Acessibilidade / Reportar erro

Os desmascaradores incompetentes

RESENHA

Os desmascaradores incompetentes1 1 Este texto de Serge Zenkine foi publicado no Cahiers du monde russe [En ligne], 52/4 | 2011, com o título «Jean-Paul Bronckart, Cristian Bota, Bakhtine démasqué». < http://monderusse.revues.org/7509> Acesso em 31 maio 2012.

Serge Zenkine

Universidade Russa de Humanidades – RGGU, Moscou, Rússia; sergezenkine@hotmail.com

BRONCKART, Jean-Paul & BOTA, Cristian. Bakhtine démasqué, Histoire d'un menteur, d'une escroquerie et d'un délire collectif. Genève: Droz, 2011, 629 p.

É o preço da glória: de tanto serem venerados e estudados, certos autores célebres são submetidos a uma crítica textual tão meticulosa que acaba por negar, quando não sua existência física, ao menos a unidade de sua obra e o fato de partes dessa obra pertencerem a uma única e mesma pessoa. Os filólogos há muito debatem a "questão homérica"; hoje, o mesmo infortúnio recai sobre Mikhail Bakhtin2 2 N. do T.: As citações e páginas são da edição brasileira: BRONCKART, J-P.; BOTA, C. Bakhtin desmascarado: história de um mentiroso, de uma fraude, de um delírio coletivo. Tradução de Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2012. .

A história do problema já é conhecida: por volta dos anos 1970, alguns anos depois da redescoberta da obra do teórico russo, ele declarou publicamente que, além dos textos assinados por ele (Dostoiévski, Rabelais e outros), tinha escrito vários livros e artigos publicados nos anos 1920-1930 sob o nome de seus amigos, principalmente Valentin Vološinov e Pavel Medvedev. Depois de ter sido praticamente unânime durante um certo período, hoje essa opinião, oscilando como um pêndulo, vê diminuir seu rol de partidários: os "textos disputados" são reeditados e comentados como obras de seus respectivos signatários e não figuram entre as obras completas de Bakhtin.

Dois críticos genebrinos, Jean-Paul Bronckart e Cristian Bota, foram ainda mais além: publicaram uma extensa investigação cujo objetivo é desapropriar Bakhtin da autoria de parte da sua própria obra já reconhecida. Segundo eles, não só Bakhtin não teria relação alguma com as obras de Vološinov e Medvedev ("a questão dos textos disputados está definitivamente encerrada" - p.485), como a primeira versão de seu livro sobre Dostoiévski, que saiu em 1929, seria devida em grande parte... a Vološinov, possivelmente ajudado por Medvedev. Não teria sido Bakhtin quem emprestou textos aos seus amigos, mas o inverso. Quanto à lenda da "onipaternidade bakhtiniana", que atribui a ele as obras de Vološinov e Medvedev, esta teria sido "concebida e construída no decorrer dos anos 1960" (p.489), muito tempo depois do desaparecimento dos verdadeiros autores. Eles dizem se tratar de uma mentira deliberada do plagiador Bakhtin3 3 " Seus próprios escritos tardios resultam claramente de plágio" (p.236, aqui e doravante, os negritos e itálicos nas citações são dos autores do livro). e uma fraude armada por seus "promotores" russos Vjačeslav Vs. Ivanov, Vadim Kožinov e Sergej Bočarov, "que continuam a administrar a lucrativa difusão internacional da obra reconstituída do mestre" (p.206). Além disso, Kožinov e Bočarov teriam sido "explicitamente coautores" (p.235) da segunda versão de Dostoiévski (1963), já que Bakhtin seria incapaz de redigir sozinho qualquer obra que fosse e ele próprio não compreendia o sentido de "seu" livro, que na verdade não era seu. Enfim, por alguma razão desconhecida, a fraude teria sido então sustentada por vários exegetas de diferentes países, todos se esforçando para racionalizar a lenda da "onipaternidade bakhtiniana" e se entregando a um verdadeiro delírio interpretativo.

Essa crítica antibakhtiniana, cuja violência se traduz no tom frequentemente panfletário de J.-P. Bronckart e C. Bota, não é totalmente inédita, a não ser talvez na França. Os legatários de Bakhtin, a saber Bočarov e Kožinov (morto em 2001), já foram acusados (sem provas) de terem se apropriado dos direitos autorais de Vološinov e Medvedev pelo filho deste último, Jurij Medvedev, em 19954 4 Ver Ju. P. Medvedev, "Pis´mo v redakciju zhurnala..." [Carta à redação do jornal REVUE], Dialog. Karnaval. Hronotop, n° 4, 1995, p. 154. Este documento precursor está ausente da bibliografia de J.-P. Bronckart e C. Bota. . E a hipótese da autoria coletiva do Dostoiévski de 1929 também já foi evocada em 2005, sem prejuízo a Bakhtin, pelo linguista russo Vladimir Alpatov5 5 Ver Vladimir ALPATOV, Vološinov, Bahtin i lingvistika [Vološinov, Bakhtin e a linguística] , M.: Jazyki slavjanskih kul´tur, 2005, p. 117. Esta obra figura na bibliografia de J.-P. Bronckart e C. Bota, sem que sua prioridade em relação a esse tema seja assinalada. . É verdade que até o momento ninguém havia desenvolvido essas conjecturas de uma maneira tão circunstanciada e na extensão de um livro como esse de J.-P. Bronckart e C. Bota. São, portanto, os detalhes da argumentação, as provas alegadas que precisam ser examinados para se avaliar o trabalho deles. Essa verificação necessitaria de um artigo bem mais extenso do que este. Vamos nos limitar então a algumas observações gerais ilustradas por exemplos.

J.-P. Bronckart e C. Bota não trazem novos elementos ao caso. Não revelam fatos nem textos desconhecidos, só questionam documentos já existentes. Quando acusam a maioria dos pesquisadores que os precederam de terem participado em maior ou menor grau do "delírio interpretativo", eles se utilizam unicamente dos materiais factuais e textuais reunidos por esses mesmos pesquisadores. Além disso, é sintomático o fato de que, a não ser por algumas citações insignificantes, eles não fazem nenhum uso concreto dos riquíssimos comentários que constam nas Obras completas de Bakhtin, em sete volumes (Moscou, 1997-2011), edição que é referência para todos os que estudam esse autor.

Essa omissão é de ordem mais geral: se, por um lado, incluíram em sua imponente bibliografia publicações russas, por outro, J.-P. Bronckart e C. Bota em nenhum momento citam os textos. Todas as citações deles provêm de fontes em outras línguas. Pode-se supor, então, que os dois autores não dominam a língua russa, o que compromete a validade da análise deles: imaginem um helenista que pretende resolver a questão homérica sem conhecer o grego! De fato, obrigados a confiar nas traduções dos textos russos, que não são sempre fiéis, eles se aventuram talvez em interpretações arriscadas. Um exemplo: entre os comentários de Bakhtin registrados por Victor Duvakin em 1973, a réplica iniciada por "Não, o que o senhor está dizendo?!" (p.230) e que se estende por sete linhas apresenta três graves erros de tradução (trata-se de uma tradução de segunda mão, feita por J.-P. Bronckart e C. Bota a partir de uma versão italiana)6 6 Cf. o original russo: Besedy V.D. Duvakina s M.M. Bahtinym [ Conversas de V.D. Duvakin com M.M. Bakhtin], M.: Progress, 1996, p. 217-218. . Em primeiro lugar, Bakhtin caracteriza Vadim Kožinov como "uma pessoa absolutamente sem escrúpulos" — o original diz "uma pessoa absolutamente sem medo [besstrašnyj]". Em seguida, a palavra minusnik, usada por Bakhtin para designar a si próprio, é traduzida como "menos que nada" — na verdade, trata-se de um termo do jargão administrativo da época stalinista que significa um deportado impedido de fixar residência em determinada quantidade de cidades (diz-se minus desjat´, minus dvadcat´ — "menos dez, menos vinte"). Por fim, e isso é o mais curioso, vem uma frase de Bakhtin de aparência estranha e suspeita: "Esse livro dele fora esquecido, do Dostoiévski, quero dizer..."; de fato, quem é esse "ele"? Será Vološinov? Veja-se o comentário de J.-P. Bronckart e C. Bota: "Notemos a hesitação de Bakhtin a respeito da obra sobre Dostoiévski, que ele tem manifesta dificuldade de chamar de 'meu livro'" (p.231). Ora, o original é simples e direto: "Knižku etu zabyli — 'Dostoevskogo'..." [Esse pequeno livro foi esquecido, o "Dostoiévski..."] — e não apresenta qualquer hesitação nem anomalia linguística, já que os determinantes possessivos são menos frequentes e menos obrigatórios em russo do que são em francês. A interpretação suspeita que eles fazem é puro mal-entendido.

Há mal-entendidos ainda mais graves. J.-P. Bronckart e C. Bota parecem ignorar todo o contexto histórico, biográfico e institucional no qual foram produzidos os dizeres e escritos de Bakhtin e seus amigos. Eles confrontam, como investigadores de polícia, os comentários frequentemente evasivos de Bakhtin no tema dos "textos disputados", sem dar a menor atenção às mudanças do clima político, aos interlocutores, à situação concreta, à idade e ao estado de saúde que podia incitá-lo ora à extroversão, ora à circunspecção (que esse velho minusnik, vítima de perseguições políticas, deve ter aprendido bem a cultivar e demonstrava em muitos comentários, não apenas no que diz respeito aos "textos disputados"). Eles jogam sobre os três "promotores" de Bakhtin a acusação sórdida de fraude como se estes fossem desconhecidos, indivíduos de passado obscuro, sem investigar (como faria um bom policial) a reputação moral e profissional deles — ao menos um deles, o semioticista Vjačeslav Vsevolodovič Ivanov7 7 O índice da obra de J.-P. Bronckart e C. Bota. (p. 507, referência à página 229) não faz distinção entre ele e seu homônimo, o poeta Vjačeslav Ivanovič Ivanov (1866-1949). O mesmo índice (p.509) e também o texto do livro (p.32) atribuem ao escritor Léon (Lev Nikolaevič) Tolstoj as fantasiosas iniciais "N.J.". , goza de renome mundial. Juntaram os três personagens em uma associação de malfeitores, uma "troica moscovita" (p.212), ignorando completamente as importantes divergências literárias e ideológicas entre eles. Quanto ao contexto histórico-social, imaginam, por exemplo, que os expurgos stalinistas que ceifaram milhões de vidas por volta de 1937, atingiram "sobretudo — até mesmo exclusivamente — os membros do partido e os professores marxistas" (p.39); de modo por demais ingênuo, não admitem que a pequena universidade provinciana de Saransk (inicialmente um "instituto pedagógico", formador de professores), onde Bakhtin ensinou entre os anos 1930 e 1950, pudesse não ter uma boa biblioteca de pesquisa (ou de livraria - p.271)8 8 Os dois autores se prendem a uma frase de Brian Poole que traduzem como " Bakhtin raramente viveu perto de uma boa livraria" (p.271). O original inglês ( The South Atlantic Quarterly, 97, 1998, p.568) diz library — "biblioteca". ; sugerem em várias ocasiões que Bakhtin não poderia ser um líder intelectual em relação aos seus amigos Medvedev e Vološinov porque, diferentemente deles, não tinha diploma universitário9 9 A questão dos estudos que Bakhtin fez em sua juventude não está bem esclarecida. Supõe-se que ele tenha feito os cursos universitários sem estar matriculado (ver N.L. Vasil´ev, "Kommentarii k kommentarijam" [Comentários dos comentários] , Dialog. Karnaval. Hronotop, n° 4, 1995, p.160). e não era um "pesquisador experiente" (p.252) — provavelmente sem saber que isso não era nada excepcional na Rússia revolucionária, onde, por exemplo, um opositor de Bakhtin em teoria literária, o formalista Victor Šklovskij, pôde muito bem fundar e liderar a célebre Sociedade de Estudo da Linguagem Poética (OPOJAZ) sem ter terminado seus estudos superiores e ganhando a vida como escritor, roteirista, militar e talvez até mesmo como conspirador clandestino.

Documentos importantes para a biografia de Bakhtin e a questão dos "textos disputados", que não foram traduzidos do russo, escapam à atenção de J.-P. Bronckart e C. Bota. Eles dão a entender que os "promotores" de Bakhtin, depois de terem proclamado que os "textos disputados" pertencem a esse autor, jamais citaram suas fontes — na verdade, eles o fizeram em 1995: V. Vs. Ivanov apontou que havia descoberto o fato (sobre Marxismo e filosofia da linguagem, de Vološinov) desde 1956, com o acadêmico e linguista Victor Vinogradov10 10 Ver V. Vs. Ivanov, "Ob avtorstve knig V.N. Vološinova i P.N. Medvedeva" (Sobre a autoria dos livros de V. N. Vološinova e P. N. Medvedev), Dialog. Karnaval. Hronotop, n° 4, 1995, p.134. e Vadim Kožinov, por sua vez, confirmou ter obtido a informação (sobre O método formal na literatura, de Medvedev) do mesmo Vinogradov e também dos eminentes críticos literários Naum Berkovskij e Victor Šklovski11 11 Ver V. Kožinov, "Kniga, vokrug kotoroj ne umolkajut spory" [O livro que não param de discutir], ibid., p.140. . Talvez J.-P. Bronckart e C. Bota se recusem a dar crédito a essas pessoas; mas, em vez de criticar esses depoimentos, ficam em silêncio. Fizeram o mesmo com as memórias inéditas da helenista Olga Frejdenberg, que conheceu Vološinov e afirma que seu "livro linguístico" foi escrito por outra pessoa12 12 Citada por Nina Perlina a partir de 1988. Ver uma publicação comentada, com uma reprodução fotográfica do manuscrito: Nina Braginskaja, "Meždu svideteljami i sud´jami" [Entre as testemunhas e os juízes], em M.M. Bahtin v Saranske [M. M. Bahtin em Saransk] , Saransk, 2006, p.39-60, http://ivgi.rsuh.ru/article.html?id=207419. . O. Frejdenberg morreu em 1955, mas essa única frase sua é suficiente para invalidar a tese segundo a qual "mesmo depois das declarações de paternidade de Bakhtin e de sua difusão por Ivanov, não surgiu nenhum testemunho emanado desse período [entre 1925 e 1970] que confirmasse a coisa toda" (p.79) — pelo contrário, tudo leva a crer que se trata de um rumor que circulou no período em questão nos meios acadêmicos e literários e que foi registrado em pelo menos um documento da época. Quer seja verdadeira, falsa ou só em parte verdade, a questão de fato existiu — Bakhtin e seus colegas não a inventaram nos anos 1960. Como resultado, toda a hipótese da "fraude" cai por terra.

Na argumentação elaborada por J.-P. Bronckart e C. Bota, é preciso apontar o emprego frequente de interpretações abusivas, deduções tendenciosas e desvios lógicos. Bakhtin confessou a Duvakin: "A maneira pela qual eu poderia ter escrito [o livro sobre Dostoiévski] poderia ter sido bem diferente de como foi"; os dois críticos comentam que, "Em hipótese forte, isso pode significar que Bakhtin não escreveu esse livro" e que eles preferem essa à "hipótese fraca", que, porém, está evidentemente de acordo com o resto da conversa, segundo a qual "ele o escreveu, mas não como pretendia" (p.219). Em 1928, Boris Pasternak escreveu a Pavel Medvedev, depois de ler o seu O método formal nos estudos literários, que ele não sabia que este último era "um filósofo de tal grandeza"; cita-se talvez esta apreciação para mostrar o status excepcional dessa obra (supostamente pertencente, na verdade, a Bakhtin) entre os outros escritos de seu signatário. Não, contestam J.-P. Bronckart e C. Bota, isso não passa de um elogio banal — "eu não pensava que você fosse tão brilhante" (p.67); na verdade, seria possível responder sim, pois o poeta não fala em graus de inteligência, mas, com mais precisão e tato, em uma diferença entre a natureza de dois discursos, a crítica literária das obras anteriores de Medvedev e a filosofia de que se ocupava Bakhtin. A Sergej Bočarov, Bakhtin disse que escreveu os livros "disputados" "do princípio ao fim" (p.211); e, a Vadim Kožinov, disse que Pavel Medvedev introduziu, quando muito, "alguns acréscimos [...] não muito felizes" (p.213). Com seu olhar inquisidor, J.-P. Bronckart e C. Bota detectam uma "aberta contradição" (p.213) entre essas duas declarações: sem dúvida, um indício das mentiras de Bakhtin, que os "cúmplices manifestos dessas mentiras" (p.233), não tendo combinado entre si, não souberam dissimular... Mas, pela lógica, por que o fato de ter redigido um texto do começo ao fim impede que, ao fazer isso, ele tenha se inspirado em ideias dos outros ou tenha posteriormente deixado a outros o cuidado de revisar, até mesmo de completar com interpolações?

Então Bakhtin mentiu? Acontecia realmente de ele fornecer informações falsas sobre a sua biografia (sua origem social, seus estudos); mas, no mérito da questão dos "textos disputados", ele nunca se contradiz nem contradiz diretamente os fatos de que dispomos. J.-P. Bronckart e C. Bota não souberam provar o contrário: o que varia em seus comentários são os motivos, as explicações dos atos, na maioria das vezes conciliáveis entre si; mas em nenhum momento ele diz categoricamente que não escreveu os textos problemáticos nem que os escreveu sozinho, sem participação alguma de outros. Sua posição é sempre nuançada entre os dois: ora ele admite ser o autor principal dos textos, não obstante alguns retoques feitos pelos seus amigos, ora ele se restringe a afirmar "uma concepção comum da linguagem e da obra verbal" (p.208) que esses textos partilham com seus próprios escritos da época e uns com os outros. Este último fato parece incontestável e é indiretamente reconhecido por J.-P. Bronckart e C. Bota: "... a abordagem de Medvedev é absolutamente idêntica àquela desenvolvida por Volóshinov" (p.412). Só porque nesse caso trata-se das relações de Medvedev e Vološinov entre si, e não com Bakhtin, eles não acreditam que houve plágio ou substituição de autor...

Por outro lado, a mesma comunhão de ideias será utilizada para contestar a autoria do Dostoiévski. Segundo J.-P. Bronckart e C. Bota, os amigos de Bakhtin teriam se prestado a transformar seus fragmentos confusos de inspiração religiosa em uma obra inovadora para as ciências humanas, seguindo as próprias pesquisas de Vološinov; ou melhor, "Volóshinov decidiu publicar sob o nome de Bakhtin uma parte do trabalho que ele, Volóshinov, conduzia" (p.555). A publicação do livro seria destinada a consolidar a reputação profissional de Bakhtin e a amenizar o destino que o aguardava, já que em 1929 ele seria julgado por suas atividades nos círculos religiosos de Leningrado. A hipótese é engenhosa; o problema é que ela não se encaixa nos quadros cronológicos. Esses autores dão a entender (p.233-234 e em outras partes) que Bakhtin não podia redigir e editar seu livro, uma vez que, em dezembro de 1928, havia sido preso pela polícia política. Ora, na verdade, ele só passou alguns dias na cadeia, depois dos quais, antes de partir para o exílio em fevereiro de 1930, ele morou em Leningrado em prisão domiciliar, o que não deve tê-lo impedido de trabalhar na edição de sua obra13 13 O fato, relatado por Bočarov (p.224) e contestado por J.-P. Bronckart e C. Bota como estando "em contradição com outros dados históricos" (p. 224), é confirmado pelo processo judicial de Bakhtin. Ver S. S. Konkin e L. S. Konkina, Mihail Bahtin, Saransk, 1993, p.185-186. . É, portanto, falso que o processo dessa edição "foi manifestamente gerido por outros em razão da prisão e da posterior deportação do signatário" (p.53)14 14 É igualmente falso que, ao reeditar o Dostoiévski em 1963, Bakhtin não pudesse "fazer ele mesmo esse trabalho e, como o indicava especialmente em suas entrevistas com Duvakin, foi na verdade Kojinov quem administrou o empreendimento de reelaboração" (p.433), "o efetivo remanejamento, [foi] produzido essencialmente por Kojinov [...]" (p.449; cf. a mesma afirmação p.233, 489 e em outras partes). Na verdade, como Bakhtin explica a Duvakin (ver a edição russa citada, p.218), Kožinov conseguiu que o livro fosse publicado, ele o "promoveu", "impulsionou" ( prodvinul, prochibal), a uma editora de Moscou; mas foi o próprio Bakhtin que efetuou todo o trabalho de retoques e acréscimos, incluindo a redação de um capítulo complementar sobre o problema do gênero. Servem para atestar isso, por exemplo, seus manuscritos do segundo Dostoiévski, publicados no volume 6 das Obras completas em 2002 e ignorados por J.-P. Bronckart e C. Bota, que parecem conhecer apenas — e de segunda, talvez até de terceira mão, conforme Kožinov citado em inglês por N. Rzhevsky — sucintas notas redigidas por Bakhtin no início desse trabalho, em 1961. . Além disso, este último declarou ter terminado seu livro antes da prisão, em 1928 (p.230), e seu testemunho é confirmado pelos documentos editoriais encontrados (em 1928, Bakhtin tinha assinado um contrato, que indica 15 de outubro como a última data de entrega do manuscrito) e pela data da primeira nota sobre Dostoiévski, publicada na imprensa em 10 de junho de 1929. Estes últimos fatos não são discutidos pelos críticos genebrinos — eles os ignoraram, como também ignoraram quase todo o aparato crítico das Obras completas, nas quais esses fatos foram relatados15 15 Ver Patrick Sériot, "Préface", em Valentin Nikolaevič Vološinov, Marxisme et philosophie du langage, Limoges: Lambert-Lucas, 2010, p. 52-54. . Ora, se a editoração, as provas e a impressão demandam, pelo menos, cinco ou seis meses16 16 Assim deve ter sido, por exemplo, o prazo da edição do livro de Yuri Tynjanov Os arcaístas e os inovadores, publicado pelo mesmo editor na mesma época, em janeiro-fevereiro de 1929. , para que um livro pudesse ser lançado em junho de 1929, teria que ter sido entregue ao editor antes do fim de 1928. Depois da prisão de Bakhtin, Vološinov ou quem quer que fosse não teria tempo de reelaborar seu texto caso tivesse tido essa intenção.

Os argumentos biográficos se revelam falhos. E quanto aos outros argumentos retirados da análise dos textos teóricos? J.-P. Bronckart e C. Bota procuram mostrar que, a julgar pelo conteúdo de suas ideias principais, o primeiro Dostoiévski está muito mais próximo das obras de Medvedev e Vološinov que dos primeiros escritos filosóficos de Bakhtin (Por uma filosofia do ato, O autor e o herói); talvez, mas por que explicar essa proximidade através da hipótese singular de que Dostoiévski não é uma obra de Bakhtin, e não pelo simples fato, reconhecido por este, de existir uma intensa troca intelectual entre os três homens, que se estenderia até a adoção de uma "concepção comum" da cultura verbal? É bastante natural que, em Dostoiévski, essa concepção comum coexista com reminiscências das primeiras teorias filosóficas de Bakhtin; e, em princípio, seria possível defender, tal como fizeram J.-P. Bronckart e C. Bota, que essas ideias nem sempre estão de acordo entre si, mas isso não é suficiente para se concluir que o texto da obra tenha sido redigido por duas ou três pessoas diferentes. Seria mais lógico supor, como já se fez, que o autor trabalhou muito tempo no seu texto e que este é composto de partes escritas em diferentes períodos.

É verdade que, para chegar à "concepção comum", Bakhtin teria de ter evoluído de forma prodigiosamente rápida — de uma filosofia fenomenológica e religiosa para ciências humanas objetivas e sociologizantes. No entanto, o caso dele não é único: entre seus amigos próximos, encontra-se uma evolução muito semelhante em Lev Pumpjanskij e, sobretudo, Valentin Vološinov, que, alguns anos antes de se inspirar no "materialismo dialético" (p.483), teria se tornado um rosa-cruz17 17 Ver Patrick Sériot, "Préface", em Valentin Nikolaevič Vološinov, Marxisme et philosophie du langage, Limoges: Lambert-Lucas, 2010, p.52-54. . Esse tipo de conversão era igualmente frequente na classe intelectual europeia da época, como é o caso do místico Walter Benjamin ou do fenomenólogo Jean-Paul Sartre, para citar apenas os mais célebres. Os motivos da evolução podem variar: desenvolvimento livre do pensamento, leituras e influências intelectuais, pressão ideológica (sobretudo na Rússia soviética), etc. Ora, sem examinar essas possibilidades, J.-P. Bronckart e C. Bota preferiram outra: não teria sido evolução nenhuma, mas uma simples substituição de pessoas, seguida de um "escandaloso desvio de autoria" (p.234)18 18 Outro caso de não exame de argumentos alternativos: em 2001, Brian Poole, estudando as referências implícitas dos primeiros escritos de Bakhtin, acreditou ter provado que eles haviam sido redigidos por volta de 1927, ou seja, depois do que se pensava e na mesma época dos primeiros "textos disputados". Se essa nova datação estiver correta, reduziria a zero o tempo de evolução de Bakhtin nos anos 1920 e isso a tornaria pouco provável. Ora, desde 2004, Nikolaj Nikolaev e Vadim Ljapunov, os comentaristas russo e americano do volume 1 das Obras completas de Bakhtin fizeram uma crítica consistente, com um importante material factual, da hipótese de Poole. Embora conhecendo de segunda mão (ver sua nota da página 428, remetendo a uma publicação suíça de 2005) a existência dessa crítica, J.-P. Bronckart e C. Bota não se pronunciam sobre sua validade e retomam tais e quais as teses de Poole (ver p.252, 428 e outras partes). Mais uma vez, pode-se supor que eles não tenham consultado com os próprios olhos as obras completas do autor estudado: algo desconcertante, para dizer o mínimo. .

Para dar verossimilhança a essa tese, os autores são obrigados a exagerar a incompatibilidade dos dois programas de pesquisa nos quais Bakhtin deveria evoluir: essas duas abordagens, dizem, seriam "radicalmente apartadas e amplamente antagônicas" (p.423). Acentuando as tendências religiosas da primeira estética bakhtiniana — que não param de vilipendiar como sendo uma "ideologia reacionária" (p.333), uma "perspectiva regressiva e destruidora" (p.345), "uma ideologia radicalmente reacionária" (ibid.), uma "trama de considerações ultrafenomenológicas e devotas" (p.430) —, eles creem ter descoberto aí "um monologismo radical" (p.346) em contradição com o princípio dialógico do Dostoiévski e dos escritos de Vološinov. Não se dão conta de que a noção de monologismo, definida no Dostoiévski como a dominação de um discurso, é inaplicável às obras em que o problema da linguagem ainda não havia sido colocado, ao passo que a situação do diálogo é aí antecipada por uma análise da comunicação entre os homens — e não somente entre o homem e Deus — não se fundando sobre a dominação, mas sobre o amor.

A mesma preocupação em aprofundar o abismo entre as duas abordagens leva J.-P. Bronckart e C. Bota a superestimar o "marxismo" dos "textos disputados" do fim dos anos 1920. Na verdade, quer seja sincero ou imposto por fatores externos (problema que divide há muito tempo os exegetas, uns interpretando esses textos "à esquerda" outros "à direita"), esse marxismo acaba se revelando rudimentar, como recentemente mostrou, por exemplo, Patrick Sériot em relação à filosofia da linguagem de Vološinov19 19 Ver Patrick Sériot, "Préface", p.54 ss. A análise de Sériot tem peso ainda maior pelo fato de que descarta a hipótese da "onipaternidade bakhtiniana" e considera Marxismo e filosofia da linguagem como obra de Vološinov. . É um marxismo sem dialética, sem luta de classes nem revolução, sem ideias de práxis, de trabalho nem de ideologia (este último termo, frequente em Vološinov, tem aí um sentido que tem pouco a ver com A ideologia alemã); um marxismo que se reduz ao princípio sumário do "monismo materialista" (p.352)20 20 Ao expor esse princípio, J.-P. Bronckart e C. Bota fazem referência (p.352) a dois textos: A ética, de Spinoza, e à polêmica obra Materialismo e empiriocriticismo, de Lenin, que dificilmente poderiam ser consideradas as melhores exposições das ideias de Marx. e a um "interacionismo social" (p.388), privilegiando as solidariedades, e não os conflitos sociais entre os indivíduos comunicantes. J.-P. Bronckart e C. Bota, que conhecem o artigo de P. Sériot, não tentam refutar sequer uma de suas críticas. Ora, reorientar as ciências da linguagem e da literatura na direção de um estudo da interação humana e colocar esse aspecto interacionista da linguagem acima de seu aspecto cognitivo — um gesto teórico importante que podemos, com justiça, creditar aos autores dos "textos disputados" — não implica, no entanto, uma "deliberada fundamentação no marxismo" (p. 51) — pelo contrário, está longe disso.

A discussão poderia se alongar por um bom tempo, mas as conclusões se fazem impor. Em busca de provar tudo, J.-P. Bronckart e C. Bota não provaram nada: só fizeram confundir ainda mais uma questão já complicada. O caso dos "textos disputados" não está encerrado — e talvez nunca seja, a menos que se descubram novas evidências decisivas. A hipótese da autoria coletiva do Dostoiévski poderia ser plausível, mas, privada de provas convincentes e associada a uma cronologia improvável, acaba se mostrando infundada; o processo das "mentiras" de Bakhtin quanto a supostos textos serem parte de sua obra deve terminar como improcedente, pela carência de provas e em razão da presunção de inocência; a narrativa rocambolesca de uma "fraude" supostamente cometida por seus colegas russos poderia ser qualificada de calúnia, mas a explicação mais simples é que se trata de uma ignorância patente dos fatos. De maneira geral, as graves lacunas documentais, as traduções e leituras errôneas, as deduções forçadas e distorções lógicas que se multiplicam na obra de J.-P. Bronckart e C. Bota só desvalorizam suas análises textuais, frequentemente detalhistas, mas desacreditadas por sua visão tendenciosa.

A obra de Mikhail Bakhtin é difícil. Nela se encontram obscuridades, empréstimos não declarados, contradições aparentes e reais, textos mais ou menos acabados e mais ou menos bem-sucedidos. Faltam-nos elementos factuais para desvendar as contribuições que ele próprio e seus amigos e colegas deram, nos anos 1920, aos textos resultantes de suas trocas e de seu arcabouço comum de ideias. Certos bakhtinistas, é preciso dizer, agravaram essa dificuldade objetiva com seu zelo excessivo, tendendo a erigir um culto a Bakhtin. Para remediar a situação, é preciso uma crítica competente e paciente, que não busque soluções mirabolantes, que não reduza as complexidades de um pensamento teórico a plágios e usurpações de direitos autorais e que não trate por mentirosos, enganadores e delirantes os que discordam do que ela apontar. A heterogeneidade do corpus bakhtiniano é um bom problema — é pena que caia em mãos erradas.

Recebido em 10/02/2014

Aprovado em 06/05/2014

Tradução por Heber Costa e Silva – heber1979@gmail.com

  • 1
    Este texto de Serge Zenkine foi publicado no
    Cahiers du monde russe [En ligne], 52/4 | 2011, com o título «Jean-Paul Bronckart, Cristian Bota, Bakhtine démasqué». <
    http://monderusse.revues.org/7509> Acesso em 31 maio 2012.
  • 2
    N. do T.: As citações e páginas são da edição brasileira: BRONCKART, J-P.; BOTA, C.
    Bakhtin desmascarado:
    história de um mentiroso, de uma fraude, de um delírio coletivo. Tradução de Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2012.
  • 3
    "
    Seus próprios escritos tardios resultam claramente de plágio" (p.236, aqui e doravante, os negritos e itálicos nas citações são dos autores do livro).
  • 4
    Ver Ju. P. Medvedev, "Pis´mo v redakciju zhurnala..." [Carta à redação do jornal REVUE],
    Dialog.
    Karnaval.
    Hronotop, n° 4, 1995, p. 154. Este documento precursor está ausente da bibliografia de J.-P. Bronckart e C. Bota.
  • 5
    Ver Vladimir ALPATOV,
    Vološinov, Bahtin i lingvistika [Vološinov, Bakhtin e a linguística]
    , M.: Jazyki slavjanskih kul´tur, 2005, p. 117. Esta obra figura na bibliografia de J.-P. Bronckart e C. Bota, sem que sua prioridade em relação a esse tema seja assinalada.
  • 6
    Cf. o original russo:
    Besedy V.D.
    Duvakina s M.M.
    Bahtinym [
    Conversas de V.D.
    Duvakin com M.M.
    Bakhtin], M.: Progress, 1996, p. 217-218.
  • 7
    O índice da obra de J.-P. Bronckart e C. Bota. (p. 507, referência à página 229) não faz distinção entre ele e seu homônimo, o poeta Vjačeslav Ivanovič Ivanov (1866-1949). O mesmo índice (p.509) e também o texto do livro (p.32) atribuem ao escritor Léon (Lev Nikolaevič) Tolstoj as fantasiosas iniciais "N.J.".
  • 8
    Os dois autores se prendem a uma frase de Brian Poole que traduzem como "
    Bakhtin raramente viveu perto de uma boa livraria" (p.271). O original inglês (
    The South Atlantic Quarterly, 97, 1998, p.568) diz
    library — "biblioteca".
  • 9
    A questão dos estudos que Bakhtin fez em sua juventude não está bem esclarecida. Supõe-se que ele tenha feito os cursos universitários sem estar matriculado (ver N.L. Vasil´ev, "Kommentarii k kommentarijam" [Comentários dos comentários]
    , Dialog.
    Karnaval.
    Hronotop, n° 4, 1995, p.160).
  • 10
    Ver V. Vs. Ivanov, "Ob avtorstve knig V.N. Vološinova i P.N. Medvedeva" (Sobre a autoria dos livros de V. N. Vološinova e P. N. Medvedev),
    Dialog.
    Karnaval.
    Hronotop, n° 4, 1995, p.134.
  • 11
    Ver V. Kožinov, "Kniga, vokrug kotoroj ne umolkajut spory" [O livro que não param de discutir],
    ibid., p.140.
  • 12
    Citada por Nina Perlina a partir de 1988. Ver uma publicação comentada, com uma reprodução fotográfica do manuscrito: Nina Braginskaja, "Meždu svideteljami i sud´jami" [Entre as testemunhas e os juízes], em
    M.M.
    Bahtin v Saranske [M. M. Bahtin em Saransk]
    , Saransk, 2006, p.39-60,
  • 13
    O fato, relatado por Bočarov (p.224) e contestado por J.-P. Bronckart e C. Bota como estando "em contradição com outros dados históricos" (p. 224), é confirmado pelo processo judicial de Bakhtin. Ver S. S. Konkin e L. S. Konkina,
    Mihail Bahtin, Saransk, 1993, p.185-186.
  • 14
    É igualmente falso que, ao reeditar o
    Dostoiévski em 1963, Bakhtin não pudesse "fazer ele mesmo esse trabalho e, como o indicava especialmente em suas entrevistas com Duvakin, foi na verdade Kojinov quem administrou o empreendimento de reelaboração" (p.433), "o efetivo remanejamento, [foi] produzido essencialmente por Kojinov [...]" (p.449; cf. a mesma afirmação p.233, 489 e em outras partes). Na verdade, como Bakhtin explica a Duvakin (ver a edição russa citada, p.218), Kožinov conseguiu que o livro fosse
    publicado, ele o "promoveu", "impulsionou" (
    prodvinul, prochibal), a uma editora de Moscou; mas foi o próprio Bakhtin que efetuou todo o trabalho de retoques e acréscimos, incluindo a redação de um capítulo complementar sobre o problema do gênero. Servem para atestar isso, por exemplo, seus manuscritos do segundo
    Dostoiévski, publicados no volume 6 das
    Obras completas em 2002 e ignorados por J.-P. Bronckart e C. Bota, que parecem conhecer apenas — e de segunda, talvez até de terceira mão, conforme Kožinov citado em inglês por N. Rzhevsky — sucintas notas redigidas por Bakhtin no início desse trabalho, em 1961.
  • 15
    Ver Patrick Sériot, "Préface", em Valentin Nikolaevič Vološinov,
    Marxisme et philosophie du langage, Limoges: Lambert-Lucas, 2010, p. 52-54.
  • 16
    Assim deve ter sido, por exemplo, o prazo da edição do livro de Yuri Tynjanov
    Os arcaístas e os inovadores, publicado pelo mesmo editor na mesma época, em janeiro-fevereiro de 1929.
  • 17
    Ver Patrick Sériot, "Préface", em Valentin Nikolaevič Vološinov,
    Marxisme et philosophie du langage, Limoges: Lambert-Lucas, 2010, p.52-54.
  • 18
    Outro caso de não exame de argumentos alternativos: em 2001, Brian Poole, estudando as referências implícitas dos primeiros escritos de Bakhtin, acreditou ter provado que eles haviam sido redigidos por volta de 1927, ou seja, depois do que se pensava e na mesma época dos primeiros "textos disputados". Se essa nova datação estiver correta, reduziria a zero o tempo de evolução de Bakhtin nos anos 1920 e isso a tornaria pouco provável. Ora, desde 2004, Nikolaj Nikolaev e Vadim Ljapunov, os comentaristas russo e americano do volume 1 das
    Obras completas de Bakhtin fizeram uma crítica consistente, com um importante material factual, da hipótese de Poole. Embora conhecendo de segunda mão (ver sua nota da página 428, remetendo a uma publicação suíça de 2005) a existência dessa crítica, J.-P. Bronckart e C. Bota não se pronunciam sobre sua validade e retomam tais e quais as teses de Poole (ver p.252, 428 e outras partes). Mais uma vez, pode-se supor que eles não tenham consultado
    com os próprios olhos as obras completas do autor estudado: algo desconcertante, para dizer o mínimo.
  • 19
    Ver Patrick Sériot, "Préface", p.54 ss. A análise de Sériot tem peso ainda maior pelo fato de que descarta a hipótese da "onipaternidade bakhtiniana" e considera
    Marxismo e filosofia da linguagem como obra de Vološinov.
  • 20
    Ao expor esse princípio, J.-P. Bronckart e C. Bota fazem referência (p.352) a dois textos:
    A ética, de Spinoza, e à polêmica obra
    Materialismo e empiriocriticismo, de Lenin, que dificilmente poderiam ser consideradas as melhores exposições das ideias de Marx.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Jul 2014
    • Data do Fascículo
      Jul 2014
    LAEL/PUC-SP (Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Rua Monte Alegre, 984 , 05014-901 São Paulo - SP, Tel.: (55 11) 3258-4383 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: bakhtinianarevista@gmail.com