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Competência de comunicação interpessoal entre estudantes de enfermagem* * Apoio Financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Brasil, processo nº 424869/2018-7.

Resumos

Objetivo:

identificar o nível de competência de comunicação interpessoal entre estudantes de enfermagem e correlacionar seus domínios com as variáveis sociodemográficas e acadêmicas.

Método:

trata-se de um estudo correlacional, desenvolvido por meio de projeto de pesquisa multicêntrico entre seis universidades federais no Brasil. Os dados foram coletados com 1.079 estudantes de enfermagem utilizando um questionário com variáveis sociodemográficas e acadêmicas e da Escala de Competência em Comunicação Interpessoal. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva e inferencial.

Resultados:

a média da soma da Escala de Competência em Comunicação Interpessoal foi 63,74 (±7,6). Os domínios “disponibilidade” e “controle do ambiente” apresentaram, respectivamente, as maiores e menores médias. Houve diferença estatística significativa da soma da Escala de Competência em Comunicação Interpessoal com as variáveis idade, estado civil, participação em grupo de pesquisa/extensão e atividade profissional remunerada.

Conclusão:

este estudo contribuiu para identificar o nível de competência de comunicação interpessoal de estudantes de enfermagem na realidade brasileira, fornecendo subsídios para a educação na área.

Descritores:
Competência Profissional; Enfermagem; Educação; Comunicação; Estudantes; Comunicação Interpessoal


Objective:

To identify the level of interpersonal communication competence among nursing students and to correlate its domains with sociodemographic and academic variables.

Method:

This is a correlational study, developed through a multicenter research project in six federal universities in Brazil. Data from 1,079 nursing students were collected through a questionnaire with sociodemographic and academic variables and the Interpersonal Communication Competence Scale. Data were analyzed using descriptive and inferential statistics.

Results:

The mean of the sum of the Interpersonal Communication Competence Scale was 63.74 (± 7.6). The domains “availability” and “environment control” had, respectively, the highest and lowest averages. There was a statistically significant difference between the sum of the Interpersonal Communication Competence Scale and the variables age, marital status, participation in a research/extension group, and paid professional activity.

Conclusion:

This study contributed to identify the level of interpersonal communication competence of nursing students in the Brazilian reality, providing useful information for education in the area.

Descriptors:
Professional Competence; Nursing; Education; Communication; Students; Communication Interpersonal


Objetivo:

identificar el nivel de competencia comunicativa interpersonal de los estudiantes de enfermería y correlacionar sus dominios con variables sociodemográficas y académicas.

Método:

se trata de un estudio correlacional, desarrollado a partir de un proyecto de investigación multicéntrico entre seis universidades federales de Brasil. Se recogieron datos de 1.079 estudiantes de enfermería mediante un cuestionario con variables sociodemográficas y académicas y la Escala de Competencia en Comunicación Interpersonal. Los datos fueron analizados a través de estadísticas descriptivas e inferenciales.

Resultados:

el promedio de la suma de la Escala de Competencias en Comunicación Interpersonal fue de 63,74 (±7,6). Los dominios “disponibilidad” y “control del ambiente” presentan, respectivamente, los promedios más altos y los más bajos. Hubo una diferencia estadística significativa en la suma de la Escala de Competencia en Comunicación Interpersonal con las variables edad, estado civil, participación en un grupo de investigación/extensión y actividad profesional remunerada.

Conclusión:

este estudio contribuyó en la identificación del nivel de competencia en comunicación interpersonal de los estudiantes de enfermería en la realidad brasileña, proporcionando subsidios para la educación en el área.

Descriptores:
Competencia Profesional; Enfermería; Educación; Comunicación; Estudiantes; Interpersonal Comunicación


Introdução

As competências podem ser definidas como comportamentos apreendidos durante um processo educativo, que envolve desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes para a prática profissional. Os conhecimentos correspondem ao conjunto de saberes e informações adquiridas pelos indivíduos, as habilidades estão relacionadas à capacidade de colocar em prática o conhecimento adquirido e as atitudes relacionam-se ao modo como o conhecimento é colocado em prática(11 Almeida ML, Peres AM. Knowledge, skills, and attitudes towards management of nursing graduates of a Brazilian public university. Invest Educ Enferm. 2012;30(1):66-76. [cited Nov 27, 2018]; Available from: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0120-53072012000100008&lng=en&nrm=iso [ Links.
http://www.scielo.org.co/scielo.php?scri...
-22 Peres AM, Ezeagu TNM, Sade PMC, Souza PB, Gómez-Torres D. Mapping competencies: identifying gaps in managerial nursing training. Texto Contexto - Enferm. 2017;26(2):e06250015. [cited Nov 27, 2018]; Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072017000200329&lng=pt. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072017006250015.
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).

No Brasil, as cinco competências e habilidades gerais preconizadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a formação do enfermeiro são a tomada de decisão, a liderança, a administração e o gerenciamento, a educação permanente e a comunicação(33 Brasil. Conselho Nacional de Educação. Câmara da Educação Superior. Parecer no 3, de 7 de novembro de 2001. Institui as diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em Enfermagem. Brasília: Ministério da Educação e Cultura; 2001.). Entre essas competências, considera-se que a comunicação se sobressai, uma vez que a prática dos enfermeiros está centrada na relação interpessoal com pacientes, equipe de enfermagem e equipe multiprofissional, tanto para realizar atividades assistenciais quanto para a gestão do cuidado e dos serviços de saúde. Além disso, ela perpassa e potencializa o desenvolvimento e exercício das demais competências profissionais do enfermeiro(44 Lopes RCC, Azeredo ZAS, Rodrigues RMC. Relational skills of nursing students: Follow-up of an intervention program. Rev Enferm Ref. 2013;serIII(9):27-36. [cited Nov 27, 2018]; Available from: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-02832013000100003&lng=pt&nrm=iso. doi: http://dx.doi.org/10.12707/RIII1253.
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?scri...
-55 Vasconcelos RMA, Caldana G, Lima EC, Silva LDM, Bernardes A, Gabriel CS. communication in the relationship between leaders and lead in the context of nursing. Rev Enferm UFPE. 2017;11(Supl.11):4767-6. [cited Nov 27, 2018]; Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/231220/25237 doi: 10.5205/reuol.11138-99362-1-SM.1111sup201729.
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). No entanto, muitos enfermeiros referem dificuldade em comunicar-se, especialmente em contextos que necessitam constantemente a tomada de decisão(66 Banerjee SC, Manna R, Coyle N, Penn S, Gallegos TE, Zaider T et al. The implementation and evaluation of a communication skills training program for oncology nurses. Translat Behav Med. 2017;7(3):615-23. [cited Nov 27, 2018]; Available from: https://academic.oup.com/tbm/article-abstract/7/3/615/4644886?redirectedFrom=fulltext. doi: https://doi.org/10.1007/s13142-017-0473-5.
https://academic.oup.com/tbm/article-abs...
).

Nesse sentido, é importante que o desenvolvimento da competência em comunicação permeie o processo de ensino-aprendizagem ao longo do curso de enfermagem. Porém, cada aluno vivencia esse aprendizado de forma diferente, considerando os conhecimentos adquiridos e as experiências vividas ao longo da vida, o que torna um desafio para os docentes a criação de circunstâncias e estratégias didáticas para desenvolver habilidades comunicativas entre estudantes de enfermagem(77 Broca PV, Ferreira MA. Communication process in the nursing team based on the dialogue between Berlo and King. Esc. Esc Anna Nery. 2015;19(3):467-74. [cited Nov 27, 2018]; Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452015000300467&lng=en. doi: http://dx.doi.org/10.5935/1414-8145.20150062.
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).

Diante da complexidade do desenvolvimento da competência em comunicação, pesquisadores têm destacado a necessidade de uso de metodologias ativas e métodos de ensino que estimulem o pensamento crítico e reflexivo, a partir da integração teórica e prática na enfermagem(88 Dalcól C, Garanhani ML, Fonseca LF, Carvalho BG. Polarities experienced by nursing students in learning the communication: perspectives of thought complex. Cienc Cuid Saúde. 2017;16(1):1-8. [cited Nov 27, 2018]; Available from: http://ojs.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/34517. doi: 10.4025/cienccuidsaude.v16i1.34517.
http://ojs.uem.br/ojs/index.php/CiencCui...
-99 Dalcól C, Garanhani ML, Fonseca LF, Carvalho BG. Communication skills and teaching-learning strategies: perception of nursing students. Cogitare Enferm. 2018;23(3):e53743. [cited Nov 27, 2018]; Available from: https://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/53743. doi: http://dx.doi.org/10.5380/ce.v23i3.53743.
https://revistas.ufpr.br/cogitare/articl...
). Apesar da importância da competência em comunicação interpessoal de estudantes de enfermagem, a produção científica sobre esse tema ainda é escassa no Brasil. A literatura disponível contempla principalmente estudos sobre estratégias de ensino-aprendizagem da comunicação(88 Dalcól C, Garanhani ML, Fonseca LF, Carvalho BG. Polarities experienced by nursing students in learning the communication: perspectives of thought complex. Cienc Cuid Saúde. 2017;16(1):1-8. [cited Nov 27, 2018]; Available from: http://ojs.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/34517. doi: 10.4025/cienccuidsaude.v16i1.34517.
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-99 Dalcól C, Garanhani ML, Fonseca LF, Carvalho BG. Communication skills and teaching-learning strategies: perception of nursing students. Cogitare Enferm. 2018;23(3):e53743. [cited Nov 27, 2018]; Available from: https://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/53743. doi: http://dx.doi.org/10.5380/ce.v23i3.53743.
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), o que evidencia a necessidade de novas investigações acerca dessa problemática(55 Vasconcelos RMA, Caldana G, Lima EC, Silva LDM, Bernardes A, Gabriel CS. communication in the relationship between leaders and lead in the context of nursing. Rev Enferm UFPE. 2017;11(Supl.11):4767-6. [cited Nov 27, 2018]; Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/231220/25237 doi: 10.5205/reuol.11138-99362-1-SM.1111sup201729.
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). Desse modo, questiona-se: qual é o nível de competência de comunicação interpessoal entre estudantes de enfermagem? Quais variáveis sociodemográficas e acadêmicas estão relacionadas à comunicação interpessoal entre estudantes de enfermagem?

Este estudo, desenvolvido por meio de uma pesquisa multicêntrica, teve como objetivo identificar o nível de competência de comunicação interpessoal de estudantes de enfermagem e correlacionar seus domínios com variáveis sociodemográficas e acadêmicas.

Método

Trata-se de um estudo correlacional, desenvolvido a partir de um macroprojeto de pesquisa multicêntrico entre seis universidades federais no Brasil: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Desse modo, os cenários da pesquisa foram os cursos de graduação em enfermagem das universidades supracitadas.

A população do estudo foi constituída de 1.859 alunos de enfermagem, a partir de listagem obtida com a secretaria da coordenação do curso de enfermagem de cada universidade. A amostragem foi do tipo não probabilística, pois previu-se a aplicação dos instrumentos para a população total do estudo. Adotou-se como critério de inclusão estar regularmente matriculado no curso de enfermagem. Excluíram-se participantes que trancaram o curso ou estiveram de atestado médico e/ou ausentes por motivos de qualquer natureza durante a fase de coleta de dados. A coleta de dados foi realizada no segundo semestre 2017 e no primeiro de 2018, conforme o calendário acadêmico de cada instituição, durante o período de aula teórica, mediante agendamento prévio com os docentes responsáveis pelas disciplinas. Ressalta-se que todas as turmas foram abordadas no mesmo semestre letivo.

As variáveis do estudo foram: dependentes (idade, sexo, estado civil, ano da graduação, graduação anterior, curso técnico de enfermagem, participação em grupo de pesquisa ou extensão, bolsa de pesquisa, bolsa de extensão e atividade profissional remunerada) e independente (competência em comunicação interpessoal), verificada a partir da aplicação da Escala de Competência em Comunicação Interpessoal (ECCI)(1010 Puggina AC, Silva MJP. Interpersonal Communication Competence Scale: Brazilian translation, validation and cultural adaptation. Acta Paul Enferm. 2014;27(2):108-14. [cited Nov 27, 2018]; Available from: http://www.redalyc.org/html/3070/307031066004/.
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), nome da versão brasileira da Interpersonal Communication Competence Scale (ICC)(1111 Rubin RB, Martin MM. Development of a measure of interpersonal communication competence. Commun Res Rep. 1994;11(1):33-44. [cited Apr 29, 2019]; Available from: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/08824099409359938 doi: https://doi.org/10.1080/08824099409359938
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).

A escala foi desenvolvida orginalmente nos Estados Unidos, em 1994, para avaliar a capacidade de um indivíduo trocar informações de forma efetiva entre duas ou mais pessoas, por meio da comunicação verbal, não verbal e códigos da linguagem. O instrumento avalia a comunicação interpessoal como uma competência é desenvolvida a partir das interações sociais estabelecidas pelos indivíduos, podendo ser aplicada a diferentes contextos e situações relacionados à vida pessoal, ao estudo e ao trabalho(1111 Rubin RB, Martin MM. Development of a measure of interpersonal communication competence. Commun Res Rep. 1994;11(1):33-44. [cited Apr 29, 2019]; Available from: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/08824099409359938 doi: https://doi.org/10.1080/08824099409359938
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1...
). Não se trata de uma escala específica para estudantes de enfermagem, mas que tem sido usada com esse público em estudos anteriores com resultados satisfatórios(1212 Song Y, Yun SY; Kim SA; Ahn EK, Jung MS. Role of Self-Directed Learning in Communication Competence and Self-Efficacy. J Nurs Educ. 2015;54(10):559-64 [cited Apr 29, 2019]; Available from: https://doi.org/10.3928/01484834-20150916-03
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13 Ross L, Boyle M, Williams B, Fielder C, Veenstra R. Perceptions of student paramedic interpersonal communication competence: A cross-sectional study. Austr J Paramedicine. 2014;11(4):11-3. [cited Apr 29, 2019]; Available from: https://ajp.paramedics.org/index.php/ajp/article/view/1
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-1414 Cho YH, Kweon YR. Effects of Team-Based Learning on Communication Competence for Undergraduate Nursing Students. J Korean Acad Psychiatr Ment Health Nurs. 2017;26(1):101-10. [cited Nov 27, 2018]; Available from: https://synapse.koreamed.org/DOIx.php?id=10.12934/jkpmhn.2017.26.1.101. doi: https://doi.org/10.12934/jkpmhn.2017.26.1.101.
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).

A versão validada para uso no Brasil, em 2014, é composta por 17 itens, agrupados em cinco domínios: controle do ambiente, autorrevelação, assertividade, manejo das interações e disponibilidade. O domínio “controle do ambiente” avalia a adequação do indivíduo a um ambiente para atingir seus objetivos. O domínio “autorrevelação” representa a capacidade de demonstrar ideias e pensamentos através da comunicação. O domínio “assertividade” avalia a firmeza e decisão nas palavras e atitudes. O domínio “manejo das interações” está relacionado ao manejo e interpretação das reações, verbais ou não verbais, do receptor da mensagem durante a conversa. E o domínio “disponibilidade” avalia se o indivíduo apresenta-se aberto e disponível para comunicação(1010 Puggina AC, Silva MJP. Interpersonal Communication Competence Scale: Brazilian translation, validation and cultural adaptation. Acta Paul Enferm. 2014;27(2):108-14. [cited Nov 27, 2018]; Available from: http://www.redalyc.org/html/3070/307031066004/.
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).

A escala de medida da ECCI consiste em uma escala Likert de cinco pontos. Para a obtenção do escore total, os itens “Tenho dificuldade em me defender” e “É difícil encontrar as palavras certas para me expressar” são código reverso e precisam ser recodificados. Assim, por exemplo, a pontuação cinco receberia a pontuação um no escore final (4=2, 3=3, 2=4, 1=5). O escore total da escala varia de 17 a 85, sendo que, quanto maior a pontuação, maior é a habilidade de comunicação interpessoal(1010 Puggina AC, Silva MJP. Interpersonal Communication Competence Scale: Brazilian translation, validation and cultural adaptation. Acta Paul Enferm. 2014;27(2):108-14. [cited Nov 27, 2018]; Available from: http://www.redalyc.org/html/3070/307031066004/.
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).

Foram realizadas análises descritivas para todas as variáveis. A correlação de Spearman foi realizada para avaliar a relação entre idade e os desfechos avaliados. Foram utilizados os seguintes testes: t de Student, Anova, Kruskal-Wallis e Mann-Whitney para comparar as variáveis desfecho entre os grupos analisados. Para a análise bruta, foi utilizada regressão linear, estimando-se o coeficiente de regressão (β) bruto com seus respectivos Intervalos de Confiança (IC) de 95%.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição proponente (CAAE: 66306117.9.1001.0121) e também pelas demais instituições coparticipantes. A pesquisa foi desenvolvida de acordo com a Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 466/2012. Todos os sujeitos do estudo tiveram seus direitos assegurados por meio de assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados

Participaram do estudo 1.079 estudantes de enfermagem (58% da população). A média de idade foi de 22,38 (±4,7) anos. A maioria do sexo feminino (86,2%), sem companheiro (93,8%), matriculados no 3º ano do curso (27,1%) e sem graduação anterior (94,5%). A Tabela 1 apresenta a descrição completa da amostra.

Tabela 1
Variáveis sociodemográficas e acadêmicas dos estudantes, Florianópolis, SC, Brasil, 2017-2018

Em relação à ECCI, a média da soma foi 63,74 (±7,6). Os domínios “disponibilidade” e “controle do ambiente” apresentaram, respectivamente, as maiores e menores médias, conforme Tabela 2.

Tabela 2
Domínios da Escala de Competência em Comunicação Interpessoal. Florianópolis, SC, Brasil, 2017-2018

Quanto à análise bivariada, houve diferença significativa, no que se refere à soma, na média da soma nas variáveis idade, estado civil, participação em grupo de pesquisa e extensão e atividade profissional remunerada (Tabela 3).

Tabela 3
Análise bivariada entre a soma da Escala de Competência em Comunicação Interpessoal e variáveis dependentes. Florianópolis, SC, Brasil, 2017-2018

Em relação ao domínio “controle do ambiente”, observou-se diferença significativa com idade (p-valor=0,025), sexo (p-valor=0,007) e estado civil (p-valor=0,023). No domínio “autorrevelação”, houve diferença significativa apenas com estado civil (p-valor=0,044). Quanto ao domínio “assertividade”, verificou-se diferença significativa nas variáveis idade (p-valor=0,002) e atividade profissional remunerada (p-valor=0,051). No domínio “manejo de interação”, constatou-se diferença significativa nas variáveis estado civil (p-valor=0,054) e bolsa de pesquisa (p-valor=0,023). Por fim, no domínio “disponibilidade”, houve diferença significativa nas variáveis sexo (p-valor=0,001) e estado civil (p-valor=0,003).

Na análise de regressão linear múltipla, a idade (β:0,11; IC95%:0,02;0,21), ter companheiro (β:3,26; IC95%:1,38;5,13) e não participar do grupo de pesquisa e extensão (β:-1,38; IC95%: -2,29;-0,47) apresentaram associação com a soma da ECCI (Tabela 4).

Tabela 4
Regressão linear múltipla das variáveis associados à soma da Escala de Competência em Comunicação Interpessoal dos participantes do estudo. Florianópolis, SC, Brasil, 2017-2018

Na análise de regressão linear múltipla das variáveis associados aos domínios do ECCI, identificou-se associação do domínio “controle do ambiente” com a média da variável idade. Observou-se também associação com o sexo masculino e a presença de companheiro. O domínio “autorrevelação” mostrou associação com a não participação em grupo de pesquisa e extensão. A “assertividade” não apresentou associação com nenhuma variável. O domínio “disponibilidade” apresentou associação menor com o sexo masculino e maior com a presença de companheiro.

Discussão

A partir de pesquisa multicêntrica entre seis instituições públicas de ensino superior, os resultados deste estudo apresentam dados inovadores no contexto brasileiro para a identificação do nível de competência de comunicação interpessoal de estudantes de enfermagem. A média da soma da ECCI foi 63,74(±7,6), a qual pode ser interpretada como um resultado positivo, pois o escore total da ECCI varia de 17 a 85, sendo que a habilidade em comunicação interpessoal aumenta quanto maior a pontuação.

Quanto ao perfil dos participantes demonstrado na Tabela 1, a amostra investigada foi composta de jovens adultos, maioria de mulheres, solteiros, sem outra experiência universitária prévia, baixo vínculo a grupos de pesquisa e extensão e ausência de bolsa acadêmica. Esses achados estão em consonância com os encontrados na literatura acerca da caracterização de estudantes de enfermagem(1515 Bublitz S, Guido LA, Kirchhof RS, Neves ET, Lopes LFD. Sociodemographic and academic profile of nursing students from four brazilian institutions. Rev Gaúcha Enferm. 2015;36(1):77-83. [cited Nov 27, 2018]; Available from: https://seer.ufrgs.br/RevistaGauchadeEnfermagem/article/view/48836/33594.
https://seer.ufrgs.br/RevistaGauchadeEnf...
).

Em relação à média da soma da ECCI (63,74±7,6), resultado similar foi evidenciado entre estudantes de graduação em enfermagem da Coreia do Sul, em que a média de competência de comunicação interpessoal dos participantes variou entre 52,88(±5,02) e 69,94(±4,19)(1414 Cho YH, Kweon YR. Effects of Team-Based Learning on Communication Competence for Undergraduate Nursing Students. J Korean Acad Psychiatr Ment Health Nurs. 2017;26(1):101-10. [cited Nov 27, 2018]; Available from: https://synapse.koreamed.org/DOIx.php?id=10.12934/jkpmhn.2017.26.1.101. doi: https://doi.org/10.12934/jkpmhn.2017.26.1.101.
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). Esse resultado é positivo, uma vez que a comunicação, quando efetiva, contribui com a assistência assertiva do enfermeiro(1616 Cho YH, Kweon YR. Effects of Team-Based Learning on Communication Competence for Undergraduate Nursing Students. J Korean Acad Psychiatr Ment Health Nurs. 2017;26(1):101-10. [cited Nov 27, 2018]; Available from: https://synapse.koreamed.org/DOIx.php?id=10.12934/jkpmhn.2017.26.1.101.
https://synapse.koreamed.org/DOIx.php?id...
-1717 Borba AP, Santos BM, Puggina AC. Communication barriers in the nurse-patient relations: integrative review. Rev Saúde. 2017;11(1-2):48-61[cited Nov 27, 2018]; Available from: http://revistas.ung.br/index.php/saude/article/view/2848/2205.
http://revistas.ung.br/index.php/saude/a...
). Além disso, a competência de comunicação contribui para a prática gerencial do enfermeiro, principalmente para o exercício da liderança(1818 Yu S, Dan Ko Y. Communication Competency as a Mediator in the Self-Leadership to Job Performance Relationship. Collegian. 2017;24(5):421-5. [cited Nov 27, 2018]; Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S132276961630083X. doi: https://doi.org/10.1016/j.colegn.2016.09.002.
https://www.sciencedirect.com/science/ar...
).

Os domínios “disponibilidade” e “controle do ambiente” apresentaram, respectivamente, as maiores e menores médias. A partir de tais resultados, pode-se inferir que os estudantes de enfermagem se apresentam acessíveis e abertos para a comunicação. Isso é importante porque, na prática do cuidado de enfermagem, é necessário haver disponibilidade entre profissional enfermeiro e paciente atendido(1010 Puggina AC, Silva MJP. Interpersonal Communication Competence Scale: Brazilian translation, validation and cultural adaptation. Acta Paul Enferm. 2014;27(2):108-14. [cited Nov 27, 2018]; Available from: http://www.redalyc.org/html/3070/307031066004/.
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). Além disso, a comunicação adequada e efetiva contribui para a qualidade da assistência de enfermagem, principalmente nos procedimentos desconhecidos que causam medo e ansiedade aos pacientes(1919 Borges JWP, Moreira TMM, Andrade DF. Nursing Care Interpersonal Relationship Questionnaire: elaboration and validation. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2017;25: e2962. [cited Nov 27, 2018]; Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692017000100415&lng=en. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.2128.2962.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
).

Em contrapartida, o controle sobre o ambiente é desenvolvido a partir da inserção do profissional no espaço de trabalho. Nesse sentido, a menor média nesse domínio representa que ainda é necessário que os estudantes de enfermagem expressem-se de maneira mais adequada, visando a uma melhor adaptação ao ambiente para melhorar a comunicação e persuadir os outros a sua volta(1010 Puggina AC, Silva MJP. Interpersonal Communication Competence Scale: Brazilian translation, validation and cultural adaptation. Acta Paul Enferm. 2014;27(2):108-14. [cited Nov 27, 2018]; Available from: http://www.redalyc.org/html/3070/307031066004/.
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). Além disso, esse resultado também condiz ao fato da maioria dos participantes do estudo estarem no 1º e 2º ano do curso. Esse estágio da formação geralmente é marcado pelas primeiras inserções dos estudantes em cenários de cuidado nos serviços de saúde, não sendo esperado que eles tenham controle sobre o ambiente de prática de profissional.

Nos resultados da análise bivariada entre as variáveis sociodemográficas da amostra e o resultado da soma da ECCI, obteve-se diferença significativa em relação à idade, ao estado civil, à participação em grupo de pesquisa ou extensão e atividade profissional remunerada.

A associação positiva entre idade e comunicação interpessoal pode ser explicada pelo caráter experiencial relacionado ao aprendizado da competência comunicativa. A comunicação é um aprendizado contínuo que se desenvolve ao longo de toda a vida. Dessa forma, as experiências acumuladas com o passar dos anos tendem a contribuir para o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos processos comunicacionais, bem como da segurança nas relações interpessoais(99 Dalcól C, Garanhani ML, Fonseca LF, Carvalho BG. Communication skills and teaching-learning strategies: perception of nursing students. Cogitare Enferm. 2018;23(3):e53743. [cited Nov 27, 2018]; Available from: https://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/53743. doi: http://dx.doi.org/10.5380/ce.v23i3.53743.
https://revistas.ufpr.br/cogitare/articl...
).

Entretanto, verificou-se que a competência comunicacional não necessariamente aumenta à medida que avançam os anos do curso de graduação em enfermagem, o que torna paradoxal a relação entre idade, competência comunicacional e ano de curso. Era esperado que alunos dos últimos anos apresentassem uma competência em comparação menor em comparação com alunos dos anos iniciais. Tal resultado pode refletir que as habilidades avaliadas pela ECCI se referem a características individuais e não à formação oferecida especificamente nos cursos de graduação em enfermagem. Porém, também suscita reflexões sobre como a competência de comunicação interpessoal está sendo abordada e desenvolvida na formação do aluno de enfermagem.

Nesse sentido, vale pontuar a importância da utilização de estratégias de ensino que possam potencializar o desenvolvimento de competências de comunicação em enfermagem, principalmente considerando que os alunos ingressam cada vez mais jovens no ensino superior. Entre as metodologias ativas que podem ser utilizadas, destaca-se o potencial da simulação clínica para o aprimoramento da habilidade de comunicação de estudantes de enfermagem. Essa estratégia possibilita aos alunos a vivência de situações que exigem tomada de decisão do enfermeiro nos cenários de cuidado em saúde e enfermagem, cuja abordagem por meio de aulas teóricas ou métodos tradicionais de ensino não têm a mesma eficácia(2020 MacLean S, Kelly M, Della P. Use of simulated patients to develop communication skills in nursing education: an integrative review. Nurse Educ Today. 2017;48:90-8. [cited Nov 27, 2018]; Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27741440. doi: https://doi.org/10.1016/j.nedt.2016.09.018.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2774...
-2121 Sánchez Expósito J, Leal Costa C, Díaz Agea JL, Carrillo Izquierdo MD, Jiménez Rodríguez D. Socio-emotional competencies as predictors of performance of nursing students in simulated clinical practice. Nurse Educ Pract. 2018 Sep;32:122-128. [cited Apr 24, 2019]; Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30049574 doi: 10.1016/j.nepr.2018.07.009.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3004...
).

A relação entre uma melhor autoavaliação da comunicação interpessoal e o estado civil pode ser justificada pela experiência e pelos desafios vivenciados com a convivência durante um relacionamento, conforme já evidenciado em estudo sobre a habilidade interpessoal de enfermeiros no cuidado de enfermagem(2222 Pereira TJ, Puggina AC. Validation of the self-assessment of communication skills and professionalism for nurses. Rev Bras Enferm. 2017;70(3):588-94. [cited Nov 27, 2018]; Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672017000300588&lng=en. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0133.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
). Os casais enfrentam desafios importantes, não apenas problemas relacionais, mas também estresse por fatores externos e essa experiência pode trazer amadurecimento e fortalecimento das habilidades interpessoais de comunicação aplicadas à prática profissional(2222 Pereira TJ, Puggina AC. Validation of the self-assessment of communication skills and professionalism for nurses. Rev Bras Enferm. 2017;70(3):588-94. [cited Nov 27, 2018]; Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672017000300588&lng=en. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0133.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
-2323 Jackson GL, Trail TE, Kennedy DP, Williamson HC, Bradbury TN, Karney BR. The salience and severity of relationship problems among low-income couples. J Fam Psychol. 2016;30(1):2-11. [cited Nov 27, 2018]; Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4742400/pdf/nihms730408.pdf. doi: 10.1037/fam0000158.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
).

A influência da participação em grupo de pesquisa ou extensão na competência de comunicação interpessoal dos estudantes de enfermagem reforça a importância dessas atividades na formação de profissionais críticos, reflexivos e mais bem preparados para o mercado de trabalho. Além disso, destaca-se que a inserção de estudantes em grupos de pesquisa vai ao encontro das diretrizes curriculares que preconizam a articulação entre ensino, pesquisa e extensão, refletindo benefícios à formação profissional e produção da ciência(2424 Costa ACB, Chaves ECL, Terra FS, Monteiro LA. Profile of nursing research groups of the national council for scientific and technological development. Rev RENE. 2014;15(3)471-9. [cited Nov 27, 2018]; Available from: http://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/11565/1/2014_art_acbcosta.pdf. DOI: 10.15253/2175-6783.2014000300012.
http://repositorio.ufc.br/bitstream/riuf...
-2525 Erdmann AL, Peiter CC, Lanzoni GMM. Brazilian research groups in nursing: comparison of 2006 and 2016 profiles. Rev Gaúcha Enferm. 2017;38(2):e69051.).

A relação entre atividade profissional remunerada e a competência de comunicação pode ser explicada pelas habilidades e atitudes mobilizadas a partir da inserção no mercado de trabalho. Tal resultado vai ao encontro do que se espera dos egressos do curso de enfermagem, os quais devem ter habilidade para adaptar-se ao mercado de trabalho, tendo em vista a competência da comunicação, de modo a atender as pretensões das DCN para o curso de graduação em enfermagem(2626 Lima AF, Lopes LCS, Soane AMNC, Fortes AFA. Nursing graduates: potentialities in the professional education process to promote the insertion in the labor market. Indagatio Didactica. 2017;9(4):65-80. [cited Nov 27, 2018]; Available from: http://revistas.ua.pt/index.php/ID/article/view/6104/4694.
http://revistas.ua.pt/index.php/ID/artic...
).

Como limitação do estudo, pode-se considerar que as variações entre tamanho, localização geográfica e concepção político-pedagógico de cada instituição em que foi realizada a coleta de dados pode ter influenciado as respostas dos participantes. Além disso, o fato de o instrumento proposto ser uma autoavaliação também pode ser apontado como um limite do estudo, pois a resposta do participante está relacionada a sua capacidade reflexiva sobre seu próprio desempenho. Recomenda-se que novos estudos sejam desenvolvidos nessa temática dada a importância da competência de comunicação no exercício profissional do enfermeiro.

Conclusão

A média da soma da Escala de Competência em Comunicação Interpessoal entre estudantes de enfermagem foi 63,74 (±7,6), que obteve diferença estatística significativa com as variáveis idade, estado civil, participação em grupo de pesquisa/extensão e atividade profissional remunerada. Salienta-se a importante relação entre a comunicação e o exercício profissional do enfermeiro e a necessidade do desenvolvimento dessa competência durante a graduação em enfermagem. A comunicação é ferramenta fundamental no processo de ensino e trabalho do profissional dessa área, tendo em vista sua relação com a equipe de enfermagem, equipe multiprofissional, paciente e família nos serviços de saúde.

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    Apoio Financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Brasil, processo nº 424869/2018-7.

References

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Out 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    09 Jan 2019
  • Aceito
    14 Jul 2019
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