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Aspectos epidemiológicos do Rhodococcus equi em eqüinos do Município de Bagé, RS, Brasil

Epidemiological aspects of Rhodococcus equi in horses from Bagé county, RS, Brazil

Resumos

Este trabalho foi realizado com o intuito de obter informações epidemiológicas sobre o Rhodococcus equi (R. equi) em seis haras do município de Bagé, estado do Rio Grande do Sul. Foram coletadas 36 amostras de solo superficial e 143 de fezes de eqüinos, sendo semeadas em meio seletivo para o R. equi (NANAT) e incubadas em aerobiose a 37°C por até 72 horas. Também foi coletada amostra de solo para determinação de pH e matéria orgânica (MO) de cada haras. A identificação do R. equi baseou-se na pesquisa do "fator equi" e características morfológicas, tintoriais e bioquímicas. Isolou-se o microrganismo de 75% (27/36) das amostras de solo superficial e 66,43% (95/143) das amostras de fezes de eqüinos. O isolamento do R. equi em 100% dos haras analisados comprova a disseminação desta bactéria na região estudada. Os dados obtidos na análise de pH e MO do solo não demonstraram correlação com a taxa de isolamento do R. equi do solo superficial dos haras.

epidemiologia; Rhodococcus equi; isolamento; fezes e solo


Epidemiological aspects about Rhodococcus equi (R. equi) at six horse-breeding farms from Bagé county, in the state of Rio Grande do Sul, Brazil, were analysed. Soil samples (36) and equine feces (143) were collected. The objective was to verify the presence of R. equi in those samples. Six soil samples were also used for pH and organic matter (OM) determination. R. equi identification was based on equi factor search and morfological, tintorial and biochemistry behavior. All the horse-breeding farms had the R. equi present in soil and feces samples. Soil yielded 75.00% (27/36) positive samples and 66.43% (95/143) of equine feces were positive. The results obtained for pH and OM from the soil had no correlation with the isolation of R. equi from soil samples of the different horse-breeding farms.

epidemiology; Rhodococcus equi; isolation; soil and feces


ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DO Rhodococcus equi EM EQÜINOS DO MUNICÍPIO DE BAGÉ, RS, BRASIL1 1 Trabalho extraído da dissertação de mestrado do primeiro autor, apresentada ao Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade federal de Santa Maria (UFSM).

EPIDEMIOLOGICAL ASPECTS OF Rhodococcus equi IN HORSES FROM BAGÉ COUNTY, RS, BRAZIL

Andrea Lazzari2 1 Trabalho extraído da dissertação de mestrado do primeiro autor, apresentada ao Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade federal de Santa Maria (UFSM). Agueda Castagna De Vargas3 1 Trabalho extraído da dissertação de mestrado do primeiro autor, apresentada ao Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade federal de Santa Maria (UFSM). Valéria Dutra4 1 Trabalho extraído da dissertação de mestrado do primeiro autor, apresentada ao Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade federal de Santa Maria (UFSM). Mateus Matiuzzi da Costa4 1 Trabalho extraído da dissertação de mestrado do primeiro autor, apresentada ao Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade federal de Santa Maria (UFSM). Luciano Auri Santos Flores5 1 Trabalho extraído da dissertação de mestrado do primeiro autor, apresentada ao Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade federal de Santa Maria (UFSM).

RESUMO

Este trabalho foi realizado com o intuito de obter informações epidemiológicas sobre o Rhodococcus equi (R. equi) em seis haras do município de Bagé, estado do Rio Grande do Sul. Foram coletadas 36 amostras de solo superficial e 143 de fezes de eqüinos, sendo semeadas em meio seletivo para o R. equi (NANAT) e incubadas em aerobiose a 37°C por até 72 horas. Também foi coletada amostra de solo para determinação de pH e matéria orgânica (MO) de cada haras. A identificação do R. equi baseou-se na pesquisa do "fator equi" e características morfológicas, tintoriais e bioquímicas. Isolou-se o microrganismo de 75% (27/36) das amostras de solo superficial e 66,43% (95/143) das amostras de fezes de eqüinos. O isolamento do R. equi em 100% dos haras analisados comprova a disseminação desta bactéria na região estudada. Os dados obtidos na análise de pH e MO do solo não demonstraram correlação com a taxa de isolamento do R. equi do solo superficial dos haras.

Palavras-chave: epidemiologia, Rhodococcus equi, isolamento, fezes e solo.

SUMMARY

Epidemiological aspects about Rhodococcus equi (R. equi) at six horse-breeding farms from Bagé county, in the state of Rio Grande do Sul, Brazil, were analysed. Soil samples (36) and equine feces (143) were collected. The objective was to verify the presence of R. equi in those samples. Six soil samples were also used for pH and organic matter (OM) determination. R. equi identification was based on equi factor search and morfological, tintorial and biochemistry behavior. All the horse-breeding farms had the R. equi present in soil and feces samples. Soil yielded 75.00% (27/36) positive samples and 66.43% (95/143) of equine feces were positive. The results obtained for pH and OM from the soil had no correlation with the isolation of R. equi from soil samples of the different horse-breeding farms.

Key words: epidemiology, Rhodococcus equi, isolation, soil and feces.

INTRODUÇÃO

O Rhodococcus equi é um cocobacilo gram positivo capsulado (CARTER & COLE, 1990; QUINN et al., 1994) que pode causar uma bronco-pneumonia piogranulomatosa, enterite ulcerativa e linfoadenite mesentérica em potros (PRESCOTT & HOFFMAN, 1993; TAKAI et al., 1995). Segundo PRESCOTT & HOFFMAN (1993), o R. equi possui uma distribuição mundial, sendo responsabilizado por mais de 3% das mortes em potros. O primeiro relato de infecção pelo R. equi foi feito em 1923 por Magnusson na Suécia. Taxonomicamente, na época, o agente foi classificado como Corynebacterium equi (BARTON & HUGHES, 1980; GOODFELLOW, 1987). No Brasil, existe a referência de LANGENEGGER & LANGENEGGER (1970) no estado do Rio de Janeiro e descrições de isolamento por WEISS et al., (1992) no estado do Paraná, LANGONI et al. (1994) no estado de São Paulo, VARGAS et al. (1994) e FINGER (1996) no estado do Rio Grande do Sul e relato de um surto por LAZZARI et al. (1994) na mesma região.

O R. equi é encontrado normalmente no trato gastrointestinal de eqüinos (WOOLCOCK et al., 1987) e eliminado no ambiente principalmente através das fezes (TAKAI & TSUBAKI, 1985; DEBEY & BAILIE, 1987; TAKAI et al., 1991), permanecendo no solo que é seu reservatório natural (BARTON & HUGHES, 1980; YAGER, 1987; CARTER & COLE, 1990). A grande maioria dos pesquisadores sugerem que esta bactéria faça parte da microbiota do trato gastrointestinal de eqüinos (WOOLCOCK et al., 1980), dependendo das fezes destes herbívoros para poder sobreviver (TAKAI et al., 1986a). HUGHES & SULAIMAN (1987) demonstraram que esta bactéria sobrevive e se desenvolve substancialmente melhor em solos enriquecidos com fezes, que apresenta ácidos orgânicos simples, como acetato, propionato e butirato, substratos adequados à bactéria. Após ser eliminado, sob condições ótimas de temperatura e umidade, o microrganismo prolifera rapidamente no ambiente aeróbico das fezes (BARTON & HUGHES, 1984).

O R. equi apresenta uma boa resistência fora do organismo animal, podendo sobreviver em solos contendo material fecal de herbívoros. Estudos in vitro, demonstram que um crescimento ótimo desta bactéria ocorre em condições aeróbicas, com pH entre 7,0 e 8,5 a temperatura de 30°C. Em solos ácidos, com pH entre 4,0 e 5,5 e alcalinos, com pH entre 9,5 e 10,0 ocorre pouco crescimento, embora muitos organismos permaneçam viáveis (HUGHES & SULAIMAN, 1987).

O solo é considerado a fonte de infecção, mas não está claro se ele torna-se contaminado pelas fezes ou se o organismo é originalmente telúrico (BARTON & HUGHES, 1980). O R. equi, por se tratar de um microrganismo aeróbio, não consegue se multiplicar no trato gastrointestinal de um eqüino adulto, podendo portanto, somente transitar pelo lúmem intestinal. Porém, foi comprovado por TAKAI et al. (1986b) que em potros recém-nascidos ocorre a colonização intestinal por este microrganismo, sendo o mesmo, um sítio de multiplicação bacteriana.

A presença desta bactéria no solo e nas fezes, que pode então ser regularmente ingerida e inalada pelos herbívoros durante o pastejo em campos contaminados (HUGHES & SULAIMAN, 1987), associada a alta concentração de eqüinos, ao acúmulo das fezes destes animais e a progressiva multiplicação do agente em padoques utilizados ininterruptamente, podem levar a uma ocorrência endêmica e até provocar surtos epidêmicos em criações eqüinas (PRESCOTT et al., 1984; PRESCOTT & HOFFMAN, 1993). Através de um meio seletivo para o isolamento do R. equi desenvolvido por WOOLCOCK et al. (1979) foi possível isolar este agente das fezes de eqüinos, bem como de solo (CARMAN & HODGES, 1987; TAKAI et al., 1987).

Este trabalho teve como objetivo obter informações epidemiológicas sobre o R. equi em seis haras do município de Bagé, estado do Rio Grande do Sul. Os dados para este estudo foram obtidos através da análise do pH e matéria orgânica do solo e pesquisa microbiológica do R. equi em amostras de superficie de solo e fezes de eqüinos.

MATERIAIS E MÉTODOS

Éguas da raça PSI (Puro Sangue Inglês) e respectivos potros foram utilizados no experimento. Estas fêmeas adultas apresentavam idade variada e seus filhos entre 2 dias e 5 meses de idade. Os eqüinos eram pertencentes a seis haras da região de Bagé, estado do Rio Grande do Sul. Somente um haras, o de número 2, apresentou casos clínicos recentes causados por esta bactéria, sendo considerada uma propriedade de ocorrência endêmica. Os Haras 1, 4 e 6 possuem registros de casos que ocorreram a alguns anos, e nos Haras 3 e 5 nunca foram detectados casos clínicos. Todas as amostras foram coletadas nos meses de novembro e dezembro de 1995.

A coleta das amostras de fezes (143) foi realizada diretamente da ampola retal ou da porção superior do bolo fecal recém eliminado de 68 éguas e 75 potros. O número de amostras de eqüinos coletadas em cada haras foi: 26 (15 NN = neonato e 11 A= adulto) no Haras 1; 19 (7NN e 12A) no Haras 2; 13 (8NN e 5A) no Haras 3; 32 (18NN e 14A) no Haras 4; 20 (9NN e 11A) no Haras 5; e 33 (18NN e 15A) no Haras 6. Juntamente com estas, amostras contendo aproximadamente 10 gramas de solo de vários locais (próximo a bebedouros, porteiras e cercas, pastagens, padoques, etc.) foram coletadas dos haras em estudo. A coleta foi realizada do solo superficial (máximo 0,5cm de profundidade) e as amostras acondicionadas em sacos plásticos limpos. Seis amostras foram coletadas de cada haras, sendo 3 de solos das pastagens e o restante dos outros locais, totalizando 36 amostras. As amostras de fezes e solo foram acondicionadas em sacos plásticos limpos a 10°C e processadas até 24 horas após a coleta.

Estas amostras antes de serem semeadas, foram previamente pesadas (1g) e diluídas em 9ml de salina fosfatada com pH 7,2. Uma alíquota de 25 microlitros de cada amostra foi semeada em duplicata em meio seletivo para R. equi denominado NANAT (nalidixic acid novobiocin actidione-cycloheximide potassium tellurite), confeccionado segundo WOOLCOCK et al. (1979), com algumas modificações (0,002g de telurito de potássio para uma placa de 20ml). As placas foram incubadas em aerobiose a 37°C por até 72 horas. A partir de isolamento em ágar sangue, realizou-se a pesquisa do "fator equi" e a identificação morfológica, tintorial (coloração de gram) e bioquímica (urease sólida, redução do nitrato e utilização de açúcares: manitol, sorbitol e maltose) (BARTON & HUGHES, 1980; GOODFELLOW, 1986; QUINN et al., 1994; SMOLA et al., 1994).

A coleta de amostras de solo (6) para análise do pH e matéria orgânica foi realizada segundo determinação da COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO - RS/SC (1995), sendo as análises efetuadas no Departamento de Solos da Universidade Federal de Santa Maria.

Para a análise estatística foi utilizado o programa SAS (Statistical Analysis System) versão 6,8 de 1992. Os dados foram submetidos a análise de variância e, quando houve diferença significativa, as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey em um nível de significância de 5%. Realizou-se também a análise de correlação (Pearson) entre os dados de pH e matéria orgânica do solo e percentual de isolamento nas fezes e solo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estudo revelou que 100% (6/6) dos haras possuem o R. equi no solo e fezes dos eqüinos, demonstrando que a bactéria se encontra disseminada na região estudada. Segundo BARTON & HUGHES (1980), o solo é a fonte de infecção para os animais suscetíveis, tendo um importante papel na colonização inicial pelo R. equi em potros, o que expõe neste caso, os potros dos haras analisados ao risco de adquirir a infecção, desenvolvendo ou não a enfermidade característica. TAKAI et al. (1987) no Japão, PRESCOTT et al. (1984) nos Estados Unidos, e WOOLCOCK et al. (1980) na Austrália, encontraram também em seus levantamentos epidemiológicos 100% das propriedades com o solo contaminado por esta bactéria. Já, FINGER (1996), na região metropolitana e noroeste do estado do Rio Grande do Sul, encontrou 25% dos haras positivos.

O microrganismo foi isolado em 75% (27/36) das amostras de solo superficial analisadas. CARMAN & HODGES (1987) em estudo realizado na Nova Zelândia encontraram 94% das amostras de solo contaminadas por este agente e WOOLCOCK et al. (1980) na Austrália, 50%. A distribuição dos percentuais de isolamento do R. equi no solo dos diferentes locais de coleta de cada haras estão expressos na Tabela 1. Apesar de um isolamento de 100% (6/6) nos Haras 5 e 6 e 50% (3/6) no Haras 1, não foi detectada diferença significativa entre estes percentuais. Dentre os haras analisados neste trabalho, somente o de número 2 apresentava casos clínicos recentes causados pelo R. equi. Os Haras 1, 4 e 6 apresentaram registros da enfermidade a alguns anos atrás. Apesar deste quadro, somente de 66,6% (4/6) das amostras de solo do Haras 2 foi isolado o R. equi, enquanto dos Haras 5 e 6, 100% (6/6) das amostras de solo possuiam a bactéria em questão não sendo, porém, esta diferença estatisticamente significativa. Este fato poderia ser explicado pela sugestão feita por TAKAI et al. (1991), de que não é somente a taxa de isolamento a responsável pela ocorrência ou não da enfermidade em uma propriedade, mas a concentração de R. equi virulento no ambiente.

A análise de variância revelou que não houve diferença significativa de isolamento do R. equi entre os sítios de coleta das amostras de solo (solo de pastagens e outros locais) dos diferentes haras. Nos Haras 2, 4, 5 e 6 o percentual de isolamento da bactéria foi o mesmo para os diferentes sítios de coleta, enquanto que no Haras 1 uma maior taxa foi isolada do solo das pastagens e no Haras 3 do solo de outros locais (Tabela 1). PRESCOTT et al. (1984) analisando o solo obtido de estábulos, padoques e pastagens, também não encontraram diferença estatisticamente significativa no isolamento do R. equi. É importante citar que a coleta das amostras de solo foi realizada no verão, nos meses de novembro e dezembro e que esta foi uma época de seca na região. Apesar disto, o R. equi foi isolado em 75% (27/36) das amostras, sendo 48,1% (13/27) do solo das pastagens e 52% (14/27) do solo de outros locais. Isto sugere a grande resistência do agente fora do organismo animal. O fato de encontrar-se um percentual de isolamento um pouco mais elevado no solo de outros locais (solo em contato direto com os raios solares) que não as pastagens (solo protegido pelo pasto da radiação solar), se deve provavelmente ao acúmulo de fezes dos eqüinos, que ocorre ao redor dos bebedouros ou próximo a porteiras e cercas, locais em que geralmente ocorre uma maior aglomeração dos animais. Uma implicação importante destes dados é que o risco de adquirir a infecção nestes locais é maior pela presença do pó que é elevado pela movimentação dos animais, facilitando a inalação de partículas contendo o R. equi. Nas áreas de pastagens a probabilidade seria menor.

R. equi foi isolado de 66,43% (95/143) das amostras de fezes analisadas. WOOLCOCK et al. (1980) revelou um percentual de 70,58% das amostras de fezes coletadas com presença do R. equi, CARMAN & HODGES (1987) encontraram 76,98%, WOOLCOCK et al. (1980) 70,86% e FINGER (1996) 18,2% de amostras de fezes positivas. Os percentuais de isolamento em cada haras e das diferentes categorias animais (adulto ou potro) se encontram na Tabela 2. Esta tabela mostra que o maior percentual de isolamento do R. equi nas fezes foi encontrado no Haras 2 (94,73%), o único com casos registrados desta enfermidade nos últimos anos e considerado de ocorrência endêmica. Os Haras 3 e 5, mesmo sem registro de ocorrência, apresentaram esta bactéria nas fezes de seus animais, sugerindo que este microrganismo é normalmente encontrado onde a doença nunca foi diagnosticada. TAKAI et al. (1986a) encontraram também um maior percentual de isolamento em fezes de eqüinos pertencentes à propriedades de ocorrência endêmica (94,12%) que em propriedades sem registro da doença (73,07%). WOOLCOCK et al. (1979) encontraram 70,9% de amostras de fezes positivas, sendo 80,9% de animais hospitalizados e 31,2% de animais de fazenda sem problema aparente. FINGER (1996) não recuperou esta bactéria das fezes de animais pertencentes a uma propriedade sem história de rodococose, encontrando um percentual de 3,1% em haras onde o problema ocorreu em anos anteriores e 20,8 - 35,5% em duas propriedades de ocorrência endêmica. A presença deste grande número de animais eliminando este agente pelas fezes, pode causar a contaminação de extensas áreas dentro de uma propriedade, o que expõe a sérios riscos de infecção a população de novos suscetíveis, que são os potros de até 6 meses de idade.

As duas categorias de animais (potros e éguas adultas) pesquisadas, eliminaram o R. equi pelas fezes. Os percentuais de isolamento encontrados neste trabalho, 65,3% (49/75) para potros e 69,1% (47/68) para éguas adultas, foram menores do que os encontrados por CARMAN & HODGES (1987), 82% e 76% respectivamente para potros e éguas e por WOOLCOCK et al. (1980), 75% para potros e 70% para éguas. Os animais amostrados por estes pesquisadores pertenciam a haras sem ocorrência da doença e todos os animais encontravam-se aparentemente saudáveis. Na opinião de TAKAI & TSUBAKI (1985) o achado da bactéria em fezes de eqüinos normais confirma a observação de que o R. equi faz parte da flora fecal normal do animal. Nos percentuais encontrados neste experimento haviam eqüinos provenientes de haras com e sem ocorrência clínica recente desta enfermidade. O haras endemicamente afetado (Haras 2), com casos de broncopneumonia piogranulomatosa em potros, apresentou uma taxa de isolamento mais elevada quando comparada aos outros haras, tanto para potros, 100% (7/7) como para éguas 91,6% (11/12). A diferença de percentual de positividade detectada entre eqüinos adultos e potros, nos diferentes haras, não foi considerada significativa, concordando com trabalho desenvolvido por FINGER (1996). TAKAI et al. (1986b), comparando os percentuais de isolamento do R. equi das fezes de potros de propriedades endêmicas e sem ocorrência da enfermidade, encontraram 94,12% e 73,07% respectivamente. Já, estes mesmos pesquisadores (TAKAI et al. 1991), em 1991 pesquisando desta vez a prevalência de R. equi virulento, isolaram este agente de 72% das amostras de fezes em propriedades problema e 92% em regiões sem ocorrência. Em contrapartida, o percentual de R. equi virulentos no haras com ocorrência endêmica foi bem mais elevado. Analisando estatisticamente os percentuais de isolamento encontrados nas fezes dos eqüinos adultos entre os diferentes haras (Tabela 2) detectou-se uma diferença significativa (P<0,002) entre o Haras 2 e os Haras 1 e 3. Nas fezes dos potros a diferença (P<0,003) foi encontrada também entre estes haras.

Como citado anteriormente, o R. equi foi isolado das fezes de eqüinos em 66,43% (95/143) das amostras coletadas. A taxa de recuperação do solo (75%) foi mais elevada que a das fezes, discordando, portanto, com os resultados encontrados por DEBEY & BAILIE (1987) de 40,4% para as fezes e 14,9% para o solo.

Os resultados da análise do pH e matéria orgânica de cada haras são comunicados na Figura 1. Os dados obtidos na análise do pH do solo dos haras demonstraram que a região abrangida possui solos predominantemente ácidos. HUGHES & SULAIMAN (1987) e TAKAI et al. (1987) apontaram a temperatura ambiental, ácidos graxos voláteis do esterco de herbívoros e o pH do solo como os fatores predisponentes para a multiplicação do R. equi. Trabalho in vitro desenvolvido por HUGHES & SULAIMAN (1987) demonstrou que o R. equi se multiplica em pH entre 6,0 - 9,0, sendo que, fora destes parâmetros este crescimento não ocorre, embora a bactéria permaneça viável. Não foi encontrado correlação entre o pH e matéria orgânica do solo e o taxa de isolamento do R. equi no solo dos diferentes haras, discordando de HUGHES & SULAIMAN (1987), que apontaram os solos com pH neutro a elevado e com grande concentração de matéria orgânica como características importantes para a presença ou não do R. equi. É importante lembrar que o trabalho destes pesquisadores foi realizado in vitro.


CONCLUSÃO

A presença do R.equi em todas as propriedades examinadas demonstra a ampla disseminação deste agente.

Não há correlação entre pH e matéria orgânica do solo com a taxa de isolamento do R.equi no solo dos diferentes haras.

2 Médico Veterinário, aluno do Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária (área de Medicina Veterinária Preventiva), UFSM.

3 Médico Veterinário, MSc, Professor Assistente, Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, UFSM, 97119-900, Santa Maria, RS, Brasil. Fax (055)2208695, e-mail: agueda@.ccr.ufsm.br.Autor para correspondência.

4 Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária, UFSM, Bolsita da FAPERGS.

5 Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária, UFSM, Bolsista FIPE/UFSM.

Recebido para publicação em 15.01.97. Aprovado em 19.03.97

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  • 1
    Trabalho extraído da dissertação de mestrado do primeiro autor, apresentada ao Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade federal de Santa Maria (UFSM).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Maio 2008
    • Data do Fascículo
      Ago 1997

    Histórico

    • Recebido
      15 Jan 1997
    • Aceito
      19 Mar 1997
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