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BIOLOGIA, EXIGÊNCIAS TÉRMICAS E ESTIMATIVA DO NÚMERO ANUAL DE GERAÇÕES DE HYPOCALA ANDREMONA (STOL, 1781) (LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE) NA CULTURA DO CAQUIZEIRO* * Parte da tese apresentada pelo primeiro autor ao Programa de Pós-Graduação em Fitossanidade - Entomologia, Universidade Federal de Pelotas, Faculdade de Agronomia "Eliseu Maciel".

BIOLOGY, THERMAL REQUIREMENTS AND ESTIMATE OF THE ANNUAL NUMBER OF GENERATIONS OF HYPOCALA ANDREMONA (STOLL, 1781) (LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE) ON PERSIMMON CROPS

RESUMO

Hypocala andremona (Stoll, 1781) (Lepidoptera: Noctuidae) é a principal praga do caquizeiro no Brasil. Neste trabalho estudou-se a biologia do inseto em folhas de caquizeiro da cultivar Fuyu, nas temperaturas de 18, 22, 26 e 30º C, determinando-se as exigências térmicas e estimando-se o número anual de gerações nas principais regiões produtoras de caqui do Brasil. A duração dos estágios imaturos e do período ovo-adulto de H. andremona foi dependente da temperatura, sendo 22 e 26º C as mais adequadas para o desenvolvimento do inseto. Os valores do limiar térmico inferior de desenvolvimento (Tb) de H. andremona foram 7,62, 8,76, 10,96 e 11,03° C, com constantes térmicas (K) de 45,80, 383,82, 174,90 e 512,59GD para os estágios de ovo, lagarta, pupa e período ovo-adulto, respectivamente, permitindo ao inseto completar 2,9 gerações por ano em Vacaria, 3,6 em Caxias do Sul, e 6,3 em Montenegro, RS; 3,5 em Joaçaba e 4,0 em Canoinhas, SC; 3,7 em Maringá, 3,8 em Curitiba e 6,7 em Apucarana, PR; 5,7 em Mogi das Cruzes, 6,8 em Bragança Paulista e 7,1 em Jundiaí, SP; 4,9 em Nova Friburgo e 6,8 na região Serrana, RJ; e 5,7 em Santa Rita do Sapucaí, MG.

PALAVRAS-CHAVE
Lagarta-das-folhas; temperatura base; constante térmica; Hypocala andremona ; caqui

ABSTRACT

Hypocala andremona (Stoll, 1781) (Lepidoptera: Noctuidae) is the most important pest of persimmon in Brazil. In this research, the biology of this insect was studied on persimmon leaves of the cultivar Fuyu, at temperatures of 18, 22, 26 and 30º C. The thermal requirements were determined and the annual number of generations in the main persimmon growing regions of Brazil was estimated. The duration of the immature stages and of the egg-adult period of H. andremona depended on the temperature. Temperatures of 22 and 26º C were the most adequate for the development of the insects. The thermal threshold of development of H. andremona (Tb) was 7.62, 8.76, 10.96 and 11.03° C. The thermal constants (K) for the egg, larval and pupal stages and for the egg-adult period were 45.80, 383.82, 174.90 and 512.59 GD, respectively, allowing for the completion of 2.9 generations per year in Vacaria, 3.6 in Caxias do Sul, and 6.3 in Montenegro, RS; 3.5 in Joaçaba and 4.0 in Canoinhas, SC; 3.7 in Maringá, 3.8 in Curitiba and 6.7 in Apucarana, PR; 5.7 in Mogi das Cruzes, 6.8 in Bragança Paulista, and 7.1 in Jundiaí, SP; 4.9 in Nova Friburgo and 6.8 in the Serrana region, RJ; and 5.7 in Santa Rita do Sapucaí, MG.

KEY WORDS
Thermal threshold; thermal constant; Hypocala andremona ; persimmon

INTRODUÇÃO

A lagarta-das-folhas Hypocala andremona (Stoll, 1781) (Lepidoptera: Noctuidae) é a principal praga do caquizeiro no Brasil, apresentando estreita relação com plantas do gênero Diospyros, no qual está incluído o caquizeiro cultivado (Diospyros kaki L.) (AMANTE, 1965AMANTE, E. Observações bionômicas sobre Hypocala andremona (Cram.) (Lepidoptera – Noctuidae) praga do caquizeiro. O Biológico, São Paulo, v.31, n.5, p.97-101, 1965.; HALLMAN & KNIGTH JUNIOR, 1993; GALLO et al., 2002GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R.P.L.; BATISTA, G.C.; BERTI FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.; VENDRAMIN, J.D.; MARCHINI, L.C.; LOPES, J.R.S.; OMOTO, C. Entomologia agrícola. Piracicaba: FEALQ. 2002. 920p.). Além do caquizeiro, apenas plantas do gênero Citrus são relatadas como hospedeiras do inseto (BIEZANKO et al., 1974BIEZANKO, C.M.; RUFFINELLI, A.; LINK, D. Plantas e otras sustancias alimenticias de las orugas de los lepidopteros uruguayos. Revista do Centro de Ciências Rurais da Universidade de Santa Maria, v.4, p.107-148, 1974.). Segundo HICKEL & MATOS (2000)HICKEL, E.R. & MATOS, C.S. Pragas do caquizeiro e seu controle no Estado de Santa Catarina. Florianópolis: Epagri, 2000. 34p. (Boletim Técnico n.109)., nas regiões produtoras de Santa Catarina o ataque da praga é mais acentuado quando os frutos são pequenos (1,0 a 1,5 cm de diâmetro), sendo que as lagartas recém-eclodidas alojam-se sob o cálice raspando a epiderme dos frutos. Ao atingirem os últimos ínstares, abandonam os frutos e passam a se alimentar de folhas. As lagartas pequenas também podem atacar as folhas, tendo preferência por brotações novas (HALLMAN & KNIGHT JUNIOR, 1993HALLMAN, G.J. & KNIGHT JUNIOR, R.J. Hypocala andremona (Lepidoptera: Noctuidae) development on eight species of Diospyros (Ebenaceae). Florida Entomologist v.76, n.3, p.461-465, 1993.; HICKEL & MATOS, 2000HICKEL, E.R. & MATOS, C.S. Pragas do caquizeiro e seu controle no Estado de Santa Catarina. Florianópolis: Epagri, 2000. 34p. (Boletim Técnico n.109).). No Estado de Santa Catarina a ocorrência de H. andremona limita-se a um período restrito (HICKEL & MATOS, 2000HICKEL, E.R. & MATOS, C.S. Pragas do caquizeiro e seu controle no Estado de Santa Catarina. Florianópolis: Epagri, 2000. 34p. (Boletim Técnico n.109).). A praga é observada a partir da brotação da cultura, nos meses de setembro a outubro. O pico populacional ocorre nos meses de novembro e dezembro, com a população decrescendo acentuadamente em janeiro e fevereiro, sendo que a partir de março a praga não é mais encontrada nos pomares.

De acordo com ANDERSON & PINHEIRO (1974)ANDERSON, O. & PINHEIRO, R.V.R. O caqui e sua cultura. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1974. 22p. (Série Técnica – Boletim 47)., o ataque de H. andremona também pode resultar na queda dos frutos pequenos, reduzindo a frutificação efetiva. No Sudeste do Brasil, os danos podem ocorrer durante a fase final de desenvolvimento dos frutos, acelerando o processo de maturação, constituindo-se em porta de entrada para fungos e bactérias que podem acarretar o apodrecimento e queda dos mesmos (AMANTE, 1965AMANTE, E. Observações bionômicas sobre Hypocala andremona (Cram.) (Lepidoptera – Noctuidae) praga do caquizeiro. O Biológico, São Paulo, v.31, n.5, p.97-101, 1965.).

As condições climáticas de uma região podem ser fatores determinantes para a ocorrência de pragas, pois afetam diretamente o desenvolvimento e o comportamento dos insetos e indiretamente a sua alimentação (SILVEIRA NETO et al., 1999). De modo geral, a faixa ótima para o desenvolvimento e atividade dos insetos situa-se entre 15° C e 38° C. Dentro dessa faixa favorável, a temperatura influencia, entre outros fatores, a velocidade de desenvolvimento, que é maior em condições de temperatura mais elevada (HADDAD et al., 1999HADDAD, M.L.; PARRA, J.R.P.; MORAES, R.C.B. Métodos para estimar os limites térmicos inferior e superior de desenvolvimento de insetos. Piracicaba: FEALQ, 1999. 29p.). A determinação das exigências térmicas de H. andremona pode contribuir para o desenvolvimento de sistemas de previsão da sua ocorrência no campo, permitindo a adoção de medidas de controle em função da temperatura.

Neste sentido, os objetivos deste trabalho foram conhecer o desenvolvimento de H. andremona em folhas de caquizeiro da cultivar Fuyu em diferentes temperaturas, determinar as exigências térmicas e estimar o número anual de gerações nas principais regiões produtoras de caqui do Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido no Laboratório de Entomologia da Embrapa Uva e Vinho, Bento Gonçalves, RS. A biologia de H. andremona foi estudada em quatro temperaturas (18, 22, 26 e 30º C), em câmaras climatizadas, com UR de 70 ± 10% e fotofase de 12h. A duração e a viabilidade do estágio embrionário foi avaliada em 200 ovos em cada temperatura, dispostos em placas de Petri com 50 ovos cada. Nas avaliações relativas aos estágios pós-embrionários foram individualizadas 200 lagartas recém-eclodidas em tubos de vidro de 8,5 x 2,5 cm contendo folhas de caquizeiro da cultivar Fuyu em cada temperatura. As folhas foram coletadas durante o verão (meses de janeiro e fevereiro), no terço terminal dos ramos de caquizeiro. Antes de serem fornecidas às lagartas, foram mergulhadas em solução de hipoclorito de sódio a 2% por 20min para eliminação de agentes patogênicos, provavelmente, bactéria do gênero Serratia, e, em seguida, lavadas com água destilada e deixadas à sombra por duas horas para secar. Forneceu-se uma folha inteira para cada indivíduo, renovando-se o alimento diariamente.

As lagartas permaneceram nos tubos de vidro até atingirem o último ínstar, quando foram transferidas para copos plásticos (5,0 x 5,0 cm), em virtude do aumento no consumo de alimento, sendo necessário o fornecimento de 3folhas por indivíduo, onde foram mantidas até atingirem a estágio de pupa. Com 24h de idade foi realizada a separação por sexo (BUTT & CANTU, 1962BUTT, B.A. & CANTU, E. Sex determination of lepidopterous pupae. Washington: United States Department of Agriculture (USDA), ARS, 1962. 7p. (ARS-33-75).) e a pesagem das pupas, que foram retornadas aos copos até a emergência dos adultos.

O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, considerando-se cada inseto uma repetição. Os dados obtidos foram analisados quanto à normalidade pelo teste de Liliefors e quanto à homogeneidade das variâncias dos erros pelos testes de Cochran e Bartlett, para os experimentos com número igual e diferente de repetições, respectivamente (RIBEIRO JUNIOR, 2001RIBEIRO JUNIOR, J.I. Análises estatísticas no SAEG. Viçosa: UFV, 2001. 301p.). Não apresentando distribuição normal ou homogeneidade da variância dos erros, os dados (x) de contagem (duração dos estágios de desenvolvimento) foram transformados em (x + 0,5)0,5, presumindo-se que seguem a distribuição de Poisson, e os dados expressos em porcentagem (sobrevivência) foram transformados em arcsen (x/ 100)0,5, presumindo-se que seguem a distribuição Binomial, e submetidos à análise de variância (RIBEIRO JUNIOR, 2001RIBEIRO JUNIOR, J.I. Análises estatísticas no SAEG. Viçosa: UFV, 2001. 301p.) sendo as médias dos tratamentos comparadas pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05).

O limiar térmico inferior (tb) e a constante térmica (K) foram calculados através do método da hipérbole (HADDAD et al., 1999HADDAD, M.L.; PARRA, J.R.P.; MORAES, R.C.B. Métodos para estimar os limites térmicos inferior e superior de desenvolvimento de insetos. Piracicaba: FEALQ, 1999. 29p.). O número provável de gerações por ano foi estimado com base nas exigências térmicas (SILVEIRA NETO et al., 1976SILVEIRA NETO, S.; NAKANO, O.; BARBIN, D.; VILLA NOVA, N.A. Manual de ecologia dos insetos. São Paulo: Agronômica Ceres, 1976. 419p.), para as microrregiões produtoras de caqui de Mogi das Cruzes, Jundiaí e Bragança Paulista, SP; Caxias do Sul, Vacaria e Montenegro, RS; Curitiba, Maringá e Apucarana, PR; Serrana e Nova Friburgo, RJ; Joaçaba e Canoinhas, SC e Santa Rita do Sapucaí, MG, de acordo com as normais meteorológicas fornecidas pelo Departamento Nacional de Meteorologia (BRASIL, 1992BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária, Secretaria Nacional de Irrigação. Normais climatológicas(1961- 1990). Brasília: Departamento Nacional de Meteorologia, 1992. 84p.), pelo Centro Integrado de Informações Meteorológicas/Instituto Agronômico (CIIAGRO/IAC, 2004CIIAGRO/IAC. Ciiagro on line. Ciiagro Centro Integrado de Informações Meteorológicas/Instituto Agronômico. 2004. Disponível em: <http://ciiagro.iac.br.> Acesso em: 11 mai. 2004.
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), pelo Laboratório de Agrometeorologia da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Sul (FEPAGRO) e pelo Centro Integrado de Meteorologia e Recursos Hídricos/Centro Integrado de Recursos Ambientais de Santa Catarina (CLIMERH/CIRAM).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A duração dos estágios imaturos e do período ovo-adulto de H. andremona foi dependente da temperatura (Tabela 1). A duração dos estágios de lagarta, pupa e do período ovo-adulto apresentaram diferenças significativas nas temperaturas de 18, 22, 26 e 30° C, enquanto a duração do período embrionário não diferiu entre 26º e 30º C.

Tabela 1
Duração (dias) (média ± EP) dos estágios de ovo, lagarta, pupa e do período ovo-adulto de Hypocala andremona criada em folhas de caquizeiro da cultivar Fuyu em diferentes temperaturas. UR: 70 ± 10%; Fotofase: 12h.

A duração do estágio de lagarta de H. andremona é variável de acordo com a espécie de Diospyros na qual o inseto alimenta-se (HALLMAN & KNIGHT JUNIOR, 1993HALLMAN, G.J. & KNIGHT JUNIOR, R.J. Hypocala andremona (Lepidoptera: Noctuidae) development on eight species of Diospyros (Ebenaceae). Florida Entomologist v.76, n.3, p.461-465, 1993.). Os resultados obtidos na temperatura de 30º C (Tabela 1) são próximos ao observado por HALLMAN & KNIGHT JUNIOR (1993)HALLMAN, G.J. & KNIGHT JUNIOR, R.J. Hypocala andremona (Lepidoptera: Noctuidae) development on eight species of Diospyros (Ebenaceae). Florida Entomologist v.76, n.3, p.461-465, 1993. para Diospyros digyna Jack. Segundo estes autores, na temperatura de 24º C a duração do estágio larval foi de 19 dias neste hospedeiro. Por outro lado, a duração da fase de lagarta verificada na temperatura de 22º C (Tabela 1) foi semelhante ao observado em Diospyros virginiana L. (28 dias) e ligeiramente inferior a D. kaki, Diospyros pallens (Thunb.) e Diospyros texana Scheele (30 dias), e Diospyros sonorae Standll. (32 dias), na temperatura de 24º C (HALLMAN & KNIGHT JUNIOR, 1993HALLMAN, G.J. & KNIGHT JUNIOR, R.J. Hypocala andremona (Lepidoptera: Noctuidae) development on eight species of Diospyros (Ebenaceae). Florida Entomologist v.76, n.3, p.461-465, 1993.). Estes autores não observaram influência do hospedeiro sobre a duração do estágio de pupa, que variou entre 11,8 e 13,3 dias, sendo próxima ao obtido na temperatura de 26º C (Tabela 1).

A sobrevivência no período embrionário de H. andremona não diferiu nas temperaturas entre 18 e 30° C, variando de 62,0 a 82,5% (Tabela 2). Para o período de lagarta, a sobrevivência foi baixa nas quatro temperaturas estudadas, sendo a mínima observada a 30° C e a máxima a 22° C, porém sem diferir significativamente. HALLMAN & KNIGHT JUNIOR, (1993)HALLMAN, G.J. & KNIGHT JUNIOR, R.J. Hypocala andremona (Lepidoptera: Noctuidae) development on eight species of Diospyros (Ebenaceae). Florida Entomologist v.76, n.3, p.461-465, 1993. também relatam baixos valores de viabilidade do estágio larval de H. andremona, atingindo 64% em folhas novas de D. digyna, 44% em D. virginiana, 41% em D. kaki, 18% em D. texana, 3% em D. pallens e D. sonorae. Nas espécies Diospyros montana Roxb., Diospyros mespiliformis Hochst. ex A. DC. e em folhas velhas de D. digyna a viabilidade larval de H. andremona foi nula. A sobrevivência do estágio pupal de H. andremona foi maior nas temperaturas de 18, 22 e 26° C, sendo significativamente inferior a 30° C (Tabela 2). Os valores observados a 22 e 26º C situam-se no intervalo relatado por HALLMAN & KNIGHT JUNIOR, (1993)HALLMAN, G.J. & KNIGHT JUNIOR, R.J. Hypocala andremona (Lepidoptera: Noctuidae) development on eight species of Diospyros (Ebenaceae). Florida Entomologist v.76, n.3, p.461-465, 1993., que observaram sobrevivência de pupas de 73 a 100%, sem diferir significativamente entre as espécies de Diospyros estudadas.

Tabela 2
Viabilidade (%) (média ± EP) das fases de ovo, lagarta, pupa e do período ovo-adulto de Hypocala andremona criada em folhas de caquizeiro da cultivar Fuyu em diferentes temperaturas. UR: 70 ± 10%; Fotofase: 12h.
Tabela 3
Limite térmico inferior de desenvolvimento (Tb), constante térmica (K), coeficiente de determinação (R2), valor do testeχ2 e equação linear da velocidade de desenvolvimento (1/D) para os estágios de ovo, lagarta, pupa e período ovo-adulto de Hypocala andremona, criada em folhas de caquizeiro da cultivar Fuyu. U.R. 70 ± 10%. Fotofase: 12h.
Tabela 4
Regiões produtoras de caqui, Estados da Federação, estações meteorológicas onde foram coletados os dados, temperatura média anual (°C), anos de observação, Graus-Dia anuais (GD) acumulados e número provável de gerações por ano de Hypocala andremona.

Para o período ovo-adulto, a sobrevivência foi maior na temperatura de 22° C, e inferior a 30° C (Tabela 2). A sobrevivência do período ovo-adulto de H. andremona foi baixa nas quatro temperaturas estudadas, em função dos baixos valores observados para o estágio de lagarta. A ocorrência de um agente patogênico, provavelmente, bactéria do gênero Serratia, contribuiu para os baixos valores de viabilidade observados, não sendo registrada, entretanto, a porcentagem de mortalidade em função deste fator. Mesmo assim, observou-se que o desenvolvimento de H. andremona foi mais bem sucedido nas temperaturas de 22 e 26° C, enquanto que 30° C foi menos favorável para o inseto.

A velocidade de desenvolvimento em função da temperatura ajustou-se ao modelo linear obtido através da recíproca da equação da hipérbole (HADDAD et al., 1999HADDAD, M.L.; PARRA, J.R.P.; MORAES, R.C.B. Métodos para estimar os limites térmicos inferior e superior de desenvolvimento de insetos. Piracicaba: FEALQ, 1999. 29p.). Os valores de limiar térmico inferior de desenvolvimento (Tb) de H. andremona foram de 7,62, 8,76, 10,96 e 11,03° C para os estágios de ovo, lagarta, pupa e período ovo-adulto, respectivamente (Tabela 3). O período embrionário de H. andremona, seguido do período larval, demonstraram ser os mais tolerantes a baixas temperaturas, apresentando menor limiar térmico inferior de desenvolvimento.

As constantes térmicas estimadas para os estágios de ovo, lagarta, pupa e período ovo-adulto foram de 45,80, 383,82, 174,90 e 512,59GD, respectivamente (Tabela 3). Em função da temperatura e das exigências térmicas verificou-se que o número de gerações por ano de H. andremona apresenta variação nas diferentes regiões produtoras de caqui do Brasil, podendo desenvolver de 2,9 a 7,1 gerações anuais (Tabela 4). O número de gerações anuais de H. andremona é menor na região Sul do Brasil. No Estado do Rio Grande do Sul foi estimado o menor número de gerações (2,9) em Vacaria, RS. Em Caxias do Sul H. andremona pode completar 3,6 gerações por ano. Entretanto, nas condições da estação meteorológica de Taquari, mais próxima da região produtora de Montenegro, pode-se obter 6,3 gerações anuais da praga, em função da temperatura média anual ser mais elevada. Para o Estado de Santa Catarina, o número de gerações anuais da praga foi de 3,5 na região de Joaçaba (Estação Meteorológica De Caçador) e 4,0 na de Canoinhas (estação meteorológica de Major Vieira). No Estado do Paraná o número de gerações foi semelhante em Curitiba (3,8) e Maringá (3,7). Para a região produtora de Apucarana observou-se comportamento semelhante a de Montenegro, RS, com o inseto tendo condições de completar 6,7 gerações por ano, com base nos dados de temperatura da estação meteorológica de Londrina.

Para a região Sudeste, o número de gerações anuais de H. andremona foi mais elevado, sendo próximo ao obtido para Montenegro, RS e Apucarana, PR (Tabela 4). Em São Paulo, principal produtor de caqui do Brasil, a praga pode completar 5,7, 6,8 e 7,1 gerações por ano em Mogi das Cruzes (com base nos dados da estação meteorológica de São Paulo), Bragança Paulista e Jundiaí, respectivamente. No Rio de Janeiro, H. andremona pode desenvolver 4,9 e 6,8 gerações anuais em Nova Friburgo e Vassouras (estação meteorológica mais próxima da região Serrana), respectivamente, enquanto que para a região de Santa Rita do Sapucaí, onde se concentra a produção de caqui do Estado de Minas Gerais, obteve-se 5,7 gerações de H. andremona por ano, com base nos dados da estação meteorológica de São Lourenço (Tabela 4).

É importante salientar que o caquizeiro é uma planta caducifólia. Dessa forma, apesar das condições climáticas permitirem o desenvolvimento de até 7,1 gerações anuais de H. andremona na região de Jundiaí, SP, em determinado período do ano não haverá disponibilidade deste hospedeiro para o inseto. Neste sentido, é importante verificar a adequação de Citrus spp., (BIEZANKO et al., 1974BIEZANKO, C.M.; RUFFINELLI, A.; LINK, D. Plantas e otras sustancias alimenticias de las orugas de los lepidopteros uruguayos. Revista do Centro de Ciências Rurais da Universidade de Santa Maria, v.4, p.107-148, 1974.) para o desenvolvimento do inseto, investigando se H. andremona tem condições de completar parte das gerações neste hospedeiro. Outro aspecto a ser elucidado é a existência de diapausa no desenvolvimento do inseto. Segundo HICKEL & MATOS (2000)HICKEL, E.R. & MATOS, C.S. Pragas do caquizeiro e seu controle no Estado de Santa Catarina. Florianópolis: Epagri, 2000. 34p. (Boletim Técnico n.109)., em Santa Catarina H.andremona não é encontrada nos pomares de caquizeiro a partir de março, embora ainda haja disponibilidade de alimento para o inseto no campo. Folhas de caquizeiro coletadas no campo nos meses de abril e maio permitiram a criação de H. andremona em laboratório (Marcos Botton, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho. Bento Gonçalves, RS, Brasil - Dados não publicados), indicando que a qualidade do hospedeiro não é um fator limitante para o inseto neste período do ano. Assim, caso se verifique a existência de diapausa em H. andremona, é necessário também identificar os fatores indutores deste fenômeno, que podem estar ligados à temperatura, fotoperíodo, disponibilidade e qualidade do alimento, entre outros (SILVEIRA NETO et al., 1976SILVEIRA NETO, S.; NAKANO, O.; BARBIN, D.; VILLA NOVA, N.A. Manual de ecologia dos insetos. São Paulo: Agronômica Ceres, 1976. 419p.).

CONCLUSÕES

A faixa de temperatura mais adequada para o desenvolvimento de Hypocala andremona é de 22 a 26° C.

Os valores do limiar térmico inferior de desenvolvimento (Tb) de Hypocala andremona são 7,62, 8,76, 10,96 e 11,03° C e da constante térmica são 45,80, 383,82, 174,90 e 512,59GD para os estágios de ovo, lagarta, pupa e período ovo-adulto, respectivamente, permitindo ao inseto completar de 2,9 gerações anuais em Vacaria, RS a 7,1 em Jundiaí, SP.

AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão da bolsa durante o curso de Doutorado; à Fundação de Ampro a Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e (CNPq) pelo suporte financeiro; ao Laboratório de Agrometeorologia da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Sul (FEPAGRO) e pelo Centro Integrado de Meteorologia e Recursos Hídricos/Centro Integrado de Recursos Ambientais de Santa Catarina (CLIMERH/CIRAM) pela disponibilização dos dados climatológicos das regiões produtoras de caqui dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina; ao assistente de pesquisa da Embrapa Uva e Vinho Léo Antonio Carollo pelo auxílio na condução dos experimentos.

  • *
    Parte da tese apresentada pelo primeiro autor ao Programa de Pós-Graduação em Fitossanidade - Entomologia, Universidade Federal de Pelotas, Faculdade de Agronomia "Eliseu Maciel".

REFERÊNCIAS

  • AMANTE, E. Observações bionômicas sobre Hypocala andremona (Cram.) (Lepidoptera – Noctuidae) praga do caquizeiro. O Biológico, São Paulo, v.31, n.5, p.97-101, 1965.
  • ANDERSON, O. & PINHEIRO, R.V.R. O caqui e sua cultura Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1974. 22p. (Série Técnica – Boletim 47).
  • BIEZANKO, C.M.; RUFFINELLI, A.; LINK, D. Plantas e otras sustancias alimenticias de las orugas de los lepidopteros uruguayos. Revista do Centro de Ciências Rurais da Universidade de Santa Maria, v.4, p.107-148, 1974.
  • BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária, Secretaria Nacional de Irrigação. Normais climatológicas(1961- 1990). Brasília: Departamento Nacional de Meteorologia, 1992. 84p.
  • BUTT, B.A. & CANTU, E. Sex determination of lepidopterous pupae Washington: United States Department of Agriculture (USDA), ARS, 1962. 7p. (ARS-33-75).
  • CIIAGRO/IAC. Ciiagro on line Ciiagro Centro Integrado de Informações Meteorológicas/Instituto Agronômico. 2004. Disponível em: <http://ciiagro.iac.br> Acesso em: 11 mai. 2004.
    » http://ciiagro.iac.br
  • GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R.P.L.; BATISTA, G.C.; BERTI FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.; VENDRAMIN, J.D.; MARCHINI, L.C.; LOPES, J.R.S.; OMOTO, C. Entomologia agrícola Piracicaba: FEALQ. 2002. 920p.
  • HADDAD, M.L.; PARRA, J.R.P.; MORAES, R.C.B. Métodos para estimar os limites térmicos inferior e superior de desenvolvimento de insetos Piracicaba: FEALQ, 1999. 29p.
  • HALLMAN, G.J. & KNIGHT JUNIOR, R.J. Hypocala andremona (Lepidoptera: Noctuidae) development on eight species of Diospyros (Ebenaceae). Florida Entomologist v.76, n.3, p.461-465, 1993.
  • HICKEL, E.R. & MATOS, C.S. Pragas do caquizeiro e seu controle no Estado de Santa Catarina Florianópolis: Epagri, 2000. 34p. (Boletim Técnico n.109).
  • RIBEIRO JUNIOR, J.I. Análises estatísticas no SAEG Viçosa: UFV, 2001. 301p.
  • SILVEIRA NETO, S.; NAKANO, O.; BARBIN, D.; VILLA NOVA, N.A. Manual de ecologia dos insetos São Paulo: Agronômica Ceres, 1976. 419p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jun 2022
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2005

Histórico

  • Recebido
    24 Ago 2005
  • Aceito
    10 Dez 2005
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