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A internacionalização da produção científica: um grande desafio para a enfermagem brasileira

EDITORIAL

A internacionalização da produção científica: um grande desafio para a enfermagem brasileira

Maria Helena Palucci Marziale

Editor da Revista Latino-Americana de Enfermagem, Professor Livre-Docente da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em enfermagem, e-mail: marziale@eerp.usp.br

Nos últimos anos, houve expansão dos cursos de Pós-graduação em Enfermagem no País. Novas linhas de pesquisas foram criadas, grupos de pesquisas consolidados e a produção científica foi registrada no Diretório de Grupos de Pesquisa e Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq). Revistas de Enfermagem foram editadas e iniciou-se um movimento visando a adequação das publicações às normas nacionais e internacionais de editoração, bem como a discussão dos próprios padrões de qualidade dos periódicos científicos. Esse movimento foi viabilizado pela instrumentalização dos editores, assessoria de especialistas, criação da Comissão Nacional de Editores Científicos de Revistas de Enfermagem pela Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), participação de editores brasileiros no Conselho Consultivo Iberoamericano de Revistas de Enfermería coordenado pela Fundação Index de Enfermería da Espanha, atualização das informações da Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e a criação da Biblioteca Virtual de Saúde-Enfermagem/BIREME que, atualmente, está em fase de desenvolvimento.

Em resposta a essas ações, periódicos de Enfermagem foram incluídos em importantes indexadores nacionais e internacionais tais como: International Nursing Index e MedLine, Cumulative Index to Nursing & Allied Health Literature (CINAHL), Literatura Latinoamericana em Ciências da Saúde (LILACS), PsycINFO (Base de dados da American Psychological Association), CUIDEN (Base de dados da Fundacíon Index), CAB HEALTH, CAB ABSTRACTS, BDENF (Base de Dados em Enfermagem), Coleção Scielo (Scientific Electronic Library Online) entre outros(1). No entanto, nenhuma revista de Enfermagem editada no Brasil está indexada no ISI Database (Institute of Scientific Information) que elabora anualmente o Journal Citation Report (JCR), Social Sciences Editions e Sciences Editions contendo os indicadores bibliométricos de repercussão das revistas (fator de impacto, índice de imediacidade, que determina a rapidez com quer um artigo é lido e citado, vida média das citações e a classificação no ranking mundial)(2).

A metodologia criada pelo ISI foi adotada pela comunidade científica internacional como a maneira de avaliar a produção científica e sua visibilidade internacional. No Brasil, o fator de impacto das publicações vem apresentando priorização pela CAPES (Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), agência avaliadora dos Programas de Pós-Graduação, universidades e pelas agências de fomento, o que tem suscitado esforços para a internacionalização da produção científica brasileira.

Porém não podemos deixar de considerar "que o fator de impacto das revistas reveste-se em um útil, porém não único, elemento para entender o processo de divulgação e difusão de nossa produção científica"(3). As revistas editadas nos países em desenvolvimento assumem uma posição estratégica na veiculação da produção científica que é direcionada às prioridades nacionais, em concatenação com as linhas e prioridades de pesquisa estabelecidas(3). Entretanto, essa produção pode não ser de interesse de revistas internacionais, principalmente de origem anglo-saxônicas, que representam a maioria das revistas indexadas no ISI, o que constitui, agregada as exigências de publicação em inglês, barreiras para a internacionalização de pesquisas produzidas pela Enfermagem brasileira.

Embora a internacionalização constitua-se em um grande desafio para a Enfermagem em nosso País, estratégias devem ser imediatamente estabelecidas para o enfrentamento do problema. No entanto, é importante que as agências e universidades que têm implementado mecanismos de avaliação da produção científica apóiem as revistas nacionais, pois a publicação científica é parte intrínseca do processo de investigação e da inovação(4-5) e o fortalecimento das revistas científicas nacionais é uma condição sine qua non para o contínuo avanço da base de ciência e tecnologia no Brasil(3), sem o qual jamais alcançaremos a internacionalização do produto de nossas pesquisas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Marziale MHP, Mendes IAC. O fator de impacto das publicações científicas. Rev Latino-am Enfermagem 2002 julho-agosto; 10(4):466-7.

2. International Scientific Information. ISI. Products & Services (on line). 2002. (cited 2001 nov.21) Available from: URL:http://www.isinet.com

3. Coimbra CEA Jr. Produção científica e impacto em Saúde Coletiva. Cad Saúde Pública 2004 jul./ago.; 20(4):878-9.

4. Mendes IAC. Pesquisa em enfermagem: impacto na prática. São Paulo (SP): Edusp; 1991.

5. Mendes IAC. Criação, divulgação e ação: o saber em movimento. Rev Latino-am Enfermagem 1995 janeiro; 3(1):1-2.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Jan 2005
  • Data do Fascículo
    Out 2004
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