Resumo:
Em Moçambique, males velhos e novos do corpo e espírito se entrelaçam, permitindo contornos particulares na vida moderna. As doenças tradicionais são reconfiguradas em linha com um novo pensamento, e aquilo que a medicina ocidental chama de desnutrição é definida como xilala de acordo com o pensamento tradicional local. O estudo buscou compreender o ponto de vista das cuidadoras (mães e avós) de crianças participando em um Programa de Reabilitação Nutricional e de especialistas em etnomedicina, que se encontram emaranhados em um conjunto complexo de relações através das quais circulam diferentes maneiras de compreender o corpo, a saúde e a doença. Enquanto objeto, o suplemento alimentar tem vida própria e assume novos significados quando sai do hospital. Quando seu uso ocorre no domicílio, adquire uma particularidade: torna-se alimento. Portanto, deixa de ser algo inerte e impessoal, que é uma característica da medicina convencional nas instituições de saúde. A visão local centrada na etnomedicina tem como base a certeza de que a situação que aflige uma criança não pode ter a cura como desfecho, a não ser através da medicina tradicional. A racionalidade biomédica construída pela confluência das ciências biológicas e técnicas, com seus postulados científicos, não constitui o discurso autorizado nesse contexto.
Palavras-chave:
Desnutrição; Medicina Tradicional; Política Pública