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MAINGUENEAU, Dominique. Enunciados aderentes. Tradução de Sírio Possenti. São Paulo: Parábola, 2022, 192 p.

MAINGUENEAU, Dominique. Enunciados aderentes. Tradução de Sírio Possenti. São Paulo: Parábola, 2022. 192 p

Como destaca Sírio Possenti, na apresentação de Frases sem texto (MAINGUENEAU, 2014MAINGUENEAU, D. Frases sem texto. Tradução de Sírio Possenti et al. São Paulo: Parábola, 2014.), um livro que busque justificar a pertinência do próprio objeto de investigação é algo pouco comum. No entanto, é justamente isso o que Dominique Maingueneau busca fazer (mais uma vez, assim como naquele de 2014MAINGUENEAU, D. Frases sem texto. Tradução de Sírio Possenti et al. São Paulo: Parábola, 2014.) neste novo livro, Enunciados aderentes (2022), ao definir não um conceito teórico a priori, mas um corpora de manifestações heterogêneas e destoantes do foco no estatuto tópico (o tipo de discurso, o posicionamento ou o gênero) daquelas privilegiadas no campo da Análise do Discurso (doravante, AD).

Essa proposta foi recentemente elaborada por Maingueneau e possui o curto histórico de um artigo dedicado ao delineamento geral (MAINGUENEAU, 2020aMAINGUENEAU, D. Os Enunciados Aderentes. Tradução de Maria Cecília Pérez de Souza-e-Silva. DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada [online], v. 36, n. 3, 2020a. https://doi.org/10.1590/1678-460X2020360302.
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) do capítulo “Ethos no corpo” em Variações sobre o ethos (MAINGUENEAU, 2020b), de um tópico em um artigo sobre os limites da AD (MAINGUENEAU, 2021a) e um último capítulo adicionado à quarta edição francesa de Análise de textos de comunicação (MAINGUENEAU, 2021b); além de palestras em eventos1 1 Minicurso “Novas textualidades” no I Seminário Internacional de Estudos em Linguística Popular, em 2020; III Semana de Letras (UEMG- Passos) (Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8DgS5MnK6TE); Café com Análise do Discurso (Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HN8nBUGkF9M&t=450s); III Conversa com pesquisadores (Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=YfcrsdX6fOw). .

Para uma síntese do que seria um enunciado aderente, observemos a seguinte passagem do livro Alice no país das maravilhas: “(...) se você bebe muito de uma garrafa em que está escrito ‘veneno’, é quase certo que vai se sentir mal, mais cedo ou mais tarde” (CARROLL, 2013CARROLL, L. Alice: Aventuras de Alice no País das Maravilhas & Através do espelho. Edição definitiva. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2013., p.34). Esse trecho não possui o traço nonsense característico da obra; ao contrário, pela fala infantil de Alice, constata-se uma dimensão evidente em certas manifestações discursivas, porém ignorada pelas teorias: a palavra “veneno” não só está inscrita sobre a garrafa, mas modifica sua natureza (identidade) a ponto de pressupormos se seu conteúdo é benéfico ou mortal. Essa é a definição de um enunciado aderente, uma forma verbal escrita que se integra a uma materialidade, afetando-se mutuamente (MAINGUENEAU, 2020aMAINGUENEAU, D. Os Enunciados Aderentes. Tradução de Maria Cecília Pérez de Souza-e-Silva. DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada [online], v. 36, n. 3, 2020a. https://doi.org/10.1590/1678-460X2020360302.
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).

O livro é dividido em um preâmbulo, duas partes (a primeira com cinco capítulos e a segunda com sete) e uma conclusão. No preâmbulo, o autor realiza dois breves movimentos: constata a presença quase invisível dos enunciados aderentes e rastreia algumas referências que tocaram em questões próximas àquelas que serão discutidas. Dessas, destaca-se o estudo de Paveau (2010PAVEAU, M.-A. Uma enunciação sem comunicação: as tatuagens escriturais. RUA, v. 16, n. 1, p.6-41, 2010. https://doi.org/10.20396/rua.v16i1.8638829.
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) ao descentrar a noção de enunciação de dois pressupostos teóricos: o binarismo (norma dialógica) e o antropocentrismo. Maingueneau parece aderir a essa posição em trabalhos anteriores, como nos estudos sobre a polifonia (MAINGUENEAU, 2010MAINGUENEAU, D.; GRESILLON, A. Polifonia: polifonia, provérbio e desvio. Tradução de Maria Cecília Perez de Souza-e-Silva. In: MAINGUENEAU, D. Doze conceitos em análise do discurso. Organização de Sírio Possenti e Maria Cecília Perez de Souza-e-Silva, tradução de Adail Sobral et al. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.)2 2 Trata-se de um artigo escrito em coautoria com Almuth Gresillon, publicado originalmente na revista Langages em 1984. Foi traduzido em português brasileiro por Maria Cecília P.Souza-e-Silva: “Polifonia: polifonia, provérbio e desvio”, compõe a coletânea de artigos Doze conceitos em análise do discurso (MAINGUENEAU, 2010). e sobre a aforização (MAINGUENEAU, 2014, 2015) e necessita engajar-se nela para a proposição desse novo “tipo” de enunciação3 3 No prefácio da edição brasileira de Gênese dos discursos (MAINGUENEAU, 2008, p.12), o autor reavalia sua “(...) insuficiente consideração da complexidade dos processos de comunicação” na obra. Os tópicos apontados no artigo sobre os limites da AD (MAINGUENEAU, 2021a) são indiciadores de que, em questões já trabalhadas ou mesmo apenas apontadas, Maingueneau se filia às desestabilizações de Paveau, incorporando-as como base de análise para outras manifestações fora do modelo usual de comunicação, ou seja, não nega que exista uma prototipia comunicativa, apenas não a percebe como única (MAINGUENEAU, 2015). .

Na primeira parte, Maingueneau se dedica a uma apresentação de “questões básicas” e é notável que, nela, o autor recorre a manifestações mais tradicionais (até mais analógicas) desse tipo de enunciado. O primeiro capítulo, “A aderência: contiguidade e integração”, trata de assentar a definição de enunciado aderente, pertinente devido à relação entre certas verbalidades e seus suportes. Essa relação não se dá apenas pela proximidade, mas por uma noção de atribuição em duas dimensões: uma adequação física e semântica entre as palavras e as coisas e uma apropriação pelo(s) agente(s) que institui(em) o enunciado aderente. O autor adverte que se trata de uma dinâmica paradoxal, em que um elemento parece tangenciar o outro, mas que, juntos, transformam-se; implicando-se, criam um mundo onde são necessários. Entre as conceituações, merece destaque a dos “signos aderentes” divididos em: não-verbal (placas só com ícones, por exemplo), verbal (os enunciados aderentes) e misto (amálgama dos dois tipos anteriores, como numa medalha).

No capítulo dois, “Identidades e apoios”, Maingueneau destaca que os estatutos do enunciado e do suporte requerem um ao outro, havendo até mesmo condicionamentos mútuos. Remetendo à inscrição narrada biblicamente como colocada no alto da cruz de Jesus, o autor mostra como o enunciado aderente busca escapar da lógica do acontecimento e instaura-se numa atividade socialmente reconhecida. O que leva à proposição de dois apoios desse enunciado: uma sustentação institucional (um setor social ou uma rede de instituições que legitima a inscrição e se legitima nessa prática) e uma sustentação ideológica (não um posicionamento discursivo propriamente, mas uma doxa, um interdiscurso vago e móvel).

No terceiro capítulo, “O acesso aos enunciados aderentes”, o autor discute, sob os termos de “fundo” e “figura”, a maneira como a disposição dos enunciados pode interferir no processo interpretativo esperado. Assim, podem ser destacados certos enunciados colocando-os em um plano mais latente (como figura) frente a outros (num plano de fundo); podem-se ocultar alguns enunciados, tornando-os visíveis apenas em determinadas posições; e pode-se, ainda, codificar de maneira simples alguns enunciados, de modo a comprometer ou especializar seu processo de legibilidade.

O capítulo quatro, “Imagens e legendas”, discute as relações imprecisas entre textos verbais que parecem ser parte de textos imagéticos. Tendo mencionado os quadros, distingue-os das gravuras e seus enunciados integrados. Também analisa a relação entre fotografias e legendas, que se integram a uma unidade textual. Por fim, analisa enunciados incrustados nas transmissões de televisão, sendo apenas alguns realmente aderentes (como o número do canal).

O último capítulo da primeira parte, “Em que língua(s)?”, destaca a observação dos investimentos linguísticos que são constitutivos da significação da aderência. Para isso, o autor retoma o exemplo do enunciado da crucificação e acrescenta outros, como as placas em lojas de roupa, embalagens de biscoito importado e enunciados de manifestações, demonstrando como o uso de uma interlíngua e de plurilinguismos externos constroem as identidades de seus produtores e espectadores.

Enquanto houve uma preocupação mais teórica na primeira metade, na segunda parte, Maingueneau se concentra em demonstrar a proficuidade das noções em objetos diversos. Com isso, surgem também problemáticas menos tradicionais. O autor previne que não há uma ordem sistemática dessas manifestações, apenas destaca o interesse multifacetado da proposta.

No capítulo 1 da segunda parte, “Um pacote de doces”, o autor leva a problemática da heterogeneidade textual das embalagens (POSSENTI, 2009POSSENTI, S. Questões para analistas do discurso. São Paulo: Parábola, 2009.) às questões dos enunciados aderentes. Nele, é possível perceber a ampliação da discussão apontada por Maingueneau no preâmbulo, pois a verbalidade é colocada de modo indissociável do espaço que ocupa e da maneira como se manifesta. Toda materialidade é levada em consideração, como os lados de exposição, a disposição e as cores, sem abdicar de uma análise detalhada dos elementos propriamente verbais.

O capítulo 2, “Um apoio ideológico”, trata de um aprofundamento na sustentação ideológica a partir de enunciados relacionados às preocupações ecológicas assumidas pelo Estado ou por entidades não governamentais. Tais enunciados têm suportes incomuns, como o próprio ambiente (uma área gramada) ou lixeiras (que podem se referir ainda a um conjunto de outras dispostas num mesmo parque). Assim, esses enunciados aparentemente dispensáveis gerem sua legitimidade num conflito entre urbanismo e ecologia que se encontra na “pauta do dia”.

O terceiro, o quarto e o quinto capítulos se assemelham por tratarem de graus de adesão e apropriação dos corpos dos sujeitos que servem de suporte para enunciados aderentes. Nos textos anteriores, Maingueneau (2020aMAINGUENEAU, D. Os Enunciados Aderentes. Tradução de Maria Cecília Pérez de Souza-e-Silva. DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada [online], v. 36, n. 3, 2020a. https://doi.org/10.1590/1678-460X2020360302.
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, 2020b) falava dos “portadores” e dos “sustentadores”. No entanto, neste livro, distingue os “portadores” dos “suportadores”4 4 A mudança terminológica não é apenas uma questão de tradução, mas de uma recolocação conceitual, ainda que, em francês, “sustentar” e “suportar” tenham normalmente semânticas equivalentes. e acrescenta os enunciados “expressivos”.

No capítulo 3, “Os portadores”, o autor apresenta situações em que um sujeito se vê imputado a portar determinados enunciados aderentes. Normalmente, há um agente normatizador, uma organização que gere esse processo. Desse modo, analisa materiais como pulseira de identificação hospitalar, crachás, uniformes policiais, empresariais e esportivos, sendo essas manifestações marcadas pela falta de espontaneidade e pela pouca responsabilidade daquele que porta.

No capítulo seguinte, “Os ‘suportadores’”, apresenta-se, ao contrário, a relação de comprometimento entre o sujeito que não apenas “porta”, mas “sustenta/suporta” (torna-se suporte) a adesão do corpo a um enunciado aderente. Para exemplificação, Maingueneau detalha a análise que havia esboçado em Variações sobre o ethos (2020aMAINGUENEAU, D. Os Enunciados Aderentes. Tradução de Maria Cecília Pérez de Souza-e-Silva. DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada [online], v. 36, n. 3, 2020a. https://doi.org/10.1590/1678-460X2020360302.
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) sobre os cartazes individuais utilizados em manifestações contemporâneas. A tese do autor é de que há uma mudança na forma de conceber os enunciados aderentes em manifestações (antes compartilhados, num sistema clássico; um dizer de todos), pois opera-se na sociedade uma mudança na noção de coletividade (gerando e sendo gerada por um sistema novo em que cada indivíduo sustenta seu dizer para só depois somar-se aos demais).

Os enunciados sustentados nas manifestações ou em comícios políticos são, apesar de tudo, momentâneos e dizem respeito a um pertencimento coletivo (a um grupo social, a uma causa, a um partido). Por essas características, o autor julga pertinente, no capítulo cinco, separar os enunciados que chama de “expressivos”, em que o vínculo do sujeito com o enunciado é mais estabilizado e diz respeito à própria subjetividade daquele que se expressa. Assim, analisa camisetas, objetos customizados (como as máscaras) e a manifestação mais representativa, as tatuagens. Relaciona o surgimento desse grau de comprometimento a uma encenação de si, com uma caracterização da sociedade marcada pela cultura do “estilo de vida” (GIDDENS, 1991).

Os últimos dois capítulos também têm certa aproximação em dois sentidos: por tratarem de objetos incomuns (os enunciados aderentes em bovinos e em veículos) e por suscitarem problemáticas relacionadas às mutações tecnológicas. No sexto capítulo, “A identidade do bovino”, Maingueneau analisa as transformações de enunciados, códigos e dispositivos colocados no animal ou em sua carcaça em cada etapa do processo de criação, abate e venda para consumo da carne. Não se trata apenas de perceber como cada enunciado corresponde a múltiplas necessidades de diferentes sujeitos interessados em cada etapa, mas como a própria historicidade dessas marcas e dispositivos criam necessidades justificadas pelas mudanças nos campos epidemiológico, zootécnico e legislativo.

O último capítulo da segunda parte, “Veículos”, analisa os enunciados incorporados a esse objeto e à atividade de locomoção decorrente. O autor considera desde as placas até as inscrições da marca como meios de distinção (no sentido de identificação e de status social) e de controle, principalmente por parte do Estado. Observa também os enunciados aderentes que são exigidos para o exercício da condução de veículos, como os documentos, cuja tendência é de uma codificação digitalizada.

A conclusão se propõe a unificar essas problemáticas, principalmente da segunda parte, e torna-se indispensável para leitura da proposta de Maingueneau, já que assume e sistematiza o “sentimento de vertigem” prenunciado no final do preâmbulo. São catorze classificações hierarquizadas, de modo que, sucintamente, os enunciados aderentes são uma parte de um conjunto maior de “enunciados associados”. Apesar do adensamento teórico, a obra apresenta uma perspectiva nova, sem pretensão de ser exaustiva, além de um final que lhe é coerente, ao indicar os desdobramentos que os analistas poderão desenvolver para seguirem ampliando a noção de discursividade.

O livro começa com uma referência a M.-A. Paveau e termina em um implícito, mas sugestivo caminho para suas propostas sobre a tecnodiscursividade (PAVEAU, 2021PAVEAU, M-A. Análise do discurso digital: dicionário das formas e das práticas. Tradução organizada por Julia Lourenço e Roberto Baronas. Campinas: Pontes, 2021.). Se a discussão sobre as novas apreensões da discursividade se mantinham à margem, Maingueneau lança luz sobre elas, comprometendo-se com uma proposta inovadora tanto para os velhos (embalagens, quadros, roupas) como para os novos objetos ligados às tecnologias digitais.

O autor se resguarda em um reconhecimento de um dilema para os analistas do discurso: conservar a estabilidade da disciplina dependente da noção de discursividade baseada na conversação e no par texto/gênero ou lidar com essas mutações. Apesar de escorregadio (traço que advém da própria forma de textualidade navegante), parece imprudente que os analistas se neguem a observar um fenômeno tão difundido como o QR code no contexto brasileiro, impulsionado pelas dinâmicas da pandemia da covid-19. O que dirão quando confrontados com essa prática e materialidade não-verbal, mas que às vezes conduz a um enunciado e quase sempre está cercada pela verbalidade, sem ao menos dispor de uma noção primária como a de “retransmissor” proposta pelo autor do livro? Há um aviso de que podemos correr o risco de assegurarmos um “estruturalismo” disciplinar-metodológico em detrimento do funcionalismo epistêmico que impulsionou o próprio surgimento da AD.

De um ponto de vista prospectivo da recepção, há o receio de que a discussão fique à margem em relação a outros textos do autor com conceituações mais abrangentes. Não raras vezes, Possenti destaca em suas falas que Frases sem texto é uma obra pouco explorada que se esperava gerar um interesse maior, porém, fica nas potencialidades e nos poucos trabalhos que a discutem. Parece-nos incongruente com as propostas encontradas nas obras de Maingueneau separá-las por um suposto critério funcional do objeto: as gerais, que se aplicam a “tudo” (aspeamos para indicar a contradição com os pressupostos do autor5 5 Lembremos que, por mais abrangente que um conceito possa ser em relação às enunciações, sua aplicação é sempre dependente do corpus que pode requerer transformações. Afinal, para a AD, não são os textos que devem se adequar à teoria. ), e as de “hobbie”, que seriam apêndices aos interesses específicos de quem analisa um tipo de corpus incomum (as aforizações e os enunciados aderentes).

Como Maingueneau reforça nesses corpora, são conjuntos estranhos às noções vigentes de discursividade, porém, depois de compreendê-los, são inegáveis seu reconhecimento, relevância e difusão na sociedade. Ao invés dos analistas apenas se refugiarem nas noções mais abrangentes, como o ethos, para analisar manifestações consagradas pela própria AD, é preciso articular e reformular os critérios de análise dessas outras enunciações que, longe de serem facultativas, tornam-se incontornáveis.

Tal desestabilização inevitavelmente modifica a relação de toda a rede teórica com os objetos, revela a historicidade do próprio “instrumento” e do sujeito-analista, o que para a AD não deveria ser problemático, já que entende aos outros e a si como discursos situados. Não há uma primazia do olhar teórico sobre o objeto, essa parece ser a contribuição teórico-metodológica medular de Maingueneau, como ele mesmo admite: “Fabrico conceitos para categorizar e analisar os fenômenos” (FREITAS et al., 2021FREITAS, E. C.; BALDISSERA, R.; ANTUNES JUNIOR, F. S.; BOAVENTURA, L. H. Dominique Maingueneau: questões teóricas para análise discursiva na comunicação: cenografia e ethos. [Entrevista]. Organicom, v. 18, n. 36, p.253-261, 2021. https://doi.org/10.11606/issn.2238-2593.organicom.2021.186368.
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, p.256). A “revelação” e a compreensão da complexidade da discursividade só pode acontecer se há transformações e adequações teóricas.

Declaração de disponibilidade de conteúdo

Os conteúdos subjacentes ao texto da pesquisa estão contidos no manuscrito.

REFERÊNCIAS

  • CARROLL, L. Alice: Aventuras de Alice no País das Maravilhas & Através do espelho. Edição definitiva. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
  • FREITAS, E. C.; BALDISSERA, R.; ANTUNES JUNIOR, F. S.; BOAVENTURA, L. H. Dominique Maingueneau: questões teóricas para análise discursiva na comunicação: cenografia e ethos. [Entrevista]. Organicom, v. 18, n. 36, p.253-261, 2021. https://doi.org/10.11606/issn.2238-2593.organicom.2021.186368
    » https://doi.org/10.11606/issn.2238-2593.organicom.2021.186368
  • GIDDENS, A. Modernidade e identidade. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.
  • MAINGUENEAU, D. Gênese dos discursos. Tradução de Sírio Possenti. Parábola: São Paulo, 2008.
  • MAINGUENEAU, D.; GRESILLON, A. Polifonia: polifonia, provérbio e desvio. Tradução de Maria Cecília Perez de Souza-e-Silva. In: MAINGUENEAU, D. Doze conceitos em análise do discurso. Organização de Sírio Possenti e Maria Cecília Perez de Souza-e-Silva, tradução de Adail Sobral et al. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
  • MAINGUENEAU, D. Frases sem texto. Tradução de Sírio Possenti et al. São Paulo: Parábola, 2014.
  • MAINGUENEAU, D. Discurso e análise do discurso. Tradução de Sírio Possenti. Parábola: São Paulo, 2015.
  • MAINGUENEAU, D. Os Enunciados Aderentes. Tradução de Maria Cecília Pérez de Souza-e-Silva. DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada [online], v. 36, n. 3, 2020a. https://doi.org/10.1590/1678-460X2020360302
    » https://doi.org/10.1590/1678-460X2020360302
  • MAINGUENEAU, D. Variações sobre o ethos. Tradução de Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2020b.
  • MAINGUENEAU, D. Aux limites de l’analyse du discours. Cadernos de Linguística, v. 2, n. 1, p.1-15, 14 fev. 2021a. https://doi.org/10.25189/2675-4916.2021.V2.N1.ID336
    » https://doi.org/10.25189/2675-4916.2021.V2.N1.ID336
  • MAINGUENEAU, D. Analyser les textes de communication. 4. ed. Paris: Armand Colin, 2021b.
  • PAVEAU, M.-A. Uma enunciação sem comunicação: as tatuagens escriturais. RUA, v. 16, n. 1, p.6-41, 2010. https://doi.org/10.20396/rua.v16i1.8638829
    » https://doi.org/10.20396/rua.v16i1.8638829
  • PAVEAU, M-A. Análise do discurso digital: dicionário das formas e das práticas. Tradução organizada por Julia Lourenço e Roberto Baronas. Campinas: Pontes, 2021.
  • POSSENTI, S. Questões para analistas do discurso. São Paulo: Parábola, 2009.
  • 1
    Minicurso “Novas textualidades” no I Seminário Internacional de Estudos em Linguística Popular, em 2020; III Semana de Letras (UEMG- Passos) (Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8DgS5MnK6TE); Café com Análise do Discurso (Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HN8nBUGkF9M&t=450s); III Conversa com pesquisadores (Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=YfcrsdX6fOw).
  • 2
    Trata-se de um artigo escrito em coautoria com Almuth Gresillon, publicado originalmente na revista Langages em 1984. Foi traduzido em português brasileiro por Maria Cecília P.Souza-e-Silva: “Polifonia: polifonia, provérbio e desvio”, compõe a coletânea de artigos Doze conceitos em análise do discurso (MAINGUENEAU, 2010).
  • 3
    No prefácio da edição brasileira de Gênese dos discursos (MAINGUENEAU, 2008, p.12), o autor reavalia sua “(...) insuficiente consideração da complexidade dos processos de comunicação” na obra. Os tópicos apontados no artigo sobre os limites da AD (MAINGUENEAU, 2021a) são indiciadores de que, em questões já trabalhadas ou mesmo apenas apontadas, Maingueneau se filia às desestabilizações de Paveau, incorporando-as como base de análise para outras manifestações fora do modelo usual de comunicação, ou seja, não nega que exista uma prototipia comunicativa, apenas não a percebe como única (MAINGUENEAU, 2015).
  • 4
    A mudança terminológica não é apenas uma questão de tradução, mas de uma recolocação conceitual, ainda que, em francês, “sustentar” e “suportar” tenham normalmente semânticas equivalentes.
  • 5
    Lembremos que, por mais abrangente que um conceito possa ser em relação às enunciações, sua aplicação é sempre dependente do corpus que pode requerer transformações. Afinal, para a AD, não são os textos que devem se adequar à teoria.

Parecer I

Sobre o autor do parecer SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Parecer I

A resenha do livro Enunciados aderentes está muito bem elaborada, uma vez que descreve com muita precisão todas as partes e capítulos que compõem o livro de Dominique Maingueneau. O/A autor/a também não se furta em fazer uma pertinente crítica em relação ao acolhimento fragmentado, que é muitas vezes cometido ao trabalho do pesquisador francês no contexto brasileiro. Nesse sentido, para reforçar ainda mais essa não fragmentação, sugiro que o/a autor/a considere como fazendo parte da genealogia deste último trabalho de Dominique Maingueneau não somente a questão da enunciação aforizante (a das frases sem texto), mas também o texto de 1984, escrito a quatro mãos com Almuth Gresillon, que foi traduzido para o português brasileiro em 2010 por Maria Cecília P. Souza-e-Silva, intitulado Polifonia: polifonia, provérbio e desvio e publicado no livro Doze conceitos em análise do discurso. APROVADO COM SUGESTÕES [Revisado]

  • recomendação: aceitar

Histórico

  • Parecer recebido em
    13 Fev 2023

Parecer II

Sobre o autor do parecer SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Parecer II

Oportuna esta proposta de resenha de livro recente de Dominique Maingueneau no qual o autor, mais uma vez, afirma o princípio de que a análise do discurso deve abordar as manifestações do discurso em toda a sua diversidade e, ao mesmo tempo, nos apresenta uma proposta inovadora ao fazer dos enunciados aderentes um campo de investigação. Embora se trate de publicação recente, os resenhistas tiveram o cuidado de se apoiar em textos anteriores que tratam da problemática de tais enunciados (2020 e 2021). Como resultado, tem-se uma resenha que permite ao leitor aproximar-se dos princípios teóricos que caracterizam essa obra e dos comentários a respeito dos vários tipos de enunciados inscritos “em velhos (embalagens, quadros, roupas) e em novos objetos ligados às tecnologias digitais”, ponto de aproximação entre M.-A. Paveau e D. Maingueneau. Justamente por se tratar de um campo de investigação novo, sugere-se aos resenhistas o acréscimo da definição de enunciados aderentes e dos tipos de sua manifestação; seria oportuno também retomar a noção de atribuição, a fim de que os leitores possam seguir com mais propriedade os caminhos propostos pelo autor (cap.1 da primeira parte). Sugere-se também a explicitação da complexidade dos enunciados aderentes conforme inscritos em diferentes tipos de portadores; seria importante, no caso, modalizar a seguinte frase: “todas estas manifestações marcadas pela involuntariedade e pouca responsabilidade daquele que porta” (cap.3 da segunda parte). APROVADO COM SUGESTÕES [Revisado]

  • recomendação: aceitar

Histórico

  • Parecer recebido em
    13 Fev 2023

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Set 2023
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2023

Histórico

  • Recebido
    03 Jan 2023
  • Aceito
    14 Maio 2023
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