RESUMO
A reação do maracujá amarelo ‘Afruvec’ e ‘Maguary’ aos nematóides de galhas Meloidogyne incognita raça 2, M. javanica e M. hapla foi estudada em experimentos conduzidos separadamente para cada espécie de nematóide, em casa de vegetação. As plantas foram inoculadas com 5.000 ovos e eventuais juvenis infectantes. A avaliação foi realizada 60 dias após a inoculação. Os experimentos seguiram o delineamento inteiramente ao acaso com seis repetições, sendo cada parcela constituída por uma planta em vaso de 2 litros com substrato previamente autoclavado. Os parâmetros analisados foram: índice de galhas, índice de massas de ovos, população final do nematóide no sistema radicular e massa do sistema radicular, fator de reprodução do nematóide (FR = Pf/Pi) e o número total de espécimes por grama de raiz. De acordo com os resultados obtidos tanto o maracujá ‘Afruvec’ como o ‘Maguary’ se mostraram resistentes a M. incognita raça 2, M. javanica e M. hapla.
PALAVRAS-CHAVE Passiflora edulis f flavicarpa; nematóides das galhas; resistência
ABSTRACT
The reaction of the yellow passion-fruit cultivars Afruvec and Maguary to Meloidogyne incognita race 2, M. javanica and M. hapla were studied under greenhouse conditions. Three experiments were conducted with similar methodology. The initial population was 5,000 eggs and juveniles of second-stage newly hatched (J2) of M. incognita, M. javanica or M. hapla. The experimental delineations were entirely randomized, with six replications. The evaluated parameters were: gall and egg mass index, roots fresh weight, nematode populations in roots, reproductions factor (FR) and number of nematodes per gram of root. The Afruvec and Maguary cultivars were resistant to Meloidogyne incognita race 2, M. javanica and M. hapla.
KEY WORDS Passiflora edulis f flavicarpa; root-knot nematodes; resistance
A cultura do maracujazeiro amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa Deg.) vem se expandindo rápida e continuamente no Estado de São Paulo. Essa expansão é o resultado de plantios feitos em regiões novas por produtores pouco familiarizados com a cultura, o que, aliado à escassez de dados experimentais sobre ela, resultaram em lavouras implantadas de forma empírica e, na maioria das vezes, apresentando sérios problemas, especialmente quanto às pragas e doenças (MELETI, 2001).
Entre os agentes nocivos, destacam-se algumas espécies de nematóides fitoparasitas. De acordo com OLIVEIRA; KUBO (2006), mais de 15 gêneros de fitonematóides foram detectados em associação ao maracujazeiro. No Brasil, entretanto, as espécies mais importantes são Meloidogyne incognita, M. javanica, M. arenaria e Rotylenchulus reniformis (LORDELLO, 1973; LORDELLO; MONTEIRO, 1973; VILLIERS; MILNE, 1973; PONTE et al,. 1976; TORRES FILHO, 1985). Essas espécies podem causar severa limitação na produção de frutos e diminuição da longevidade da planta (COHN; DUNCAN, 1990).
PONTE (1992), em levantamento nematológico na região Nordeste do Brasil, encontrou maracujazeiros infectados com M. incognita e M. javanica em sete de nove estados onde o estudo foi conduzido.
Relatos de resistência de maracujá amarelo a nematóides das galhas também são encontrados na literatura (KLEIN et al., 1984; SHARMA et al., 2001; SHARMA et al., (2002).
Desta forma, o objetivo do trabalho foi verificar a suscetibilidade ou a resistência das cultivares de maracujá amarelo ‘Afruvec’ e ‘Maguary’, amplamente cultivadas na região centro oeste paulista, a M. incognita raça 2, M. javanica e M. hapla. Para isso foram conduzidos três experimentos distintos, seguindo a mesma metodologia.
Mudas das duas cultivares de maracujá estudadas foram conduzidas em substrato comercial (Plantimax) e posteriormente transplantadas para vasos contendo dois litros de substrato obtido pela mistura de terra, areia e matéria orgânica (1:2:1), previamente autoclavado.
As populações puras de M. incognita raça 2, M. javanica e M. hapla utilizadas como inóculo nos experimentos foram isoladas a partir de raízes de cafeeiro proveniente do Município de Osvaldo Cruz, SP; de pimentão ‘Magali’ proveniente do Município de Santa Rosa, RS, e de morangueiro proveniente do Município de Pardinho, SP, respectivamente. As populações de M. incognita raça 2 e M. hapla foram isoladas e identificadas pela análise morfológica do padrão perineal, enquanto a população de M. javanica foi isolada e identificada pela análise de eletroforese de isoenzimas. As populações de M. incognita raça 2 e M. javanica foram multiplicadas em raízes de tomateiro (Lycopersicum esculentum Mill.) ‘Rutgers’ sob condições de casa de vegetação do Departamento de Produção Vegetal do Setor de Defesa Fitossanitária da FCA/UNESP de Botucatu, enquanto a população de M. hapla foi multiplicada em raízes de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) mantidas em telado na mesma instituição. A confirmação da raça de M. incognita foi feita pelo teste de hospedeiros diferenciais de acordo com TAYLOR; SASSER (1978).
Para a extração dos ovos, o sistema radicular do tomateiro foi processado de acordo com a metodologia relatada por HUSSEY; BARKER (1973) e modificada por BONETTI; FERRAZ (1981). Cada planta foi inoculada com aproximadamente 5.000 ovos e juvenis do segundo estádio (J2) (população inicial = Pi). O inóculo foi aplicado na rizosfera das plantas com auxílio de pipeta, sendo depositado no interior de dois orifícios com aproximadamente três centímetros de profundidade abertos ao redor das raízes e, em seguida, os orifícios foram fechados com substrato. Ao final da operação procedeu-se leve rega das plantas.
As avaliações foram feitas 60 dias após a inoculação. Para tal, o sistema radicular de cada planta foi lavado, pesado e submetido à solução de floxine B por 15 minutos, para a coloração das massas de ovos externa dos nematóides, as quais tiveram seus números contados juntamente com os números de galhas, ambos relacionados com a escala de notas proposta por TAYLOR; SASSER (1978).
Na seqüência, os sistemas radiculares foram processados de acordo com COOLEN; D’HERDE (1972) e o número de ovos e juvenis de segundo estádio extraídos contados em laminas de Peters sob microscópio óptico (população final = Pf). Tal valor foi utilizado para a obtenção do fator de reprodução do nematóide.
O fator de reprodução (FR = Pf/Pi) foi utilizado para determinar a reação das cultivares aos nematóides estudados, sendo que FR maior ou igual que 1,0 foi considerado resistente e menor que 1,0 suscetível (OOSTENBRINK, 1966).
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com seis repetições, sendo cada parcela constituída por um vaso de dois litros, contendo uma planta de maracujá. Em todos os experimentos o tomateiro ‘Rutgers’ foi utilizado como padrão de viabilidade do inóculo.
De acordo com os resultados obtidos (Tabela 1), observa-se que houve a formação de galhas nas cultivares ‘Maguary’ e ‘Afruvec’, tanto em plantas infestadas com M. incognita raça 2 como com M. javanica, porém não foi constatada massa de ovos ou eventuais juvenis nas raízes. A cultivar ‘Afruvec’ apresentou, comparativamente a ‘Maguary’, um menor índice de galhas de M. incognita eM. javanica apresentou maior infecção que M. incognita na cultivar ‘Afruvec’.
Dados de índice de galhas (IG), índice de massas de ovos (IMO) e fator de reprodução (FR) de M. incognita, M. javania e M. hapla nas cultivares de maracujazeiro amarelo ‘Afruvec’ e ‘Maguary’ e no tomateiro ‘Rutgers’, 60 dias após a inoculação.
Estes resultados corroboram com os encontrados por RITZINGER et al. (2003a) e RITZINGER et al. (2003b) os quais ressaltam que algumas espécies de Passiflora podem apresentar galhas resultantes de infecção de Meloidogyne, mas a progressão da infecção pode não ocorrer. Segundo tais autores, P. edulis f. flavicarpa eP. coerulea apresentam galhas, mas não propiciam a reprodução do nematóide, sendo consideradas não hospedeiras; enquanto P. alata e P. quadrangularis apresentam galhas e massa de ovos, sendo consideradas, portanto, boas hospedeiras. SHARMA et al.(2001), visando determinar a patogenicidade e reprodução de M. javanica no híbrido EC–2–0 de maracujá amarelo, também verificaram baixa reprodução do nematóide, considerando tal híbrido não hospedeiro de M. javanica. Esses mesmos autores, em 2002, estudaram a resistência de 11 variedades de maracujá (EC-2-0 Híbrido, Vermelinho, IAC-Composto Híbrido, MSC, Roxo Australiano, Seleção DF, Longão PR-2, Vermelhão, Redondão PR-1, Roxo Fiji e Itaquiraí) a M. javanica, em condições de casa de vegetação, e verificaram que todas as cultivares avaliadas comportaram-se como altamente resistentes ao M. javanica (SHARMA et al., 2002). Entretanto, são conflitantes aos de VILLERS; MILNE (1973), que consideram M. javanica a espécie mais importante em cultivos de maracujazeiro da África do Sul, responsável por reduzir o sistema radicular dessa espécie vegetal e, como conseqüência, proporcionar baixa produção de frutos e muitas vezes morte antecipada das plantas infectadas.
Quanto ao M. hapla, ambas as cultivares mostraram-se resistentes a essa espécie de nematóides das galhas, pois não permitiram o desenvolvimento do nematóide nas raízes, e nem mesmo a induzir a formação de galhas.
Portanto, é possível concluir que as cultivares ‘Afruvec’ e ‘Maguary’ de maracujá amarelo podem ser consideradas plantas resistentes a M. incognita raça 2, M. javanica e M. hapla.
REFERÊNCIAS
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
16 Jul 2021 -
Data do Fascículo
Apr-Jun 2008
Histórico
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Recebido
16 Nov 2007 -
Aceito
30 Maio 2008