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Lutas por reconhecimento e vontade de poder: uma afinidade entre Hegel e Nietzsche?* * Agradeço a Robert Pippin, Christoph Schuringa e Simon May os seus encorajadores e estimulantes comentários a uma anterior versão deste artigo. Agradeço também a Rogério Lopes, Oswaldo Giacóia, John Richardson, Paul van Tongeren e Marco Brusotti os seus comentários a uma outra versão (bastante simplificada) deste artigo, que apresentei em Belo Horizonte no 2º congresso internacional Nietzsche e a tradição filosófica. Um particular obrigado a Katia Hay e Herman Siemens pelos seus comentários a outras versões deste artigo. Agradeço também, como de costume, a inestimável colaboração da Maria João Mayer Branco

Resumo

O artigo é uma tentativa de explorar a hipótese controversa de que possa haver uma profunda afinidade - até agora não identificada - entre a concepção de "luta por reconhecimento" [Kampf um Anerkennung] em Hegel e a concepção da dinâmica da "vontade de poder" [Wille zur Macht] em Nietzsche. Esta hipótese diz respeito ao modo como a luta e a dominação estão implícitas na noção hegeliana de reconhecimento, isto é: diz respeito à dinâmica intersubjetiva das formas falhadas de reconhecimento. A luta e a dominação (bem como a violência) são conceitos fundamentais na concepção do reconhecimento em Hegel - mas, ainda assim, conceitos meramente operacionais na obra de Hegel, enquanto em Nietzsche se tornam temáticos, porque o conceito de "poder" se torna temático. O que o artigo procura mostrar é que a hipótese nietzschiana da "vontade de poder" é relevante no debate contemporâneo sobre "reconhecimento e poder" porque permite uma descrição adequada das dinâmicas intersubjetivas em que o reconhecimento recíproco não é alcançado e o que subsiste nelas são relações de luta e dominação, ou seja, vontade de poder qua vontade de dominação. Mas isso só é assim porque a hipótese nietzschiana da "vontade de poder" implica uma "doutrina dos afetos" e, por isso, uma concepção de "poder" [Macht] em termos de "ação à distância", i.e. de influência intersubjetiva mediada por percepções, interpretações e perspectivas. Esta concepção de "poder" implica atribuir ao desejo e à vontade humanas uma natureza "recognitiva", e está longe de implicar a dissolução das relações de poder em processos transsubjetivos de dominação. Daí a afinidade entre Hegel e Nietzsche que o artigo procura evidenciar.

Palavras-chave
Hegel; reconhecimento; poder; luta; dominação

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