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PREVALÊNCIA DE RESISTÊNCIA À INSULINA E ASSOCIAÇÃO COM FATORES DE RISCO METABÓLICOS E CONSUMO ALIMENTAR DE ADOLESCENTES - RECIFE/BRASIL

RESUMO

Objetivo:

Identificar a prevalência de resistência à insulina em adolescentes e verificar sua associação com variáveis metabólicas e com o consumo alimentar.

Métodos:

Estudo transversal, de base escolar, com amostra do tipo estratificada e complexa. Os indivíduos analisados foram adolescentes (n=1.081) participantes do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA) na cidade de Recife (Pernambuco, Brasil). Foram coletadas variáveis demográficas, socioeconômicas, comportamentais, antropométricas, bioquímicas e do consumo alimentar. A resistência à insulina foi definida como HOMA-IR>percentil 75. Análises de regressão de Poisson com ajuste robusto da variância foram empregadas, sendo identificadas associações estatisticamente significativas quando p≤0,05.

Resultados:

A idade mediana foi de 14 anos (intervalo interquartílico=13-16) e a resistência à insulina foi evidenciada em 25,3% da amostra. As variáveis que se associaram significativamente com a resistência à insulina no modelo final foram a faixa etária, o índice de massa corpórea por idade (IMC/I), marcadores bioquímicos (triglicerídeos e HDL-colesterol) e o consumo alimentar de gordura saturada, observando-se maior prevalência da resistência à insulina naqueles indivíduos que apresentaram a ingestão deste tipo de gordura abaixo da mediana da própria distribuição.

Conclusões:

A resistência à insulina foi prevalente nos adolescentes avaliados e se associou significativamente com variáveis metabólicas e com o consumo alimentar de gordura do tipo saturada.

Palavras-chave:
Resistência à insulina; Sobrepeso; Consumo alimentar; Adolescente

ABSTRACT

Objective:

To identify the prevalence of insulin resistance in adolescents and its associations with metabolic factors and food intake.

Methods:

Cross-sectional study conducted with a stratified, complex, school-based sample. The subjects were adolescents (n=1,081) who participated in the Study of Cardiovascular Risk in Adolescents in the city of Recife (Pernambuco, Brazil). We analyzed demographic, socioeconomic, behavioral, anthropometric, biochemical, and dietary variables. Insulin resistance was defined as HOMA-IR>75th percentile. A Poisson multivariate regression model with robust variance adjustment was used, and variables with p≤0.05 in the final model were considered statistically associated with insulin resistance.

Results:

Median age was 14 years (interquartile range: 13-16 years), and 25.3% of the sample showed insulin resistance. The variables associated with insulin resistance in the final model were age, body mass index-for-age (BMI/A), biochemical markers (triglycerides and high-density lipoprotein cholesterol) and saturated fat intake, with insulin resistance being more prevalent in individuals whose consumption of this type of fat was below the median of the sample distribution.

Conclusions:

Insulin resistance was prevalent in the adolescents analyzed and was significantly associated with metabolic variables and saturated fat intake.

Keywords:
Insulin resistance; Overweight; Food consumption; Adolescent

INTRODUÇÃO

A tendência epidêmica e o aumento gradual da prevalência de sobrepeso e obesidade na população brasileira estão ligados a um novo perfil de morbimortalidade, no qual há maior incidência de doenças crônicas não transmissíveis, mesmo nos estágios iniciais da vida.11. Gobato AO, Vasques AC, Zambon MP, Barros Filho AZ, Hessel G. Metabolic syndrome and insulin resistance in obese adolescents. Rev Paul Pediatr. 2014;32:52-65. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-05822014000100010
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,22. Conde WL, Monteiro CA. Nutrition transition and double burden of undernutrition and excess of weight in Brazil. Am J Clin Nutr. 2014;100:1617S-22S. https://doi.org/10.3945/ajcn.114.084764
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Durante a adolescência, as alterações corporais inerentes ao crescimento e à maturação sexual podem levar ao ganho excessivo de peso. Essa situação constitui um fator de risco primário para o desenvolvimento de resistência à insulina (RI), que é um fenômeno que desempenha um papel importante no surgimento de distúrbios cardiometabólicos.33. White J, Jago R, Thompson JL. Dietary risk factors for the development of insulin resistance in adolescent girls: a 3-year prospective study. Public Health Nutr. 2014;17:361-8. https://doi.org/10.1017/S1368980012004983
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Os componentes da dieta também podem influenciar a sensibilidade à insulina. As evidências indicam uma associação positiva entre RI e a ingestão excessiva de alimentos com alta densidade energética, e ricos em carboidratos simples e gorduras, especialmente do tipo saturadas e trans.33. White J, Jago R, Thompson JL. Dietary risk factors for the development of insulin resistance in adolescent girls: a 3-year prospective study. Public Health Nutr. 2014;17:361-8. https://doi.org/10.1017/S1368980012004983
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,44. Kahleova H, Hlozkova A, Fleeman R, Fletcher K, Holubkov R, Barnard ND. Fat quantity and quality, as part of a low-fat, vegan diet, are associated with changes in body composition, insulin resistance, and insulin secretion. A 16-week randomized controlled trial. Nutrients. 2019;11:E615. https://doi.org/10.3390/nu11030615
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Considerando os métodos propostos para a detecção de RI, o Modelo Homeostático de Avaliação da Resistência à Insulina (Homeostatic Model Assessment of Insulin Resistance - HOMA-IR) é o mais utilizado em estudos epidemiológicos por ser um método rápido, fácil e de baixo custo, que substitui efetivamente as técnicas de diagnóstico mais sofisticadas para a RI.55. Yi KH, Hwang JS, Kim EY, Lee SH, Kim DH, Lim JS. Prevalence of insulin resistance and cardiometabolic risk in Korean children and adolescents: a population-based study. Diabetes Res Clin Prac. 2014;103:106-13. https://doi.org/10.1016/j.diabres.2013.10.021
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Assim, o presente estudo teve como objetivo identificar a prevalência de RI em adolescentes e verificar sua associação com variáveis metabólicas e do consumo alimentar.

MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal, de base escolar, realizado com adolescentes de 12 a 17 anos matriculados nos últimos três anos do ensino fundamental ou médio de instituições públicas e privadas de uma cidade brasileira localizada no nordeste do Brasil. Os sujeitos fizeram parte do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA), um estudo multicêntrico nacional que teve como objetivo estimar a prevalência de fatores associados ao risco cardiovascular em adolescentes.66. Vasconcellos MT, Silva PL, Szklo M, Kuschnir MC, Klein KH, Abreu GA, et al. Sampling design for the Study of Cardiovascular Risk in Adolescents (ERICA). Cad Saude Publica. 2015;31:921-30. http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00043214
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Este estudo atendeu às diretrizes descritas na Declaração de Helsinque e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Humanos da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE: 05185212.2.2002.5208). Os adolescentes e seus responsáveis legais foram informados sobre todos os procedimentos, riscos e benefícios do estudo, e concordaram em participar assinando o termo de consentimento livre e esclarecido.

Para o cálculo amostral, utilizou-se o método de amostragem estratificada em três etapas: escola, turma e alunos, selecionados com probabilidade proporcional ao tamanho. Nas escolas escolhidas, foi realizada uma pesquisa com turmas e alunos na faixa etária alvo. Três turmas foram selecionadas por escola, onde todos os alunos das turmas escolhidas foram convidados a participar do estudo. Outros estudos publicaram detalhes sobre o processo de amostragem ERICA.66. Vasconcellos MT, Silva PL, Szklo M, Kuschnir MC, Klein KH, Abreu GA, et al. Sampling design for the Study of Cardiovascular Risk in Adolescents (ERICA). Cad Saude Publica. 2015;31:921-30. http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00043214
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,77. Bloch KV, Szklo M, Kuschnir MC, Abreu GA, Barufaldi LA, Klein CH, et al. The Study of Cardiovascular Risk in Adolescents-ERICA: rationale, design and sample characteristics of a national survey examining cardiovascular risk factor profile in Brazilian adolescents. BMC Public Health. 2015;15:94. https://doi.org/10.1186/s12889-015-1442-x
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Como a pesquisa nacional gerou dados representativos para o país, diferentes regiões e grandes cidades, decidimos avaliar uma sub-amostra da população total analisada no estudo ERICA. Assim, a presente investigação incluiu apenas adolescentes matriculados no período da manhã de 39 escolas públicas e privadas da cidade de Recife, obtendo uma amostra de 1.081 adolescentes.

Dados demográficos, socioeconômicos e comportamentais dos adolescentes foram coletados com o auxílio de um Personal Digital Assistant (PDA). Pesquisadores devidamente treinados reuniram informações pertinentes ao estado nutricional, marcadores bioquímicos e consumo de alimentos. Investigamos as seguintes variáveis demográficas e socioeconômicas: sexo, idade, etnia e escolaridade materna. Os indivíduos também foram categorizados de acordo com o status socioeconômico, utilizando os critérios da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP),88. Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Dados com base no Levantamento Sócio Econômico 2010. São Paulo: ABEP; 2010. sendo os resultados divididos entre alto nível socioeconômico (classes A1, A2, B1 e B2) ou baixo status socioeconômico (classes C, D e E).

Para avaliação do estado nutricional, o peso foi medido em balança eletrônica com capacidade para 200 kg e precisão de 50g. A estatura foi mensurada em duplicata, utilizando um estadiômetro portátil com precisão de 0,1 cm, assumindo uma variação máxima de 0,5 cm entre as duas medidas e calculando a média. O padrão de referência para classificação das medidas de peso e altura foi o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS),99. World Health Organization. WHO Child Growth Standards: length/height-for-age, weight-for-age, weight-for-length, weight-for-height and body mass index-for-age: methods and development. Geneva: WHO; 2007. adotando-se os seguintes pontos de corte para categorizar os resultados: índice de massa corporal por idade (IMC/I) Escore Z<1 - indivíduos sem excesso de peso; IMC/I Escores Z≥1 e <2 - indivíduos com sobrepeso e Escore Z≥2 - indivíduos obesos. A circunferência da cintura (CC) foi calculada usando uma fita métrica não elástica colocada horizontalmente no ponto médio entre a borda inferior da última costela e a crista ilíaca. Os valores de CC ≥ ao percentil 90 da distribuição foram considerados para o diagnóstico de obesidade abdominal.1010. International Diabetes Federation. IDF consensus definition of the metabolic syndrome in children and adolescents. Brussels: IDF; 2007. A relação cintura-estatura (RCE) foi calculada utilizando a CC e a estatura, com valores iguais ou superiores a 0,5 estabelecidos como ponto de corte para obesidade abdominal.1111. Ashwell M, Hsieh SD. Six reasons why the waist-to-height ratio is a rapid and effective global indicator for health risks of obesity and how its use could simplify the international public health message on obesity. Int J Food Sci Nutr. 2005;56:303-7. https://doi.org/10.1080/09637480500195066
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A glicose plasmática foi medida usando o método GOD-PAP no equipamento Roche modular analítico. O perfil lipídico incluiu a determinação do colesterol total, lipoproteína de alta densidade (high-density lipoprotein cholesterol - HDL-C) e triglicerídeos (TG), que foram analisados pelo método enzimático colorimétrico no equipamento modular da Roche. A lipoproteína de baixa densidade (low-density lipoprotein cholesterol - LDL-C) foi calculada pela fórmula de Friedewald. Determinou-se a insulina plasmática com uso dos métodos imunométricos. Os lipídios séricos foram classificados seguindo as recomendações da I Diretriz para Prevenção da Aterosclerose na Infância e Adolescência.1313. Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz de prevenção da aterosclerose na infância e na adolescência. Arq Bras Cardiol. 2005;5 (Suppl. 6):3-36. http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2005002500001
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O índice HOMA-IR foi calculado a partir dos valores de glicemia e insulinemia em jejum. Devido aos diferentes pontos de corte encontrados na literatura e suas limitações, adotou-se o percentil 75 da distribuição do HOMA-IR como ponto de corte para o diagnóstico da RI, pois o percentil utilizado representa o extremo da distribuição do HOMA- IR,1414. Andrade MI, Oliveira JS, Leal VS, Lima NM, Costa EC, Aquino NB, et al. Identification of cutoff points for Homeostatic Model Assessment for Insulin Resistance index in adolescents: systematic review. Rev Paul Pediatr. 2016;34:234-42. http://dx.doi.org/10.1016/j.rppede.2016.01.004
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,1515. Baba R, Koketsu M, Nagashima M, Tamakoshi A, Inasaka H. Role of insulin resistance in non-obese adolescents. Nagoya J Med Sci. 2010;72:161-6. sendo equivalente ao valor de 2,27 na amostra.

O consumo de alimentos foi avaliado usando um único registro alimentar de 24 horas, que é um método simples, rápido e de baixo custo, capaz de fornecer estimativas médias da ingestão de energia e nutrientes. O questionário foi aplicado em uma entrevista presencial, usando o “Método de Múltiplos Passos.”1616. Conway JM, Ingwersen LA, Vinyard BT, Moshfegh AJ. Effectiveness of the US Department of Agriculture 5-step multiple-pass method in assessing food intake in obese and nonobese women. Am J Clin Nutr. 2003;77:1171-8. https://doi.org/10.1093/ajcn/77.5.1171
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As variáveis do consumo foram coletadas com um software específico desenvolvido para a entrada direta de informações nos netbooks. O consumo foi estimado usando a Tabela de Composição Nutricional dos Alimentos Consumidos no Brasil1717. Brazil - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009: Tabela de composição nutricional dos alimentos consumidos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2011. e a Tabela de Medidas Referidas para os Alimentos Consumidos no Brasil.1818. Brazil - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: Tabela de medidas referidas para os alimentos consumidos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE ; 2011. Foram analisados os quartis (percentis 25, 50, e 75) do consumo de energia e macronutrientes.

A maturação sexual foi autorreferida e identificada através de figuras indicativas dos estágios de maturação sexual propostos por Tanner,1919. Tanner JM. Growth at adolescence. In: Malina RM, Bouchard C, editor. Growth, maturation, and physical activity. Champaign: Human Kinetics Books; 1991. que são divididos em três categorias: Estágio I - pré-puberdade; Estágios II, III e IV - puberdade; e Estágio V - pós-puberdade.

A frequência mensal de consumo de tabaco e álcool e o nível de atividade física foram investigados para coletar dados comportamentais associados ao risco metabólico. O tabagismo foi definido como o uso de um ou mais cigarros nos 30 dias anteriores à entrevista. O consumo excessivo de álcool foi estabelecido como o consumo de cinco ou mais doses em uma única ocasião nos 30 dias anteriores à pesquisa.2020. Kann L, Kinchen S, Shanklin SL, Flint KH, Kawkins J, Harris WA, et al. Youth risk behavior surveillance - United States, 2013. MMWR Suppl. 2014;63:1-168. Adotando as recomendações do International Physical Activity Questionnaire - IPAQ, os adolescentes foram classificados como “fisicamente ativos” (aqueles que relataram praticar pelo menos 60 minutos de atividades físicas moderadas a vigorosas cinco ou mais dias por semana) ou “insuficientemente ativos” (aqueles que não atenderam aos critérios acima).2121. Guedes DP, Lopes CC, Guedes JE. Reproducibility and validity of International Physical Activity Questionnaire in adolescents. Rev Bras Med Esp. 2005;11:151-8. http://dx.doi.org/10.1590/S1517-86922005000200011
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Como a amostragem para o estudo ERICA envolveu estratificação, conglomeração e probabilidades desiguais, as análises estatísticas foram realizadas no software STATA, versão 14.0, ajustando o modelo de amostragem complexa a partir do módulo “survey”. As variáveis explicativas foram agrupadas em quatro níveis hierarquicamente ordenados: 1) fatores socioeconômicos; 2) fatores comportamentais; 3) fatores individuais (características antropométricas e bioquímicas); 4) fatores alimentares, este último sendo considerado o nível mais proximal do modelo. O modelo conceitual foi elaborado assumindo-se que fatores predisponentes à RI implicam em diferentes níveis hierárquicos de determinação do desfecho. Inicialmente, foi conduzida uma análise bivariada para determinar associações entre a RI e as variáveis independentes, utilizando a regressão de Poisson simples. Variáveis com p <0,20 foram incorporadas nos modelos de regressão multivariada de Poisson com ajuste robusto da variância. Os resultados foram expressos como razões de prevalência e seus respectivos intervalos de confiança de 95%. Variáveis com p≤0,05 no modelo final foram consideradas estatisticamente associadas à RI.

RESULTADOS

A amostra final foi representativa para 99.221 adolescentes de 12 a 17 anos matriculados no período da manhã em escolas públicas e privadas de Recife. A amostra foi composta por um percentual maior de alunos de escolas públicas (60,1%) e ainda do ensino fundamental (53%). O sexo masculino representou 50,4% da amostra, e 50,9% tinham entre 12 e 14 anos (mediana: 14 anos; intervalo interquartil - IQ: 13 a 16 anos). Houve predominância de estudantes com menor nível socioeconômico (72,1%), cuja etnia era não-branca (73,2%) e cuja mãe possuía mais de oito anos de estudo (70,8%).

Mais da metade dos adolescentes avaliados encontrava-se na fase puberal da maturação sexual (67,6%) e os demais na fase pós-puberal (32,4%). Os não fumantes (97,8%) e os que não consumiram bebidas alcoólicas (95,8%) foram predominantes e 54,9% dos indivíduos foram considerados fisicamente ativos.

A RI foi confirmada em 25,3% da população e foi mais comum no sexo feminino, nos adolescentes com idade entre 12 e 14 anos, naqueles que não consumiam bebidas alcoólicas e em indivíduos classificados como fisicamente inativos. A Tabela 1 exibe a distribuição da RI de acordo com fatores demográficos, socioeconômicos (Nível 1) e comportamentais (Nível 2). A Tabela 2 apresenta a associação entre o índice HOMA-IR e as variáveis antropométricas e bioquímicas (Nível 3). Houve associação significativa para todas as variáveis analisadas, exceto o LDL-C. Em relação à ingestão de energia e macronutrientes (Nível 4), foram evidenciadas associações inversas entre a RI e a maioria dos componentes alimentares na análise não ajustada (Tabelas 3 e 4).

Tabela 1
Prevalência de resistência à insulina em adolescentes, segundo fatores demográficos, socioeconômicos e comportamentais. Erica-Recife, 2013-2014.
Tabela 2
Prevalência de resistência à insulina em adolescentes segundo fatores antropométricos e bioquímicos. Erica-Recife, 2013 - 2014.
Tabela 3
Prevalência de resistência à insulina em adolescentes de acordo com a ingestão de energia e carboidratos. Erica-Recife, 2013 - 2014.
Tabela 4
Prevalência de resistência à insulina em adolescentes de acordo com a ingestão de gorduras. Erica-Recife, 2013-2014.

Após os ajustes estatísticos realizados de acordo com o modelo hierárquico pré-estabelecido, a variável que permaneceu significativamente associada à RI no Nível 1 foi a faixa etária; nenhuma das variáveis do nível 2 foi significativamente associada ao resultado; no nível 3, o índice antropométrico IMC/I e os marcadores bioquímicos TG e HDL-C permaneceram estatisticamente significantes; e no nível 4, a ingestão de energia, lipídios totais, gordura poliinsaturada e gordura monoinsaturada apresentaram associação estatisticamente significante com o desfecho (Tabela 5).

Tabela 5
Razões de prevalência ajustadas de resistência à insulina em adolescentes de acordo com variáveis explicativas. Erica-Recife, 2013-2014.

DISCUSSÃO

Estudos que abordam a associação entre RI (medida pelo índice HOMA-IR) e variáveis relacionadas a desfechos metabólicos e consumo de alimentos entre adolescentes brasileiros são escassos na literatura. As pesquisas geralmente se concentram na ocorrência da síndrome metabólica e seus fatores associados, evento frequentemente observado nesses indivíduos, com taxas que variam de 3,4 a 45,5%, dependendo dos critérios diagnósticos.11. Gobato AO, Vasques AC, Zambon MP, Barros Filho AZ, Hessel G. Metabolic syndrome and insulin resistance in obese adolescents. Rev Paul Pediatr. 2014;32:52-65. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-05822014000100010
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,2222. Faria ER, Faria FR, Franceschini SC, Peluzio MC, Sant’Ana LF, Novaes JF, et al. Insulin resistance and components of metabolic syndrome, analysis by gender and stage of adolescence. Arq Bras Endocrinol Metab. 2014;58:610-8. http://dx.doi.org/10.1590/0004-2730000002613
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Pesquisadores recomendam o uso do índice HOMA-IR para avaliar a RI em investigações epidemiológicas.55. Yi KH, Hwang JS, Kim EY, Lee SH, Kim DH, Lim JS. Prevalence of insulin resistance and cardiometabolic risk in Korean children and adolescents: a population-based study. Diabetes Res Clin Prac. 2014;103:106-13. https://doi.org/10.1016/j.diabres.2013.10.021
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,2323. Silva CC, Zambon MP, Vasques AC, Camilo DF, Rodrigues AM, Góes MA, et al. Homeostatic model assessment of adiponectin (HOMA-Adiponectin) as a surrogate measure of insulin resistance in adolescents: comparison with the hyperglycaemic clamp and homeostatic model assessment of insulin resistance. PLoS One. 2019;14:e0214081. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0214081
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No entanto, não há consenso na literatura sobre o ponto de corte a ser utilizado em adolescentes, o que leva a variações na prevalência de RI relatada.11. Gobato AO, Vasques AC, Zambon MP, Barros Filho AZ, Hessel G. Metabolic syndrome and insulin resistance in obese adolescents. Rev Paul Pediatr. 2014;32:52-65. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-05822014000100010
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,55. Yi KH, Hwang JS, Kim EY, Lee SH, Kim DH, Lim JS. Prevalence of insulin resistance and cardiometabolic risk in Korean children and adolescents: a population-based study. Diabetes Res Clin Prac. 2014;103:106-13. https://doi.org/10.1016/j.diabres.2013.10.021
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,2424. Li C, Ford ES, Zhao G, Mokdad AH. Prevalence of pre-diabetes and its association with clustering of cardiometabolic risk factors and hyperinsulinemia among U.S. adolescents: National Health and Nutrition Examination Survey 2005-2006. Diabetes Care. 2009;32:342-7. https://doi.org/10.2337/dc08-1128
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No presente estudo, foi adotado o percentil 75 do índice HOMA-IR, que correspondeu ao valor de 2,27. Esse ponto de corte é inferior àquele de 3,16 recomendado pela I Diretriz para Prevenção da Aterosclerose na Infância e Adolescência,1313. Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz de prevenção da aterosclerose na infância e na adolescência. Arq Bras Cardiol. 2005;5 (Suppl. 6):3-36. http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2005002500001
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frequentemente utilizado em estudos brasileiros que relatam taxas de prevalência de RI semelhantes ou inferiores à identificada na presente investigação (10 a 29%).11. Gobato AO, Vasques AC, Zambon MP, Barros Filho AZ, Hessel G. Metabolic syndrome and insulin resistance in obese adolescents. Rev Paul Pediatr. 2014;32:52-65. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-05822014000100010
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,2222. Faria ER, Faria FR, Franceschini SC, Peluzio MC, Sant’Ana LF, Novaes JF, et al. Insulin resistance and components of metabolic syndrome, analysis by gender and stage of adolescence. Arq Bras Endocrinol Metab. 2014;58:610-8. http://dx.doi.org/10.1590/0004-2730000002613
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,2525. Faria ER, Faria FR, Pinto CA, Franceschini SC, Peluzio MC, Priore SE. Consumo alimentar e síndrome metabólica em adolescentes do sexo feminino. RASBRAN. 2014;6:21-8.

Em estudo realizado por Li et al.2424. Li C, Ford ES, Zhao G, Mokdad AH. Prevalence of pre-diabetes and its association with clustering of cardiometabolic risk factors and hyperinsulinemia among U.S. adolescents: National Health and Nutrition Examination Survey 2005-2006. Diabetes Care. 2009;32:342-7. https://doi.org/10.2337/dc08-1128
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envolvendo adolescentes norte-americanos com idades entre 12 e 19 anos participantes da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição de 2005-2006 (National Health and Nutrition Examination Survey - NHANES), o uso do percentil 75 do índice HOMA-IR evidenciou uma menor taxa de prevalência de RI quando comparada a encontrada na presente amostra (8,7 vs. 25,3%). Ressalta-se, no entanto, que a amostra do NHANES era representativa de todo o país e a população do presente estudo era representativa apenas da capital do estado de Pernambuco. Além disso, os autores citados não relataram o ponto de corte correspondente ao percentil 75 do índice.

Analisando uma amostra representativa de 2.716 adolescentes coreanos entre 10 e 20 anos, usando o percentil 95 do HOMA-IR, Yi et al.55. Yi KH, Hwang JS, Kim EY, Lee SH, Kim DH, Lim JS. Prevalence of insulin resistance and cardiometabolic risk in Korean children and adolescents: a population-based study. Diabetes Res Clin Prac. 2014;103:106-13. https://doi.org/10.1016/j.diabres.2013.10.021
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encontraram uma menor prevalência de RI (9,8%), sendo maior no sexo masculino (10,9%) do que no feminino (8,6%). Por outro lado, no presente estudo, esse distúrbio afetou mais adolescentes do sexo feminino, o que está de acordo com os achados de outros estudos, apesar dos diferentes pontos de corte utilizados para o índice HOMA-IR. 11. Gobato AO, Vasques AC, Zambon MP, Barros Filho AZ, Hessel G. Metabolic syndrome and insulin resistance in obese adolescents. Rev Paul Pediatr. 2014;32:52-65. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-05822014000100010
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,2222. Faria ER, Faria FR, Franceschini SC, Peluzio MC, Sant’Ana LF, Novaes JF, et al. Insulin resistance and components of metabolic syndrome, analysis by gender and stage of adolescence. Arq Bras Endocrinol Metab. 2014;58:610-8. http://dx.doi.org/10.1590/0004-2730000002613
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,2323. Silva CC, Zambon MP, Vasques AC, Camilo DF, Rodrigues AM, Góes MA, et al. Homeostatic model assessment of adiponectin (HOMA-Adiponectin) as a surrogate measure of insulin resistance in adolescents: comparison with the hyperglycaemic clamp and homeostatic model assessment of insulin resistance. PLoS One. 2019;14:e0214081. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0214081
https://doi.org/https://doi.org/10.1371/...
A distinção na distribuição entre os sexos se deve a diferenças nas mudanças da composição corporal entre meninos e meninas e na ação de hormônios característicos da fase de maturação sexual. 2222. Faria ER, Faria FR, Franceschini SC, Peluzio MC, Sant’Ana LF, Novaes JF, et al. Insulin resistance and components of metabolic syndrome, analysis by gender and stage of adolescence. Arq Bras Endocrinol Metab. 2014;58:610-8. http://dx.doi.org/10.1590/0004-2730000002613
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Apesar disso, não foi encontrada associação significativa entre os estágios da maturação sexual e o HOMA-IR no presente estudo. Em contrapartida, indivíduos mais jovens (12 a 14 anos) apresentaram maior frequência de RI, e essa associação permaneceu significativa após os ajustes estatísticos. A ocorrência desse evento em indivíduos mais jovens, provavelmente nos estágios iniciais da puberdade, pode ser explicada pelo fato de que a RI aumenta como resposta fisiológica à puberdade e ao avanço da idade, retornando aos níveis basais após o estirão de crescimento.11. Gobato AO, Vasques AC, Zambon MP, Barros Filho AZ, Hessel G. Metabolic syndrome and insulin resistance in obese adolescents. Rev Paul Pediatr. 2014;32:52-65. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-05822014000100010
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Na análise não ajustada, os adolescentes que não consumiram álcool foram mais afetados pela RI. No entanto, esse achado pode ter sido devido ao maior número de não alcoolistas na amostra. Embora o consumo de quantidades moderadas de álcool possa levar a uma melhora na sensibilidade à insulina em adultos,2626. Yokoyama H. Beneficial effects of ethanol consumption on insulin resistance are only applicable to subjects without obesity or insulin resistance; drinking is not necessarily a remedy for metabolic syndrome. Int J Environ Res Public Health. 2011;8:3019-31. https://doi.org/10.3390/ijerph8073019
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esse comportamento não deve ser adotado como uma medida para melhorar a síndrome metabólica em adolescentes.

Uma porcentagem maior de indivíduos fisicamente inativos teve diagnóstico de RI. Esse fato é preocupante, pois um estilo de vida sedentário contribui diretamente para o ganho de peso, que é o principal fator de risco para a RI.55. Yi KH, Hwang JS, Kim EY, Lee SH, Kim DH, Lim JS. Prevalence of insulin resistance and cardiometabolic risk in Korean children and adolescents: a population-based study. Diabetes Res Clin Prac. 2014;103:106-13. https://doi.org/10.1016/j.diabres.2013.10.021
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Por outro lado, a prática regular de atividade física de intensidade moderada pode melhorar a resposta à insulina por até 48 horas após o treinamento físico,2727. Keshel TE, Coker RH. Exercise training and insulin resistance: a current review. J Obes Weight Loss Ther. 2015;5:S5-003. https://doi.org/10.4172/2165-7904.S5-003
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ajudar a manter um peso corporal ideal e melhorar a qualidade física e psicológica na adolescência e idade adulta.

Adolescentes com sobrepeso e obesos tiveram uma taxa de prevalência de RI três vezes maior em comparação aos adolescentes sem excesso de peso. Segundo Lavrador et al.,2828. Lavrador MS, Abbes PT, Escrivão MA, Taddei JA. Cardiovascular risks in adolescents with different degrees of obesity. Arq Bras Cardiol. 2011;96:205-11. https://doi.org/10.1590/s0066-782x2010005000166
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a RI está fortemente associada à gravidade da obesidade, e um gradiente dose-resposta pode ser inferido a partir dessa associação.

O tipo de distribuição de gordura corporal também pode determinar o desenvolvimento da RI, com maior risco observado principalmente entre indivíduos com gordura acumulada na região visceral ou abdominal, a qual concentra maior quantidade de células que ativam o estado inflamatório, contribuindo para a RI.2626. Yokoyama H. Beneficial effects of ethanol consumption on insulin resistance are only applicable to subjects without obesity or insulin resistance; drinking is not necessarily a remedy for metabolic syndrome. Int J Environ Res Public Health. 2011;8:3019-31. https://doi.org/10.3390/ijerph8073019
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Em um estudo transversal usando o percentil 75 como ponto de corte para 486 crianças e adolescentes de 5 a 15 anos, Burrows et al.2929. Burrows RA, Leiva LB, Weisstaub G, Lera LM, Albala CB, Blanco E. High HOMA-IR, adjusted for puberty, relates to the metabolic syndrome in overweight and obese Chilean youths. Pediatr Diabetes. 2011;12:212-8. https://doi.org/10.1111/j.1399-5448.2010.00685.x
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encontraram associação direta entre o índice HOMA-IR e a CC; os autores também identificaram níveis inadequados de TG e HDL-C, o que está de acordo com os presentes achados. Ao avaliar adolescentes brasileiros entre 10 e 19 anos com o HOMA-IR subdivididos em percentis, Rocco et al.3030. Rocco ER, Mory DB, Bergamim CS, Valente F, Miranda VL, Frederico B, et al. Optimal cutoff points for body mass index, waist circumference and HOMA-IR to identify a cluster of cardiometabolic abnormalities in normal glucose-tolerant Brazilian children and adolescents. Arq Bras Endocrinol Metabol. 2011;55:638-45. http://dx.doi.org/10.1590/S0004-27302011000800020
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descobriram que um percentil mais alto do índice denotava um risco maior para as demais variáveis metabólicas analisadas. Da mesma forma, Gobato et al.11. Gobato AO, Vasques AC, Zambon MP, Barros Filho AZ, Hessel G. Metabolic syndrome and insulin resistance in obese adolescents. Rev Paul Pediatr. 2014;32:52-65. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-05822014000100010
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analisaram a distribuição do HOMA-IR em tercis e verificaram que a média de todos os indicadores de composição corporal avaliados no estudo, incluindo IMC e CC, aumentou com o aumento dos escores do HOMA-IR.

As associações encontradas entre o índice HOMA-IR e o TG e o HDL-C na análise ajustada podem ter ocorrido porque o sobrepeso e a obesidade causam um aumento no número de adipócitos, liberando, consequentemente, ácidos graxos livres na corrente sanguínea.2626. Yokoyama H. Beneficial effects of ethanol consumption on insulin resistance are only applicable to subjects without obesity or insulin resistance; drinking is not necessarily a remedy for metabolic syndrome. Int J Environ Res Public Health. 2011;8:3019-31. https://doi.org/10.3390/ijerph8073019
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Além disso, a RI aumenta os níveis séricos de LDL-C, resultando em concentrações reduzidas de HDL-C, cuja ativação depende da degradação do LDL-C.11. Gobato AO, Vasques AC, Zambon MP, Barros Filho AZ, Hessel G. Metabolic syndrome and insulin resistance in obese adolescents. Rev Paul Pediatr. 2014;32:52-65. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-05822014000100010
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Este estudo demonstrou uma associação inversa entre o consumo de energia e a RI. Em relação ao consumo de gorduras totais e poliinsaturadas, foi identificado um efeito protetor. Por outro lado, o consumo de gorduras monoinsaturadas não mostrou benefícios em termos de menor prevalência do desfecho, semelhante ao estudo de Kahleova et al., em 2019.44. Kahleova H, Hlozkova A, Fleeman R, Fletcher K, Holubkov R, Barnard ND. Fat quantity and quality, as part of a low-fat, vegan diet, are associated with changes in body composition, insulin resistance, and insulin secretion. A 16-week randomized controlled trial. Nutrients. 2019;11:E615. https://doi.org/10.3390/nu11030615
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Os dados epidemiológicos sobre a influência da dieta na RI em adolescentes são escassos na literatura, e essa questão requer maiores esclarecimentos. Em um estudo transversal com 100 adolescentes do sexo feminino, com idades entre 12 e 14 anos, matriculadas em escolas públicas da cidade de Viçosa (sudeste do Brasil), Faria et al.2525. Faria ER, Faria FR, Pinto CA, Franceschini SC, Peluzio MC, Priore SE. Consumo alimentar e síndrome metabólica em adolescentes do sexo feminino. RASBRAN. 2014;6:21-8. encontraram maior ingestão de gordura saturada entre as adolescentes sem síndrome metabólica, que foi o desfecho analisado. Segundo os autores, esse achado pode ter sido devido ao viés de informação, pois os adolescentes com excesso de peso geralmente subestimam seu consumo atual de gorduras, ou devido a uma causalidade reversa (por exemplo, adolescentes com sobrepeso e obesidade podem estar em dieta para perda ponderal), fatores que também devem ser levados em consideração na interpretação dos dados alimentares relatados na presente investigação. Por outro lado, os efeitos nocivos do consumo excessivo de alimentos ricos em açúcar refinado, bem como gorduras saturadas e trans, estão bem estabelecidos na literatura.33. White J, Jago R, Thompson JL. Dietary risk factors for the development of insulin resistance in adolescent girls: a 3-year prospective study. Public Health Nutr. 2014;17:361-8. https://doi.org/10.1017/S1368980012004983
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,44. Kahleova H, Hlozkova A, Fleeman R, Fletcher K, Holubkov R, Barnard ND. Fat quantity and quality, as part of a low-fat, vegan diet, are associated with changes in body composition, insulin resistance, and insulin secretion. A 16-week randomized controlled trial. Nutrients. 2019;11:E615. https://doi.org/10.3390/nu11030615
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,2525. Faria ER, Faria FR, Pinto CA, Franceschini SC, Peluzio MC, Priore SE. Consumo alimentar e síndrome metabólica em adolescentes do sexo feminino. RASBRAN. 2014;6:21-8. Os hábitos alimentares inadequados combinados à inatividade física favorecem o excesso de peso e o estabelecimento de uma condição pró-inflamatória que contribui para o desenvolvimento da RI.33. White J, Jago R, Thompson JL. Dietary risk factors for the development of insulin resistance in adolescent girls: a 3-year prospective study. Public Health Nutr. 2014;17:361-8. https://doi.org/10.1017/S1368980012004983
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,44. Kahleova H, Hlozkova A, Fleeman R, Fletcher K, Holubkov R, Barnard ND. Fat quantity and quality, as part of a low-fat, vegan diet, are associated with changes in body composition, insulin resistance, and insulin secretion. A 16-week randomized controlled trial. Nutrients. 2019;11:E615. https://doi.org/10.3390/nu11030615
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O presente estudo envolveu uma amostra representativa de adolescentes e descreveu dados de um local onde não há pesquisas prévias referentes ao tema. No entanto, algumas limitações devem ser consideradas. O delineamento transversal não permite determinar as relações de causa e efeito. A realização de apenas um registro dietético de 24 horas revela apenas o consumo atual, o que também impossibilita a determinação da causalidade. Além disso, o uso de dados auto relatados pode aumentar o risco de viés de informação. Outro fator a considerar foram os diferentes pontos de corte utilizados para o HOMA-IR nos artigos consultados, o que dificulta a comparação dos resultados.

Em síntese, os achados revelam que a RI foi prevalente na população analisada. Essa é uma questão preocupante, pois a amostra consistiu de indivíduos em estágios precoces da vida. As associações entre o índice HOMA-IR e as variáveis relacionadas aos desfechos metabólicos possibilitaram o reconhecimento dos fatores mais ligados à RI, os quais podem auxiliar na implementação de estratégias de saúde pública para prevenção desse distúrbio em adolescentes, fortalecendo ações direcionadas ao enfrentamento das condições predisponentes, especialmente o excesso de peso. Estudos adicionais sobre o consumo de alimentos nessa faixa etária são necessários e devem levar em consideração comportamentos e hábitos alimentares de maneira mais global, para assim permitir um melhor reconhecimento das características dos alimentos que representam um risco para o desenvolvimento de RI e distúrbios metabólicos na adolescência.

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Financiamento

  • Este trabalho foi financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), Brasil (parecer no 01090421) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Brasil (pareceres no 565037 / 2010-2 e 405.009 / 2012-7).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Mar 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    21 Jan 2019
  • Aceito
    10 Jun 2019
  • Publicado
    26 Fev 2020
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