratório entre 5â€'8cmH2O, frequência respiratória entre 12â€'15 incursões/minuto e fração inspirada de oxigênio entre 40-50% (calculou-se o índice de Horovitz entre 180â€'190). Houve considerável dificuldade na evolução dos parâmetros ventilatórios, até a retirada definitiva da cânula traqueal.

Realizou-se tomografia computadorizada de tórax (Figura 1), a qual evidenciou: preenchimento alveolar maciço do pulmão esquerdo e parcial do direito, com áreas de vidro fosco bilateralmente; derrame pleural residual à esquerda e laminar à direita, com reação pleural bilateral e presença de adenomegalia hilar. Dessa forma, fez-se a hipótese diagnóstica do edema pulmonar de reexpansão.

A análise complementar do líquido pleural mostrou pesquisas de células neoplásicas, fungos e bactérias negativas; porém, a pesquisa de atividade de adenosina deaminase (ADA) no líquido pleural foi positiva (137,70U/L; referência: até 40U/L). Realizou-se teste tuberculínico, com resultado de 19mm. Iniciou-se tratamento com rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol, associados à prednisona (1mg/kg/dia), com o diagnóstico de tuberculose pleural. A sorologia para HIV e as culturas para bactérias e micobactérias foram negativas. A partir do segundo dia de tratamento, o paciente não apresentou mais picos febris e pôde-se suspender a ventilação mecânica e retirar o dreno pleural, no 14º dia de internação intensiva (20º dia de internação hospitalar). O paciente recebeu alta para acompanhamento ambulatorial no 31º dia de internação, com melhora clínica e radiológica.

Discussão

A fisiopatologia do EPR é multifatorial, incluindo alteração da permeabilidade capilar pulmonar e aumento da pressão hidrostática. Ambos acarretam extravasamento de líquido e proteínas para o interstício e alvéolos, levando ao edema pulmonar( 11. Mahfood S, Hix WR, Aaron BL, Blaes P, Watson DC. Reexpansion pulmonary edema. Ann Thorac Surg 1988;45:340-5.

2. Genofre EH, Vargas FS, Teixeira LR, Vaz MA, Marchi E. Reexpansion pulmonary edema. J Pneumol 2003;29:101-6.
- 33. Sohara Y. Reexpansion pulmonary edema. Ann Thorac Cardiovasc Surg 2008;14:205-9. , 55. Kesieme EB, Dongo A, Ezemba N, Irekpita E, Jebbin N, Kesieme C. Tube thoracostomy: complications and its management. Pulm Med [serial on the Internet]. 2012;2012 [cited 2012 Feb 20]. Available from: http://www.hindawi.com/journals/pm/2012/256878/cta/
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). A alteração de permeabilidade ocorre devido à hipoxemia local, causada pelo colapso do pulmão, lesando a parede capilar e diminuindo a produção de surfactante, com subsequente liberação de mediadores inflamatórios -interleucina-8 (IL-8), proteína quimiotática de monócitos-1 (MCP-1), leucotrieno B4, óxido nítrico, polimorfonucleares, radicais livres - que, por sua vez, amplificam a lesão e alteram a permeabilidade vascular (IL-8 e MCP-1 atuam também no pulmão contralateral, justificando parcialmente os casos de EPR bilateral)( 22. Genofre EH, Vargas FS, Teixeira LR, Vaz MA, Marchi E. Reexpansion pulmonary edema. J Pneumol 2003;29:101-6. , 33. Sohara Y. Reexpansion pulmonary edema. Ann Thorac Cardiovasc Surg 2008;14:205-9. , 55. Kesieme EB, Dongo A, Ezemba N, Irekpita E, Jebbin N, Kesieme C. Tube thoracostomy: complications and its management. Pulm Med [serial on the Internet]. 2012;2012 [cited 2012 Feb 20]. Available from: http://www.hindawi.com/journals/pm/2012/256878/cta/
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). Além dessa agressão, o capilar também sofre lesão mecânica pela compressão do colabamento, associada à distensão brusca devido à reexpansão. Já o aumento da pressão hidrostática ocorre pelo aumento abrupto do fluxo sanguíneo na reinsuflação( 22. Genofre EH, Vargas FS, Teixeira LR, Vaz MA, Marchi E. Reexpansion pulmonary edema. J Pneumol 2003;29:101-6. , 33. Sohara Y. Reexpansion pulmonary edema. Ann Thorac Cardiovasc Surg 2008;14:205-9. ). No caso relatado, a agressão pulmonar ocorreu provavelmente pelo volumoso derrame cavitário, associado ao aumento da pressão intraluminal, decorrente da reexpansão do órgão pela retirada de grande volume de líquido pleural.

A epidemiologia do EPR ainda é pouco conhecida. As revisões sobre o tema abrangem cerca de uma centena de casos até o final do século 20( 11. Mahfood S, Hix WR, Aaron BL, Blaes P, Watson DC. Reexpansion pulmonary edema. Ann Thorac Surg 1988;45:340-5. , 22. Genofre EH, Vargas FS, Teixeira LR, Vaz MA, Marchi E. Reexpansion pulmonary edema. J Pneumol 2003;29:101-6. ). Estima-se que sua incidência seja de até 1% após drenagem de ar ou líquido intrapleurais( 66. Echevarria C, Twomey D, Dunning J, Chanda B. Does re-expansion pulmonary oedema exist? Interact Cardiovasc Thorac Surg 2008;7:485-9. ). Contudo, a maioria dos relatos envolve pacientes adultos e não há revisões sobre os casos publicados de pacientes pediátricos( 77. Paksu MS, Paksu S, Akgün M, Kalayci AG, Baysal K. Bilateral reexpansion pulmonary edema associated with pleural empyema: a case report. Eur J Pediatr 2011;170:1205-7. ). Os relatos de caso de crianças com EPR estão resumidos na Tabela 1 ( 77. Paksu MS, Paksu S, Akgün M, Kalayci AG, Baysal K. Bilateral reexpansion pulmonary edema associated with pleural empyema: a case report. Eur J Pediatr 2011;170:1205-7.

8. Jardine DS. Reexpansion pulmonary edema. Am J Dis Child 1991;145:1092-4.

9. Chiang MC, Lin WS, Lien R, Chou YH. Reexpansion pulmonary edema following patent ductus arteriosus ligation in a preterm infant. J Perinat Med 2004;32:365-7.

10. Ozlu O, Kiliç A, Cengizlier R. Bilateral re-expansion pulmonary edema in a child: a reminder. Acta Anaesthesiol Scand 2000;44:884-5.
- 1111. Tung YW, Lin F, Yang MS, Wu CW, Cheung KS. Bilateral developing reexpansion pulmonary edema treated with extracorporeal membrane oxygenation. Ann Thorac Surg 2010;89:1268-71. ).

Os fatores de risco associados ao EPR incluem: cronicidade do colapso pulmonar (geralmente maior do que 72 horas); grande volume de ar ou líquido pleural (>1.500mL)( 11. Mahfood S, Hix WR, Aaron BL, Blaes P, Watson DC. Reexpansion pulmonary edema. Ann Thorac Surg 1988;45:340-5.

2. Genofre EH, Vargas FS, Teixeira LR, Vaz MA, Marchi E. Reexpansion pulmonary edema. J Pneumol 2003;29:101-6.
- 33. Sohara Y. Reexpansion pulmonary edema. Ann Thorac Cardiovasc Surg 2008;14:205-9. , 55. Kesieme EB, Dongo A, Ezemba N, Irekpita E, Jebbin N, Kesieme C. Tube thoracostomy: complications and its management. Pulm Med [serial on the Internet]. 2012;2012 [cited 2012 Feb 20]. Available from: http://www.hindawi.com/journals/pm/2012/256878/cta/
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); alta velocidade de reexpansão e uso de altas pressões negativas para tal( 22. Genofre EH, Vargas FS, Teixeira LR, Vaz MA, Marchi E. Reexpansion pulmonary edema. J Pneumol 2003;29:101-6. , 55. Kesieme EB, Dongo A, Ezemba N, Irekpita E, Jebbin N, Kesieme C. Tube thoracostomy: complications and its management. Pulm Med [serial on the Internet]. 2012;2012 [cited 2012 Feb 20]. Available from: http://www.hindawi.com/journals/pm/2012/256878/cta/
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); hipertensão, hipoxemia ou outra doença pulmonar prévia; cardiopatia pré-existente( 22. Genofre EH, Vargas FS, Teixeira LR, Vaz MA, Marchi E. Reexpansion pulmonary edema. J Pneumol 2003;29:101-6. ); e sexo masculino( 33. Sohara Y. Reexpansion pulmonary edema. Ann Thorac Cardiovasc Surg 2008;14:205-9. ). No caso descrito, o paciente apresentava colabamento pulmonar crônico (no mínimo, sete dias de internação pré-drenagem, mais algum período anterior à hospitalização, considerando-se a possível evolução insidiosa da tuberculose pleural); grande volume intrapleural (3.000mL); doença pulmonar (asma intermitente); e sexo masculino.

Os achados clínicos são variáveis, desde pacientes assintomáticos ou apenas com sintomas inespecíficos (febre, náuseas, vômitos, taquicardia, hipotensão), até pacientes com insuficiência respiratória grave (dispneia, dor torácica, tosse, expectoração espumosa, cianose)( 22. Genofre EH, Vargas FS, Teixeira LR, Vaz MA, Marchi E. Reexpansion pulmonary edema. J Pneumol 2003;29:101-6. , 33. Sohara Y. Reexpansion pulmonary edema. Ann Thorac Cardiovasc Surg 2008;14:205-9. , 55. Kesieme EB, Dongo A, Ezemba N, Irekpita E, Jebbin N, Kesieme C. Tube thoracostomy: complications and its management. Pulm Med [serial on the Internet]. 2012;2012 [cited 2012 Feb 20]. Available from: http://www.hindawi.com/journals/pm/2012/256878/cta/
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). A radiografia simples de tórax pode revelar opacidades intersticiais, consolidações com broncogramas aéreos e cisurites( 22. Genofre EH, Vargas FS, Teixeira LR, Vaz MA, Marchi E. Reexpansion pulmonary edema. J Pneumol 2003;29:101-6. ). A tomografia computadorizada de tórax pode apresentar opacidade em vidro fosco, derrame pleural residual, atelectasias, espessamento dos septos interlobares, consolidações, broncogramas aéreos e nódulos pulmonares. Cerca de metade dos pacientes apresenta envolvimento difuso do pulmão previamente colabado( 44. Gleeson T, Thiessen R, Müller N. Reexpansion pulmonary edema: computed tomography findings in 22 patients. J Thorac Imaging 2011;26:36-41. ) e raramente observa-se acometimento pulmonar bilateral( 11. Mahfood S, Hix WR, Aaron BL, Blaes P, Watson DC. Reexpansion pulmonary edema. Ann Thorac Surg 1988;45:340-5. , 44. Gleeson T, Thiessen R, Müller N. Reexpansion pulmonary edema: computed tomography findings in 22 patients. J Thorac Imaging 2011;26:36-41. , 55. Kesieme EB, Dongo A, Ezemba N, Irekpita E, Jebbin N, Kesieme C. Tube thoracostomy: complications and its management. Pulm Med [serial on the Internet]. 2012;2012 [cited 2012 Feb 20]. Available from: http://www.hindawi.com/journals/pm/2012/256878/cta/
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, 77. Paksu MS, Paksu S, Akgün M, Kalayci AG, Baysal K. Bilateral reexpansion pulmonary edema associated with pleural empyema: a case report. Eur J Pediatr 2011;170:1205-7. , 1010. Ozlu O, Kiliç A, Cengizlier R. Bilateral re-expansion pulmonary edema in a child: a reminder. Acta Anaesthesiol Scand 2000;44:884-5. ). O quadro clínico do paciente descrito incluiu insuficiência respiratória e necessidade de ventilação mecânica com parâmetros elevados, assim como em alguns dos casos relatados de crianças com EPR. Contudo, os achados de tomografia computadorizada, tão evidentes como os encontrados por Gleeson et al ( 44. Gleeson T, Thiessen R, Müller N. Reexpansion pulmonary edema: computed tomography findings in 22 patients. J Thorac Imaging 2011;26:36-41. ) em adultos, não haviam sido descritos em pacientes pediátricos.

O início dos sintomas do EPR ocorre geralmente nas primeiras 24 horas após a reexpansão pulmonar, sendo a maioria (64-89%) nas primeiras duas horas( 33. Sohara Y. Reexpansion pulmonary edema. Ann Thorac Cardiovasc Surg 2008;14:205-9. , 55. Kesieme EB, Dongo A, Ezemba N, Irekpita E, Jebbin N, Kesieme C. Tube thoracostomy: complications and its management. Pulm Med [serial on the Internet]. 2012;2012 [cited 2012 Feb 20]. Available from: http://www.hindawi.com/journals/pm/2012/256878/cta/
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). A duração dos sintomas varia de 48 horas a sete dias( 22. Genofre EH, Vargas FS, Teixeira LR, Vaz MA, Marchi E. Reexpansion pulmonary edema. J Pneumol 2003;29:101-6. , 88. Jardine DS. Reexpansion pulmonary edema. Am J Dis Child 1991;145:1092-4. , 1010. Ozlu O, Kiliç A, Cengizlier R. Bilateral re-expansion pulmonary edema in a child: a reminder. Acta Anaesthesiol Scand 2000;44:884-5. ) e a mortalidade, de 19 a 21%( 22. Genofre EH, Vargas FS, Teixeira LR, Vaz MA, Marchi E. Reexpansion pulmonary edema. J Pneumol 2003;29:101-6. , 33. Sohara Y. Reexpansion pulmonary edema. Ann Thorac Cardiovasc Surg 2008;14:205-9. , 55. Kesieme EB, Dongo A, Ezemba N, Irekpita E, Jebbin N, Kesieme C. Tube thoracostomy: complications and its management. Pulm Med [serial on the Internet]. 2012;2012 [cited 2012 Feb 20]. Available from: http://www.hindawi.com/journals/pm/2012/256878/cta/
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). No caso relatado, os sintomas iniciaram na primeira hora após o procedimento e a duração do quadro clínico foi de 14 dias, com necessidade de ventilação mecânica, provavelmente devido às intercorrências apresentadas durante a evolução (incluindo-se as extubações malsucedidas e a extensa lesão pulmonar bilateral do paciente).

O tratamento desse edema baseia-se no suporte clínico de acordo com a necessidade de cada paciente( 22. Genofre EH, Vargas FS, Teixeira LR, Vaz MA, Marchi E. Reexpansion pulmonary edema. J Pneumol 2003;29:101-6. , 33. Sohara Y. Reexpansion pulmonary edema. Ann Thorac Cardiovasc Surg 2008;14:205-9. , 55. Kesieme EB, Dongo A, Ezemba N, Irekpita E, Jebbin N, Kesieme C. Tube thoracostomy: complications and its management. Pulm Med [serial on the Internet]. 2012;2012 [cited 2012 Feb 20]. Available from: http://www.hindawi.com/journals/pm/2012/256878/cta/
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). Alguns autores sugerem o uso de corticosteroides como estabilizadores da membrana vascular pulmonar( 33. Sohara Y. Reexpansion pulmonary edema. Ann Thorac Cardiovasc Surg 2008;14:205-9. , 1111. Tung YW, Lin F, Yang MS, Wu CW, Cheung KS. Bilateral developing reexpansion pulmonary edema treated with extracorporeal membrane oxygenation. Ann Thorac Surg 2010;89:1268-71. ). Medidas mais invasivas também são descritas, como oclusão da artéria pulmonar do lado afetado( 22. Genofre EH, Vargas FS, Teixeira LR, Vaz MA, Marchi E. Reexpansion pulmonary edema. J Pneumol 2003;29:101-6. ) e utilização de oxigenação por membrana extracorpórea( 1111. Tung YW, Lin F, Yang MS, Wu CW, Cheung KS. Bilateral developing reexpansion pulmonary edema treated with extracorporeal membrane oxygenation. Ann Thorac Surg 2010;89:1268-71. ). No caso relatado, foi necessária a utilização de suporte ventilatório invasivo por 14 dias, além do uso de dobutamina (por quatro dias; titulação máxima de 0,45mcg/kg/dia), furosemida (por 14 dias, para estímulo de diurese e controle do balanço hídrico) e corticosteroide (embora seu papel exato no caso não possa ser definido).

Tabela 1
resumo dos casos de edema pulmonar de reexpansão na população pediátrica

O diagnóstico de tuberculose pleural no caso descrito baseou-se em dados clínicos (derrame pleural em criança/adolescente febril sem toxemia)( 1212. Fischer GB, Andrade CF, Lima JB. Pleural tuberculosis in children. Paediatr Respir Rev 2011;12:27-30. , 1313. Cruz AT, Ong LT, Starke JR. Childhood pleural tuberculosis: a review of 45 cases. Pediatr Infect Dis J 2009;28:981-4. ), achado radiológico sugestivo (adenomegalia hilar)( 1313. Cruz AT, Ong LT, Starke JR. Childhood pleural tuberculosis: a review of 45 cases. Pediatr Infect Dis J 2009;28:981-4. ) e teste tuberculínico positivo( 1212. Fischer GB, Andrade CF, Lima JB. Pleural tuberculosis in children. Paediatr Respir Rev 2011;12:27-30. ) (atingiu-se 45 pontos no sistema de pontuação proposto pelo Ministério da Saúde para crianças e adolescentes, tornando o diagnóstico muito provável)( 1414. Conde MB, Melo FA, Marques AM, Cardoso NC, Pinheiro VG, Dalcin PT et al. III Diretrizes para tuberculose da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. J Bras Pneumol 2009;35:1018-48. ). Ademais, a análise do liquido pleural foi característica: predomínio linfocitário; LDH elevada; ADA elevada e associada à relação linfócitos/neutrófilos >75%( 1212. Fischer GB, Andrade CF, Lima JB. Pleural tuberculosis in children. Paediatr Respir Rev 2011;12:27-30. , 1515. Krenke R, KorczyÅ"ski P. Use of pleural fluid levels of adenosine deaminase and interferon gamma in the diagnosis of tuberculous pleuritis. Curr Opin Pulm Med 2010;16:367-75. ). Embora a cultura para micobactéria no líquido tenha sido negativa, sabe-se que sua positividade é baixa (45â€'55% dos casos)( 1313. Cruz AT, Ong LT, Starke JR. Childhood pleural tuberculosis: a review of 45 cases. Pediatr Infect Dis J 2009;28:981-4. , 1515. Krenke R, KorczyÅ"ski P. Use of pleural fluid levels of adenosine deaminase and interferon gamma in the diagnosis of tuberculous pleuritis. Curr Opin Pulm Med 2010;16:367-75. ). Se a toracoscopia com biópsia pleural fosse realizada, a positividade poderia ser maior, como descrito na literatura( 1212. Fischer GB, Andrade CF, Lima JB. Pleural tuberculosis in children. Paediatr Respir Rev 2011;12:27-30. ).

A previsão da ocorrência do EPR é de fundamental importância nos pacientes com risco para desenvolvê-lo, inclusive sendo objeto de recomendações da British Thoracic Society ( 66. Echevarria C, Twomey D, Dunning J, Chanda B. Does re-expansion pulmonary oedema exist? Interact Cardiovasc Thorac Surg 2008;7:485-9. ). O esvaziamento do derrame pleural deve ocorrer lentamente, o volume retirado não pode ser excessivo (até 1.500mL) e deve-se dispor de meios para obter a via aérea definitiva e iniciar a ventilação mecânica, caso seja necessário( 22. Genofre EH, Vargas FS, Teixeira LR, Vaz MA, Marchi E. Reexpansion pulmonary edema. J Pneumol 2003;29:101-6. , 33. Sohara Y. Reexpansion pulmonary edema. Ann Thorac Cardiovasc Surg 2008;14:205-9. , 55. Kesieme EB, Dongo A, Ezemba N, Irekpita E, Jebbin N, Kesieme C. Tube thoracostomy: complications and its management. Pulm Med [serial on the Internet]. 2012;2012 [cited 2012 Feb 20]. Available from: http://www.hindawi.com/journals/pm/2012/256878/cta/
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, 66. Echevarria C, Twomey D, Dunning J, Chanda B. Does re-expansion pulmonary oedema exist? Interact Cardiovasc Thorac Surg 2008;7:485-9. ). Recomenda-se, ainda, que a drenagem seja realizada preferencialmente com monitorização da pressão pleural, não excedendo a -20mmHg( 22. Genofre EH, Vargas FS, Teixeira LR, Vaz MA, Marchi E. Reexpansion pulmonary edema. J Pneumol 2003;29:101-6. , 66. Echevarria C, Twomey D, Dunning J, Chanda B. Does re-expansion pulmonary oedema exist? Interact Cardiovasc Thorac Surg 2008;7:485-9. ). No caso relatado, executou-se o procedimento no centro cirúrgico, com anestesia geral, além de equipe experiente e equipamento para emergências disponível. Entretanto, ressalta-se que, talvez, a evolução fosse diferente se o volume de líquido pleural drenado fosse menor ou se a medida da pressão cavitária estivesse disponível naquele momento, considerando-se que o paciente possuía mais de um fator de risco para o desenvolvimento do EPR.

Desse modo, embora pouco frequente, o EPR deve ser lembrado como potencial complicação na evolução de um paciente pediátrico com volumoso derrame pleural, especialmente se houver outros fatores de risco para o desenvolvimento dessa complicação.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Set 2013

Histórico

  • Recebido
    07 Fev 2013
  • Aceito
    24 Mar 2013
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