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O Funk abençoado: apropriação musical, trajetória religiosa e carreira musical de MC Polliana Gospel Funk

Blessed Funk: music appropriation, religious trajectory, and musical career by MC Polliana Gospel Funk

Resumos

Resumo: Neste artigo, ao abordarmos a música gospel, focalizamos a atividade de uma cantora defunk gospel. Ela tem elaborado suas composições, organizado espaços de apresentação e produtos com os quais divulga sua imagem e canções. A pesquisa foi realizada em Campos dos Goytacazes, norte do estado do Rio de Janeiro, a partir de entrevista em profundidade, consulta ao blog da cantora, aos materiais promocionais e jornais da cidade. Buscamos lançar um olhar mais atento à condução de trajetória religiosa e de atividade artística no meio evangélico de uma cidade do interior, visando a compreender o que baliza a concepção de atividade musical, as relações, as estratégias adotadas e os objetivos estabelecidos para o reconhecimento do trabalho artístico e religioso.

Palavras-chave:
Funk gospel; Trajetória; Atividade artística; Música Gospel


Abstract: In this article, as we approach gospel music, we focus on the activity of a funk gospel singer. She has elaborated her compositions, organized presentation spaces and products with which to disseminate her image and songs. The research was conducted in Campos dos Goytacazes, upstate Rio de Janeiro, from in-depth interview, consulting the singer’s blog, promotional materials and newspapers in the city. We seek to take a closer look at the conduction of religious trajectory and artistic activity in the evangelical milieu of an inner city, in order to understand what underlies the conception of musical activity, the relationships, the strategies adopted and the objectives established for the recognition of the music, artistic and religious work.

Keywords:
Gospel funk; Trajectory; Artistic activity; Gospel Music


Introdução

Neste artigo, voltamo-nos ao funk gospel e focalizamos o trabalho de MC Polliana Gospel Funk, uma cantora do meio evangélico de Campos dos Goytacazes, norte do estado do Rio de Janeiro. Ela se converteu a uma igreja neopentecostal, passou a produzir funk, tem se apresentado em eventos realizados em igreja ou não, efetivado relações sociais com outros cantores e elaborado produtos de promoção de seu trabalho, que é concebido como ministério.

Ela integra a chamada música gospel, que tem se apropriado de expressões da música popular nacional e apresenta uma série de subgêneros como rock gospel, rap gospel, funk gospel, forró gospel, samba gospel, etc. (Pinheiro 2007aPINHEIRO, Márcia. (2007a), “Música, Religião e Cor - Uma leitura da produção de black music Gospel”. Religião & Sociedade , vol. 27, nº 2: 163-180.; Bandeira 2014BANDEIRA, Olívia. (2014), “Música gospel: aproximações e conflitos entre o sagrado e o secular”. 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, Natal, RN.). Essas alterações musicais e sonoras no meio evangélico passaram a ocorrer fortemente nas últimas décadas do século XX e isso está entrelaçado com iniciativas como a formação de empresas fonográficas, de produção de eventos musicais institucionalizados e/ou independentes, de mercado de música evangélica, conforme registram pesquisas realizadas (Pinheiro 2006; Cunha 2007CUNHA, Magali do Nascimento. (2007), A Explosão Gospel: Um Olhar das Ciências Humanas Sobre o Cenário Evangélico no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad X, Instituto Mysterium.; de Paula 2012; Bandeira 2017). Todavia, algumas sonoridades têm sido acompanhadas por tensões no tocante ao seu reconhecimento por parte dos dirigentes institucionais - pastores -, como ocorre com o funk e o rap. Por vezes, essas são admitidas em específicas atividades - encontro juvenil, por exemplo - ou em pequenas igrejas neopentecostais. Para tanto, espaços de execução musical foram criados em lugares diversos dos templos religiosos - em casas de festa, em clubes - de modo a constituir um circuito musical e afirmar uma liderança religiosa (Pinheiro 2007bPINHEIRO, Márcia. (2007b), “O sagrado e o popular: negritude e canções no Rio de Janeiro”. Textos escolhidos de cultura e arte populares, vol. 4, nº 1: 99-112., 2019PINHEIRO, Márcia. (2019), “Gospel no Brasil: mercado, política e estilos”. In: L. F. Leal; B. B. Buarque Hollanda; C. Riom; E. Araújo (Orgs.). Música e sociedade: perspectivas interdisciplinares. Petrópolis: FGV Editora, vol. 1.; de Paula 2014).

A partir da pesquisa realizada sobre sociabilidades juvenis e religiosidade, conduzida entre 2010 e 2013, buscamos abordar o fazer musical e religioso em Campos dos Goytacazes e consideramos as iniciativas de uma cantora de funk gospel a qual privilegia uma sonoridade que tem sido perpassada por controvérsias e acusações, seja por ser relacionada à erotização, seja por ser vinculada à violência. Apreciamos o trabalho de MC Polliana Gospel Funk com o objetivo de compreendermos o que baliza a concepção de atividade artística no meio evangélico, os objetivos, as relações estabelecidas, as estratégias adotadas para o reconhecimento do trabalho artístico e religioso. Ainda visamos refletir como o funk gospel, que marca outro modo de expressão e comunicação religiosa, questiona, rompe ou confirma as elaborações institucionais.

Para a realização deste artigo, consultamos jornais da cidade de Campos dos Goytacazes que veiculam matérias sobre a cantora, utilizamos entrevista em profundidade, realizamos consultas ao seu blogMC POLLIANA GOSPEL FUNK . MC POLLIANA GOSPEL FUNK. Disponível em: http://mcpolliana.blogspot.com.br/. Acesso em: várias datas.
http://mcpolliana.blogspot.com.br/...
e ainda visualizamos os materiais visuais empregados na divulgação de seu trabalho.

O artigo está organizado em cinco partes. A primeira está dedicada à discussão sobre a música gospel no Brasil e o registro de novos atores no meio evangélico. A segunda aborda a presença do funk no país e sua inscrição no meio evangélico nacional. A terceira oferece um retrato da cidade de Campos de Goytacazes e o meio religioso no qual a pesquisa foi realizada. A quarta destaca a trajetória de MC Polliana Gospel Funk, o impacto da conversão e sua atividade musical. A quinta contempla a condução de carreira da cantora, que compreende relações profissionais e religiosas, concepção e divulgação de imagem e produtos. Na conclusão, buscamos refletir sobre a construção da atividade musical e as questões que o trabalho da cantora suscita e que podem ser pensadas a partir da ideia de gestão da vida eclesial, envolvendo operações que lidam com o sentido do funk e sua relação com as elaborações institucionais.

A música gospel no meio evangélico

O meio evangélico brasileiro possui uma história musical desde o século XIX com a produção de livros de cânticos e no século XX com projetos fonográficos (Braga 1961BRAGA, Henriquetta. (1961), Música sacra evangélica no Brasil. Contribuição a sua história. Rio de Janeiro: Livraria Editora Cosmo.). Isso estaria ligado com as igrejas históricas e de missão que se opunham às práticas culturais populares e ao catolicismo. Há ainda o registro de grupos paraeclesiais, surgidos na década de 1960, que contribuíram para o uso de instrumentos como bateria e baixo elétrico, bem como a proximidade com sonoridades como o baião, produzindo discos tal como fez o grupo Vencedores por Cristo (Pinheiro 2006PINHEIRO, Márcia. (2006), Na “pista” da fé: Música, festa e outros encontros culturais entre os evangélicos do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Tese de Doutorado em Sociologia e Antropologia, UFRJ.; Dolghie 2007DOLGHIE, Jacqueline Ziroldo. (2007), Por uma sociologia da produção e reprodução musical do presbiterianismo brasileiro: a tendência gospel e sua influência no culto. São Bernardo do Campo: Tese de Doutorado em Ciências da Religião, UMESP.; Neder et al. 2016NEDER, Alvaro, et al. (2016), “Música, religião e produção social de espaço em uma cidade operária - o caso da igreja da pastora Ana Lúcia em Belford Roxo, Rio de Janeiro”. Per musi, nº 34: 132‐176.).

Os anos 1980 marcaram a inserção do rock no meio evangélico e a afirmação de igrejas, ministérios e outros espaços favoráveis à execução dessa sonoridade. Isso terminou por configurar uma “cena underground cristã” que objetiva atingir os não evangélicos e, ao mesmo tempo, renovar o meio religioso (Jungblut 2007JUNGBLUT, Airton Luiz. (2007), “A salvação pelo rock: sobre a cena underground dos jovens evangélicos no Brasil”. Religião & Sociedade , vol. 27, nº 2: 144-162.:147). No final dos anos 1980 e início dos 90, houve o surgimento de gravadoras no país ligadas às igrejas evangélicas, com empresários ou políticos interessados na difusão de músicas com algum teor religioso. Assim, diversas empresas respondiam por gravação de músicas evangélicas, podendo citar: a Line Records, a Gospel Records, a TopGospel e a MK Publicitá.

A designação gospel passou a ser corrente nas décadas de 1980/90 com a atividade de empresas fonográficas (Pinheiro 2006PINHEIRO, Márcia. (2006), Na “pista” da fé: Música, festa e outros encontros culturais entre os evangélicos do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Tese de Doutorado em Sociologia e Antropologia, UFRJ.; de Paula 2007). No entanto, houve uma disputa no tocante à nomenclatura musical, pois o termo música cristã contemporânea foi preterido em favor do gospel, que teria uma raiz afro-americana e foi ressignificado como algo voltado à disseminação do evangelho. A concorrência foi protagonizada por gravadoras e rádios que se reuniam ao redor da modalidade musical que se constituía no país (Pinheiro 2006:77, 78, 166, 167). Isso pode ser compreendido caso seja considerado que as igrejas neopentecostais, com forte presença na mídia televisiva e radiofônica, tiveram contribuição, pois forjaram uma indústria fonográfica e uma série de eventos e espetáculos com a finalidade de firmar um mercado, bem como disseminar os valores cristãos (Mendonça 2008MENDONÇA, Joezer de S. (2008), “O evangelho segundo o gospel: mídia, música pop e neopentecostalismo”. Revista do Conservatório de Música da UFPel, nº 1: 220-249.).

Nos trabalhos acadêmicos, o termo gospel passou a ter lugar a partir dos anos 2000 quando pesquisadores se voltaram aos diferentes aspectos de uma musicalidade relacionada com a evangelização, com o louvor e adoração. A categoria adotada possibilitava abordar algo que abarcava diversos ritmos, alguns ligados a iniciativas menos institucionalizadas que alargavam o contexto engendrado por gravadoras, pois essa produção autônoma também corroborava a formação de espaços de execução e atuação de artistas. Isso consolidou a presença musical no cotidiano evangélico, sobretudo, com o recurso de gêneros musicais nacionais e internacionais, disseminados pelo país, que passaram, então, a estar presentes nas igrejas e em locais concebidos pela prática religiosa (Dolghie 2004DOLGHIE, Jacqueline Ziroldo. (2004), “A Igreja Renascer em Cristo e a consolidação do mercado de música gospel no Brasil: Uma análise das estratégias de marketing”. Ciencias Sociales y Religión/Ciências Sociais e Religião, ano 6, nº 6: 201-220.; Jungblut 2007JUNGBLUT, Airton Luiz. (2007), “A salvação pelo rock: sobre a cena underground dos jovens evangélicos no Brasil”. Religião & Sociedade , vol. 27, nº 2: 144-162.; Pinheiro 1998PINHEIRO, Márcia. (1998), “O proselitismo evangélico: musicalidade e imagem”. Cadernos de Antropologia e Imagem, vol. 7, nº 2: 57-67. , 2006, 2007a, 2007b; Bandeira 2017BANDEIRA, Olívia. (2017), “Música gospel no Brasil - reflexões em torno da bibliografia sobre o tema”. Religião & Sociedade, vol. 37, nº 2: 200-228.).

O surgimento e a atividade das gravadoras voltadas ao gospel podem ser entendidos como parte de um cenário marcado por alteração econômica e tecnológica, que cooperou para mudanças na produção musical no país. Vejamos. A década de 1980 registrou estagnação econômica que atingiu o setor fonográfico e as multinacionais que resistiram e tiveram de rever suas ações: investimento em música infantil e impulsão no chamado rock Brasil. No decorrer do tempo, surgiu uma diversificação de expressões musicais no interior do país, que atingiu a música sertaneja, e também nos subúrbios do Rio de Janeiro e São Paulo houve o impulso da música brega, do rap, do funk, por exemplo. Já os anos 1990 registraram uma estabilidade econômica e, ainda, a substituição do vinil e fita cassete pela tecnologia digital. O impacto tecnológico atingiu a produção fonográfica com a terceirização da produção e gravação musical, assim como ocorreu a proliferação de empresas independentes atentas às diversidades musicais locais, resistindo ao comando que as multinacionais impunham até o momento. Assim, o funk, o rap e o movimento regional como o manguebeat marcaram a mudança estética da produção musical no país. Além disso, a informática viabilizou a atividade individual de produção sonora, afetando a autonomia de artistas e outros profissionais (Vicente e de Marchi 2014VICENTE, Eduardo; de MARCHI, Leonardo. (2014), “Por uma história da indústria fonográfica no Brasil 1900-2010: uma contribuição desde a Comunicação Social”. Música Popular em Revista, ano 3, vol. 1: 7-36.).

A consolidação do gospel como expressão musical pode ser explicitada com os dados apresentados pela Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD) sobre os primeiros anos da década de 2000. Segundo a associação, houve uma mudança no consumo musical por gênero, pois, entre 2001 e 2003, foi identificado o decréscimo de pop/rock, que foi de 40% para 28%, ao passo que o religioso aumentou de 12% para 19%. No tocante ao critério pontos de venda, as igrejas apareceram como o quarto posto mais relevante - entre 2001 e 2003, comercializaram entre 9% e 13% dos discos produzidos no país (ABPD 2004ABPD. (2004), Publicação Anual do Mercado Fonográfico 2003. Rio de Janeiro: ABPD. Disponível em: Disponível em: https://www.pro-musicabr.org.br/wp-content/uploads/2015/01/Mercado_Brasileiro_de_Musica_2003.pdf . Acesso em: 13/09/2019.
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).

Os dados da ABPD explicitam o gospel como expressão musical e gravadoras envolvidas com um modo de produzir, divulgar e distribuir canções pelo país, favorecendo o surgimento e a manutenção de reconhecimento nacional e internacional de algum artista diante da ação corporativa. Há, ainda, a atividade de pequenas gravadoras e de cantores ou bandas que efetivaram seus projetos em algum estúdio musical, impactando a circulação do trabalho assim constituído - com implicação na visibilidade do trabalho artístico. Por fim, não se pode ignorar a expansão do segmento musical gospel para além do circuito de distribuição das gravadoras dirigidas por personalidades e por igrejas evangélicas. Por exemplo, em 2011, a Som Livre firmou contrato com o Ministério de Louvor Diante do Trono, surgido em 1998 em uma igreja Batista de Belo Horizonte, e este teve sua publicidade veiculada por reconhecida emissora de televisão. A formação da produção musical gospel bem como sua articulação com o contexto fonográfico não evangélico expressam as inovações ocorridas no gospel nacional, as quais podem ser entendidas não somente pelo questionamento do dualismo religioso, nem somente pelo reconhecimento da capacidade de consumo do meio evangélico, mas também pela possibilidade de difusão dos valores religiosos (de Paula 2007DE PAULA, Robson. (2007), “Os cantores do senhor: três trajetórias em um processo de industrialização da música evangélica no Brasil”. Religião & Sociedade , vol. 27, nº 2: 55-84., 2012DE PAULA, Robson. (2012), “O mercado de música gospel no Brasil: aspectos organizacionais e estruturais”. Revista UniAbeu, vol. 5, nº 9: 141-157.).

Especificidades do funk e a variação do funk gospel

O debate sobre o funk, surgido no Rio de Janeiro, tem proporcionado reflexões sobre sua presença na cidade e sua disseminação pelo país. Para a compreensão de sua especificidade e da variação funk gospel, entendemos ser pertinente expor o surgimento do funk.

Hermano Vianna (1987VIANNA, Hermano. (1987), O mundo funk carioca. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. ), no livro O Mundo funk carioca, afirma que essa modalidade musical foi produzida e circulou por áreas menos nobres e centrais das cidades, sendo consumida por jovens residentes nelas. Havia, no subúrbio do Rio de Janeiro, relacionado com as linhas férreas, um circuito de locais voltados à realização de bailes funk. Contudo, o funk e seus bailes não foram alvo imediato de notícias jornalísticas, acontecendo isso no correr dos anos de 1980.

No Rio, o funk, oriundo dos Estados Unidos, experimentou fusões com as expressões musicais em circulação no subúrbio carioca - zona norte, zona oeste, favelas e baixada fluminense -, como o samba e o jongo (Vianna 1987VIANNA, Hermano. (1987), O mundo funk carioca. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. ). Isso aconteceu numa região na qual já ocorriam, entre os anos 1970/80, os chamados bailes blacks, que mesclavam fruição e conscientização racial e enfrentavam hostilidade da mídia corporativa, que desdenhava da luta contra a discriminação racial (Facina 2009FACINA, Adriana (2009), “‘Não me bate doutor’: funk e criminalização da pobreza”. V Enecult, Faculdade de Comunicação/UFBA, Salvador, BA.). Além disso, os frequentadores de bailes blacks eram alvo de controle policial nas ruas - como aconteceu com o samba e a capoeira em outras épocas -, bem como eram monitorados pela ditadura, porque o posicionamento era visto como um confronto à Constituição de 1967 por promover a luta racial (Lima 2018LIMA, Lucas P. (2018), Bailes soul, ditadura e violência nos subúrbios cariocas na década de 70. Rio de Janeiro: Dissertação de Mestrado em História Social da Cultura, PUC-Rio.).

No decorrer dos anos 1980, o funk foi se constituindo em importante divertimento para as juventudes das regiões do subúrbio e das periferias da cidade do Rio de Janeiro. Já a sua divulgação ocorreu via manchetes policiais dos jornais da cidade, diante da cobertura dada às encenações de rivalidades que diferentes grupos de jovens oriundos das favelas faziam nas areias das praias da zona sul. Designadas de arrastões, essas encenações atraíram a imprensa que passou a dar atenção aos bailes funk e a relacioná-los com a violência - que seriam confrontos entre grupos territoriais - e com o tráfico de drogas. Houve o encerramento de alguns bailes e fechamento de clubes diante da acusação de que promoviam a violência nos bailes e fora deles. Isso tinha a ver com uma visão que criminalizava os valores, a cultura e os modos de vida da população pobre, estando relacionada com a vigência de uma concepção de estado punitivista e não de bem-estar social. Assim, na década de 1990, o funk foi fortemente associado ao tráfico de drogas, ao desvio comportamental de jovens, e os bailes somente poderiam acontecer com a autorização do comando policial. No início dos anos 2000, o funk ficou restrito às favelas, e suas músicas passaram a relatar o cotidiano de um território que tem sido marginalizado, formado por sujeitos considerados perigosos, e concebido pela política a partir da violência estatal (Facina 2009FACINA, Adriana (2009), “‘Não me bate doutor’: funk e criminalização da pobreza”. V Enecult, Faculdade de Comunicação/UFBA, Salvador, BA.; Lopes e Facina 2012LOPES, Adriana C.; FACINA, Adriana. (2012), “Cidade do funk: expressões da diáspora negra nas favelas cariocas”. Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, nº 6: 193-206.).

Mesmo com a criminalização e perseguição ao funk e aos bailes, alguns cantores tiveram espaço em gravadoras e apareceram em programas televisivos e radiofônicos, explicitando, assim, a divulgação dele. Apesar da produção de visibilidade e, também, de renda para profissionais e cantores (Muniz 2016MUNIZ, Bruno B. (2016), “Quem precisa de cultura? O capital existencial do funk e a conveniência da cultura”. Sociologia e Antropologia , vol. 6, nº 2: 447-467.), o funk e os bailes não deixaram de ser alvo de restrições pela polícia. Contudo, ações de funkeiros visaram a ressaltar o aspecto de resistência que o funk teria, bem como seria uma manifestação cultural de jovens pobres, moradores de favelas e subúrbios, contribuindo para o seu reconhecimento como patrimônio imaterial em 2009. Porém, a lei que o reconheceu não enfrentava as discriminações e os preconceitos, pois, ao mesmo tempo, ela distinguia que o funk poderia ser aceito como expressão cultural e que não receberia tal distinção se fizesse “apologia ao crime”. Fato é que, apesar de ser patrimônio cultural, o funk não deixou de ser associado ao crime e à licenciosidade sexual, surgindo, no âmbito federal, em 2017, um projeto de lei que visava a sua criminalização (Coutinho 2014COUTINHO, Reginaldo. (2014), “Funk como movimento cultural e musical: cotidiano e embates sociopolíticos em torno da implementação da Lei 5543/2009 do estado do Rio de Janeiro”. Anais do XIV Encontro Regional de História, Campo Mourão, PR.).

Perpassado por polêmicas, falando do cotidiano das favelas, da violência dirigida aos seus moradores e outras questões que balizam o protesto ou não, o funk pode ser considerado um modo de fruição e, igualmente, uma via de “esperança e otimismo” com o que pode ser alcançado por artistas; ainda tem proximidade com o ativismo político quando se trata da defesa de direitos de mulheres ou dos direitos de seus produtores (Muniz 2016MUNIZ, Bruno B. (2016), “Quem precisa de cultura? O capital existencial do funk e a conveniência da cultura”. Sociologia e Antropologia , vol. 6, nº 2: 447-467.).

A combinação entre funk e gospel não é recente, pois tem três décadas o trabalho de pioneiros. O Yehoshua foi o grupo precursor de funk gospel no Rio de Janeiro, surgido no final dos anos 1980 em um bairro do subúrbio da cidade, sendo fundado por fãs de funk a partir de interações com adeptos da Igreja Metodista. Suas canções tratavam de temas como uso de drogas, fome e violência. Além desse grupo, César’El, em 1994, converteu-se na Assembleia de Deus e passou para a Igreja Renascer, nela tendo apoio para as suas canções de funk gospel que focalizavam temas como uso de drogas, criminalidade, doenças e crianças abandonadas (Pinheiro 1998PINHEIRO, Márcia. (1998), “O proselitismo evangélico: musicalidade e imagem”. Cadernos de Antropologia e Imagem, vol. 7, nº 2: 57-67. ). A partir disso, diversos grupos e cantores, também chamados de MC (Mestre de Cerimônia), surgiram e têm contribuído para a diversidade sonoro-musical nas igrejas, nos sítios de internet e eventos de evangelização.

O funk gospel integra a diversidade das sonoridades no meio evangélico, cuja disseminação tem a ver com a contribuição não somente das gravadoras no que toca à produção e à divulgação, mas pode estar ligada com a formação de pequenos selos, de igrejas e a atividade independente em decorrência do acesso às tecnologias digitais, conforme apontado na seção anterior sobre a produção fonográfica nacional.

Há de ser explicitado que a ação independente e o incentivo de alguma igreja favoreceram a produção, a visibilidade e a circulação da chamada black music gospel ou música negra gospel que passou a ser difundida no país, nos anos de 1990. Seus produtores eram conhecedores e admiradores do hip-hop, do funk, do samba, do reggae, do drum’n’bass e demais sonoridades ligadas ao fluxo diaspórico negro. Aliado a isso, refletiam sobre temas espinhosos, como racismo na sociedade brasileira, as desigualdades no meio evangélico e a não valorização da cultura negra. A música negra gospel tinha a ver com a experiência e a sensibilidade sonora e política de seus idealizadores, veiculando outra noção de sagrado e modo de sentir e crer de forma a ressaltar uma comunidade de fé, sua consciência e identidade (Pinheiro 2007PINHEIRO, Márcia. (2007b), “O sagrado e o popular: negritude e canções no Rio de Janeiro”. Textos escolhidos de cultura e arte populares, vol. 4, nº 1: 99-112.a; Burdick 2013BURDICK, John. (2013), The color of sound: race, religion, and music in Brazil. New York and London: New York University Press.; Neder et al. 2016NEDER, Alvaro, et al. (2016), “Música, religião e produção social de espaço em uma cidade operária - o caso da igreja da pastora Ana Lúcia em Belford Roxo, Rio de Janeiro”. Per musi, nº 34: 132‐176.).

O funk tem sido apontado como um modo de comunicação que favorece o trabalho de evangelização com o objetivo de conversão ou reaproximação daqueles que se afastaram do meio evangélico, bem como de manter os jovens fiéis na igreja. Considerando essas vias, a mistura entre música, história de vida e palavras de cunho religioso é uma constante nos eventos. Para tanto, ocorre uma reelaboração doutrinária, litúrgica, estética, comportamental e moral para a apropriação e a combinação dessa modalidade musical. O resultado é o funk gospel, que abrange o som e a letra e deve passar uma mensagem considerada religiosa, por isso não pode ignorar o corpo, principalmente com a conversão religiosa de dançarinos e contando, inclusive, com o apoio de pastores. A dança não é somente uma medida pragmática, pois ela aparece como instrumento eficaz para evangelizar, e sua inclusão ocorre quando os fazeres e as experiências do passado dos dançarinos convertidos são ajustados às orientações religiosas (Salles 2014SALLES, Paula F. (2014), A nova comunicação do corpo cristão: a transformação da imagem do corpo sagrado na mídia. São Paulo: Dissertação de Mestrado em Comunicação e Semiótica, PUC-SP.). Porém, não se pode esquecer que o corpo na música negra gospel pode ser utilizado para fomentar ou desestimular a produção e a disseminação de sentimentos étnico-raciais (Burdick 2013BURDICK, John. (2013), The color of sound: race, religion, and music in Brazil. New York and London: New York University Press.).

No tocante ao funk gospel, mesmo tendo surgido num processo de assimilação e reelaboração religiosa com vista a suplantar seu teor profano, ele não se distanciaria do funk, na medida em que suas letras não deixam de lado a linguagem coloquial comum à da modalidade secular e, desse modo, as mensagens cristãs seriam banalizadas (Mendonça 2014MENDONÇA, Joezer de S. (2014), Música e religião na era do pop. Curitiba: Appris.). A tensão que o funk gospel explicita decorre de suas especificidades - performances, temas, sonoridades, entre outros - que tensionam as clássicas dicotomias - igreja x mundo, por exemplo -, corroborando sua circulação na periferia do meio evangélico (Bandeira 2017BANDEIRA, Olívia. (2017), “Música gospel no Brasil - reflexões em torno da bibliografia sobre o tema”. Religião & Sociedade, vol. 37, nº 2: 200-228.).

Tal vigência do funk tem a ver com as igrejas forjarem modos de aproximação e conversão de indivíduos, dinamizando, para tanto, sua disposição de apropriação de elementos externos mesmo que pareçam discordantes de seus princípios (Paz 2019PAZ, Sthefanye Silva. (2019), “As novas agências cristãs: trajetória de mediadores culturais entre juventudes, religião e música negra”. XIII Reunião de Antropologia do Mercosul, Porto Alegre, RS.). O funk gospel constituiria um espaço diferente do tradicional culto evangélico, pois é voltado a atrair as juventudes já ambientadas com o funk. Nesse caso, a pregação do evangelho não seria sua única característica, porque o “compartilhamento de experiências de vida” teria relevância em seu interior (Farias 2013FARIAS, Carine Lavrador. (2013), Música gospel e sociabilidades juvenis: modos de relação com o religioso entre os evangélicos. Campos dos Goytacazes: Dissertação de Mestrado em Sociologia Política, UENF.:117).

A presença do funk gospel é perpassada por disputas, e isso é expresso em blogs administrados por pastores que têm se dedicado a influenciar a opinião pública de modo desfavorável ao gospel e ao funk gospel. Estes são apresentados a partir de microcategorias como antibíblico, anticristão, música mundana, entre outros termos, a fim de demarcar sua ilegitimidade e de seus promotores. Isso pode ser aprovado por parte dos comentários de leitores, já que outros discordariam dos julgamentos apresentados, evidenciando uma concorrência pelo reconhecimento do subgênero. As estratégias de (des)legitimação do funk gospel integram uma luta por impor uma visão de mundo e delimitar os critérios da instância de consagração religiosa (Ramos 2018RAMOS, Graziela R. R. (2018), “A (des)legitimação do funk gospel em blogs evangélicos”. Revista Estudos Linguísticos, vol. 47, nº 1: 226-242.).

Apesar dessas tensões, o funk gospel tem tido lugar no meio religioso, e isso depende de fatores que podem explicitar a especificidade dessa presença entre os evangélicos em uma cidade do interior do estado do Rio de Janeiro.

Funk gospel em Campos dos Goytacazes

Campos dos Goytacazes, localizada no norte fluminense, é o maior município em extensão territorial do estado do Rio de Janeiro e está distante da capital cerca de 300 quilômetros. O município possui uma população estimada em 507.548 habitantes, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2019IBGE (2019), “Estimativa da população com referência a 1º de julho de 2019”. Agência IBGE Notícias. Disponível em: Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-detalhe-de-midia.html?view=mediaibge&catid=2103&id=3097 . Acesso em: 19/09/2019.
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/ag...
). Sua economia, que esteve anteriormente baseada na monocultura da cana-de-açúcar, tem tido destaque nas atividades de turismo, aquicultura e petróleo e gás (Walter 2010WALTER, Tatiana. (2010),Novos Usos e Novos Mercados: Qual sua influência na dinâmica da cadeia produtiva dos frutos do mar oriundos da pesca artesanal?Seropédica: Tese de Doutorado em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, UFRRJ. ), havendo recebido consideráveis recursos provenientes da exploração petrolífera.

Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA 2019IPEA. (2019), Atlas da violência - retratos dos municípios brasileiros. Rio de Janeiro: IPEA. Disponível em: Disponível em: http://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/downloads/7047-190802atlasdaviolencia2019municipios.pdf . Acesso em: 19/09/2019.
http://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/ar...
), Campos dos Goytacazes aparece como a cidade mais violenta do interior do estado do Rio de Janeiro, considerando o ano de 2017. No tocante à religião, o município tem forte registro cristão e, consoante os dados do Censo de 2010 (IBGE 2010IBGE. (2010), “Sinopse do censo demográfico 2010”. IBGE. Disponível em: Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?uf=33&dados=0 . Acesso: 20/03/2018.
https://censo2010.ibge.gov.br/sinopse/in...
), quando a população era de 463.731 pessoas, teria o seguinte cenário religioso: católicos, 232.568 habitantes; protestantes, 144.025 habitantes; espíritas, 10.956 habitantes; afro-brasileiras, 598 habitantes; e sem religião, 63.829 habitantes.

A sub-representação das religiões afro-brasileiras pode ter relação com a resistência e as concepções acerca da cultura afro-brasileira na cidade, pois sua fundação e história estão inter-relacionadas com a economia latifundiária e canavieira, fortemente imbricada com a escravidão negra, e esta não deixa de ter conexão com as formas de desigualdades vigentes na atualidade. Assim, os adeptos das religiões afro-brasileiras reunidos no Fórum Municipal das Religiões Afro-brasileiras (FRAB) têm empreendido ações de resistência diante dos atos de violência religiosa na cidade, que tem sido a maior no interior do estado do Rio de Janeiro (Pinheiro e Farias 2019PINHEIRO, Márcia L.; FARIAS, Carine L. (2019), “Reflexões sobre Formação de Professores e sua intersecção com a Antropologia e Políticas Públicas”. Cadernos da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais, vol. 3, nº 1: 71-94.).

O trabalho de campo realizado em decorrência do projeto sobre sociabilidades, religião e juventudes em Campos dos Goytacazes entre 2010 e 2013 possibilitou constatar que diversas igrejas e ministérios evangélicos realizam eventos - marchas e encontros musicais. Eles cooperam para a dinâmica do gospel local, com a atuação de cantores em eventos religiosos, em sua maioria em lugares distintos do templo religioso e em programação realizada na praia pela prefeitura durante o verão. Nesse cenário, o funk gospel tem estado presente, bem como tem buscado estabelecer um espaço próprio (Pinheiro e Pimentel 2011PINHEIRO, Márcia L.; PIMENTEL, Paula. (2011), “Ruas, praças e praias: música e identidade na sociedade contemporânea”. IX Reunião de Antropologia do Mercosul, Curitiba, PR. ).

Durante o período da pesquisa, encontramos cantores envolvidos com o funk gospel e um circuito de seu consumo que envolvia igreja e atividades seculares realizadas pela prefeitura da cidade. Entramos em contato com MC Mateus CG e, a partir dele, chegamos a outros, como MC William de Jesus e Rodrigo. Pelas redes sociais, percebemos o envolvimento da Igreja Semear com a divulgação do funk gospel, pois vários eventos eram estimulados por ela.

A Igreja Semear está localizada no bairro Parque Califórnia, que conta com escola técnica, universidade pública, comércio e condomínios residenciais. A igreja foi criada em 1999 e assumiu a figura de organização religiosa em 2009. Ela conta com 2.800 adeptos fixos, todos participantes nas suas 460 células - grupos de até doze pessoas com o objetivo proselitista. É considerada a terceira maior igreja em Campos dos Goytacazes, já que a Segunda Igreja Batista de Campos tem 4.100 membros e a Assembleia de Deus Central possui 3.500 membros (Boechat, Dutra e Py 2018BOECHAT, João R.; DUTRA, Roberto; PY, Fábio. (2018), “Teologia da prosperidade campista: Apóstolo Luciano e suas ressignificações religiosas na Igreja Pentecostal Semear”. Religião & Sociedade , vol. 38, nº 2: 198-220.).

O criador da Igreja Semear é o apóstolo Luciano Vicente, que é o seu pastor presidente; sua esposa tem o cargo de vice-presidente, e ambos recebem a contribuição de onze pastores auxiliares e voluntários, responsáveis por diversas áreas da igreja: rede de jovens, mulheres, casais e noivos. O início da igreja ocorreu quando o apóstolo Vicente passou a atuar em Campos dos Goytacazes, no começo dos anos 2000, pregando a teologia da prosperidade quando ainda era pastor da Comunidade Evangélica de Integração da Família (CEIFA), surgida em Itaperuna, Rio de Janeiro. A ruptura com a CEIFA ocorreu por causa da interpretação dessa teologia, pois no neopentecostalismo ela baliza a busca pelo bem-estar e a resolução de questões imediatas - aquisição de emprego ou cura de doença, por exemplo. Já na Igreja Semear ocorre a difusão de uma disposição em conquistar o mundo, em obter sucesso financeiro, na vida em família e nas relações sociais (Boechat 2017BOECHAT, João. (2017), Religião e Classe Social: uma análise dos especialistas religiosos de diferentes segmentos evangélicos sob a influência do Pentecostalismo. Campos dos Goytacazes: Dissertação de Mestrado em Sociologia Política, UENF.).

A partir dos cantores contatados, acessamos blogs, sites, jornais da cidade (como O DiárioO DIÁRIO. (2012), “MC Polliana lança o CD ‘Funk Abençoado’”. O Diário. Disponível em: Disponível em: http://www.odiariorj.com/funk-do-bem/ . Acesso em: 10/02/2013.
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, Terceira via, Folha da Manhã online), Facebook e rádios evangélicas locais (como a Rádio Paz 87.9 FM, Rádio Restitui Gospel, entre outras) para a obtenção de informações sobre as agendas de shows que ocorriam na região e divulgadas por redes sociais. Durante as conversas, nossos interlocutores explicitaram que o funk era algo difundido na região e os bailes aconteciam em favelas como a Tira Gosto (TG) e Matadouro, que ficam perto da Igreja Semear, em alguns clubes e casas de festa, como a antiga Excess Club, localizada no centro, e a Big Field, situada no bairro de Guarus, um distrito da cidade, os quais, também, podiam contar com a apresentação de algum DJ especializado no gênero.

Os depoentes informaram que sempre tiveram dificuldade para divulgar seus trabalhos musicais, pois, como afirmou um deles: “antigamente havia um preconceito muito grande por parte das igrejas mais tradicionais em relação aos grupos por não apresentarem aquela forma clássica de música”. Atualmente, o funk e o rock são tocados em eventos realizados em salões de igrejas por ocasião de alguma festa, assim como fora delas, como na Marcha para Jesus com a apresentação de bandas e de algum DJ. Ademais, tocam em rádios evangélicas como outros subgêneros da música gospel, inclusive as músicas da MC Polliana Gospel Funk, quando a sua divulgação era mais intensa na cidade. Isso nos levou a indagar sobre as ações empreendidas pelos cantores para que sua música tenha aceitação e circulação no meio religioso.

MC Polliana Gospel Funk, sua trajetória e canções

Diante dos cantores contatados, terminamos por selecionar MC Polliana Gospel Funk, a única mulher no meio funk gospel na cidade de Campos dos Goytacazes e que se identifica como cantora e ainda relaciona isso com a atividade missionária. O nosso interesse estava em compreender como constrói sua trajetória num meio religioso que tem ostentado a retórica da salvação e do distanciamento do mundo e, ao mesmo tempo, efetivado práticas de apropriação e combinação com o que é produzido além de seus limites.

Consideramos, além disso, que o funk é uma expressão musical imbricada no circuito musical afrodiaspórico e, no Brasil, ele tem sido relacionado com moradores de favelas e periferias urbanas, onde há forte presença de negros - pretos/pardos. É perpassado por estereótipos e preconceitos, sendo associado com a violência e o tráfico de drogas. Contudo, no meio evangélico, o funk tem integrado a chamada música negra gospel, que aparece como um espaço para reflexão acerca da temática étnico-racial.

O critério de escolha da cantora guiou-se pelo renome junto ao público, aquele que foi mais citado pelos entrevistados, inclusive outros cantores. Considerando esse critério, o nome de Adriano Gospel Funk, cantor em atuação há mais de uma década e referência, inclusive, para MC Polliana Gospel Funk, também foi lembrado por aqueles com quem conversamos, mas ele não reside na região e nem sempre fazia apresentações na localidade. Então, ela foi contemplada e, assim, estreitamos o contato com a cantora, que é moradora da cidade, tem participado de eventos, bem como divulga seu trabalho em redes sociais, rádio, televisão e outdoors espalhados pela cidade.

Desde o início de nosso contato, MC Polliana Gospel Funk mostrou-se interessada em nossa pesquisa, e logo fizemos uma visita à Igreja Semear, que integra a configuração neopentecostal, da qual ela faz parte. A partir de nossas conversas sobre sua presença no cenário religioso e musical da cidade, passamos a considerar como ela constituía sua trajetória no meio evangélico de uma cidade do interior do estado do Rio de Janeiro, pois, além de sua disposição, havia um contexto sociocultural que tinha implicação naquilo que planejava e fazia1 1 A abordagem de trajetórias individuais pode ser mais bem compreendida quando se entende que os indivíduos elaboram projetos em consonância com suas experiências socioculturais e no interior de um “campo de possibilidades”, o qual é formado por alternativas circunscritas sócio-historicamente, e elas são interpretadas diferentemente nos contextos culturais. Assim, pode ser refletido sobre aquilo que os indivíduos buscam e como planejam sua realização, porém isso não é definido subjetivamente, porque está inserido em “processos históricos” e relacionado a “códigos culturais” (Velho 2003:27-28). .

Esse entendimento acerca da trajetória foi viável para os encontros seguintes, pois MC Polliana Gospel Funk falou-nos de seu percurso na igreja e na música. Assim, ela contou ser casada, ter dois filhos e ser convertida desde 2001. Antes disso, era católica e professora de catequese, porém, quando mais jovem, teve uma desilusão amorosa e, nesse momento, recebeu o convite de uma amiga para conhecer a Igreja Semear. Lá permaneceu. Formou-se em pedagogia, trabalha na escola de sua mãe, que atende crianças do maternal até o ensino fundamental, lecionando inglês e, ainda, trabalha na secretaria do estabelecimento.

Sobre a atividade de cantar, a entrevistada fez um retorno à infância, explicitando que, desde criança, sempre teve muita facilidade para escrever e tinha um caderno em casa cheio de poesias. Ainda jovem, criava composições, tendo participado no passado de concurso de poesia. Quando se converteu, em 2001, diz que começou a “sentir desejo no coração” de escrever letras de músicas evangélicas. Sobre isso, ela disse: “Foi quando me apresentaram uma nova verdade que eu não conhecia que foi uma amiga que vivia me chamando para visitar a célula dela e fui. Nesse período aceitei Jesus e ele mudou o meu caminho. Aí comecei a escrever as músicas, mas não só adoração. Eu escrevia rock, pagode e tudo, mas com letras evangélicas, ligadas à palavra de Deus” (conversa com MC Polliana Gospel Funk, 20/08/2012Conversa com MC POLLIANA GOSPEL FUNK por rede social, 20 de agosto de 2012.).

A conversão foi o início de uma fase da vida que passou a ser marcada com a redefinição da prática de escrever, algo até então conduzido na dimensão privada, mas isso mudou. Ela começou a cantar a partir de 2008, e isso aconteceu quando participou de um evento gospel que ocorreu num clube localizado no centro da cidade onde mora. Sobre o canto, a entrevistada observou: “Olha, quando eu orei a Deus eu falei que quando eu fosse gravar o CD e colocar isso em prática eu queria alguma coisa diferente, eu não queria letras repetitivas, eu queria algo que falasse da palavra de Deus, e que ao mesmo tempo usasse como estratégia o que os jovens gostam porque 90% hoje do público do funk são jovens” (entrevista com MC Polliana Gospel Funk, 14/11/2012Entrevista com MC POLLIANA GOSPEL FUNK, 14 de novembro de 2012.).

Sua fala não destoa daquilo afirmado por outros cantores gospel: transformar as batidas, os sons e os ritmos seculares em músicas que possuam letras, para eles, consideradas de cunho religioso. Segundo a depoente, a intenção seria buscar novos jovens e resgatar até mesmo aqueles que já não frequentavam mais a igreja, através desses novos ritmos. Como os jovens mais se identificam com o funk, ela entendeu que utilizar essa modalidade musical para evangelizar seria adequado para chamar atenção.

Sobre a presença do funk na igreja, a cantora diz não ter enfrentado dificuldade, porque, para ela, já havia vários trabalhos baseados no funk e no hip-hop. Contudo, afirma que: “hoje você ministra pouco o funk dentro das igrejas até porque muitas pessoas ainda não têm um entendimento que podemos fazer uma programação para jovens dentro do ambiente sagrado”. Sobre isso, diz:

Eu me apresento como cantora, mas o que eu faço não deixa de ser um trabalho missionário, porque missão significa quando você vai a determinados lugares com a intenção de fazer a sua missão, que, no caso, é pregar o evangelho e eu faço isso através da música. Então, não deixa de ser um trabalho missionário. Logo, eu não me apresento como missionária e sim como cantora, apesar do trabalho também ter um caráter missionário (entrevista com MC Polliana Gospel Funk, 14/11/2012).

O trabalho, ou missão, feito pela cantora objetiva atrair novos adeptos ao falar da palavra de Deus ao apresentar uma letra que trouxesse uma reflexão, principalmente, para os jovens. Lançando mão de um discurso já consolidado no meio evangélico, explica que se dirige aos jovens porque, segundo ela, estes têm consumido drogas e se prostituído - categorias correntes no meio evangélico e utilizadas para se referir a práticas consideradas de fraca envergadura moral -, na procura da felicidade, e o resultado pode ser o confronto de alguns preceitos bíblicos.

Sobre o seu trabalho musical, MC Polliana Gospel Funk disse que ele seria diferente da batida forte do funk do mundo secular, pois:

Eu não queria o funk batidão, eu queria algo diferente comparando no meio secular com a Kelly Key, como a Bruna Carla e a Pâmela, no meio evangélico, mais dançante e com mais letra. Então, pedi a Deus para que ele me desse canções e aí as músicas começaram a vir. E aí comecei a pegar as músicas de funk e comecei a converter para a música evangélica, e aí criei a música “Online para Jesus” com a participação do Adriano gospel funk (entrevista com MC Polliana Gospel Funk, 14/11/2012).

Ela entende que isso seria um modo diferente de falar da divindade, ao produzir algo novo, diferente porque convertido, e isso tinha a ver com uma comunicação estabelecida com a divindade.

Como escritora de poesias, a nossa entrevistada afirmou que as composições eram suas, porém, com a conversão religiosa e com as orações, passou a sustentar que as composições seriam como outra dádiva em sua vida - a primeira foi a conversão. Elas seriam uma doação da divindade, uma demonstração da resposta de Deus como parte da transformação de sua vida. Isso seria marcado pelo recebimento da inspiração para compor e atuar no novo meio que passava a integrar. Ciente disso, ela entendeu o que fazia e as canções recebidas não como demonstração do mero talento desenvolvido pela prática decorrente do estudo ou trabalho. Seria, sim, um trabalho voltado à retribuição (Mauss 1974MAUSS, Marcel. (1974 [1923-24]), “Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas”. In: M. Mauss. Sociologia e Antropologia. v. II. São Paulo: Edusp. ), destinado a adorar a Cristo, a falar de seu poder e, ao mesmo tempo, ser uma estratégia para evangelizar. Assim, associou as condições de recebedora e retribuidora de dádiva, passando a compor, sem abdicar da musicalidade corrente no contexto em que vivia.

Como uma cantora imbuída de missão religiosa, tendo convertido o funk em funk gospel, ela passou a adquirir lugar diferenciado no meio religioso, e essa visão foi corroborada pela divulgação de seu trabalho.

Segundo o blog do jornalista Fabrício Freitas, voltado a divulgar notícias da cidade de Campos dos Goytacazes e da região norte-fluminense, em uma entrevista realizada com MC Polliana Gospel Funk, em 2011, uma banda de louvor “que ficou muito conhecida na cidade como ‘Banda Avivar’ regravou duas composições da Polliana; uma, inclusive, foi carro chefe do verão 2009 no bloco do Cordeiro em Santa Clara, intitulada ‘Doido por Jesus’”2 2 Fabrício de Freitas: “Mc Polliana lança CD e destaca-se como o mais novo talento gospel de Campos”. Disponível em: http://blogfabriciofreitas.blogspot.com/2011/09/mc-polliana-lanca-cd-e-destaca-se-como.html#comment-form. Acesso em: 21/09/2019. .

Em 2012, ela lançou o seu primeiro CD, intitulado Funk abençoado, que tem dez faixas todas de sua autoria e foi gravado num estúdio montado pela Igreja Semear, a qual disponibilizou um profissional no templo que fez os arranjos musicais e deu as orientações necessárias para o projeto musical. Assim, ela realizou todas as etapas para a produção, inclusive a parte burocrática como o registro das canções. O CD, vendido em livrarias da cidade ou via contato telefônico, tem canções que tratam de assuntos como drogas, prostituição, álcool, sensualidade e sobre bate-papo na internet.

Em sua canção denominada “Funk abençoado”, faixa de divulgação do CD de mesmo título, MC Polliana Gospel Funk diz:

Eu não preciso pecar, Eu não preciso errar, Mas eu preciso louvar hoje aqui, As minhas mãos levantar e a Jesus Cristo adorar; A juventude a vibrar cantando assim: Funk abençoado, funk abençoado, Funk abençoado pra você. Não danço com sensualidade, isso tudo é bobagem. Eu quero é louvar hoje aqui. O funk sem pornografia, sem álcool e nem brigas. A juventude vibra e canta assim: Funk abençoado, funk abençoado, Funk abençoado pra você.

Na composição, a cantora, de um lado, fala na primeira pessoa e associa um comportamento diferenciado, porque dançar é possível para alterar uma forma musical que tem sido associada ao erotismo. De outro, aponta para uma juventude que também pode recompor o conteúdo dessa forma musical com força e ânimo para louvar, opondo-se àqueles que, ainda, cedem aos atrativos da violência e das drogas.

Em outra canção, denominada “Estou online pra Jesus e offline para o pecado”, a cantora diz:

Tem um contato permanente, na minha lista de amigos, Que nunca está ocupado, ausente e nem invisível, No seu nome de perfil está escrito “Jesus”, E na mensagem pessoal: “Eu me entreguei na cruz”. Adicionei Jesus em meu coração, E todo dia passo e-mail através de oração. Estou online pra Jesus e off-line para o pecado. Estou online pra Jesus e off-line para o pecado.

Baseada também na temática da conversão, a canção utiliza termos da tecnologia digital para enfatizar a comunicação entre o indivíduo e a divindade que deve ser sempre reforçada a fim de evitar a incomunicabilidade e, com ela, o pecado, e isso é pertinente à concepção da Igreja Semear, que defende a boa relação com o divino (Boechat, Dutra e Py 2018BOECHAT, João R.; DUTRA, Roberto; PY, Fábio. (2018), “Teologia da prosperidade campista: Apóstolo Luciano e suas ressignificações religiosas na Igreja Pentecostal Semear”. Religião & Sociedade , vol. 38, nº 2: 198-220.). Para que isso aconteça, diversas podem ser as iniciativas dos fiéis da igreja, e isso pode compreender a apropriação de elementos de outros contextos para a reelaboração da forma do discurso religioso o qual tem sido veiculado musicalmente. Porém, as canções não são definidas somente pela linguagem coloquial e com versos curtos, pois elas visam a demarcar a positividade do funk gospel, ressaltando também a evangelização e a moral religiosa (Mendonça 2014MENDONÇA, Joezer de S. (2014), Música e religião na era do pop. Curitiba: Appris.; de Paula 2014DE PAULA, Robson. (2014), “Deslocamentos rítmicos e ressignificação de sentidos: a formação do funk gospel”. In: P. C. Oliveira e S. de S. G. Carreira (orgs.). Diásporas e deslocamentos: travessias críticas. Rio de Janeiro: FGV/Faperj.).

Mas algo além foi realizado por ela para que pudesse, enfim, lançar e ter o seu trabalho reconhecido.

Carreira, relações sociais e produtos

A conversa estabelecida com MC Polliana Gospel Funk possibilitou destacar como tem conduzido sua carreira, pois, além da composição e produção musical, ela tem se dedicado ao estabelecimento de relações artísticas, concepção e confecção de produtos que compreendem conhecimento, projeto, rotina e resultado.

A MC falou que, além de cantar no espaço da igreja, também o faz em lugares distintos, onde se apresentam outros cantores, que são estratégicos, isto é, adequados para o evangelismo. Tais atividades e lugares são eficazes para ela persistir na música gospel com a confirmação de contatos estabelecidos, tal como aconteceu ao conhecer Adriano Gospel Funk. Segundo a cantora, o contato ocorreu no verão, no Circo da Vida, um evento evangélico que ocorre no interior fluminense. A atividade acontece nos meses de janeiro e fevereiro, em Santa Clara, praia localizada em São Francisco do Itabapoana, norte do estado do Rio de Janeiro. MC Polliana Gospel Funk contou que um dia ele se aproximou, e aí acabaram por fazer amizade e conheceram mais de seus trabalhos musicais.

A cantora afirmou que Adriano Gospel Funk3 3 Adriano Gospel Funk tem mais de quinze anos dedicados ao funk gospel e conta com três CDs lançados e condução de apresentações em outros países. Além disso, concorreu ao cargo de deputado estadual no Rio de Janeiro nas eleições de 2018, sendo filiado ao Partido Republicano da Ordem Social (PROS). , um pioneiro do subgênero, participou de uma faixa do seu CD e aparece no encarte. Isso aconteceu devido a um convite dirigido a ele quando participavam de uma apresentação na cidade de Campos dos Goytacazes. No blog dela, vemos a informação de ter contado ainda com as contribuições de MC Law, cantor de funk gospel de São Gonçalo, Alcemir de Jesus, ex-baterista do grupo Os muleques, e DJ Cícero Gospel, produtor de música eletrônica em Belo Horizonte. Essa articulação religiosa e musical é adequada para significar seu trabalho como artístico e missionário e, ainda, ampliá-lo. Ela igualmente estabeleceu relações com outros cantores participando nas aberturas de apresentações de personalidades do cenário gospel, como Fernandinho e Aline Barros.

As relações estabelecidas explicitam que o planejamento da carreira não compreende visar somente ao segmento a ser atingido, mas como isso deverá acontecer, ou seja, quais ações devem ser empreendidas. Desse modo, destacamos que MC Polliana Gospel Funk montou uma equipe formada por duas dançarinas, que se vestiam e dançavam de forma parecida com a cantora. Elas a acompanharam nas apresentações, logo que passou a cantar. Depois, segundo a entrevistada, reorganizou o ministério, conforme as especificidades da dupla e as dela também. Então, colocou quatro jovens da igreja, do sexo masculino e feminino, dançando com roupas de street dance - calça larga, boné e blusa amarrada na cintura -, um vestuário confortável para as danças apresentadas, que têm a ver com passos marcados e que se diferenciam das coreografias sensuais do funk secular.

A rotina para a consolidação da carreira exigiu mais iniciativas, pois, em 2016, a cantora não tinha gravadora, administrava sua agenda artística e cuidava do projeto de atualizar o blog e criar um site, possuindo vídeos no YouTube, com 18.893 visualizações4 4 Para mais informações: https://www.youtube.com/watch?v=ZvQYkZT6nqI. Acesso em: 26/03/2018. . Também esteve dedicada à divulgação de seus materiais: uma boneca, revista em quadrinhos, blusas, CDs, etc., conforme a fotografia abaixo:

Figura 1
Imagem cedida pela cantora.

Esses produtos foram divulgados na Conferência Profética do Clamor, emAcampamento Maanaim na Igreja Evangélica Semear, ocorrido na cidade de Campos dos Goytacazes. Nesse evento, ela se apresentou, bem como os produtos que tem elaborado, compondo, assim, parte do resultado de sua carreira artística. Até o presente momento, no ano de 2018, ela dá continuidade ao seu trabalho, no entanto, agora voltada, cada vez mais, para o público infantil, ficando isso evidente com as fotos que integram o seu blog.

MC Polliana Gospel Funk também trabalha em sua aparência: loira, de cabelos lisos, faz academia, cuida da alimentação, orientada por uma nutricionista, e sempre atenta às roupas cor-de-rosa, que são usadas durante as apresentações. Essa preocupação com a imagem está associada à busca da construção de uma identidade que lhe traga reconhecimento social (Bonfim 2013BONFIM, Letícia Laurindo de. (2013), “Corpo e poder no funk carioca”. Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, SC.). Esses elementos, que remetem a um imaginário acerca do feminino, fazem parte da construção de uma marca que está visível nos materiais de divulgação no blog e no Facebook, assim como no encarte do CD Funk Abençoado. Reservamos o material imagético a fim de, mais do que ilustrar, problematizar a comunicação que tem sido efetivada com os fiéis e os seguidores da cantora.

Figura 2:
Blog da cantora MC Polliana.

No encarte, é possível perceber toda a produção feita para a elaboração e criação da arte do CD da cantora MC Polliana Gospel Funk, que se aproxima da estética de desenho dos mangás japoneses - sobressaindo os traços que marcam a expressividade dos desenhos -, para compor outro nível do discurso artístico e religioso. O material do encarte busca diferenciar a personagem e, consequentemente, o trabalho de MC Polliana. De um lado, a vestimenta tem relevância porque expressa como a artista incorpora a linguagem contemporânea de animação, fazendo dela um modo de informar sobre a atualidade do que realiza. De outro, a vestimenta remete a um uniforme militarizado que pouco expõe o corpo. Isso ainda pode ser observado nas vestimentas da cantora e dos bailarinos, que utilizam calça e camiseta, cuja dança ressalta os passos marcados. Tal conjunto expressa a moralidade que, também, deve demarcar a diferença do seu trabalho e do funk gospel.

A composição do encarte evidencia a busca por adequar a comunicação da cantora com uma linguagem que tem sido difundida entre os jovens, haja vista os desenhos animados veiculados por televisão e os encontros juvenis (Winterstein 2009WINTERSTEIN, Cláudia P. (2009), Mangás e animes: sociabilidades entre cosplayers e otakus. São Carlos: Dissertação de Mestrado em Antropologia Social, UFSCar.). Eles demarcam certa expressividade, e isso lembra um modo de retratar o que se quer mostrar. Como diz Leite (2001LEITE, Miriam Moreira. (2001), Retratos de família: leitura da fotografia histórica. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 3ª ed.), os retratados têm consciência e atitude de estarem sendo observados e, para isso, colaboram com o fotógrafo na construção da imagem. Isso explicita como a imagem, além de integrar o trabalho missionário e artístico, precisa ser visto como construção histórica e cultural que informa sobre o que é comunicado.

Considerações finais

Neste artigo, abordarmos o trabalho de uma artista que produz funk gospel numa cidade do interior do estado do Rio de Janeiro, cujo surgimento está ligado à monocultura açucareira, efetivamente desde o século XVII, e, atualmente, sua economia está relacionada com a oferta de serviços e a produção de petróleo e gás. Nela, há forte presença do cristianismo - com predominância do catolicismo e atuação de igrejas evangélicas que buscam sua influência - e invisibilidade da religiosidade afro-brasileira.

MC Polliana Gospel Funk tem se apropriado do funk, gênero musical que, no Brasil, tem sido historicamente associado com a violência, com a criminalidade e, também, com as juventudes das favelas e subúrbios de grandes cidades. Ele foi inserido no meio evangélico e são encontrados diversos artistas que buscam disseminar o funk gospel, conforme a nossa entrevistada.

Neste texto, evidenciamos a peculiaridade do fazer artístico no meio evangélico, principalmente quando não há vinculação com as empresas fonográficas evangélicas. De modo independente, MC Polliana Gospel Funk tem, no decorrer de anos, elaborado sua carreira a partir da vinculação a uma igreja neopentecostal, estabelecido relações com outros artistas que defendem o mesmo subgênero ou outro gênero, elaborado produtos e ações de divulgação. Isso expressa o envolvimento na preparação de uma carreira que tem a ver com planejamento, com a abertura de lugares para a apresentação, com a articulação de parcerias e a organização de novos produtos, conforme as regras do meio no qual foi gestado (Becker 1977BECKER, Howard. (1977), “Mundos artísticos e tipos sociais”. In: G. Velho (org.). Arte e sociedade: ensaios de sociologia da arte. Rio de Janeiro: Zahar.) e não dependente, exclusivamente, de atributos do artista (Dabul 2007DABUL, Lígia. (2007), “Experiências coletivas sob o olhar sociológico”. Ponto-e-Vírgula, nº 2: 56-67.). Trata-se de conhecimento e escolhas individuais e de serviços utilizados por aqueles que apresentam suas canções, fazem shows, além de utilizarem os veículos de comunicação e as redes sociais para se dirigirem ao público evangélico.

A apreciação da trajetória de MC Polliana Gospel Funk possibilitou observar que a preparação de cantor evangélico é perpassada por tensões, pois, de um lado, há a busca por se tornar uma referência, e, no caso, o cultivo de uma imagem é relevante. O investimento na forma sonora, num discurso de adequação entre forma e mensagem de fé, envolve três pontos: o desenvolvimento de uma representação imagética, que remete a uma técnica que tem apelo entre as juventudes; a apresentação de material de divulgação de seu trabalho musical; o estabelecimento de relações sociais com outros artistas. Isso tem a ver com a busca por conduzir uma carreira que não conta com o apoio de empresas fonográficas, que possibilitam a divulgação e a circulação dos artistas de modo mais exitoso (de Paula 2007).

Tais pontos, além disso, têm estreita ligação com o entendimento da Igreja Semear de o seu membro ser capaz de investir e administrar seus bens, assim como construir e manter uma rede de contatos (Boechat 2017BOECHAT, João. (2017), Religião e Classe Social: uma análise dos especialistas religiosos de diferentes segmentos evangélicos sob a influência do Pentecostalismo. Campos dos Goytacazes: Dissertação de Mestrado em Sociologia Política, UENF.). Essas iniciativas são reelaboradas a partir da arte como missão e, intrinsecamente, ligada à concepção de “eleição espiritual” como força transformadora. Assim, a biografia da cantora e sua atividade musical são ressignificadas e com vistas ao reconhecimento de MC Polliana Gospel Funk e sua música como artista e arte (Adenot 2010ADENOT, Pauline. (2010), “A questão da vocação na representação social dos músicos”. Proa - Revista de Antropologia e Arte, nº 2, vol. 1: 1-15.:2).

De outro lado, a trajetória e a carreira da cantora corroboram o tema da gestão da “vida eclesial”, que é um tema que perpassa a discussão aqui desenvolvida, sobretudo quando considera compor um ministério. Sabemos haver tensão no meio evangélico por causa dos exíguos cargos de comando existentes e ocupados por poucos. Os homens estariam voltados aos cargos de direção, havendo a formação de pastor para a oferta de bens religiosos e de rituais diários (Mariano 2008MARIANO, Ricardo. (2008), “Crescimento pentecostal no Brasil: fatores internos”. Revista de Estudos da Religião, ano 8, dez.: 68-95.). Caberia ao feminino a “multiplicação de novos grupos e movimentos, em geral, de caráter mais carismático e menos formal, o que garante uma capacidade de inclusão de pessoas sem interferir na estrutura organizacional e sua distribuição de prestígio” (Mafra 1998MAFRA, Clara. (1998), “Gênero e estilo eclesial entre os evangélicos”. In: R. C. Fernandes et al. (Orgs.). Novo Nascimento: os evangélicos em casa, na igreja e na política. Rio de Janeiro: Mauad.:14, 16). Também há a participação masculina na criação de grupos menos formais, voltados ao exercício da fé, tendo a música lugar central na apresentação desses arranjos. Então, homens e mulheres que cantam e organizam eventos musicais têm contribuído para a criação de espaços que são entendidos como voltados à arte e ao exercício de fé. Por sua vez, seus criadores têm obtido prestígio e reconhecimento por parte dos fiéis, cooperando para possibilidades de liderança (Pinheiro 2006PINHEIRO, Márcia. (2006), Na “pista” da fé: Música, festa e outros encontros culturais entre os evangélicos do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Tese de Doutorado em Sociologia e Antropologia, UFRJ., 2007aPINHEIRO, Márcia. (2007a), “Música, Religião e Cor - Uma leitura da produção de black music Gospel”. Religião & Sociedade , vol. 27, nº 2: 163-180., 2019PINHEIRO, Márcia. (2007b), “O sagrado e o popular: negritude e canções no Rio de Janeiro”. Textos escolhidos de cultura e arte populares, vol. 4, nº 1: 99-112.).

Essa busca por formar e alicerçar o ministério por MC Polliana coloca a questão sobre a operação realizada para a produção do funk gospel, principalmente o que é expurgado e o que é privilegiado.

Convém explicitar que a literatura sobre música gospel no Brasil registra a reflexão de como esta recepciona as musicalidades do circuito afrodiaspórico, sobretudo aquelas da tradição musical norte-americana, como o funk e a black music, ligada à imagem dos escravizados e possuidores de forte espiritualidade. Essa articulação entre música e religião tem possibilitado a vigência de questões étnico-raciais no meio evangélico, principalmente com elaborações e posicionamentos sobre espaço para o canto, teologia e liderança negra (Pinheiro 2007PINHEIRO, Márcia. (2007b), “O sagrado e o popular: negritude e canções no Rio de Janeiro”. Textos escolhidos de cultura e arte populares, vol. 4, nº 1: 99-112.a; Burdick 2013BURDICK, John. (2013), The color of sound: race, religion, and music in Brazil. New York and London: New York University Press.), exclusão e raça (Neder et al. 2016NEDER, Alvaro, et al. (2016), “Música, religião e produção social de espaço em uma cidade operária - o caso da igreja da pastora Ana Lúcia em Belford Roxo, Rio de Janeiro”. Per musi, nº 34: 132‐176.).

Tais questões não aparecem no espaço de evangelização e exercício de fé que o trabalho de MC Polliana corrobora, mesmo ocorrendo numa cidade com forte ligação com a monocultura açucareira e a escravidão no passado e que, hoje, registra violência dirigida às expressões religiosas afro-brasileiras. Contudo, a cantora se propõe a defender o funk gospel, que vimos como está envolvido em uma disputa de (des)legitimação conduzida por alguns blogs, os quais visam a demarcar a visão de mundo de um grupo religioso e, ainda, resguardar a instância de consagração religiosa definida pela formação e atuação de liderança institucionalizada (Ramos 2018RAMOS, Graziela R. R. (2018), “A (des)legitimação do funk gospel em blogs evangélicos”. Revista Estudos Linguísticos, vol. 47, nº 1: 226-242.).

Para conduzir sua carreira dedicada aos jovens e às crianças, MC Polliana Gospel Funk observa que o funk era alvo de preconceitos e obstáculos e, portanto, algo precisaria ser depurado para que sua versão gospel não enfrentasse os mesmos limites. Sua estratégia foi, então, seguir algo considerado palatável ao adotar um estilo mais suave e conteúdo romântico e não considerado sexualizado. Outro ponto destacado por ela foi o fato de o funk ter sido adotado por outras cantoras no meio evangélico e, ainda, sua divulgação de que seria resultado de seu pedido a Deus. Isso tem a ver com o resgate de algo operacionalizado no meio evangélico, tendo o mesmo ocorrido com a black music gospel/música negra gospel que foi diferenciada da música africana (Pinheiro 2007PINHEIRO, Márcia. (2007b), “O sagrado e o popular: negritude e canções no Rio de Janeiro”. Textos escolhidos de cultura e arte populares, vol. 4, nº 1: 99-112.a, 2007b), pois foi afastado aquilo que seria o seu “poder destrutivo”. Tal redefinição passa a fazer do funk um instrumento de evangelização e relevante na “batalha espiritual contra o diabo” - uma teologia importante para as igrejas neopentecostais (de Paula 2014:138-139). Mas outro elemento pode ser aqui adicionado.

Essa reelaboração do funk gospel envolve o nome da cantora que passa a se chamar MC Polliana Gospel Funk - encontramos na internet onze artistas e um grupo que, também, recorrem à nomenclatura gospel funk para a composição de seus nomes artísticos -, que expressa o gospel como dimensão globalizante.

A observação do depoimento, das canções, da imagem que MC Polliana Gospel Funk divulga em seus produtos, assim como seu nome, evidencia o que torna o funk abençoado: a transformação de sons, objetos e pessoas. Essa mudança ocorre não somente pela luta contra o mal/diabo, mas porque afirma uma crença que perfaz a base da Igreja Semear: a teologia da prosperidade, um dos pilares do neopentecostalismo. No entanto, nessa organização religiosa prega-se a conquista do mundo e a formação de um futuro melhor a partir do cultivo de disposição para o sucesso da transmissão dos valores bíblicos e do fiel no mundo, que estabelece metas e alvos na igreja (Boechat, Dutra e Py 2018BOECHAT, João R.; DUTRA, Roberto; PY, Fábio. (2018), “Teologia da prosperidade campista: Apóstolo Luciano e suas ressignificações religiosas na Igreja Pentecostal Semear”. Religião & Sociedade , vol. 38, nº 2: 198-220.). Isso, portanto, não destoa daquilo que MC Polliana Gospel Funk faz, pois ela busca afirmar o referencial moral e sagrado de sua crença: convertida, ela deve transformar alguém e, também, as diferentes sonoridades. Esse modo de interpretar e se colocar no mundo pode ser evidenciado pela operação que faz do gospel um espaço de atuação e de transformação a partir do sentido adquirido no Brasil. Daí a nomenclatura gospel funk adicionada ao nome dar a dimensão da atuação artística: disseminar mensagens evangelísticas e “boas maneiras”. Essas dimensões envolvem comportamento e vestimentas - para veicular o evangelho - e, então, reafirmam as “fronteiras simbólicas”. Com isso, as dicotomias estruturantes desse meio religioso também são reforçadas, pois o agir no mundo do artista visa a resgatar as sonoridades para a divindade (Pinheiro 2007PINHEIRO, Márcia. (2007b), “O sagrado e o popular: negritude e canções no Rio de Janeiro”. Textos escolhidos de cultura e arte populares, vol. 4, nº 1: 99-112.b; de Paula 2014:147).

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  • Conversa com MC POLLIANA GOSPEL FUNK por rede social, 20 de agosto de 2012.
  • Entrevista com MC POLLIANA GOSPEL FUNK, 14 de novembro de 2012.
  • 1
    A abordagem de trajetórias individuais pode ser mais bem compreendida quando se entende que os indivíduos elaboram projetos em consonância com suas experiências socioculturais e no interior de um “campo de possibilidades”, o qual é formado por alternativas circunscritas sócio-historicamente, e elas são interpretadas diferentemente nos contextos culturais. Assim, pode ser refletido sobre aquilo que os indivíduos buscam e como planejam sua realização, porém isso não é definido subjetivamente, porque está inserido em “processos históricos” e relacionado a “códigos culturais” (Velho 2003VELHO, Gilberto. (2003), Projeto e metamorfose: antropologia das sociedades complexas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. , 3ª ed.:27-28).
  • 2
    Fabrício de FreitasBLOG FABRÍCIO FREITAS. (2011), “Mc Polliana lança CD e destaca-se como o mais novo talento gospel de Campos”. Blog Fabrício Freitas, set. 2011. Disponível em: http://blogfabriciofreitas.blogspot.com/2011/09/mc-polliana-lanca-cd-e-destaca-se-como.html#comment-form . Acesso em: 21/09/2019.
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  • 3
    Adriano Gospel Funk tem mais de quinze anos dedicados ao funk gospel e conta com três CDs lançados e condução de apresentações em outros países. Além disso, concorreu ao cargo de deputado estadual no Rio de Janeiro nas eleições de 2018, sendo filiado ao Partido Republicano da Ordem Social (PROS).
  • 4
    Para mais informações: https://www.youtube.com/watch?v=ZvQYkZT6nqIGOLSPEL631. (2011), MC POLLIANA GOSPEL FUNK. Disponível em: Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZvQYkZT6nqI . Acesso em: 26/03/2018.
    https://www.youtube.com/watch?v=ZvQYkZT6...
    . Acesso em: 26/03/2018.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Fev 2020
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2019

Histórico

  • Recebido
    15 Jun 2018
  • Aceito
    30 Ago 2019
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