Open-access Associação entre insatisfação com a imagem corporal e aptidão física relacionada à saúde em adolescentes

Association between dissatisfaction with body image and health-related physical fitness among adolescents

Resumo

O objetivo deste estudo foi estimar a prevalência de insatisfação com a imagem corporal e verificar a associação entre a insatisfação pela magreza e pelo excesso de peso e componentes da aptidão física relacionada à saúde em adolescentes. Participaram 1.058 adolescentes (570 moças e 488 rapazes), com média de idade de 16,3(± 1,0) anos. As variáveis investigadas foram a insatisfação com a imagem corporal (escala de silhuetas), e as relativas à aptidão física relacionada à saúde: adiposidade corporal (dobras cutâneas), força muscular (preensão manual) e aptidão cardiorrespiratória (teste mCAFT). A associação entre a imagem corporal e as variáveis de aptidão física foi testada por meio da Regressão Multinomial. A prevalência de insatisfação corporal foi de 75,2% (moças = 79,5%; rapazes = 70,3%). Moças e rapazes com adiposidade corporal elevada tiveram menor chance de insatisfação pela magreza e maior chance de insatisfação pelo excesso de peso. Os que necessitavam melhorar a força muscular e a aptidão cardiorrespiratória tiveram maior chance de insatisfação pela magreza e pelo excesso de peso, respectivamente. Conclui-se que a aptidão física relacionada à saúde esteve associada à imagem corporal, sendo que os adolescentes com níveis menos saudáveis dos diferentes componentes foram os mais insatisfeitos.

Imagem corporal; Aptidão física; Saúde do adolescente

Abstract

The scope of this study was to estimate the prevalence of dissatisfaction with body image and verify the association between dissatisfaction with thinness or with overweight and health-related physical fitness components among adolescents. Participants included 1058 adolescents (570 girls and 488 boys), with mean age of 16.3 (±1.0) years. The investigated variables were dissatisfaction with body image (Figure Rating Scale), and health-related physical fitness: body fat (skin folds), muscle strength (handgrip strength) and cardiorespiratory fitness (mCAFT test). The association of body image and the health-related physical fitness variables was tested by Multinomial Regression analysis. The prevalence of body dissatisfaction was 75.2% (girls = 79.5%; boys = 70.3%). Girls and boys with high body fat were less likely to be dissatisfied with thinness and more likely to be dissatisfied with overweight. Those who needed to improve muscle strength and cardiorespiratory fitness were more likely to be dissatisfied with thinness and with overweight, respectively. In conclusion, physical fitness was associated with body image, with the adolescents with less healthy conditions of the components being more dissatisfied.

Body image; Physical fitness; Adolescent health

Introdução

Estudos têm verificado que os diferentes componentes da aptidão física relacionada à saúde (como adiposidade corporal, força muscular e, principalmente, aptidão cardiorrespiratória) apresentam relação com o autoconceito1-4, a autoestima global e física5 e a percepção de aceitação social e da aparência física6 em crianças e adolescentes. As evidências de tais investigações consistentemente apontam que indivíduos que possuem melhores níveis de aptidão física são mais positivos a respeito dos aspectos citados, sendo a relação contrária também verdadeira.

Esses aspectos (como autoconceito e autoestima), por sua vez, estão intimamente ligados à imagem corporal7-10. Dessa forma, seria adequado supor que os componentes da aptidão física relacionada à saúde também apresentam relação com a imagem corporal. Entretanto, os resultados dos poucos estudos identificados na literatura, que investigaram o relacionamento da aptidão cardiorrespiratória e força muscular com a imagem corporal, são divergentes11-17. Hausenblas et al.12 verificaram que menores níveis de aptidão cardiorrespiratória estiveram associados à insatisfação com a imagem corporal, mas essa relação perdeu significância ao controlar os efeitos do status do peso na insatisfação. De modo semelhante, os resultados encontrados por Olvera et al.15, relativos à menor satisfação, deixaram de ser significativos quando foram incluídos no modelo, junto à aptidão cardiorrespiratória, o status do peso e o percentual de gordura. Por sua vez, em estudo longitudinal realizado com crianças, menores níveis de aptidão cardiorrespiratória foram preditores de insatisfação corporal, mesmo após ajustado pelo percentual de gordura corporal14. Ainda, no estudo de Greenleaf et al.11, após controle pelo nível econômico, moças e rapazes com níveis de aptidão cardiorrespiratória adequados à saúde apresentaram maior satisfação corporal. As adolescentes avaliadas por Mitchell et al.13 que apresentaram maior aptidão cardiorrespiratória também se mostraram mais satisfeitas com seus corpos.

Dentre os estudos levantados, diferente dos demais, o de Riiser et al.16 não encontrou nenhuma relação entre a aptidão cardiorrespiratória e a imagem corporal de adolescentes com sobrepeso e obesidade, em nenhum nível. Por último, a pesquisa de Schubert et al.17 foi a única encontrada conduzida em amostra de adolescentes brasileiros e considerou além da aptidão cardiorrespiratória a força/resistência abdominal. Em ambos os componentes da aptidão física o não atendimento aos critérios de saúde esteve associado à insatisfação corporal. Porém, após ajuste pelo status do peso, flexibilidade e força de membros superiores, a associação com a força/resistência abdominal perdeu significância, mantendo-se apenas para a aptidão cardiorrespiratória.

No entanto, quando considerada a quantidade de gordura corporal, dentre os estudos que se dedicaram a investigar sua relação com a imagem corporal, parece existir consenso de que há maior probabilidade de indivíduos com elevada adiposidade corporal serem insatisfeitos com seu corpo e aparência14,15,18-21.

Diante do exposto, percebe-se a necessidade de maior compreensão e aprofundamento sobre como a aptidão física se relaciona com a imagem corporal em adolescentes, tendo em vista que são escassas as informações disponíveis sobre essa população. Tal conhecimento é de extrema importância, pois os componentes da aptidão física relacionada à saúde são fatores modificáveis, que podem ser melhorados com o objetivo de que sejam melhoradas também as percepções e os sentimentos das pessoas sobre seus corpos, evitando possíveis prejuízos à sua saúde física e mental decorrentes da insatisfação corporal. Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo estimar a prevalência de insatisfação com a imagem corporal e verificar a associação entre a insatisfação pela magreza e pelo excesso de peso e componentes da aptidão física relacionada à saúde em adolescentes. É esperado que a maioria dos adolescentes estejam insatisfeitos com sua imagem corporal e que aqueles com níveis elevados de adiposidade corporal e baixos níveis de aptidão cardiorrespiratória estejam mais insatisfeitos pelo excesso de peso, enquanto aqueles com baixos níveis de força muscular estejam mais insatisfeitos pela magreza.

Métodos

O presente estudo faz parte do macroprojeto intitulado “Guia Brasileiro de Avaliação da Aptidão Física Relacionada à Saúde e Hábitos de Vida – Etapa I”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina.

População e amostra

Constituíram a população deste estudo os adolescentes, de ambos os sexos, com idades de 15 a 19 anos, matriculados no ensino médio em escolas públicas estaduais de São José, no ano de 2014. O município localiza-se no estado de Santa Catarina, na região Sul do Brasil e faz divisa territorial com Florianópolis, capital do estado, junto com a qual forma a região metropolitana mais populosa de Santa Catarina. De acordo com a Secretaria Estadual de Educação de Santa Catarina, em 2014, 5.182 estudantes estavam matriculados no ensino médio, distribuídos em 170 turmas nas 11 escolas elegíveis. Desse quantitativo de alunos, 74,8% eram do turno diurno (manhã, tarde ou integral).

Para determinação do tamanho da amostra, considerando-se a população finita de 5.182 estudantes, foram utilizados os procedimentos sugeridos por Luiz e Magnanini22, adotando-se nível de confiança de 5%, erro tolerável de cinco pontos percentuais, prevalência de 50% (desfecho não conhecido), e efeito de delineamento de 1,5. Por se tratar de um estudo de associação, acrescentou-se 20% para minimizar eventuais perdas e recusas ao estudo e mais 20% para o controle de possíveis variáveis de confusão. A partir disso, o tamanho amostral necessário seria de 751 estudantes.

O processo de seleção amostral foi determinado em dois estágios: estratificado por escolas públicas estaduais de ensino médio e por conglomerado de turmas, considerando o turno de estudo e o ano escolar. Com exceção das escolas estaduais com Educação de Jovens e Adultos (EJA) e que atendiam alunos com algum tipo de deficiência intelectual, as demais foram consideradas elegíveis para a participação no estudo. No primeiro estágio a densidade da escola (tamanho: pequenas, com menos de 200 alunos; médias, com 200 a 499 alunos; e grande, com 500 estudantes ou mais) foi adotada como critério de estratificação. No segundo estágio foram considerados o turno de estudo (manhã, tarde, noite e integral) e o ano escolar (primeiro, segundo e terceiro ano).

Procedimentos para coleta de dados

A coleta de dados ocorreu no segundo semestre de 2014 (agosto à novembro), nas instalações das próprias escolas sorteadas e que aceitaram participar da pesquisa, em dias e horários agendados com os responsáveis. Inicialmente, os pesquisadores fizeram contato com os estudantes das turmas sorteadas para explicar os objetivos e a importância do estudo e convidá-los a participar do mesmo. Nesse momento, os estudantes receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o qual deveria ser levado para casa, para ser apresentado aos seus responsáveis e assinado caso o estudante aceitasse participar voluntariamente e seus responsáveis o autorizassem (para estudantes com idade inferior a 18 anos). Aqueles que possuíam 18 anos de idade ou mais poderiam assinar seu próprio TCLE. Além disso, todos os estudantes (independentemente da idade), receberam o Termo de Assentimento para ser assinado por eles próprios.

Em um segundo momento, os pesquisadores retornaram às turmas para recolhimento do TCLE e Termo de Assentimento e para dar início aos procedimentos de coleta de dados com os estudantes que aceitaram e receberam, quando necessário, autorização para participar do estudo. Foram realizadas três etapas, a primeira envolveu a aplicação, em sala de aula, do questionário composto por seções demográficas (sexo e idade) e insatisfação com a imagem corporal. Em seguida, em ambiente reservado, disponibilizado pela escola, foram obtidas informações sobre a maturação sexual e aferidas as medidas de dobras cutâneas, individualmente. Os testes de aptidão física relacionada à saúde (força muscular e aptidão cardiorrespiratória) foram realizados nos ginásios das escolas (quando disponíveis), ou na própria sala de aula, a qual foi organizada de maneira apropriada para a condução dos mesmos.

Critérios de inclusão e exclusão

Foram incluídos aqueles que aceitaram realizar os procedimentos voluntariamente, que assinaram o Termo de Assentimento e apresentaram o TCLE assinado por seus responsáveis (idade < 18 anos) ou por eles mesmos (idade ≥ 18 anos). Gestantes e adolescentes que possuíam alguma deficiência física que os impedisse de realizar os testes de aptidão física não foram incluídos e receberam esclarecimentos sobre o porquê de tal decisão. Foram excluídos das análises de dados os indivíduos que possuíam idade inferior a 15 anos ou superior a 19 anos, além daqueles que não responderam às questões da variável dependente.

Variáveis do estudo

Variável dependente

A insatisfação com a imagem corporal foi avaliada por meio da escala de silhuetas de Stunkard et al.23. Os adolescentes indicaram, dentre as nove figuras possíveis para cada sexo, a silhueta que consideraram representar sua forma física atual (Silhueta Real - SR) e a silhueta que representava a forma como gostariam de se parecer, aproximadamente (Silhueta Ideal - SI). A partir disso foram classificados em satisfeitos (SR = SI), insatisfeitos pela magreza (SR < SI) e insatisfeitos pelo excesso de peso (SR > SI).

Variáveis independentes

Para a avaliação da adiposidade corporal foram aferidas as medidas de dobras cutâneas das regiões do tríceps e subescapular, conforme padronização da International Society for the Advancement of Kinanthropometry24, utilizando-se adipômetro científico da marca Cescorf® com resolução de 0,1mm. As dobras cutâneas foram mensuradas em duplicata e no caso de diferença entre a primeira e a segunda medida em mais de 5%, foi realizada uma terceira medida. As medidas foram realizadas por um único avaliador, sendo calculado o erro técnico das mesmas. Para obter um único valor de cada dobra, nos casos em que apenas duas medidas foram mensuradas, calculou-se a média entre as mesmas, já entre os casos em que foram mensuradas três medidas, utilizou-se a mediana. Realizou-se o somatório das duas dobras cutâneas (Σ2DC), a partir do qual os adolescentes foram classificados em baixa, normal e elevada adiposidade corporal, conforme os pontos de corte estabelecidos para cada sexo pela American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance25. Os adolescentes com adiposidade corporal elevada formaram a categoria “adiposidade corporal elevada” e, em virtude da reduzida prevalência de indivíduos com baixa adiposidade (17 rapazes), esses foram agrupados aos que apresentaram adiposidade normal, constituindo a categoria “adiposidade corporal adequada”.

A força de preensão manual, mensurada por dinamômetro da marca Saehan®, o qual é válido, confiável e comparável ao dinamômetro Jamar® (considerado “padrão ouro”)26, foi utilizada para avaliação da força muscular. Os adolescentes realizaram a medida duas vezes em cada uma das mãos, alternadamente. Realizou-se somatório do maior valor encontrado (em kg) para a mão esquerda e direita, a partir do qual os adolescentes foram classificados, considerando-se as zonas de benefícios à saúde, em “excelente”, “muito bom”, “bom”, “regular” e “necessita melhorar”24. As categorias excelente, muito bom e bom foram agrupadas e consideradas como “boa força muscular”.

A aptidão cardiorrespiratória foi avaliada por meio do Modified Canadian Aerobic Fitness Test (mCAFT), validado a partir da calorimetria indireta para adolescentes, adultos e idosos27,28. Após a realização de todos os procedimentos recomendados pela Canadian Society for Exercise Physiology os adolescentes foram classificados nas seguintes categorias relacionadas aos benefícios à saúde: “excelente”, “muito boa”, “boa”, “regular” e “necessita melhorar”24. Nenhum adolescente apresentou aptidão cardiorrespiratória excelente. As categorias muito boa e boa foram agrupadas e consideradas como “boa aptidão cardiorrespiratória”.

Variáveis de controle

A idade em anos completos (15, 16, 17, 18 e 19 anos) e a maturação sexual foram utilizadas como variáveis de controle nas análises do presente estudo, devido à forte relação das mesmas tanto com a imagem corporal quanto com a aptidão física29,30. A maturação sexual foi avaliada por meio do instrumento elaborado pelo Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina31, que consiste em figuras adaptadas a partir das fotografias de Tanner (1962), correspondentes à cinco estágios de desenvolvimento para cada característica sexual secundária (mamas e pelos pubianos para o sexo feminino, órgãos genitais e pelos pubianos para o sexo masculino). No presente estudo foram considerados para classificação do estágio de maturação apenas os pelos pubianos, para ambos os sexos. Após explicação do pesquisador sobre o instrumento, cada adolescente, por meio de autoavaliação, indicou o número do estágio que mais se aproximava do desenvolvimento do seu corpo naquele momento. Os adolescentes foram classificados em pré-púberes (estágio 1), púberes (estágios 2, 3 e 4) e pós-púberes (estágio 5).

Análise estatística

Foram realizadas análises descritivas (média, desvio padrão, distribuição de frequências) e inferenciais. O qui-quadrado foi utilizado para identificar possíveis associações entre o sexo e as variáveis idade, maturação sexual, adiposidade corporal, força muscular, aptidão cardiorrespiratória e imagem corporal. A regressão logística multinomial foi utilizada para testar as associações entre a insatisfação com a imagem corporal e os componentes da aptidão física relacionada à saúde, com estimativa de odds ratio e os respectivos intervalos de confiança. A categoria de referência adotada para a variável dependente foi “satisfeitos com a imagem corporal”. Foram conduzidas análises brutas e ajustadas. Nas análises bivariadas, cada componente da aptidão física relacionada à saúde foi inserido isoladamente. Nas análises multivariadas, os componentes da aptidão física relacionada à saúde foram ajustados por idade e maturação sexual, variáveis selecionadas de acordo com a literatura29,30. A qualidade do ajuste dos modelos foi analisada pelo qui-quadrado de Pearson. Todas as análises estatísticas foram realizadas no software The Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0. O nível de significância estabelecido em todas as análises foi de 5%.

Resultados

A amostra final do presente estudo foi constituída por 1.058 adolescentes (570 moças e 488 rapazes), com média de idade de 16,3 (± 1,0) anos. As demais características dos participantes, de acordo com as variáveis investigadas, são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1
Características dos adolescentes do ensino público estadual do município de São José-SC. 2014.

A prevalência de insatisfação com a imagem corporal na amostra foi de 75,2% (79,5% das moças e 70,3% dos rapazes, p = 0,001), sendo que 39,5% dos adolescentes estavam insatisfeitos pelo excesso de peso e 35,7% pela magreza. Na Figura 1 são apresentadas as proporções, estratificadas por sexo, de adolescentes satisfeitos, insatisfeitos pelo excesso de peso e pela magreza. Observou-se maior proporção de satisfeitos e insatisfeitos pela magreza no sexo masculino, e maior proporção de insatisfeitos pelo excesso de peso no sexo feminino (p < 0,001).

Figura 1
Insatisfação com a imagem corporal dos adolescentes do ensino público estadual do município de São José-SC, estratificado por sexo. 2014.

Moças com adiposidade corporal elevada apresentaram menor chance de insatisfação pela magreza (OR = 0,36; IC95% = 0,16-0,86) e, por outro lado, maior chance de insatisfação pelo excesso (OR = 6,54; IC% = 3,58-11,96). Aquelas que necessitavam melhorar a força muscular tiveram maior chance de estarem insatisfeitas pela magreza (OR = 2,19; IC95% = 1,05-4,55), enquanto as que necessitavam melhorar a aptidão cardiorrespiratória apresentaram maior chance de insatisfação pelo excesso de peso (OR = 2,54; IC95% = 1,08-5,99) (Tabela 2).

Tabela 2
Associação entre insatisfação com a imagem corporal e diferentes componentes da aptidão física relacionada à saúde em adolescentes do sexo feminino. São José-SC. 2014.

Assim como observado no sexo feminino, os rapazes com adiposidade corporal elevada apresentaram menor chance de insatisfação pela magreza (OR = 0,30; IC95% = 0,12-0,77) e maior chance de insatisfação pelo excesso de peso (OR = 15,30; IC95% = 7,66-30,57). Os que necessitavam melhorar a força muscular tiveram maior chance de insatisfação pela magreza (OR = 2,52; IC95% = 1,30-4,86) e aqueles que necessitavam melhorar a aptidão cardiorrespiratória apresentaram maior chance de insatisfação pelo excesso de peso (OR = 3,30; IC95% = 1,29-8,40) (Tabela 3).

Tabela 3
Associação entre insatisfação com a imagem corporal e diferentes componentes da aptidão física relacionada à saúde em adolescentes do sexo masculino. São José-SC. 2014.

Discussão

De acordo com o que era esperado, os resultados do presente estudo demonstraram que a maioria dos adolescentes estava insatisfeita com a imagem corporal. A prevalência de insatisfação encontrada (75,2%) foi superior às prevalências verificadas em pesquisas que também utilizaram escalas de silhuetas como instrumento de avaliação (embora as escalas não tenham sido as mesmas), conduzidas em adolescentes de diferentes cidades e estados da região Sul do Brasil32-37, bem como de outras regiões do país38, podendo ser considerada elevada. Entretanto, o percentual de adolescentes que desejam ter um corpo diferente do atual é bastante semelhante ao verificado em adolescentes de Hong Kong39 e dos Emirados Árabes40, e até mesmo inferior ao de adolescentes taiwaneses41. Todos esses, por sua vez, estão inseridos em culturas orientais, o que é surpreendente pois a literatura aponta que as preocupações com o corpo são uma realidade mais comum em países de cultura ocidental42.

As análises de associação indicaram que todos os componentes da aptidão física relacionada à saúde investigados neste estudo se associaram à insatisfação com a imagem corporal. Embora tenham sido conduzidas análises separadas para moças e rapazes, em virtude de estudos prévios demonstrarem consistentemente que a imagem corporal difere entre os sexos32,35,36,39-41, os resultados encontrados foram semelhantes no sexo feminino e masculino.

Indo ao encontro da hipótese levantada, os adolescentes (de ambos os sexos) com adiposidade corporal elevada apresentaram menor chance de insatisfação pela magreza e maior chance de insatisfação pelo excesso de peso. Esses resultados corroboram os achados de Ferrari et al.18, em estudo conduzido com rapazes de sete a 17 anos de idade de um município da região Sul do Brasil, e podem indicar que estes indivíduos possuem percepção adequada da sua forma física, apesar de não estarem satisfeitos com isso e, portanto, devem ser orientados sobre comportamentos saudáveis para modificá-la, caso desejem.

A força muscular se associou à insatisfação pela magreza. Confirmando o que era esperado, os adolescentes que necessitavam melhorar este componente da aptidão física apresentaram maior chance de desejarem um corpo com proporções maiores do que o seu atual. Schubert et al.17 também verificaram associação entre menores níveis de força muscular e insatisfação com a imagem corporal em crianças e adolescentes, destacando-se, porém, que a forma de avaliação da força não foi a mesma da presente investigação. Para além disso, não foram encontrados estudos que investigassem associações com a insatisfação pela magreza e pelo excesso de peso, especificamente. Dessa forma, é plausível supor que o fato daqueles que possuem menor força desejarem silhuetas maiores do que as suas atuais pode estar relacionado à crença popular de que um corpo magro também é um corpo fraco e frágil, e que um maior desenvolvimento muscular necessariamente implica no aumento da força como qualidade física43.

Em relação à aptidão cardiorrespiratória, os adolescentes com níveis mais baixos desse componente apresentaram maior chance de insatisfação pelo excesso de peso, o que também confirma a hipótese levantada. Acredita-se que a relação entre aptidão cardiorrespiratória e imagem corporal seja mediada pela quantidade de gordura corporal, pois tem sido demonstrado que maiores níveis de aptidão cardiorrespiratória se associam à baixa adiposidade corporal total e central, sendo a relação contrária também verdadeira44. Dessa forma, adolescentes mais aptos são mais prováveis de possuírem um corpo conforme os padrões sociais e, assim, demonstrarem satisfação, conforme sugerem Mitchell et al.13.

No entanto, estudos que investigaram possíveis associações entre aptidão cardiorrespiratória e imagem corporal, controlando pelo percentual de gordura, apresentaram resultados divergentes. Enquanto no estudo de Olive et al.14 crianças com menores níveis de aptidão cardiorrespiratória apresentaram maior probabilidade de insatisfação corporal, mesmo após o controle pela adiposidade corporal, as associações entre essas variáveis deixaram de ser significativas quando foram incluídos no modelo, junto à aptidão cardiorrespiratória, o status do peso e o percentual de gordura. Diante disso, parece que tanto baixos níveis de aptidão cardiorrespiratória quanto a elevada adiposidade corporal contribuem para a insatisfação corporal, mas que as relações entre essas variáveis podem ser independentes, havendo, possivelmente, mecanismos distintos que as expliquem e que ainda necessitam de investigação.

Nesse sentido, uma explicação alternativa para nosso resultado é de que indivíduos mais aptos, percebendo-se fisicamente mais capazes, podem ter sentimentos mais positivos em relação ao seu corpo e, assim, se preocuparem menos com a aparência do corpo e mais com o que ele é capaz de fazer, e vice-versa. O fato de acreditarem em sua competência física pode substituir as comparações de quão próximos estão de ter a aparência internalizada como socialmente ideal, por como seu corpo consegue realizar atividades da vida diária ou atividades físicas e esportivas, por exemplo13.

De modo geral, as evidências desta investigação reforçam os achados da literatura sobre a temática e acrescentam informações, principalmente sobre as direções das associações de diferentes componentes da aptidão física relacionada à saúde com a insatisfação com a imagem corporal especificamente pela magreza ou pelo excesso de peso. A partir disso, aponta-se a importância de tais componentes da aptidão física serem considerados em programas de intervenção que tenham como objetivo a melhora da imagem corporal, além dos aspectos psicológicos que normalmente são levados em conta. Profissionais diretamente envolvidos com os adolescentes, especialmente os da saúde, devem estar atentos a tais necessidades.

Os resultados apresentados, entretanto, devem ser interpretados levando-se em consideração uma série de limitações, como por exemplo o delineamento transversal que impossibilita o estabelecimento de relação causal entre as variáveis; a amostra constituída apenas por escolares da rede pública, limitando a extrapolação dos achados aos adolescentes do ensino privado, que podem apresentar, por exemplo, características socioeconômicas e culturais diferentes que influenciam em diferentes aspectos, como em suas experiências com a imagem corporal e oportunidades de desenvolvimento da aptidão física; ainda a respeito da amostra, o estudo incluiu uma amostra superestimada em relação ao tamanho amostral necessário calculado. Isto ocorreu pois no momento da coleta de dados todos os alunos das turmas sorteadas foram convidados para participar do estudo e havia turmas com número de alunos diferente daquele fornecido pela Secretaria Estadual de Educação; outra limitação está relacionada ao uso da escala de silhuetas de Stunkard et al.23, a qual não possui validação para a população adolescente. Apesar disso, ressalta-se que sua utilização com indivíduos dessa faixa etária vem sendo cada vez maior, sobretudo em estudos brasileiros33,36-38.

Em conclusão, cerca de 3/4 da amostra investigada estava insatisfeita com sua imagem corporal. As associações encontradas entre imagem corporal e os componentes da aptidão física relacionada à saúde foram semelhantes entre os sexos. A adiposidade corporal elevada esteve associada à menor chance de insatisfação pela magreza e maior de insatisfação pelo excesso de peso. Menores níveis de força muscular estiveram associados à maior chance de insatisfação pela magreza, enquanto níveis mais baixos de aptidão cardiorrespiratória se associaram à maior chance de insatisfação pelo excesso de peso.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Maio 2019
  • Data do Fascículo
    Abr 2019

Histórico

  • Recebido
    11 Jan 2017
  • Revisado
    23 Jul 2017
  • Aceito
    25 Jul 2017
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