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O imaginário (colonial) no ensino de alemão como língua estrangeira no Brasil

Resumos

Este artigo discute o papel da ideologia no ensino de alemão como língua estrangeira no Brasil e aborda questões relacionadas a interrelação linguagem, história e ideologia no material didático tradicional para o ensino de alemão como língua estrangeira.

ideologia; ensino; alemão como língua estrangeira


The article discusses the role of ideology in the teaching of german as foreign language in Brazil and tackles questions related to the interrelationship among language, history and ideology in traditional teaching material for the teaching of german as foreign language.

ideology; teaching; german as foreign language


ARTIGOS

O imaginário (colonial) no ensino de alemão como língua estrangeira no Brasil

Ruth Bohunovsky* * A autora é pós-doutoranda no IEL, UNICAMP, sob supervisão da Profa. Dra. Carmen Zink Bolognini. O projeto de pós-doutorado "Alemão para brasileiros: (re)vendo imagens" está sendo apoiado pela FAPESP (processo número 03/13796-6). 1 Em relação ao conceito de ideologia, este artigo não se orienta pela tradição epistemológica que relaciona a ideologia a idéias como ilusão, distorção ou mistificação de uma suposta realidade (p. ex., Gottfried W. F. Hegel, Karl Marx, George Lúkacs), nem pela tradição sociológica que se interessa pela função das idéias na vida social (cf. Terry Eagleton, 1997: 16). Ecoando John B. Thompson, entende-se por ideologia "os modos pelos quais o significado (ou a significação) contribui para se manter as relações de dominação" (1984, apud Eagleton, 1997: 19). 2 Cf., por exemplo, Edward Said (1999). 3 Friedrich Nietzsche, Michel Foucault e Jacques Derrida destacam-se como os pensadores mais influentes para essa perspectiva "discursiva-desconstrutivista". Para uma discussão sobre a concepção de signo nesse contexto teórico-filosófico, cf., por exemplo, Rosemary Arrojo (1992). 4 Cf., por exemplo, Coracini (1999; 2003). 5 Bolognini baseia-se, sobretudo, em Eni P. Orlandi (1988; 1990; 1993). 6 Bolognini refere-se exclusivamente à Alemanha, mas a mesma argumentação poderia ser desenvolvida em relação aos outros países de língua alemã, isto é, a Áustria e a Suíça. 7 O fato de a Alemanha, a Áustria e a Suíça não terem participado ativamente na colonização do Brasil não significa que o discurso dominante nesses países não tenha incorporado as características geralmente associadas ao discurso colonial. Para discussões mais aprofundadas sobre esse tema, cf., por exemplo, Ana Maria de M. Belluzzo (2000), Celeste H. M. R. de Sousa (1996). 8 A base para a argumentação aqui desenvolvida tem sido Themen Neu, Moment mal, Die Suche e Stufen. Essa escolha se deve à popularidade desses livros no ensino de alemão como língua estrangeira no Brasil. 9 Não deve ser ignorado que existe material didático para o ensino de alemão como língua estrangeira que coloca em xeque o imaginário ufanista acerca da Alemanha como, por exemplo, a série de vídeos "Bildschirm". Porém, esse material não é concebido como base para um curso de alemão, mas apenas como material adicional, geralmente pouco utilizado em sala de aula. 10 O único material didático para o ensino de alemão como língua estrangeira publicado no Brasil segue a metodologia estruturalista e não aborda, explicitamente, as especificidades extralingüísticas do contato entre brasileiros e alemães/austrícos/suíços (Anke e Jörg Rautzenberg, 1978). 11 Cf., por exemplo, as contribuições em X. Internationale Deutschlehrertagung: Tagungsbericht (1993: 129-139); XI. Deutschlehrertagung Amsterdam: Thesen der Sektionsbeiträge (1997: 31-60); IV Congresso brasileiro de professores de alemão (1999); XI Congresso da Associação Latino-americana de Estudos Germanísticos (2003).

(UNICAMP).

RESUMO

Este artigo discute o papel da ideologia no ensino de alemão como língua estrangeira no Brasil e aborda questões relacionadas a interrelação linguagem, história e ideologia no material didático tradicional para o ensino de alemão como língua estrangeira.

Palavras-chave: ideologia, ensino, alemão como língua estrangeira.

ABSTRACT

The article discusses the role of ideology in the teaching of german as foreign language in Brazil and tackles questions related to the interrelationship among language, history and ideology in traditional teaching material for the teaching of german as foreign language.

Key-words: ideology, teaching, german as foreign language.

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  • SOUSA, C. H. M. R. de. (1996). Retratos do Brasil: hetero-imagens literárias brasileiras. São Paulo: Arte & Cultura.
  • *
    A autora é pós-doutoranda no IEL, UNICAMP, sob supervisão da Profa. Dra. Carmen Zink Bolognini. O projeto de pós-doutorado "Alemão para brasileiros: (re)vendo imagens" está sendo apoiado pela FAPESP (processo número 03/13796-6).
    1 Em relação ao conceito de ideologia, este artigo não se orienta pela tradição epistemológica que relaciona a ideologia a idéias como ilusão, distorção ou mistificação de uma suposta realidade (p. ex., Gottfried W. F. Hegel, Karl Marx, George Lúkacs), nem pela tradição sociológica que se interessa pela função das idéias na vida social (cf. Terry Eagleton, 1997: 16). Ecoando John B. Thompson, entende-se por ideologia "os modos pelos quais o significado (ou a significação) contribui para se manter as relações de dominação" (1984, apud Eagleton, 1997: 19).
    2 Cf., por exemplo, Edward Said (1999).
    3 Friedrich Nietzsche, Michel Foucault e Jacques Derrida destacam-se como os pensadores mais influentes para essa perspectiva "discursiva-desconstrutivista". Para uma discussão sobre a concepção de signo nesse contexto teórico-filosófico, cf., por exemplo, Rosemary Arrojo (1992).
    4 Cf., por exemplo, Coracini (1999; 2003).
    5 Bolognini baseia-se, sobretudo, em Eni P. Orlandi (1988; 1990; 1993).
    6 Bolognini refere-se exclusivamente à Alemanha, mas a mesma argumentação poderia ser desenvolvida em relação aos outros países de língua alemã, isto é, a Áustria e a Suíça.
    7 O fato de a Alemanha, a Áustria e a Suíça não terem participado ativamente na colonização do Brasil não significa que o discurso dominante nesses países não tenha incorporado as características geralmente associadas ao discurso colonial. Para discussões mais aprofundadas sobre esse tema, cf., por exemplo, Ana Maria de M. Belluzzo (2000), Celeste H. M. R. de Sousa (1996).
    8 A base para a argumentação aqui desenvolvida tem sido
    Themen Neu, Moment mal, Die Suche e
    Stufen. Essa escolha se deve à popularidade desses livros no ensino de alemão como língua estrangeira no Brasil.
    9 Não deve ser ignorado que existe material didático para o ensino de alemão como língua estrangeira que coloca em xeque o imaginário ufanista acerca da Alemanha como, por exemplo, a série de vídeos "Bildschirm". Porém, esse material não é concebido como base para um curso de alemão, mas apenas como material adicional, geralmente pouco utilizado em sala de aula.
    10 O único material didático para o ensino de alemão como língua estrangeira publicado no Brasil segue a metodologia estruturalista e não aborda, explicitamente, as especificidades extralingüísticas do contato entre brasileiros e alemães/austrícos/suíços (Anke e Jörg Rautzenberg, 1978).
    11 Cf., por exemplo, as contribuições em
    X. Internationale Deutschlehrertagung: Tagungsbericht (1993: 129-139);
    XI. Deutschlehrertagung Amsterdam: Thesen der Sektionsbeiträge (1997: 31-60); IV Congresso brasileiro de professores de alemão (1999); XI Congresso da Associação Latino-americana de Estudos Germanísticos (2003).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Nov 2013
    • Data do Fascículo
      Jun 2005
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