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Martins, Ana Cecilia Impellizieri. O homem que aprendeu o Brasil: A vida de Paulo Rónai. São Paulo: Todavia, 2020, 384 p.

Martins, Ana Cecilia Impellizieri. O homem que aprendeu o Brasil. : A vida de Paulo Rónai. São Paulo: Todavia, 2020. 384 p.

No recorte dos últimos cinco anos, tem chegado às livrarias uma safra relevante de novas biografias, ou reedições de livros do gênero há um bom tempo fora de circulação. Nesse período, a vida de Jorge Amado, Lima Barreto e Mário de Andrade, por exemplo, foram objetos de textos premiados, que encerraram algumas das muitas dívidas biobibliográficas percebidas pelo leitor interessado em literatura.

Ainda que persistam os casos de grandes escritores brasileiros cujas trajetórias não foram devidamente apresentadas ao público, percebemos que algo está sendo feito nesse sentido, e em janeiro de 2020 vimos lançada uma biografia que, embora não trate da vida de um brasileiro nato, narra o percurso de um intelectual que, definitivamente, soube se incorporar ao Brasil. O livro é O homem que aprendeu o Brasil: a vida de Paulo Rónai, escrito por Ana Cecilia Impellizieri Martins e publicado pela jovem editora Todavia. Exposto pelo subtítulo, trata-se de um texto que lança luz sobre este humanista de grande bagagem linguística e literária, que, como os melhores filólogos do século passado, fez da tradução e do ensaio um caminho para a integração e o estudo das produções literárias ocidentais.

O convite à leitura começa já na edição física do livro em si: uma brochura flexível (característica da editora) de 384 páginas, que traz na capa uma foto de Paulo Rónai como plano de fundo para as informações do título e da autoria da obra, impressas numa fonte (Register*) mantida ao longo de todo o volume. Essa fonte, aliada a uma muito acertada diagramação do texto e a um papel off-white, confere um conforto de leitura que felizmente tem feito cada vez mais parte das prioridades editoriais das melhores casas publicadoras de livro. São detalhes da versão impressa da biografia, cuja tiragem, nesta primeira edição, foi de dois mil e quinhentos exemplares, estando o texto também acessível em formato digital (e-book) para dispositivos eletrônicos de leitura.

O homem que aprendeu o Brasil não é o primeiro livro de Ana Cecilia Impellizieri Martins, cuja formação acadêmica contempla uma graduação em Jornalismo, um mestrado em História Social da Cultura e um doutorado em Literatura Brasileira, todos cursados na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). A autora já publicou outros trabalhos na área das humanidades e artes, como estudos de história e de fotografia, além de trabalhar como editora nas cariocas Bazar do Tempo e Edições de Janeiro.

Conforme Ana Cecilia esclarece nos agradecimentos do livro, o que temos em mãos é resultado de uma feliz adaptação da sua tese de doutorado defendida em 2016, o que mais uma vez demonstra a importância dos estudos acadêmicos e a possível divulgação destes trabalhos para um público mais amplo. E falamos isso porque a história de vida de Paulo Rónai, contada da maneira como foi, vem a calhar sobre o gosto não apenas dos leitores atraídos por literatura e tradução, mas de qualquer um que se interesse por um retrato humano dos conflitos sociais, históricos e diplomáticos que dominaram a Europa e o mundo ao longo da 2.ª Guerra Mundial (1939-1945), sem esquecer dos seus antecedentes e desdobramentos.

Dividido em dezessete seções, o volume conta com um texto introdutório, seguido pela narrativa biográfica, que se desdobra em oito capítulos nomeados. A seguir, temos uma espécie de epílogo, em que a autora resume os principais eventos e relações pessoais que marcaram a vida do biografado. Antecedendo a parte pós-textual do livro, há uma crônica de Carlos Drummond de Andrade, após o que finalmente encontramos os “Agradecimentos”, as “Notas”, a “Bibliografia de Paulo Rónai”, as “Referências bibliográficas”, o “Índice remissivo” e os “Créditos das imagens”. Vale uma menção, ainda, ao paratexto presente na orelha do livro, escrito por Nelson Ascher, por exercer bem o seu propósito principal: apresentar a obra e servir de convite à sua leitura.

Na introdução, intitulada “O que fez Pál Rónai ser Paulo Rónai?”, Ana Cecilia se mostra preocupada com o conhecimento reduzido que se tem sobre as circunstâncias que envolveram a chegada de Paulo Rónai ao Brasil. Indo contra a simplificação da história e prometendo entregar pequenos eventos, detalhes biográficos e de personalidade que funcionam como “verdadeira chave de entendimento de uma trajetória pessoal” (Martins 11Martins, Ana Cecilia Impellizieri. O homem que aprendeu o Brasil: a vida de Paulo Rónai. São Paulo: Todavia, 1ª. ed., 2020, 384 p.), a autora demonstra a intenção de oferecer um profundo percurso biográfico. Mas onde colher contribuições úteis a esse propósito? A verdade é que a obra teórica e ensaística de Paulo Rónai pouco acrescenta informações pessoais1 1 Buscamos atenuar a afirmação categórica e contraditória da biógrafa, segundo a qual “Paulo não tratava de temas pessoais em sua produção ensaística (Martins 14). Na apresentação que faz à recente edição de Como aprendi o português e outras histórias, de 2014, Ana Cecília escreve que o tradutor, nos trinta textos que compõem o livro, “empreende uma viagem misturando biografia, experiência culta, conhecimento literário e linguístico” (Martins 28). Ora, o que seria essa viagem biográfica, senão referências à sua vida pessoal? Ademais, em outras reuniões de ensaios e conferências, como A tradução vivida, especialmente no texto “Saldos de balanço”, também colhemos registros nesse sentido, por mais que o foco esteja no relato de experiência profissional na área. , de modo que, para além dos arquivos e acervos consultados, como a Fundação Casa de Rui Barbosa e o Arquivo Histórico do Itamaraty, uma fonte de pesquisa foi essencial: a coleção de livros e documentos reunidos no sítio Pois É, em Nova Friburgo (RJ). Ali, a biógrafa teve acesso a vários cadernos que serviam como diários, escritos principalmente em francês, embora haja algumas poucas exceções de registros na língua magiar (húngaro). Entre 1928 e 1992, Paulo Rónai anotou seu cotidiano em tópicos, alguns bem curtos, e o que vemos Ana Cecília desenvolver, a partir de então, é uma rica narrativa guiada principalmente por esse diário, sem abrir mão do cruzamento com outras fontes.

Fica explicado, então, por que o primeiro capítulo da biografia, “Notas de um amante das letras”, já avistamos um Paulo Rónai aos vinte anos de idade. Ao contrário do que normalmente localizamos em narrativas biográficas longas, não nos são entregues detalhes das suas raízes familiares. A respeito de seus pais, Miksa Rónai e Gisela Lövi Rónai, assim como de seus cinco irmãos mais novos, ficamos sabendo o mínimo: seus nomes, local onde viviam e atividades que exerciam. O texto é firme em nos mostrar que o seu foco está, sobretudo, na trajetória intelectual do jovem Rónai. Ao preferir lançar mão de informações sobre a formação acadêmica de Paulo (filologia e línguas neolatinas), os primeiros trabalhos como tradutor de latim e a predileção pela poesia clássica, o círculo social que incluía amizades com escritores e intelectuais notáveis, a autora confirma o quanto o currículo básico e o perfil cosmopolita da Budapeste do início do século XX foram determinantes na formação de um poliglota conhecedor de algumas das mais influentes línguas europeias: grego, latim, alemão, italiano e francês, esta última aprendida a partir de produtivos intercâmbios realizados em Paris.

Os primeiros contatos de Paulo Rónai com o português são apresentados no segundo capítulo, intitulado “Correio Universal”. Enquanto um clima cada vez maior de apreensão tomava a Europa no ano de 1938, com a invasão de territórios vizinhos pelo Exército alemão, o filólogo ia ampliando suas leituras e relações com instituições de ensino de países distantes, como Uruguai, Chile e Austrália, na tentativa de fugir de uma guerra iminente. Foi numa tradução francesa de Dom Casmurro que Rónai descobriu a literatura brasileira, e esse primeiro encontro não poderia ter sido mais feliz: “Uma literatura que tinha romancista daquele porte não podia deixar de interessar-me” (qtd. in Martins 51Martins, Ana Cecilia Impellizieri. O homem que aprendeu o Brasil: a vida de Paulo Rónai. São Paulo: Todavia, 1ª. ed., 2020, 384 p.), relembraria anos mais tarde. A partir de então, Ana Cecília conta que, verdadeiramente empolgado com o Brasil, Rónai inicia o seu processo de aprendizado do país por meio da literatura: comunica-se com livrarias e jornais, recebe volumes de poesias, troca cartas com embaixadores, diplomatas e escritores, o que culminará na publicação de Brazilia Üzen (Mensagem do Brasil), a conhecida coletânea de poemas brasileiros que Paulo organizou e traduziu para a língua magiar. Vale anotar o detalhamento com que a biógrafa trata o assunto, revelando o método por trás da elaboração desse livro que acabou se tornando o principal passaporte de Paulo Rónai. Isso porque, conquanto a amizade e valiosa ajuda recebida de funcionários da diplomacia brasileira, mormente de Ribeiro Couto e de Otávio Filho, foi graças à sua iniciativa e empenho que o tradutor húngaro realizou um “serviço digno de todo o louvor, espontaneamente prestado às relações culturais entre os [...] países” (qtd. in Martins 90-1Martins, Ana Cecilia Impellizieri. “Paulo Rónai ou a costura do mundo”. Como aprendi o português e outras histórias, Martins, Ana Cecilia Impellizieri. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014, pp. 7-30.), nas palavras de agradecimento do presidente Getúlio Vargas.

O capítulo seguinte, “Fazendo mel sobre o abismo”, vem mostrar que, até mesmo para um estrangeiro com as melhores referências e trato diplomático, a entrada no Brasil parecia algo impossível naquele início de guerra. Porque judeu, Rónai não faria parte dos aceitos pela legislação emigratória brasileira, não fosse uma exceção que genuinamente se lhe aplicava: pessoas de origem semítica de notória expressão cultural poderiam ter seus passaportes visados. Assim, a despeito de se encontrar prisioneiro num campo de trabalho forçado, o que surgia como mais um empecilho em toda essa jornada, Paulo logra o desejado carimbo de visto. Valendo-se de cartas, documentos ministeriais, circulares secretas e o já mencionado caderno de notas (diário), a biógrafa vai tecendo uma narrativa precisa que, a esta altura, ganha ares de intensa campanha empreendida pelo corpo diplomático brasileiro em Budapeste. A finalidade: salvar da perseguição antissemita um jovem cujo trabalho configurava uma grande contribuição à divulgação da nossa literatura na Europa.

Passando pela Áustria, Alemanha, Espanha e Portugal, Paulo Rónai finalmente chega ao Rio de Janeiro em março de 1941, e é precisamente aqui que começa o quarto capítulo, de título “A costura do mundo”, não por acaso o mais extenso de toda a biografia. Nele, Ana Cecilia relata o processo de integração do professor à realidade da então Capital Federal: somente o clima quente parecia estranho a ele, uma vez que a “cidade, com seus edifícios art déco e automóveis em profusão, exibia ares de grande metrópole” (Martins 126Martins, Ana Cecilia Impellizieri. “Paulo Rónai ou a costura do mundo”. Como aprendi o português e outras histórias, Martins, Ana Cecilia Impellizieri. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014, pp. 7-30.). Destaquemos que o sucesso dessa integração se deve, sobretudo, aos contatos e relações pessoais que Paulo vinha travando nos últimos anos, nomes como Carlos Drummond de Andrade, Cecilia Meireles, Jorge de Lima e o já muito próximo Ribeiro Couto, que finalmente pôde conhecer pessoalmente. Por intermédio deles, o tradutor se viu inserido no círculo da intelectualidade carioca, ampliando seu conjunto de amizades. Uma, em especial, surge nas primeiras tentativas de colaboração com a imprensa: Aurélio Buarque de Holanda, então diretor da Revista do Brasil, será o principal parceiro de Paulo Rónai no trabalho de seleção, tradução e estudo dos contos mundiais reunidos na maior antologia do gênero já publicada no Brasil: Mar de histórias. No mais, sem chegar a comprometer um capítulo profundo nas informações e recortes dos primeiros artigos, ensaios e críticas que o estudioso logo publica em português, não podemos deixar de pontuar alguns problemas de redação (nomeadamente sintáticos) que podem ser prontamente solucionados nas edições futuras da biografia, como os que encontramos nas páginas 133 e 172.

Adiante, o capítulo “Trabalho para merecer meu destino” nos mostra um Paulo Rónai às voltas com grandes empreendimentos editoriais. Em 1942, verte para o português o livro O romance das vitaminas, primeira obra traduzida diretamente do húngaro para o nosso idioma. Mas é na relação com a língua francesa que o tradutor vai consolidar seu nome, traduzindo Memórias de um sargento de milícias e iniciando um ambicioso projeto com a editora Globo, de Porto Alegre: colocar nas prateleiras das livrarias brasileiras todas as obras que compõem A comédia humana, de Balzac. Coordenando uma equipe de vinte tradutores, que a biógrafa soube reconhecer como escritores nacionais de grande expressão, nomes que iam de Carlos Drummond de Andrade a Mário Quintana, Paulo Rónai ficou ainda responsável por cotejar e elaborar as notas da tradução, escrever prefácios para cada um dos 89 títulos, além de selecionar a iconografia e a fortuna crítica do escritor francês. Toda essa tarefa, como não poderia deixar de ser, levou “quinze anos, deu origem a dezessete alentados volumes, num total de 12 mil páginas” (Martins 220Martins, Ana Cecilia Impellizieri. O homem que aprendeu o Brasil: a vida de Paulo Rónai. São Paulo: Todavia, 1ª. ed., 2020, 384 p.). Sabendo intercalar as ocupações profissionais com informações sobre a vida pessoal, Ana Cecilia nos permite conhecer amplamente a vida do biografado nos anos 1940. Assim, ao mesmo tempo em que nos deparamos com um Paulo Rónai à frente de grandes traduções literárias e produzindo livros didáticos referenciais na área, como o Gradus primus e seus subsequentes, não deixamos de acompanhar um homem envolvido na tentativa de trazer para o Brasil sua família e a noiva que deixara na Hungria. No seu esforço, chega a casar com Magda Péter por procuração, o que viabilizaria o visto brasileiro, finalmente concedido por Getúlio Vargas. O empenho de Paulo e a solicitude dos amigos, no entanto, foram sobrepujados pelo horror nazista: o registro sensível da biógrafa, a partir de rica documentação epistolar, conta-nos a captura de Magda e de sua mãe pela Gestapo.

Os capítulos “Arremate” e “Pois É” abrangem, juntos, os anos de consagração de Paulo Rónai no cenário literário brasileiro, bem como os acontecimentos que resumem sua tão adiada realização pessoal e familiar. Contando mais uma vez com a ajuda decisiva do amigo Ribeiro Couto, consegue os vistos brasileiros para os membros da família que sobreviveram em Budapeste, incluindo sua mãe. Uma vez instalados na Ilha do Governador, os Rónai se dedicam à produção artesanal de tecidos, adaptando-se bem à nova realidade. Ainda nesse período, Paulo conhece a arquiteta Nora Tausz, também ela uma refugiada italiana que chegou ao Brasil em 1941. Não demora, e os dois se casam. Aos quarenta e cinco anos de idade e depois de tantas aflições, “o casamento deu a Paulo uma estabilidade emocional inédita” (Martins 246Martins, Ana Cecilia Impellizieri. “Paulo Rónai ou a costura do mundo”. Como aprendi o português e outras histórias, Martins, Ana Cecilia Impellizieri. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014, pp. 7-30.), que será acompanhada de uma outra estabilidade: o professor se candidata e é aprovado em primeiro lugar no concurso para a cátedra de francês do Colégio Pedro II, sem dúvida o mais prestigiado estabelecimento de ensino secundário do Rio de Janeiro. Sem esquecer as atividades de Rónai como tradutor e estudioso da literatura, Ana Cecilia pormenoriza a intensa produção ensaísta ao longo dos anos 1950, estudos e impressões da ficção e da poesia de autores contemporâneos, como Erico Verissimo, Rachel de Queiroz, Cecilia Meireles e Guimarães Rosa. Sobre este último, a biógrafa reconstitui uma estreita relação de amizade e de mútua admiração intelectual. Fascinado pelo projeto literário que o escritor mineiro vinha construindo desde Sagarana, notadamente marcado pela recriação linguística, Paulo Rónai será um assíduo estudioso e interlocutor da obra de Rosa, realizando leituras pioneiras que até hoje figuram nas introduções das edições mais recentes dos livros. De maneira muito acertada, Ana Cecilia vê no diálogo entre esses dois a consumação do processo de inserção cultural de Paulo no país, também representada e materializada na construção da casa do sítio Pois É, em Nova Friburgo.

As décadas finais da vida do biografado e as circunstâncias da sua morte são narradas no breve e derradeiro capítulo “Nota biográfica: uma vida contra Babel”. Em algumas das viagens que fez à Europa como conferencista, Paulo Rónai visitou Budapeste, mas foi como um estrangeiro que se percebeu na Hungria, atestando, “sem que a constatação represente desamor ou corte cultural com a sua terra de nascimento, que seu lugar está no Brasil” (qtd. in Martins 304Martins, Ana Cecilia Impellizieri. O homem que aprendeu o Brasil: a vida de Paulo Rónai. São Paulo: Todavia, 1ª. ed., 2020, 384 p.). Essa conclusão não poderia ser mais natural, quando acompanhamos uma vitoriosa trajetória de sobrevivência, aprendizado, vínculos afetivos e êxito profissional. E é com pleno domínio dos recursos expressivos e farta documentação que Ana Cecilia recupera essa trajetória numa narrativa cujo foco está definido desde as primeiras páginas do texto. Se não encontramos, na biografia, referências às posições e preferências políticas de Rónai, em especial durante os conturbados anos do regime militar, a razão está na expressa reconstrução parcial que a biógrafa realiza de uma vida “múltipla em interesses e atividades, e por isso aberta a novas investigações e descobertas” (Martins 305Martins, Ana Cecilia Impellizieri. O homem que aprendeu o Brasil: a vida de Paulo Rónai. São Paulo: Todavia, 1ª. ed., 2020, 384 p.).

Preenche as páginas do livro uma história que começa com o estudo das línguas românicas e se desenvolve no contato com textos literários. Ao chegar à vocálica língua portuguesa, a relação com a literatura foi intermediada pelo diálogo com escritores, daí nascendo o desejo de seguir uma vida segura no Brasil. Acompanhando Paulo Rónai nos cinquenta anos vividos neste país, deparamo-nos com um imigrante que “fez da literatura e da vida intelectual brasileiras seu principal foco na maior parte de sua vida” (Martins 302Martins, Ana Cecilia Impellizieri. “Paulo Rónai ou a costura do mundo”. Como aprendi o português e outras histórias, Martins, Ana Cecilia Impellizieri. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014, pp. 7-30.). O resultado de todo esse trabalho é uma bibliografia sem equivalente no que diz respeito às obras de e sobre tradução, mas também notável nos conjuntos de ensaios que se detêm sobre o melhor da ficção e da poesia brasileiras do século XX2 2 Encontram-se em circulação edições recentes dos livros de ensaios de Paulo Rónai: Pois é, editado pela José Olympio, também Encontros com o Brasil e Como aprendi o português e outras aventuras, estes últimos sob o selo da Edições de Janeiro. Do seu trabalho como tradutor e organizador, foram republicadas toda a coleção Mar de histórias, pela Nova Fronteira, e oito dos dezessete volumes que compõem A comédia humana, além do estudo Balzac e a Comédia humana, numa iniciativa da Editora Globo. . Foi, de tal modo, por meio da literatura que Paulo Rónai aprendeu o Brasil, e é o que Ana Cecilia Impellizieri Martins nos conta em seu livro. Não é Paulo Rónai em sua totalidade (como fazê-lo?), mas são os grandes feitos que fizeram dele um intelectual ilustre, finalmente retratado numa biografia à sua altura.

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    Buscamos atenuar a afirmação categórica e contraditória da biógrafa, segundo a qual “Paulo não tratava de temas pessoais em sua produção ensaística (Martins 14Martins, Ana Cecilia Impellizieri. “Paulo Rónai ou a costura do mundo”. Como aprendi o português e outras histórias, Martins, Ana Cecilia Impellizieri. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014, pp. 7-30.). Na apresentação que faz à recente edição de Como aprendi o português e outras histórias, de 2014, Ana Cecília escreve que o tradutor, nos trinta textos que compõem o livro, “empreende uma viagem misturando biografia, experiência culta, conhecimento literário e linguístico” (Martins 28Martins, Ana Cecilia Impellizieri. O homem que aprendeu o Brasil: a vida de Paulo Rónai. São Paulo: Todavia, 1ª. ed., 2020, 384 p.). Ora, o que seria essa viagem biográfica, senão referências à sua vida pessoal? Ademais, em outras reuniões de ensaios e conferências, como A tradução vivida, especialmente no texto “Saldos de balanço”, também colhemos registros nesse sentido, por mais que o foco esteja no relato de experiência profissional na área.
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    Encontram-se em circulação edições recentes dos livros de ensaios de Paulo Rónai: Pois é, editado pela José Olympio, também Encontros com o Brasil e Como aprendi o português e outras aventuras, estes últimos sob o selo da Edições de Janeiro. Do seu trabalho como tradutor e organizador, foram republicadas toda a coleção Mar de histórias, pela Nova Fronteira, e oito dos dezessete volumes que compõem A comédia humana, além do estudo Balzac e a Comédia humana, numa iniciativa da Editora Globo.

Referências

  • Martins, Ana Cecilia Impellizieri. O homem que aprendeu o Brasil: a vida de Paulo Rónai São Paulo: Todavia, 1ª. ed., 2020, 384 p.
  • Martins, Ana Cecilia Impellizieri. “Paulo Rónai ou a costura do mundo”. Como aprendi o português e outras histórias, Martins, Ana Cecilia Impellizieri. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014, pp. 7-30.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Out 2021
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2021

Histórico

  • Recebido
    08 Nov 2020
  • Aceito
    22 Mar 2021
  • Publicado
    Maio 2021
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