RESUMO:
Historicamente marcada por uma polissemia problemática e uma nítida dificuldade de apreensão, a ironia se constitui em uma noção polimorfa para diversas áreas do conhecimento — característica que se redobra na psicanálise, na qual os raros trabalhos dedicados à ironia ignoram este estado de coisas: para Freud, uma técnica de chiste; para Reik, a rejeição de um mundo presente frustrante; para Assoun, a retórica do inconsciente. Este trabalho visa circunscrever as principais abordagens da ironia, revendo criticamente a literatura qualificada e delimitando suas múltiplas definições e problemáticas de modo a fornecer subsídios para sua abordagem pela psicanálise.
Palavras-chave: ironia; psicanálise; filosofia; teorias da linguagem; Lacan
Abstract:
Irony is a polymorphous notion, historically known for its polysemy and for posing an undeniable difficulty to its apprehension. This characteristic is redoubled in psychoanalysis, field in which the rare works dedicated to irony take one definition amongst many others. For Freud, irony is taken as a joke technique; for Reik, the rejection of a frustrating world; for Assoun, the rhetoric of Unconscious itself. This work aims to circumscribe the main approaches of irony, critically reviewing the specialized literature, highlighting the major questions and definitions of irony in order to provide elements to its approach in psychoanalysis.
Keywords: irony; psychoanalysis; philosophy; theory of language; Lacan
NTRODUÇÃO
- Inacabamento nocional
Longe de se constituir em um esforço de síntese das diversas abordagens e teorias sobre a ironia, mas no intuito de dar-lhe uma expressão psicanalítica, o presente trabalho procura cernir as principais interpretações e descrições da ironia considerando os meios, recursos e instrumentos utilizados para defini-la. Esta perspectiva de trabalho se impôs fosse em razão de tais meios e instrumentos de conceituação terem se revelado muito mais esparsos do que complementares, fosse porque a definição da ironia se mostra problemática, tanto quanto sua conceituação, interminável. De fato, a sua expressiva documentação dá a impressão de inexistir abordagem que definitivamente alcance a ironia e a sua característica fundamental de realçamento.
De apreensão própria, ou seja, assimilada de maneira quase direta, a ironia dispensa o recurso a inferências, análises ou categorizações conceituais — particularidade que, justamente, sugere conceituá-la. Ocorre, porém, que as inúmeras aproximações da ironia contrastam com a escassa abordagem psicanalítica, que beira à sua não circunscrição.
Seja como for, ainda que captada de maneira intuitiva, a ironia nem sempre é reconhecida, o que torna a sua apreensão, positiva ou negativa, ainda mais flutuante ao longo dos tempos. Com efeito, não é nada simples a compreensão de uma ironia. E por quê? Porque a ironia, que nasce intencionalmente ou não de um “autor”, deve renascer à visão de um intérprete, o qual, ou terá captado a intenção, ou a terá suposto. Se renasce para alguém, o primeiro sentido emitido é revirado, contrariado, deposto; se não, ela permanece latente e inerte, sem leitura nem escuta.
Pressentida ou intuída, certamente polissêmica se reconhecida, de improvável delimitação, enfim, a ironia é acompanhada de problemáticas que interessam à psicanálise. Este trabalho propõe fornecer alguns elementos introdutivos para compreender a posição da ironia diante de seus subentendidos e pressupostos na conversação e em algumas modalidades discursivas. É que, enquanto linguagem que joga e se entretém consigo mesma e com o outro, a ironia convida a um debate tão teórico quanto moral ou mesmo a uma reflexão estética ou linguística desafiadora, nos quais a psicanálise se faz participante.
Posição atual da ironia
- Dificuldades de origem
Antes de adentrarmos ao campo psicanalítico propriamente dito, observemos a situação teórica e metodológica em primeiro lugar.
Objeto de uma multiplicidade de trabalhos, a ironia está presente em textos literários e filosóficos que atravessam as eras: dos filósofos gregos até os autores pós-modernos, passando pelos renascentistas e pelos teóricos das Luzes — tais como Erasmo e Voltaire. Em sua trajetória, a ironia se modificou, ganhou novas formas — sem perder as de origem —, atraiu tantos pesquisadores, escritores e leitores, que mesmo uma bibliografia se estendendo à exaustão, jamais poderia, evidentemente, abarcá-la de todo. O campo de estudos dedicados a figura tão intrincada, e definida de maneira tão variada, não cessa de se expandir: como figura de pensamento ou de palavra, questão retórica ou dialética, ou mesmo estilística, a ironia constitui o tema de estudos específicos e gerais que vão da filosofia e da linguística à crítica e teoria literária atuais, passando pela antropologia, sociologia e psicologia. Todavia, na medida em que mais e mais trabalhos são dedicados a toda e qualquer ironia, raros são os que tratam a natureza histórica da noção.
No domínio da história literária, as questões recaem sobre a historicidade da noção e ensejam estudos tanto sobre as alterações do significado do termo como a construção histórica de formas literárias que encarnam a ironia. Apesar da profusão sem-fim das teorias filosóficas e literárias, ainda falta entender as relações entre a transformação do significado da noção, seu uso literário, comunicacional etc., e sua construção teórica. Poucos estudos levam em conta o caráter histórico da noção (BEHLER, 1997; RIBBECK, 1876; SCHOENTJES, 2001), o qual, inclusive, desaparece não apenas da prática literária e comunicacional e demais representações da ironia, mas apaga-se como fenômeno social e cultural.
Porém, como tantas noções e conceitos, a história da ironia constitui-se por estratos ou camadas sedimentadas (LE GUERN, 1976), quer em função dos teóricos da ironia visarem renovar a inteligibilidade de textos antigos, quer por proporem definições em série, que se sobrepõem, retomam as precedentes e, por vezes, as renomeiam ou propõem nova terminologia. Sob esse acúmulo de estratos — críticos, em sua maioria —, indaga-se se existe um objeto original (DANE, 1991) ou se a ironia é algo próprio do romance (SCHAEFFER, 1983) ou se exige a inscrição da literatura em um funcionamento mais geral da fala, ou, antes, é o nome dado às representações da história e da teoria literárias, que variam de acordo com as épocas e as críticas (M. GANDT, 2005), ou apenas a designação da maneira como a literatura se estrutura em épocas e gêneros por uma construção crítica (BENJAMIN, 1920/2011), ou tão somente uma noção crítica (SCHOENTJES, 2001).
Nada obstante, a evolução histórica da noção foi estudada por Behler (1997), que distingue quatro formas de ironia em função de períodos históricos: ironia socrática (do diálogo), ironia clássica (retórica), ironia romântica (relacionada à obra e ao mundo) e a ironia pós-moderna (dúvida generalizada). De modo semelhante, Schoentjes (2001) classifica a ironia em quatro categorias — ironia socrática, de situação, verbal, romântica; às quais associa um tipo de discurso, uma finalidade, um sentido e uma figura —, cada qual correspondendo a um domínio: o comportamento, a situação, o discurso e a arte — além de outros dois critérios: matéria (ironia verbal e de situação) e cronologia (ironia socrática e romântica). Embora fundamentais, estudos desta linhagem deixam em aberto alguns problemas: o das restrições de classificação taxonômica da ironia; o da transmissão de concepções de ironia entre diferentes períodos, autores, críticos; o da relatividade de cada forma e categoria, bem como suas ligações com outros objetos, períodos históricos etc.
Ora, este gênero de compilação teórica extensiva, que percorre os domínios da ironia, seus meandros históricos e situacionais, seu funcionamento e condições etc., pressupõe uma ampla perspectiva de trabalho, inevitavelmente susceptível, entre outros, a recorte de épocas, a uma marcação ou outra das reviravoltas teóricas, à ênfase em um estrato da noção. Tantas aproximações da temática da ironia podem, no entanto, encobrir alguns obstáculos de abordagem que se antepõem a tal miríade. Antes de nada, a constatação de que, à falta de conceituação cabal, jamais corresponderam descrições homogêneas que fornecessem uma visão única sobre o tema. Para alguns autores, a ironia sequer existe, nem como fato textual nem como objeto teórico; para outros, seria mero pretexto para o trabalho de crítica (DANE, 1991) — à custa de ignorar o uso não crítico da ironia, fundado sobre o apagamento do status diferencial entre autor e intérprete, como se verá.
- Elementos demarcatórios
Da significativa bibliografia sobre a ironia, decorrente de sua expressiva abrangência, depreende-se que se apresenta como figura polimorfa, de extensão nada desprezível, cujas ocorrências, nuances e implicações têm exigido análises e exames de múltiplas áreas de estudos. De fato, um debate recorrente em torno da questão da definição da ironia discute desde Quintiliano o seu domínio: é figura de palavra ou de pensamento? (LE GUERN, 1976).
A despeito da problemática retórica supracitada, em geral as interrogações em linguística se dividem em duas direções: ou rumam para a ideia de que a ironia mantém a contradição em uma só voz (KERBRAT-ORECHIONI, 1986),ou para uma construção polifônica da ironia (DUCROT, 1984; BERRENDONNER, 1981), tese de maior aceitação. Impossível, porém, negar o vínculo da ironia com a questão do estilo. Distante da expressão direta, mas sem se confundir com o ato de fala indireto, a ironia é indissociável da questão do estilo indireto livre: como uma forma do oblíquo (JANKÉLÉVITCH, 1936/2010), ela exige indagar, por suas diversas maneiras, e com mais ou menos insistência, sobre o desígnio de um além de si própria, ou de um aquém, ou, ainda, de cingi-la a um ou outro de seus numerosos contrários.
Em teoria literária, serve para definir o estilo de um autor ou nomear a sua singularidade, ou apenas suscitar o interesse para o seu trabalho. Malgrado sua banalização, o estilo irônico apresenta a dificuldade de identificá-lo a uma certa literatura “alexandrina” ou “erudita”, à questão linguística da colocação em série de vários níveis de discurso (SPERBER; WILSON, 1986), ou à articulação inédita de um texto que não provém de um locutor, mas é a representação do pensamento, como o propõe A. Banfield (1995). Esta, embora não especifique como a ironia, pela sua própria forma, revela uma estrutura de pensamento, reduz esta representação a uma forma própria à escrita romântica. Mas, se algumas vezes a ironia parece pertencer ao território da paródia e do pastiche, em outras, distingue-se radicalmente deles; as mais das vezes parece visar a fronteira dos gêneros literários — afinal, pode-se falar de ironia trágica, romântica, dramática, cômica, poética, pós-moderna —, privilegiando as formas “abertas” de expressão (ensaio, paradoxo, fragmento, conversação), mesmo sem deixar de ser a própria realização de um juízo crítico idealista contra as exaltações das ilusões e fantasias frente à realidade (FICHTE, 1971; SCHLEGEL, 1991) ou contra um mundo decepcionante (BERGSON, 1899/1924), juízo que, nada obstante, alcança a temática do cômico e do humor (FREUD, 1905/1969).
De fato, a ironia convoca a um julgamento: antes de mais nada, compartilhar ou recusar o ponto de vista do ironista — daí a “cumplicidade irônica” (JANKÉLÉVITCH, 1936/2010). Efetivamente, constitui um meio de aproximar alguém de sua complacência quanto a crenças, falsos valores e evidências etc., para, quiçá, situar uma distância emancipatória — constitui-se, pois, em uma espécie de crítica (SCHOENTJES, 2001).
Despertar da consciência, a ironia pressuporia, no entanto, uma atitude que, no caso da “ironia romântica”, subtende certa visão de mundo, ainda que se manifeste como crítica que coloca a sua distância. Trata-se de, em face ao real, questionar falsos valores, perceber o Universo como um caos (SCHLEGEL apud LACOUE-LABARTHE; NANCY, 1978) e fazer da ironia a consciência da falta de um princípio organizador e de qualquer domínio, exigindo corrigir a adesão ao que está posto, mediante distância crítica e ruptura da ilusão mimética (SCHOENTJES, 2001; GENETTE, 1982), ao menos em vista de uma nova poética. Se a reflexão sobre a ironia no romantismo alemão não negligenciou a tradição socrática e retórica, sucedeu à filosofia a exposição de importantes aspectos.
- A intenção colocada em questão
Se a ironia interessou à filosofia foi em razão de remeter, já em sua origem, não tanto a uma retórica, mas a uma atitude, a um comportamento, que concerne mais a uma questão ética, uma vez que o método próprio à ironia socrática envolvia o ethos de não impor qualquer raciocínio ao outro — ética imanente à palavra, portanto.
De fato, o primeiro registro da palavra é o de um substantivo que designa um agente — eirôn; εϊρων, em grego; aquele que interroga, que coloca questões —, e não o resultado de uma ação (BEHLER, 1997) designada pelo verbo eirōneúomai: “fazer-se de ignorante; fingir-se de ingênuo; dissimular” (HOUAISS, 2019). Desde a Antiguidade, portanto, a ironia abrange as dimensões filosófica e antropológica de uma atitude que, todavia, mantém-se inelutavelmente fundada sobre a linguagem. Ao descobrir, por trás da figura do eirôn, traços não apenas negativos, mas também positivos — astuto dissimulador —, a antropologia aproximou esta figura àquela do trickster: a figura arquetípica ancestral do trapaceiro, do malandro vigarista, do embusteiro (LÉVI-STRAUSS, 1958/1970; RADIN et al., 1958/1984).
Com efeito, tomar a ironia como dissimulação pressupõe mais o convite a um complexo jogo de reconstrução de intenções do que o apelo a uma inversão direta de significado. Ocorre, porém, que ela corresponde a uma forma de discurso pela qual o ironista pretende não fazer compreender o contrário do que ele pensa, mas o oposto do que diz: a contradição reside na própria formulação e deixa a dúvida pairar sobre o que o ironista pensa, sobre o que quis dizer, convocando a uma interrogação tão inevitável que dela Sócrates tirou a base de sua maiêutica, para melhor colocar em questão os valores da doxa; Aristóteles, um instrumento de sua retórica; Montaigne, o sinal de uma postura face ao mundo que impregna todo o ser; Kierkegaard, a possibilidade de “viver poeticamente” (KIERKEGAARD, 1841/2006, p. 242), reservando para si um íntimo tão secreto que leva o outro a se desmascarar.
De mais a mais, esta interrogação decorrente do funcionamento linguístico próprio à ironia ocasionalmente se traduz pela evidenciação de semblantes, por uma atitude crítica frente a um real inapreensível senão pela via da linguagem, ainda que esta não baste para o sujeito contemporâneo. Nada, porém, impediu a sua ideação, ora como elixir contra o domínio do outro, da doxa ou das pressuposições ideológicas, ora como maneira de escapar do engano, da mistificação ou da falsa consciência (JANKÉLÉVITCH, 1936/2010), ora como acesso à verdade, oriundo do choque das consciências…
Por este aspecto relacional — além de complexo e diferencial —, a ironia até pode ser inscrita em uma concepção filosófica liberal e libertária, por valorizar o indivíduo contra o coletivo e por seu eventual propósito emancipador, respectivamente. Se permite questionar qualquer sistema de comportamentos sociais e todos os códigos de comunicação, ela então já encontra a questão de seu uso como noção crítica, questão aberta de inúmeros estudos literários.
Neste âmbito, a polissemia que o termo ironia encobre a torna a figura emblemática da teoria literária a partir dos anos 1960; na década seguinte, o interesse da noção se deslocou fortemente da retórica para a definição de literariedade, já referida por Jakobson na década de 1920 (MOUNIN, 1974/2003; TODOROV, 1965/2003), como se anunciasse o tratamento das características linguísticas, semióticas, sociológicas etc., que fazem de um dado texto uma obra literária. A título de questão colocada à linguagem pela linguagem (BARTHES, 1966) e de manutenção de uma atitude crítica, não mais exclusiva do autor, mas respeitante ao leitor (BARTHES, 1968/1984), a ironia — doravante pós-moderna — se dá como um modo de leitura, reafirmando-se subordinada à interpretação, à decodificação, mas agora estendidas ao interlocutor. Por levantar a questão da interpretação crítica, a ironia ensejou, entre outros, estudos linguísticos e pragmáticos que contribuíram para inscrevê-la em uma perspectiva nem subjetivista, nem idealista, mas pragmática (BERRENDONNER, 1981; HAMON, 1996; HUTCHEON apud SCHOENTJES, 2001; KERBRAT-ORECCHIONI, 1986, entre outros).
A tantas abordagens, tantos mais embaraços
Não ignorar que as aproximações da temática da ironia revelam dificuldades específicas de abordagem é um passo essencial ao tratamento da questão. Além da dificuldade de delimitação que recubra os inúmeros tipos e os diferentes empregos da ironia, é preciso considerar o que ela coloca em jogo: a isenção investigativa e analítica (SCHOENTJES, 1992). Como estudar criteriosamente qualquer das manifestações da ironia se é imprescindível saber de antemão o que ela é para localizar o objeto a ser investigado.
A dificuldade da identificação da ironia não é apenas a da sua categorização, mas também, é claro, da sua recepção. Inesperada? Positiva? Negativa? A inevitável familiaridade prévia para com o fato da ironia implica partir de expressões já consideradas irônicas, em geral retiradas de um vasto campo de manifestações. Se não pode ser abordada senão por essa via, a ironia impõe à investigação alcançar seus limites, os quais resvalam eles próprios no mais íntimo da linguagem: é ativo ou passivo o intérprete? Em relação a quê? Na medida em que a sua compreensão requer o compartilhamento de certos valores, a ironia relança o problema da distância temporal e cultural, o conhecimento do autor e de suas intenções etc. Quais são, então, os dados nos quais a percepção da ironia se basearia? Existe algum ou seriam todos construídos pelo intérprete?.
A participação do intérprete-interlocutor denotaria, ainda, um componente pragmático adjacente à reconstrução das intenções: por residir em sua própria formulação, por ser expressão pela qual se dá a entender uma outra coisa — em geral o oposto do que se diz ou se quer levar a pensar —, a ironia é expressão como pensamento que não se completa, mas não por insuficiência. A ironia apenas sugere. Então, como o sentido explícito e o implícito estão ambos implicados na ironia sem, paradoxalmente, estar de fato representados? Neste caso, a natureza mesma da relação entre explícito e implícito estaria em jogo. Afinal, como, de uma indeterminação, se chega a uma contradição cujos termos mantêm-se em uma tensão equívoca?.
Ora, no que se apresenta linguisticamente, não existe nada senão discurso: o implícito é tão somente o que está no explícito. Por que, então, afora o enunciativo, devem ser considerados na ironia tantos elementos: retóricos, linguísticos, pragmáticos, conversacionais etc.? Porque, em primeiro lugar, não há como pensar a ironia fora dos efeitos de produção de sentido, o que torna problemáticas suas expressões a qualquer estudo: por que a arriscada ambiguidade constitutiva? Está consignada à antífrase ou se impõe a ela e a outras figuras da retórica? Mesmo identificada à antífrase, ora é estendida para além dela, ora reduzida pela exclusão dos asteísmos (DU MARSAIS, 1730/1988). Consignada à retórica, alcança a filosofia como questão ética1, ainda apresentando a difícil questão da referência: se ultrapassa os procedimentos do discurso sem dele perder-se (ROBRIEUX, 2000), quais as possibilidades de coexistência com outras expressões? Veículo da verdade ou ferramenta refinada da falsidade? Mera dissimulação, ou elevação desta à categoria de pensamento? Se habita o fundamento do sentido, o quanto o sentido da ironia decorre de suas referências às circunstâncias — contextuais e textuais — e de suas condições de uso e de manejo, de recepção e de interpretação?.
A ironia abala os fundamentos do sentido, pois questiona nada menos que a proporção um significante para um significado e impede pensar em um sentido que seja unívoco, evidenciando a ambiguidade da linguagem, logo, a equivocidade da condição de ser falante, consciente de si mesmo, dos outros, do mundo. De fato, separar o significante e o significado obriga retomar a questão da produção do sentido e do sujeito, colocando em xeque concepções estruturais fechadas da língua e da linguagem (LACAN, 1966a).
A ironia, portanto, não apenas realçaria a desigualdade peculiar à relação da consciência consigo mesma. Ela permitiria tomar consciência da polissemia e das insuficiências da linguagem, as quais acarretam questões metodológicas associadas à morte da concepção de “autor” como sujeito autônomo, desinteressado, inteiramente consciente, cujo domínio pleno da linguagem se refletiria na autonomia do pensamento, no poder emancipatório do conhecimento e das criações intelectuais, nunca refratários à interpretação.
Ocorre, porém, que a ironia ainda traria algum sinal da presença ativa de um «autor», seja a partir do campo intencional de que faz parte (intenção de significação, de dissimulação, de zombaria etc.); seja como artifício de tomar a palavra do outro para negar o ilusório de seu discurso ou como um dos tropos de expressão, o de oposição; seja por arrebatar da passividade da doxa (do irrefletido que alguém poderia ajudar a produzir e difundir) ou por colocar em xeque crenças e opiniões, chegando ao reexame de consciência face ao mundo e à linguagem; seja, enfim, por visar a um maior efeito do discurso mediante zombaria, brincadeira ou seriedade (FONTANIER, 1827/1978).
Então, quer no plano da visão de mundo, quer no do discurso e do texto, a ironia se dá como linguagem a se ocupar de si mesma e do outro, na presunção de que as relações com o mundo e com o outro admitem aparências e ilusões, quando não dissimulação. De fato, é à mera possibilidade de ter de falar ao outro que a ironia deve a sua existência — o que coloca em jogo uma ética, que reaparece no Renascimento como imanente à palavra e chega ao Humanismo como uma relação original à palavra e à verdade, atribuindo à ironia um “regime determinado da linguagem” (ASSOUN, 1980a).
Dependente de uma fala não mais restrita a dizer o verdadeiro, mas que requisita o poder perturbador das palavras e se abre à persuasão — nada mais que um dos efeitos de sentido —, a ironia se revela efeito necessário da linguagem.
Como se vê, há dificuldades específicas a qualquer aproximação da questão da ironia e elas parecem convergir para uma mesma indagação: a ironia seria, essencialmente, uma qualidade da linguagem? Participaria, então, dos paradoxos de todo saber e de qualquer realidade? Seja o que for, a ironia mostrou-se estrutural, quer dizer, inerente ao próprio uso que se faz da língua e da linguagem em seu funcionamento, em situações de fala e de escrita, insinuando a questão da linguagem por excelência.
Legitimações de uma posição
Ao tangenciar tantas disciplinas fronteiriças, atravessada por outros tantos debates e interrogações, a ironia leva a tratar de suas legitimações. Por visar ações — é o caso da retórica — ou estar a cargo de práticas discursivas poéticas, as quais visam imitar ações — caso da literatura e do cinema —, a ironia encontraria suas principais legitimações quer no discurso dos “criadores” e “autores”, quer no dos críticos e estudiosos: legitimação ética, estética, literária, histórica, filosófica, estilística, política… E, sem que a série seja evidentemente exaustiva, observando que parte considerável da literatura recente parece se deslocar sob o seu signo, pode-se indagar se a própria ironia, por sua hegemonia e domínio, não se encontra sob a ameaça não tanto de um “conformismo irônico” (JANKÉLÉVITCH, 1936/2010), mas de uma reabilitação da tradição, de um “retorno à ordem” [“retour à l’ordre”]; ao grotesco; ao patético; à seriedade; ao lírico; à ingenuidade; enfim, às paixões, inclusive aos sopros autoritários.
Em uma época marcada por aspirações autocráticas, pela pretensão de normalização dos costumes e da arte — e mesmo de sua consignação —, como não observar quão solicitada é pelo futuro?.
A posição da ironia seria, então, a de um desvio, antídoto contra as presunções, contra as ilusões e as opiniões do outro e as suas próprias — desvio ou afastamento sublinhados desde a sua origem retórica: figura cuja existência se deve ao fenômeno de sua efetivação como transformação do pensamento e da palavra. Já então exibia a virtualidade de insinuar um futuro em oposição ao presente, outra coisa do que o atual; antes de vir a ser um termo teórico, era, para os românticos alemães, o nome de uma nova poética e um gesto de ruptura, carregado da ideia de um futuro para as obras ligado às suas futuras recepções, sempre renovadas.
De fato, opondo-se a qualquer síntese harmoniosa de contrários em prol de formas abertas de expressão, permeáveis a certos atos de fala e disponíveis a outros tantos, opera uma descontinuidade: inadequação entre enunciado e enunciação, assimetria entre implícito e explícito… Aspecto ainda mais acentuado pela ‘disparidade’ de, na ironia, contestar-se a sua própria enunciação no exato instante em que esta é realizada, até mesmo ausentar-se de sua palavra para dar-lhe mais efeito. Sem perder força diante das arbitrárias limitações de gêneros de discursos, a ironia pode interpelar qualquer prática discursiva. Traço de espirituosidade, assume a posição de uma estética da diferença e do oblíquo: ironizar é fazer outra coisa ou nada, não o mesmo; é opor-se ou condescender, estar alhures, em nenhum outro lugar, nunca junto; é se posicionar antes ou depois, escapar de seu destino, não por dominá-lo, mas por livrar-se dele. Tamanha negatividade — infinita para Hegel —, porta seus riscos e ressalta as dificuldades de se conceber uma dialética da ironia, e mesmo uma crítica da ironia — “art des profondeurs et des hauteurs” (DELEUZE, 1969/2005).
- Demarcações analíticas
Os meandros do estudo da ironia emaranham-se por diversas temáticas, as ora apresentadas roçam a psicanálise, com mais ou menos pertinência, a começar pela temática do humor e do Witz, “exemplo de presença de espírito (Schlagfertigkeit)” que “reside apenas na expressão verbal” (FREUD, 1905/2017, p. 52 e 44, respectivamente).
A ironia interessa à psicanálise não apenas por ser linguagem, linguagem que joga e se entretém consigo mesma e com o outro, meio de gozo ou modo de evasão da mistificação e do domínio da ideologia, mas também por sua dimensão ética que, inclusive, tange à sua problemática autorreflexividade (JANKÉLÉVITCH, 1936/2010). Isto porque, a título de expressão pela qual se dá a entender outra coisa, em geral o contrário do que se diz — portanto, como pensamento que não se completa e se livra de ser subsumido a um conteúdo determinado —, a ironia excede a qualquer tomada de consciência de si ou do mundo, sem jamais se separar de certa autorreflexividade. Configura-se, então, como um movimento de pensamento em que, no lugar do que seria o “conteúdo” de pensamento que manifestaria, ocorre incongruência, desvio que atinge a reflexão.
Expressão que se dá como movimento tortuoso de pensamento, indireto, equívoco, a ironia é a própria possibilidade de a linguagem se subtrair ao poder do Mestre, assim constituindo-se — se é verdade que o discurso, não tendo autoridade em si mesmo, a recebe do falante, que em verdade antecipa a autoridade do outro a quem se dirige. Ora, isso acaba por mistificá-la como uma das figuras do domínio, mantendo-a presa ao problemático jogo da objetividade e da subjetividade já observado por F. Schlegel, para quem ela reúne dois termos contraditórios: a ordem do discurso (Logos) e a ordem da transcendência inefável (beleza) que excede o dizível de todo Logos em sua célebre afirmação: “A filosofia é a verdadeira pátria da ironia, que se poderia definir como beleza lógica [...]” (SCHLEGEL, 1997, p. 26, p. 42.). Como figura do domínio — “Une idée est concept accompli jusqu’a l’ironie, une synthèse absolue d’absolues synthèses, l’échange constant, et s’engendrant lui-même, de deux pensées en lutte” (SCHLEGEL apud LACOUE-LABARTHE; NANCY, 1978. p. 113 e ss.) —, a ironia prende-se ainda ao jogo da verdade e do semblante tal como o apontou Lacan (1971-1972/2011).
De fato, a ironia sobrecarrega-se dos semblantes de quem jamais é capturado pela doxa ou cai sob o domínio do outro, de quem jamais é preso em ilusões, na obviedade ou na reprodução irrefletida de aparências — se assim o fosse, a ironia seria nada mais que semblante.
Ocorre, porém, que o poder do semblante é o do significante (LACAN, 1971/2009. p. 15). Único real da psicanálise, não é nem uma ilusão, nem um artifício, tampouco fingimento ou falsidade; designa um ponto fictício, decerto, porém necessário para apreender o real2. Plurais, os semblantes são formações simbólicas e imaginárias, criações que, no entanto, podem povoar subjetividades e fazer a trama dos laços sociais no que filtram do real.
Agora, dados os inúmeros fatores que exercem influência sobre a criação, é crucial para a psicanálise pensar a crítica que preste ao sujeito a responsabilidade devida; autor, leitor ou interlocutor, trata-se de colocar em questão o lugar preponderante dado à pretensão ao desinteresse, à autonomia do pensamento e ao domínio emancipatório advindo do saber ou da criação intelectuais — os quais seriam esclarecidos por interpretação.
É ainda acentuada a crítica acerca da criação, sobretudo daquela espirituosa, na medida em que é: “[...] muito duvidoso que alguém que dá livre curso à sua espirituosidade conhece a exata intenção desta” (FREUD, 1905/2017, p. 149). O que está em jogo na noção de “intencionalidade” agrava-se com a noção psicanalítica de inconsciente, que impede pensar em um sentido que seja unívoco, pois, assentada sobre o equívoco, esta noção freudiana seria a própria constatação da polissemia da linguagem, da existência de sentidos múltiplos que sustêm e são sustentados por articulações significantes que têm por efeito significados diversos, exorbitantes até. Ora, a tomada em consideração da dimensão do inconsciente no campo intencional em que de imediato se situou a ironia, antes de estender suas manifestações a diversas áreas, convida a refinar a aproximação psicanalítica da ironia para além das abordagens freudianas quanto ao chiste, ao cômico e ao humor, dado o retorno da problemática do sujeito aí implicado
- À falta de uma circunscrição analítica
Interessado no fato de o humor não constituir um fim em si, mas uma disposição psíquica, uma espécie de faculdade, Freud figura a ironia entre as onze técnicas de produção do Witz, especificando-a como “representação pelo oposto” (FREUD, 1905/1969, p. 76), a despeito de corresponder a um mecanismo comum a qualquer tipo de chiste: a retirada de prazer, ao menos para aquele que a emprega, através de uma economia com a inibição3. Theodor Reik (1952), por sua vez, concebe a ironia como a enunciação de um mundo presente ruim, rejeitado a favor de um mundo ideal perdido — concepção próxima, portanto, da teoria de Bergson (1899/1924), cuja dimensão crítica da ironia aparece como um juízo crítico que marca a distância entre o universo ideal ansiado por alguém e a decepcionante realidade à qual afinal se encontra confrontado
Se a teoria freudiana do “desinvestimento de energia psíquica” permite designar à ironia a instituição de uma posição estética problemática ao extremo — conciliar de modo paradoxal riso e lágrimas, tirar gozo do sofrimento, quando menos da amargura —, a análise de Reik, restrita a determinados aspectos das manifestações irônicas, se mostra reducionista.
Em contrapartida, a ideia de uma função retórica do inconsciente, que permitiria falar mais amplamente em “ironie inhérente à l’inconscient” (ASSOUN, 1980b, p. 157) — que se estenderia a todas as formações do inconsciente, p. ex. —, se mostra problemática em seus próprios termos, pois nem o inconsciente se subsume à dimensão retórica (ou à eloquência), como tampouco a ironia resultaria necessariamente em uma ação retórica, e menos ainda à inversão e à preterição ou às poéticas em suas imitações de ações.
Embora tenha fundado a sua investigação no discursivo, em vez do intuitivo e do introspectivo, e buscado determinar as leis do discurso em lugar da língua alemã, Freud se aproximou não da função discursiva, mas da função da linguagem própria a qualquer língua, jamais restrita, portanto, a qualquer figura de linguagem. Por via de consequência, Freud acabou por estudar aquilo que se revelaria uma verdadeira estrutura significante dotada de uma universalidade que excedia as línguas ditas naturais. Como esta estrutura significante era simultaneamente intra e translinguística, a psicanálise “abriu” a linguagem, separou o significante e o significado devido à hegemonia daquele, obrigando a uma retomada da questão da produção do sentido e do sujeito, a mesma colocada em jogo na ironia. Em outras palavras, Freud, sem o saber, se aproximou de aspectos da ironia que ultrapassavam a temática do cômico e do humor, o que passou despercebido por Reik. A estrutura significante intra e translinguística, indiferente à língua — mas não sem ela —, denominada inconsciente freudiano, objeto lacaniano, está na base da ironia, e não o contrário, como Assoun o supôs.
Ora, se a condição de sujeito é, realmente, a de ter de articular a sua verdade e a sua linguagem, que só pode ser a de seu desejo, a ironia, justamente por implicar toda uma relação com a verdade — relação dita “o inconsciente” (ASSOUN, 1980b) —, seria a linguagem que melhor convém à paradoxal relação do sujeito com a verdade e com o seu desejo, até porque, ao fazer da contradição e do desvio as suas figuras centrais, favorece a expressão da alteridade mais aguda. Um contrário que se define como “o outro o mais outro” (JANKÉLÉVITCH, 1936/2010), a outra coisa que se dá a entender no enunciado ou na enunciação desprovidos de qualquer “conteúdo” de pensamento determinado. Nada mais nada menos que um semblante de verdade, a ironia relança a questão: verdade ou semblante? Ou uma coisa só?4.
Não à toa, é crucial levar em conta um aspecto desconsiderado por Freud e deixado de lado por Reik e Assoun: em relação ao mundo exterior, o humor e a ironia manifestam participações diferentes e distantes uma da outra; aquele não se preocupa com o mundo exterior, senão minimamente, apenas a ironia aspira apreendê-lo, e mesmo modificá-lo, ainda que à custa de se mortificar. Por quê?
Embora se preste a jogos de linguagem, a ironia jamais se limitaria a simples procedimento linguístico ou Witz que interessariam a tantas disciplinas. Ao produzir um “ganho de prazer” por meio de arranjos linguísticos que dispensam a inibição e avançam para um hiato (FREUD, 1971/1969), a ironia acaba por levantar questões psicanalíticas que vão além da reflexão filosófica ou linguística sobre modos de argumentação e do discurso.
Ao afetar o sentido em seus fundamentos, por um desvio que cria e destrói a ilusão de um sentido e de um sujeito prévios, liberando a falta não tanto de coerência, mas de concordância, a ironia imprime nova força à tensão verdade ou semblante, sobretudo quando instala uma distância crítica ao mesmo tempo em que evidencia contradições e incongruências susceptíveis de colocar em movimento a linguagem de um sujeito para além de uma reivindicação gozosa. Isso daria à ironia uma real dimensão psicanalítica?
Nada menos que linguagem a resvalar em seus próprios limites, a tangenciar a mais íntima incerteza do sujeito — a da condição linguageira correlativa a seu objeto —, a ironia porta este efeito do qual não escapa: o de não apenas posicionar o sujeito acima ou fora do que a ele se apresenta, mas, por vezes, de elevá-lo acima de si mesmo, de lançá-lo alhures, o que a faz ir além de si própria, inclusive.
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-
1
De acordo com Fontanier (1978), é empregada por escolha ou por artifício, nunca por necessidade.
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2
«La jouissance ne s’interpelle, ne s’évoque, ne se traque, ne s’élabore qu’à partir du semblant» (LACAN, J. Le Séminaire, Livre XX, Encore, p. 85).
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3
(FREUD, 1905/1969, p. 218.) Aspecto que, aliás, não deixa de ecoar a questão da finalidade da ironia discutida desde Fontanier: gozação, escárnio, zombaria.
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4
“Uma verdade não tem conteúdo. Uma verdade que se diz sê-lo ou é verdade ou é semblante, distinção que nada tem a ver com a oposição entre verdadeiro e falso, pois se ela [aquela verdade] é um semblante, é um semblante de verdade, precisamente. A incompreensão… provém da questão de saber se verdade ou semblante não são uma coisa só” (LACAN, J. Estou falando com as paredes, p. 51).
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
05 Jun 2020 -
Data do Fascículo
May-Aug 2020
Histórico
-
Recebido
23 Ago 2019 -
Aceito
30 Abr 2020