Acessibilidade / Reportar erro

CONFECÇÃO E AVALIAÇÃO DE APARELHO PORTÁTIL PARA ANESTESIA GERAL VOLÁTIL E RESPIRAÇÃO ARTIFICIAL EM EQÜINOS

MAKING AND EVALUAT10N OF A PORTABLE APPARATUS FOR EQUINE GENERAL VOLATILE ANETHESIA AND ARTIFICIAL RESPIRATION

Resumos

Foram investigados os efeitos de um aparelho portátil confeccionado em material plástico de alta resistência sobre a anestesia com halotano em oito eqüinos. Os resultados demonstraram a ocorrência de acidose respiratória Os valores obtidos de freqüência cardíaca e respiratória e de hemogasometria arterial estiveram dentro dos parâmetros aceitos para eqüinos.

eqüinos; anestesia; equipamento


It was investigated the effects of a portable apparatus made of plastic on halothane anesthesia of eight horses. The results demonstrated an acute respiratory acidosis. The values of heart and respiratory rate and blood gas analisys was within values accepted for the equine species.

equine; anesthesia; apparatus


CONFECÇÃO E AVALIAÇÃO DE APARELHO PORTÁTIL PARA ANESTESIA GERAL VOLÁTIL E RESPIRAÇÃO ARTIFICIAL EM EQÜINOS1 1 Projeto realizado com apoio da FAPERGS e CNPq.

MAKING AND EVALUAT10N OF A PORTABLE APPARATUS FOR EQUINE GENERAL VOLATILE ANETHESIA AND ARTIFICIAL RESPIRATION

Cláudio Corrêa Natalini2 1 Projeto realizado com apoio da FAPERGS e CNPq. Rui Afonso Vieira Campelo3 1 Projeto realizado com apoio da FAPERGS e CNPq.

RESUMO

Foram investigados os efeitos de um aparelho portátil confeccionado em material plástico de alta resistência sobre a anestesia com halotano em oito eqüinos. Os resultados demonstraram a ocorrência de acidose respiratória Os valores obtidos de freqüência cardíaca e respiratória e de hemogasometria arterial estiveram dentro dos parâmetros aceitos para eqüinos.

Palavras-chave: eqüinos, anestesia, equipamento.

SUMMARY

It was investigated the effects of a portable apparatus made of plastic on halothane anesthesia of eight horses. The results demonstrated an acute respiratory acidosis. The values of heart and respiratory rate and blood gas analisys was within values accepted for the equine species.

Key words: equine, anesthesia, apparatus.

INTRODUÇÃO

A anestesia em eqüinos apresenta um grande número de problemas para o anestesiologista veterinário, devido ao temperamento e porte desta espécie. A anestesia geral é relacionada como uma das maiores causas de morte na cirurgia de eqüinos (HALL & CLARKE).

Quando se realiza anestesia geral quer por via venosa com barbitúricos ou por via pulmonar com agentes voláteis, ocorrem alterações cardiocirculatórias como arritmias e hipoperfusão periférica e alterações pulmonares como hipoventilação alveolar.As disfunções cardiocirculatórias e pulmonares em eqüinos sob anestesia geral, ocorrem tanto nos animais posicionados em decúbico lateral como dorsal. Estas disfunções são originadas da ação hipotensora dos fármacos utilizados assim como da deficiente ventilação alveolar, já que os pulmões do animal ficam comprimidos pela pressão visceral sobre o diafragma Este fenômeno ocorre principalmente quando não se ventila artificialmente o paciente, uma vez que a pressão intrapulmonar necessária para insuflação alveolar é maior que no animal em estação (GILLESPIE et al, 1969; LUMB & JONES, 1973; HALL & CLARKE, 1983 e BROWNLOW et al, 1985).

O uso de respiração artificial durante a anestesia geral no eqüino normaliza as pressões arteriais de CO2 e O2 mantendo o paciente em condições favoráveis no período trans-operatório e pós-operatório imediato (HODGSON et al, 1986).

As opções técnicas adequadas para a realização de anestesia geral volátil com respiração artificial em eqüinos foram pesquisadas por diversos autores. Em geral utilizam-se respiradores mecânicos automáticos como os Bird ou Drager (FOWLER et al, 1963; STEFFEY & BERREY, 1977; REIBOLD et al, 1980; BENSON et al, 1982; HODGSON et al, 1986; DUNLOP et al, 1987 e HILDEBRAND & ARPIN, 1988). Alguns autores citam a compressão manual do balão reservatório do aparelho de anestesia como forma de obtenção de respiração artificial no eqüino, embora com ocorrência de hipoventilação (HALL & CLARKE, 1983).

O desenho adequado de aparelho de anestesia geral e respiração artificial para eqüinos, deve minimizar o esforço respiratório, diminuir o espaço morto anatômico e produzir máxima e eficiente eliminação do dióxido de carbono, não ocorrendo sob respiração espontânea paCO acima de 60mmHg (BROWNLOW et al, 1985). São objetivos deste estudo avaliar um modelo portátil de aparelho de anestesia geral para eqüinos e a viabilidade do uso do mesmo equipamento para obtenção de respiração artificial nesta espécie.

MATERIAL E MÉTODOS

Para a avaliação do desempenho do aparelho proposto foram utilizados oito eqüinos, 4 machos e oito fêmeas de peso, idade e raças variadas (Tabela 1).

Os animais foram mantidos em jejum de 12 horas para dieta sólida e 4 horas para dieta líquida O protocolo anestésico constou de medicação pré-anestésica (MPA) com cloridrato de detomidinaa 20mcg/kg i.v. A indução foi realizada com tiopental sódicob 1g/150kg i.v. Em seguida procedeu-se a intubação orotraqueal com sonda de calibre adequadoc. A manutenção anestésica foi obtida com halotanod em circuito circular semi-fechado, com respiração espontânea nos primeiros 30 minutos e controlada nos 30 minutos finais do processo anestésico. A respiração controlada foi realizada por compressão manual do balão reservatório com 8 movimentos/min. As freqüências cardíaca e respiratória e os parâmetros para a avaliação hemogasométrica foram pesquisados. A gasometria foi realizada com equipamento adequadoe.

Os tempos para colheita de sangue arterial e para a anotação das freqüências cardíaca e respiratória foram: T0 (anterior a MPA), T1 (após MPA), T2 (após a indução), T3 (15 minutos após o início da administração do halotano), T4 (30 minutos de anestesia com halotano), T5 (45 minutos de anestesia com halotano e 15 minutos do início da respiração controlada) e T6 (60 minutos da anestesia com halotano e 30 da respiração controlada).

A respiração controlada foi realizada por compressão do balão reservatório do aparelho de anestesia.

O modelo do aparelho proposto consta na figura 1.


O material para confecção do equipamento foi o plástico de alta resistência, com 5cm de diâmetro nas vias de passagem de gases e o silicone moldável para as válvulas unidirecionais,

Os valores paramétricos obtidos foram submetidos a média e desvio padrão.

RESULTADOS

Na tabela 2 estão listados os resultados obtidos de freqüência cardíaca e respiratória Os dados dos parâmetros relativos a hemogasometria arterial constam na tabela 3.

O protocolo anestésico empregado permitiu o fácil manuseio dos animais no período pré-anestésico.

O uso do plástico de alta resistência permitiu uma redução em 100% no peso final do aparelho proposto em relação ao aço inox. Confeccionado em plástico o peso do equipamento foi de 8kg e em aço inox estaria próximo de 20kg.

DISCUSSÃO

SHORT et al (1986) utilizando 8 eqüinos adultos e administrando doses de 20 a 60mcg/kg i. v., realizaram um estudo das alterações cardiorespiratórias produzidas pela detomidina quando empregada como medicação pré-anestésica na anestesia geral com tiopental sódico e halotano. No presente estudo foi utilizado sistema circular semi-fechado com respiração espontânea Os animais apresentaram estado de sedação dentro de 2 a 4 minutos, com abaixamento de cabeça, relaxamemto do lábio inferior e redução da coordenação motora Nenhum deles assumiu decúbito. Ocorreu uma redução da freqüência respiratória durante 5 minutos, retornando aos valores iniciais após este período. A dose do agente indutor foi menor que a citada pela literatura Após a indução anestésica ocorreu redução da PaO2 e elevação da PaCO2, sendo que o pH arterial manteve-se dentro dos valores citados para eqüinos sob anestesia geral volátil. A freqüência cardíaca aumentou no momento da indução e estabilizou-se durante a manutenção anestésica.

Os resultados obtidos no presente estudo estão de acordo com as observações destes autores de vez que também foi observado um estado de sedação nos primeiros minutos da administração da detomidina Nenhum dos animais assumiu decúbito lateral ou estornai após a MPA. A freqüência respiratória diminuiu após a indução. Esta redução pode explicar a elevação da PaCO2 e conseqüentemente diminuição do pH (Tabela 3). O aumento da freqüência cardíaca não foi observado à indução. No presente estudo a freqüência cardíaca diminuiu após a sedação e a indução anestésica possivelmente pela ação bradicárdia da detomidina Esta freqüência estabilizou-se ao longo do período anestésico (Tabela 2).

Os resultados do estudo hemogasométrico revelaram um quadro de acidose respiratória aguda principalmente no tempo 3. Estes resultados podem ser explicados pelo efeito depressor respiratório e hipotensor do tiopental sódico e do halotano. Esta afirmação baseia-se no citado pó HALL & CLARKE (1983), SHORT (1987) e MUIR & HUBBELL (1989).

Segundo SHORT (1987) os valores de PaCO2 em eqüinos anestesiados com halotano podem alcançar valores de 69mmHg, quando sob respiração espontânea. O modelo do aparelho testado produziu no período de respiração espontânea (tempos 3 e 4) valores médios de 43mmHg.

No período de respiração artificial os valores de PaCO2 mantiveram-se abaixo de 45mmHg o qe é recomendado por SHORT (1987) e MUIR & HUBBELL (1989).

O método de respiração controlada foi eficiente para correção do estado de acidose respiratória aguda uma vez que o pH e a PaCO2 refletem um equilíbrio ácido-base no tempo 6. Este equilíbrio, entretanto, foi acompanhado por hipoventilação sugerida por uma redução da PaO2, concordando com o citado por WOUK (1980) e HALL & CLARKE (1983).

Segundo LUMB & JONES (1973) a traqueja do eqüino adulto possui cerca de 5cm de diâmetro, sendo que os aparelhos de anestesia devem ser confeccionadas com no mínimo 50mm de diâmetro na passagem de gases. No modelo testado as vias de passagem de gases respiratórios foram confeccionados com 5cm de diâmetro, de acordo com o citado por TAYLOR (1988).

Segundo o citado por BROWNLOW et al (1985), o protótipo avaliado neste estudo possui as características de redução da resistência ao esforço respiratório, diminuição do espaço morto anatômico e adequada absorção e eliminação do dióxido de carbono, o que pode ser confirmado pêlos valores hemogasométricos obtidos (Tabela 3).

CONCLUSÕES

O modelo de aparelho proposto pode ser recomendado para uso na anestesia e respiração controlada no eqüino.

A compressão manual do balão reservatório do modelo de aparelho proposto pode ser recomendada como forma de obtenção de respiração artificial em eqüinos, com elevação da PaO2 e diminuição da PaCO2.

O protocolo anestésico constando de detomidina (20mcg/kg), tiopental sódico (1g/150kg) e halotano produz um efetivo estado de anestesia geral acompanhado de acidose respiratória aguda.

FONTES DE AQUISIÇÃO

a - Domesadan, Ciba-Geigy - São Paulo, SP

b - Thionembutal. Abbott - São Paulo, SP

c - Snyder, New Philadelphia - Ohio - USA

d - Halotano, Hoescht - São Paulo, SP

e - AGS 20/20, Berch, São Paulo, SP

2Médico Veterinário. Professor Assistente do Departamento de Clínica de Pequenos Animais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 97119-900. Santa Maria. RS.

3Médico Veterinário, Professor Titular do Departamento de Clínica de Pequenos Animais da UFSM.

Recebido para publicação em 22.04.92. Aprovado para publicação em 06.05.92.

  • BENSON, G., MANOHAR, M., KNELLER, S. K. et al. Radiographic characterization of diafragmatic excursion in halothane-anesthetized ponies: spontaneus and controlled ventilation systems. American Journal of Veterinary Research, v. 43, n. 4, p. 617-621, 1982.
  • BROWNLOW, M.A., TURNER, D.M., MUTCHINSM, D.R. The turner circle absorber: an anesthetic breathing system for the horse. Equine Veterinary Journal, v. 17, n. 3, p. 225-227, 1985.
  • DUNLOP, C.I., STEFFEY, E.P., MILLER, M.F. et al. Temporal effects of halothane and isofluorane in laterally recumbent ventilated male horses. American Journal of Veterinary Research, v. 48, n. 8, p. 1250-1255, 1987.
  • FOWLER, M. E., EDWARD, E.P., RICHARD, M. D et al. An inhalation anesthetic apparatus for large animals. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 143, n. 3, p. 272-276, 1963.
  • GILLESPIE, J.R., TYLER, W.S., HALL, L.W. Cardiopulmonary dysfunction in anesthetized , laterally recumbent horses. American Journal of Veterinary Research, v. 30, n. 1, p. 61-72, 1969.
  • HALL, L.W., CLARKE, K.W., Veterinary Anesthesia 8 ed. London: Bailliére Tindall, 1983, 217 p.
  • HILDEBRAND, S. V., ARPIN, O., Neuromuscular and cardiovascular effects of atracurium administred to healthy horses anesthetized with. American Journal of Veterinary Research, v. 49 ,n. 7, p. 1066-1071, 1980.
  • HODGSON, D. S., STEFFEY, E.P., GRANDY, J. L. et al. Effects of spontaneus, assisted and controlled ventilatory modes in halothane-anesthetized geldings. American Journal of Veterinary Research, v. 47, n. 5, p. 992-996, 1986.
  • LUMB, W. V., JONES, W. E. Veterinary Anesthesia Philadelphia: Lea & Febiger, 1973. 680 p.
  • RIEBBOLD, T.W., EVANS, A.T., ROBINSON, N.E., Evaluation of demand valve for resuscitation of horses. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 176, n. 7, p. 623-626, 1980.
  • MUIR, W.W., HUBBELL, J.A.E. Handbook of Veterinary Anesthesia St. Louis: C. V. Mosby, 1989. 340 p.
  • SHORT, C. E., MATHEWS, N., HARVEY, R. et al. Cardiovascular and pulmonary function studies of a new sedative/analgesic (detomidine/domosedan) for use alone in horse or as preanesthetic. Acta Veterinaria Scandinavia, v. 82, n. 1, p. 139-155, 1986.
  • SHORT, C. E. Principles and Practice of Veterinary Anesthesia Baltimore: Williams and Wilkings, 1987. 669 p.
  • STEFFEY, E. P., BERRY, J. D. Flowrates from an intermittent positive pressure breathing delivery apparatus for horses. American Journal of Veterinary Research, v. 38, n. 5, p. 685-687. 1977. T
  • TAYLOR, P. M. Anestesia. In: Hickman, J. Cirurgia y Medicina Equina Montevideo: Hemisferio Sur, 1988. cap. 1, p. 1-122.
  • WOUK, A.T.P.F. Toracotomia em Eqüinos Santa Maria. 1980. 61 p. Tese (mestrado em Medicina Veterinária) - Curso de Pós-Graduação em Medicina Veterinária. Universidade Federal de Santa Maria, 1980.
  • 1
    Projeto realizado com apoio da FAPERGS e CNPq.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      08 Set 2014
    • Data do Fascículo
      Ago 1992

    Histórico

    • Aceito
      06 Maio 1992
    • Recebido
      22 Abr 1992
    Universidade Federal de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Ciências Rurais , 97105-900 Santa Maria RS Brazil , Tel.: +55 55 3220-8698 , Fax: +55 55 3220-8695 - Santa Maria - RS - Brazil
    E-mail: cienciarural@mail.ufsm.br