Acessibilidade / Reportar erro

A população no passado colonial brasileiro: mobilidade versus estabilidade

Resumos

O artigo apresenta diretrizes teóricas da história da população da América lusa colonial tendo como eixo narrativo - sem resvalar numa história regional - os habitantes dos campos paranaenses, no quadro cronológico do século XVIII.

América portuguesa colonial; história demográfica.


The article presents the theoretical main lines of the history of portuguese colonial America's population with a narrative axis not based on regional history but on the history of the inhabitants Parana's fields, during the XVIIIth century.

Portuguese colonial America; demographic history.


Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

  • 1
    MARTIUS, Carlos Frederico. Como se deve escrever a história do Brasil. Revista do IHGB, 1(10);149-57, 1841, p. 408.
  • 2
    ABREU, J. Capistrano de. Caminhos antigos e povoamento do Brasil. 4a ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: MEC/INL, 1975.
  • 3
    RIBEIRO, João. História do Brasil. (5a ed.) Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1914, pp. 23-4.
  • 4
    MACHADO, Brasil Pinheiro. Problemática da cidade colonial brasileira. História: questões & debates, 6(10):3-23, jun. 1985, p. 17.
  • 5
    Cf. KREAGER, Philip. Demographic regimes as cultural systems. In: COLEMAN, D & SCHOFIELD, R. (eds.). The state of Population Theory. Nova York: Basil Blackwell Ltd., 1986.
  • 6
    De forma conservadora, estima-se que no século XVIII devem ter saído de Portugal por volta de 400 mil migrantes {MARCÍLIO, Maria Luiza, A população do Brasil Colonial. In: BETHEL, Leslie. História da América latina: A América Latina Colonial, vol. II. São Paulo: Edit. da USP; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 1999, 322; FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 23a ed. São Paulo: Editora Nacional, 1989, 81; SOUZA, Laura de Mello e. Desclassificados do ouro: a pobreza mineira no século XVIII. Rio de Janeiro: Graal, 1986, p. 24; PRADO JR., Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 1996, 88}.
  • 7
    ALENCASTRO, Luiz Felipe de. Singularidade do Brasil. In: _____. O trato dos viventes. Formação do Brasil no Atlântico Sul; séculos XVI e XVII. São Paulo: Cia. das Letras, 2000:340-1 e 337. Ver, também, ABREU, op. cit.1975:57-8.
  • 8
    Cf. GOLDANI, Ana Maria. O regime demográfico brasileiro nos anos 90: desigualdades, restrições e oportunidades demográficas. In: GALVÃO, Loren & DÍAS, Juan (org.). Saúde sexual e reprodutiva no Brasil. (Local): Hucitec/Population Council, 25-26.
  • 9
    Não se quer entrar aqui na rica polêmica que poderia ser ensejada por comentário con-clusivo de ALENCASTRO em trabalho recente: "A continuidade da história colonial não coincide com a continuidade do território colonial. A transparência intermitente de uma matriz colonial que é distinta da unidade nacional brasileira inverte a cronologia e sugere uma seqüência histórica alternada: o século XIX está mais perto do século XVII do que do XVIII" op. cit., p. 353.
  • 10
    FURTADO. op. cit., p. 11/74.
  • 11
    ALENCASTRO. op. cit., pp. 330 e 334.
  • 12
    SOUZA. op. cit, p. 57.
  • 13
    A comparação é feita com Angola, onde não haveria "miscigenação": "o colonato local tinha filhos com as negras. Mas não havia mestiçagem: quando os pais se afastavam ou morriam, as mães retornavam às suas aldeias com seus filhos mulatos, levando-os de volta à comunidade tradicional e à africanização" {ALENCASTRO, op. cit. p. 350-1}.
  • 14
    SIMONSEN, Roberto C. História econômica do Brasil (1500/1820). São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1969, p.135. (6a ed.)
  • 15
    BOXER, Charles R. A idade do ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. 3a ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000, p. 35.
  • 16
    Deixo de lado uma discussão mais aprofundada do assunto, indicando o texto de TORRES-LONDOÑO, a respeito das "mulheres da terra e seu destino: escravidão e mancebia". TORRES-LONDOÑO, Fernando. A outra família. Concubinato, Igreja e escândalo na colônia. São Paulo: Edições Loyola, 1999: pp. 31-46. Da mesma forma, MAXWELL, Kenneth. A Amazônia e o fim dos jesuítas. Folha de S. Paulo; Mais! 26.08.2001, p. 15.
  • 17
    ALENCASTRO, op. cit., p. 352.
  • 18
    Diz-se das populações que não utilizam, pelo menos generalizadamente, métodoscontraceptivos.
  • 19
    Casamentos. Livro 3 (1762-1784 - destinado a escravos, mulatos e bastardos). Paró-quia de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba, acervo da Catedral.
  • 20
    A respeito da população mineira , BOXER dá atenção aos "garimpeiros", brancos ou decor e livres. A marginalização desta categoria devia-se ao fato de que exerciam uma atividade ilícita (o garimpo de diamantes). Relativamente estáveis, na medida em que muitos tinham sua família "num arraial ou aldeia vizinha, e podia exercer o duplo papel de trabalhador legal e mineiro ilícito" {...} Praticamente, viviam lado a lado com escravos negros fugidos ("calhambolas") que também exerciam o garimpo e "muitas vezes tinham de matar gado e animais domésticos para se manterem vivos, e daí poderem ser classificados como bandidos e ladrões {...}; viam-se freqüentemente contra todos os homens livres, e não tinham refúgio seguro a não ser no quilombo". BOXER, Charles R, op. cit. pp. 234-6. Nesse sentido, Sheila FARIA alerta para o cuidado em não se generalizar a qualificação dos andarilhos como "marginais" e "desclassificados", sob pena de se adotar premissas do pensamento dos grupos dominantes do período {FARIA, Sheila de Castro. A colônia em movimento; fortuna e família no cotidiano colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998, pp. 108-9}.
  • 21
    SOUZA, op. cit. p. 63.
  • 22
    PRADO JR., op. cit. p. 1996:36.
  • 23
    NADALIN, Sergio Odilon. A demografia numa perspectiva histórica. Belo Horizonte: Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP), 1994, p. 23.
  • 24
    Gregório Gonsalves Fernz {Fernandez} Filho de Clemente Gonsalves natural de Cora cazado de Ide de {28} annos estatura baixa cara comprida trigro cabelo pretto e Corredio sentou prassa em 9 de novembro de 1766 annos {"Mostra de 8 de abril (de) 1776" (terceira esquadra, Vila de Curitiba)}.
  • 25
    BOXER, op. cit., p. 284.
  • 26
    OLIVEIRA VIANNA, F.J.. Populações meridionais do Brasil: história, organização, psicologia. 5a ed. Rio de Janeiro: José Olympio, v.1, 1952. pp. 119-20. Este autor também classificou as bandeiras em dois tipos: Primeiramente, as "bandeiras de guerra", constituído de "bandos sertanistas de simples exploração do sertão, de prêa ao índio, de caça ao ouro, de combate aos quilombos {...}". Ao se ultrapassar essa fase, as bandeiras de guerra transformam-se em "bandeiras de colonização", e o escravo negro e o mulato são preferidos, na sua constituição, ao mameluco e ao indígena {121}.
  • 27
    SCHWARTZ, Stuart B. O Brasil Colonial; 1580-1750: as grandes lavouras e as periferias. In: BETHEL, Leslie. História da América latina: A América Latina Colonial, vol. II. São Paulo: Edit. da USP; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 1999a, pp. 384-5.
  • 28
    Talvez em nenhum lugar este fato fosse tão evidente quanto na região das minas, emfunção da corrida do ouro: "O fato de tantas pessoas de ambos os sexos e de várias cores viverem no Brasil 'a lei da Natureza', conforme vice-reis, bispos, magistrados e missionários estavam constantemente deplorando, deu origem a um enxame de mendigos sem lar, errantes e vadios, que em parte alguma constituíram problema tão grande como para as autoridades de Minas Gerais." Expedientes diversos eram utilizados pelas autoridades, tais como deportar os piores para Angola. "Outro expediente predileto estava no alistar mulatos, negros, ameríndios e mestiços livres em bandos armados, sob a direção dos chamados capitães-do-mato, que batiam a região rural em busca de escravos negros fugidos." {BOXER, op. cit., pp. 193-195}.
  • 29
    É digno de nota, por exemplo, que em 1801, foram contabilizados 81 imigrantes portugueses em Curitiba. Número importante, se for considerado que em todo o litoral paranaense viviam 85 portugueses. BACELLAR, Carlos de Almeida Prado, Os reinóis na população paulista às vésperas da independência. XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais. Caxambu: ABEP, 2000, pp. 7-9.
  • 30
    Na paróquia de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba essa situação era tão especial que levou o vigário a distingui-la. Os casamentos, batismos e óbitos de escravos, administrados, forros e "bastardos" realizados durante o século XVIII mereciam um livro especial, separando-os dos registros dos eventos relativos aos de boa casta, "gente branca" e livre. Essa prática é, de certa forma, coerente com a designação de "bastardo", dada particularmente em São Paulo (que, naquela época, incluía os campos curitibanos). HOLLANDA, Sérgio Buarque de Caminhos e fronteiras. 2a ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1975, p. 144.
  • 31
    Idades estimadas em função dos registros de batismo dos noivos. Para Gregório, essa informação foi recuperada nos Autos de Casamento (foi batizado em 17.05.1749, em Antonina, no litoral), Microfilmes, Rolo 12, do acervo do Cedope, Centro de Documentação e Pesquisa da História dos Domínios Portugueses, Departamento de História, UFPR. O documento original consta do acervo do Arquivo Dom Leopoldo Duarte, Cúria Metropolitana de São Paulo.
  • 32
    SOUZA, Antonio Candido de Mello e. Os parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida. 5a ed. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1979, p. 63.
  • 33
    FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata. 4a ed. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997, p. 98. A autora continua: "Esse equilíbrio foi rompido e o correspondente estilo de vida perdeu-se como possibilidade regular de ajustamento social, com o desenvolvimento da exploração lucrativa da terra".
  • 34
    SOUZA, op. cit. 1979, pp. 62-3.
  • 35
    Termo tradicional, designando um "domicílio".
  • 36
    BOXER, op. cit., pp. 283-4.
  • 37
    VALENTIN, Agnaldo. Ouro paulista: estrutura domiciliar e posse de escravos em Apiaí,1732 a 1798. Estudos Econômicos, São Paulo, 31(3):551-585, jul.-set. 2001, pp. 557-9;559. Não cabe neste espaço refazer a trajetória da pesquisa do autor. Sua pesquisa vai adiante, até o final do século XVIII (1798), com uma complexidade maior dos resultados que, no final das contas, corroboram as análises.
  • 38
    Gregório inclui-se entre os chefes de domicílio da categoria "casal com filhos". Em 1776,esses fogos formavam 60,8% do total (87,1% constituíam o total da população concentrada em domicílios "simples), e eram 54,5% em 1785 (proporção total de domicílios simples contabilizados nesse recenseamento era 78,5%). DE BONI, Maria Ignês Mancini A população da Vila de Curitiba segundo as listas nominativas de habitantes; 1765-1785. Curitiba, Universidade Federal do Paraná, Dissertação de Mestrado,1974, p. 101.
  • 39
    DE BONI, op. cit., p.101.
  • 40
    DE BONI, op. cit., 101.
  • 41
    MARTINS, Romário. História do Paraná. (3a ed.). Curitiba: Ed. Guaíra, s.d. p. 205.
  • 42
    A área mencionada é estimada por PRADO JR., que coloca na região aproximadamen-te 600 mil habitantes, no início do século XIX {PRADO JR., C. op. cit. p. 56}. Para incluir São Paulo e Paraná, simplesmente agregamos dados de tabela publicada por MARCÍLIO, Maria Luiza. Crescimento histórico da população brasileira até 1872. Cadernos CEBRAP, 16, 1973, p. 13.
  • 43
    Maria Luiza MARCÍLIO aventa, para o século XIX, os seguintes "sistemas demográficos":(1) das economias de subsistência; (2) das economias das plantations; (3) das populações escravas; (4) das áreas urbanas {MARCÍLIO, Maria Luiza Sistemas demográficos no Brasil do século XIX. In: _____ (org.) População & sociedade. Evolução das sociedades pré-industriais. Petrópolis: Vozes, 1984:193-207}. Ao discutir esta questão, foi proposto pensá-la também para o século XVIII {NADALIN. op. cit. 85-93]; aliás, dir-se-ia que a própria autora em referência faz isso, ao recuperar implicitamente o tema em 1999.
  • 44
    SOUZA, op. cit. 1979, P. 62.
  • 45
    Idem, p. 75.
  • 46
    FARIA. op. cit. p. 61-8. VAINFAS, Ronaldo. Trópico dos pecados; moral, sexualidade e Inquisição no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1989, p. 101.
  • 47
    SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Sistema de casamento no Brasil colonial. São Paulo: Queiroz, 1984, pp. 37-8.
  • 48
    ALMEIDA, Ângela Mendes de. O gosto do pecado: casamento e sexualidade nos manuais de confissões dos séculos XVI e XVII. Rio de Janeiro: Rocco, 1992, p. 125 (sem grifo no original). A não ser, naturalmente, que questões de poder levassem determinado vigário a metamorfosear, ou a elevar, um comportamento relevado pela sociedade à categoria de "escândalo", um mau exemplo que deveria ser eliminado (a esse respeito, ver TORRESLONDOÑO. op. cit. 159 e seguintes). Luis Henrique MOTT comentou, num seminário na UFPR, há alguns anos: no clima pós-tridentino da Contra-Reforma, mais preocupante do que a mancebia era a possibilidade da bigamia, que atentava contra o próprio sacramento do matrimônio.
  • 49
    VENÂNCIO, Renato Pinto. Nos limites da sagrada família: ilegitimidade e casamento no Brasil Colonial. In: VAINFAS, Ronaldo (org.). História e sexualidade no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1986, pp. 110-1.
  • 50
    BURMESTER, Ana Maria de O. Population de Curitiba au XVIII e siècle. Montreal: Universidade de Montreal, Tese, Doutorado,. 1981: 140 e 148. Por enquanto, nada nos impede de generalizar estes números para a totalidade da população pobre da colônia, inclusive para as uniões consensuais relativamente estáveis.
  • 51
    BACELLAR, Carlos de Almeida Prado. Os senhores da terra: família e sistema sucessória entre os senhores de engenho do oeste paulista, 1765-1855. Campinas: Área de Publicações CMU/Unicamp, 1997, pp. 62 e 59.
  • 52
    SCHWARTZ. op. cit. 1999a, pp. 362 e 421.
  • 53
    A partir das incursões bandeirantes, os tupis-guaranis que habitavam a região ou forammortos, aprisionados ou fugiram para o sul. Tempos depois, o Paraná Ocidental foi ocupado pelos Crens (Caigangs e suas variedades) e pelos Gês (Botocudos). Esse processo tem uma história, muito bem contada por HEMMING, John. Os índios e a fronteira no Brasil Colonial. In: BETHEL, Leslie. História da América latina: A América Latina Colonial, vol. II. São Paulo: Edit. Da USP; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 1999, p. 423 e seguintes.
  • 54
    MARCÍLIO {op. cit., 1999:313} endossa o número de 2.431.000, contabilizado por John HEMMING em 1978. BOXER {op. cit. P. 306} não acredita que o número de ameríndios no Brasil possa ter sido maior do que 1 milhão. DENEVAN, pelo contrário, estima que somente os índios da Bacia Amazônica somassem entre 3,7 e 5 milhões {BETHEL, Leslie. Notas sobre as populações americanas às vésperas das invasões européias. In: _____. História da América latina: A América Latina Colonial, vol. II. São Paulo: Edit. Da USP; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 1999. pp. 130-1}.
  • 55
    Foi, como qualifica Maria Luiza MARCÍLIO, um verdadeiro "holocausto" {OP. CIT., p. 1999:313-5}. ALENCASTRO chama a atenção para a coincidência entre a crescente importância do tráfico africano, a conseqüente diminuição da importância econômica do cativeiro dos índios, e o sistemático extermínio da população nativa. Cada vez mais, principalmente no que se referia às regiões de expansão do gado, as populações indígenas constituíam um embaraço a ser eliminado {op. cit., pp. 336-7}.
  • 56
    BOXER, op. cit. p. 295.
  • 57
    Na prática, o índio passou a integrar de maneira complementar a mão-de-obra cativa,a partir da segunda metade do século XVIII {ALENCASTRO, op. cit. p. 339}. Ainda no século XIX, como presa de guerra {Carta Régia de 1808. Apud BALHANA, Altiva Pilatti et al. História do Paraná. Curitiba: Grafipar, 1969, p. 82}.
  • 58
    BOXER. op. cit. 304 e 294-299. MARCÍLIO, op. cit, 1999, p. 314-5. FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. Rio de Janeiro: Record, 1997, pp. 154 e 157.
  • 59
    MARCÍLIO. op. cit. 1999, p. 319.
  • 60
    BALHANA et al., op. cit., 1969, p. 75.
  • 61
    Ver quadro 1, anexo.
  • 62
    IHGEB, 1868, apud DE BONI, op. cit., p. 23. Sobre as fontes de dados demográficos censitários para a história da população brasileira e respectivos comentários, ver em especial ALDEN, Dauril. O período final do Brasil Colônia, 1750-1808. In: BETHEL, Leslie. História da América latina: A América Latina Colonial, vol. II. São Paulo: Edit. da USP Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 1999, pp. 528-540, GRAHAM, Douglas H. & MERRICK, Thomas W. População e desenvolvimento econômico no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1981, pp. 45-51 e MARCÍLIO, op. cit. 1973.
  • 63
    O governador da capitania, D. Luis Antônio de Souza Botelho e Mourão, o Morgadode Mateus, informava, em 1776 que, "muitos moradores da Vila de Curitiba, atendendo às conveniências de sua acomodação [...] se têm ausentado de suas habitações, desertando delas para os matos". Apud BALHANA et al., op. cit., 1969, p. 76. Uma crítica deste tipo de documentação tem de levar em conta, necessariamente, a possibilidade de subenumerações de membros adultos e solteiros dos domicílios.
  • 64
    SOUZA. op. cit. 1979, p. 36.
  • 65
    FRANCO. op. cit.,p. 61.
  • 66
    SOUZA. op. cit., 1986:144. Bem mais tarde, em 1776 e no contexto curitibano de Gregório e Anna Maria, somente 45 domicílios eram chefiados por mulheres (das quais, 38 eram viúvas com filhos), para um total de 434 unidades - ou seja, 10,4%. Em 1785, esta proporção é praticamente a mesma: 10,8%, representando 64 (61 de viúvas com filhos) domicílios em 595 {DE BONI, op. cit. p. 180}.
  • 67
    HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e fronteiras. 2a ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1975, pp. 12-40. Ainda, como descreve Antônio Cândido, "A combinação dos traços culturais indígenas e portugueses obedeceu ao ritmo nômade do bandeirante e do povoador, conservando as características de uma economia largamente permeada pelas práticas de presa e coleta, cuja estrutura instável dependia da mobilidade dos indivíduos e dos grupos. Por isso, na habitação, na dieta, no caráter do caipira, gravou-se para sempre o provisório da aventura." {op. cit. 1979:37}.
  • 68
    Anna Maria foi batizada na capella do Senhor bom Jesus dos Perdões, da freguesia de Curitiba, em 2 de março de 1752. Pais e padrinhos eram moradores do bairro de São José, onde se localizava a capela. Batismo . Livro 2 (1731{28}-1756{72}). Acervo do Arquivo da Catedral Basílica Menor Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba.
  • 69
    O processo que resultou nos proclamas do casamento contém a informação do Vigário da Paróquia Nossa Senhora do Pilar sobre o batismo de Gregório (17 de maio de 1749) {Microfilme do acervo do Centro de Documentação e Pesquisa da História dos Domínios Portugueses, Departamento de História, UFPR}. Os recenseamentos de 1801 e 1803, relativos à Segunda Companhia de Ordenança de Curitiba, confirmam que Gregório Gonçalves era oriundo da Vila de Antonina {LUI, Eduard Henry. Bastardia e marginalidade social; Curitiba, século XVIII. Curitiba, 2002. Monografia, Curso de História, Universidade Federal do Paraná, 2002, p. 43}.
  • 70
    Bairros de Butiatuva, Tinguiquera, Distrito de Roberto Cardozo, Povoação de Nossa Senhora do Amparo, e bairro do Itaperuçú {LUI, 2002:56 - Ver de novo a tabela 1, anexa}.
  • 71
    BACELLAR. op. cit., p. 2000:8.
  • 72
    Apud BALHANA et al., op. cit.,1969, p. 74-5.
  • 73
    É preciso, entretanto, destacar que Anna Maria era oriunda da freguesia de São José. Pelo que se depreende, seus moradores eram mais pobres do que os que tinham sítio em Curitiba. A respeito deles, a Câmara de Curitiba destacava que, "obrigados da necessidade de se alimentarem, é querível a diligência que terão em plantar para comer, e contudo é constante que nunca tiveram de seus frutos com que passar o ano, vivendo comumente das farinhas de Paranaguá, e por isso os que podem lavram nas faisqueiras do arraial e na conconha para ela e para o Rio de São Francisco
  • 74
    Sobre os diversos recursos alimentares dos "paulistas" nos séculos XVII e XVIII, verHOLLANDA. op. cit. 1975 e SOUZA, op. cit. 1979.
  • 75
    SCHWARTZ. 1999a: op. cit. p. 418.
  • 76
    É muito provável que, nas zonas de agricultura mista, baseada no trabalho familiar livre, as taxas de fecundidade eram maiores do que para os casais de status semelhante que viviam nas zonas de agricultura monocultora de exportação, operadas por mão-de-obra escrava. MARCÍLIO, op. cit., 1999:324.
  • 77
    BALHANA, op. cit., p. 88 e 91.
  • 78
    O termo "tropeiro" exige uma precisão: dentro da categoria, é possível distinguir o comerciante e proprietário do gado, dos condutores das tropas. Para aprofundar, ver FRANCO, 1997, op. cit. 71.
  • 79
    O exemplo da Lapa, tradicional celeiro de tropeiros no Paraná, é sintomático. Os gráficos relativos à distribuição sazonal dos casamentos mostram uma freqüência diminuta de matrimônios durante parte do ano. CARDOSO, Jayme Antônio & NADALIN, Sergio Odilon. Os meses e os dias de casamento no Paraná - séculos XVIII, XIX e XX. História: questões & debates, 3(5):dez. 1982, p. 61-2.
  • 80
    Cf. SOUZA, op. cit. 1979:76-7.
  • 81
    Ver, novamente, as possíveis indicações na tabela 1.
  • 82
    SOUZA. op. cit. 1979, p. 76.
  • 83
    BURMESTER. op. cit. 1981.
  • 84
    MARCÍLIO. 1986:174.
  • 85
    BURMESTER. op. cit., 1981, p. 250.
  • 86
    Óbitos. Livro 5 (1823-1838{41}, destinado a "brancos, bastardos e escravos"): "Aos quinze dias do mês de setembro do anno de mil oitocentos e vinte e cinco faleceo da vida prezente Anna Maria de Lima de idade de oitenta annos casada com Gregório Gonçalves {...}"
  • 87
    Óbitos, Livro 6 (1839[18]-1856, destinado a todas as categorias), 29 de abril de 1844e 18 de abril de 1843, respectivamente. No primeiro registro consta o falecimento de "Gregório Gonçalves viuvo de idade de cem anos". A correção para 95 anos tem como fundamento o ano do batismo, provavelmente ano do nascimento (ver tabela anexa).
  • 88
    Trata-se de duas marcas possíveis, a partir do estudo realizado por BURMESTER {op. cit. 1981, p. 197 e seguintes}, referindo-se à parcela mais "estável" da população curitibana. Deduz, a partir destes dados, a esperança de vida ao nascer. A relativa amplitude das probabilidades de morte nos libera para algumas generalizações.
  • 89
    BOXER. op. cit. p. 206.
  • 90
    NADALIN, op. cit.,1994, P. 85.
  • 91
    MARCÍLIO, op. cit. 1984:199.
  • 92
    SCHWARTZ, op. cit.,1999a, pp. 341, 347-8, p. 350.
  • 93
    Idem (MARCÍLIO, op. cit. ,1984, p. 199).
  • 94
    PRADO JR., op. cit. 1996, p. 286.
  • 95
    SOUZA, op. cit., 1986, p. 63.
  • 96
    MARCÍLIO, op. cit. 1999, p. 326; 335.
  • 97
    MELLO, Pedro Carvalho de. 1975. Apud GRAHAM & MERRICK, op. cit. p.83. Sua data base, 1872, extrapola a data baliza deste artigo. Igualmente para este período, "Robert Slenes estimou que e expectativa de vida ao nascer {...} era entre 19 e 27 anos para os escravos brasileiros em fins do século XIX, número esse um pouco menos do que os 27,08 calculados para a população brasileira como um todo em 1879" {SCWARTZ, Stuart B Segredos internos; engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. São Paulo: Cia. das Letras, 1999b, p. 303}.
  • 98
    GRAHAM & MERRICK, op. cit., p. 84-6. SCWARTZ, op. cit. 1999b, pp. 314 e 318.
  • 99
    BOXER, op. cit. 198.
  • 100
    GRAHAM & MERRICK, op. cit. p. 55. Ver também SCHWARTZ, op. cit. p. 1999a, p. 354.
  • 101
    SCHWARTZ, op. cit. 1999b,p. 298.
  • 102
    GRAHAM & MERRICK, op. cit. 81. Essas evidências são grifadas pelo autor, num contexto comparativo entre os regimes demográficos nos Estados Unidos e no Brasil.
  • 103
    Alguns autores trocam os termos de causa e efeito. Por exemplo, BOXER conclui que"sendo sua mortalidade tão alta e sua natalidade tão baixa, resultava daí uma rápida renovação de escravos, o que, por sua vez, determinava grande procura junto às reservas do mercado de escravos com a África Ocidental." {p. cit. p. 198}. Apesar das dificuldades para estimar os números relativos ao tráfico de escravos africanos, calcula-se que, no século XVII, foram "importados" entre 200 mil (posição mais conservadora) e 700 mil. Para o século XVIII, ingressaram de 2,2 a 2,5 milhões. MARCÍLIO, op. cit. 1999, pp. 328-9. CURTIN, Phillip D. (1969) apud. GRAHAM & MERRICK, aponta as seguintes cifras: 50 mil no primeiro século, 560 mil no século XVII, 1.891,4 mil no XVIII (até 1810) e 1.145,4 mil entre 1811 e 1870 {op. cit. 1981, p. 75}.
  • 104
    MARCÍLIO, op. cit., 1999, pp. 329-30; SCHWARTZ, op. cit., 1999b, pp. 296-7.
  • 105
    "O equilíbrio entre nascimentos e mortes nas áreas rurais foi provavelmente mais constante, embora fosse afetado pela mortalidade relativamente elevada da população escrava". GRAHAM & MERRICK, op. cit. 1981, p. 57.
  • 106
    GRAHAM & MERRICK, op. cit. 1981, pp. 90-2.
  • 107
    MARCÍLIO, op. cit. 1984, p. 201.
  • 108
    Sobre a expressividade das cidades coloniais, ver MARCÍLIO, op. cit., 1999, p. 333-4; SCHWARTZ, op. cit. ,1999a, 403.
  • 109
    RUSSELL-WOOD, A.J.R. O Brasil Colonial: o ciclo do ouro, 1690-1750. In: BETHEL, Leslie. História da América latina: A América Latina Colonial, vol. II. São Paulo: Edit. Da USP; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 1999, p. 522.
  • 110
    GRAHAM & MERRICK, op. cit., p. 57.
  • 111
    NADALIN, op. cit., p. 88-9. Apesar das diferenças de altitude não serem tão marcantes, é possível incluir nessa reflexão o isolamento relativo do núcleo de São Paulo de Piratininga do litoral, pela mesma serra.
  • 112
    Não posso deixar de reconhecer que estou sendo influenciado por Malthus. Ver também, a esse respeito, as considerações feitas por ROWLAND [s.d.].
  • 113
    MARCÍLIO, op cit., 1984, p. 198. GRAHAM & MERRICK aceitam - implicitamente - como razoável uma taxa de 1,2% ao ano [op. cit.,1981, pp. 48-51].
  • 114
    BELTRÃO, Pedro Calderan. Demografia, ciência da população: análise e teoria. Porto Alegre: Sulina, 1972. p. 171.
  • 115
    BRIGNOLI, Hector Pérez. El crescimiento demografico de America Latina en los siglos XIX y XX: problemas, metodos y perspectivas (Paper inédito, de comunicação apresentada no Congresso sobre a história da população da América Latina, Ouro Preto, julho de 1989, p. 2.
  • 116
    Uma das questões bem estudadas tem como referência a problemática do "Antigo Re-gime Demográfico", cujas evidências empíricas apontam para a nupcialidade como um componente explicativo fundamental: "é a mortalidade que, através dos seus efeitos sobre a nupcialidade, regula o nível da fecundidade" {ROWLAND, (s/d)}.
  • 117
    Cf. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 4a ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1963.
  • 118
    Inspira essas questões TORRES-LONDOÑO, op. cit., pp. 31-46. De modo igual, VAINFAS, op. cit. p. 49 e seguintes.
  • 119
    REINHARD, Marcel R. et al. Histoire générale de la population mondiale. Paris: Montchrestien, 1968, pp. 672-3.
  • 120
    OLIVEIRA VIANNA, V.1, op. cit. p. 101.
  • 121
    GOLDSCHMIDT, Eliana. (Verbete:) Prostituição. In: SILVA, Maria Beatriz Nizza da (org.). Dicionário da história da colonização portuguesa no Brasil. Lisboa: Verbo, 1994. Pp. 669-72.
  • 122
    Refiro-me às contradições no crescimento da população colonial, uma vez que há um certo consenso em torno de taxas de aumento global da população da América Portuguesa, que não teriam sido nunca inferiores a 1% ao ano {MARCÍLIO, op. cit. 1984, p. 198}.
  • 123
    TORRES-LONDOÑO, op. cit. pp.159-194.
  • 124
    MACHADO, 1985:17.
  • 125
    HOLANDA, 1966:55. NA ausência de evidências empíricas, devo pelo menos registrar o entusiasmo de OLIVEIRA VIANNA pela "incomparável fecundidade" dos paulistas, "que cria a necessidade de emigrações contínuas e numerosas. {...} São as bandeiras que descarregam os latifúndios do seu excesso humano {...}. Durante dois séculos, esses pequenos centros sociais de S. Vicente, S. Paulo, Taubaté, Guaratinguetá, Mogi das Cruzes, contaminam todo o Brasil meridional e central, sem que dos seus celeiros demográficos se esgotem as reservas povoadoras" {V.1, op. cit. 1952:130}.
  • 126
    Idem, Ibidem, v.1, 1952:113.
  • 127
    Existe uma relação entre a importação de escravos e a mortalidade: em tese, quanto maior a quantidade de escravos, menor o seu custo; em conseqüência, menor o cuidado com a escravaria e maior a morbidade/mortalidade. Da mesma forma, deve haver uma relação inversa entre o fluxo da entrada de escravos e a fecundidade.
  • 128
    Ver SCHWARTZ, op. cit. 1999a, p. 356;op. cit. 1999b, pp. 286-92; 296-303.
  • 129
    A esse respeito, ver FLORENTINO, Manolo & GÓES, José Roberto. A paz das senzalas. Famílias escravas e tráfico atlântico, Rio de Janeiro, c. 1790 - c. 1850. Rio de Janeiro: Civ. Brasileira, 1997, pp. 113-25.
  • 130
    BACELLAR, op. cit. 1997, pp. 75-6; 88; 97-8. Um quadro completo dos comportamentos matrimoniais da elite paulista, eventualmente extrapolável para outras regiões da colônia, foi construído por NAZZARI, Muriel. O desaparecimento do dote. Mulheres, famílias e mudança em São Paulo, Brasil, 1600-1900. São Paulo: Cia. das Letras, 2001.
  • 131
    VIEIRA JR., Antonio Otaviano. A família na Seara dos sentidos: domicílio e violência no Ceará (1780-1850). São Paulo, Universidade de São Paulo, Tese de Doutorado, 2002, em especial a primeira parte da tese (pp. 01-133).
  • 132
    Ver RUSSELL-WOOD, op. cit., 1999, p. 522.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2003
Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro Largo de São Francisco de Paula, n. 1., CEP 20051-070, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21) 2252-8033 R.202, Fax: (55 21) 2221-0341 R.202 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: topoi@revistatopoi.org