Open-access Para além de Santarém: os vasos de gargalo na bacia do rio Trombetas

Beyond Santarém: ‘necked vessels’ in the Trombetas River basin

Resumo

As cerâmicas Konduri (XI-XV AD) e Santarém (XIII-XVI AD), pertencentes à Tradição Inciso Ponteada, são encontradas em áreas vizinhas ao baixo Amazonas. Uma das vasilhas mais emblemáticas da cerâmica Santarém são os vasos de gargalo, caracterizados pela presença de um gargalo constrito com flange, base em pedestal e bojo lobado, geralmente com dois pares de apliques formando eixos de simetrias perpendiculares. No presente estudo, a proposição de que esse grupo de vasos ocorria exclusivamente associado à cerâmica Santarém será reavaliada. A partir da análise de dezenas de vasos de gargalo Santarém, foi possível identificar elementos diagnósticos capazes de ser reconhecidos em fragmentos isolados. A análise de coleções cerâmicas oriundas de contextos Konduri, por sua vez, permitiu isolar mais de uma centena de casos com atributos diagnósticos. A revisão da literatura confirma a presença desses fragmentos em coleções que não puderam ser diretamente observadas. Os vasos de gargalo associados à cerâmica Konduri apresentam padrões incisos e aplicados particulares, sem equivalentes nos vasos Santarém. O compartilhamento de um tipo cerâmico tão distinto em escala regional reforça as sugestões encontradas nos estudos etno-históricos e arqueológicos sobre a existência de interações sociais entre os coletivos produtores das cerâmicas Santarém e Konduri.

Palavras-chave Cerâmica Konduri; Cerâmica Santarém; Baixo Amazonas; Vaso de gargalo; Interação

Abstract

Konduri (11th-15th AD) and Santarém (13th-16th AD) pottery styles occur in neighboring areas of the Lower Amazon and are both part of the Incised and Punctuate Tradition. ‘Necked vessels’ are among the most emblematic types of pottery in the Santarém style. These vessels typically have a constricted neck with a flange, pedestal base, and lobed body, generally with two pairs of zoomorphic adornos arranged in a perpendicular manner. This study challenges the assumption that this type of vessel was exclusively associated with Santarém pottery. Diagnostic traits to recognize necked vessels from isolated potsherds were defined based on analysis of complete specimens from Santarém. Hundreds of Konduri potsherds were directly analyzed or observed from available publications in order to identify diagnostic traits indicating the existence of necked vessels. Necked vessels from Konduri contexts were seen to have their own distinct characteristics involving particular incised patterns which differ from Santarém. The presence of such a distinct type of vessel on a regional scale reinforces previous suggestions based on ethnohistorical and archaeological studies of the existence of social interactions between the producers of Santarém and Konduri pottery.

Keywords Konduri pottery; Santarém pottery; Lower Amazon; ‘Necked vessels’; Interaction

INTRODUÇÃO

Os vasos de gargalo têm sido considerados um dos tipos mais característicos da cerâmica Santarém (Figura 1, junto aos vasos de cariátides presentes na Figura 2). O presente artigo parte do levantamento de fragmentos relacionáveis à morfologia dos vasos de gargalo em coleções cerâmicas provenientes da região do rio Trombetas, área de dispersão de outro estilo cerâmico, denominado Konduri. Alguns aspectos da variabilidade formal dessas peças, como morfologia e antiplástico, foram estudados e comparados com os de vasos de gargalo Santarém. A partir dos resultados dessa comparação, é proposto um modelo de reconstituição da morfologia identificada na região do rio Trombetas, além de hipóteses baseadas em informações históricas e etnográficas do baixo Amazonas e de regiões vizinhas.

Figura 1
Vaso de gargalo (‘tipo 1’ de Frederico Barata) que compõe a coleção Valentim Bouças, do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
Figura 2
Vaso de cariátides que compõe a coleção Amazônia, doMuseu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio deJaneiro.

Em coleções museológicas de cerâmica proveniente da região do rio Trombetas há um conjunto de fragmentos com características tecnológicas e iconográficas semelhantes às apresentadas pelos vasos de gargalo Santarém. Materiais do mesmo tipo já foram apontados como indicadores de uma ‘influência Santarém’ sobre o estilo Konduri (Gomes, 2002). A partir da identificação da existência de fragmentos análogos em outras coleções, selecionamos e analisamos essas peças associáveis à morfologia dos vasos de gargalo e as comparamos com 36 vasos de gargalo Santarém inteiros/semi-inteiros e com oito fragmentados, pertencentes ao acervo de três museus no Brasil. As peças estudadas da região do rio Trombetas são majoritariamente resultado de coleta assistemática, com indicação genérica de proveniência. Isso não anula os resultados apresentados, uma vez que exemplos de fragmentos com as mesmas características foram encontrados em escavações sistemáticas (Guapindaia, 2008; Scientia, 2013; Jácome, 2017).

A questão da relação entre os produtores das cerâmicas Santarém e Konduri tem sido tratada desde o início do século passado e continua em aberto. Nimuendajú (1949, 2004) foi o primeiro a identificar, entre 1923 e 1926, a cerâmica Konduri e propor que a sua dispersão ocorre da região dos rios Trombetas e Nhamundá alcançando até a serra de Parintins (Figura 3). O lago Salé, próximo ao lago Grande de Curuaí, seria uma ‘fronteira’, segundo Nimuendajú, uma vez que o autor encontrou nesse lugar peças Santarém e Konduri.

Figura 3
Mapa construído por Curt Nimuendajú sobre a dispersão dos estilos cerâmicos no baixo Amazonas. Foram excluídas as referências a outros estilos mencionados.

Desde o início do século passado, notou-se que estes estilos apresentam características tecnológicas semelhantes e aparecem em áreas contíguas. As datações radiocarbônicas para eles mostram que a cerâmica Konduri (XI-XV AD) começou a ser produzida um pouco antes do que a Santarém (XIII-XVI AD), mas que essas produções foram contemporâneas por pelo menos dois séculos (Hilbert, P.; Hilbert , K., 1980; Guapindaia; Lopes, 2011; Stenborg, 2016; Schaan, 2016; Gomes, 2016). As semelhanças entre essas cerâmicas levaram à sua classificação como pertencente à Tradição Inciso e Ponteada (Meggers; Evans, 1961) e ao modelo de expansão de línguas Karib (Lathrap, 1970).

Hilbert, P. (1955) definiu as características da cerâmica Konduri e a diferenciou da Santarém a partir de um quadro com 11 traços (Quadro 1). Nenhuma revisão explícita foi feita ao quadro comparativo das cerâmicas Konduri e Santarém, porém é possível notar que alguns dos atributos comparados precisam ser relativizados ou mesmo descartados. O caso mais evidente é o da presença de cachimbos angulares, pois hoje sabemos que foram feitos no período colonial (Barata, 1952; Symanski; Gomes, 2012). Todavia, pelo menos cinco diferenças elencadas continuam sendo válidas, sendo a principal delas a porcentagem muito alta de cauixi na pasta Konduri (Figura 4), em oposição à grande concentração de caco moído e à menor proporção de cauixi na cerâmica Santarém (Gomes, 2002). Outras características que podemos mencionar, a partir de Guimarães (1985), Guapindaia (2008), Souza (2014), Panachuk (2016a) e do próprio estudo das coleções, são: maior frequência e elaboração da policromia na cerâmica Santarém, em contraposição à raridade de pintura na cerâmica Konduri; abundância de vasilhas trípodes no estilo Konduri, sendo muito raras na outra cerâmica; ausência de incisões curvas em Konduri, oposta à sua abundância na Santarém; e também ausência de vasos de cariátides na cerâmica dos rios Trombetas e Nhamundá. Apesar do diálogo direto com a caracterização da cerâmica Santarém feito por Barata (1950, 1953a), não há nenhuma referência aos vasos de gargalo na comparação feita por Hilbert, P. (1955).

Quadro 1
Diferenças entre as cerâmicas Santarém e Konduri. Informações sintetizadas de Hilbert, P. (1955, p. 73).
Figura 4
Alça em ponte, com pontilhado e entalhes, apresentando alta densidade de cauixi na pasta, atributos considerados característicos da cerâmica Konduri desde o quadro de Hilbert, P. (1955).

OS VASOS DE GARGALO SANTARÉM

Vários nomes já foram atribuídos ao que chamamos de vaso de gargalo (Nordenskiöld, 1930; Palmatary, 1939; Serrano, 1938), mas a denominação que se perpetuou foi aquela atribuída por Barata (1950). Apesar da permanência do termo ‘vaso de gargalo’, Barata o usou para agrupar duas morfologias distintas, as quais, segundo nossa concepção, apenas compartilhavam gargalo constrito com flange: uma mais padronizada (‘tipo 1’ do autor) e outra com formas muito distintas, com bojos zoomorfos ou antropomorfos (‘tipo 2’ do autor). Em trabalhos posteriores (Guapindaia, 1993; Gomes, 2001), a categoria foi usada apenas em relação ao conjunto mais padronizado. Os vasos de gargalo, assim, são vasilhas cuja estrutura é dividida em três partes (gargalo, corpo e base em pedestal) (Scatamacchia et al., 1996), sendo que exibem um gargalo constrito e composto, além de apliques em formas de cabeças zoomorfas alongadas, geralmente em um eixo de simetria perpendicular a outro, no qual aparecem figuras quadrúpedes (Figura 5). O bojo de muitos vasos de gargalo é lobado, formando seis ‘gomos’. Em nosso estudo, constatamos que os vasos medem entre 10 e 30 cm de altura e têm uma capacidade volumétrica entre 250 e 670 ml. As partes estruturais deles refletem a sua construção em ‘blocos’ manufaturados separadamente e posteriormente unidos com barbotina e ranhuras. Essas vasilhas, a julgar por exemplares fragmentados, combinam um bojo feito por acordelamento e modelagem, afixado a outras partes completamente modeladas.

Figura 5
Partes de um vaso de gargalo (em perfil) e seus principais apliques (visão aérea) que compõe a coleção Valentim Bouças, Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

A partir de levantamento da bibliografia e de coleções do Museu Paraense Emílio Goeldi, do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Museu de Arqueologia e Etnologia/Universidade de São Paulo, foram identificadas 49 peças inteiras ou semi-inteiras, as quais apresentam o conjunto de elementos característicos dos vasos de gargalo (Tabela 1). Outras oito peças encontram-se fragmentadas, apresentando, aproximadamente, entre 40 e 50% das partes estruturais e dos apliques que compõem o vaso. Desse total, foram analisados 36 vasos Santarém inteiros/semi-inteiros e oito fragmentados, presentes nas três instituições com as maiores coleções de cerâmica Santarém no Brasil. Fotografias e descrições das outras peças mencionadas foram compiladas em outros estudos sobre a cerâmica Santarém (Serrano, 1938; Palmatary, 1960; Barata, 1950, 1953b; Nimuendajú, 2004; Corrêa; Barry, 2002; Leal; Amaral, 2011; Gomes, 2016; Jácome, 2017).

Tabela 1
Levantamento de vasos de gargalo conhecidos e identificados em instituições ou por meio da bibliografia. O asterisco (*) indica que não foi realizado um levantamento sistemático, sendo consideradas apenas peças em exposição ou com foto na bibliografia.

A maioria dos vasos dos quais se conhece a procedência foi coletada no sítio arqueológico Aldeia (12 peças), onde hoje se situa parte da atual cidade de Santarém. Outras vasilhas têm como procedência apenas ‘Santarém’, mas é muito provável que tenham sido coletadas no mesmo sítio (17 peças). Uma única peça (fragmentada) foi encontrada, até o momento, em escavação sistemática por Gomes (2010, 2016) neste sítio. Muitas das vasilhas nos museus não têm nenhuma indicação explícita de procedência, mas suas características estilísticas servem para associá-las com acerâmica Santarém nos estudos de coleções museológicas (Guapindaia, 1993; Gomes, 2002).

A composição dos vasos de gargalo é caracterizada não só por modelagens, mas também por incisões e vestígios de enegrecimento. As suas superfícies exibem estrias de polimento, quando não estão erodidas. Como em outras vasilhas provenientes de Santarém, os gargalos e as bases exibem padrões incisos (com sigmoides, volutas e retângulos, círculos e arcos concêntricos). Essas vasilhas apresentam em seu bojo dois pares de apliques característicos, que, por falta de melhores expressões, chamamos genericamente de ‘cabeças zoomorfas alongadas’ e de ‘quadrúpedes de corpo inteiro’ (Figura 5). Outros apliques, que por vezes aparecem no bojo, formam eixos de simetria oblíquos aos das cabeças zoomorfas alongadas e quadrúpedes.

Essas cabeças zoomorfas alongadas podem ser interpretadas – a partir de sua proeminência em relação ao tamanho total das peças – como forma de apoio,usado para segurar a vasilha – ‘garrafas com asas’, como denominou Palmatary (1960). Esses ‘apliques-asas’ são uma constante nos vasos de gargalo. Há três formas distintas de figurá-los, às quais foram atribuídas identidades zoológicas distintas pela literatura arqueológica. A mais numerosa delas é comumente identificada como ‘jacaré’, cuja boca é ondulada e aberta, com pequenos apliques zoomorfos em sua porção superior (Figuras 6A, 7A e 7B). Outra maneira de figurar a cabeça costuma ser identificada como ‘urubu-rei’ e apresenta formato arredondado, com incisões, relevos, além de um bico com ponta curva (Figuras 7C-7E). Há também uma forma pouco mencionada que poderia ser identificada como uma ave, tal qual a anterior, mas cujo bico está aderido ao bojo do vaso, formando um arco (Figuras 6C e 7F). Na coleção Tapajônica do Museu de Arqueologia e Etnologia/Universidade de São Paulo (MAE/USP), há uma peça com características singulares (Figura 6D), as quais não permitem agrupá-la com as outras formas de figurar as cabeças zoomorfas alongadas (Figuras 6A-6C).

Figura 6
Variantes de vasos de gargalo: A) variante 1 apresenta maior elaboração da técnica dos ‘apliques-asas’ identificados como ‘jacarés’ na bibliografia, os característicos apliques ‘sapos-besouros’ e uma série de outras pequenas modelagens, além de maior diversidade de padrões incisos no vertedor do gargalo e aplicados e incisos na base; B) variante 2, muito semelhante à variante 1, sendo caracterizada por ‘apliques-asas’ identificados como ‘cabeça de urubu-rei’ e com tendência a um número menor de pequenos apliques zoomorfos em todas as partes do vaso; C) variante 3, caracterizada por ‘apliques-asas’ que lembram uma cabeça de ave, cujo bico se encontra afixado na parede da vasilha (diferentemente da variante 2) e com um número menor de modelagens aplicadas em relação às variantes 1 e 2, sendo que os característicos apliques ‘sapos-besouros’ aparecem muito simplificados ou não fazem parte da composição; D) variante única, é representada por uma única vasilha conhecida, cujos ‘apliques-asas’ sugerem uma figuração distinta das outras variantes, e que no lugar dos apliques ‘sapos-besouros’ apresenta apliques (zoo)antropomorfos.
Figura 7
Variantes de apliques de cabeça zoomorfa alongada de vasos de gargalo: os primeiros são identificados na bibliografia como ‘jacarés’ (A e B) e os últimos como ‘urubus’ (C, D, E e F). Há, de fato, uma continuidade entre esses modos de figurar a cabeça zoomorfa. Isto fica claro quando se compara, por exemplo, as figuras A e C.

A diferença entre esses apliques reflete-se na composição geral dos vasos de gargalo, o que nos levou a diferenciar três variantes e uma peça única (Figura 6). Quantitativamente, entre vasos inteiros e fragmentados, são conhecidos mais vasos de gargalo com apliques da primeira variante (37 peças) do que das outras duas (respectivamente, sete e quatro peças). Algumas peças apenas apresentavam o negativo desses apliques, o que impossibilitou a identificação de qual tipo foi colocado no vaso.

Um elemento muito importante – geralmente esquecido nas descrições dos vasos de gargalo – é a sugestão de um corpo para cada uma das cabeças alongadas a partir de pequenos apliques no bojo (Figura 8). Filetes, semiesferas e trapezoides sugerem um corpo de ave (com asas, patas e cauda) para a cabeça alongada. Todos esses elementos levam a considerar que, apesar das distintas identificações zoológicas feitas para as cabeças, é possível que se trate de uma variação de uma mesma personagem – apenas com exceção da variante única (Figura 6D).

Figura 8
Variações dos corpos que compõem uma figura junto às cabeças zoomorfas alongadas.

Os apliques em forma de quadrúpede sempre apresentam cabeça subtriangular e corpo elíptico (Figura 9), variando muito menos do que os ‘apliques-asas’. Os olhos desse tipo de figuração são sempre aplicados com um ponteado circular e o dorso, com variadas incisões e/ou filetes. O ventre desses apliques é sempre côncavo. Geralmente, essas figuras são identificadas como batraquiformes (‘sapos’ ou ‘rãs’). Essa identificação é justificada principalmente pelas patas traseiras fletidas, que lembram as de anuros.

Figura 9
Aplique quadrúpede batraquiforme: face dorsal e perfil. Peça pertencente à coleção Tapajônica, Museu de Arqueologia e Etnologia/Universidade de São Paulo, São Paulo.

‘CABEÇAS DE URUBU’ E ‘SAPOS-BESOUROS’

Uma questão latente tanto nos manuscritos de Nimuendajú (2004) quanto em Palmatary (1960), Hilbert, P. (1955) e em trabalhos mais recentes (Gomes, 2002, 2009; Duarte Filho, 2010; Panachuk, 2011; Martins, 2012; Lopes-Alves, 2016) é a existência de peças características de cerâmica Konduri em coleções Santarém e vice-versa. Além disso, também já se falou em ‘combinação’ de elementos das cerâmicas Konduri e Santarém ou na existência de ‘influências’ de um estilo sobre o outro. No estudo da coleção Tapajônica do MAE/USP, os vasos de gargalo foram, inclusive, indicados como um dos principais indícios da interação entre diferentes comunidades do baixo Amazonas (Gomes, 2002, p. 161-162). A interpretação para a presença de peças características da cerâmica Konduri em coleções tapajônicas foi de que essas seriam ‘peças de troca’. Palmatary (1960, p. 21) sugere que essa recorrência de ‘combinação’ pode indicar uma relação muito próxima ou mesmo uma ‘integração’ entre os produtores dos dois estilos. Parte do que foi visto como ‘combinação’ pode ser resultado apenas do processo de formação das coleções particulares, reunindo peças de diferentes proveniências. Não obstante a isso, a existência desses materiais de estilo distinto está sendo confirmada por escavações arqueológicas, evidenciando que não se trata apenas de um viés de coleções de museu1.

Em meio às observações e às descrições de Nimuendajú (2004) e de Palmatary (1960, p. 57), os apliques chamados de ‘cabeças de urubu’2 foram destacados entre o material dos rios Trombetas e Nhamundá como parte da já mencionada ‘troca’ ou ‘combinação’ entre os estilos Konduri e Tapajó. Palmatary (1960) comenta que essas peças são parte da evidência de que existiu um ‘comércio ativo’ entre o baixo Tapajós e a bacia do rio Trombetas. As ‘cabeças de urubu’ aparecem em quase toda a área do baixo Amazonas visitada por Nimuendajú (Figura 10A), desde Parintins (Amazonas) até Óbidos (Pará). A alta frequência pode estar relacionada à intensidade das coletas no baixo curso do rio Tapajós. Esse tipo de aplique é uma das formas mais recorrentes e padronizadas nas coleções Aricy Curvello (Museu de História Natural/Universidade Federal de Minas Gerais), Walter Marinho (Casa de Cultura de Oriximiná), Comissão Rondon/Barbosa de Faria3 (Museu Nacional/ Universidade Federal do Rio de Janeiro) e em seis coleções domésticas em comunidades ribeirinhas do lago Sapucuá (Conuri, Ajará, Castanhal, São Pedro, Maceno e Macedônia) (Tabela 2), descritas em uma pequena expedição de barco à área. Na análise, foram consideradas também três peças coletadas em doissítios escavados da região do rio Mapuera (Mapium e Tawanã) dentro do Projeto Norte Amazônico e uma peça doada por um indígena Wai Wai (Aldeia Mapuera). Além disso, a abordagem valeu-se das pranchas presentes em Nimuendajú (2004) e do catálogo online do World Culture Museum (Världskulturmuseet, [201-]).

Figura 10
Apliques zoomorfos tratados no texto como (A) ‘sapo-besouro’ e (B) ‘cabeça de urubu’. Peças pertencentes às coleções Rosilane e Domingas (ambas da comunidade Conuri/lago Sapucuá).
Tabela 2
Quantidade e porcentagem de apliques ‘cabeças de urubu’ e ‘sapos-besouros’ nas coleções estudadas.

As coleções estudadas possuem diferentes informações de proveniência (Figura 11). A coleção Walter Marinho não apresenta nenhuma informação sobre onde foram coletadas as peças, porém a maioria exibe características tipicamente Konduri. Na coleção Comissão Rondon/Barbosa Faria, na maioria dos casos, é disponibilizado o nome da comunidade/sítio arqueológico onde as peças foram coletadas, apesar de essa informação ter se perdido em um número pequeno de espécimes. Na coleção Comissão Rondon, há peças provenientes de proximidades de Óbidos (Sucuriju), da margem esquerda da foz do rio Trombetas (Sacuri, Jacupá, lago Paru), do lago Sapucuá (Ajará e Cocais) e do médio Trombetas (Abuí e Santa Maria). O material reunido pelo engenheiro Aricy Curvello vem da área de médio/baixo curso do rio Trombetas (Porto Trombetas, Aimim e lago Batata) e das proximidades do lago Sapucuá (Terra Santa).

Figura 11
Mapa evidenciando as localidades de onde provêm as peças. Nem todos os locais citados no texto puderam ser identificados, mesmo que aproximadamente.

Os ‘sapos-besouros’ (Figura 10B) são outro tipo de aplique, com frequência e padronização análogas às das ‘cabeças de urubu’ nas coleções da região do rio Trombetas. Essas modelagens exibem patas traseiras fletidas e cabeças triangulares que lembram anuros, mas que apresentam também uma separação entre corpo e tronco, podendo aludir a escaravelhos, como sugeriu Nordenskiöld (1930). Nenhum dos outros tipos de apliques aparece em tão grande quantidade e exibe tamanha padronização nas coleções estudadas. Os apliques quadrúpedes, da mesma maneira que as ‘cabeças de urubu’, são bastante frequentes na coleção reunida por Nimuendajú, predominando em áreas em que aparece a cerâmica Santarém. Em escavações arqueológicas tanto na cidade de Santarém (Schaan; Alves, 2015, p. 55; Schaan, 2015, p. 109-110, 2016, p. 31-33; Jácome, 2011, p. 104 e 110) quanto na região do rio Trombetas (Guapindaia, 2008, p. 115, p. 165-166; Scientia, 2013, p. 71) foram identificados ‘sapos-besouros’ e ‘cabeças de urubu’. Quando estivemos no lago Sapucuá, encontramos um fragmento desse aplique em superfície na terra preta da comunidade de Castanhal.

Há, portanto, dois tipos de modelagens figurativas muito particulares por sua padronização e que aparecem em grande proporção em coleções cerâmicas provenientes tanto do baixo Tapajós quanto da região do rio Trombetas. Os apliques aviformes vêm sendo associados à forma dos vasos de gargalo quando encontrados em coleções de cerâmica Santarém (Gomes, 2002) ou no sítio Porto (Schaan; Alves, 2015), na cidade de Santarém. Da mesma maneira, os apliques quadrúpedes batraquiformes podem ser associados a essa morfologia de vasilha que em seu corpo combina os dois tipos de aplique em questão em Santarém. O mesmo poderia ser pensado com peças encontrado em outras áreas?

A coleção reunida por Nimuendajú (2004), a mais ampla no que diz respeito à área de coleta conhecida, mostra que os fragmentos de ‘apliques-asas’ das variantes 1 e 3 não são conhecidos fora da cidade de Santarém. Nas coleções estudadas no presente trabalho, da mesma maneira, não se encontram essas duas formas, ocorrendo apenas a variante 2, ou seja, apliques em forma de ‘cabeças de urubu’. Os apliques ‘sapos-besouros’ são encontrados em formas bastante similares às dos vasos de gargalo Santarém. As diferenças mais proeminentes entre os vistos nos vasos de gargalo Santarém e os encontrados na região do rio Trombetas estão relacionadas à forma de construir o ventre e à curvatura da cabeça. O tronco dos sapos identificados em vasilhas inteiras exibe ventre côncavo, enquanto quase todos os apliques encontrados nas coleções do rio Trombetas têm o tronco oco, com um furo no centro e o ventre plano.

Os apliques encontrados em coleções da região do rio Trombetas e os dos vasos de gargalo Santarém, apesar das diferenças, possuem uma série de características em comum, o que permite agrupá-los como figurações das mesmas categorias de seres. Todavia, somente a partir dos apliques não é possível dizer se as peças encontradas na região do rio Trombetas são necessariamente partes dos vasos de gargalo. É necessário somar a esses apliques outras partes diagnósticas.

OUTRAS PEÇAS DO QUEBRA-CABEÇA

A maioria dos vasos de gargalo encontrados na cidade de Santarém (sítio Aldeia) possui vertedor com padrões incisos e flange, bulbo, corpo lobado, bem como apliques, que compõem o corpo dos seres figurados nos ‘apliques-asas’, além de base em pedestal ou zoomorfa. O exame das coleções domésticas e de museus mostrou uma abundância de fragmentos equivalentes às partes dos vasos de gargalo, o que confirma a existência desses vasos na região do rio Trombetas (Tabela 3; Figuras 12 e 13). A consulta a pranchas da bibliografia mostrou que peças análogas já haviam sido coletadas por Nimuendajú (2004) nas áreas dos lagos Sapucuá e Grande de Vila Franca. Recentemente, também foram coletadas peças semelhantes em escavações sistemáticas na bacia do rio Trombetas (Guapindaia, 2008, p. 166, fig. 42-g; Scientia, 2013, p. 72).

Tabela 3
Quantidade de outras partes identificadas como fragmentos de vasos de gargalo.
Figura 12
Fragmentos que sugerem uma forma variante de vaso de gargalo: A) vertedor com flange (coleção Madalena/comunidade de Maceno/lago Sapucuá); B) parede lobada com aplique sugerindo corpo aviforme (coleção Nimuendajú/comunidade de Cocal, lago Sapucuá); C) base anelar com filetes aplicados (coleção Walter Marinho). Fotos: Marcony Alves (2014) (A); World Culture Museum (s.d.) (B); Igor Rodrigues (2014) (C).
Figura 13
Reconstituição esquemática de fragmentos da coleção Barbosa de Faria/Comissão Rondon (Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro) associados à morfologia dos vasos de gargalo na região do rio Trombetas. Foram combinados os dois padrões identificados nos bojos em um único modelo.

Não bastassem os fragmentos, são conhecidas vasilhas cerâmicas inteiras, encontradas na margem esquerda do baixo Amazonas, as quais podem ser classificadas como vasos de gargalo. Quase desconhecidos e pouco numerosos, há três vasos deste tipo que foram encontrados fora da cidade de Santarém – um no município de Monte Alegre (Barata, 1953b) e os outros dois em afluentes do rio Trombetas (Figuras 14 e 15), os rios Acapu (Nimuendajú, 2004) e Mapuera (Jácome, 2017). O vaso encontrado em Monte Alegre assemelha-se aos localizados em Santarém, ao contrário dos outros dois, que apresentam características singulares. Os encontrados nos cursos dos rios Acapu e Mapuera exibem, cada um a seu modo, padrões e motivos incisos e aplicados idênticos aos que vimos nos fragmentos em coleções domésticas e de museus. Semelhante ao vaso do rio Mapuera, uma peça desse tipo na coleção Tapajônica (MAE/USP) permite a mesma correlação direta com fragmentos em coleções do rio Trombetas (Figura 16). Apesar de possuirindicação de procedência para a cidade de Santarém escrita na peça pelo colecionador, Gomes (2002, p. 118) classificou essa vasilha como uma manifestação de uma ‘influência Santarém’ sobre o estilo Konduri (Figura 16).

Figura 16
Vaso de gargalo fragmentado da coleção Tapajônica, do Museu de Arqueologia e Etnologia/Universidade de São Paulo, São Paulo. Esta peça apresenta características muito similares às identificadas em fragmentos nas coleções de cerâmica da região do rio Trombetas.

O vaso encontrado no curso do rio Mapuera (Figura 15) foi coletado por indígenas Katuena, da aldeia Tamiurú. Essa peça foi fotografada durante trabalho de campo por Camila Jácome e Rogério Tobias, em 2011. O vaso encontrado no rio Acapu (Figura 14) pertence à coleção Nimuendajú, do Museu Paraense Emílio Goeldi, e é um dos menores vasos de gargalo conhecidos (55 ml de capacidade volumétrica). Essas duas peças apresentam linhas circundantes incisas no vertedouro, da mesma maneira que quase todos os gargalos presentes nas coleções da região do rio Trombetas – apenas duas peças exibem arcos incisos. Os fragmentos de bojo lobado apresentam os padrões que aparecem em um dos dois vasos. O vaso do rio Acapu apresenta lóbulos com séries de incisões circulares. Por sua vez, os lóbulos do vaso mantido na aldeia Tamiuru exibem filetes ponteados que lembram um ômega (Ω) – elemento que aparece sobre as ‘cabeças de urubu’4.

Figura 14
Vaso da coleção Nimuendajú, do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, encontrado na região do rio Acapu, afluente do rio Cuminá.
Figura 15
Vaso encontrado dentro do rio Mapuera (alto curso), nas proximidades da aldeia Tumiurú, na Terra Indígena Trombetas Mapuera. O vaso foi remontado pelos indígenas com massa adesiva epóxi. A ‘cabeça de urubu’ estava solta quando a foto foi tirada.

As sugestões de um corpo de ave no bojo do vaso encontrado na bacia do rio Mapuera e nos fragmentos das coleções de cerâmica Konduri são diferentes do que mostra a maioria dos vasos de Santarém: têm asas maiores, exibem uma cauda e não possuem filetes aplicados que conectam cabeça e asa. A semelhança entre a configuração do corpo, associada à cabeça aviforme dos apliques, e os vasos encontrados em Santarém é notada somente no vaso ora citado, salvaguardado no MAE/USP. As bases, tanto do vaso inteiro quanto dos fragmentos na região do rio Trombetas, apresentam filetes circundantes ponteados, como o do exemplar encontrado em Tamiurú, bem como outros padrões construídos a partir de filetes aplicados com ponteados ou ainda com incisões circundantes. Não foram identificadas bases nem padrões que sugerem caras antropomorfas ou incisões curvilíneas, como as encontradas nos vasos de Santarém.

As pranchas presentes em Nimuendajú (2004, p. 272, 276-278) mostram que pedestais, paredes lobadas e gargalos similares aos identificados na região do rio Trombetas (Figura 12B) também aparecem no lago Grande de Curuaí (ou Vila Franca), área onde ainda se encontraria uma variante da cerâmica Santarém (Palmatary, 1939).

Os fragmentos identificados como partes de vasos de gargalo nas coleções da região do rio Trombetas não compartilham apenas motivos e padrões, mas também elementos da cadeia operatória. Destacam-se o polimento das superfícies, a queima oxidante externa e as altas porcentagens de caco moído como antiplástico, por vezes associada a cauixi e, raramente, apenas cauixi. Essas mesmas características indicam uma aproximação destas peças com características da cerâmica Santarém, como os vasos de gargalo, diferenciando-as das peças consideradas tipicamente Konduri, com abundância de cauixi (Figura 4). Os antiplásticos identificados em fragmentos da região do rio Trombetas são os mesmos encontrados nos vasos de gargalo encontrados na cidade de Santarém. A proporção de caco moído nos fragmentos da região do rio Trombetas tende a ser um pouco mais elevada (Figura 17). O que tal compartilhamento com variações poderia indicar?

Figura 17
Vaso de gargalo (Santarém, do Museu de Arqueologia e Etnologia/Universidade de São Paulo, São Paulo) e aplique ‘cabeça de urubu’ (sítio arqueológico Tawanã, baixo curso do rio Mapuera) com alta densidade de caco moído e baixa densidade de cauixi.

OS VASOS DE GARGALO NO BAIXO AMAZONAS

O problema da semelhança e da relação entre os estilos cerâmicos Konduri e Santarém data ainda das expedições do naturalista Rodrigues (1875), no século XIX, à região dos rios Trombetas, Nhamundá e Tapajós. Os apliques chamados de ‘cabeças de urubu’ e os próprios vasos de gargalo foram elementos que, apesar de não terem sido muito enfatizados, estiveram na base da constituição da noção de ‘combinação’ ou de ‘influência’ entre as cerâmicas Konduri e Santarém (Palmatary, 1960; Gomes, 2002). Ao mesmo tempo, os vasos de gargalo foram considerados por Frederico Barata e, de certo modo, por aqueles que o sucederam como uma das formas mais emblemáticas da cerâmica Santarém. Constatar a presença de fragmentos de vasos de gargalo fora de Santarém não é surpreendente, mas reafirma a necessidade de rever o quadro comparativo proposto por Hilbert, P. (1955).

Pesquisas recentes mostram que a área de dispersão da cerâmica Tapajó chega a 70 km a sul e a 50 km a leste do perímetro urbano da cidade de Santarém, na margem direita do rio Tapajós (Stenborg, 2016). A margem esquerda do baixo Tapajós foi estudada apenas na localidade de Parauá, onde foram encontrados raros fragmentos da cerâmica Santarém (Gomes, 2008). A região do lago Grande do Curuaí (ou de Vila Franca) não foi pesquisada depois do levantamento realizado por Nimuendajú, mas a cerâmica da região foi classificada como Santarém pelo autor. Apesar disso, Palmatary (1939) apontou a existência de diferenças em relação às peças provenientes da cidade de Santarém. A cerâmica Konduri é encontrada em uma área muito ampla, que vai desde Óbidos, passando pelo médio curso do rio Trombetas e chegando à margem direita, nos municípios de Juruti e Parintins (Nimuendajú, 2004; Hilbert, P., 1955; Panachuk, 2011, 2016a; Duarte Filho, 2010; Lima et al., 2013). Na região do rio Mapuera, afluente do rio Trombetas, é raro localizar cerâmica com características do estilo Konduri, que ocorre apenas no baixo curso (Jácome, 2011, 2017).

O mapa construído por Nimuendajú (Palmatary, 1960) para mostrar a dispersão das cerâmicas Santarém e Konduri apresenta problemas e precisa ser reavaliado a partir de pesquisas recentes e também por meio do desenvolvimento de novos projetos na região. O primeiro problema do mapa é que as cerâmicas do rio Arapiuns e as encontradas em Monte Alegre foram consideradas como variações do estilo Santarém. A partir das pranchas presentes em Nimuendajú (2004), é evidente que existem muitas diferenças entre as cerâmicas encontradas na cidade de Santarém e municípios vizinhos e as das outras duas áreas mencionadas. Barreto et al. (2016), inclusive, sugeriram que as cerâmicas de Monte Alegre são de um estilo local (Pariçó), com presença de elementos do estilo Koriabo. Da mesma forma, a cerâmica encontrada no lago Grande foi considerada como Santarém, mas parece apresentar singularidades não discutidas. Nimuendajú talvez tenha exagerado em relação à dispersão do estilo Santarém, ao mesmo tempo em que apresentou apenas uma parcela da área em que se encontra a cerâmica Konduri (Faria, 1946; Costa et al., 2004; Duarte Filho, 2010; Lima et al., 2013; Jácome, 2017).

Os vasos de gargalo inteiros e os fragmentos são encontrados, principalmente, na área de dispersão das cerâmicas Santarém - incluindo o lago Grande de Curuaí - e Konduri, especialmente na bacia do rio Trombetas (Figura 18). Há poucas informações sobre o vaso de gargalo da coleção de Frederico Barata (1953b), cuja proveniência é indicada como sendo o município de Monte Alegre. Nimuendajú (2004) coletou peças com características Santarém em Monte Alegre, mas nenhum fragmento que pudesse ser associado a vasos de gargalo5. Os outros dois vasos inteiros, encontrados em afluentes do rio Trombetas, foram localizados em áreas com pouca ou nenhuma informação arqueológica. No caso do rio Mapuera, a maioria dos dados restringe-se à parte do curso do rio Mapuera mais abaixo da aldeia Tamiurú, sendo que não temos conhecimento de nenhuma pesquisa realizada no rio Acapu. No baixo curso do rio Mapuera, os apliques ‘cabeça de urubu’ e ‘sapos-besouros’ aparecem associados a uma cerâmica com atributos característicos da Tarumã (Glória, 2017; Jácome, 2017). Há alguns indicadores de presença de vasos de gargalo na coleção reunida por Nimuendajú (2004) em áreas nas quais não aparecem as cerâmicas Santarém ou Konduri, mas se trata de apenas uma peça no rio Arapiuns.

Figura 18
Dispersão dos vasos de gargalo no baixo Amazonas. O mapa indica somente o conhecimento de alguma vasilha inteira ou defragmento associável (apliques, bojo, base, gargalo) com sua respectiva variante.

A grande variação dos vasos de gargalo, em termos de morfologia, de padrões incisos e de modelagens, é encontrada somente nas peças coletadas na cidade de Santarém. Essa diversidade é coerente com a própria variação das vasilhas da cerâmica Santarém, como é possível observar também nos vasos de cariátides. Os variados padrões incisos e alguns dos apliques que aparecem nos vasos de gargalo Santarém são encontrados em várias das vasilhas inteiras conhecidas. Os vasos de gargalo, a julgar pelos fragmentos conhecidos provenientes da região do rio Trombetas (e, talvez, do lago Grande), parecem exibir uma diversidade menor entre si, sendo sua principal diferença o uso do padrão em ômega ou de círculos incisos no bojo lobado, bem como as formas de figurar o corpo aviforme.

As características dos vasos de gargalo identificados na região do rio Trombetas mostram distanciamento das consideradas características diagnósticas da cerâmica Konduri (Hilbert, P., 1955; Guapindaia, 2008; Guapindaia; Lopes, 2011; Souza, 2014; Panachuk, 2016a; Jácome, 2017). Não foram analisados apliques e fragmentos possivelmente pertencentes a vasos de gargalo com abundância de cauixi, nem a grande profusão de ponteados e de incisões. Essas peças, ao mesmo tempo que reforçam a sugestão de que os vasos de gargalo existiriam também como uma forma da ‘influência Santarém’ na cerâmica Konduri, mostram uma singularidade que não atende às imagens típicas de um ou de outro estilo cerâmico. Os vasos de gargalo que existiram na região do rio Trombetas, quando inteiros, tiveram uma forma com elementos parecidos com os de Santarém, mas uma série de outros elementos diferentes, como as incisões retilíneas no gargalo, os filetes ponteados aplicados no pedestal, as bases mais altas, maiores dimensões no geral, além da rara pintura vermelha/amarela espessa. Nenhum vaso inteiro, semi-inteiro ou fragmentado proveniente de Santarém identificado ao longo da pesquisa possui todos os atributos reunidos pelos fragmentos tratados anteriormente e também nos dois vasos encontrados em afluentes do rio Trombetas. A reconstituição esquemática e as duas peças inteiras encontradas nessa região mostram que esses vasos não são versões simplificadas, sendo, pelo contrário, variantes com características próprias (Figura 13).

Objetos que aparecem em pequenas proporções em um sítio, mas que são abundantes em outros, são geralmente considerados produtos de trocas e de interações. Essa premissa é chamada de princípio gravitacional (Rice, 1987), isto é, existe um centro que emite influências e outras áreas que ‘gravitam’ em seu entorno e recebem as suas influências. Os fragmentos diferentes do conjunto artefatual, tanto visualmente quanto em termos de antiplástico e de tratamento de superfícies, em arqueologia pré-histórica americanista, são tradicionalmente classificados como ‘intrusivos’, ‘atípicos’ e ‘peças de troca’. Explicações para essas ocorrências são as de existência de (1) ‘troca de objetos’, (2) ‘troca de mulheres’, (3) cópia/emulação, entre outras (Chilton, 1998). No caso do baixo Amazonas, a primeira e a terceira possibilidades foram levantadas. Hilbert, P. (1955) e Palmatary (1960) falam de elementos que seriam ‘peças de troca’, ou seja, “elemento comerciado ou permutado” (Hilbert, P., 1955, p. 64). Gomes (2002) sugere que o ‘estilo Santarém-Aldeia’ poderia ter sido copiado por comunidades menores. Um dos exemplos apresentados pela autora é a existência de vasos de gargalo e de fragmentos relacionados que diferem das características diagnósticas da cerâmica Santarém.

Em termos de diversidade iconográfica e morfológica dos vasos de gargalo, o princípio gravitacional parece ser capaz de explicar o caso analisado. A cidade de Santarém, a área de onde poderia provir a ideia ou os objetos acabados, de fato, exibe maior variação entre as peças. O problema é que na região do rio Trombetas (e também no lago Grande) os apliques chamados de ‘cabeças de urubu’ e de ‘sapos-besouros’ não são raros, sendo alguns dos tipos mais numerosos das coleções. Mesmo considerando o viés esteticista das seleções de artefatos, não é possível ignorar que tais modelagens são quase onipresentes nas coleções particulares ou museológicas provenientes da bacia do rio Trombetas, além de figurarem em pequena quantidade no material obtido em escavação. Dessa maneira, parece difícil afirmar que os vasos de gargalo eram uma forma rara em boa parte da região na qual se encontra a cerâmica Konduri. Esses elementos, ao que nossa análise indica, são parte importante do conjunto artefatual presente na ocupação Konduri.

Os vasos de gargalo evidenciados a partir dos fragmentos analisados teriam sido produzidos localmente ou seriam resultados de trocas de objetos? As peças poderiam estar sendo feitas em uma área e trocadas, de alguma maneira, até chegar a outras. Haveria um centro de produção? Se tiver existido, onde ele se localizaria? Os sítios Aldeia e Porto, na atual cidade de Santarém, poderiam ser esse centro produtor, caso certos vasos fossem feitos para o consumo interno e outros apenas para a distribuição externa, tendo em vista as diferenças regionais entre os vasos. O lago Grande de Curuaí (ou Vila Franca) pode ser um candidato mais provável de área de produção, uma vez que existem fragmentos extremamente parecidos com os que estudamos, provenientes do rio Trombetas. Uma foto de coleção doméstica da região do lago Grande, publicada por Troufflard (2012, p. 63), mostra uma série de possíveis fragmentos de vasos de gargalo. A produção local, como deve ter sido a dos vasos encontrados no sítio Aldeia, também pode ter ocorrido em todas as áreas – exclusivamente ou combinada com a troca de artefatos. É difícil precisar apenas a partir do estudo do estilo tecnológico se este é um caso de circulação de saberes (associado necessariamente à mobilidade de pessoas), de objetos acabados ou, ainda, se se trata da combinação de ambas as possibilidades.

Na Amazônia central, a partir do método de ativação neutrônica, foi possível demonstrar que havia alguma forma de troca de artefatos acabados entre produtores das cerâmicas de estilo Manacapuru e Paredão (Hazenfratz et al., 2016). Ainda não foi possível aplicar nenhum método físico-químico a fragmentos de vasos de gargalo na região do rio Trombetas, do lago Grande de Curuaí (ou de Vila Franca) e do baixo Tapajós. Com os resultados dessas análises, será possível delinear melhor como se davam as relações entre ceramistas das duas margens do baixo curso do rio Amazonas. Esse é ainda um trabalho por se fazer.

Para além de setas de dispersão de ideias, é possível tratar a questão a partir do compartilhamento de saberes e de práticas, como sugerem Barreto et al. (2016), no estudo de sítios do município de Monte Alegre. O sítio Aldeia (e também o sítio Porto) poderia ser pensado como uma área em que as variações de uma forma amplamente compartilhada se intensificaram, diversificando-se. Talvez o maior número de pessoas em contato contínuo, vindas de lugares diferentes, em um dos maiores sítios arqueológicos pré-coloniais da Amazônia brasileira, pode ter propiciado o processo de diferenciação. Ao invés de um centro, teríamos um nó dentro de redes extensas. Isso explicaria a diversidade de vasos de gargalo no sítio Aldeia, sem supor uma origem e a existência de cópias menos elaboradas ou de ‘emulação’ em áreas como a região do rio Trombetas.

Se o sítio Aldeia, na cidade de Santarém, puder, de fato, ser considerado um nó dentro de redes mais amplas, estaremos mais próximos dos relatos etno-históricos e etnográficos sobre a região e áreas adjacentes. Abundam referências sobre trocas entre povos indígenas amazônicos e guianenses, que cobriram áreas muito amplas da calha do Amazonas, das Guianas e de Orinoco (Arvelo-Jiménez; Biord, 1994; Dreyfus, 1993; Porro, 1996). Em um dos relatos mais detalhados sobre os ameríndios do baixo Amazonas no século XVII, Heriarte (1874 [1662]) conta que os Tapajó trocavam madeira, redes, urucum e muiraquitãs - estes últimos prediletos dos ‘estrangeiros do norte’. Além de falar das trocas, Heriarte indica uma forte ligação entre os coletivos do baixo Tapajós e do rio Trombetas: “[os índios do Trombetas] tem os próprios idolos, cerimonias, e governo que tem os Tapajós” (Heriarte, 1874 [1662], p. 38). Figura no texto até uma aproximação entre as cerâmicas das duas margens do Amazonas e sua troca: “Tem estes Indios [do rio Trombetas] e os Tapajós finissimo barro, de que fazem muito e bôa louça de toda a sorte, que entre os Portugueses he de estima, e a levam a outras provincias por contrato” (Heriarte, 1874 [1662], p. 39). O compartilhamento em todo o baixo Amazonas de um dos vasos mais característicos da cerâmica Santarém (Barata, 1950) é uma forte evidência de que essas interações, descritas na crônica, existiram no período pré-colonial tardio. Os vasos de gargalo, ao que tudo indica, são manifestação cerâmica de interações regionais de maneira semelhante às redes de relação pré-coloniais que se têm discutido para o Caribe e as Guianas (Hoffman et al., 2014; Mol, 2013; Boomert, 1987; Gomes, 2002; Barbosa, 2005).

As etnografias sobre os coletivos indígenas guianenses têm mostrado que existem amplas redes de relações sociais, com guerras, trocas de objetos, saberes e pessoas, englobando diferentes coletivos indígenas e não indígenas até o presente (Gallois, 2005; Barbosa, 2005). As crônicas coloniais reforçam que esses não são modos de relação recentes, sendo, ao contrário, resultantes de uma história de longa duração. A palavra pawana, por exemplo, que significa ‘parceiro de troca’ em línguas Caribe, está amplamente disseminada nas Guianas e foi registrada pela primeira vez, em 1665, pelo padre Breton, nas pequenas Antilhas. Dreyfus (1993, p. 24) defende que existia, até o século XVIII, um “espaço político de comunicação social e ideológica” que ia desde as ilhas do Caribe até o rio Amazonas, no qual circulavam bens preciosos e prisioneiros capturados em combate para a prática de antropofagia. Os vasos de gargalo poderiam se inserir em redes como estas, conectando diferentes áreas do baixo Amazonas. O compartilhamento de um conjunto de artefatos específicos e padronizados é um fenômeno conhecido há muito tempo na arqueologia do baixo Amazonas. Os muiraquitãs, por exemplo, são amuletos líticos dispersos por esta área, pelas Guianas e pelo Caribe (Boomert, 1987).

Outros fenômenos parecidos vêm sendo destacados fora do baixo Amazonas, como o caso dos vasos com flange mesial, que são encontrados desde o rio Madeira até o rio Napo, na Amazônia peruana (Oliveira, 2016), característicos da tradição Polícroma, sendo também encontrados na fase Paredão (tradição Borda Incisa). Oliveira (2016) sugere que a existência de vasos mais ou menos padronizados em escala regional (Amazônia central) e pan-regional está mais relacionada ao compartilhamento de um estilo, e não necessariamente a trocas de objetos. Apesar do artigo seminal de Boomert (1987) sobre os muiraquitãs, ainda compreendemos pouco as diferenças entre peças de áreas distintas, mas, pelo que sabemos, esses artefatos exibem relação análoga entre semelhança/ padronização e variação regional.

Como conhecido desde as crônicas coloniais, os muiraquitãs eram trocados entre diferentes coletivos indígenas. O mesmo pode ter ocorrido com vasilhas cerâmicas. Essas trocas, considerando-se a existência de variações regionais, no entanto, indicam que a circulação de objetos combinava-se ao compartilhamento de conhecimento técnico vinculado ao deslocamento de pessoas entre diferentes áreas.

Em relação aos conjuntos cerâmicos Santarém e Konduri, os vasos de gargalo parecem ainda ser um caso particular de compartilhamento. A maioria das vasilhas dos dois estilos não apresenta o mesmo grau de semelhança. Além dos vasos de gargalo, apenas outros dois tipos de artefatos cerâmicos podem sugerir alguma relação mais direta entre os estilos. Um desses tipos são os vasos de dupla borda (ou concentric dishes), que foram apontados na bibliografia como exemplos de ‘influência’ ou de ‘combinação’ (Palmatary, 1960; Gomes, 2002). Essa morfologia não foi identificada nas coleções provenientes da região do rio Trombetas, mas parte desse tipo de vasilha coletada no sítio Aldeia apresentava bases trípodes e concentração de ponteados nos apliques, elementos característicos da cerâmica Konduri.

As estatuetas femininas podem ser outro conjunto de artefatos padronizados compartilhados entre os estilos Santarém e Konduri. No lago Sapucuá, foram vistas três bases semilunares e uma cabeça de estatueta muito semelhante a algumas conhecidas em Santarém. Panachuk (2016b) apresentou dois fragmentos de estatuetas coletados em um sítio na bacia do rio Trombetas que sugerem a mesma correlação. Em todo o caso, os elementos compartilhados entre os estilos Santarém e Konduri parecem ser limitados a um conjunto específico de artefatos cerâmicos. Por que apenas objetos com morfologia e iconografia elaboradas parecem ter sido compartilhados no baixo Amazonas pré-colonial?

Barreto et al. (2016) e Gomes (2016) sugeriram que uma das explicações possíveis para os compartilhamentos de certos objetos e motivos/padrões no baixo Amazonas pré-colonial pode ser a existência de compartilhamentos de práticas rituais de maneira análoga ao que se argumentou para contextos caribenhos (Mol, 2013). Possivelmente, os vasos de gargalo podem ser considerados como pertencentes a essa categoria de objetos rituais, sendo usados por diferentes coletivos em escala regional. Não há, no entanto, informações claras sobre esses usos, pois ainda dispomos de apenas duas descrições de coleta em contexto arqueológico no sítio Aldeia que sinalizam para o depósito com quebra intencional (Gomes, 2016) e menção do enterramento dessas vasilhas inteiras em bolsões (Barata, 1953a). Esse tratamento dedicado a um objeto específico, como indicou Gomes (2016), sugere uma forma de anulação da capacidade agentiva desses vasos. A elaboração de suas partes estruturais e as figuras zoomorfas e antropomorfas que evocam múltiplos seres têm servido de indício para tratar essas peças como vasilhas para o consumo de bebidas em rituais (Gomes, 2010). A mensuração de sua capacidade volumétrica, geralmente entre 250-670 ml, realizada ao longo deste estudo, aponta que os vasos deveriam ser usados para consumir pequenas doses de uma bebida, talvez por somente uma pessoa ou apenas um gole para várias. Outra possibilidade, que não exclui a anterior, é o uso para o armazenamento de substâncias específicas, em pequenas porções, como o curare, mencionadas nas crônicas coloniais (Nimuendajú, 1949). Mais estudos, especialmente de microvestígios, são necessários para tratar esses vasos como atores em ações ritualizadas (Araújo, 2016), e não essencialmente como objetos rituais, devido à sua elaboração técnica.

CONCLUSÃO

Desde o início da invasão europeia na Amazônia, as crônicas relatam que contatos eram frequentes entre coletivos ameríndios de áreas relativamente distantes, entre várzea amazônica, Guianas e Antilhas. A arqueologia e a etnologia das terras baixas da América do Sul têm se questionado cada vez mais sobre o papel das interações e a complexidade da formação de identidades na região (Hornborg; Hill, 2011; Barreto et al., 2016; Gallois, 2005; Barbosa, 2005). Os vasos de gargalo podem ser mais uma evidência de que essas redes de relações têm uma profundidade cronológica que antecede a colonização entre o baixo Amazonas e a porção sul das Guianas. Os dados reunidos durante o estudo não deixam dúvida de que uma forma variante dos já conhecidos vasos de gargalo Santarém existiu associada ao estilo Konduri. As peças encontradas na região do rio Trombetas exibem atributos formais muito semelhantes aos dos vasos de gargalo Santarém. A grande quantidade dessas peças nas coleções estudadas e as características singulares dos materiais identificados nos levam a pensar que não se trata do que se costuma chamar de ‘intrusão’ ou de ‘peças de troca’. É possível que o conhecimento técnico relacionado à manufatura do vaso tenha circulado regionalmente a partir de relações sociais estabelecidas entre pessoas de diferentes aldeias. A hipótese de produção em uma área específica não pode ser descartada, podendo ser combinada com a de produção local, sendo necessários ainda outros estudos com a aplicação de métodos físico-químicos.

A elaboração e a padronização desses vasos também fazem questionar se essas peças seriam usadas em rituais comuns a áreas distintas. As figuras dos ‘sapos’ e dos ‘urubus-rei’ são muito regulares e exibem características anatômicas distintas das espécies naturais às quais podemos relacioná-las: os apliques em forma de cabeça de ave são compostos de partes que sugerem outros seres (uma quimera) e os quadrúpedes possuem uma separação entre cabeça e tronco desconhecida entre anuros. A iconografia dos vasos de gargalo sugere a existência de referenciais cosmológicos comuns a todo o baixo Amazonas.

Se associarmos o compartilhamento de vasos de gargalo aos muiraquitãs e às estatuetas cerâmicas, talvez não estejamos tão distantes do cenário descrito por Maurício de Heriarte, com os mesmos ‘ídolos’, ‘cerimonias’ entre povos indígenas habitantes dos baixos cursos dos rios Tapajós e Trombetas.

O conhecimento atual sobre a arqueologia do baixo Amazonas ainda é muito desigual e profundamente baseado no estudo de coleções museológicas. As coleções que nós estudamos oferecem apenas uma ‘pista’ para as futuras pesquisas arqueológicas baseadas em escavações sistemáticas. Ainda há muito o que ser feito.

  • 1
    Ver exemplos em Gomes (2008), Guapindaia (2008), Jácome (2011, 2017), Scientia (2013) e Schaan (2016).
  • 2
    Optamos pelas denominações que sugerem uma interpretação zoológica (‘cabeças de urubu’ e ‘sapos-besouros’) porque elas pareceram a maneira mais fácil de apresentar os apliques. Não cabe discutir neste artigo como podemos interpretar figuras como estas, bem como as suas relações com as cosmologias ameríndias e os seus modos de figurar. Para a presente análise, as denominações poderiam ser apenas ‘aplique 1’ e ‘aplique 2’.
  • 3
    Apesar de ter sido coletada por Barbosa de Faria, na instituição, parte da coleção é denominada de ‘Comissão Rondon’ e outra de ‘Barbosa de Faria’.
  • 4
    Esse motivo parece remeter às patas fletidas de batraquiformes, como algumas cabeças zoomorfas indicam tanto em apliques ‘cabeças de urubu’ quanto nas paredes lobadas.
  • 5
    Pesquisas recentes no sítio arqueológico Coroatá, em Monte Alegre, identificaram um gargalo semelhante ao dos vasos de gargalo, associado à cerâmica que combina elementos Pariçó e Koriano (Cristiana Barreto, comunicação pessoal, 2017).

AGRADECIMENTOS

A proposta deste artigo foi desenvolvida em minha monografia de conclusão de curso em Antropologia, com orientação de André Prous, na Universidade Federal de Minas Gerais. A pesquisa estava vinculada ao Projeto Norte Amazônico (UFMG), financiado pela Missão francesa de Minas Gerais e da Fundação de Amparo a Pesquisa de Minas Gerias. O estudo das coleções contou com auxílio do Colegiado de Graduação em Antropologia (UFMG) e, posteriormente, o Programa de Pós-Gradução em Arqueologia (USP). A continuidade da pesquisa no mestrado (USP), com orientação de Fabíola Silva, é garantida por uma bolsa de mestrado concedida pelo CNPq. A ideia inicial foi desenvolvida a partir de discussões com André Prous, Camila Jácome, Igor Rodrigues e Elber Lima. Cristiana Barreto discutiu vários elementos do trabalho, em diferentes eventos, contribuindo para a versão aqui apresentada. Manuscritos do artigo foram lidos e comentados intensamente por André Prous, André Strauss e Igor Rodrigues, que muito ajudaram a tornar a ideia mais compreensível. Os pareceristas anônimos ofereceram críticas certeiras, que enriqueceram a argumentação. Agradeço as equipes do Museu Nacional, Museu Paraense Emílio Goeldi, Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG e Casa de Cultura de Oriximiná, que tornaram possível o acesso às coleções. Da mesma maneira agradeço aos ribeirinhos das seis comunidades visitadas no Lago Sapucuá e, em Oriximiná, a Alice Guerreiro, Fátima Prestes e Fátima Reali.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Apr 2018

Histórico

  • Recebido
    10 Out 2017
  • Aceito
    08 Jan 2018
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